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G R A D U A Ç Ã O Ergonomia e Segurança do Trabalho ME. MAÍLSON JOSÉ DA SILVA Híbrido GRADUAÇÃO Ergonomia e Segurança do Trabalho Me. Maílson José da Silva C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SILVA, Maílson. Ergonomia e Segurança do Trabalho. Maílson José da Silva. Maringá-PR.: Unicesumar, 2019. 312 p. “Graduação - Híbridos”. 1. Ergonomia 2. Segurança 3. Trabalho. 4. EaD. I. Título. ISBN 978-65-5615-001-7 CDD - 22 ed. 331.259 CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação CEP 87050-900 - Maringá - Paraná unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Impresso por: Coordenador de Conteúdo Fabio Augusto Gentilin e Crislaine Rodrigues Galan. Designer Educacional Tacia Rocha. Revisão Textual Cintia Prezoto Ferreira e Erica Fernanda Ortega. Editoração André Morais de Freitas. Ilustração Natalia de Souza Scalassara e Welington Vainer Satin de Oliveira. Realidade Aumentada Autoria. DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de Design Educacional Débora Leite;Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria Carolina Abdalla Normann de Freitas; Supervisão de Projetos Especiais Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães Cripaldi; Fotos Shutterstock PALAVRA DO REITOR Em um mundo global e dinâmico, nós trabalha- mos com princípios éticos e profissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualida- de, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- -nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emo- cional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revi- samos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as ne- cessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! BOAS-VINDAS Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Co- munidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alu- nos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâ- mico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comu- nicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets ace- leraram a informação e a produção do conheci- mento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, prio- rizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a so- ciedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabe- lecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompa- nhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educa- cional, complementando sua formação profis- sional, desenvolvendo competências e habilida- des, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Stu- deo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendiza- gem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de apren- dizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquili- dade e segurança sua trajetória acadêmica. APRESENTAÇÃO Bem-vindo(a) à disciplina de Ergonomia e Segurança do Trabalho. Ao longo das nove unidades, estudaremos diversos tópicos relacionados à segurança e à saúde no desenvolvimento das atividades laborais em diferentes setores. Nosso material foi organizado pensando nos tópicos gerais que são estudados na Engenharia de Segurança do Trabalho. Como nosso objetivo é dar a você uma visão geral dos assuntos relacionados à segurança e à saúde no trabalho, conheceremos medidas de engenharia e medidas administrativas usadas na gestão da segurança do trabalho. Independentemente do curso de engenharia que você esteja frequentando, os conceitos aqui apresentados serão úteis no desenvolvimento de suas atividades. Afinal, como entendemos, ergonomia e segurança do trabalho devem estar presentes não apenasna execução de procedimentos, mas, antes, no projeto de produtos e instalações. Assim, se você pretende ser um engenheiro mecânico, civil ou de produção, os conceitos que estudaremos serão úteis em seu campo de trabalho. Na Unidade 1, introduziremos o conceito de segurança do trabalho, mos- trando sua relação com outras disciplinas e falaremos das ações que foram tomadas ao longo da História para proteger trabalhadores em seus ofícios. Explicaremos o conceito de risco ambiental e apresentaremos o processo geral de gerenciamento de riscos. Na Unidade 2, entenderemos o que é um acidente do trabalho. Veremos a legislação que define o acidente do trabalho e os principais casos de ocorrên- cia no mundo do trabalho. Listaremos algumas doenças ocupacionais que ocorrem devido à exposição aos riscos ambientais sem a devida proteção. Iremos explicar como é feita a investigação de acidentes. Na Unidade 3, iniciaremos o estudo de Higiene Ocupacional. Veremos que esta é uma ciência, dentro da Segurança do Trabalho, usada para analisar a fundo a gravidade dos agentes ambientais, determinando se oferecem ou não risco à saúde dos trabalhadores. Iremos estudar o ruído, calor, radiações e vibrações. Na Unidade 4, entenderemos algumas características dos agentes químicos. Veremos a importância de algumas características para determinar o risco dos produtos químicos e as medidas de proteção que devem ser tomadas. Estudaremos a hierarquia das medidas de controle usadas na manipulação de produtos químicos. Sublinharemos, também, os meios de controle da exposição a agentes biológicos, muito presentes nas atividades de hospitais, ambulatórios e laboratórios de pesquisa. A Unidade 5 introduzirá os primeiros conceitos de Ergonomia. A antro- pometria é apresentada como a base para o projeto de postos de trabalho e produtos que fiquem adequados às medidas corporais de seus usuários. A biomecânica ocupacional nos explica o funcionamento dos músculos e como estes podem ser usados da melhor maneira. A fisiologia do trabalho explica as diferenças dos organismos de indivíduos noturnos e diurnos. Na Unidade 6, discutiremos os conceitos de iluminação, manuseio de cargas e trabalho noturno. Iremos aprender como é medido o nível de ilumina- ção em um ambiente e como este pode ser avaliado quanto à adequação à atividade desenvolvida. Iremos estudar maneiras de manusear cargas para evitar a ocorrência de lesões na coluna vertebral. Estudaremos formas de organização de turnos para evitar os efeitos nocivos do trabalho noturno. Na Unidade 7, estudaremos algumas ferramentas da Ergonomia: Análise Ergonômica do Trabalho (AET), Método NIOSH e Método RULA, que fornecem meios para fazer uma análise mais objetiva sobre condições ergo- nômicas de postos de trabalho, levantamento de cargas e posições de trabalho. Conheceremos as medidas de segurança utilizadas na indústria da Constru- ção Civil. Na Unidade 8, iremos apresentar as medidas coletivas e individuais. Discutiremos, também, as características das áreas de vivência dentro de um canteiro de obras. Por fim, na Unidade 9, veremos os aspectos de prevenção e combate a in- cêndios. Apresentaremos as medidas de proteção ativas e passivas. Explica- remos como é formada uma brigada de incêndio e descreveremos algumas das medidas de segurança especiais no manuseio de líquidos inflamáveis e combustíveis. Ao final do material, esperamos que você tenha uma base para pensar em ações de prevenção de acidentes e doenças ocupacionais em todas as ativi- dades que for exercer como engenheiro. Comecemos então! Bons estudos! CURRÍCULO DO PROFESSOR Me. Maílson José da Silva Possui Mestrado em Engenharia Urbana pela Universidade Estadual de Maringá, Especializa- ção em Engenharia de Segurança do Trabalho e Graduação em Engenharia de Produção pela Universidade Estadual de Maringá (2010). Atualmente é engenheiro de segurança do trabalho e elaborador de provas de concursos públicos. Tem experiência na área de Engenharia de Produção e Segurança do Trabalho. Currículo Lattes disponível em: http://lattes.cnpq.br/2624890823247854 Introdução à Segurança do Trabalho 13 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais 45 Higiene Ocupacional I 75 Higiene Ocupacional II Ergonomia I 115 149 Ergonomia II 177 Ergonomia III Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil 237 Prevenção e Combate a Incêndios 271 207 30 Riscos em uma obra de construção civil 88 Formas de trasmissão de calor 131 Capela de exaustão química Utilize o aplicativo Unicesumar Experience para visualizar a Realidade Aumentada. PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Me. Maílson José da Silva • Apresentar a evolução histórica da segurança do trabalho. • Definir os riscos ambientais presentes nos ambientes de trabalho. • Explicar os processos básicos de gerenciamento de riscos ambientais. Introdução à Segurança do Trabalho Riscos Ambientais Gerenciamento de Riscos Introdução à Segurança do Trabalho Introdução à Segurança do Trabalho Ao ouvir o termo “trabalho”, que aspectos vêm à sua mente? Provavelmente você pensará nas operações que são realizadas nos diferentes ti- pos de trabalho: colocar tijolos em uma parede, apertar um parafuso em uma fábrica, digitar um documento em um escritório utilizando um computador etc. Outro aspecto que você poderá pontuar são os benefícios do trabalho: produção de bens, serviços, renda e o desenvolvimento eco- nômico. No entanto, queremos, aqui, chamar sua atenção a outro aspecto igualmente importante relacionado ao trabalho: a segurança e saúde dos trabalhadores. Este é um aspecto importante nas relações trabalhistas. A produção de bens e ser- viços depende do labor dos mais diferentes tipos de profissionais. Atividades realizadas em escri- tórios, de caráter mais intelectual, e atividades realizadas em campo, com maior esforço físico, demandam um ambiente seguro e saudável para que possam ser realizadas de forma sustentável por longos períodos. 15UNIDADE 1 A Segurança do Trabalho é a disciplina que estuda as relações entre trabalhadores e emprega- dores com o ambiente de trabalho. Nesta área, são necessários conhecimentos de diversos ramos para promover ambientes de trabalho seguros e saudáveis: do Direito (legislação trabalhista, previdenciária, civil e penal), da Física, Química e da Engenharia (estudo da higiene do traba- lho, projeto de sistemas de ventilação, projeto de proteções coletivas na construção de edifícios, controle de produtos perigosos etc.), da Psico- logia (Psicologia Comportamental, Liderança, Motivação etc.), de Combate a Incêndios, de Ergonomia etc. Segundo dados do Observatório de Seguran- ça e Saúde no Trabalho (SMARTLABBR, 2019, on-line)1, desde o ano de 2012, ocorreram mais de 4,9 milhões de acidentes com trabalhadores com carteira assinada no Brasil. Houve um to- tal de mais de 18.000 mortes de trabalhadores decorrentes dos acidentes. Os dias de trabalho perdidos com os acidentes somam mais de 389 milhões de dias (equivalente a 1065 milênios). Dado o impacto dos acidentes na economia e na vida dos trabalhadores, hoje, diversas orga- nizações públicas e privadas atuam na área de Segurança do Trabalho, tentando diminuir as estatísticas negativas. Até chegar ao patamar atual de preocupação e cuidado com segurança e saú- de dos trabalhadores, diversas iniciativas foram tomadas ao longo da história. A seguir, apresen- tamos algumas das quais possuímos registros. Evolução Histórica da Segurança do Trabalho Existem registros descrevendo aspectos de segurança e saúde no trabalho em civilizações antigas: babilônica, grega e romana. Os papiros egípcios Sallier II e Anastasi V, datados do século XX antes de Cristo, descrevem situações insalubres, perigosas e desgastantes nos ambientes de ofícios, tais como: ferreiro (mal cheiro do ambiente, desgaste da pele de trabalhadores), talhador de pedra (dores nos braços), barqueiro (esgotamento físicoe ataque de mosquitos), pedreiro (desgaste físico, fortes ventos, sujeira), dentre outras (EGIPTOSOCIEDADE, 2010, on-line2; MATTOS et al., 2011 apud BARSANO; BARBOSA, 2014). Na Babilônia, o código de Hamurabi (datado de, aproximadamente, 1750 a.C.) descrevia a sentença de morte para arquitetos que projetassem uma casa que viesse a desmoronar e matar pessoas (MATTOS et al., 2011 apud BARSANO; BARBOSA, 2014). Em Roma, atividades de risco eram delegadas a escravos (RODRIGUES, 1982 apud BARSANO; BARBOSA, 2014). Existia também uma instituição para tratar de questões trabalhistas, denominada de Collegia (FRIEDE, 1973 apud BARSANO; BARBOSA, 2014). Na Grécia, Hipócrates descreveu a intoxicação saturnina em mineiros. Este tipo de intoxicação se dá pela exposição ao chumbo. Hipócrates, em seu tratado, explicava a relação entre o ambiente e a saúde das pessoas. Plínio, o Velho, em seu Tratado de História Naturalis, relata a exposição ocupacio- nal a óxido de chumbo vermelho, mercúrio e poeiras. Descreve, também, que naquela época haviam máscaras rudimentares feitas de pano e bexiga de carneiro (BARSANO; BARBOSA, 2014). Para tratar de questões trabalhistas, existam os Erans (FRIEDE, 1973 apud BARSANO; BARBOSA, 2014). 16 Introdução à Segurança do Trabalho Bernardino Ramazzini, médico Italiano (1633-1714), destacou-se na história da Segurança do Trabalho por estudar a exposição de agentes químicos em diversas atividades, relacionando-os com as doenças dos trabalhadores. Ele observou o acometimento de doenças em trabalhos envolvendo arsênico, calcário, gesso, tabaco, cereais em grão e corte de pedras. Diversas iniciativas de proteção respiratória foram desenvolvidas ao longo da história. Leonardo Da Vinci descreveu o uso de um pano molhado para proteção respiratória e um equipamento denominado “snorkel”, que permitia o trabalho debaixo de águas. Este fornecia ar proveniente da superfície da água, por meio de um sistema de tubos e uma boia (TORLONI; VIEIRA, 2003). Figura 1 – Aspectos de segurança e saúde no trabalho na Antiguidade Fonte: o autor. Na Modernidade, por outro lado, um meio “bizarro” de proteção respiratória foi usado no período de 1700 a 1800. Para ser bombeiro, um dos requisitos era que a pessoa tivesse barba grande e densa. Quando molhada, a barba era tomada nos dentes e usada como protetor respiratório nos combates a incêndios. Vale destacar que, embora seja um meio bem rudimentar, o “respirador” possivelmente filtrava gases solúveis em água e particulados maiores que fuligens e cinzas (TORLONI; VIEIRA, 2003). Projetos de máscaras autônomas (respiradores com fornecimento de ar) foram desenvolvidos nos anos de 1800. Observe as imagens a seguir que ilustram o uso de dois tipos de respiradores. ASPECTOS DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO NA ANTIGUIDADE BABILÔNIA Código de Hamurabi (1750 a.C.) Descrevia a sentença de morte para arquitetos que projetassem casas que desmoronasse e matasse pessoas Bernardino Ramazzini (1633-1714) Considerado o pai da medicina do trabalho, estudou a relação de agentes químicos com as doenças dos trabalhadores ROMA ITÁLIA As atividades de risco eram feitas por escravos e a Collegia tratava de questões trabalhistas Hipócrates (460-370 a.C.) Sistematizou a relação do ambiente e do trabalho na saúde das pessoas GRÉCIA 17UNIDADE 1 Figura 2 – Desenho da primeira máscara autônoma de pressão positiva desenvolvida na Alemanha por Magirus – Meados de 1840 Fonte: Pritchard (1976, p. 7). A máscara era feita de saco de lona e impermeabili- zada com borracha. Veja a próxima (Figura 3). Figura 3 – Desenho de más- cara com filtro contra fumaça – utilizada em 1825 Fonte: Pritchard (1976, p. 5). O capuz da Figura 3 foi desenvolvido para ser usado por bombeiros. O funil na parte inferior captava um ar menos contaminado próximo do solo. Este ar passava também por um filtro feito de pano, para reter partículas sólidas, e uma esponja molhada com água, para remover gases solúveis em água (TORLONI; VIEIRA, 2003). Um importante filtro de contaminantes atmos- féricos foi desenvolvido, em 1854, por John Tyn- dall e E. M. Shaw. O filtro era constituído por três camadas: algodão seco, cal sodada e carvão ativo. Durante a Primeira Guerra Mundial, os ingleses desenvolveram os filtros eletrostáticos, consti- tuídos de fibras de lã de carneiro com resina de breu. A sua eficiência era de 99,99% (TORLONI; VIEIRA, 2003). Esses são alguns exemplos do quanto a prote- ção respiratória foi cada vez mais impulsionada pelo aumento das atividades exploratórias, como a mineração e a exploração de petróleo. No Brasil, empresas estrangeiras se instalaram para fabricar e fornecer protetores respiratórios. Atualmente, existem diversos modelos de respiradores e no Brasil foi formado o CB-32 – Comitê Brasileiro de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) – , que desenvolve estudos visando a produção de equipamentos de qualidade e efetivos. Ergonomia – Aspectos Históricos A primeira definição de Ergonomia, datada em meados do século XIX, no escopo do movimento industrialista europeu, do polonês Jastrzebowski, estabelecia que o trabalho humano é um misto de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação. Os termos gregos ergon + nomos, respectivamente trabalho e leis naturais, apregoam que os atributos humanos decrescem devido ao seu uso excessivo ou insuficiente. 18 Introdução à Segurança do Trabalho A ergonomia visa, desde sua gênese, segundo Másculo e Vidal (2011), entender a realidade da atividade do trabalho. Este entendimento deve ser isento de julgamentos pessoais sobre as coisas, ou seja, é preciso utilizar observação e coleta de dados sobre os fatos que ocorre no ambiente de trabalho. Dessa forma, a Ergonomia possibilita uma descrição mais próxima do que realmente acontece no ambiente de trabalho, no uso e manuseio de um software ou na adoção de um layout organizacional de trabalho. O que realmente importa é como as coisas acontecem. Entretanto, os primeiros estudos sobre as relações homem versus trabalho vêm desde a origem dos tempos. Utensílios de pedra lascada foram miniaturizados para melhoria da manuseabilidade e aumento de resultados produtivos com eficiência da caça e coleta. Com o ganho de eficiência na caça, permitiu uma divisão de trabalho diferente e diretamente a um aumento da população de seres humanos. Passando pelos egípcios, há registros de recomendações ergonômicas para fabricação de utensílios usados em construção civil e arranjos organizacionais para o canteiro de obra das pirâmides. Ao avançar em uma viagem através do tempo, podemos observar alusões aos cuidados posturais com a figura de Leonardo da Vinci e seus estudos sobre a mecânica e medidas do corpo, também co- nhecidos como biomecânica e antropometria. Além disso, este artista também desenvolveu estudos nas áreas de toxicologia e patologias do trabalho, advindos de aspectos físicos (temperatura e umidade) e químicos (vapores e poeiras). Na virada do século XIX para o século XX, a ergonomia deixa de ser ligada exclusivamente aos fisiologistas, profissionais que desenvolveram uma série de técnicas, métodos e equipamentos que permitiram mensurar, de forma efetiva, o desempenho do ser humano, e transforma os engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Forma-se a Ergonomia Clássica no período pós-guerra, como uma disciplina estruturada a partir de vários estudos. A partir deste momento, a ergonomia passa a ser entendida de forma mais ampla. Na sua aplicação, utiliza-se conhecimentos sobre anatomia, fisiologia e psicologia. Observa-se como o homem se relaciona com o seu trabalho – equipamentos e meio ambiente de trabalho. No período pós-guerras, especificamente após o término da Segunda Guerra Mundial, surgiu uma nova vertente da Ergonomia. Ela foi impulsionada pela necessidade de reconstrução da atividade industrial que foi destruída em decorrência da guerra. Com a necessidade de reconstrução, surgiramestudos sobre as condições de trabalho. Em especial, na indústria francesa de automóveis Renault, foi criado um laboratório industrial voltado à Ergonomia. A escola francesa de ergonomia possui uma questão própria que nos ajuda até os dias de hoje em como entender a importância desta ciência: como projetar novos postos de trabalho considerando a situação existente? Para tanto, surgiu a Aná- lise Ergonômica do Trabalho (AET) – ferramenta utilizada e exigida nos dias atuais por força de Lei. Por meio da AET, o posto de trabalho pode ser concebido de tal forma a ser realmente utilizado pelo trabalhador no seu dia a dia. No início do desenvolvimento dos estudos sobre a área, havia três linhas de pensamento: a primei- ra oriunda das escolas de engenharia com desdobramentos sobre os cursos de desenho industrial; a segunda da escola brasileira de design; e a última das escolas de psicologia. Ainda que de forma difusa e pontual, estes estudos determinaram várias contribuições para a ciência da ergonomia, adaptação de produtos e dos postos de trabalho. Muitas pesquisas evoluíram na área, além de integrar novos conhecimentos da fisiologia. Neste momento, diz-se que a ergonomia ainda 19UNIDADE 1 era, aqui no Brasil, puramente universitária. Após este período de muito estudo e pesquisa, temos a fase de disseminação do conhecimento nos planos educacional, público e de mercado. Instituições de SST As instituições ligadas à área de segurança e saúde do trabalho estão presentes em diversos países, es- pecialmente nos Estados Unidos e na Europa existem instituições de referência. Elas desenvolvem boas práticas, procedimentos e padrões de referência para todos os demais países. No Brasil, como uma das principais instituições, temos a presença da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO) que estuda e pesquisa as condições dos ambientes de trabalho. Ela produz materiais com orientações e especificações técnicas nas mais diferentes áreas, como no setor da Construção Civil, na Indústria Química e na Agricultura. Confira, a seguir, a lista de alguns órgãos e instituições ligados à área de Segurança e Saúde do Trabalho: • NIOSH (National Institute of Occupational Safety and Health) – agência norte Americana estabelecida em 1970, focada no estudo da saúde e segurança do trabalhador e no empodera- mento de trabalhadores e empregadores para criar ambientes de trabalho seguros e saudáveis (NIOSH, 2018). Dentre os trabalhos desenvolvidos por esta instituição, destacamos o Manual de Estratégia da Amostragem, para avaliação da exposição ocupacional a agentes químicos. • OSHA (Occupational Safety and Health Administration): organização que faz parte do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos. Ela estabelece padrões e promove treina- mentos, educação e assistência na área de Segurança do Trabalho. • ACGIH (American Conference of Governmental Industrial Hygienists): estabelece limites de exposição ocupacional para agentes físicos e químicos. Estes limites são usados como referência no Brasil. • AIHA (American Industrial Hygiene Association): fundada em 1939, é uma organização sem fins lucrativos voltada para os profissionais da higiene ocupacional. Estes fazem a an- tecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos ambientais (AIHA, 2019). • ANIMASEG (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho): congrega empresas fabricantes de material de segurança do trabalho no Brasil (ANIMASEG, (2020),online)3. • ABHO (Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais): associação criada em 1994 com fins de estudos e ações voltados para a Higiene Ocupacional. Por meio desta associação, o profissional de Higiene Ocupacional pode se qualificar e receber certificação na sua área de atuação (ABHO, (2020),online)4. • Ministério da Economia: formado pelo antigo Ministério do Trabalho e Emprego. Este pu- blicou a portaria n° 3.214, em 1978, que trouxe um conjunto de normas regulamentadoras com requisitos para o desenvolvimento de trabalho seguro e saudável no campo de trabalho brasileiro. As normas são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, desde que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (BRASIL, 1978a). 20 Introdução à Segurança do Trabalho Todo trabalho e conhecimento desenvolvido ao longo dos anos estão voltados para a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais. Como vimos, ações voltadas para a segurança no trabalho foram desenvolvidas aos poucos, à medida que doenças relacionadas ao trabalho foram identificadas e organizações formadas para defender os direitos dos trabalhadores foram instituídas. Ao longo dos anos, a relação entre o trabalho e doenças fica cada vez mais evidente. Isso acontece porque os ambientes de trabalho possuem riscos conhecidos como riscos ambientais que causam essas doen- ças. A seguir, explicaremos o que são estes riscos. 21UNIDADE 1 Prezado(a) estudante, a palavra “risco” remete à ideia de algo que pode acontecer e que terá algu- ma consequência (negativa ou positiva). Vivemos cercados de riscos: de morte, de bater o carro, de perder um ônibus, de obter sucesso com um novo produto, de se diferenciar da concorrência etc. Assim, é fácil assimilarmos o significado dessa palavra. E a palavra “ambiente”? Qual é o seu signi- ficado? Você provavelmente não terá dificuldades para descrevê-la, pois vivemos no ambiente terres- tre, trabalhamos em ambientes abertos e fechados, buscamos um ambiente tranquilo para descansar etc, ou seja, essa palavra é de uso corriqueiro e remete à ideia de um local em que ações de nos- so interesse ocorrem. Contudo, juntando as duas palavras, o que seria um risco ambiental? Para responder, consideremos a realidade dos locais de nosso interesse: os postos de trabalho. Riscos Ambientais 22 Introdução à Segurança do Trabalho Uma atividade laboral sempre acontece em um ambiente, seja a céu aberto (construção civil, atividades de agricultura, escavações, capinagem de terrenos, corte de grama etc.) ou em locais fechados (atividades em laboratórios químicos, aulas, elaboração de projetos de engenharia, sol- dagem de peças metálicas etc.). Esse ambiente, por conter uma série de elementos (também cha- mados de agentes ambientais), como materiais utilizados no processo de trabalho, equipamen- tos, fontes de energia, dentre outros, poderá ofe- recer risco à saúde daqueles que atuam nele. Aluno(a), observe o destaque que fizemos no termo “poderá”. Queremos dizer que um ambien- te de trabalho pode ou não oferecer risco à saúde dos trabalhadores. Consideram-se riscos ambientais os agentes exis- tentes nos locais de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e de tempo de exposição a eles, são capazes de causar danos à saúde dos trabalhadores. Fonte: adaptado de Brasil (1978a) das pessoas que ali laboram. É preciso avaliar a quantidade de álcool presente no local, o tempo de permanência das pessoas próximo ao produ- to e a concentração do referido agente químico. Podemos afirmar que um agente ambiental pode se transformar em um risco ambiental quando os três elementos natureza, concentração/inten- sidade e tempo de exposição atuam de forma a oferecer um risco de agravamento à saúde dos trabalhadores. A salubridade do ambiente de trabalho depende- rá não somente dos agentes ambientais presentes no local, mas também da sua natureza, concen- tração ou intensidade e tempo de exposição a esses agentes, por parte dos trabalhadores. Assim, por exemplo, a simples presença de álcool etíli- co em uma sala não configura um risco à saúde Quantitativamente, podemos dizer que “risco” é o resultado da multiplicação entre a probabilidade de ocorrência de um determinado evento com o valor da sua consequência. Para você entender melhor, anote aí os agentes ambientais (que podem setornar riscos ambien- tais) passíveis de existirem em um ambiente de trabalho: • Agentes físicos: ruído, calor, frio, radiação ionizante, radiação não ionizante e vibra- ções. • Agentes químicos: poeiras, fumos, né- voas, particulados, gases e vapores. • Agentes biológicos: bactérias, fungos, vírus etc. Vamos entender um pouco mais sobre cada um deles? 23UNIDADE 1 Agentes Físicos Os agentes físicos são formas de energia presentes nos ambientes de trabalho, talvez o mais conhecido deles seja o ruído. Este pos- sui uma intensidade de pressão sonora que é medida em decibéis (dB). Quanto maior o valor da intensidade, maior pode ser o dano ao trabalhador exposto sem proteção adequada. Este dano pode ser tanto auditivo (perda auditiva induzida por ruído) como não auditivo. Assim, surge a questão: qual intensidade de ruído não irá causar perda auditiva nos trabalhadores? No Brasil, existe a portaria do Ministério do Trabalho e Emprego 3.214/78 que esta- belece a norma regulamentadora NR-15 - Atividades e operações insalubres. Esta norma contém um quadro com a intensidade do ruído contínuo ou intermitente e o tempo máximo de exposição dos trabalhadores (ela contém, também, limites de tolerância para outros agentes ambientais). Veja, a seguir, as intensidades de ruído e o tempo máximo permitido para cada intensidade. Tabela 1 - Limites de tolerância para ruído contínuo e intermitente segundo NR-15 NÍVEL DE RUÍDO dB(A) Máxima Exposição Diária Permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 40 minutos 94 2 horas e 15 minutos 95 2 horas 96 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos Fonte: Brasil (1978b, on-line). 24 Introdução à Segurança do Trabalho Observe que a Tabela 1 se refere a limites de tolerância. Esse termo é muito comum na higiene ocupacional. O limite de tolerância de- termina a intensidade ou concentração de um agente ambiental que não irá causar danos à saúde da maioria dos trabalhadores durante sua vida laboral. Isso por que a sensibilidade a cada agente ambien- tal pode variar de pessoa para pessoa. Portanto, nem sempre uma exposição a agente ambiental abaixo do limite de tolerância pode garantir que não haverá agravos à saúde. Na coluna da esquerda, temos o nível de ruído medido em decibéis, e na coluna da direta, temos o tempo máximo permissível para o respectivo nível de ruído. Por exemplo, uma exposição de 85 dB(A) durante 8 horas é aceitável. A Norma Regulamentadora NR-15 é utilizada para verificar a salu- bridade dos locais de trabalho. É muito aplicada nos chamados lau- dos de insalubridade e também no Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT), que é um documento utilizado nos processos de aposentadoria especial. Conheça mais a NR-15 acessando o link: http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no- -trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras Para proteger os trabalhadores expostos ao ruído, pode-se aplicar medidas de controle coletivas e/ou individuais. As medidas cole- tivas são aquelas que beneficiarão vários trabalhadores. Exemplos: retirada de fonte de ruído de um local (uma máquina ou ferramenta ruidosa), aperto de parafusos para evitar vibração excessiva em má- quinas, instalação de camadas absorventes sobre a fonte geradora de ruído etc. Após a aplicação das medidas coletivas, são aplicadas as medidas individuais. Em alguns casos, essas são as únicas medidas aplica- das. Elas se constituem em fornecer os chamados equipamentos de proteção individual (EPI). Existem, no mercado, os protetores auriculares de inserção ou o tipo concha. O primeiro é inserido no canal auditivo do usuário e o segundo não é inserido, ele apenas cobre o ouvido. Eles podem ser utilizados individualmente ou de forma combinada. A espe- cificação do equipamento adequado dependerá da intensidade do ruído. Por exemplo, se em 8 horas de trabalho o trabalhador fica exposto a ruídos acima de 85 dB(A), será necessário um equipamento que atenue a exposição no ouvido do tra- balhador, no mínimo, para ní- vel inferior de 85 dB(A). Cada equipamento possui um nível de atenuação que pode variar em função da frequência de som. Isso significa dizer que, além de conhecer a intensida- de do ruído no local, é preci- so conhecer a sua frequência (medida em Hertz (Hz)) para determinar o equipamento de proteção individual mais ade- quado. Um segundo tipo de agente físico é o calor, que é também uma forma de energia que pode ser transmitida por três manei- ras: condução, convecção e irra- diação. Na condução, o calor é transmitido de um sólido para outro, por meio de contato. Na convecção, o calor é transmi- tido por meio de fluidos, seja de camadas de ar com maior temperatura para camadas mais frias ou massas de um líquido, por exemplo a água, com maior temperatura para outra massa de líquido fria. Na irradiação, o calor se propaga pelo ar de um corpo com maior temperatura para outro de menor tempera- tura. Isso acontece em regiões próximas de fornos que trans- mitem o calor para o ambiente vizinho. A exposição ao calor ocorre em ambientes abertos http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/normatizacao/normas-regulamentadoras 25UNIDADE 1 (trabalho na construção civil, condução de veí- culos, instalação de redes elétricas e cabos de fio de telefone etc.) e fechados (cozinhas industriais, operação de fornos em indústrias, fundições etc.). Para avaliar se o ambiente de trabalho oferece riscos à saúde dos trabalhadores devido à exposi- ção do calor, bem como para implementar pausas adequadas para evitar a sobrecarga térmica, po- de-se medir a temperatura do local pelo chamado Índice de Bulbo Úmido e Termômetro de Globo (IBUTG). Este índice é medido por meio de três instrumentos de medição: termômetro de bulbo seco (Tbs), termômetro de globo (Tg) e termô- metro de bulbo úmido natural (Tbn). Compa- ra-se o valor medido com valores estabelecidos na já citada norma regulamentadora NR-15 e/ ou na Norma de Higiene Ocupacional NHO-06 - Avaliação da Exposição Ocupacional ao Calor. Algumas medidas de controle para evitar a so- brecarga térmica são: aclimatizar trabalhadores que estarão expostos constantemente ao calor; conceder pausas para descanso fora do local de exposição ao calor; isolar termicamente as fontes de calor; diminuir o tempo de exposição etc. O terceiro tipo de agente físico conhecido é o frio. Na verdade, ele se refere à falta de calor ade- quado em ambientes de trabalho. A exposição ao frio acontece em câmaras refrigeradas, açougues e indústrias alimentícias. Ela pode acontecer em lo- cais geográficos em que a temperatura é mais bai- xa. De acordo com Vendrame (2015), o frio pode provocar o enregelamento dos membros, pois a circulação periférica do corpo fica reduzida. Isso pode se agravar, formando gangrena e até a ampu- tação de membros. De forma legal, o artigo 253 da Consolidação das Leis do Trabalho estabelece que: Art. 253 - Para os empregados que trabalham no interior das câmaras frigoríficas e para os que movi- mentam mercadorias do ambiente quente ou normal para o frio e vice-versa, depois de 1 (uma) hora e 40 (quarenta) minutos de trabalho contínuo, será assegurado um período de 20 (vinte) minutos de repouso, computado esse intervalo como de trabalho efetivo. Parágrafo único - Considera-se artificialmente frio, para os fins do presente artigo, o que for inferior, nas primeira, segunda e terceira zonas climáticas do mapa oficial do Ministério do Trabalho, Industria e Comercio, a 15º (quinze graus), na quarta zona a 12º (doze graus), e nas quinta, sexta e sétima zonas a 10º (dez graus) (BRASIL, 1943). Esse dispositivo legal traz uma medida decontrole para a exposição ao frio (pausas a cada 1 hora e 40 minutos, no caso de trabalhadores no interior de câmaras frigoríficas) e também estabelece o que é o ambiente artificialmente frio. Observe que esse am- biente pode variar conforme a região geográfica do Brasil. Além da concessão de pausas, outras medi- das são: fornecer equipamento de proteção indivi- dual, como luvas, botas e capuz; realizar o controle médico dos trabalhadores expostos e transmitir informações sobre procedimentos de segurança e saúde para trabalhar em ambientes frios. Outros agentes físicos que podem ser encon- trados nos ambientes laborais são as radiações ionizantes e não ionizantes. As radiações io- nizantes provocam a cisão de átomos, elas são representadas pelo raio-x, partículas alfa, beta e gama, dentre outras substâncias com esse potencial de ionização. São muito utilizadas na medicina, para diagnósticos e tratamento de doenças, seus efeitos são somáticos – que não se transmitem hereditariamente – ou genéticos – cujos efeitos se transmitem hereditariamente. Alterações nos sistemas humanos podem ocorrer, como altera- 26 Introdução à Segurança do Trabalho ção do sistema hematopoiético (diminuição no número de plaquetas, por exemplo), no aparelho digestivo, na pele, no sistema reprodutor (redução da fertilidade), nos olhos, no sistema cardiovascu- lar, no sistema urinário e no fígado (SALIBA, 2014). Como medidas de controle para esse tipo de agente, temos a blindagem de fontes de radiação ionizan- te, utilizando materiais como chumbo, concreto e metal. Indivíduos expostos devem ser monitorados e deve-se afastar mulheres grávidas desse tipo de risco ambiental. Aumentar a distância entre o tra- balhador e a fonte pode ser eficaz também. As radiações não ionizantes não provocam a cisão de átomos, apenas aumenta sua energia in- terna (VENDRAME, 2015). são elas: ultravioleta, radiação visível e vermelha, laser, micro-ondas e radiofrequências (SALIBA, 2014). Talvez a mais comum delas seja a radiação ultravioleta – que está presente em ambientes abertos com expo- sição direta ao sol. Conhecer os índices UV da região que está sendo analisada é útil para dimensionar a expo- sição dos trabalhadores a esse agente. Os efeitos da radiação não ionizante no organismo humano podem variar conforme o tipo de radiação, tem- po de exposição e proteções utilizadas. Alguns efeitos são: escurecimento da pele, eritemas pig- mentação retardada (no caso da exposição aos raios ultravioleta); lesões na pele e olhos, com queimaduras (no caso da exposição à radiação infravermelha). As medidas de controle envol- vem a utilização de roupas de proteção da pele e proteção dos olhos, limitação do tempo de ex- posição e distanciamento da fonte de radiação (SALIBA, 2014). Quando os trabalhadores utilizam máquinas e ferramentas, geralmente estão expostos às vi- brações. Esse agente ambiental pode provocar incômodos lombares, alteração degenerativa pri- mária das vértebras e dos discos intervertebrais, danos vasculares, neurológicos e musculares (SALIBA, 2014). As vibrações podem ser dividi- das em dois tipos: aquelas transmitidas ao corpo inteiro e aquelas transmitidas por meio das mãos e braços. A primeira ocorre quando o trabalha- dor está sobre uma superfície vibratória: ônibus, carro, trator, plataforma de trabalho; a segunda ocorre na utilização de máquinas e ferramentas: motosserras, furadeira, lixadeira etc. Algumas das medidas de controle para evi- tar danos devido à exposição às vibrações são: realizar vigilância da saúde dos trabalhadores expostos às vibrações, calibrar pneus de veículos, utilizar assentos com amortecedor de vibração, aplainar superfícies por onde passam os veículos e utilizar ferramentas antivibratórias ou ferra- mentas que produzam níveis de vibração mais baixos (SALIBA, 2014). 27UNIDADE 1 Agentes Químicos Os agentes químicos ocorrem nos ambientes de trabalho na forma de poeira, fumos, névoas, gases e vapores. Eles podem penetrar no organismo por meio das vias aéreas, via cutânea e pela ingestão de alimentos contaminados. Hoje, existem uma infinidade de agentes químicos produzidos artificial- mente. Caso queira conhecer o total de agentes químicos registrados, acesse o site do CAS, nele há o registro de 143 milhões de substâncias orgânicas e inorgânicas divulgadas na literatura, desde os anos de 1800 (CAS, 2018). As poeiras no ambiente de trabalho são pequenas substâncias sólidas que ficam em suspensão no ar. Elas surgem, por exemplo, quando é feita a varrição do ambiente de trabalho ou a moagem de alguma substância. Os fumos são vapores condensados no ar que surgem termicamente, após a volatilização de subs- tância, como o chumbo ou o zinco (SALIBA, 2014)e estão presentes nas atividades de solda. As névoas surgem do rompimento mecânico de líquidos, como no caso da pintura a pistola. As neblinas são mais difíceis de serem geradas são partículas líquidas formadas por condensação de vapores de substâncias líquidas. Os gases são substâncias que as condições normais de temperatura e pressão, estão no estado gasoso é o caso da utilização de gás de amônia em abatedouros de aves. Os vapores são desprendidos por líquidos voláteis, ou seja, é a fase gasosa do líquido. Eles estão presentes em muitas operações da indústria química e das indústrias que utilizam solventes, como a acetona, o álcool e a gasolina. Os agentes químicos, como as poeiras, podem causar pneumoconioses, efeitos tóxicos, efeitos alérgicos e enfermidades leves e reversíveis (como bronquite e resfriados). Ainda, há diversos outros efeitos, como corrosão de superfícies, nocividade para a pele, lesões oculares, quei- maduras e morte. Vale destacar que para conhecer os efeitos de um determinado agente químico, bem como as medidas de segurança em caso de emergências e para proteção durante o uso do produto, é preciso consultar a Ficha de Informações de Segurança do Produto Químico - FISPQ. Esta ficha contém fra- ses de risco, frases de precaução, informações físicas e químicas sobre o produto, EPIs recomendados, dentre outras informações. Caro(a) aluno(a), o conteúdo da FISPQ é dado pela Norma ABNT 14725:2009. Conheça um modelo de FISPQ acessando o link: http://www.anidrol.com.br/fispq/XILOL%20PA%20-%20COD%20%20A-2415.pdf 28 Introdução à Segurança do Trabalho Para avaliar a exposição ocupacional a agentes químicos, pode-se fazer avaliação qualitativa e/ou quantitativa. Na primeira, é feito um levantamento de todas as substâncias químicas manuseadas no processo produtivo, bem como as quantidades e forma de ma- nipulação. Utiliza-se a FISPQ para verificar os danos do produto, visando estabelecer medidas de controle. A partir dessa análise qualitativa, é feita a avaliação quantitativa que permite detalhar a concentração do agente químico no ambiente. Essa quantificação é necessária para dimensionar a exposição dos trabalhadores e para verificar a eficácia das medidas de controle. É verificada a concentração de agentes químicos antes e após a implementação das medidas de controle. Como sabemos que o agente químico penetra no organismo humano pelas vias aérea, cutânea e por ingestão, as medidas de controle para este risco ambiental é a utilização de barreiras que atuem nessas vias. Antes de aplicar tais barreiras, vale estudar se a substância química pode ser substituída por uma substância menos tóxica ou se é possível diminuir a disseminação da substância no ambiente. Reduzir a quantidade manipulada no trabalho também tem impacto positivo na redução do risco. As barreiras para evitar o contato do agente químico com o corpo humano são: enclausurar a operação, para evitar a liberação do agente químico; realizar a ope- ração em local afastado do maior número de trabalhadores possível; realizar operações que envolvem agentes químicos em horários de menor exposição aos trabalhadores; umidificar o ambiente, no caso da exposição à poeira; instalar ventiladorese exaustores no local, para diluir a concentração do agente químico no ar ou diminuir sua concentração; instalar exaustores para captar e remover o agente químico do ambiente; e utilizar EPI, como luvas, óculos, roupas de corpo inteiro e respiradores (essa barreira atua somente no traba- lhador que utiliza o EPI de forma correta e regular). 29UNIDADE 1 Agentes Biológicos Esses agentes são bactérias, bacilos, vírus, protozoários, dentre outros microrganismos que podem causar doenças nos trabalha- dores. Diversas operações oferecem esse tipo de risco ambiental, como o trabalho em hospitais, laboratórios, estábulos, gabinetes de autópsias, coleta de lixo urbano etc. O risco biológico é in- visível, podendo causar doenças e infecções, além da morte dos indivíduos expostos (VENDRAME, 2015). O agente biológico pode adentrar o organismo humano por meio das rotas aérea (inalação), dérmica (contato com a pele ou mucosas), parenteral (contato direto com sangue ou fluidos), ingestão (alimentar-se ou fumar no ambiente de trabalho) e também por meio da transmissão, através de vetor artrópode (VENDRAME, 2015). Algumas doenças bem conhecidas causa- das por agentes biológicos são: AIDS, tuberculose, dengue, ebola, hepatites B e C, gripe asiática etc. Para controlar a exposição aos agentes biológicos, evitando que se tornem riscos biológicos, o prevencionista pode buscar as seguintes medidas de controle: instalar barreira física, por meio de equipamento de proteção individual, no corpo do tra- balhador (luvas, máscaras, óculos, jaleco, sapato fechado etc.); comprar, treinar e exigir o uso de desinfetantes e bactericidas; implementar um manual de boas práticas na manipulação de material biológico; providenciar a vacinação dos trabalhadores (VENDRAME, 2015); utilizar filtro de ar nos ambientes climati- zados; evitar vazamentos e infiltrações no ambiente de trabalho; controlar roedores, morcegos e ninhos de aves; providenciar material descartável e esterilizado; e implementar o controle médico para monitorar a saúde dos trabalhadores expostos a agentes biológicos (SALIBA, 2014). 30 Introdução à Segurança do Trabalho Outros Riscos Ambientais Além dos agentes físicos, químicos e biológicos, existem situações que também oferecem riscos à segurança e saúde dos trabalhadores. Podemos destacar as situações ligadas a fatores mecânicos (piso desnivelado, piso escorregadio, parte móveis de máquinas, super- fícies cortantes, materiais energizados etc.) e a fatores ergonômicos (movimentos repetitivos, trabalho em pé, esforços excessivos, in- clinação da coluna, levantamento de cargas, monotonia etc.). Estes fatores não são considerados obrigatoriamente agentes de risco pelos Programas de Prevenção de Riscos Ambientais, porém podem gerar acidentes e doenças. Conforme vimos, os ambientes de trabalho podem apresentar diferentes tipos de riscos classificados em cinco grupos: físicos, químicos, biológicos, mecânicos e de falta de adaptação ergonômica. Cada risco possui técnicas de análise e avaliação para confirmar seu grau de agressividade ao homem. O controle e eliminação dos riscos ambientais são feitos por meio do gerenciamento de riscos, assunto do próximo tópico. Riscos em uma obra de construção civil 31UNIDADE 1 Conforme vimos, os ambientes de trabalho pos- suem riscos de diferentes naturezas. Ao identifi- car sua presença no ambiente de trabalho, o que devemos fazer? É necessário eliminar todos os riscos? Haverá recursos financeiros, humanos e tempo para eliminar ou reduzir todos os riscos? A resposta a essas perguntas pode ser dada por meio de um gerenciamento das informações re- lacionadas aos riscos. Gerenciar riscos significa fazer a sua identifi- cação, análise, avaliação e propor medidas de con- trole para que os riscos evitem perdas humanas (mortes, doenças, incapacitação temporária ou permanente), materiais (perda de material, danos em equipamentos, destruição de instalações) e financeiras. A Figura 4 ilustra os quatro processos básicos do gerenciamento de riscos. Gerenciamento de Riscos 32 Introdução à Segurança do Trabalho Figura 4 – Processos básicos do gerenciamento de riscos Fonte: Silva (2018, p. 112). Os profissionais que lidam com Segurança do Trabalho fazem o gerenciamento de riscos diariamente. É preciso estar atento para identificar riscos de acidentes e doenças do trabalho, independen- temente de sua gravidade. A análise e avaliação de cada risco são realizadas de forma sequencial, após a identificação, ou de forma paralela, isto é, ao mesmo tempo em que se identifica o risco já é feita a sua análise e avaliação. Vejamos, a seguir, as ações tomadas em cada processo do gerenciamento de riscos. Identificação de riscos Análise de riscos Avaliação de riscos Tratamento de riscos Processos básicos de gerenciamento de riscos são os processos necessários para identificar e tratar adequadamente os riscos ambientais. 33UNIDADE 1 Identificação de Riscos O primeiro passo para gerenciar riscos em um ambiente laboral é fazer a sua identificação. Em muitas ocasiões, não percebemos que existe um perigo no ambiente de trabalho. Situações, como piso escorregadio, proximidade com linhas de transmissão de energia elétrica, transporte inadequado de materiais, dentre outras, apre- sentam riscos de acidentes que nem sempre são identificados. Na identificação do risco, uma situação com probabilidade de gerar danos passa a ser conhecida e temos o seu registro formal. Cada situação de risco deverá ser tratada posteriormente. Nossa percepção do risco nos ambientes de trabalho tende a aumentar quando não olhamos para uma operação com apenas o objetivo de executá-la. Quando enxergamos um trabalho do ponto de vista da segurança e dos riscos presentes, podemos identificar uma série deles que não seriam identificados até mesmo pela pes- soa que realiza o trabalho. A falta de uma cultura de segurança do trabalho nas empresas acaba por influenciar negativamente nossa percepção dos riscos. Muitos trabalhadores convivem com os ris- cos sem maiores preocupações. Na ocorrência de um acidente, a situação será alarmante e, então, alguns irão perguntar: quem foi o culpado? Por que nada foi feito para evitar o acidente? Portanto, identificar e documentar os riscos constitui um passo importantíssimo para que todos tenham consciência da probabi- lidade e possíveis danos decorrentes de um risco ambiental. Para melhorar nossa percepção dos riscos, podemos utilizar algumas ferramentas. Os checklists nos ajudam a lembrar de pontos críticos na exe- cução de um trabalho. Veja, no Quadro 1, um exemplo de checklist. 34 Introdução à Segurança do Trabalho Quadro 1 – Exemplo de checklist de segurança do trabalho PROTEÇÃO COLETIVA SIM NÃO NA EP Possui sistema de exaustão geral no ambiente do laboratório? Possui sistema de exaustão local para equipamentos que libe- ram vapores ou gases? Máquinas e equipamentos possuem sistemas de proteção em suas partes móveis? Existe cabine de exaustão de gases e vapores no setor? Máquinas e equipamentos perigosos possuem sistema de blo- queio para pessoas não autorizadas? Cabine de fluxo laminar possui anteparos de proteção coletiva? O setor possui sinalização de segurança? Os equipamentos possuem sinalização de risco? Escadas fixas possuem dispositivos de segurança (corrimão, guarda-corpo...) HIGIENE QUÍMICA SIM NÃO NA EP Alimentos e bebidas são guardados e ou consumidos no labo- ratório? Existem cartazes proibindo o uso de geladeiras para guardar alimento e bebidas? Existem cartazes proibindo o uso de micro-ondas para fins alimentares? É terminantemente proibido frequentar o laboratório sem os trajes adequados? Há o uso de papel absorvente para atividades com reagentes? Existe um agente absorvente para casos de derramamentos de produtos químicos? O laboratório possui sistema de gerenciamento de resíduos? Existe local adequado para limpeza de equipamentos destinados à aplicação de defensivos?Fonte: adaptado de Universidade Federal de Viçosa ([2019], on-line)5. Este modelo é aplicado para o ambiente de um laboratório de ensino e pesquisa de uma universidade. Observe que o checklist faz perguntas sobre itens de segurança que são respondidas por meio de uma visita e observação do local. Caso fosse feita uma inspeção sem o checklist, muitos dos itens contidos nele passariam desapercebidos pelo inspetor. Além de usar checklists prontos, é recomendado que sejam elaborados modelos pelo próprio inspetor ou equipe de segurança do local. É preciso que o checklist atenda às necessidades de cada organização. 35UNIDADE 1 Os fluxogramas de processos produtivos fornecem uma visão geral de todo processo. Cada etapa produtiva é identificada e o responsável por identificar os riscos terá uma referência para saber quais locais/processos deverão ser inspecionados. Os fluxogramas mostram as etapas/atividades de um processo. Veja um exemplo na Figura 5. Corte de cana-de-açúcar Coleta de água Fabricação de açúcar Indústria alimentícia e ração animal Indústria de alimentos Comércio atacadista/ varejista Combustível para o carro Indústria de bebidas e cosméticos Mistura na gasolina Fabricação de álcool Recepção da cana Lavagem da cana Preparo da cana Extração do caldo Geração de energia e vapor Tratamento do caldo Energia para a população e para a usina Figura 5 – Exemplo de fluxograma de processo Fonte: Silva (2018, p. 124). O fluxograma (Figura 5) mostra o processo global de uma usina de cana-de-açúcar. Podemos analisar os riscos em cada etapa do processo mapeado. Observe que o fluxograma nos dá uma orientação das áreas em que deverão ser identificados os riscos. A investigação de acidentes é outra ferramenta de identificação. Acidentes acontecem devido ao mal gerenciamento dos riscos ambientais e, em algumas situações, os riscos são percebidos apenas após a ocorrência de um acidente. Na investigação, são levantadas as possíveis causas do acidente e, depois, cada hipótese é analisada. Acidentes são causados pelo fator humano e pelas condições inseguras do ambiente. Mudanças em processos e nas condições de trabalho são feitas após a ocorrência de acidentes. 36 Introdução à Segurança do Trabalho Análise de Riscos Este processo faz o detalhamento das característi- cas de um risco. Considere o caso de trabalho em altura na indústria da construção civil. Este tipo de trabalho é necessário e constante em muitas obras. Como você pode imaginar, existe um risco de queda dos trabalhadores que fazem a construção de telhados, que trabalham em lajes de edifícios, dentre várias outras operações executadas acima de um nível inferior. Saber que existe o risco é fazer a sua identi- ficação. No entanto, analisar este risco é fazer a seguinte pergunta: como exatamente é o risco de queda em altura? Na análise, iremos identificar como o risco pode culminar em um acidente. Por exemplo, pode-se analisar que a falta de equipa- mento de proteção individual ou de proteção coletiva que restrinja os trabalhadores de atingir áreas de risco de queda é uma causa importante do risco. O trabalho em proximidade com o perí- metro de um telhado proporciona um risco maior de queda. A condição das telhas de um telhado tem grande influência no grau de risco. Materiais antigos estarão mais deteriorados. Ainda, pode-se analisar também que o trabalho em dias chuvo- sos aumenta mais ainda o risco de queda. A falta de treinamento ou a condição psicológica dos trabalhadores também influenciam no risco de queda. Enfim, em uma análise de risco, causas, consequências e grau de risco são levantados. Es- sas informações serão úteis para saber o quão ur- gente uma medida de controle deverá ser adotada. Avaliação de Riscos A avaliação de riscos compreende calcular a magnitude de um risco. Para isso, utilizamos es- tatísticas de acidentes e registro de valores gastos com eles. A avaliação envolve estimar a frequên- cia de ocorrência de acidentes, sua probabilidade e os possíveis valores financeiros decorrentes das perdas. Para realizar a avaliação, são necessários re- gistros de acidentes ao longo do tempo. Catego- rizar os acidentes por tipo de agente também irá fornecer dados sobre a magnitude de cada risco. Neste sentido, é importante existir um sistema de registro de acidentes e de incidentes. É preciso estimular e valorizar a comunicação de todo aci- dente e dos quase acidentes para que seja criado um banco de dados. A título de exemplo, observe as Tabelas 2 e 3 que mostram dados de acidentes de uma empresa. Toda análise de risco deve ser objetiva e útil para os trabalhadores. Criar documentos sem utili- dade prática pode ser uma prática frustrante. A análise de risco deve ser conhecida e realmente utilizada por aqueles que executam o trabalho. As técnicas de análise de risco são: série de ris- cos, análise preliminar de riscos (APR), análise de modos de falhas e efeitos (AMFE), técnica de inci- dentes críticos, análise de árvore de falhas (AFF). Fonte: adaptado de Carlos ([2019], on-line)6. Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use seu leitor de QR Code. 37UNIDADE 1 Ano Nº de acidentes 1 8 2 6 3 10 4 11 5 5 Tabela 2 – Número de acidentes por ano Fonte: Silva (2018, p. 146). A Tabela 2 mostra um resumo do número de acidentes durante cinco anos. Estes dados podem ser comparados com o número total de trabalhadores em cada ano, conforme a Tabela 3. Ano Nº de acidentes Nº de trabalhadores Frequência de acidentes 1 8 1000 0,008 2 6 1000 0,006 3 10 1000 0,010 4 11 1000 0,011 5 5 1000 0,005 Total 40 5000 0,008 Tabela 3 – Frequência de acidentes Fonte: Silva (2018, p. 146). Os dados das tabelas nos mostram que o número de trabalhadores, ao longo de cinco anos, perma- neceu o mesmo e o número de acidentes foi variável. O valor de frequência de acidentes representa a quantidade de acidentes pelo total de trabalhadores. Estes dados servem para monitorar a ocorrência de acidentes e demais eventos que indicam o grau de risco de uma atividade. Conforme a avaliação de cada risco, a organização poderá gerenciar os riscos por conta própria ou transferir os riscos para um terceiro. Isso pode ser visto nos contratos estabelecidos entre empre- sas, em que as cláusulas definem as responsabilidades da contratada em relação ao cumprimento de normas de segurança do trabalho. No entanto, destacamos que a empresa contratante não se exime de suas responsabilidades no campo de segurança do trabalho, nas atividades desenvolvidas em suas dependências. Outra forma de transferir os riscos é por meio de seguros. As seguradoras oferecem cobertura a perdas conforme o valor pago de seguro. Em algumas situações, é possível pagar um valor mais baixo de seguro se a organização reduzir os riscos existentes em suas instalações. 38 Introdução à Segurança do Trabalho Tratamento de Riscos O tratamento de riscos envolve implantar medidas de controle coletivas e individuais para eliminar ou reduzir os riscos identificados, analisados e avaliados. Existem diversas soluções de proteção coletiva, conforme a atividade: • Utilização de exaustores, ventilação local e ventilação geral diluidora, para os postos de trabalho com exposição a agentes químicos. • Utilização de barreiras acústicas para reduzir o nível de ruído no ambiente. • Utilização de proteção contra quedas, como guarda-corpo e linha de vida, na indústria da construção civil. • Equipamentos de proteção individual para proteger cabeça, membros inferiores, membros superiores, sistema respiratórios, dentre outras partes do corpo etc. Essas medidas devem ser implantadas, preferencialmente, em um Programa de Prevenção e Controle de Perdas. O que isso significa? Significa que implantar medidas de controle de forma isolada não gerará resultados satisfatórios a menos que essas medidas façam parte de um programa. No programa, os riscos são atacados conforme sua gravidade e existeum acompanhamento das ações, com prazos e responsáveis definidos. Conforme você irá observar ao longo de sua carreira profissional, a área de segurança do trabalho sofre, muitas vezes, com a inércia provocada pela falta de investimentos na proteção da saúde e integridade dos trabalhadores. Caso as correções necessárias para reduzir os ris- cos não sejam gerenciadas por meio de um programa, a proteção dos trabalhadores não será efetiva. Na próxima unidade, estudaremos as doenças que podem surgir devido à exposição aos riscos ambientais e explicaremos como é feita a investigação de acidentes. 39 Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução. 1. O trabalho pode gerar doenças e acidentes caso os riscos existentes não se- jam adequadamente gerenciados. Diante disso, descreva algumas ações que foram tomadas ao longo da história para promover a saúde e segurança dos trabalhadores. 2. Os riscos ambientais podem ser divididos em três categorias: físicos, químicos e biológicos. Considere o trabalho de um motorista de ônibus municipal. A que riscos este profissional pode estar exposto? Como você aplicaria os processos básicos de gerenciamento de riscos a esta situação? 3. Sobre um sistema de proteção respiratória que contém fibras umedecidas com água, é correto afirmar: a) Não possui características de proteção respiratória úteis. b) Pode ser usado para filtrar gases e vapores solúveis em água. c) Foi utilizado pelos gregos para filtrar poeiras de chumbo. d) Foi utilizado pelos romanos para filtrar poeiras de mercúrio. e) É usado para filtrar poeiras de álcool. 4. Pedreiros que trabalham em betoneiras na construção civil estão expostos aos seguintes agentes ambientais: a) Agentes biológicos: poeiras e vírus. b) Agentes químicos: vapores de areia e pedras. c) Agentes físicos: ruídos e radiação não ionizante. d) Agentes químicos: vapores de gasolina. e) Agentes físicos: calor e radiação ionizante. 40 As doenças dos trabalhadores Autor: Bernardino Ramazzini Editora: Fundacentro Sinopse: obra de valor inestimável, As Doenças dos Trabalhadores foi publicada, pela primeira vez em 1700. Observando as queixas de seus pacientes e seus ofícios, Ramazzini identificou que o trabalho pode ser um determinante do pro- cesso de adoecimento. Ao discorrer sobre as doenças de diversas profissões, revela os primeiros indícios de uma prática médica direcionada ao estabeleci- mento de diagnósticos de doenças ocupacionais. Trezentos anos depois, em 2000, a Fundacentro publicou sua primeira edição da obra de Ramazzini e, recentemente, em 2016, quando celebrou seus 50 anos, lançou nova edição reafirmando que a vida da instituição seja tão longa quanto as contribuições e o sucesso desta obra para a SST. LIVRO Indústria americana Ano: 2019 Sinopse: neste documentário, uma empresa chinesa reabre uma fábrica em Ohio e enche o povo de esperança. Entretanto, os conflitos culturais podem destruir esse sonho americano. FILME 41 AHIA. American Industrial Hygiene Association: About AIHA. 2019. Disponível em: https://aiha.org/ about-aiha. Acesso em: 03 out. 2019. BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Segurança do Trabalho: Guia Prático e Didático. São Paulo: Editora Érica, 2014. BRASIL. Decreto-lei nº 5452, de 01 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho Brasília: Presidência da republica, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm. Acesso em: 16 dez. 2019. BRASIL. Norma Regulamentadora nº 1, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-1 – Dispo- sições gerais. 1978a. Brasil. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/SST_NR/ NR-01.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019. BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15, de 08 de junho de 1978. Norma Regulamentadora NR-15 – Ati- vidades e operações insalubres. 1978b. Brasil. Disponível em: http://trabalho.gov.br/images/Documentos/SST/ NR/NR15/NR15-ANEXO1.pdf. Acesso em: 16 dez. 2019. CAS. CAS Registry and CAS Registry Number FAQs. Disponível em: https://www.cas.org/support/docu- mentation/chemical-substances/faqs. Acesso em: 12 set. 2019. CDC. The National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH): About NIOSH. 2018. Dispo- nível em: https://www.cdc.gov/niosh/about/default.html. Acesso em: 03 out. 2019. MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. Ergonomia: trabalho adequado e eficiente. Rio de Janeiro: Elsevier: ABEPRO, 2011. PRITCHARD, J. A. (ed.) History of respiratory protection. In: Guide to industrial respiratory protection. Cincinnati: NIOSH, Pub. n. 76-189, 1976. Cap.2. SALIBA, T. M. Manual prático de Higiene Ocupacional e PPRA. 6. ed. São Paulo: LTr, 2014. SILVA, M. J da. Gerenciamento de riscos e prevenção de acidentes. Maringá: Unicesumar, 2018. TORLONI, M.; VIEIRA, A. V. Manual de proteção respiratória. São Paulo: Abho, 2003. VENDRAME, A. C. Perícias judiciais de insalubridade e periculosidade. São Paulo: edição do autor, 2015. 42 REFERÊNCIAS ON-LINE 1Em: https://smartlabbr.org/. Acesso em: 02 out. 2019. 2Em: https://pt.slideshare.net/mariafimgomes/egiptosociedade-5847238. Acesso em: 03 nov. 2019. 3Em: https://animaseg.com.br/animaseg/index.php/associacao?switch_to_desktop_ui=52. Acesso em: 09 jan. 2020. 4Em: https://www.abho.org.br/arquivos/sobre/institucional.pdf. Acesso em: 09 jan. 2020. 5Em: http://www.ssh.ufv.br/wp-content/uploads/checklist02_laborat%C3%B3rios_atualizado.pdf. Acesso em: 09 jan. 2020. 6Em: https://segurancadotrabalhoacz.com.br/tecnicas-de-analise-de-risco/. Acesso em: 03 nov. 2019. https://animaseg.com.br/animaseg/index.php/associacao?switch_to_desktop_ui=52 https://www.abho.org.br/arquivos/sobre/institucional.pdf https://www.google.com/url?q=http://www.ssh.ufv.br/wp-content/uploads/checklist02_laborat%25C3%25B3rios_atualizado.pdf&sa=D&source=hangouts&ust=1578661190635000&usg=AFQjCNGsFejlupxwLFNGRD68wmjSTEE0Pg 43 1. Conforme estudamos, ao longo dos anos, diversas ações foram tomadas para proteger o sistema respi- ratório dos trabalhadores em decorrência da exposição a agentes químicos. As máscaras foram um dos primeiros elementos de segurança do trabalho a serem descritos, sendo criadas máscaras de bexiga de carneiro, projeto de “snorkel” para trabalhos submersos e, nos anos de 1800, foram criadas máscaras para bombeiros. Encontramos, também, registros que descrevem as situações degradantes de trabalho no Antigo Egito. Por sua vez, o médico italiano Bernardino Ramazzini foi o primeiro a estudar em profundidade as doenças que acometiam trabalhadores. No Brasil, a proteção respiratória foi impulsionada pela chegada das indústrias de petróleo e mineração. 2. O motorista fica exposto aos seguintes riscos: • Físicos: radiação não ionizante proveniente do sol; vibração proveniente do veículo que ele dirige; ruído proveniente do trânsito; calor proveniente do sol. • Químicos: fumos e monóxido de carbono provenientes dos veículos. • Biológicos: vírus e bactérias provenientes de passageiros do ônibus. Os processos básicos de gerenciamento de riscos podem ser aplicados da seguinte maneira: • Identificação de riscos: conforme visto, foram identificados riscos físicos, químicos e biológicos, de- talhados anteriormente. • Análise de riscos: pode ser feito uma avaliação quantitativa do nível de ruído e vibração para dimen- sionar a exposição a esses riscos. • Avaliação de riscos: pode ser feita uma pesquisa dos casos de acometimento de doenças com moto- ristas de ônibus e estimar a ocorrência de doenças ocupacionais. • Tratamento de riscos: podem ser fornecidas pausas para descanso, climatização do veículo e forne- cimento de protetor solar ou uniforme com proteção UV. 3. B. 4. C. 44 PLANO DE ESTUDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Conceituar o acidente do trabalho. • Descrever as doenças ocupacionais decorrentes da exposição a agentes ambientais. • Explicar como são feitas as investigações de acidentes do trabalho. Definição de Acidente do Trabalho Doenças Ocupacionais Investigação de Acidentes Me.Maílson José da Silva Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais Definição de Acidente do Trabalho Você já parou para pensar qual é o objetivo final da disciplina de ergonomia e segurança do traba- lho? Você sabe por que hoje existem diversos cur- sos, normas técnicas, equipamentos e tecnologias voltados para a segurança do trabalho? Podemos afirmar que o objetivo final da apli- cação dos conceitos de ergonomia e segurança do trabalho é prevenir acidentes e doenças, tornando o trabalho salubre e mais produtivo. Enquanto engenheiro e prevencionista, se você atingir este objetivo, saiba que estará fazendo a diferença em um sistema produtivo. Para prevenir acidentes e doenças, é fundamental esclarecer o significado desses termos aplicados à segurança do trabalho. Por exemplo, você sabia que o tétano e a dengue são doenças que podem ou não ser relacionadas ao trabalho? Vamos entender um pouco mais so- bre a magnitude e definições dos acidentes do trabalho e doenças profissionais? 47UNIDADE 2 Magnitude do Problema A cidade de Fortaleza, localizada no Estado do Ceará, possui uma população estimada em 2,63 milhões de pessoas (IBGE, 2017). Você acha este número muito alto? Se sim, talvez se espante de saber que, no mundo, estima-se que 2,78 milhões de mortes atribuídas ao trabalho ocorrem anualmente, ou seja, quase o valor da população de Fortaleza. A maioria dessas mortes não está relacionada a acidentes fatais, mas a doenças ocupacionais. Um total de 86,3% das mortes se devem a doenças ocupacionais e 13,7% a acidentes fatais, isto é, o trabalho mata muitas pessoas aos poucos. Em relação à distribuição dos casos, por região geográfica, a Ásia possui cerca de 67% dos casos, seguida por África (11,8%) e Europa (11,7%) (HÄMÄLÄINEN; TAKALA; KIAT, 2017). Os grupos de doenças relacionadas ao trabalho que mais contribuem para os casos de mortes são: doenças circulatórias (31%), neoplasias malignas (26%) e doenças respiratórias (17%) (HÄMÄLÄINEN; TAKALA; KIAT, 2017). Como visto, estamos diante de um problema significativo. Ora, se para desen- volvermos como sociedade é preciso empregar pessoas e estas perdem suas vidas ou ficam com sua capacidade laboral reduzida devido ao trabalho, como podemos alcançar o tão sonhado desenvolvimento sustentável? Portanto, preste atenção em como você, enquanto engenheiro(a) em uma empresa, pode trabalhar para melhorar este quadro, pelo menos a nível local. Um único acidente do trabalho pode não parecer importante diante de inúmeros casos apresentados pelas estatísticas de acidentes. Contudo, para a pessoa que o vivencia, este único caso já é assustador. Tendo em vista a exposição da magnitude do problema causado pelos acidentes de trabalho, pode surgir a seguinte questão: como os países contabilizam os acidentes de trabalho? Um passo inicial é definir corretamente o que é e o que não é um acidente de trabalho. Vejamos então as definições. Definições O que realmente são acidentes e doenças do trabalho? Para responder a esta pergunta, gostaríamos de destacar três legislações importantes na área de Segurança e Saúde do Trabalho (SST): • Lei Federal 8.080, de 19 de setembro de 1990, regula as ações e serviços de saúde, incluindo a saúde dos trabalhadores; visa promover, proteger, recuperar e reabilitar a saúde dos trabalhadores; estabelece que deverá ser elaborada uma listagem oficial de doenças originadas do processo de trabalho, que deve ser atualizada constantemente. • Lei Federal 8.213, de 24 de julho de 1991, define o que é um acidente do trabalho e o que os empregadores precisam fazer quanto ao acidente; estabelece a obrigatoriedade da Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT). • Decreto Federal 3.048, de 6 de maio de 1999, em seu Anexo II traz uma lista de agentes pato- gênicos causadores de doenças profissionais ou do trabalho. 48 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais Recomendamos que você faça a leitura das legislações mencionadas para entender melhor os termos relacionados aos acidentes de trabalho. No entanto, vamos agora explicar alguns destes termos. Vejamos a definição legal do acidente do trabalho, conforme a Lei Federal 8.213/91: Art. 19. Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço de empresa ou de empregador doméstico ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991, on-line). Observe, nessa definição, que o acidente provoca uma lesão corporal ou perturbação funcional, ou seja, após o acidente, o trabalhador pode ficar inapto para desenvolver suas atividades, seja por alguns dias (temporariamente) ou pelo resto de sua vida (permanentemente). Ainda, o trabalhador pode retornar ao seu trabalho, porém sua capacidade pode ficar reduzida. Observe que a definição apresenta que o trabalhador está a serviço da empresa ou do seu empregador doméstico, quando for o caso. Portanto, acidentes ocorridos fora deste contexto, não são considerados acidentes do trabalho. As lesões corporais e perturbações funcionais ocorrem tanto de forma imediata (por exemplo, devido a uma pancada, corte ou prensagem) ou de forma mais lenta, manifestando-se por meio de doenças ou seja, uma doença pode ser considerada acidente do trabalho. Estas doenças podem ser entendidas como sendo de dois tipos: doenças profissionais e doenças do trabalho. Observe as relações: doença-profissão e doença-trabalho. Estas relações mostram que a doença ocorre pelo exercício da atividade laboral. Portanto, para ser caracterizada como acidente do trabalho, a ocorrência de uma doença deve existir paralelamente a um nexo técnico epidemiológico entre o trabalho e agressão ao corpo ou saúde do trabalhador. 49UNIDADE 2 Em outras palavras, as atividades desenvolvidas em um certo ambiente laboral devem estar rela- cionadas a uma entidade mórbida. É o caso, por exemplo, de um trabalhador que é acometido da doença de cataratas devido ao trabalho com sol- da. Existe um nexo entre o seu trabalho e a enti- dade mórbida (cataratas). Como sabemos que existe este nexo? Conforme citamos, o Decreto Federal 3.048/99 estabelece uma lista relacionan- do trabalhos que contém os riscos que causam as doenças, quando materializados. Além das doenças e fatalidades ocorridas no ambiente laboral, pode existir o acidente de trajeto. Este é definido como aquele acidente ocorrido no percurso entre o local de trabalho e a residência do trabalhador, ou desta para o local de trabalho. O que é o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário? O NTEP, a partir do cruzamento das informações de código da Classificação Internacional de Doen- ças – CID-10 – e do código da Classificação Nacional de Atividade Econômica – CNAE – aponta a existência de uma relação entre a lesão ou agravo e a atividade desenvolvida pelo trabalhador. A indicação de NTEP está embasada em estudos científicos alinhados com os fundamentos da esta- tística e epidemiologia. Fonte: Brasil (2015, on-line). O profissional que pode determinar adequa- damente se a doença é do trabalho ou não é o médico do trabalho. Para ampliar nosso entendimento sobre o que é acidente do trabalho, é importante destacar que existem situações equiparadas ao acidente do tra- balho. Confira, no quadro a seguir, elaborado com base na Lei Federal 8.213/91 (BRASIL, 1991), as situações equiparadas a um acidente do trabalho. 50 Acidentes do Trabalho e Doenças Ocupacionais Quadro 1 - Situações e exemplos equiparados ao acidente do trabalho Situações equiparadas ao acidente do trabalho Situação Exemplo(s) Acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído direta- mente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação. Morte de trabalhador
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