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Maria Clara Cavalcante MIOCARDIOPATIAS Resumo direcionado Doenças no músculo cardíaco devido a agressões (defeitos genéticos, lesões ao miocárdio, infiltrações) Possui formas variadas: dilatada, hipertrófica, restritiva MIOCARDIOPATIA DILATADA É a + comum – cardiomiopatia primária mista – Dilatação e disfunção sistólica de um ou ambos os ventrículos (VE é + comum) – Valvas estruturalmente normais e SEM AUMENTO DOS ÁTRIOS. Essa dilatação do VE pode causar Insuf mitral secundária, pois a câmara dilatada dilatará também o anel mitral – mas a alteração não é na valva (está normal) Etiologias: genética, doença de chagas, alcóolica (é reversível se cessar o álcool), takotsubo (imita uma DAC, podendo ter clínica de IAM, com enzimas alteradas, mas com cateterismo normal) Clínica: Tem um período assintomático, deve ser tratada – quando apresenta sintomas, são de IC (dispneia, edemas) e de baixo débito (fadiga, astenia) – Pode ter arritmias (acompanhar de 6m/6m se há ou não). Situações: FA, TV sustentada – devem ser observadas pois tem maiores riscos de fenômenos tromboembólicos – precisam ser betabloqueados e, se estiverem em FA, anticoagulados - pacientes com miocardiopatia que desenvolvem arritmias, como a FA, tem maior risco de morte súbita Investigação: História clínica – Sinais e sintomas de ICC, histórico de alcoolismo, síncopes, arritmias, em quimioterapia devem ser acompanhados com eco de 3/3m (dependendo da dose, podem causar miocardiopatia), avaliar zona endêmica para barbeiro. Exame físico – Turgência jugular (inspeção)/ Ictus amplo, deslocado para esquerda e para baixo, edema, ascite, hepatomegalia (palpação)/ Taquicardia, B3, sopro de regurgitação mitral ou tricúspide, estertores pulmonares (mais congestos – diuréticos para evitar edema agudo de pulmão) (ausculta) Exames complementares: ECG deve ser o primeiro a ser pedido, seguido de ECO, raio-x. ECG – Sobrecarga de VE, amputação de onda R, BRE, prolongamento de PR, arritmias. RAIO-X - Derrame pleural, linhas b de Kerlley, hipertensão venosa pulmonar. ECO – Transesofágico com doppler (indispensável, indolor e de barato), aumento das cavidades cardíacas, baixa fração de ejeção (FE), regurgitação mitral e tricúspide (valvar), hipocinesia difusa – Aumento de VE, paredes finas. Tratamento: Tratar a etiologia – IECA ou BRA, BB, diuréticos (espironolactona reduz a mortalidade em IC e furosemida é boa para congestão). E se for assintomático? Usa drogas para reduzir a mortalidade da IC (IECA ou BRA + BB + espironolactona) – Se for necessário, marca-passo e cardiodesfibrilador. Transplante: casos de FE baixa (<45%) ou pacientes descompensados mesmo com os remédios ➔ MIOCARDIOPATIA DILATADA PERI-PARTO: Se desenvolve no último trimestre da gestação ou nos primeiros seis meses após o parto (em mulheres sem doença cardiovascular conhecida). Fatores de risco: raça negra, gestação gemelar, > 30 anos, hipertensão, multíparas, uso de cocaína Evolução: 50% voltam a função ventricular normal e 50% tem função deteriorada e evoluem para IC – Ao descobrir a miocardiopatia, trata a paciente e reavalia com 6m (normalmente há melhora da função) ➔ MIOCARDIOPATIA DILATADA ALCÓOLICA: Disfunção ventricular esquerda em alcoolista (dose de 90g de etanol/dia, no mínimo por 5 anos) – É diagnóstico de exclusão e tem bom prognóstico caso haja abstinência total de álcool Ex: 7 latas de cerveja, 1 garrafa de vinho, 200mL de destilado / dia – Para mulheres é metade da dose MIOCARDIOPATIA HIPERTRÓFICA Hipertrofia da parede do VE, sem doença cardíaca ou sistêmica que justifique – causa de morte súbita em jovens e atletas Tipos: Septal (90%), apical e médio ventricular Clínica: Sintomas relacionados ou não a obstrução da via de saída – de acordo com o grau dela, pode simular uma estenose aórtica valvar ou coronariopatia – Sintomas + comuns: Dispneia (90%), angina (75%), síncope (50%) – Diagnóstico diferencial: estenose aórtica, mas não tem sopro dela. A síncope + histórico de morte súbita familiar tem maior risco de morte súbita Investigação: Exame físico – Ictus impulsivo e deslocado para a esquerda/ B4, sopro sistólico na borda esternal esquerda e foco aórtico acessório, sem irradiação para a fúrcula (que é a principal característica do sopro da estenose aórtica) Exames complementares: ECG – Sobrecarga ventricular e atrial esquerda, ondas T gigantes e negativas nas precordiais, onda Q patológica em D2, D3, AVF, V4 e V5. ECO – exame de escolha em casos suspeitos e na investigação familiar assintomática, obstrução da saída do VE, função sistólica global e regional preservadas, alteração na valva mitral (insuficiência mitral), disfunção diastólica - Redução do VE, parede septal espessada Maria Clara Cavalcante MIOCARDIOPATIAS Tratamento: Assintomáticos não trata – Clínico: BB (1ª opção), diuréticos (se congestão), antiarrítmicos (se preciso). Cirúrgico: miomectomia septal para casos obstrutivos (+ graves) Prevenção de morte súbita: Cardiodesfibrilador implantável – Indicações: Sobreviventes de parada cardiorrespiratória com FV ou TV sustentada documentada, história familiar de morte súbita em menores de 50 anos, sincope inexplicada, espessura da parede 30mm, TV não sustentada com FC > 120 bpm MIOCARDIOPATIA RESTRITIVA É uma dilatação de átrios – Pacientes podem ter função sistólica preservada do VE, mas terão a dilatação dos átrios – 50% dos casos têm lesão biventricular, 40% predominam o VE e 10% o VD Achados: Alterações no relaxamento ventricular, redução da complacência, aumento da pressão de enchimento ventricular, elevação da pressão de átrios e venosa, dilatação dos átrios, congestão pulmonar e sistêmica Etiologias: Idiopática, doenças infiltrativas (amiloidose é a principal, sarcoidose), doenças de depósito (hemocromatose) Clínica: Semelhante aos outros: dispneia, hepatomegalia, edema, ascite, fadiga, palpitações... Exame físico – B3,B4, estertores pulmonares, turgência jugular, hepatoesplenomegalia, ascite, edema Exames complementares: ECG – Sobrecargas atriais (P aumentada), baixa voltagem, distúrbios de condução, alteração na repolarização ventricular. ECO – exame de escolha - Disfunção sistólica com padrão restritivo, aumento de cavidades atriais, função sistólica normal ou levemente deprimida - aumento biatrial severo e aumento simétrico das paredes do VE (diferente da hipertrófica). RAIO-X – sem cardiomegalia, com derrame (se congestão). RM – Diagnóstico diferencial. Biópsia - Investigação Tratamento: Tratar a causa – relacionado a etiologia – descobre e trata ELA! Mas o que pode ser feito? Diuréticos, vasodilatadores e transplante cardíaco (se necessário) MIOCARDITES Inflamação do músculo cardíaco, com infiltrado inflamatório do miocárdio + necrose ou degeneração dos miócitos – causa de morte súbita em jovens Etiologia: infecciosa, tóxica e por reações imunológicas – Vírus (Coxsackievírus, echovirus, adenovírus, citomegalovírus, Parvorírus b19, hepatite C, HIV). Protozoários (T. gondii, T. cruzi). Bactérias (qualquer uma). Tóxica (drogas, metais pesados) Fases: Aguda (ação direta do fator causal), subaguda (desenvolve infiltrado linfocitário e efeitos autoimune) e tardia (fibrose) Clínica: Período assintomático – Sintomas: de ICC – Alguns podem relatar infecções recentes + febre, astralgia e adinamia – Podem desenvolver arritmias e sofrer morte súbita (usar BB (carvedilol) para prevenir, pela FE reduzida) Exames complementares: ECG, enzimas – CKMB e troponinas normais (diagnóstico diferencial de infarto), sorologias, marcadores de inflamação (VHS e PCR altos), biopsia miocárdica DOENÇA DE CHAGAS Agente etiológico: T. cruzi – é a principal causa de cardiomiopatia não isquêmica na América Latina. Principal vetor: Triatoma infestans (barbeiro) – Transmissão por via oral e através das fezes do besouro Fases: AGUDA – Normalmente é assintomática ou tem sintomas leves e inespecíficos,durando 4-8 semanas – febre, mialgia, linfonodomegalia. Em casos raros ocorre miocardite, com sintomas de IC, dor precordial, arritmias, morte súbita. E o diagnóstico? Testes sorológicos (IgM), visualização direta do parasite. E o tratamento? Tratar a IC e antiparasitários (benzonidazol e nifurtmox) CRÔNICA – Forma indeterminada – Evidência e/ou sorologia para T. cruzi, mas sem sintomas ou sinais físicos da doença. ECG, raio-X e ECO podem vir normais (o eco normalmente apresenta aumento do VE), sem acometimento do tubo digestório. ECG normal indica mortalidade igual aos pacientes sem infecção. O paciente pode manifestar alterações tromboembólicas (TEC e AVE). O acompanhamento deve ser anual, solicitando exames (pode usar BB para evitar arritmias). Achados: ECG – BRD, BAV, BDAS, anormalidades da onda T e Q patológica; HOLTER – Bradiarritmias, ectopias ventriculares, pausas sinusais, TV; RAIO-X – Cardiomegalia marcante, congestão discreta; ECO – Preservação ou não de funções sistólica e diastólica, distúrbios de contratilidade, disfunções valvares, geometria ventricular (aneurismas) Tratamento: Tratar a IC e profilaxia para eventos tromboembólicos (AAS ou varfarina, mas não pode usar quando há doença valvar associada). Tratamento das arritmias: BB, amiodarona quando quer melhorar a FC ou deixar em ritmo sinusal, marca-passo em BAV avançado, CDI para taquicardia ventricular sustentada ou morte súbita abortada REFERÊNCIAS: BRAUNWALD, E. Tratado de Doenças Cardiovasculares. 9 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. p.1599 a 1666. CONSOLIM- COLOMBO et. Al. Tratado de Cardiologia SOCESP. 4 ed. Barueri. 2019
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