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1 Módulo II Hanna Briza Insuficiência Cardíaca Descompensada INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) descompensada é um conjunto de sinais ou sintomas de agravamento de uma IC antiga ou nova. Cerca de 70% dos pacientes são internados por piora da IC crônica 15% a 20% por um quadro inicial de IC, Enquanto outros são admitidos por IC avançada ou em fase terminal refratária ao tratamento. A IC agudamente descompensada é uma condição ameaçadora à vida que, portanto, necessita de diagnóstico e tratamento imediatos e assertivos. ETIOLOGIAS A definição da etiologia é fundamental para o manejo adequado dos pacientes, observando a etiologia da IC e o acarretou na descompensação. As principais causas para IC descompensada são as seguintes: Fatores relacionados ao tratamento do paciente: Não aderência ou falta de acesso ao tratamento farmacológico, abuso de sal e água, consumo de drogas (lícitas ou ilícitas); Doença da artéria coronária: Síndrome Coronariana Aguda (SCA) incluindo infarto/isquemia do miocárdio, ruptura do septo ventricular; Miocardite; Síndromes valvares agudas: Regurgitação mitral/aórtica pós endocardite, ruptura de cordas de válvula mitral degenerativa, ruptura do musculo papilar isquêmico, dissecção da aorta, valva aórtica/mitral mecânica trombosada, ruptura ou perfuração de um folheto de prótese aórtica/mitral; Doença valvular progressiva: Estenose da valva aórtica/mitral e regurgitação aórtica/mitral graves; Estados cardiomiopáticos: Cardiomiopatia hipertrófica ou dilatada de início recente, mediada por taquicardia ou por estresse (Takotsubo); Hipertensão descompensada: estenose da artéria renal bilateral; Outros: anemia, descompensação de doença pulmonar obstrutiva crônica ou diabetes, cirurgia e complicações perioperatórias, disfunção tireoidiana, distúrbios hidroeletrolíticos, gravidez, lesão cerebrovascular, sepse. Frequentemente, a descompensação da IC crônica ocorre por conta de infecção, distúrbios de ritmo, hipertensão descompensada, não adesão medicamentosa e dieta. FISIOPATOLOGIA A ICAD é geralmente precipitada por um nova perturbação que coloca uma carga hemodinâmica em um ventrículo já acometido. Tais precipitantes podem incluir: Taquiarritmias Anemia aguda Infecção sistêmica. A causa mais comum, no entanto, de descompensação cardíaca reversível é o não seguimento de regime de dieta ou terapêutico, principalmente a falta de complacência com a restrição de sal e descontinuação ou uso irregular dos medicamentos. Até mesmo um pequeno aumento na fração de sódio ingerida, uma mudança na ingestão de líquidos, ou falha intermitente de tomar um medicamento pode provocar uma exacerbação de insuficiência cardíaca. O uso de drogas tais como agentes anti-inflamatórios não esteroidais podem atenuar a diurese e os efeitos vasodilatadores dos antagonistas da renina-angiotensina- aldosterona, resultando assim em ICAD. 2 Módulo II Hanna Briza MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Na maioria dos pacientes com IC crônica, a sintomatologia piora de maneira gradual ao longo de dias ou semanas. Em se tratando de uma IC nova, na minoria dos casos, a descompensação é a primeira apresentação da IC. Cerca de 50% dos pacientes com IC no hospital tem fração de ejeção (FE) preservada (FE do ventrículo esquerdo > 50%) e o restante tem FE reduzida (≤40%) ou intermediária (41 a 50%). De modo geral, os pacientes costumam apresentar combinações de sintomas como: Dispneia Fadiga Sobrecarga de volume Hipotensão Disfunção de órgãos-alvo Ortopneia Dispneia paroxística noturna. Há seis perfis hemodinâmicos e clínicos de pacientes, estabelecidos pela Sociedade Europeia de Cardiologia, que podem coexistir num mesmo paciente: LEVE A MODERADA DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA Observada em pacientes com leves a moderados sinais de descompensação, não apresentando choque cardiogênico ou crise hipertensiva. Pode haver edema pulmonar. É mais comum ocorrer como descompensação da IC crônica. Os sintomas usuais são: Dispneia progressiva Sintomas de congestão periférica/abdominal Noctúria Sintomas neurológicos Além disso, os sinais físicos são, geralmente, variáveis de acordo com a gravidade Os pacientes apresentam sinais de congestão, como pressão venosa jugular alta, sinais de derrame pleural e edema de MMII. Ao exame cardíaco: Pacientes com disfunção sistólica avançada exibem terceiro sinal cardíaco (B3) e batida apical lateralmente deslocada. Sopro de regurgitação mitral é audível quando há hipertrofia do ventrículo esquerdo Sopro de regurgitação tricúspide, se o ventrículo direito estiver sobrecarregado. A radiografia de tórax Pode evidenciar cardiomegalia Além de derrame pleural e/ou edema intersticial pulmonar. SÍNDROME HIPERTENSIVA DE DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA IC Corresponde a 10% dos casos É comum em pacientes com hipertensão descompensada. Caracterizada pelo aparecimento abrupto de sinais/sintomas de IC e por uma PA sistólica > 140 mmHg. Praticamente todos os pacientes tem fração de ejeção preservada. DESCOMPENSAÇÃO AGUDA DA IC COM EDEMA PULMONAR GRAVE Cerca de 15% dos pacientes apresentam edema pulmonar, porém, desse número, apenas cerca de 3% dos pacientes tem edema pulmonar grave O surgimento do edema geralmente está associado à PA elevada. Este quadro se caracteriza por: Sensação súbita e grave de sufocamento Taquidispneia O paciente não consegue falar frases completas. Há respiração ruidosa sudorese profusa e a pele geralmente é fria, pálida e cianótica. 3 Módulo II Hanna Briza Ao exame: Geralmente, a saturação de oxigênio é < 90% a ausculta pulmonar evidencia roncos, sibilos e creptos nas bases que se estendem para os ápices a medida em que o edema pulmonar se agrava. À ausculta cardíaca, pode haver B3 e B4, além de sopros de regurgitação mitral/aórtica e de comunicação interventricular isquêmica. A radiografia de tórax: Pode mostrar cardiomegalia Redistribuição de sangue para zona superior Edema intersticial e alveolar. CHOQUE CARDIOGÊNICO A pressão arterial sistólica é geralmente < 90 mmHg e os sinais e sintomas característicos são: Fadiga Alteração no estado mental Sinais de hipoperfusão (anormalidade de enzimas hepáticas ou azotemia pré-renal, ou seja, diminuição de ureia, creatinina e outros compostos não nitrogenados não protéicos no sangue causado pela diminuição do fluxo sanguineo renal). O paciente pode ter taquipneia, taquicardia e extremidades frias/cianóticas com comprometimento da perfusão. Pode haver pressão de pulso diminuída Também pode apresentar pulsus alternans (pulso forte/normal alternando com pulso fraco durante ritmo sinusal normal) sinal raro e indicativo de disfunção grave do ventrículo esquerdo. Alguns pacientes podem apresentar choque oculto. Para identificá-lo, sugere-se a verificação do nível de lactato em pacientes com fraqueza acentuada e/ou perfusão incerta. Vale ressaltar, que o lactato no choque estará elevado, por isso a importância de investigar através do seu nível. Após excluir como causa do choque uma síndrome coronariana aguda, é importante fazer a ecocardiografia para excluir tamponamento cardíaco e caracterizar a função ventricular e integridade valvar. IC DE ALTO DÉBITO É incomum e geralmente se caracteriza por: Extremidades quentes Congestão pulmonar Taquicardia Pressão de pulso ampla. Condições subjacentes a esse quadro são: anemia, tireotoxicose, insuficiência hepática avançada e condições esqueléticas. A insuficiência cardíaca de alto débito é associada principalmente com resistência vascular sistêmica reduzida. Isso ocorredevido ao shunt artério-venoso ou vasodilatação periférica. Ambos os cenários podem levar a uma queda da pressão arterial sistêmica, uma característica da insuficiência cardíaca de baixo débito. Isto pode conduzir à ativação neuronal simpática, um aumento compensatório no débito cardíaco e a ativação neuro-hormonal (incluindo o sistema renina-angiotensina-aldosterona e vasopressina). Este processo, por sua vez, pode causar retenção de sal e água e causar uma descompensação da insuficiência cardíaca. Assim, retenção de sal e água ocorre tanto na insuficiência cardíaca de saída de baixo débito como em alto débito devido a uma resposta neuro- hormonal semelhante à hipotensão arterial. Na primeira, é devido ao baixo débito cardíaco e, no segundo, devido à resistência vascular sistêmica reduzida. IC DIREITA Deve-se excluir embolia pulmonar como causa aguda nesses casos. A IC direita ocorre comumente em: Pacientes com disfunção ventricular direita e doença pulmonar crônica Insuficiência tricúspide isolada grave Doença pulmonar obstrutiva crônica Outras doenças crônicas. DIAGNÓSTICO AVALIAÇÃO INICIAL DA INSTABILIDADE CARDIOPULMONAR Essa avaliação deve incluir: Gravidade da dispneia Estado hemodinâmico Frequência e o ritmo cardíacos. Sintomas de SCA devem ser avaliados com eletrocardiograma (ECG). PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA E/OU CHOQUE Os sinais de dispneia e/ou sinais de choque precisam de avaliação e tratamento imediatos. Lactato auto: lactado é produzido a partir da glicose, quando o O2 não está disponível, ou seja, uma glicólise anaeróbica. Indica hipopefusão tecidual 4 Módulo II Hanna Briza PACIENTES COM SINDROME CORONARIANA AGUDA A identificação da SCA em pacientes com suspeita deve ser feita com: ECG Teste de troponina (vale ressaltar que o aumento da troponina isoladamente não é suficiente para diagnosticar SCA, uma vez que pacientes com descompensação da IC comumente apresentam esse resultado de exame sem SCA). Além disso, em casos apropriados, deve-se encaminhar esses pacientes para cateterismo cardíaco com angiografia coronariana Avaliação hemodinâmica. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA O diagnóstico de descompensação da IC deve ser feito a partir da anamnese e do exame físico juntamente com exames complementares, como: ECG Radiografia de tórax Biomarcadores como peptídeo natriurético cerebral (BNP) e N-terminal pro-BNP (NT- pro- BNP) Ecocardiografia com Doppler. Na radiografia de tórax Os achados podem variar desde redistribuição da trama vascular pulmonar até cardiomegalia e extensas marcas intersticiais bilateralmente. A presença de derrame pleural é frequente em pacientes com descompensação da IC crônica. Biomarcadores A maioria dos pacientes com dispneia secundária à IC tem valores de BNP séricos acima de 400 pg/mL. Resultados de BNP < 100 pg/mL tornam improvável o diagnóstico de IC descompensada. No entanto, é válido ressaltar que comumente não é necessária a realização destes ou outros exames laboratoriais e, a espera desses resultados não devem retardar o tratamento. A ecocardiografia É usada em pacientes com IC recente e para aqueles com histórico prévio de IC em que há suspeita de alteração na função do coração. A Ultrassonografia pulmonar à beira do leito É uma outra opção de exame de imagem destinada à detecção de edema pulmonar em alguns serviços A presença de linhas b nesse exame pode ajudar no diagnóstico de descompensação da ic. Pacientes com IC crônica descompensada geralmente apresentam edema e dispneia aos esforços. Em casos em que o diagnóstico não é claro dessa forma é que se indica o uso de testes de biomarcadores, além do uso de cateterismo de Swan-Ganz. Este último também é útil em casos de pacientes com sintomatologia persistente a despeito do tratamento. A abordagem diagnóstica mais simples divide os pacientes com suspeita de descompensação da IC em 3 categorias: ALTA PROBABILIDADE Pacientes com história prévia de IC: paciente com histórico prévio de IC e evidência de retenção de líquidos tem alta probabilidade diagnóstica; Pacientes sem história prévia de IC: paciente sem histórico prévio de IC com ortopneia de início recente, pressão jugular elevada e achados típicos de edema pulmonar, sem febre, tem alta probabilidade de diagnóstica de descompensação da IC. PROBABILIDADE INTERMEDIÁRIA: Pacientes com dispneia sem histórico de IC, com doença cardíaca conhecida, fatores de risco (doença coronariana, valvopatia, HAS ou DM) ou, ainda, aqueles que apresentam anormalidades ao ECG, sem evidências de edema pulmonar, são classificados como probabilidade intermediária. Nesses casos, pode ser útil solicitar biomarcadores e ecocardiografia. BAIXA PROBABILIDADE Classifica-se como baixa probabilidade aqueles pacientes com dispneia sem evidências de doença cardíaca e apresentam outra explicação para sua sintomatologia, como doença pulmonar. CATEGORIAS CLÍNICAS As categorias clínicas do paciente com insuficiência cardíaca descompensada incluem os seguintes perfis de acordo com a perfusão e nível de congestão: Quente e úmido: grupo mais comum, os pacientes apresentam Pressão Arterial Sistólica (PAS) normal ou acentuadamente elevada; Frio e úmido: inclui a maioria dos pacientes com choque cardiogênico e síndrome de baixo debito cardíaco. Tem maior risco de morte e necessidade transplante cardíaco. 5 Módulo II Hanna Briza DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS É importante excluir outras doenças em casos de pacientes com súbita dispneia associada, ou não, a desconforto torácico ou histórico de cardiopatia. Nesse contexto, outros possíveis diagnósticos diferenciais são: embolia pulmonar infecções pulmonares exacerbação de asma/DPOC edema pulmonar não cardiogênico. Além disso, a maioria dos diagnósticos diferenciais de IC descompensada também pode ser fator precipitante do próprio quadro clínico. TRATAMENTO A abordagem do paciente com IC descompensada deve levar em consideração o grau e tipo da descompensação do paciente, bem como sua PA inicial. Para isso, é possível utilizar a classificação abaixo (imagem) como forma de direcionar o manejo inicial para o quadro clínico apresentado. É recomendada a hospitalização de pacientes com IC aguda descompensada em casos de evidências de descompensação: Hipotensão Piora da função renal ou alterações do estado mental Dispneia em repouso (ou taquipneia em repouso ou SatO2 < 90%) Arritmias com instabilidade hemodinâmica ou SCA. A monitorização de pacientes hospitalizados com IC descompensada: Dados vitais diários do paciente (incluindo avaliação da PA em ortostase) Monitorização diária de peso (medida mais eficaz para a documentação da diurese efetiva do paciente) Ingesta e liberação hídrica Sinais e sintomas de congestão Exames de ureia, creatinina, eletrólitos SaTO2 até estabilização. Testes de rotina devem incluir: Glicemia Troponina hemograma e RNI (caso o paciente esteja em uso de Varfarina). Frequentemente, há indicação também de: análise da função hepática sumário de urina gasometria arterial. Para guiar a terapia e/ou classificar a base cardíaca da dispneia, pode-se solicitar valores de BNP ou NT- pro-BNP. Além disso, por pelo menos 24 a 48 horas, deve-se manter a monitorização por telemetria. OBJETIVOS DO TRATAMENTO Os objetivos do tratamento da IC crônica descompensada devem ser: Melhora dos sintomas Restauração da oxigenação normal, Identificação da etiologia e de fatores precipitantes da descompensação, Identificação de pacientes que podem beneficiar-se de uma terapia de revascularização ou ressincronização, Identificarrisco de tromboembolismo pulmonar e necessidade de uso de terapia anticoagulante além de orientar os pacientes sobre a ic. Levando em consideração a classificação apresentada acima, é possível propor algumas abordagens terapêuticas com o intuito de viabilizar condutas mais assertivas, uma vez que a IC descompensada é uma situação ameaçadora à vida. 6 Módulo II Hanna Briza DISFUNÇÃO SISTÓLICA X DIASTÓLICA As terapias iniciais da descompensação são semelhantes na IC sistólica e diastólica e incluem: Avaliação da diurese Oxigênio suplementar Ventilação assistida Terapia vasodilatadora em pacientes selecionados. No entanto, em pacientes com disfunção sistólica (fração de ejeção < 40% do VE), não se deve utilizar IECA ou betabloqueadores. Caso sejam usados, o mesmo deve ser feito com cautela. Por outro lado, pacientes com disfunção diastólica precisam de controle da taquicardia e hipertensão e nestes pacientes com função sistólica preservada os agentes inotrópicos são contraindicados. GESTÃO DA ARRITMIA Arritmias podem aparecer em associação com o edema pulmonar. Em casos de fibrilação atrial (FA), arritmia comum, geralmente é difícil determinar se a mesma é causa ou resultado da descompensação. Em alguns pacientes, o tratamento do edema pulmonar leva a diminuição da frequência ventricular ou reversão espontânea da arritmia. Se a FA persistir, o tratamento deve ser o mesmo de FA em outras situações. Inicialmente, prefere-se utilizar uma estratégia de controle da frequência cardíaca e, em seguida, é possível administrar formulações intravenosas de curta duração de betabloqueadores ou bloqueadores de canais de cálcio não dihidropiridínicos. Vale ressaltar que, a digoxina pode ser útil nesse cenário, bem como a amiodarona. Se a FA estiver associada à hipotensão ou choque cardiogênico, se for a causa do edema pulmonar ou caso esteja associada à isquemia, deve-se considerar a restauração do ritmo sinusal. Em casos de taquicardia ventricular é necessária a cardioversão elétrica ou desfibrilação imediata por ser uma causa de alta letalidade em pacientes com IC descompensada. Caso a arritmia recorra após essa reversão, deve-se usar antiarrítmicos como a amiodarona. Se a arritmia existente for fibrilação ventricular, é indicada reanimação imediata. HIPERTENSÃO RENOVASCULAR Em alguns pacientes com hipertensão renovascular, ocorre descompensação recorrente da IC e/ou edema pulmonar súbito. Chama-se síndrome de Pickering a junção de estenose da artéria renal bilateral com edema pulmonar. Pacientes com essa síndrome em associação com IC descompensada devem ser tratados a partir de controle pressórico e diurese. Em casos de pacientes euvolêmicos ou desidratados, deve-se evitar a diurese e é preferível o uso de nitratos para redução da pré-carga. PROGNÓSTICO Uma estratégia para determinar o prognóstico desses pacientes é: creatinina > 1,5 mg/dL PAS < 115 mmHg Os pacientes com ambos os achados apresentam mortalidade > 60%. Fatores como perda de peso, sinais clínicos de melhora da congestão e aumento da albumina ou hemoglobina são provavelmente reflexo do grau de diurese do paciente. Este grau de diurese é o principal fator identificado como preditor de resultados o positivos a curto prazo em pacientes com IC descompensada. ALTA HOSPITALAR Critérios para alta hospitalar incluem fatores desencadeantes da descompensação, obtenção de volume do paciente próximo ao ideal e terapia farmacológica, e transição para acompanhamento ambulatorial pós-alta. Assim, o planejamento da alta deve incluir: Detalhes de medicamentos (focando especialmente na adesão e ajuste de dose dos IECA/BRA e betabloqueador) Restrição de sódio Acompanhamento precoce (dentro de uma semana após a alta) Observação 7 Módulo II Hanna Briza Monitorização do peso corporal, eletrólitos, ureia e creatinina séricas, além de encaminhamento para um acompanhamento formal da IC. Os diuréticos endovenosos usados no intra- hospitalar, visando melhorar o tratamento diurético ambulatorial, devem ser modificados para diuréticos orais dois ou mais dias antes da alta-hospitalar. Além disso, as vezes é necessário o reajuste da posologia desses medicamentos a nível ambulatorial uma vez que no ambiente doméstico os pacientes têm uma ingesta de sal e líquidos menos regulada. EDEMA AGUDO DE PULMÃO CONCEITO O extremo da congestão pulmonar é o EAP. Pode ser causado por: Um fator precipitante de descompensação em um paciente com IC sistólica crônica ou Por uma doença aguda de instalação recente É uma emergência médica causada pelo extravasamento de água dos vasos sanguíneos para o tecido pulmonar, tornando a respiração difícil. QUADRO CLÍNICO Há: Taquidispneia e ortopneia Secreção rósea e fluida (proveniente do edema alveolar abundante) Estertoração crepitante e subcrepitante ocupando mais de metade dos campos pulmonares Sibilos e roncos difusos (asma cardíaca) Diaforese Pulsos finos Taquicardia. A pressão arterial pode estar elevada, normal ou baixa. DIAGNÓSTICO É clínico e sua gravidade depende da quantidade de líquido acumulado nos pulmões. Exames complementares podem ajudar. ECG: sobrecarga ventricular esquerda, sobrecarga de átrio esquerdo, isquemia ou IAM, arritmias. RX de tórax: silhueta cardíaca aumentada, presença de linhas B de Kerley (são linhas paralelas ao diafragma, visualizadas nas regiões laterais dos hemitórax inferiores, na incidência PA. Representam o ingurgitamento linfático, relacionado ao edema pulmonar). Mostra, ainda, dilatação vascular nos ápices e infiltrado bilateral em “asa de borboleta” ou “de morcego”. O sinal mais precoce de congestão venocapilar pulmonar é a redistribuição do fluxo sanguíneo para os ápices do pulmão (cefalização da trama vascular). TRATAMENTO Deve ser baseada em 3 princípios: 1. Identificar e remover as causas precipitantes, 2. Medidas gerais (elevar a cabeceira) 3. Medidas de suporte (ventilação). EAP HIPERTENSIVO (PA ≥ 90): Tem o melhor prognóstico. Paciente deve ser colocado no OVM – oxigênio, veia, monitor e ter um ECG realizado. São utilizadas drogas de ação rápida de arteriolodilatação e venodilatação – nitroglicerina ou captopril ou nitroprussiato de sódio. Deve, ainda, fazer uso de morfina e furosemida. Não está indicado inotrópico no EAP hipertensivo! EAP NÃO HIPERTENSIVO (PA < 90): Após colocar o paciente no “OVM”, o próximo passo é afastar infarto agudo do miocárdio, através de um ECG. O tratamento se baseia na redução da pré e pós- carga, no suporte inotrópico e corrigir a causa básica (angioplastia primária, trombolítico). Ex.: dobutamina, furosemida. Se não melhorar, considerar intubação orotraqueal, ventilação mecânica e verificar e tratar rapidamente a causa. CHOQUE CARDIOGÊNICO CONCEITO Há perda da capacidade de bombeamento do sangue devido à inadequada perfusão tecidual causada por grave disfunção cardíaca. Nessa síndrome, ocorre redução do débito cardíaco, na presença de volume intravascular adequado, com consequente hipóxia tecidual. Associada aos sinais clínicos de má perfusão tecidual, como extremidades frias, cianose periférica, alteração do estado de consciência e presença de oligúria, a hipotensão arterial sistêmica é considerada essencial para o diagnóstico da síndrome. 8 Módulo II Hanna Briza DIAGNÓSTICO Monitorização hemodinâmica: permite confirmar o diagnóstico de choque cardiogênico, avaliar a evolução resultante da terapêutica empregada e a severidade do quadro hemodinâmico. Exames complementares: Ecocardiograma: útil para a confirmação do diagnóstico do choque cardiogênicoe exclusão de outras causas. ECG: deve ser realizado imediatamente. Permite o diagnóstico de IAM, por exemplo. RX de tórax: pode revelar congestão pulmonar, alteração da área cardíaca, etc. Dosagem sérica de enzimas cardíacas: permite confirmação diagnóstica da necrose miocárdica. TRATAMENTO Monitorização contínua não invasiva: PA, FC, FR, oximetria de pulso, traçado de ECG. Assim que possível, recomenda-se proceder à monitorização invasiva de PA. ECG e ecocardiograma devem ser realizados imediatamente. Laboratório para definição de disfunções orgânicas (lactato, gasometrias, ureia, creatinina, TGO, TGP). Máscara de oxigênio, VNI (com cuidado, monitorizando PA) ou intubação orotraqueal, conforme o caso. Administração cuidadosa de cristaloide, a menos que haja franco edema pulmonar. Iniciar inotrópico em infusão contínua na presença de hipotensão e hipoperfusão periférica, a despeito de volemia adequada: dobutamina é o agente de escolha na maioria dos pacientes, com monitorização de perto, pelo risco de exacerbar a hipotensão e induzir taquiarritmias. Pacientes com complicação mecânica necessitam de intervenção cirúrgica e/ou hemodinâmica. REFERENCIAS Plataforma UpToDate Livro: Medicina de Emergência: abordagem prática. Capítulo 39: Insuficiência cardíaca descompensada. 13ª edição. Manole, 2019. Artigo: Infecção em Pacientes com Insuficiência Cardíaca Descompensada: Mortalidade Hospitalar e Evolução. Cardoso et al Sociedade Brasileira de Cardiologia. 2018 9 Módulo II Hanna Briza 10 Módulo II Hanna Briza ANÁLISE DO PROBLEMA PROBLEMA 02 – DESCOMPASSO A.F.S., procurou atendimento médico na UPA com queixa de dispnéia intensa. Durante avaliação informou tosse com secreção rosada e anasarca. Referiu história pregressa de infecção urinária há 1 semana tratada com antibioticoterapia, porém fez uso, inicialmente, apenas de Diclofenado para alívio da disúria, por 5 dias, quando percebeu quadro de edema e dispneia aos médios esforços. Relatou uso irregular das medicações para o coração (captopril, espironolactona, carvedilol, furosemida), pois não conseguiu renovar receita com o médico da UBS. Ao exame: mau estado geral, agitado, anasarca, extremidades frias, perfusão lenta, FC 120bpm, FR 38irpm, SatO2 84% em AA, PA 80/40mmHg. À ausculta cardíaca ritmo de galope, com sopro sistólico de regurgitação; à ausculta respiratória, estertores difusos. Após 1 hora de estabilização e uso de medicações endovenosas prescritas, evoluiu com melhora da hemodinâmica e do padrão respiratório. Mantido sob vigilância rigorosa e solicitado vaga para UTI. Dispneia intensa: congestão pulmonar > IC esquerda → aumento da pressão de enchimento do VE → diminui a passagem de sangue do AE para o VE → aumenta a pressão no AE → dificulta o retorno do sangue da circulação pulmonar → aumento da pressão hidrostática → extravasamento de líquido para o interstício pulmonar → Edema Agudo Pulmonar: extravasamento de água dos vasos sanguíneos para o tecido pulmonar, dificultando a respiração. Tosse com secreção rosada: proveniente do edema alveolar abundante (líquido nos pulmões) Anasarca: edema generalizado --> gravitacional Infecção Urinária: fator desencadeante Diclofenaco: AINES --> alto potencial de retenção de sódio e água, além de aumentar a resistência vascular periférica e diminuir a resposta a diuréticos, pode aumentar o risco de exacerbação da insuficiência cardíaca Uso irregular das medicações para o coração (captopril, espironolactona, carvedilol, furosemida): fator de descompensação da IC --> má adesão ao tratamento. Choque cardiogênico baixo débito cardíaco perda da capacidade de bombeamento do sangue devido à inadequada perfusão tecidual causada por grave disfunção cardíaca. Leva: Perfusão lenta(hipoperfusão): extremidades frias MEG PA 80/40mmHg (hipotensão) SatO2 84% em AA (hipoxemia) FC 120bpm, FR 38irpm: taquidispneia (respiração rápida e difícil) Ausculta cardíaca ritmo de galope: PA-TA-TA B3 patológica e sopro sistólico de regurgitação: insuficiência mitral Ausculta respiratória: estertores difusos grande quantidade de secreção alveolar Estertores difusos: estertoração crepitante e subcrepitante ocupando mais de metade dos campos pulmonares Perfil hemodinâmico: Perfil C (frio e úmido): paciente com baixo débito e com congestão pulmonar. Conduta: Objetivo do tratamento: melhora dos sintomas, restauração da oxigenação normal, identificação da etiologia e de fatores precipitantes da descompensação. EAP NÃO HIPERTENSIVO (PA < 90): após colocar o paciente na “VM”, o próximo passo é afastar infarto agudo do miocárdio, através de um ECG. O tratamento se baseia na redução da pré e pós-carga, no suporte inotrópico e corrigir a causa básica (angioplastia primária, trombolítico). Ex.: dobutamina, furosemida. Se não melhorar, considerar intubação orotraqueal, ventilação mecânica e verificar e tratar rapidamente a causa. Monitorização contínua não invasiva: PA, FC, FR, oximetria de pulso, traçado de ECG. Assim que possível, recomenda-se proceder à monitorização invasiva de PA. CHOQUE CARDIOGÊNICO: ECG e ecocardiograma devem ser realizados imediatamente. Laboratório para definição de disfunções orgânicas (lactato, gasometrias, ureia, creatinina, TGO, TGP). Máscara de oxigênio, VNI (com cuidado, monitorizando PA) ou intubação orotraqueal, conforme o caso. Administração cuidadosa de cristaloide, a menos que haja franco edema pulmonar. Iniciar inotrópico (aumenta síntese de cálcio, aumentando a ligação entre actina e miosina e aumentando a contração) em infusão contínua pois o paciente está com hipotensão e hipoperfusão periférica, a despeito de volemia adequada: dobutamina(agente de escolha), com monitorização de perto, pelo risco de exacerbar a hipotensão e induzir taquiarritmias. Pacientes com complicação mecânica necessitam de intervenção cirúrgica e/ou hemodinâmica.
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