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Faculdade Esta´cio do Recife CA´LCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL III Prof. Se´rgio Barreto C O N C E I T O S B A´ S I C O S D E E Q U A C¸ O˜ E S D I F E R E N C I A I S 1 Introduc¸a˜o Considere a func¸a˜o f : R → R definida por f(x) = ex2 . Como foi visto no curso de Ca´lculo Diferencial e Integral I, a derivada de f e´ dada por f ′(x) = ex 2 · 2x⇐⇒ df dx = 2x · f(x)⇐⇒ dy dx = 2xy O nosso objeto de estudo na˜o e´ encontrar as derivadas de func¸o˜es de uma ou mais varia´veis reais. O que queremos e´ dada uma equac¸a˜o da forma dy dx = 2xy, chamada de equac¸a˜o diferencial, encontrar uma func¸a˜o y = f(x) que a satisfac¸a. Em matema´tica, uma equac¸a˜o diferencial e´ uma equac¸a˜o cuja inco´gnita e´ uma func¸a˜o que aparece na equac¸a˜o sob a forma das respectivas derivadas. Dada uma varia´vel x, func¸a˜o de uma varia´vel y, a equac¸a˜o diferencial envolve, x, y, derivadas de y e eventualmente tambe´m derivadas de x. Equac¸o˜es diferenciais teˆm propriedades intrinsecamente interessantes como: • soluc¸a˜o pode existir ou na˜o; • caso exista, a soluc¸a˜o e´ u´nica ou na˜o. As equac¸o˜es diferenciais sa˜o usadas para construir modelos matema´ticos de fenoˆmenos f´ısicos tais como na dinaˆmica de fluidos e em mecaˆnica celeste. Deste modo, o estudo de equac¸o˜es diferenciais e´ um campo extenso na matema´tica pura e na matema´tica aplicada. As equac¸o˜es diferenciais teˆm inu´meras aplicac¸o˜es pra´ticas em medicina, engenharia, qu´ımica, biologia e outras diversas a´reas do conhecimento. As soluc¸o˜es destas equac¸o˜es sa˜o usadas, por exemplo, para projetar pontes, automo´veis, avio˜es e circuitos ele´tricos. 1 Equac¸o˜es diferenciais sa˜o extremamente importantes para as cieˆncias, pois nos informam como a variac¸a˜o de uma grandeza afeta outras grandezas relacionadas. A lei mais importante de F´ısica Cla´ssica, a segunda lei de Newton ~F = m~a e´ na verdade uma equac¸a˜o diferencial de segunda ordem −→ F (~r, t) = m d2~r dt2 Equac¸o˜es diferenciais fazem parte de nosso dia a dia, mesmo que na˜o nos demos conta disto. No entanto, as equac¸o˜es diferenciais sa˜o mais dif´ıceis de resolver do que as equac¸o˜es alge´bricas comuns. A` excec¸a˜o das equac¸o˜es separa´veis, a resoluc¸a˜o de cada tipo diferente de equac¸a˜o sem que se conhec¸a a te´cnica e´ uma obra home´rica. Por isso, cada avanc¸o no campo das equac¸o˜es diferenciais em geral e´ creditado a um matema´tico diferente. 2 Equac¸a˜o Diferencial Definic¸a˜o 2.1. Uma equac¸a˜o que envolve em seus termos uma func¸a˜o, chamada de func¸a˜o inco´gnita, e suas derivadas ou diferenciais e´ chamada de equac¸a˜o diferencial. Sa˜o exemplos de equac¸o˜es diferenciais, (y − x) dx+ 4xdy = 0 (1) d2y dx2 − 2dy dx + 6y = 0 (2) ∂z ∂y − ∂z ∂x = x2 − 2xy (3) ∂2u ∂x2 = ∂2u ∂t2 − 2∂x ∂t (4) Se a func¸a˜o inco´gnita for uma func¸a˜o de uma varia´vel real, enta˜o a equac¸a˜o diferencial e´ chamada de equac¸a˜o diferencial ordina´ria (E.D.O.). Se a func¸a˜o inco´gnita for uma func¸a˜o de duas ou mais varia´veis reais, enta˜o a equac¸a˜o diferencial e´ chamada de equac¸a˜o diferencial parcial (E.D.P.). No nosso curso de Ca´lculo Diferencial e Integral III estudaremos as equac¸o˜es diferenciais or- dina´rias. Alguns dos conceitos ba´sicos valem tanto para equac¸o˜es diferenciais ordina´rias quanto para as equac¸o˜es diferenciais parciais. 2 Voltemos as equac¸o˜es apresentadas logo acima. Na equac¸a˜o (1) aparecem apenas a derivada de primeira ordem da func¸a˜o y = f(x). Na equac¸a˜o (2) aparecem as derivadas de primeira e segunda ordens da func¸a˜o y = f(x). Podemos, enta˜o, fazer uma classificac¸a˜o das equac¸o˜es diferenciais segundo a ordem da derivada que nela comparece. 3 Ordem e Grau de uma Equac¸a˜o Diferencial Definic¸a˜o 3.1. A ordem de uma equac¸a˜o diferencial e´ a ordem da maior derivada que nela comparece. As equac¸o˜es (1) e (3) sa˜o equac¸o˜es diferenciais de primeira ordem e as equac¸o˜es (2) e (4) sa˜o equac¸o˜es diferenciais de segunda ordem. A equac¸a˜o diferencial 4 d3y dx3 + Sen(x) d2y dx2 + 5xy = 0 e´ uma equac¸a˜o diferencial de terceira ordem. Uma equac¸a˜o diferencial ordina´ria geral de n-e´sima ordem e´ representada na forma F ( x, y, dy dx , . . . , dny dxn ) = 0 A equac¸a˜o diferencial ( d2y dx2 )3 + 3y ( dy dx )7 y3 ( dy dx )2 = 5x e´ uma equac¸a˜o de segunda ordem. Pore´m, a derivada de maior ordem se acha elevada a terceira poteˆncia. Isso nos leva a seguinte definic¸a˜o. Definic¸a˜o 3.2. O grau de uma equac¸a˜o diferencial e´ o maior expoente da derivada de maior ordem que comparece na equac¸a˜o. Portanto, a equac¸a˜o diferencial ( d2y dx2 )3 + 3y ( dy dx )7 y3 ( dy dx )2 = 5x e´ de segunda ordem e como a segunda derivada esta´ elevada a terceira poteˆncia enta˜o temos uma equac¸a˜o de terceiro grau. Como dissemos no comec¸o, nosso objetivo e´ resolver equac¸o˜es diferenciais. Portanto, dada a equac¸a˜o diferencial F ( x, y, dy dx , . . . , dny dxn ) = 0 queremos uma func¸a˜o f que e´ deriva´vel pelo menos ate´ a ordem n e que satisfaz a equac¸a˜o diferencial. 3 4 Soluc¸a˜o de uma Equac¸a˜o Diferencial Definic¸a˜o 4.1. Toda func¸a˜o f : I ⊂ R → R com derivadas cont´ınuas ate´ ordem n que subs- titu´ıdas na equac¸a˜o diferencial, reduz a equac¸a˜o a uma identidade, e´ chamada de soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial no intervalo I. Por exemplo, y(x) = 2e−x + xe−x e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial d2y dx2 + 2 dy dx + y = 0. De fato, note que na equac¸a˜o diferencial comparecem a func¸a˜o y e as derivadas de primeira e segunda ordens. Encontrando essas derivadas temos: dy dx = 2e−x(−1) + 1e−x + xe−x(−1) = −2e−x + e−x − xe−x = −e−x − xe−x e d2y dx2 = −e−x(−1)− (1e−x + xe−x(−1)) = e−x − e−x + xe−x = xe−x Substituindo as derivadas de primeira e segunda ordens na equac¸a˜o diferencial temos d2y dx2 + 2 dy dx + y = xe−x + 2 (−e−x − xe−x) + (2e−x + xe−x) = = xe−x − 2e−x − 2xe−x + 2e−x + xe−x = 2xe−x − 2e−x − 2xe−x + 2e−x = 0 . Vejamos outro exemplo, verifique se y(x) = p · Sen (2x) + q · Cos (2x), com x ∈ R e p, q ∈ R chamados de constantes arbitra´rias, e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial d2y dx2 + 4y = 0. De fato, note que na equac¸a˜o diferencial comparece a derivada de segunda ordem da func¸a˜o e´ a pro´pria func¸a˜o. Encontrado a derivada de segunda ordem da func¸a˜o temos: dy dx = p · Cos (2x) · 2 + q · (−Sen (2x)) · 2 = 2p · Cos (2x)− 2q · Sen (2x) e d2y dx2 = 2p · (−Sen (2x)) · 2− 2q · Cos (2x) · 2 = −4p · Sen (2x)− 4q · Cos (2x) Substituindo a derivada de segunda ordem e a func¸a˜o na equac¸a˜o diferencial temos d2y dx2 + 4y = −4p · Sen (2x)− 4q · Cos (2x) + 4 (p · Sen (2x) + q · Cos (2x)) = = −4p · Sen (2x)− 4q · Cos (2x) + 4p · Sen (2x) + 4q · Cos (2x) = 0 4 No primeiro exemplo a func¸a˜o y(x) = 2e−x+xe−x e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial d2y dx2 +2 dy dx +y = 0 e e´ chamada de soluc¸a˜o particular. No segundo exemplo a func¸a˜o y(x) = p · Sen (2x) + q ·Cos (2x), e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial d2y dx2 + 4y = 0 e e´ chamada de soluc¸a˜o geral. quando atribu´ımos valores reais para p e q temos uma soluc¸a˜o particular. Definic¸a˜o 4.2. Uma soluc¸a˜o particular de uma equac¸a˜o diferencial e´ qualquer soluc¸a˜o da mesma. Definic¸a˜o 4.3. A soluc¸a˜o geral de uma equac¸a˜o diferencial e´ o conjunto de todas as suas soluc¸o˜es. A soluc¸a˜o geral de uma equac¸a˜o diferencial nem sempre pode ser expressa na forma y = f(x), isto e´, a varia´vel y isolada no primeiro membro e a expressa˜o contendo a varia´vel x no segundo membro. Quando isso e´ poss´ıvel dizemos que a soluc¸a˜o e´uma soluc¸a˜o expl´ıcita. Caso contra´rio, ela e´ uma soluc¸a˜o impl´ıcita. Quando obtemos uma soluc¸a˜o impl´ıcita nem sempre e´ poss´ıvel escreveˆ-la na forma expl´ıcita. 5 Problemas de Valor Inicial e de Valores no Contorno Inicialmente vamos considerar os exemplos, 1. Resolva a equac¸a˜o diferencial d2y dx2 + 2 dy dx = ex dados y(pi) = 1 e dy dx (pi) = 2. 2. Resolva a equac¸a˜o diferencial d2y dx2 + 2 dy dx = ex dados y(0) = 1 e y(1) = 1. Note que no primeiro exemplo os dados para resolver a equac¸a˜o diferencial se referem a um mesmo valor da varia´vel independente x. No segundo exemplo os dados para resolver a equac¸a˜o diferencial se referem a valores distintos da varia´vel independente x. Um problema de valor inicial consiste em uma equac¸a˜o diferencial, juntamente com condic¸o˜es subsidia´rias relativas a` func¸a˜o inco´gnita e suas derivadas. Essas condic¸o˜es sa˜o dadas para um mesmo valor da varia´vel independente. As condic¸o˜es subsidia´rias sa˜o condic¸o˜es iniciais. Um problema de valores no contorno consiste em uma equac¸a˜o diferencial, juntamente com condic¸o˜es subsidia´rias relativas a mais de um valor da varia´vel independente. As condic¸o˜es sub- sidia´rias sa˜o as condic¸o˜es de contorno. 5 6 Exerc´ıcios 1. Mostre que y = ln(x) e´ uma soluc¸a˜o de x d2y dx2 + dy dx = 0 em I = (0,∞) mas na˜o e´ soluc¸a˜o em I = (−∞,∞). 2. Mostre que y = 1 x2 − 1 e´ soluc¸a˜o de dy dx +2 ·x ·y2 = 0 em I = (−1, 1), mas na˜o o e´ em qualquer outro intervalo mais amplo contendo I. 3. Determine uma soluc¸a˜o do problema de valor inicial dy dx + y = 0; y(3) = 2, sabendo que a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o e´ y(x) = k · e−x, com k constante arbitra´ria. 4. Determine uma soluc¸a˜o do problema de valor inicial d2y dx2 + 4 · y = 0; y(0) = 0, dy dx (0) = 1, sabendo que y(x) = k1 · Sen(2x) + k2 · Cos(2x) e´ a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o diferencial. 5. Determine uma soluc¸a˜o do problema de valores de contorno d2y dx2 +4y = 0; y ( pi 4 ) = 0, y (pi 6 ) = 1, sabendo que a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o diferencial e´ y(x) = k1 · Sen(2x) + k2 · Cos(2x). 6. Determine uma soluc¸a˜o do problema de valores de contorno d2y dx2 +4y = 0; y(0) = 1, y ( pi 2 ) = 2, sabendo que a soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o diferencial e´ y(x) = k1 · Sen(2x) + k2 · Cos(2x). 7. Determine k1 e k2 de modo que y(x) = k1 · Sen(2x) + k2 · Cos(2x) + 1 satisfac¸a as condic¸o˜es y ( pi 8 ) = 0 e dy dx ( pi 8 ) = √ 2. 8. Determine k1 e k2 de modo que y(x) = k1 · e2x + k2 · ex + 2Sen(x) satisfac¸a as condic¸o˜es y(0) e dy dx (0) sa˜o iguais a 1. 6
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