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Pancreatite Função do pâncreas • Produção de enzimas e secreta no lúmen ductal • Suco pancreático é secretado sob estímulo da CCK e da Secretina ✓ Amilase ✓ Lipolíticas – lipase, fosfolipase A2 e colesterol-esterase ✓ Proteolíticas – tripsina e quimiotripsina • Produção de Insulina Pancreatite aguda • Processo inflamatório agudo do pâncreas • Causa importante e prevalente de abdome agudo • 80-90% dos casos são doenças benignas, leves e autolimitadas Etiologia Causas comuns: • Cálculos biliares – colelitíase (incluindo microlitíase) • Álcool (alcoolismo agudo e crônico) – 30% dos casos • Hipertrigliceridemia (> 1000 mg/dL) • Pós-Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), particularmente depois da manometria biliar • Fármacos (diuréticos, ATBs, Azatioprina) • Trauma (traumatismo abdominal fechado) • Pós-operatório Causas incomuns: • Causas vasculares e vasculite (isquemia – hipoperfusão depois da cirurgia cardíaca) • Distúrbios do tecido conectivo e púrpura trombocitopênica trombótica • Câncer de pâncreas • Hipercalcemia • Pâncreas divisum • Pancreatite hereditária • Fibrose cística • Insuficiência renal • Infecções (HIV, caxumba) • Autoimune Classificação Atlanta PA edematosa inicial (leve) • Inflamação do parênquima e dos tecidos peripancreáticos sem necrose tecidual • Mais de 90% dos casos • Autolimitada e benigna PA necrosante • Inflamação associada à necrose pancreática e/ou peripancreática • 5 a 10% dos casos • Maior mortalidade • Necrose do parênquima pancreático e/ou estruturas adjacentes • Necrose estéril x infectada Diagnóstico • História clínica • Exame físico • Exames complementares Critérios diagnósticos: • Suspeitar em paciente com início agudo de dor epigástrica persistente grave e com sensibilidade à palpação ao EF • Dor em faixa no andar superior do abdome que irradia para o dorso (50% dos casos) • Associada a náuseas e vômitos (90% dos casos) • Piora com a alimentação Outras manifestações clínicas: • Colestase (ictérico) → acúmulo de bile com a obstrução por cálculos biliares • Desidratação • Torpor • Dispneia 2 dos 3 critérios: • Início agudo de dor epigástrica persistente, grave, irradiando para as costas • Elevação da Lipase ou Amilase > 3x LSN (Limite Superior Normal) • Achados característicos em exames de imagem (TC com contraste, RM ou USG de abdome) ✓ Melhor exame de imagem: TC com contraste IV – melhor fazer tardiamente Exame físico variado e inespecífico • Sinal de Grey-Turner → equimose em flancos • Sinal de Cullen → equimose periumbilical Amilase • Aumenta entre 6-12h após o início da PA • PA não complicada – retorna ao normal em 3-5 dias • Pode não elevar em 20% na PA alcoólica e em 50% na PA por trigliceridemia • Elevação não é específica e pode ocorrer em outras condições Lipase • Sensibilidade e especificidade de 82-100% • Aumenta em 4-8h após o início dos sintomas e retorna ao normal em 8-14 dias • Elevações mais precoces e duram mais tempo Diagnóstico diferencial (Abdome agudo inflamatório) • Colecistite aguda • Coledocolitíase • Síndromes dispépticas • Apendicite (início no epigástrio) • Neoplasias Exames complementares • USG de abdome → pedir sempre • TC de abdome com contraste • Aumento difuso ou focal do pâncreas com realce heterogêneo após contraste IV • Cálculo no ducto biliar comum pode ocasionalmente ser visualizado • Pode-se observar massa pancreática se CA pancreático subjacente • Dilatação difusa do ducto pancreático ou lesão cística ou neoplasia cística • RNM de abdome/CPRM Quando fazer TC e/ou RM? • Devem ser reservadas para pacientes nos quais o diagnóstico é incerto ou que não melhoram clinicamente nas primeiras 48- 72h ou para avaliar complicações Complicações Critérios de Ranson Gravidade de pancreatite Outro escore: SOFA (Sequencial organ failure assessment) Tratamento • Cuidados de suporte • Hidratação IV, especialmente < 24h; • Dieta zero (para não estimular a produção e secreção pancreática); • Controle da dor; • Correção de anormalidades eletrolíticas e metabólicas (ácido básico); • Prevenção e vigilância de complicações; • Diagnóstico e tratamento da causa base; • A maioria dos pacientes com PA leve se recupera dentro de 3-7 dias; < 4 semanas PA edematosa intersticial Coleção fluida peripancreática Coleção Necrótica aguda > 4 semanas Necrose pancreática Pseudocisto pancreático WON (Necrose murada) Iniciais Idade > 55 anos Leucócitos > 16.000/mm3 Glicemia > 200 Desidrogenase Láctica sérica (LDH) > 350 UI/L AST > 250 UI/L Após 48h de admissão Queda de hematócrito > 10 pontos percentuais Aumento do nível de ureia > 10 mg/dL após hidratação intravenosa PO2 arterial < 60 mmHg Cálcio sérico < 8 mg/dL Deficiência de base > 4 mEq/L Sequestro estimado de fluidos > 6 L • PA moderada e grave necessitam de monitoramento mais intensivo. Como fazer a hidratação: • Hidratação IV agressiva precoce (250-500 mL/h) de cristaloide (SF 0,9%/Ringer Lactato) • Hipovolemia por múltiplos fatores: vômitos, ingestão oral reduzida, perda de fluidos para o 3º espaço, aumento de perdas respiratórias e diaforese • Permite também um controle álgico Controle da dor • Opioides (IV) são seguros e eficazes • Fentanil • Meperidina preferida à Morfina ✓ Morfina: aumento na pressão do esfíncter de Oddi ✓ Não existem estudos que possa agravar ou causar pancreatite • A dor mede a atividade de pancreatite aguda Antieméticos: • Bromoprida/Metoclopramida • Ondansetrona • Dimenidrinato Quando usar antibiótico? • Complicações infecciosas, pancreáticas (necrose infectada) e extrapancreáticas (PNM, colangite, bacteremia, ITU) • Suspeita de infecção – ATB – investiga a fonte Necrose infectada • Deve ser considerada em pacientes com necrose pancreática ou extrapancreática que se deterioram ou não melhoram após 7 a 10 dias de internação • ATB que penetram: carbapenêmicos, quinolonas, metronidazol e altas doses de cefalosporinas Pancreatite crônica • Síndrome originada da inflamação pancreática agressiva • Destruição progressiva e permanente do tecido e da função pancreática • Doença focal irregular, caracterizada por infiltrado mononuclear e fibrose • Ocorre disfunção arquitetural definitiva e irreversível do órgão • Prejuízo na sua função endócrina e exócrina (inicialmente da exócrina) Epidemiologia • Prevalência entre 0,04% a 5% da população (120/100.000 habitantes) • Mais comum no sexo masculino • Maior prevalência em pessoas de meia idade (> 50 anos) Fisiopatologia Mecanismos principais Principais etiologias Álcool causa estresse oxidativo e inflamação Aumento da secreção de proteínas pancreáticas Formação de plugs proteináceos dentro dos ductos interlobular e intralobular Nicho para calcificação, levando à formação de pedras dentro do sistema de ductos Lesões epiteliais ductais que cicatrizam e obstruem os ductos, causando alterações inflamatórias, com fibrosa e perda celular • Abuso de álcool • Causas genéticas (mutações no gene da fibrose cística, pancreatite hereditária) • Obstrução ductal (trauma, pseudocistos, cálculos, tumores, alterações anatômicas) • Pancreatite tropical • Doenças sistêmicas: lúpus eritematoso sistêmico, hipertrigliceridemia, possivelmente hiperparatireoidismo • Tabagismo • Pancreatite autoimune • Pancreatite idiopática Quadro clínico Dor abdominal • Principal sintoma de pancreatite crônica • Andar superior do abdome, tipicamente epigástrica • Varia de dor de forte intensidade/desconforto, ocorrendo de forma episódica • Pode ser associada à perda de peso, náuseas e vômitos • Pode ser parcialmente aliviada ao sentar-seereto ou inclinado para frente • A dor é muitas vezes pior 15 a 30 minutos depois de comer • Conforme a pancreatite progride, a dor tende a se tornar mais contínua Insuficiência pancreática • Síndrome de má absorção ✓ Má absorção de gorduras ✓ A atividade lipolítica é a primeira a se alterar, mais rapidamente que a proteólise ✓ Esteatorreia geralmente ocorre antes das deficiências proteicas ✓ Manifestações clínicas de má absorção de gordura incluem fezes soltas, oleosas e fétidas difíceis de limpar ✓ Má absorção das vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e da vitamina B12 também pode ocorrer • Diabetes pancreática ✓ Intolerância à glicose ocorre com frequência na pancreatite crônica, mas o diabetes mellitus ocorre tardiamente no curso da doença Diagnóstico Tríade clássica • Calcificações pancreáticas; • Esteatorreia; • Diabetes Mellitus. Associada à exposição persistente a fatores agressores, como alcoolismo, sugere fortemente o diagnóstico Infelizmente a tríade é geralmente vista em conjunto apenas na doença tardia e muito avançada Diagnóstico precoce é muito difícil, pois os sintomas e exames apenas são alterados em fases mais avançadas. Suspeita clínica Dor abdominal Perda ponderal/Desnutrição Esteatorreia Disabsorção Etilismo Pancreatites recorrentes Confirmação do diagnóstico: • Calcificações no pâncreas na TC • Teste de função pancreática anormal Exames laboratoriais Exame padrão ouro para o diagnóstico de esteatorreia • Exame quantitativo de gordura fecal de 72 horas A excreção de mais de 7g de gordura/dia é um diagnóstico de má absorção, embora os pacientes com esteatorreia geralmente tenham valores superiores a 10g/dia Como avaliar a disfunção exócrina do pâncreas? • Entre os testes da função pancreática, a dosagem de elastase fecal é a mais sensível e específica • Especialmente nas fases iniciais da insuficiência pancreática • Valores inferiores a 200 mcg/g de fezes são sugestivos de insuficiência pancreática Exames de imagem • Todas as modalidades de imagem são comparáveis entre si em sensibilidade e especificidade • TC, RM e US podem mostrar calcificações, dilatação ductal, atrofia pancreática e coleções líquidas (pseudocistos) Tratamento Gestão da dor • Analgesia escalonada • Orientação à cessação do tabagismo e do etilismo • Fracionamento das refeições e hidratação • Terapia endoscópica – descompressão de ducto pancreático obstruído por CPRE • Litotripsia extracorpórea por ondas de choque ✓ Objetivo: fragmentar os cálculos em ductos pancreáticos obstruídos • Radioterapia ✓ Propriedades anti-inflamatórias, reduzindo a dor • Desnervação de gânglio celíaco e nervo esplâncnico • Descompressão cirúrgica do ducto pancreático obstruído Insuficiência endócrina • Hipoglicemiantes orais • Risco de hipoglicemia Glucagon Outras terapias • Reposição de enzimas pancreáticas – Lipase + Amilase + Protease nas grandes reeições (não melhoram necessariamente a dor); • Cirurgia; • Tratamento das complicações. Complicações • Pseudocistos • Trombose de veia esplênica – hipertensão portal segmentar – varizes gástricas isoladas • Pseudoaneurismas • Ascite pancreática • Câncer
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