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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Heron Ledon Pereira Jornalismo Rá-Tim-Bum: uma proposta de vínculos entre imprensa, escola e criança Mestrado em Comunicação e Semiótica SÃO PAULO 2018 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Heron Ledon Pereira Jornalismo Rá-Tim-Bum: uma proposta de vínculos entre imprensa, escola e criança Mestrado em Comunicação e Semiótica Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob orientação da Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão. SÃO PAULO 2018 Banca Examinadora _________________________ _________________________ _________________________ Esta pesquisa de mestrado foi realizada com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dedico esta pesquisa a todas as crianças. Portanto, também àquelas que um dia deixamos de ser. Agradecimentos Os agradecimentos são infinitos e complexos ao ponto de não saber onde começam e terminam. Se é que essas delimitações existem. Agradeço, então, a Deus e aos amigos espirituais que tanto sopraram caminhos e palavras e martelaram coisas na consciência. É curioso ver e sentir como aconteceram os processos da pesquisa e da vida nesse tempo. Agradeço também a meus pais Berenice Ledon e José Carlos Pereira, pois todo o apoio e trajetória com eles está de alguma forma presente no trabalho e nas ideias. Gratidão a minha tia Lilia Ledon, pelas revisões, histórias, conversas e críticas sobre a humanidade. Menciono ainda as presenças inspiradoras de meus falecidos avós Gilbert Ledon e Symilde Schenk Ledon. Os professores do curso de Comunicação e Semiótica da PUC-SP foram fundamentais. Agradeço à Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão pela orientação, pontuações cirúrgicas, aulas e ensinamentos; ao Prof. Dr. Norval Baitello Junior pelo conhecimento transmitido, reflexões provocadas, acolhimento e carinho indescritíveis; à Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles não só pelas disciplinas, ideias e contribuições na Qualificação, mas também pelos elos afetivos e histórias sobre uma parte da família Ledon. Agradecimento também ao Prof. Dr. Silvio Henrique Vieira Barbosa pela aproximação e informações no II Simpósio Internacional Jornalismo em Ambientes Multiplataforma, em 2016, na ESPM-SP, como também pelas sugestões e avaliações durante o processo de pesquisa. A relação com os colegas de curso foi surpreendente e enriquecedora. A troca de ajuda, os debates, as sugestões e os conselhos foram totalmente contra as batalhas de egos de que tanto se fala no ambiente acadêmico. Agradeço a todos com os quais convivi nesse sentido. E, para não correr o risco de me esquecer de citar alguém, faço um agradecimento especial a Ana Catarina Santilli, minha grande amiga das salas, corredores e rampas da PUC. A aproximação dos temas das pesquisas, as discussões, as reflexões, as aspirações e o carinho foram valiosos e estão nestas páginas. Minha lembrança e agradecimento vão também àquelas que produziram comigo o Trabalho de Conclusão de Curso de jornalismo, em 2014, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie: a jornalista Natália Melo, a publicitária Ana Paula Molina e a Profa. Dra. Denise Paiero, nossa orientadora, também Mestra e Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. A reportagem “Revivendo o Castelo Rá- Tim-Bum” é uma das origens desta pesquisa de Mestrado. Agradeço a todas as outras pessoas, colegas e amigos que contribuíram para minha construção pessoal e profissional. Sobretudo as experiências como jornalista na Sociedade Esportiva Palmeiras, onde tive meu grande mestre Marcelo Cazavia, e na Burson-Marsteller serviram de motivação e estão impressas aqui. Agradeço também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa e investimento para este trabalho acontecer. “Deixai que venham a mim as criancinhas”. Jesus Resumo Esta pesquisa investiga o jornalismo infantil brasileiro nos últimos anos e propõe uma maior aproximação entre imprensa, escola e criança. Para isso, observa-se como o programa Castelo Rá-Tim-Bum pode servir de inspiração para esse tipo de jornalismo no país. Exibido ineditamente de 1994 a 1997, o Castelo é uma das principais séries infantis da história da TV brasileira, com altos índices de audiência e reconhecimento internacional de especialistas. Produzido pela TV Cultura, voltou a ganhar destaque no cenário cultural do país em 2014, quando completou 20 anos de existência, com exposições, novas peças teatrais e matérias nos veículos de comunicação. Este trabalho traz panoramas sobre o histórico e exemplos recentes de jornalismo para crianças – inclusive nas universidades – e a produção de conteúdo infantil na TV, Internet, cinema, rádio, música, literatura, HQs e teatro. Também apresenta resumos dos principais programas infantis da TV Cultura antes e depois do Castelo. Sobre a série, abordam-se detalhes dos personagens, quadros e cômodos do recinto, bem como produtos antigos e recentes frutos da atração. A análise aponta elementos que possam auxiliar o jornalismo para a garotada e com ela. Destacam-se seis tópicos: assunto de criança; o papel do jornalista; apuração e descoberta; brincar; sons; criança quer falar. Utiliza-se o entendimento de comunicação como construção de vínculos, segundo Baitello Junior. O conceito de ecologia da comunicação, conforme Romano, baseia a reflexão sobre práticas comunicacionais que envolvem a meninada. Compreende-se o campo da educomunicação a partir de Soares. E as ideias de Leão sobre hipermídia ajudam a esboçar um exemplo de aplicação dos resultados. Palavras-chave: jornalismo infantil; Castelo Rá-Tim-Bum; ecologia da comunicação; educomunicação. Abstract This research investigates Brazilian children's journalism in recent years and proposes a closer relationship between the press, school and children. Therefore, this study reveals how the TV program Castelo Rá-Tim-Bum can serve as an inspiration for this type of journalism in the country. Unveiled from 1994 to 1997, Castelo is one of the leading children's series in the history of Brazilian TV, with high ratings and international recognition of specialists. Produced by TV Cultura, it returned to gain prominence in the cultural scene of the country in 2014, when it completed 20 years of existence, with exhibitions, new plays and materials in the media. This work brings together historical and recent examples of journalism for children – including universities – and the production of children's content on TV, Internet, cinema, radio, music, literature, comics and theater. It also presents summaries of the main children's programs of TV Cultura before and after Castelo. About the series, this dissertation covers details of the characters, paintings and rooms of the enclosure, as well as old products and recent fruits of attraction. The analysis points out elements that can contribute to journalism for children and with them. There are six topics: children's issues; the role of the journalist; investigation and discovery; playfulness; sounds; children want to talk. The understanding of communication is used as link building,according to Baitello Junior. The concept of ecology of communication, according to Romano, bases the reflection on communication practices that involve children. It is understood the field of educommunication from Soares, and the ideas of Leão about hypermedia help sketch an example of how the results are applied. Keywords: children‟s journalism; CasteloRá-Tim-Bum; communication ecology; educommunication. Lista de tabelas Tabela 1 – Recorte do trabalho infantil brasileiro ...................................................... 24 Tabela 2 – Acesso a serviços básicos....................................................................... 25 Tabela 3 – Aparelhos de comunicação nos domicílios .............................................. 25 Tabela 4 – Artigos sobre jornalismo infantil na base de dados da Intercom.............. 37 Tabela 5 – Disciplinas de jornalismo especializado nas graduações do Brasil ......... 38 Tabela 6 – Breve comparativo de gêneros televisivos na TV aberta em 2015 .......... 41 Tabela 7 – Panorama do contexto social e da produção de conteúdo infantil no Brasil ... 50 Tabela 8 – Lista de episódios e temas do Castelo .................................................... 93 Tabela 9 – Principais papéis e atividades de Penélope por episódio ........................ 95 Tabela 10 – Histórias de Morgana no quadro Feitiçaria ............................................ 97 Tabela 11 – Experimentos de Tíbio e Perônio .......................................................... 99 Tabela 12 – Temas do quadro do Telekid ............................................................... 100 Tabela 13 – Disfarces do Dr. Abobrinha.................................................................. 101 Tabela 14 – Senhas para entrar no Castelo ............................................................ 103 Tabela 15 – Charadas e trava-línguas de Mau e Godofredo................................... 104 Tabela 16 – Desafios de Lana e Lara ..................................................................... 105 Lista de figuras Figura 1 – Primeiras páginas do The Lilliputian Magazine ........................................ 26 Figura 2 – Duas páginas da revista, indicando o projeto gráfico ............................... 27 Figura 3 – Capas de O Tico-Tico .............................................................................. 29 Figura 4 – Páginas de O Tico-Tico ............................................................................ 29 Figura 5 – Parte final da vinheta de abertura e encerramento do Castelo ................ 68 Figura 6 – Maquete do Castelo ................................................................................. 71 Figura 7 – Parte dos personagens ............................................................................ 75 Lista de gráficos Gráfico 1 – Quantidade de canais infantis no YouTube Brasil por categoria ............. 45 Sumário Introdução ................................................................................................................ 15 1. Jornalismo infantil brasileiro ............................................................................. 21 1.1. Jornalismo infantil ........................................................................................... 26 1.1.1. Repórter Rá Teen Bum ............................................................................. 31 1.2. Jornalismo infantil no meio acadêmico ........................................................... 34 1.3. Outros conteúdos infantis na TV ..................................................................... 39 1.4. Um pouco mais sobre Internet ........................................................................ 43 1.5. Cinema para crianças ..................................................................................... 45 1.6. Rádio e música infantil .................................................................................... 47 1.7. Literatura infantil e HQs................................................................................... 48 1.8. Teatro infantil .................................................................................................. 49 1.9. Percepções e caminhos .................................................................................. 49 2. Bum! Bum! Bum! ................................................................................................. 56 2.1. TV Cultura ....................................................................................................... 56 2.1.1. Programas antes e depois do Castelo ...................................................... 57 2.2. Família Rá-Tim-Bum ....................................................................................... 65 2.3. O Castelo ........................................................................................................ 67 2.3.1. História ...................................................................................................... 68 2.3.2. Cômodos .................................................................................................. 69 2.3.3. Personagens ............................................................................................. 71 2.3.4. Quadros .................................................................................................... 76 2.3.5. Outros produtos e narrativas transmidiáticas ............................................ 79 2.3.6. 20 anos e atualmente ............................................................................... 81 2.4. Pesquisas sobre o Castelo.............................................................................. 83 3 Jornalismo Rá-Tim-Bum ...................................................................................... 87 3.1. Analisando o programa ................................................................................... 89 3.1.1. Temas como pautas ................................................................................. 92 3.1.2. Penélope, mais do que repórter ................................................................ 94 3.1.3. Contação de histórias ............................................................................... 97 3.1.4. Mais informações e curiosidades .............................................................. 99 3.1.5. Apuração ................................................................................................ 101 3.1.6. Jogos ...................................................................................................... 102 3.1.7. Músicas ................................................................................................... 107 3.2. Bases do Jornalismo Rá-Tim-Bum ................................................................ 107 3.3. Esboço de uma aplicação ............................................................................. 110 Considerações finais ............................................................................................ 113 Referências bibliográficas .................................................................................... 118 15 Introdução A escolha de pesquisar sobre jornalismo infantil parte principalmente de reflexões pessoais sobre os papéis e responsabilidades de um jornalista, além do apreço por conteúdos destinados a menores de idade. A percepção prévia, como consumidor e integrante do mercado de trabalho, é de praticamente não haver atividade jornalística para esse público. O primeiro questionamento é: o que o jornalismo brasileiro tem feito para crianças? Outra motivação crucial foi o Trabalhode Conclusão de Curso, de 2014, em jornalismo, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, intitulado “Revivendo o Castelo Rá-Tim-Bum”. Foi uma reportagem em formato de site sobre os 20 anos de lançamento de um dos programas televisivos infantis mais importantes do país. Pelas entrevistas com os artistas e profissionais, foi possível perceber a forte crítica sobre a produção de conteúdo nacional para a garotada após a série. O projeto foi feito com a jornalista Natália Melo, teve ilustrações e design da publicitária Ana Paula Molina e orientação da Profa. Dra. Denise Paiero. As primeiras pesquisas já revelaram a dificuldade de encontrar exemplos atuais de jornalismo infantil. Logo, a indagação principal se transformou em: o que o jornalismo pode fazer para as crianças? Tentamos buscar referências em produções digitais para adultos, em veículos jornalísticos infantis, na educação e na literatura infantil, mas nada nos satisfez de forma plena. Naturalmente, o Castelo Rá-Tim-Bum despontou como um caminho seguro, apesar de parecer desconexo com o tema. De fato, o Castelo não é um programa jornalístico, mas o desafio foi realmente este: descobrir como ele pode ajudar a pensar e produzir jornalismo infantil atualmente no Brasil. Sua magnitude e relevância para a história midiática e cultural do país é inegável e já se sustenta. Não é à toa que a atração se mantém viva no cotidiano das pessoas, com reprises, exposições e entrevistas. Além disso, buscar uma referência ao jornalismo fora do próprio jornalismo não deixa de ser uma crítica às atividades e cenário da profissão, que não andam bem há alguns anos, como é de conhecimento público. 16 Algumas buscas mais aprofundadas e as primeiras análises da série lapidam a questão central: o que o jornalismo pode fazer para as crianças e com elas? Percebe-se a necessidade de colocar a meninada como protagonista no processo de produção de conteúdo e conhecimento. Esta pesquisa fala justamente sobre essa vinculação entre imprensa e criança e vê a escola como um dos ambientes mais propícios para isso acontecer. Então, esse trabalho se destina a jornalistas, comunicadores e comunicólogos, bem como a pesquisadores, pedagogos e professores do ensino básico. Acreditamos que essa troca entre profissionais da comunicação e educação pode render bons frutos a eles mesmos e, principalmente, às crianças. Os estudantes de ambas as áreas, com suas ideias e vontades emergentes, também são bem-vindos. No entanto, antes de chegar à análise e a seus resultados, precisamos entender e mapear – conforme Lucia Leão (2011) – o contexto social e midiático da garotada, a que se destina o primeiro capítulo. Apresentamos algumas definições e conceitos de criança apresentados pelos teóricos Philippe Ariès (2011), Jean-Jacques Rousseau (2004) e Neil Postman (1999), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (2012) e pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) e Dicionário do Castelo Rá-Tim-Bum (1997). Pontuamos o que é jornalismo, também segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), e jornalismo infantil, de acordo com a pesquisadora Juliana Doretto (2013). Ainda trazemos o entendimento de comunicação, pois, afinal, é disso que o trabalho trata. Vicente Romano (2004) e Norval Baitello Junior (2008) nos esclarecem que comunicação é um ato de vínculo, o que serve de base fundamental para toda a pesquisa. Em seguida, levantamos alguns dados sociais de crianças e da população brasileira, conforme a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD) de 2015, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2016. Vemos alguns números sobre acesso à educação e a serviços básicos, como água potável, energia elétrica, coleta de lixo etc. Há estatísticas sobre trabalho 17 infantil e presença de aparelhos de comunicação nos lares do país. E ainda tomamos ciência de que naquele ano havia 43 milhões de pessoas entre 0 e 14 anos de idade (21% da população). Nosso foco é a faixa etária de 6 a 12 anos, que abrange aproximadamente os sete primeiros anos do Ensino Fundamental. Feita essa contextualização inicial, partimos especificamente para o jornalismo infantil. Descobrimos que provavelmente a revista inglesa The Lilliputian Magazine foi a primeira produção do gênero no mundo – circulando entre 1751 e 1752 –, segundo Carmen Bravo-Villasante (1963, p. 77 apud ARROYO, 2011, p. 180). Já Leonardo Arroyo (2011) mostra a importância dos veículos infantis e até amadores do Brasil durante os anos de 1800 até surgir, em 1905, a revista O Tico-Tico, que até hoje é considerada o maior exemplo do país para crianças. Na sequência, apresentamos o que há de jornalismo infantil na atualidade. Nossas buscas livres na Internet e em listas oficiais dos principais veículos brasileiros comprovaram a escassez do setor. Encontramos apenas 13 jornais impressos e/ou online, duas revistas e um programa de TV. Os destaques são o Jornal Joca, as revistas Recreio e Ciência Hoje das Crianças e o programa Repórter Rá Teen Bum. Partimos, então, para o universo acadêmico. No estado da arte, identificamos somente cinco teses e dissertações, 16 artigos e outros poucos exemplos de trabalhos sobre jornalismo infantil. Não satisfeitos, acessamos 225 grades curriculares de cursos brasileiros de jornalismo e não achamos uma disciplina sequer que leve tal nome. Em contrapartida, são diversas as matérias de jornalismo esportivo, econômico, político, cultural, científico etc. Continuamos a contextualização abrindo para a produção e oferta de conteúdo infantil recente no Brasil. Focamos principalmente a televisão e Internet – em razão do Castelo e da expansão digital –, mas também trouxemos dados sobre cinema, rádio, música, literatura, histórias em quadrinhos e teatro. Por fim, elaboramos uma tabela sinóptica de todo esse levantamento e completamos com mais algumas conceituações que nos ajudam a entender o panorama 18 apresentado. O entendimento de complexidade, de Edgar Morin (2005), nos ajuda a compreender as diversas relações discutidas na pesquisa. Já a ideia de ecologia da comunicação, trabalhada por Vicente Romano (2004), também serve de base para refletir sobre o enlace entre meios de comunicação e criança e para dar continuidade à proposta de sugerir inspirações ao jornalismo infantil. O Castelo Rá-Tim-Bum é o protagonista do segundo capítulo. Começamos com um breve histórico da TV Cultura e depois apresentamos pequenos resumos dos principais programas infantis feitos pela emissora antes e depois do Castelo – praticamente todos premiados e com grande importância para a trajetória da TV brasileira. O objetivo é compreender o contexto de produção para crianças, que é um dos destaques da TV Cultura. Em seguida, exploramos mais um pouco as atrações que levam o nome “Rá-Tim-Bum”. Chegamos ao Castelo e apresentamos seu surgimento e enredo. Então, detalhamos a série com descrições de todos os personagens, quadros e cômodos do recinto – afinal, consideramos que o próprio Castelo é o protagonista. Também discorremos sobre outros produtos lançados a partir do programa e o forte retorno da atração nos dias de hoje, após a comemoração dos 20 anos de seu lançamento, em 2014. Com mais um estado da arte, descobrimos não haver pesquisas científicas que relacionam o Castelo ao jornalismo infantil. O último capítulo é reservado à análise do Castelo Rá-Tim-Bum, de modo a extrair elementos que sejam inspiradores para fazer esse tipo de jornalismo. Buscamos e revelamos características do programa que de alguma forma possuem relação com o jornalismo. Então, trazemos tabelas detalhadas com temas dos capítulos, de determinados quadros e de funções de certos personagens. E elas podem servir de referência também a outraspesquisas acadêmicas e a práticas pedagógicas. Assim, elencamos seis tópicos que, a partir da análise e discussão, consideramos relevantes para um contexto de produção de jornalismo infantil. Eles foram livremente intitulados: assunto de criança; o papel do jornalista; apuração e descoberta; brincar; sons; criança quer falar. Finalizamos esboçando uma possível 19 aplicação desses resultados em uma parceria entre veículo de comunicação e escola, utilizando também recursos digitais, conforme conceitua Lucia Leão (2005). Já nas considerações finais pontuamos novamente as principais descobertas e conclusões frutos da pesquisa. Contamos um pequeno relato prático de situações vividas em duas escolas, que ajuda a materializar um pouco do que foi discutido. E reforçamos a necessidade de dar voz às crianças, bem como de resgatar em nós, adultos, características perdidas da infância. O foco deste trabalho é o jornalismo infantil, envolvendo, certamente, a comunicação e a garotada. Apesar de acreditarmos que a escola pode ser um ambiente favorável para acontecer a vinculação entre imprensa e criança, não exploramos conceitualmente fatores que envolvem a educação, pois isso poderia expandir demais a pesquisa e fugir do recorte escolhido. Ainda assim, no terceiro capítulo explicamos pontualmente que a educomunicação, segundo Ismar de Oliveira Soares (2004, 2009 e 2011), é uma área que justamente trabalha esse ponto de encontro entre educação e comunicação. Portanto, vemos como essa é uma das possibilidades para o jornalismo infantil. Também optamos por não entrar em questões técnicas, econômicas ou políticas quanto a todas as aplicações de nossos resultados na prática jornalística. Ou seja, não exploramos os universos da publicidade infantil e da legislação, por exemplo. A proposta desta pesquisa não daria conta de absorver temas tão complexos, delicados e discutidos por pesquisadores, profissionais e ativistas sociais. Aqui, apenas apontamos a necessidade de vinculação entre imprensa e crianças, mas obviamente isso não pode ser feito de um modo prejudicial à garotada ou que a explore no pior sentido da palavra. Aliás, a ecologia da comunicação, de acordo com Romano (2004), nos conscientiza sobre isso. Ainda que façamos tal sugestão de vinculação, não trazemos detalhes teóricos sobre vínculos. Por uma questão de recorte e delimitação, nos atemos ao entendimento de comunicação como um ato vinculativo, como trata Baitello Junior (2008). Acreditamos que a interessante análise dos elos criados a partir de uma 20 aproximação maior entre imprensa e criança renderia outra pesquisa, talvez até uma continuação desta. 21 1. Jornalismo infantil brasileiro O primeiro passo para falar de jornalismo infantil é compreender o que é jornalismo1 em si, para evitar possíveis dúvidas e sensos comuns. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) o define como “atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir periodicamente ao grande público, ou a segmentos dele, informações da atualidade, utilizando veículos de comunicação (jornal, revista, rádio, televisão etc.) para difundi-las” (HOUAISS, 2001, p. 1687). Doretto (2013, p. 14) diz que “o jornalismo direcionado a crianças também pode falar sobre qualquer assunto, desde que se respeite o estágio de desenvolvimento cognitivo dos leitores” (DORETTO, 2013, p. 14). Assim, podemos entender que jornalismo infantil fala para crianças e não somente de crianças – ao contrário, por exemplo, do jornalismo esportivo, cujo enfoque é tratar de esportes não apenas se dirigir a esportistas. A mesma lógica ocorre nos jornalismos econômico, político, de meio ambiente, automotivo, científico, entre outros. Neste trabalho, porém, vamos além para sugerir uma prática jornalística com a garotada. Portanto, pesquisar sobre jornalismo infantil no Brasil requer cuidados e atenção redobrados devido a especificidades do universo das crianças e escassez de trabalhos acadêmicos e atividades profissionais na área, sobretudo em comparação a outros temas. Dessa forma, devemos observar o atual momento de produção de conteúdo para crianças no país. Não é nosso objetivo traçar uma história totalmente detalhada ou tentar descrever absolutamente tudo o que há para a meninada nos dias de hoje – e nem teríamos tempo para isso neste projeto –, mas mostrar um panorama que ajude a situar o leitor e nosso objeto no contexto brasileiro. 1 É comum ver o jornalismo ranqueado em diversas pesquisas como uma das piores e mais perigosas profissões do mundo. Dados da ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras (2017) apontam que o Brasil está na 103ª colocação no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2017, entre 180 países, e é a segunda nação da América Latina com mais jornalistas assassinados nos últimos cinco anos – 21 casos, atrás somente do México. Já o relatório “Violações à Liberdade de Expressão” de 2017, feito pela ABERT (2017) – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, revela que, em 2016, houve 172 registros de agressões físicas, atentados, ataques, ameaças e intimidações a jornalistas do país, além de no mínimo 261 profissionais e veículos de comunicação que passaram por algum tipo de violência não letal. 22 Antes disso, porém, é preciso saber de que criança e de que infância estamos falando. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), criança é um “ser humano que se encontra na fase da infância, indivíduo que se encontra na fase que vai do nascimento à puberdade” (HOUAISS, 2001, p. 868). Já infância é, “na vida do ser humano, período que vai do seu nascimento ao início da adolescência” (HOUAISS, 2001, p. 1611). Para dar um caráter um pouco mais lúdico a essas definições, utilizamos o Dicionário do Castelo Rá-Tim-Bum (1997), que faz parte de alguns dos livros e produtos frutos do programa televisivo homônimo. Criança é “um ser humano com pouca idade. Pode ser menino ou menina” (CHAIB e ROSENBERG, 1997, p 72). O personagem Nino completa na ilustração do verbete: “Tenho 300 anos, mas ainda sou criança” (CHAIB e ROSENBERG, 1997, p. 72, grifo do autor).2 O art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que “considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 2012, p. 11). Nesta pesquisa, mantemos como foco principal a faixa etária dos 6 aos 12 anos, idade principal dos telespectadores do Castelo Rá-Tim-Bum, base desse trabalho. É natural, porém, que em alguns casos as análises e conclusões possam também incluir a garotada um pouco mais nova ou mais velha, de forma contextual. E tais compreensões são recentes na história ocidental. Segundo Philippe Ariès (2011), em seu livro “L‟enfant et la vie familiale sous l‟Ancien Régime” (1960) – “História social da criança e da família”, na edição brasileira –, a ideia de infância não existia na Idade Média. Para o historiador francês, foi a partir dos anos 1200, com mais intensidade entre 1500 e 1700, que a separação até mesmo sentimental entre criança e adulto ocorreu, com a ida às escolas, o uso de termos específicos no vocabulário e em documentos e representações artísticas. “A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se 2 Uma breve explicação: na série, Nino tem 300 anos e é considerado criança porque pertence a uma família de feiticeiros. Como comparação, seu tio Victore sua tia-avó Morgana são adultos e têm 3 mil e 6 mil anos, respectivamente. No próximo capítulo, daremos mais detalhes da trama e de outros produtos oriundos do Castelo Rá-Tim-Bum. 23 particularmente numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e durante o século XVII” (ARIÈS, 2011, p. 28). Também na discussão a respeito do conceito de criança, é importante resgatar as ideias de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). O filósofo suíço afirma que as crianças possuem características naturais de aprendizado e desenvolvimento que geralmente não são respeitadas pelos adultos ao longo dos anos. “A infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias; nada é menos sensato do que querer substituir essas maneiras pelas nossas (...)” (ROUSSEAU, 2004, p. 91). E o autor completa, referindo-se ao que chama de primeira educação, ou seja, à relação dos mais velhos com os pequenos de até 12 anos: “Portanto, a primeira educação deve ser puramente negativa. Consiste não em ensinar a virtude ou a verdade, mas em proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro” (ROUSSEAU, 2004, p.97). Com relação aos estudos envolvendo a imprensa, Neil Postman (1931-2003) aponta que a invenção da prensa tipográfica, em torno de 1450 – e a maior disseminação de livros e escritos a partir disso – contribuiu para a ideia de infância. “A imprensa criou uma nova definição de idade adulta baseada na competência de leitura, e, consequentemente, uma nova concepção de infância baseada na incompetência de leitura” (POSTMAN, 1999, p. 32, grifo do autor). Por outro lado, o pesquisador americano também faz uma crítica aos limites da existência da infância e afirma que os meios eletrônicos de comunicação, principalmente a televisão, com início na primeira metade dos anos 1900, induzem a seu desaparecimento. O autor diz que a TV “destrói a linha divisória entre infância e idade adulta” (POSTMAN, 1999, p. 94) ao proporcionar um acesso irrestrito das crianças a quaisquer conteúdos, incluindo os do mundo adulto, sem exigir a necessidade de conhecimentos básicos ou técnicos – como seria preciso dominar a leitura para ler um livro, por exemplo. É necessário esclarecer ainda a ideia de comunicação utilizada nesta pesquisa, visto que o assunto já foi iniciado mais especificamente e será aprofundado em breve. Segundo Romano, “a comunicação é o processo e o resultado da relação, mediada pelo intercâmbio de informações e sentimentos, entre indivíduos (humanos), seus grupos e organizações sociais etc.” (ROMANO, 2004, p. 59, tradução nossa). E o 24 autor completa: “Os processos de comunicação humana não só possibilitam a conexão, mas também a vinculação” (ROMANO, 2004, p. 63, tradução nossa). Aliás, Baitello Junior (2008, p. 100) segue a mesma linha de raciocínio e diz que: “(...) não mais se pode compreendê-la como simples conexão ou troca de informações, mas necessariamente é preciso ver nela uma atividade vinculadora entre duas instâncias vivas. Não será, portanto, a entidade quantificável chamada „informação‟ o parâmetro para considerar as metas de um processo de comunicação. Muito antes e mais abrangentemente, todo processo de comunicação pretende estabelecer e manter vínculos” (BAITELLO JUNIOR, 2008, p. 100). É importante também conhecer alguns dados sobre as crianças brasileiras, e para tanto nos baseamos na “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD) de 2015, elaborada pelo IBGE (2016) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Naquele ano, 21% da população brasileira, ou aproximadamente 43 milhões de indivíduos, tinham entre 0 e 14 anos – sendo 30,1 milhões de 5 a 14 anos, de acordo com o IBGE (2016, p. 37). Sobre a taxa de escolarização, o IBGE (2016, p. 47) estima que 98,6% das crianças entre 6 e 14 anos estudavam, e os números caíam para 85% entre 15 e 17 anos. Entre os estudantes, 85,3% do Ensino Fundamental, 88,1% do Ensino Médio e apenas 25,3% do Superior pertenciam à rede pública, de acordo com o IBGE (2016, p. 48). Fator que preocupa ainda mais é o trabalho infantil. O IBGE (2016, p. 62) estima que havia 2,7 milhões de seres humanos de 5 a 17 anos trabalhando, sendo 79 mil de 5 a 9 anos e 333 mil de 10 a 13 anos. Para entender – ou imaginar – um pouco mais essa situação: Tabela 1 – Recorte do trabalho infantil brasileiro 412 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhando Média de 12,9 horas semanais trabalhadas Salário mensal de R$ 193,00 42,8% não eram remuneradas 2,6% não estudavam 64,7% estavam em atividades agrícolas 31,7% produziam para o próprio uso ou consumo Fonte: IBGE (2016, p. 64) 25 Em relação aos domicílios do país – cerca de 63,6 milhões –, onde obviamente habitam crianças e adolescentes, o IBGE (2016, p. 79) revela que as condições de saneamento básico ainda são muito precárias para inúmeras famílias: Tabela 2 – Acesso a serviços básicos Dos 63,6 milhões de domicílios brasileiros 14,6% não possuíam rede geral de abastecimento de água 34,7% não tinham rede coletora de esgoto 10,2% não contavam com coleta de lixo 0,3% não dispunha de iluminação elétrica Fonte: IBGE (2016, p. 79) Outro dado interessante para essa pesquisa é a presença dos aparelhos de comunicação nas residências do país. Tabela 3 – Aparelhos de comunicação nos domicílios Entre os 63,6 milhões de domicílios 97,1% tinham televisão 69,2% tinham rádio 62,2% tinham DVD 46,2% tinham microcomputador 40,5% tinham microcomputador com acesso à Internet 93,3% tinham telefone fixo ou celular 58% tinham apenas celular Fonte: IBGE (2016, p. 80) Inclusive, vale apontar que 102,1 milhões de pessoas com 10 anos ou mais (57,5% da população) tinham acesso à Internet; apenas entre 10 e 14 anos, 69,1% acessavam a rede online e 54,1% possuíam celular para uso pessoal, de acordo com o IBGE (2016, p. 81, 82 e 83). Assim, não é difícil constatar que a realidade brasileira em diversos setores sociais é complicada para milhões de crianças, jovens e adultos. Enquanto privilegiados, 26 nossa missão com esta pesquisa é tentar contribuir um pouco para as práticas de comunicação dessa garotada e para os estudos a respeito. Ou seja, ver de que forma o programa Castelo Rá-Tim-Bum, sucesso absoluto, pode inspirar atividades jornalísticas para a meninada e com elas. Assim, vamos levantar problemas contextuais e sugerir ideias para a vinculação entre imprensa, escola e criança. 1.1. Jornalismo infantil A relação entre jornalismo e público infantil é de longa data. De acordo com Bravo- Villasante (1963, p. 77 apud ARROYO, 2011, p. 180), a revista infantil inglesa The Lilliputian Magazine, que circulou entre 1751 e 1752, teria sido o primeiro periódico do gênero da Europa e do mundo. A British Library (2017) afirma que ela só teve três edições, posteriormente reeditadas em um volume único diversas outras vezes. Elas traziam “lições morais, narrativas curtas, fábulas, danças, canções, hinos, epigramas, brincadeiras e enigmas, todos feitos de uma maneira atraente para crianças, com uma mistura de gravuras e xilogravuras” (BRITISH LIBRARY, 2017, tradução nossa). Figura 1 – Primeiras páginas do The Lilliputian Magazine. Volume único de 1765, com as três edições. Fonte: Internet Archive 27 Figura 2 – Duas páginas da revista, indicando o projeto gráfico, que separa de um lado a parte escrita e do outro uma ilustração. Fonte: Internet Archive Inúmeros outros jornais e revistas infantis surgiram ao longo das décadas na Europa. Como curiosidade, vamos citar apenas alguns deles, de acordo com Arroyo (2011, p. 182, 212 e 213). Na própria Inglaterra: The Museum for Young Gentlemen and Ladies (1758) e, durante a segunda metade do século XIX, Infant’s Magazine, The Children’s Friend e Little Folk. Na França: Magazin des Enfants(1757), Le Journal des Jeunes (1832), Le Journal des Enfants (1857), La Semaine des Enfants (1857) e Le Magazin d’Éducation et Récréation (1864). Na Alemanha: Leipziger Wochenblatt für Kinder (1772-1774) e Kinderfreund (1775-1784). Já na Itália: Il Nipote (1832-1848), Il Giornale dei Fanciulli (1832) e Giornale per i Bambini (1881). Por sua vez, o madrilenho Gazeta de los Niños (1798) inaugurou o gênero na Espanha. As publicações para crianças surgiram no Brasil ao longo dos anos 1800 e tinham como base justamente o que era feito no continente europeu. Além do mais, Arroyo (2011, p. 179) afirma que a imprensa exerceu papel importante para a literatura infantil brasileira daquele período. “Em uma época em que praticamente a literatura oral ainda exercia notável influência e era mesmo o instrumento lúcido e instrutivo por excelência da 28 meninada do Brasil, os primeiros jornais dedicados às crianças não só despertavam o interesse do pequeno leitor, por meio do instrumento de cultura que representavam, como também se constituíam em veículos galvanizadores de vocação e de discussão de problemas e questões relativas ao aprendizado escolar. Os jornais infantis marcaram bem determinado período da literatura infantil brasileira” (ARROYO, 2011, p. 179). O primeiro jornal infantil brasileiro, segundo Arroyo (2011, p. 179 e 180) provavelmente foi o baiano O Adolescente, de 1831. A partir de então, dezenas de outros pequenos veículos apareceram de norte a sul do país naquele mesmo século, mas a maioria estava relacionada a produções feitas também por crianças em escolas, de acordo com Arroyo (2011), que fala até mesmo de uma imprensa escolar. No entanto, o grande marco inicial do jornalismo infantil brasileiro foi a revista O Tico-Tico, que circulou pela primeira vez em 11 de outubro de 1905, no Rio de Janeiro, e foi produzida semanalmente até 1957; nos vinte anos seguintes, apenas em edições especiais. O periódico teve cerca de 2.100 edições e tiragem entre 20 mil e 100 mil exemplares. Por meio de seus personagens, quadrinhos, histórias, notícias e curiosidades, a publicação teve como objetivo “oferecer a seus pequenos leitores uma alegria simples e sadia” (ARROYO, 2011, p. 216). “O Tico-Tico, como que galvanizando toda a necessidade de leitura das crianças brasileiras, impunha-se pioneiramente como publicação tecnicamente concebida. Fora a revista organizada em bases racionais, com motivos e temas de interesse nacional. O grande número de pequenos jornais e revistas que antecederam com dificuldades a importante publicação de Luís Bartolomeu de Sousa e Silva havia criado condições excepcionais para o triunfo de O Tico-Tico, que haveria, por mais de meio século, de se tornar leitura obrigatória das crianças brasileira” (ARROYO, 2011, p. 212). Em seu início, a revista trazia e adaptava histórias em quadrinhos publicadas no jornal norte-americano The New York Herald, que tinham como personagens o garoto Buster Brown e seu cachorro Tiger, do caricaturista Richard Felton Outcault. Arroyo (2011, p. 215) diz que, em O Tico-Tico, eles se transformaram respectivamente nos brasileiros Chiquinho e Jagunço – feitos pelo desenhista Renato de Castro. Ao longo dos anos, o periódico ganhou personagens próprios, que embalavam as inúmeras histórias educativas e tiveram grande sucesso entre o público, conforme Arroyo (2011, p. 217 e 218). Entre eles, estão: Benjamim (de Luís Gomes Loureiro); Zé Macaco, Faustina, Baratinha, cão Serrote e Chocolate (de 29 Alfredo Storni); Kaximbown, Pipoca, Pandareco, Para-choque, Vira-lata e Barão de Rapapé (de Max Yantock). A revista também publicou outros personagens famosos norte-americanos a partir de 1930, como Popeye, Gato Félix e Mickey Mouse. Figura 3 – Capas de O Tico-Tico. Edições 1.083, de 07 de julho de 1926, e 1.348, de 05 de agosto de 1931. Fonte: Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional Figura 4 – Páginas de O Tico-Tico. Edições 1.960, de março de 1949, e 2.022, de 05 de maio de 1954. Fonte: Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional 30 Os estudos realmente apontam O Tico-Tico como o principal veículo jornalístico infantil brasileiro. A imprensa escolar continuou existindo, e outros periódicos e suplementos naturalmente surgiram no decorrer do século passado, mas nenhum com tamanho reconhecimento. “Depois da revista de Luis Bartolomeu de Sousa e Silva tivemos algumas de glória efêmera, como Bem-Te-Vi (1923), Vida Infantil, Sesinho, além de uma série de outras publicações que se enquadram na técnica de uma produção industrial que proporciona leitura em vários países do mundo” (ARROYO, 2011, p. 226). Podemos citar outros exemplos infantis de tempos mais recentes. Um dos maiores nomes é a revista semanal Recreio, antes editada pela Editora Abril e nos dias de hoje pela Editora Caras. Seu projeto atual existe desde 2000 – além de contar com um site e perfis no Facebook, Instagram e YouTube –, mas ela teve também um primeiro período de circulação entre 1969 e 1981. Já entre os suplementos de maior destaque, estão os dos jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S. Paulo. Iniciado em 1987, o Estadinho deixou de ser impresso em 2013, mesmo ano da última postagem em seu blog, logo após comemorar seus 25 anos de existência. O Globinho surgiu em 1983 e também foi extinto em 2013; seu blog parou de ser atualizado em 2015. Já a Folhinha circulou entre 1963 e 2016, mas sua seção online ainda sobrevive – porém apenas com notícias “de agenda”, ou seja, basicamente indicando livros, filmes e peças teatrais infantis em vias de lançamento, sem matérias diversas. Em busca de mais publicações jornalísticas infantis, consultamos em maio de 2017 a lista de editoras associadas da ANER – Associação Nacional de Editores de Revistas, atualizada em março de 2017. Das 42 editoras presentes, conseguimos ter acesso aos sites e informações de 33. Além da Recreio, a única revista que parece desenvolver jornalismo voltado para a meninada é a Ciência Hoje das Crianças (ela ainda possui um site com notícias, curiosidades, jogos, quadrinhos, vídeos e rádio), do Instituto Ciência Hoje, que edita uma versão para o público geral. Essa revista infantil existe desde 1986, teria sido a primeira do Brasil sobre ciência para a garotada e está presente em bibliotecas de mais de 60 mil escolas públicas do país. 31 Vale esclarecer que, no levantamento feito, desconsideramos guias para estudantes, publicações teen e de colorir e histórias em quadrinhos. Ainda fizemos procura semelhante entre jornais, também por meio de seus sites. Como forma de estabelecer um limite, tomamos por base os associados à ANJ – Associação Nacional de Jornais. Consultada em maio de 2017, a lista apontava 104 veículos de todo o Brasil, e conseguimos acesso a 98. Só consideramos os portais que possuíam uma seção infantil atualizada ao menos uma vez naquele mesmo mês. Além da Folhinha, encontramos 11 exemplos. Seis deles realizam um trabalho pedagógico junto a escolas para levar seus jornais aos alunos, como instrumentos de educação. São eles: Diário do Nordeste (CE), Diário do Norte do Paraná (PR), A Notícia (SC), A Tribuna (SP), Correio Popular (SP) e Jornal da Cidade de Bauru (SP). Já na seção DC na Sala de Aula, do Diário Catarinense (SC), não há a informação se existe um projeto especificamente para escolas, apesar do nome. O Diarinho, do Diário do Pará (PA), está na editoria de Entretenimento. O Jornal de Brasília (DF) possui a coluna/blog Playground. Por fim, há seções infantis no Jornal do Povo (RS) e no Jornal Cidade de Rio Claro (SP), mas o acesso é restrito e não foi possível visualizar o conteúdo. Em meio a demais pesquisas, encontramos outro exemplo interessante: o Jornal Joca, da Editora Magia de Ler, criado em 2011 e inspirado empublicações da Europa, sobretudo da França. O veículo infantil possui site de notícias atualizado diariamente, perfis no Facebook, Instagram e YouTube, blog para os pais e serviço de assinatura de sua versão impressa. Aliás, a edição em papel, quinzenal, é o ponto forte da empresa, que com ela tem um projeto pedagógico em cerca de 50 escolas brasileiras, inclusive com instruções e apontamentos especiais para os professores. Todavia, não achamos a presença de jornalismo infantil em levantamento em portais noticiosos também conhecidos no país – como G1, R7, UOL, Terra, iG, Yahoo Brasil, MSN Brasil, El País Brasil, BBC Brasil, DW Brasil e Nexo Jornal. 1.1.1. Repórter Rá Teen Bum 32 Não é muito difícil imaginar a escassez de jornalismo infantil na TV brasileira, e nossas buscas – realizadas na última semana de maio de 2017 – nos sites das emissoras confirmam isso. Tomamos como base as grades de programação disponíveis e as poucas (quando existentes) informações específicas sobre os programas, fato esse que dificultou obter resultados mais detalhados. Assim, não encontramos conteúdo jornalístico infantil nas principais redes abertas do país, que são a Band, CNT, Globo, Record, RedeTV!, SBT, TV Brasil, TV Cultura e TV Gazeta, segundo a Agência Nacional do Cinema – Ancine (2016a). E o resultado foi quase o mesmo nos portais dos cerca de 250 canais por assinatura da lista da própria Ancine (2017a). A exceção é o programa Repórter Rá Teen Bum, o único que não deixa dúvidas de se encaixar no jornalismo infantil. Ele é veiculado na TV Rá Tim Bum! (disponível também no canal no YouTube), nas noites de sábado, e produzido pelas equipes da própria emissora e da TV Cultura – ambas pertencem à Fundação Padre Anchieta. Estreou em 16 de abril de 2016, tem o público de até 10 anos e se intitula “o primeiro programa de notícias totalmente dedicado a crianças e adolescentes”. Com duração de 11 a 15 minutos, a atração é apresentada pela jovem atriz Nathália Falcão, e as reportagens – que são menos factuais, ou mais “frias”, no jargão jornalístico – tratam de assuntos que interessam ao universo infantil. Inclusive, os pequenos são os principais entrevistados nas matérias. Apesar de ser uma produção brasileira, a iniciativa do Repórter Rá Teen Bum é internacional. O programa faz parte do projeto WADADA News for Kids, da ONG holandesa Free Press Unlimited, presente em 46 países e que trabalha principalmente com questões de liberdade de imprensa e acesso a informação em zonas de guerra. O WADADA teve início em 2014, no Suriname, atua em mais de 20 países3 e atinge aproximadamente 100 milhões de pessoas, com conteúdo em 12 línguas diferentes. Há também o intercâmbio das matérias elaboradas. Ou seja, as reportagens brasileiras, por exemplo, são exibidas em outras nações e vice-versa. 3 De acordo com a ONG, os países são: África do Sul, Bangladesh, Brasil, Bolívia, Egito, Equador, Gana, Holanda, Indonésia, México, Myanmar/Birmânia, Nepal, Nicarágua, Peru, Serra Leoa, Suriname, Ucrânia e Zâmbia, além de possuir correspondentes na Argentina, Colômbia e Kosovo. Mais informações em: wadadanewsforkids.org. http://www.wadadanewsforkids.org/ 33 É claro que este exemplo de jornalismo infantil não está sozinho na história da TV brasileira. Uma das atrações mais lembradas é a Globinho, da TV Globo, que estreou em 1972 e teve pouco mais de dez anos de exibição. Era um telejornal para crianças e adolescentes e teve diferentes periodicidades, durações e horários de transmissão – como de segunda a sexta, em edições de 5 a 15 minutos, e aos sábados, com 30 minutos. O programa ainda promoveu campanhas, eventos e concursos com seu público e teve como uma de suas grandes apresentadoras a jornalista Paula Saldanha, que a partir de 1981 teve a companhia de um boneco manipulado, o macaquinho Loiola. Existem ainda produções mais recentes que, embora talvez não possam ser estritamente classificadas como jornalismo infantil, têm características da prática jornalística, como as entrevistas, principalmente. Uma delas foi o dominical Gente Inocente, também da TV Globo, veiculado de 2000 a 2002, aos domingos. Ao lado do apresentador Márcio Garcia, um elenco de crianças entrevistava celebridades, além de dançar, cantar e interpretar. Outra atração foi Cartãozinho Verde, da TV Cultura, inspirada no Cartão Verde, um programa de debate sobre futebol e no ar desde 1993. A versão mirim existiu de 2012 a 2014 e tinha uma apresentadora adulta e quatro garotos que discutiam o esporte e faziam matérias sobre os clubes pelos quais torciam: João Braga (Corinthians), Eric Lanfredi (Palmeiras), Pedro Crema (São Paulo) e Matheus Ribeiro (Santos). Já a TV Cocoricó foi um programa exibido em 2012 e 2013, que se diferenciava do original Cocoricó por ser ao vivo, com uma hora de duração. Produzido pela TV Cultura, tinha os mesmos personagens feitos de bonecos, como o garoto Júlio e diversos animais da fazenda. A atração mostrava diversas histórias, receitas culinárias e curiosidades, além de longas entrevistas com artistas como Maurício de Sousa, Inezita Barroso, Rosi Campos, Sandra Peres e Paulo Tatit (Palavra Cantada), entre tantos outros. Falaremos mais sobre Cocoricó no capítulo seguinte. Há quem conheça Marcelo Tas por interpretar o Professor Tibúrcio, do Rá-Tim-Bum, ou o Telekid, do Castelo Rá-Tim-Bum, mas o jornalista, roteirista e apresentador já fez e faz outros trabalhos com crianças que também possuem certa ligação com o 34 jornalismo. Lançado em 2009, no canal infantil fechado Cartoon Network, Plantão do Tas é um telejornal de notícias fictícias em que o âncora tem a companhia de dois repórteres mirins. Na mesma emissora, teve início em 2014 o Papo Animado com Marcelo Tas, um talk show de aproximadamente três minutos de duração em que Tas entrevista personagens de desenhos animados. Já na TV aberta, na Band, Marcelo apresentou em 2012 o Conversa de Gente Grande. Nele, algumas crianças entrevistavam celebridades e conversavam sobre variados assuntos. Também merece ser citado o Canal Futura, distribuído na TV por assinatura, em TVs universitárias e na Internet. É uma emissora educativa fundada em 1997, pertencente à Globosat e que possui parcerias com universidades para produção de materiais. Pela falta de informações concretas disponíveis, não podemos afirmar com absoluta certeza se há conteúdos de jornalismo infantil atualmente. Porém, alguns programas educativos chamam a atenção por tratar de questões corriqueiras, com entrevistas de especialistas. Um deles é a série Que abuso é esse?, que fala sobre violência sexual infantil por meio de histórias com personagens de bonecos e participações de autoridades no assunto. Ainda vale destacar uma seção do site da TV Climatempo, emissora criada em 1999 e pertencente à empresa de meteorologia Climatempo. Seu portal possui uma área para crianças muito interessante, chamada Climakids. Ela conta com a presença dos personagens da Turma da Mônica – do cartunista Mauricio de Sousa – e quadrinhos da série sobre fenômenos climáticos e experiências que podem ser feitas pelo leitor, além da opção de consultar a previsão do tempo. Na grade de programação da TV, há conteúdos socioeducativos, mas não identificamos algo especificamente infantil. Como a partir deste ponto os resultados das pesquisas por materiais com potencial jornalístico são cada vez mais raros, faremos uma breve pausa na questão. Em seguida, retomaremos o contexto da produção de conteúdo infantil no país como um todo e nos diferentes meios e práticas de comunicação. 1.2. Jornalismo infantil no meio acadêmico 35 A pouca quantidade de jornalismo infantil na imprensa brasileira também parece ocorrer nas universidades do país.Doretto (2013, p. 15) afirma haver diversos trabalhos de conclusão de curso em jornalismo infantil, mas a proporção não se mantém nas pós-graduações. Nossas buscas por trabalhos acadêmicos sobre o tema confirmaram esse cenário de escassez. No Banco de Teses e Dissertações da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) – fundação do Ministério da Educação –, só encontramos cinco pesquisas sobre jornalismo infantil: - Título: “Ler sem engasgar: dois tipos de recepção do jornalismo infantil da Folhinha – suplemento infantil da Folha de S. Paulo”. Pesquisadora: Mônica Pinto Rodrigues da Costa. Ano de defesa: 1992. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação e Semiótica. Instituição de Ensino: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Resumo: O trabalho investiga a decodificação de leitura das crianças e se elas assimilam as informações da maneira imaginada pelos jornalistas que produzem tais conteúdos. - Título: “Jornalismo infantil: „Pinguinho de Notícia‟”. Pesquisadora: Iracema Batista Torquato. Ano de defesa: 2002. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação. Instituição de Ensino: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Resumo: A pesquisa conta sobre o processo de produção e leitura de um jornal infantil feito de forma experimental por uma escola estadual de Jaú (SP), envolvendo também a relação entre comunicação e educação. - Título: “O jornal infantil interativo”. Pesquisador: Emerson Cesar Biral Mendes. Ano de defesa: 2002. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação. Instituição de Ensino: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Resumo: O trabalho analisa a forma de adaptação dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal da Cidade de Bauru ao público infantil, por meio de seus suplementos Folhinha, Estadinho e JC Criança. Também pesquisa sobre uma proposta de um jornal escolar interativo. 36 - Título: “Pequeno leitor de papel: jornalismo infantil na Folhinha e no Estadinho”. Pesquisadora: Juliana Doretto. Ano de defesa: 2010. Formação/Programa: Mestrado em Ciências da Comunicação. Instituição de Ensino: Universidade de São Paulo – USP. Resumo: O trabalho mapeia o perfil das crianças entrevistadas pela Folhinha e Estadinho em 25 edições de cada um dos suplementos, em 2009. Consequentemente, também analisa as notícias de ambos os veículos. - Título: “O jornalismo infantil e o desejo de consumo: o discurso da revista Recreio”. Pesquisadora: Thaís Helena Furtado. Ano de defesa: 2013. Formação/Programa: Doutorado em Comunicação e Informação. Instituição de Ensino: Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS. Resumo: O estudo faz uma análise do discurso da revista Recreio, principalmente verificando como a publicação trabalha e incentiva o desejo de consumo das crianças. Também fizemos uma pesquisa na plataforma de periódicos da Capes e encontramos apenas três artigos que tratam de jornalismo infantil: - Título: “Natureza do hipertexto no jornalismo digital em dois suplementos para o público infantil”. Autoras: Izabel Cristina Diniz/CEFET-MG e Leila Aparecida Anastácio/CEFET-MG. Revista: Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, v. 5, n. 2, 2012. Resumo: O artigo faz uma análise do hipertexto, segundo Marcushi (2001), na Folhinha, da Folha de S. Paulo, e do Blog do Guri, do Estado de Minas. Verifica ainda suas práticas jornalísticas. - Título: “A relação entre o discurso didático científico e o discurso jornalístico na revista Recreio”. Autoras: Thaís Helena Furtado/Unisinos e Sabrina Franzoni/Unisinos. Revista: Galáxia, n. 29, jun. 2015. Resumo: O artigo faz uma análise dos discursos didático científico e jornalístico da Recreio – é um desdobramento da tese defendida por Furtado em 2013, mencionada acima. - Título: “O jornalismo infantil revistativo da Recreio”. Autora: Thaís Helena Furtado/Unisinos. Revista: Vozes e Diálogo, v. 14, n. 2, jul./dez. 2015. Resumo: O 37 artigo, também fruto da tese citada, discute se a revista Recreio pode ser considerada jornalística, concluindo que sim e que possui características próprias. Ainda tentamos encontrar artigos sobre jornalismo infantil na plataforma SciELO – Scientific Eletronic Library Online (que reúne periódicos científicos na Internet). O único achado foi o mesmo feito por Thaís Helena Furtado e Sabrina Franzoni e publicado na Galáxia, em 2015: “A relação entre o discurso didático científico e o discurso jornalístico na revista Recreio”. Onde conseguimos maior número de resultados foi no banco de produção científica da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, que promove encontros científicos, com participação e produção, inclusive, de alunos de graduação. A seguir, a lista dos 13 artigos descobertos no Portal de Livre Acesso à Produção em Ciências da Comunicação, dos mais recentes aos mais antigos. Tabela 4 – Artigos sobre jornalismo infantil na base de dados da Intercom Autores Título Ano Thaís Helena Furtado O Discurso Jornalístico presente na revista Recreio 2014 João Victor Melo Sales O jornalismo infantil na revista Recreio 2013 Mayra Fernanda Ferreira Potencialidades Educomunicativas do Jornalismo para Crianças 2011 Thaís Helena Furtado A criança leitora imaginada por Zero Hora 2011 Greyce Nunes e Jiani Bonin Perspectivas Teóricas para Compreender o Jornalismo Infantil 2010 Juliana Doretto Jornalismo e os pequenos leitores: a temática de suplementos infantis 2010 Rodrigo Pscheidt; Samara Najar; Stela Tondo Revista Mania – Educação, informação, cultura, cidadania e lazer 2009 Thaís Helena Furtado A editorialização do Jornalismo Infantil 2009 Juliana Doretto Foquinha: jornalismo infantil na ditadura militar 2009 Ednubia Ghisi; Michel Prado; Hendryo André Análise das revistas Recreio, Disney Princesas e Atrevidinha 2009 Mayra Fernanda Ferreira Jornalismo Infantil: por uma prática educativa 2007 Mayra Ferreira e Loriza Infância em papel: o jornalismo infantil no 2007 38 de Almeida interior Luana Aparecida Vianna Jornalismo Infantil em Ribeirão Preto: Estudo do “A Cidade Criança” 2006 Fonte: Portcom (2018) Com essas pesquisas nas principais plataformas de produção científica, vemos como realmente há poucos trabalhos acadêmicos do gênero. Em buscas livres no Google Acadêmico, também são pouquíssimos os resultados. A maioria dos artigos trata de panoramas históricos, publicações antigas – como O Tico-Tico –, veículos mais recentes (sobretudo Recreio, Folhinha e Estadinho) e outros exemplos pontuais e experimentais de jornalismo infantil impresso e online. Por outro lado e por curiosidade, são inúmeros os estudos sobre comunicação e crianças, como suas relações com a TV, jogos, videogames e publicidade. Não satisfeitos, fizemos ainda um levantamento sobre as disciplinas dos cursos brasileiros de Jornalismo e Comunicação Social – com habilitação em Jornalismo. Em abril de 2017, consultamos a lista do Cadastro e-MEC de Instituições e Cursos de Educação Superior, do Ministério da Educação, e, no mês seguinte, visitamos os portais de todas as universidades e conseguimos acesso a 225 grades curriculares. Infelizmente, nossa intuição estava correta: não encontramos disciplina alguma intitulada “Jornalismo Infantil”. Não entraremos na discussão sobre vantagens e desvantagens pedagógicas de disciplinas específicas de editorias. No entanto, entre as 427 aulas optativas e obrigatórias identificadas do gênero, nenhuma sequer parece abordar o jornalismo infantil. Tabela 5 – Disciplinas de jornalismo especializado nas graduações do Brasil Disciplinas Quantidade (%) Jornalismo Esportivo 39 (9,1%) Jornalismo Cultural 31 (7,2%) Jornalismo Econômico 30 (7%) Jornalismo Científico ou de Ciência e Tecnologia 27 (6,3%)Jornalismo Político ou Político e Internacional 22 (5,1%) 39 Jornalismo Ambiental ou de Sustentabilidade ou de Meio Ambiente 20 (4,6%) Jornalismo Internacional 14 (3,2%) Jornalismo Político e Econômico 10 (2,3%) Jornalismo Especializado 114 (26,7%) Optativa 65 (15,2%) Outras 55 (12,9%) Jornalismo Infantil 0 (0%) Total 427 (100%) É verdade que o jornalismo para crianças pode, sim, ser estudado, discutido e trabalhado em diversas outras matérias – como nas 114 de Jornalismo Especializado e nas outras 65 Optativas, das quais não encontramos as opções ofertadas –, porém o fato é que, segundo o levantamento, existem aulas de mais de 30 editorias diferentes, mas não de jornalismo infantil. 1.3. Outros conteúdos infantis na TV As emissoras brasileiras de TV produzem conteúdo infantil desde praticamente a chegada do aparelho no país, em 1950. O primeiro programa do gênero foi o Sítio do Picapau Amarelo, que foi ao ar em 1951, como teleteatro. Logo no ano seguinte a obra do escritor Monteiro Lobato ganhou sua primeira adaptação para formato série, feita pelo casal Tatiana Belinky e Júlio Gouveia e produzida pela antiga TV Tupi. Desde então, o Sítio teve novas versões ao longo das décadas e ainda é veiculado. Outra produção que merece destaque é Vila Sésamo. O original, Sesame Street, produzido pela CTW – Children‟s Television Workshop, foi ao ar em 1969, nas TVs públicas dos Estados Unidos. Sua primeira versão brasileira, com conteúdos nacionais e dublados, foi feita e veiculada pela TV Cultura e pela TV Globo a partir de 1972. Destinado a crianças de idade pré-escolar, o programa é um dos mais reconhecidos e estudados do mundo e ganhou reedições no Brasil em 2007 e 2017, sendo que esta última ainda faz parte da grade televisiva. Historicamente, a TV Cultura é renomada por sua programação cultural, educativa e infantil. São muitas as séries marcantes feitas para a criançada que atingiram 40 índices interessantes de audiência e tiveram prestígio. Algumas delas, além de Vila Sésamo: Bambalalão (1977), Curumim (1981), Catavento (1985), Revistinha (1988), Rá-Tim-Bum (1990), Mundo da Lua (1991), Glub-Glub (1991 e 2006), X-Tudo (1992), Castelo Rá-Tim-Bum (1994), Cocoricó (1996), Ilha Rá-Tim-Bum (2002); atualmente, Quintal da Cultura (2011) e Que Monstro Te Mordeu? (2014) são alguns dos destaques. Aliás, o próprio Castelo Rá-Tim-Bum, parte fundamental desta pesquisa, é considerado o principal programa televisivo infantil brasileiro, vencedor de prêmios internacionais e dono de audiências jamais imagináveis para uma televisão pública no país. Ele será abordado com mais detalhes no próximo capítulo. Também é impossível não citar os fenômenos das apresentadoras que surgiram nos anos 80 e perduraram entre as crianças até poucos anos atrás com seus inúmeros shows e programas de auditório. Entre elas, estão Xuxa, Angélica, Eliana, Simony, Mara Maravilha, Mariane, Pat, Jacky e Kira. Esse universo ainda é tema de debates e críticas sobre suas qualidades e seus impactos na garotada. Da mesma forma fazem parte desse contexto atrações de Sérgio Mallandro e do personagem e palhaço Bozo. Os desenhos animados são outro tipo de conteúdo massivamente presente na programação da TV nacional, principalmente com a exibição de inúmeras séries infantis de sucesso no mundo todo. Provavelmente a TV Globinho (2000 a 2015), da TV Globo, é um dos programas de exibição de desenhos mais lembrados pelas atuais gerações. No mesmo veículo, quem marcou época de 1993 a 1997 foi a TV Colosso. Já no SBT, ainda permanecem o Bom Dia & Companhia (desde 1993) e o Sábado Animado (desde 1955). Por ambas as emissoras nos anos 90 e início dos 2000, passou o Disney Club, produzido pela Disney. Em seguida, no SBT, ele deu lugar ao Disney CRUJ (2001 a 2003). Esses são apenas alguns exemplos. Vale reforçar que a televisão fazia parte de 97,1% dos domicílios brasileiros em 2015, segundo o IBGE (2016, p. 80), e, para falar um pouco da programação infantil gratuita mais atual, vamos nos apoiar no “Informe de Acompanhamento do Mercado de TV Aberta”, feito pela Ancine (2016a), em relação a 2015. O órgão analisou as veiculações das principais redes brasileiras, que, lembramos, são: Band, CNT, 41 Globo, Record, RedeTV!, SBT, TV Brasil, TV Cultura e TV Gazeta. Segundo a Ancine (2016a, p. 16), o gênero Infantil4 foi o oitavo mais presente na TV aberta em 2015, entre as 32 divisões, representando 4,7% ou 3.680 horas e 45 minutos da programação das emissoras. Veja o comparativo a seguir. Tabela 6 – Breve comparativo de gêneros televisivos na TV aberta em 2015 Gênero Tempo de exibição % Posição Religioso5 16.654 horas e 7 minutos 21,1% 1º Telejornal6 11.527 horas e 14 minutos 14,6% 2º Séries7 9.135 horas e 51 minutos 11,6% 3º Infantil 3.680 horas e 45 minutos 4,7% 8º Instrutivo8 1.139 horas e 12 minutos 1,4% 15º Educativo9 1.078 horas e 23 minutos 1,4% 16º Desenho Animado10 335 horas e 42 minutos 0,4% 22º Fonte: Ancine (2016a, p. 16). 4 Gênero Infantil: “Voltados ao público infantil (...), podem existir no formato de capítulos e seriados, game shows, musicais e programas de auditório, com entrevistas, desenhos, brincadeiras e atrações controlados por apresentador (a) ou personagem fantasiado; podem ainda ser entremeados por desenhos animados e séries de animação ou ficção brasileiros e/ou estrangeiros” (SOUZA, 2004, p. 116 e 117 apud ANCINE, 2016a, p. 46). 5 Gênero Religioso: “Formato tradicional é o de transmissão ao vivo ou de gravação dos encontros religiosos (missa, cultos ou rituais), com público ou auditório (normalmente, o próprio templo). A platéia, formada de fiéis, demonstra sua fé com hinos, orações e manifestações espontâneas ou solicitadas pelo líder (...)” (SOUZA, 2004, p. 167 apud ANCINE, 2016a, p. 50). 6 Gênero Telejornal: “‟Fórmula básica: um ou mais apresentadores leem textos e apresentam as reportagens externas realizadas pelos jornalistas, ao vivo ou gravadas‟; atende ao formato de noticiário, às vezes com a presença de „comentaristas especializados‟” (SOUZA, 2004, p. 152 apud ANCINE, 2016a, p. 48). 7 Gênero Séries: “Classificadas pelo seu formato e não por seu gênero, assim como os filmes, ocupam determinada fatia da programação geralmente em um mesmo horário; são compostas por vários episódios ligados a uma mesma trama ou núcleo de personagens; “servem a todos os públicos e o conteúdo varia do educativo ao policial” (SOUZA, 2004, p. 131 apud ANCINE, 2016a, p. 47). 8 Gênero Instrutivo: “Linguagem e objetivo claramente educacional, que instrui para uma atividade ou profissão”; “podem levar o telespectador a aumentar seus conhecimentos sobre determinado assunto, sem a pretensão ou o compromisso de obter qualificação em exames ou provas” (SOUZA, 2004, p. 154 apud ANCINE, 2016a, p. 49). 9 Gênero Educativo: “Aulas com linguagem televisiva”; teleaulas, exibidas “em horário classificado pelas próprias redes como pouco lucrativo”, “os quais auxiliam o sistema de ensino regular” (SOUZA, 2004, p. 153 e154 apud ANCINE, 2016a, p. 49). 10 Gênero Desenho Animado: “Predominantemente voltado ao público infantil, „o gênero é produzido em escala industrial e comercializado em pacotes, formando uma série de desenhos de curta, média ou longa duração (de três minutos a meia hora)‟” (SOUZA, 2004, p. 103 apud ANCINE, 2016a, p. 44). 42 Como curiosidade, vamos abordar um pouco mais as categorias Infantil e Desenho Animado. De acordo com a Ancine (2016a, p.16), o Infantil só não foi veiculado nas redes CNT e TV Gazeta. Sua maior presença foi no SBT (18,6% da programação da emissora, o principal gênero), na TV Cultura (17,3%, o segundo) e na TV Brasil (3,7%). Já o Desenho Animado apenas se fez presente no SBT (2,7%) e na TV Brasil (1,1%).De um modo geral, dados do Kantar IBOPE Media (2017) apontam que, em 2016, os brasileiros assistiram a 6 horas, 17 minutos e 5 segundos de televisão por dia. Em 2008, eram quase 5 horas e 9 minutos, e isso foi crescendo ano a ano. A pesquisa ainda diz que “(...) o tempo médio dedicado à TV pelos jovens de 4 a 11 anos subiu 2,9% de 2015 para 2016. Já entre 12 e 17 anos, o percentual foi ligeiramente maior, chegando a 3,1%” (KANTAR IBOPE MEDIA, 2017). Outra pesquisa do Kantar IBOPE Media (2014) afirma que os programas infantis estiveram em terceiro lugar na preferência das crianças de 4 a 11 anos (atrás de minisséries e novelas) – essa garotada passou 49 minutos e 51 segundos por dia assistindo ao gênero Infantil no primeiro semestre de 2014. Tal conteúdo foi apenas a sétima preferência entre 12 e 17 anos. Uma emissora que merece destaque no contexto da meninada é a TV Escola, uma televisão pública do Ministério da Educação voltada a professores e alunos. Criada em 1996, ela se institui como política pública e instrumento pedagógico, veiculando desenhos, documentários, entrevistas, reportagens e outros programas. É distribuída via satélite aberto, TVs por assinatura e na Internet, como também por meio de aplicativos de celulares. Possui um público potencial de 18 milhões de pessoas e está presente em cerca de 50 mil escolas do Brasil. Em seu site, há programas veiculados na TV, jogos, notícias etc. No entanto, a quantidade principal de conteúdo televisivo para crianças brasileiras está mesmo na TV fechada. Aliás, em julho de 2015, quase 30% dos domicílios brasileiros (19,64 milhões de assinantes) possuíam o serviço, segundo a Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações (2015). Entre os cerca de 250 canais pagos que constam registrados na Ancine (2017a), 18 são exclusivamente infantis 43 (incluindo suas versões em HD, independentemente de transmitirem ou não a mesma programação): Baby TV, Boomerang, Cartoon Network, Cartoon Network HD, Discovery Kids, Discovery Kids HD, Disney Channel, Disney Channel HD, Disney Junior, Disney XD, Gloob, Gloob HD, Nick HD, Nick Jr, Nickelodeon, Tooncast, TV Rá Tim Bum! e Zoomoo. Entre as seis categorias de canais11 apresentadas também pela Ancine (2016b, p. 44), a Infantil era a quarta com maior presença em 2015, cerca de 10%. Porém, sua importância é enorme para esse tipo de serviço, pois facilmente encontramos tais emissoras na liderança de audiência das TVs por assinatura, conforme a Ancine (2016b, p. 47 e 48). Os canais infantis disponíveis atualmente que estão há mais tempo no Brasil, segundo a Ancine (2015), são o Cartoon Network (1993), o Nickelodeon (1996) e o Discovery Kids (1998), todos dos Estados Unidos. Os únicos de origem brasileira são a TV Rá Tim Bum! (2004), da Fundação Padre Anchieta, e o Gloob e Gloob HD (ambos de 2012), da Globosat. Os mais recentes são o Zoomoo (2013) e as versões em HD do Discovery Kids (2013) e Cartoon Network (2014). Os conteúdos veiculados pelas emissoras infantis são principalmente desenhos animados, filmes e séries. Em seus sites e perfis nas redes sociais, é possível assistir a ao menos parte dessa programação e acessar diversos jogos. Naturalmente, também entendemos que há veiculações para crianças em outros canais. 1.4. Um pouco mais sobre Internet Esta segmentação de subcapítulos de acordo com cada meio de comunicação é útil para deixar um pouco mais claros os diferentes contextos e características de conteúdos infantis, mas é natural que todos conversem entre si. E é praticamente impossível isolar totalmente a Internet, pois, como vimos, a maioria absoluta das emissoras de TV, jornais, revistas etc. estão presentes na rede online. Inclusive, para se ter ideia, a população da Grande São Paulo consumiu uma média diária de 11 A Ancine (2016b, p. 44) agrupou os canais em seis categorias, aqui em ordem de maior presença em 2015: Filmes & séries (37%), Esportes (21%), Variedades (20%), Infantil (10%), Documentário (8%) e Notícias (5%). 44 1h e 38 minutos de conteúdo televisivo em dispositivos móveis, como celulares e tablets, entre janeiro e outubro de 2016, segundo o Kantar IBOPE Media (2016a). Então, vamos trazer agora um pouco mais de informações e panoramas desse ambiente virtual. De um modo geral, o Kantar IBOPE Media (2016b) revela que usar as redes sociais e ver e/ou baixar vídeos foram as principais atividades que brasileiros entre 12 e 75 anos fizeram na Internet, no período analisado de 2016. O estudo “Retratos da Leitura no Brasil”, feito pelo Instituto Pró-Livro (2016), em relação a 2015, mostra algumas especificidades. As principais atividades das crianças de 5 a 10 anos que usaram a Internet nos últimos três meses em relação à pesquisa foram jogar (69%), assistir a vídeos, filmes ou TV online (58%) e escutar música (48%),12 segundo o Instituto Pró-Livro (2016, p. 103). Já entre os pequenos de 11 a 13 anos, suas ocupações foram jogar (59%), trocar mensagens no WhatsApp ou no Snapchat (57%) e assistir a vídeos, filmes ou TV online (55%),13 também conforme o Instituto Pró-Livro (2016, p. 103). Vamos nos ater agora à produção e consumo de vídeos, mais especificamente no YouTube, principal plataforma de vídeos do mundo virtual. Segundo a pesquisa “Geração YouTube”, de Corrêa (2016, p. 8), em 2016 havia 230 canais infantis no YouTube Brasil – divididos em sete categorias –, 120 a mais que em 2015. 12 As demais atividades da meninada entre 5 e 10 anos na Internet, segundo o Instituto Pró-Livro (2016, p. 103): trocar mensagens no WhatsApp ou no Snapchat (43%), enviar ou receber e-mails (24%), acessar ou participar de redes sociais, blogs ou fóruns (23%), trabalhar ou buscar informações sobre trabalho ou profissão (17%) e fazer compras (8%). 13 Suas outras atividades foram: escutar música (51%), acessar ou participar de redes sociais, blogs ou fóruns (39%), enviar ou receber e-mails (33%), trabalhar ou buscar informações sobre trabalho ou profissão (17%) e fazer compras (12%), também de acordo com o Instituto Pró-Livro (2016, p. 103). 45 Gráfico 1 – Quantidade de canais infantis no YouTube Brasil por categoria Fonte: Corrêa (2016) Para se ter uma noção de tamanho, esses 230 canais somavam 211,6 milhões de inscritos e, naquele último ano, seus vídeos tiveram 52,1 bilhões de visualizações, de acordo com Corrêa (2016, p. 15 e 30). Entre os 100 maiores canais do YouTube Brasil, 48 eram infantis, também conforme Corrêa (2016, p. 13), mostrando a relevância do nicho das crianças. O Google (2017), proprietário do YouTube, afirma que em 2016 as pessoas do mundo todo assistiram a 1 bilhão de horas de vídeos por dia na plataforma. E uma prova da importância do fenômeno no Brasil foi a chegada do YouTube Kids no país em 30 de junho de 2016. O aplicativo feito para a garotada foi lançado no exterior em 2015 e teve 10 milhões de downloads em seu primeiro ano. Segundo o Google (2016), ele reúne os conteúdos infantis disponíveis no YouTube e ainda oferece diversas opções de controle e segurança para os pais ou responsáveis, como configurações de busca, senha e acesso de acordo com a faixa etária e delimitação de tempo de uso do app. 1.5. Cinema para crianças Games – Minecraft, vlogs de games e entretenimento e gameplays (58) 25% Programação de TV, desenhos e novela infantil (35) 15% Desenhos e musicais infantis – não disponíveis na TV (35) 15% Propagandas de brinquedos, unboxi ng, vídeo de massinhas e de brincadeiras, histor inhas a partir de brincadeiras (26) 11% YouTuber Mirim (61) 26% YouTuber Teen (14) 7% Educativos (1) 1% Canais infantis no YouTube Brasil 46 A oferta para crianças no cinema também
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