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TCC Heron Ledon Pereira

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Prévia do material em texto

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
Heron Ledon Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jornalismo Rá-Tim-Bum: uma proposta de vínculos 
entre imprensa, escola e criança 
 
 
 
 
 
 
 
Mestrado em Comunicação e Semiótica 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
 
 
 
 
 
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
PUC-SP 
 
 
 
Heron Ledon Pereira 
 
 
 
 
 
 
Jornalismo Rá-Tim-Bum: uma proposta de vínculos 
entre imprensa, escola e criança 
 
 
 
 
Mestrado em Comunicação e Semiótica 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Banca 
Examinadora da Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo, como exigência 
parcial para obtenção do título de Mestre 
em Comunicação e Semiótica, sob 
orientação da Profa. Dra. Lucia Isaltina 
Clemente Leão. 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Banca Examinadora 
 
 
_________________________ 
 
_________________________ 
 
_________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Esta pesquisa de mestrado foi realizada 
com bolsa da Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esta pesquisa a todas as 
crianças. Portanto, também àquelas que 
um dia deixamos de ser. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
Os agradecimentos são infinitos e complexos ao ponto de não saber onde começam 
e terminam. Se é que essas delimitações existem. 
 
Agradeço, então, a Deus e aos amigos espirituais que tanto sopraram caminhos e 
palavras e martelaram coisas na consciência. É curioso ver e sentir como 
aconteceram os processos da pesquisa e da vida nesse tempo. 
 
Agradeço também a meus pais Berenice Ledon e José Carlos Pereira, pois todo o 
apoio e trajetória com eles está de alguma forma presente no trabalho e nas ideias. 
Gratidão a minha tia Lilia Ledon, pelas revisões, histórias, conversas e críticas sobre 
a humanidade. Menciono ainda as presenças inspiradoras de meus falecidos avós 
Gilbert Ledon e Symilde Schenk Ledon. 
 
Os professores do curso de Comunicação e Semiótica da PUC-SP foram 
fundamentais. Agradeço à Profa. Dra. Lucia Isaltina Clemente Leão pela orientação, 
pontuações cirúrgicas, aulas e ensinamentos; ao Prof. Dr. Norval Baitello Junior pelo 
conhecimento transmitido, reflexões provocadas, acolhimento e carinho 
indescritíveis; à Profa. Dra. Cecilia Almeida Salles não só pelas disciplinas, ideias e 
contribuições na Qualificação, mas também pelos elos afetivos e histórias sobre uma 
parte da família Ledon. Agradecimento também ao Prof. Dr. Silvio Henrique Vieira 
Barbosa pela aproximação e informações no II Simpósio Internacional Jornalismo 
em Ambientes Multiplataforma, em 2016, na ESPM-SP, como também pelas 
sugestões e avaliações durante o processo de pesquisa. 
 
A relação com os colegas de curso foi surpreendente e enriquecedora. A troca de 
ajuda, os debates, as sugestões e os conselhos foram totalmente contra as batalhas 
de egos de que tanto se fala no ambiente acadêmico. Agradeço a todos com os 
quais convivi nesse sentido. E, para não correr o risco de me esquecer de citar 
alguém, faço um agradecimento especial a Ana Catarina Santilli, minha grande 
amiga das salas, corredores e rampas da PUC. A aproximação dos temas das 
pesquisas, as discussões, as reflexões, as aspirações e o carinho foram valiosos e 
estão nestas páginas. 
 
 
 
 
 
 
Minha lembrança e agradecimento vão também àquelas que produziram comigo o 
Trabalho de Conclusão de Curso de jornalismo, em 2014, pela Universidade 
Presbiteriana Mackenzie: a jornalista Natália Melo, a publicitária Ana Paula Molina e 
a Profa. Dra. Denise Paiero, nossa orientadora, também Mestra e Doutora em 
Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. A reportagem “Revivendo o Castelo Rá-
Tim-Bum” é uma das origens desta pesquisa de Mestrado. 
 
Agradeço a todas as outras pessoas, colegas e amigos que contribuíram para minha 
construção pessoal e profissional. Sobretudo as experiências como jornalista na 
Sociedade Esportiva Palmeiras, onde tive meu grande mestre Marcelo Cazavia, e na 
Burson-Marsteller serviram de motivação e estão impressas aqui. 
 
Agradeço também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
(CAPES) pela bolsa e investimento para este trabalho acontecer. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Deixai que venham a mim as 
criancinhas”. 
Jesus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo 
 
Esta pesquisa investiga o jornalismo infantil brasileiro nos últimos anos e propõe 
uma maior aproximação entre imprensa, escola e criança. Para isso, observa-se 
como o programa Castelo Rá-Tim-Bum pode servir de inspiração para esse tipo de 
jornalismo no país. Exibido ineditamente de 1994 a 1997, o Castelo é uma das 
principais séries infantis da história da TV brasileira, com altos índices de audiência 
e reconhecimento internacional de especialistas. Produzido pela TV Cultura, voltou a 
ganhar destaque no cenário cultural do país em 2014, quando completou 20 anos de 
existência, com exposições, novas peças teatrais e matérias nos veículos de 
comunicação. Este trabalho traz panoramas sobre o histórico e exemplos recentes 
de jornalismo para crianças – inclusive nas universidades – e a produção de 
conteúdo infantil na TV, Internet, cinema, rádio, música, literatura, HQs e teatro. 
Também apresenta resumos dos principais programas infantis da TV Cultura antes e 
depois do Castelo. Sobre a série, abordam-se detalhes dos personagens, quadros e 
cômodos do recinto, bem como produtos antigos e recentes frutos da atração. A 
análise aponta elementos que possam auxiliar o jornalismo para a garotada e com 
ela. Destacam-se seis tópicos: assunto de criança; o papel do jornalista; apuração e 
descoberta; brincar; sons; criança quer falar. Utiliza-se o entendimento de 
comunicação como construção de vínculos, segundo Baitello Junior. O conceito de 
ecologia da comunicação, conforme Romano, baseia a reflexão sobre práticas 
comunicacionais que envolvem a meninada. Compreende-se o campo da 
educomunicação a partir de Soares. E as ideias de Leão sobre hipermídia ajudam a 
esboçar um exemplo de aplicação dos resultados. 
 
Palavras-chave: jornalismo infantil; Castelo Rá-Tim-Bum; ecologia da comunicação; 
educomunicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Abstract 
 
This research investigates Brazilian children's journalism in recent years and 
proposes a closer relationship between the press, school and children. Therefore, 
this study reveals how the TV program Castelo Rá-Tim-Bum can serve as an 
inspiration for this type of journalism in the country. Unveiled from 1994 to 1997, 
Castelo is one of the leading children's series in the history of Brazilian TV, with high 
ratings and international recognition of specialists. Produced by TV Cultura, it 
returned to gain prominence in the cultural scene of the country in 2014, when it 
completed 20 years of existence, with exhibitions, new plays and materials in the 
media. This work brings together historical and recent examples of journalism for 
children – including universities – and the production of children's content on TV, 
Internet, cinema, radio, music, literature, comics and theater. It also presents 
summaries of the main children's programs of TV Cultura before and after Castelo. 
About the series, this dissertation covers details of the characters, paintings and 
rooms of the enclosure, as well as old products and recent fruits of attraction. The 
analysis points out elements that can contribute to journalism for children and with 
them. There are six topics: children's issues; the role of the journalist; investigation 
and discovery; playfulness; sounds; children want to talk. The understanding of 
communication is used as link building,according to Baitello Junior. The concept of 
ecology of communication, according to Romano, bases the reflection on 
communication practices that involve children. It is understood the field of 
educommunication from Soares, and the ideas of Leão about hypermedia help 
sketch an example of how the results are applied. 
 
Keywords: children‟s journalism; CasteloRá-Tim-Bum; communication ecology; 
educommunication. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de tabelas 
 
Tabela 1 – Recorte do trabalho infantil brasileiro ...................................................... 24 
Tabela 2 – Acesso a serviços básicos....................................................................... 25 
Tabela 3 – Aparelhos de comunicação nos domicílios .............................................. 25 
Tabela 4 – Artigos sobre jornalismo infantil na base de dados da Intercom.............. 37 
Tabela 5 – Disciplinas de jornalismo especializado nas graduações do Brasil ......... 38 
Tabela 6 – Breve comparativo de gêneros televisivos na TV aberta em 2015 .......... 41 
Tabela 7 – Panorama do contexto social e da produção de conteúdo infantil no Brasil ... 50 
Tabela 8 – Lista de episódios e temas do Castelo .................................................... 93 
Tabela 9 – Principais papéis e atividades de Penélope por episódio ........................ 95 
Tabela 10 – Histórias de Morgana no quadro Feitiçaria ............................................ 97 
Tabela 11 – Experimentos de Tíbio e Perônio .......................................................... 99 
Tabela 12 – Temas do quadro do Telekid ............................................................... 100 
Tabela 13 – Disfarces do Dr. Abobrinha.................................................................. 101 
Tabela 14 – Senhas para entrar no Castelo ............................................................ 103 
Tabela 15 – Charadas e trava-línguas de Mau e Godofredo................................... 104 
Tabela 16 – Desafios de Lana e Lara ..................................................................... 105 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de figuras 
 
Figura 1 – Primeiras páginas do The Lilliputian Magazine ........................................ 26 
Figura 2 – Duas páginas da revista, indicando o projeto gráfico ............................... 27 
Figura 3 – Capas de O Tico-Tico .............................................................................. 29 
Figura 4 – Páginas de O Tico-Tico ............................................................................ 29 
Figura 5 – Parte final da vinheta de abertura e encerramento do Castelo ................ 68 
Figura 6 – Maquete do Castelo ................................................................................. 71 
Figura 7 – Parte dos personagens ............................................................................ 75 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lista de gráficos 
 
Gráfico 1 – Quantidade de canais infantis no YouTube Brasil por categoria ............. 45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sumário 
 
Introdução ................................................................................................................ 15 
1. Jornalismo infantil brasileiro ............................................................................. 21 
1.1. Jornalismo infantil ........................................................................................... 26 
1.1.1. Repórter Rá Teen Bum ............................................................................. 31 
1.2. Jornalismo infantil no meio acadêmico ........................................................... 34 
1.3. Outros conteúdos infantis na TV ..................................................................... 39 
1.4. Um pouco mais sobre Internet ........................................................................ 43 
1.5. Cinema para crianças ..................................................................................... 45 
1.6. Rádio e música infantil .................................................................................... 47 
1.7. Literatura infantil e HQs................................................................................... 48 
1.8. Teatro infantil .................................................................................................. 49 
1.9. Percepções e caminhos .................................................................................. 49 
2. Bum! Bum! Bum! ................................................................................................. 56 
2.1. TV Cultura ....................................................................................................... 56 
2.1.1. Programas antes e depois do Castelo ...................................................... 57 
2.2. Família Rá-Tim-Bum ....................................................................................... 65 
2.3. O Castelo ........................................................................................................ 67 
2.3.1. História ...................................................................................................... 68 
2.3.2. Cômodos .................................................................................................. 69 
2.3.3. Personagens ............................................................................................. 71 
2.3.4. Quadros .................................................................................................... 76 
2.3.5. Outros produtos e narrativas transmidiáticas ............................................ 79 
2.3.6. 20 anos e atualmente ............................................................................... 81 
2.4. Pesquisas sobre o Castelo.............................................................................. 83 
3 Jornalismo Rá-Tim-Bum ...................................................................................... 87 
3.1. Analisando o programa ................................................................................... 89 
3.1.1. Temas como pautas ................................................................................. 92 
3.1.2. Penélope, mais do que repórter ................................................................ 94 
3.1.3. Contação de histórias ............................................................................... 97 
3.1.4. Mais informações e curiosidades .............................................................. 99 
3.1.5. Apuração ................................................................................................ 101 
 
 
 
 
 
3.1.6. Jogos ...................................................................................................... 102 
3.1.7. Músicas ................................................................................................... 107 
3.2. Bases do Jornalismo Rá-Tim-Bum ................................................................ 107 
3.3. Esboço de uma aplicação ............................................................................. 110 
Considerações finais ............................................................................................ 113 
Referências bibliográficas .................................................................................... 118 
 
 
15 
 
Introdução 
 
A escolha de pesquisar sobre jornalismo infantil parte principalmente de reflexões 
pessoais sobre os papéis e responsabilidades de um jornalista, além do apreço por 
conteúdos destinados a menores de idade. A percepção prévia, como consumidor e 
integrante do mercado de trabalho, é de praticamente não haver atividade 
jornalística para esse público. O primeiro questionamento é: o que o jornalismo 
brasileiro tem feito para crianças? 
 
Outra motivação crucial foi o Trabalhode Conclusão de Curso, de 2014, em 
jornalismo, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, intitulado “Revivendo o 
Castelo Rá-Tim-Bum”. Foi uma reportagem em formato de site sobre os 20 anos de 
lançamento de um dos programas televisivos infantis mais importantes do país. 
Pelas entrevistas com os artistas e profissionais, foi possível perceber a forte crítica 
sobre a produção de conteúdo nacional para a garotada após a série. O projeto foi 
feito com a jornalista Natália Melo, teve ilustrações e design da publicitária Ana 
Paula Molina e orientação da Profa. Dra. Denise Paiero. 
 
As primeiras pesquisas já revelaram a dificuldade de encontrar exemplos atuais de 
jornalismo infantil. Logo, a indagação principal se transformou em: o que o 
jornalismo pode fazer para as crianças? Tentamos buscar referências em produções 
digitais para adultos, em veículos jornalísticos infantis, na educação e na literatura 
infantil, mas nada nos satisfez de forma plena. Naturalmente, o Castelo Rá-Tim-Bum 
despontou como um caminho seguro, apesar de parecer desconexo com o tema. 
 
De fato, o Castelo não é um programa jornalístico, mas o desafio foi realmente este: 
descobrir como ele pode ajudar a pensar e produzir jornalismo infantil atualmente no 
Brasil. Sua magnitude e relevância para a história midiática e cultural do país é 
inegável e já se sustenta. Não é à toa que a atração se mantém viva no cotidiano 
das pessoas, com reprises, exposições e entrevistas. Além disso, buscar uma 
referência ao jornalismo fora do próprio jornalismo não deixa de ser uma crítica às 
atividades e cenário da profissão, que não andam bem há alguns anos, como é de 
conhecimento público. 
 
16 
 
 
 
Algumas buscas mais aprofundadas e as primeiras análises da série lapidam a 
questão central: o que o jornalismo pode fazer para as crianças e com elas? 
Percebe-se a necessidade de colocar a meninada como protagonista no processo 
de produção de conteúdo e conhecimento. Esta pesquisa fala justamente sobre essa 
vinculação entre imprensa e criança e vê a escola como um dos ambientes mais 
propícios para isso acontecer. 
 
Então, esse trabalho se destina a jornalistas, comunicadores e comunicólogos, bem 
como a pesquisadores, pedagogos e professores do ensino básico. Acreditamos que 
essa troca entre profissionais da comunicação e educação pode render bons frutos a 
eles mesmos e, principalmente, às crianças. Os estudantes de ambas as áreas, com 
suas ideias e vontades emergentes, também são bem-vindos. 
 
No entanto, antes de chegar à análise e a seus resultados, precisamos entender e 
mapear – conforme Lucia Leão (2011) – o contexto social e midiático da garotada, a 
que se destina o primeiro capítulo. Apresentamos algumas definições e conceitos de 
criança apresentados pelos teóricos Philippe Ariès (2011), Jean-Jacques Rousseau 
(2004) e Neil Postman (1999), pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 
(2012) e pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) e Dicionário do 
Castelo Rá-Tim-Bum (1997). 
 
Pontuamos o que é jornalismo, também segundo o Dicionário Houaiss da Língua 
Portuguesa (2001), e jornalismo infantil, de acordo com a pesquisadora Juliana 
Doretto (2013). Ainda trazemos o entendimento de comunicação, pois, afinal, é disso 
que o trabalho trata. Vicente Romano (2004) e Norval Baitello Junior (2008) nos 
esclarecem que comunicação é um ato de vínculo, o que serve de base fundamental 
para toda a pesquisa. 
 
Em seguida, levantamos alguns dados sociais de crianças e da população brasileira, 
conforme a “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD) de 2015, 
elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 
2016. Vemos alguns números sobre acesso à educação e a serviços básicos, como 
água potável, energia elétrica, coleta de lixo etc. Há estatísticas sobre trabalho 
17 
 
 
 
infantil e presença de aparelhos de comunicação nos lares do país. E ainda 
tomamos ciência de que naquele ano havia 43 milhões de pessoas entre 0 e 14 
anos de idade (21% da população). Nosso foco é a faixa etária de 6 a 12 anos, que 
abrange aproximadamente os sete primeiros anos do Ensino Fundamental. 
 
Feita essa contextualização inicial, partimos especificamente para o jornalismo 
infantil. Descobrimos que provavelmente a revista inglesa The Lilliputian Magazine 
foi a primeira produção do gênero no mundo – circulando entre 1751 e 1752 –, 
segundo Carmen Bravo-Villasante (1963, p. 77 apud ARROYO, 2011, p. 180). Já 
Leonardo Arroyo (2011) mostra a importância dos veículos infantis e até amadores 
do Brasil durante os anos de 1800 até surgir, em 1905, a revista O Tico-Tico, que 
até hoje é considerada o maior exemplo do país para crianças. 
 
Na sequência, apresentamos o que há de jornalismo infantil na atualidade. Nossas 
buscas livres na Internet e em listas oficiais dos principais veículos brasileiros 
comprovaram a escassez do setor. Encontramos apenas 13 jornais impressos e/ou 
online, duas revistas e um programa de TV. Os destaques são o Jornal Joca, as 
revistas Recreio e Ciência Hoje das Crianças e o programa Repórter Rá Teen Bum. 
 
Partimos, então, para o universo acadêmico. No estado da arte, identificamos 
somente cinco teses e dissertações, 16 artigos e outros poucos exemplos de 
trabalhos sobre jornalismo infantil. Não satisfeitos, acessamos 225 grades 
curriculares de cursos brasileiros de jornalismo e não achamos uma disciplina 
sequer que leve tal nome. Em contrapartida, são diversas as matérias de jornalismo 
esportivo, econômico, político, cultural, científico etc. 
 
Continuamos a contextualização abrindo para a produção e oferta de conteúdo 
infantil recente no Brasil. Focamos principalmente a televisão e Internet – em razão 
do Castelo e da expansão digital –, mas também trouxemos dados sobre cinema, 
rádio, música, literatura, histórias em quadrinhos e teatro. 
 
Por fim, elaboramos uma tabela sinóptica de todo esse levantamento e completamos 
com mais algumas conceituações que nos ajudam a entender o panorama 
18 
 
 
 
apresentado. O entendimento de complexidade, de Edgar Morin (2005), nos ajuda a 
compreender as diversas relações discutidas na pesquisa. Já a ideia de ecologia da 
comunicação, trabalhada por Vicente Romano (2004), também serve de base para 
refletir sobre o enlace entre meios de comunicação e criança e para dar 
continuidade à proposta de sugerir inspirações ao jornalismo infantil. 
 
O Castelo Rá-Tim-Bum é o protagonista do segundo capítulo. Começamos com um 
breve histórico da TV Cultura e depois apresentamos pequenos resumos dos 
principais programas infantis feitos pela emissora antes e depois do Castelo – 
praticamente todos premiados e com grande importância para a trajetória da TV 
brasileira. O objetivo é compreender o contexto de produção para crianças, que é 
um dos destaques da TV Cultura. Em seguida, exploramos mais um pouco as 
atrações que levam o nome “Rá-Tim-Bum”. 
 
Chegamos ao Castelo e apresentamos seu surgimento e enredo. Então, detalhamos 
a série com descrições de todos os personagens, quadros e cômodos do recinto – 
afinal, consideramos que o próprio Castelo é o protagonista. Também discorremos 
sobre outros produtos lançados a partir do programa e o forte retorno da atração nos 
dias de hoje, após a comemoração dos 20 anos de seu lançamento, em 2014. Com 
mais um estado da arte, descobrimos não haver pesquisas científicas que 
relacionam o Castelo ao jornalismo infantil. 
 
O último capítulo é reservado à análise do Castelo Rá-Tim-Bum, de modo a extrair 
elementos que sejam inspiradores para fazer esse tipo de jornalismo. Buscamos e 
revelamos características do programa que de alguma forma possuem relação com 
o jornalismo. Então, trazemos tabelas detalhadas com temas dos capítulos, de 
determinados quadros e de funções de certos personagens. E elas podem servir de 
referência também a outraspesquisas acadêmicas e a práticas pedagógicas. 
 
Assim, elencamos seis tópicos que, a partir da análise e discussão, consideramos 
relevantes para um contexto de produção de jornalismo infantil. Eles foram 
livremente intitulados: assunto de criança; o papel do jornalista; apuração e 
descoberta; brincar; sons; criança quer falar. Finalizamos esboçando uma possível 
19 
 
 
 
aplicação desses resultados em uma parceria entre veículo de comunicação e 
escola, utilizando também recursos digitais, conforme conceitua Lucia Leão (2005). 
 
Já nas considerações finais pontuamos novamente as principais descobertas e 
conclusões frutos da pesquisa. Contamos um pequeno relato prático de situações 
vividas em duas escolas, que ajuda a materializar um pouco do que foi discutido. E 
reforçamos a necessidade de dar voz às crianças, bem como de resgatar em nós, 
adultos, características perdidas da infância. 
 
O foco deste trabalho é o jornalismo infantil, envolvendo, certamente, a comunicação 
e a garotada. Apesar de acreditarmos que a escola pode ser um ambiente favorável 
para acontecer a vinculação entre imprensa e criança, não exploramos 
conceitualmente fatores que envolvem a educação, pois isso poderia expandir 
demais a pesquisa e fugir do recorte escolhido. Ainda assim, no terceiro capítulo 
explicamos pontualmente que a educomunicação, segundo Ismar de Oliveira Soares 
(2004, 2009 e 2011), é uma área que justamente trabalha esse ponto de encontro 
entre educação e comunicação. Portanto, vemos como essa é uma das 
possibilidades para o jornalismo infantil. 
 
Também optamos por não entrar em questões técnicas, econômicas ou políticas 
quanto a todas as aplicações de nossos resultados na prática jornalística. Ou seja, 
não exploramos os universos da publicidade infantil e da legislação, por exemplo. A 
proposta desta pesquisa não daria conta de absorver temas tão complexos, 
delicados e discutidos por pesquisadores, profissionais e ativistas sociais. Aqui, 
apenas apontamos a necessidade de vinculação entre imprensa e crianças, mas 
obviamente isso não pode ser feito de um modo prejudicial à garotada ou que a 
explore no pior sentido da palavra. Aliás, a ecologia da comunicação, de acordo com 
Romano (2004), nos conscientiza sobre isso. 
 
Ainda que façamos tal sugestão de vinculação, não trazemos detalhes teóricos 
sobre vínculos. Por uma questão de recorte e delimitação, nos atemos ao 
entendimento de comunicação como um ato vinculativo, como trata Baitello Junior 
(2008). Acreditamos que a interessante análise dos elos criados a partir de uma 
20 
 
 
 
aproximação maior entre imprensa e criança renderia outra pesquisa, talvez até uma 
continuação desta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
 
1. Jornalismo infantil brasileiro 
 
O primeiro passo para falar de jornalismo infantil é compreender o que é jornalismo1 
em si, para evitar possíveis dúvidas e sensos comuns. O Dicionário Houaiss da 
Língua Portuguesa (2001) o define como 
 
“atividade profissional que visa coletar, investigar, analisar e transmitir 
periodicamente ao grande público, ou a segmentos dele, informações da 
atualidade, utilizando veículos de comunicação (jornal, revista, rádio, 
televisão etc.) para difundi-las” (HOUAISS, 2001, p. 1687). 
 
Doretto (2013, p. 14) diz que “o jornalismo direcionado a crianças também pode falar 
sobre qualquer assunto, desde que se respeite o estágio de desenvolvimento 
cognitivo dos leitores” (DORETTO, 2013, p. 14). Assim, podemos entender que 
jornalismo infantil fala para crianças e não somente de crianças – ao contrário, por 
exemplo, do jornalismo esportivo, cujo enfoque é tratar de esportes não apenas se 
dirigir a esportistas. A mesma lógica ocorre nos jornalismos econômico, político, de 
meio ambiente, automotivo, científico, entre outros. Neste trabalho, porém, vamos 
além para sugerir uma prática jornalística com a garotada. 
 
Portanto, pesquisar sobre jornalismo infantil no Brasil requer cuidados e atenção 
redobrados devido a especificidades do universo das crianças e escassez de 
trabalhos acadêmicos e atividades profissionais na área, sobretudo em comparação 
a outros temas. Dessa forma, devemos observar o atual momento de produção de 
conteúdo para crianças no país. Não é nosso objetivo traçar uma história totalmente 
detalhada ou tentar descrever absolutamente tudo o que há para a meninada nos 
dias de hoje – e nem teríamos tempo para isso neste projeto –, mas mostrar um 
panorama que ajude a situar o leitor e nosso objeto no contexto brasileiro. 
 
 
1
 É comum ver o jornalismo ranqueado em diversas pesquisas como uma das piores e mais 
perigosas profissões do mundo. Dados da ONG internacional Repórteres Sem Fronteiras (2017) 
apontam que o Brasil está na 103ª colocação no Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa de 2017, 
entre 180 países, e é a segunda nação da América Latina com mais jornalistas assassinados nos 
últimos cinco anos – 21 casos, atrás somente do México. Já o relatório “Violações à Liberdade de 
Expressão” de 2017, feito pela ABERT (2017) – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e 
Televisão, revela que, em 2016, houve 172 registros de agressões físicas, atentados, ataques, 
ameaças e intimidações a jornalistas do país, além de no mínimo 261 profissionais e veículos de 
comunicação que passaram por algum tipo de violência não letal. 
22 
 
 
 
Antes disso, porém, é preciso saber de que criança e de que infância estamos 
falando. Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), criança é um 
“ser humano que se encontra na fase da infância, indivíduo que se encontra na fase 
que vai do nascimento à puberdade” (HOUAISS, 2001, p. 868). Já infância é, “na 
vida do ser humano, período que vai do seu nascimento ao início da adolescência” 
(HOUAISS, 2001, p. 1611). Para dar um caráter um pouco mais lúdico a essas 
definições, utilizamos o Dicionário do Castelo Rá-Tim-Bum (1997), que faz parte de 
alguns dos livros e produtos frutos do programa televisivo homônimo. Criança é “um 
ser humano com pouca idade. Pode ser menino ou menina” (CHAIB e 
ROSENBERG, 1997, p 72). O personagem Nino completa na ilustração do verbete: 
“Tenho 300 anos, mas ainda sou criança” (CHAIB e ROSENBERG, 1997, p. 72, 
grifo do autor).2 
 
O art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que “considera-se criança, 
para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e 
adolescente, aquela entre doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 2012, p. 11). 
Nesta pesquisa, mantemos como foco principal a faixa etária dos 6 aos 12 anos, 
idade principal dos telespectadores do Castelo Rá-Tim-Bum, base desse trabalho. É 
natural, porém, que em alguns casos as análises e conclusões possam também 
incluir a garotada um pouco mais nova ou mais velha, de forma contextual. 
 
E tais compreensões são recentes na história ocidental. Segundo Philippe Ariès 
(2011), em seu livro “L‟enfant et la vie familiale sous l‟Ancien Régime” (1960) – 
“História social da criança e da família”, na edição brasileira –, a ideia de infância 
não existia na Idade Média. Para o historiador francês, foi a partir dos anos 1200, 
com mais intensidade entre 1500 e 1700, que a separação até mesmo sentimental 
entre criança e adulto ocorreu, com a ida às escolas, o uso de termos específicos no 
vocabulário e em documentos e representações artísticas. 
 
“A descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua 
evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia dos 
séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu desenvolvimento tornaram-se 
 
2
 Uma breve explicação: na série, Nino tem 300 anos e é considerado criança porque pertence a uma 
família de feiticeiros. Como comparação, seu tio Victore sua tia-avó Morgana são adultos e têm 3 mil 
e 6 mil anos, respectivamente. No próximo capítulo, daremos mais detalhes da trama e de outros 
produtos oriundos do Castelo Rá-Tim-Bum. 
23 
 
 
 
particularmente numerosos e significativos a partir do fim do século XVI e 
durante o século XVII” (ARIÈS, 2011, p. 28). 
 
Também na discussão a respeito do conceito de criança, é importante resgatar as 
ideias de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). O filósofo suíço afirma que as 
crianças possuem características naturais de aprendizado e desenvolvimento que 
geralmente não são respeitadas pelos adultos ao longo dos anos. “A infância tem 
maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias; nada é menos sensato 
do que querer substituir essas maneiras pelas nossas (...)” (ROUSSEAU, 2004, p. 
91). E o autor completa, referindo-se ao que chama de primeira educação, ou seja, à 
relação dos mais velhos com os pequenos de até 12 anos: “Portanto, a primeira 
educação deve ser puramente negativa. Consiste não em ensinar a virtude ou a 
verdade, mas em proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro” 
(ROUSSEAU, 2004, p.97). 
 
Com relação aos estudos envolvendo a imprensa, Neil Postman (1931-2003) aponta 
que a invenção da prensa tipográfica, em torno de 1450 – e a maior disseminação 
de livros e escritos a partir disso – contribuiu para a ideia de infância. “A imprensa 
criou uma nova definição de idade adulta baseada na competência de leitura, e, 
consequentemente, uma nova concepção de infância baseada na incompetência de 
leitura” (POSTMAN, 1999, p. 32, grifo do autor). Por outro lado, o pesquisador 
americano também faz uma crítica aos limites da existência da infância e afirma que 
os meios eletrônicos de comunicação, principalmente a televisão, com início na 
primeira metade dos anos 1900, induzem a seu desaparecimento. O autor diz que a 
TV “destrói a linha divisória entre infância e idade adulta” (POSTMAN, 1999, p. 94) 
ao proporcionar um acesso irrestrito das crianças a quaisquer conteúdos, incluindo 
os do mundo adulto, sem exigir a necessidade de conhecimentos básicos ou 
técnicos – como seria preciso dominar a leitura para ler um livro, por exemplo. 
 
É necessário esclarecer ainda a ideia de comunicação utilizada nesta pesquisa, visto 
que o assunto já foi iniciado mais especificamente e será aprofundado em breve. 
Segundo Romano, “a comunicação é o processo e o resultado da relação, mediada 
pelo intercâmbio de informações e sentimentos, entre indivíduos (humanos), seus 
grupos e organizações sociais etc.” (ROMANO, 2004, p. 59, tradução nossa). E o 
24 
 
 
 
autor completa: “Os processos de comunicação humana não só possibilitam a 
conexão, mas também a vinculação” (ROMANO, 2004, p. 63, tradução nossa). Aliás, 
Baitello Junior (2008, p. 100) segue a mesma linha de raciocínio e diz que: 
 
“(...) não mais se pode compreendê-la como simples conexão ou troca de 
informações, mas necessariamente é preciso ver nela uma atividade 
vinculadora entre duas instâncias vivas. Não será, portanto, a entidade 
quantificável chamada „informação‟ o parâmetro para considerar as metas 
de um processo de comunicação. Muito antes e mais abrangentemente, 
todo processo de comunicação pretende estabelecer e manter vínculos” 
(BAITELLO JUNIOR, 2008, p. 100). 
 
É importante também conhecer alguns dados sobre as crianças brasileiras, e para 
tanto nos baseamos na “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios” (PNAD) de 
2015, elaborada pelo IBGE (2016) – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 
Naquele ano, 21% da população brasileira, ou aproximadamente 43 milhões de 
indivíduos, tinham entre 0 e 14 anos – sendo 30,1 milhões de 5 a 14 anos, de 
acordo com o IBGE (2016, p. 37). 
 
Sobre a taxa de escolarização, o IBGE (2016, p. 47) estima que 98,6% das crianças 
entre 6 e 14 anos estudavam, e os números caíam para 85% entre 15 e 17 anos. 
Entre os estudantes, 85,3% do Ensino Fundamental, 88,1% do Ensino Médio e apenas 
25,3% do Superior pertenciam à rede pública, de acordo com o IBGE (2016, p. 48). 
 
Fator que preocupa ainda mais é o trabalho infantil. O IBGE (2016, p. 62) estima que havia 
2,7 milhões de seres humanos de 5 a 17 anos trabalhando, sendo 79 mil de 5 a 9 anos e 
333 mil de 10 a 13 anos. Para entender – ou imaginar – um pouco mais essa situação: 
 
Tabela 1 – Recorte do trabalho infantil brasileiro 
412 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhando 
Média de 12,9 horas semanais trabalhadas 
Salário mensal de R$ 193,00 
42,8% não eram remuneradas 
2,6% não estudavam 
64,7% estavam em atividades agrícolas 
31,7% produziam para o próprio uso ou consumo 
Fonte: IBGE (2016, p. 64) 
25 
 
 
 
 
Em relação aos domicílios do país – cerca de 63,6 milhões –, onde obviamente 
habitam crianças e adolescentes, o IBGE (2016, p. 79) revela que as condições de 
saneamento básico ainda são muito precárias para inúmeras famílias: 
 
Tabela 2 – Acesso a serviços básicos 
Dos 63,6 milhões de domicílios brasileiros 
14,6% não possuíam rede geral de abastecimento de água 
34,7% não tinham rede coletora de esgoto 
10,2% não contavam com coleta de lixo 
0,3% não dispunha de iluminação elétrica 
Fonte: IBGE (2016, p. 79) 
 
Outro dado interessante para essa pesquisa é a presença dos aparelhos de 
comunicação nas residências do país. 
 
Tabela 3 – Aparelhos de comunicação nos domicílios 
Entre os 63,6 milhões de domicílios 
97,1% tinham televisão 
69,2% tinham rádio 
62,2% tinham DVD 
46,2% tinham microcomputador 
40,5% tinham microcomputador com acesso à Internet 
93,3% tinham telefone fixo ou celular 
58% tinham apenas celular 
Fonte: IBGE (2016, p. 80) 
 
Inclusive, vale apontar que 102,1 milhões de pessoas com 10 anos ou mais (57,5% 
da população) tinham acesso à Internet; apenas entre 10 e 14 anos, 69,1% 
acessavam a rede online e 54,1% possuíam celular para uso pessoal, de acordo 
com o IBGE (2016, p. 81, 82 e 83). 
 
Assim, não é difícil constatar que a realidade brasileira em diversos setores sociais é 
complicada para milhões de crianças, jovens e adultos. Enquanto privilegiados, 
26 
 
 
 
nossa missão com esta pesquisa é tentar contribuir um pouco para as práticas de 
comunicação dessa garotada e para os estudos a respeito. Ou seja, ver de que 
forma o programa Castelo Rá-Tim-Bum, sucesso absoluto, pode inspirar atividades 
jornalísticas para a meninada e com elas. Assim, vamos levantar problemas 
contextuais e sugerir ideias para a vinculação entre imprensa, escola e criança. 
 
1.1. Jornalismo infantil 
 
A relação entre jornalismo e público infantil é de longa data. De acordo com Bravo-
Villasante (1963, p. 77 apud ARROYO, 2011, p. 180), a revista infantil inglesa The 
Lilliputian Magazine, que circulou entre 1751 e 1752, teria sido o primeiro periódico 
do gênero da Europa e do mundo. A British Library (2017) afirma que ela só teve 
três edições, posteriormente reeditadas em um volume único diversas outras vezes. 
Elas traziam “lições morais, narrativas curtas, fábulas, danças, canções, hinos, 
epigramas, brincadeiras e enigmas, todos feitos de uma maneira atraente para 
crianças, com uma mistura de gravuras e xilogravuras” (BRITISH LIBRARY, 2017, 
tradução nossa). 
 
 
Figura 1 – Primeiras páginas do The Lilliputian Magazine. Volume 
único de 1765, com as três edições. Fonte: Internet Archive 
 
27 
 
 
 
 
Figura 2 – Duas páginas da revista, indicando o projeto 
gráfico, que separa de um lado a parte escrita e do outro uma 
ilustração. Fonte: Internet Archive 
 
Inúmeros outros jornais e revistas infantis surgiram ao longo das décadas na 
Europa. Como curiosidade, vamos citar apenas alguns deles, de acordo com Arroyo 
(2011, p. 182, 212 e 213). Na própria Inglaterra: The Museum for Young Gentlemen 
and Ladies (1758) e, durante a segunda metade do século XIX, Infant’s Magazine, 
The Children’s Friend e Little Folk. Na França: Magazin des Enfants(1757), Le 
Journal des Jeunes (1832), Le Journal des Enfants (1857), La Semaine des Enfants 
(1857) e Le Magazin d’Éducation et Récréation (1864). Na Alemanha: Leipziger 
Wochenblatt für Kinder (1772-1774) e Kinderfreund (1775-1784). Já na Itália: Il Nipote 
(1832-1848), Il Giornale dei Fanciulli (1832) e Giornale per i Bambini (1881). Por sua 
vez, o madrilenho Gazeta de los Niños (1798) inaugurou o gênero na Espanha. 
 
As publicações para crianças surgiram no Brasil ao longo dos anos 1800 e tinham 
como base justamente o que era feito no continente europeu. Além do mais, Arroyo 
(2011, p. 179) afirma que a imprensa exerceu papel importante para a literatura 
infantil brasileira daquele período. 
 
“Em uma época em que praticamente a literatura oral ainda exercia notável 
influência e era mesmo o instrumento lúcido e instrutivo por excelência da 
28 
 
 
 
meninada do Brasil, os primeiros jornais dedicados às crianças não só 
despertavam o interesse do pequeno leitor, por meio do instrumento de 
cultura que representavam, como também se constituíam em veículos 
galvanizadores de vocação e de discussão de problemas e questões 
relativas ao aprendizado escolar. Os jornais infantis marcaram bem 
determinado período da literatura infantil brasileira” (ARROYO, 2011, p. 179). 
 
O primeiro jornal infantil brasileiro, segundo Arroyo (2011, p. 179 e 180) 
provavelmente foi o baiano O Adolescente, de 1831. A partir de então, dezenas de 
outros pequenos veículos apareceram de norte a sul do país naquele mesmo século, 
mas a maioria estava relacionada a produções feitas também por crianças em 
escolas, de acordo com Arroyo (2011), que fala até mesmo de uma imprensa escolar. 
 
No entanto, o grande marco inicial do jornalismo infantil brasileiro foi a revista O 
Tico-Tico, que circulou pela primeira vez em 11 de outubro de 1905, no Rio de 
Janeiro, e foi produzida semanalmente até 1957; nos vinte anos seguintes, apenas 
em edições especiais. O periódico teve cerca de 2.100 edições e tiragem entre 20 
mil e 100 mil exemplares. Por meio de seus personagens, quadrinhos, histórias, 
notícias e curiosidades, a publicação teve como objetivo “oferecer a seus pequenos 
leitores uma alegria simples e sadia” (ARROYO, 2011, p. 216). 
 
“O Tico-Tico, como que galvanizando toda a necessidade de leitura das 
crianças brasileiras, impunha-se pioneiramente como publicação 
tecnicamente concebida. Fora a revista organizada em bases racionais, 
com motivos e temas de interesse nacional. O grande número de pequenos 
jornais e revistas que antecederam com dificuldades a importante 
publicação de Luís Bartolomeu de Sousa e Silva havia criado condições 
excepcionais para o triunfo de O Tico-Tico, que haveria, por mais de meio 
século, de se tornar leitura obrigatória das crianças brasileira” (ARROYO, 
2011, p. 212). 
 
Em seu início, a revista trazia e adaptava histórias em quadrinhos publicadas no 
jornal norte-americano The New York Herald, que tinham como personagens o 
garoto Buster Brown e seu cachorro Tiger, do caricaturista Richard Felton Outcault. 
Arroyo (2011, p. 215) diz que, em O Tico-Tico, eles se transformaram 
respectivamente nos brasileiros Chiquinho e Jagunço – feitos pelo desenhista 
Renato de Castro. Ao longo dos anos, o periódico ganhou personagens próprios, 
que embalavam as inúmeras histórias educativas e tiveram grande sucesso entre o 
público, conforme Arroyo (2011, p. 217 e 218). Entre eles, estão: Benjamim (de Luís 
Gomes Loureiro); Zé Macaco, Faustina, Baratinha, cão Serrote e Chocolate (de 
29 
 
 
 
Alfredo Storni); Kaximbown, Pipoca, Pandareco, Para-choque, Vira-lata e Barão de 
Rapapé (de Max Yantock). A revista também publicou outros personagens famosos 
norte-americanos a partir de 1930, como Popeye, Gato Félix e Mickey Mouse. 
 
 
Figura 3 – Capas de O Tico-Tico. Edições 1.083, de 07 de julho de 1926, e 1.348, de 
05 de agosto de 1931. Fonte: Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional 
 
 
Figura 4 – Páginas de O Tico-Tico. Edições 1.960, de março de 1949, e 2.022, de 05 
de maio de 1954. Fonte: Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional 
30 
 
 
 
 
Os estudos realmente apontam O Tico-Tico como o principal veículo jornalístico 
infantil brasileiro. A imprensa escolar continuou existindo, e outros periódicos e 
suplementos naturalmente surgiram no decorrer do século passado, mas nenhum 
com tamanho reconhecimento. 
 
“Depois da revista de Luis Bartolomeu de Sousa e Silva tivemos algumas de 
glória efêmera, como Bem-Te-Vi (1923), Vida Infantil, Sesinho, além de uma 
série de outras publicações que se enquadram na técnica de uma produção 
industrial que proporciona leitura em vários países do mundo” (ARROYO, 
2011, p. 226). 
 
Podemos citar outros exemplos infantis de tempos mais recentes. Um dos maiores 
nomes é a revista semanal Recreio, antes editada pela Editora Abril e nos dias de 
hoje pela Editora Caras. Seu projeto atual existe desde 2000 – além de contar com 
um site e perfis no Facebook, Instagram e YouTube –, mas ela teve também um 
primeiro período de circulação entre 1969 e 1981. Já entre os suplementos de maior 
destaque, estão os dos jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e Folha de S. Paulo. 
Iniciado em 1987, o Estadinho deixou de ser impresso em 2013, mesmo ano da 
última postagem em seu blog, logo após comemorar seus 25 anos de existência. O 
Globinho surgiu em 1983 e também foi extinto em 2013; seu blog parou de ser 
atualizado em 2015. Já a Folhinha circulou entre 1963 e 2016, mas sua seção online 
ainda sobrevive – porém apenas com notícias “de agenda”, ou seja, basicamente 
indicando livros, filmes e peças teatrais infantis em vias de lançamento, sem 
matérias diversas. 
 
Em busca de mais publicações jornalísticas infantis, consultamos em maio de 2017 
a lista de editoras associadas da ANER – Associação Nacional de Editores de 
Revistas, atualizada em março de 2017. Das 42 editoras presentes, conseguimos ter 
acesso aos sites e informações de 33. Além da Recreio, a única revista que parece 
desenvolver jornalismo voltado para a meninada é a Ciência Hoje das Crianças (ela 
ainda possui um site com notícias, curiosidades, jogos, quadrinhos, vídeos e rádio), 
do Instituto Ciência Hoje, que edita uma versão para o público geral. Essa revista 
infantil existe desde 1986, teria sido a primeira do Brasil sobre ciência para a 
garotada e está presente em bibliotecas de mais de 60 mil escolas públicas do país. 
31 
 
 
 
Vale esclarecer que, no levantamento feito, desconsideramos guias para estudantes, 
publicações teen e de colorir e histórias em quadrinhos. 
 
Ainda fizemos procura semelhante entre jornais, também por meio de seus sites. 
Como forma de estabelecer um limite, tomamos por base os associados à ANJ – 
Associação Nacional de Jornais. Consultada em maio de 2017, a lista apontava 104 
veículos de todo o Brasil, e conseguimos acesso a 98. Só consideramos os portais 
que possuíam uma seção infantil atualizada ao menos uma vez naquele mesmo 
mês. Além da Folhinha, encontramos 11 exemplos. Seis deles realizam um trabalho 
pedagógico junto a escolas para levar seus jornais aos alunos, como instrumentos 
de educação. São eles: Diário do Nordeste (CE), Diário do Norte do Paraná (PR), A 
Notícia (SC), A Tribuna (SP), Correio Popular (SP) e Jornal da Cidade de Bauru 
(SP). Já na seção DC na Sala de Aula, do Diário Catarinense (SC), não há a 
informação se existe um projeto especificamente para escolas, apesar do nome. O 
Diarinho, do Diário do Pará (PA), está na editoria de Entretenimento. O Jornal de 
Brasília (DF) possui a coluna/blog Playground. Por fim, há seções infantis no Jornal 
do Povo (RS) e no Jornal Cidade de Rio Claro (SP), mas o acesso é restrito e não 
foi possível visualizar o conteúdo. 
 
Em meio a demais pesquisas, encontramos outro exemplo interessante: o Jornal 
Joca, da Editora Magia de Ler, criado em 2011 e inspirado empublicações da 
Europa, sobretudo da França. O veículo infantil possui site de notícias atualizado 
diariamente, perfis no Facebook, Instagram e YouTube, blog para os pais e serviço 
de assinatura de sua versão impressa. Aliás, a edição em papel, quinzenal, é o ponto 
forte da empresa, que com ela tem um projeto pedagógico em cerca de 50 escolas 
brasileiras, inclusive com instruções e apontamentos especiais para os professores. 
 
Todavia, não achamos a presença de jornalismo infantil em levantamento em portais 
noticiosos também conhecidos no país – como G1, R7, UOL, Terra, iG, Yahoo 
Brasil, MSN Brasil, El País Brasil, BBC Brasil, DW Brasil e Nexo Jornal. 
 
1.1.1. Repórter Rá Teen Bum 
 
32 
 
 
 
Não é muito difícil imaginar a escassez de jornalismo infantil na TV brasileira, e 
nossas buscas – realizadas na última semana de maio de 2017 – nos sites das 
emissoras confirmam isso. Tomamos como base as grades de programação 
disponíveis e as poucas (quando existentes) informações específicas sobre os 
programas, fato esse que dificultou obter resultados mais detalhados. Assim, não 
encontramos conteúdo jornalístico infantil nas principais redes abertas do país, que 
são a Band, CNT, Globo, Record, RedeTV!, SBT, TV Brasil, TV Cultura e TV Gazeta, 
segundo a Agência Nacional do Cinema – Ancine (2016a). E o resultado foi quase o 
mesmo nos portais dos cerca de 250 canais por assinatura da lista da própria Ancine 
(2017a). 
 
A exceção é o programa Repórter Rá Teen Bum, o único que não deixa dúvidas de 
se encaixar no jornalismo infantil. Ele é veiculado na TV Rá Tim Bum! (disponível 
também no canal no YouTube), nas noites de sábado, e produzido pelas equipes da 
própria emissora e da TV Cultura – ambas pertencem à Fundação Padre Anchieta. 
Estreou em 16 de abril de 2016, tem o público de até 10 anos e se intitula “o primeiro 
programa de notícias totalmente dedicado a crianças e adolescentes”. Com duração 
de 11 a 15 minutos, a atração é apresentada pela jovem atriz Nathália Falcão, e as 
reportagens – que são menos factuais, ou mais “frias”, no jargão jornalístico – tratam 
de assuntos que interessam ao universo infantil. Inclusive, os pequenos são os 
principais entrevistados nas matérias. 
 
Apesar de ser uma produção brasileira, a iniciativa do Repórter Rá Teen Bum é 
internacional. O programa faz parte do projeto WADADA News for Kids, da ONG 
holandesa Free Press Unlimited, presente em 46 países e que trabalha 
principalmente com questões de liberdade de imprensa e acesso a informação em 
zonas de guerra. O WADADA teve início em 2014, no Suriname, atua em mais de 20 
países3 e atinge aproximadamente 100 milhões de pessoas, com conteúdo em 12 
línguas diferentes. Há também o intercâmbio das matérias elaboradas. Ou seja, as 
reportagens brasileiras, por exemplo, são exibidas em outras nações e vice-versa. 
 
3 De acordo com a ONG, os países são: África do Sul, Bangladesh, Brasil, Bolívia, Egito, Equador, Gana, Holanda, 
Indonésia, México, Myanmar/Birmânia, Nepal, Nicarágua, Peru, Serra Leoa, Suriname, Ucrânia e Zâmbia, além 
de possuir correspondentes na Argentina, Colômbia e Kosovo. Mais informações em: wadadanewsforkids.org. 
http://www.wadadanewsforkids.org/
33 
 
 
 
É claro que este exemplo de jornalismo infantil não está sozinho na história da TV 
brasileira. Uma das atrações mais lembradas é a Globinho, da TV Globo, que 
estreou em 1972 e teve pouco mais de dez anos de exibição. Era um telejornal para 
crianças e adolescentes e teve diferentes periodicidades, durações e horários de 
transmissão – como de segunda a sexta, em edições de 5 a 15 minutos, e aos 
sábados, com 30 minutos. O programa ainda promoveu campanhas, eventos e 
concursos com seu público e teve como uma de suas grandes apresentadoras a 
jornalista Paula Saldanha, que a partir de 1981 teve a companhia de um boneco 
manipulado, o macaquinho Loiola. 
 
Existem ainda produções mais recentes que, embora talvez não possam ser 
estritamente classificadas como jornalismo infantil, têm características da prática 
jornalística, como as entrevistas, principalmente. Uma delas foi o dominical Gente 
Inocente, também da TV Globo, veiculado de 2000 a 2002, aos domingos. Ao lado 
do apresentador Márcio Garcia, um elenco de crianças entrevistava celebridades, 
além de dançar, cantar e interpretar. Outra atração foi Cartãozinho Verde, da TV 
Cultura, inspirada no Cartão Verde, um programa de debate sobre futebol e no ar 
desde 1993. A versão mirim existiu de 2012 a 2014 e tinha uma apresentadora 
adulta e quatro garotos que discutiam o esporte e faziam matérias sobre os clubes 
pelos quais torciam: João Braga (Corinthians), Eric Lanfredi (Palmeiras), Pedro 
Crema (São Paulo) e Matheus Ribeiro (Santos). 
 
Já a TV Cocoricó foi um programa exibido em 2012 e 2013, que se diferenciava do 
original Cocoricó por ser ao vivo, com uma hora de duração. Produzido pela TV 
Cultura, tinha os mesmos personagens feitos de bonecos, como o garoto Júlio e 
diversos animais da fazenda. A atração mostrava diversas histórias, receitas 
culinárias e curiosidades, além de longas entrevistas com artistas como Maurício de 
Sousa, Inezita Barroso, Rosi Campos, Sandra Peres e Paulo Tatit (Palavra 
Cantada), entre tantos outros. Falaremos mais sobre Cocoricó no capítulo seguinte. 
 
Há quem conheça Marcelo Tas por interpretar o Professor Tibúrcio, do Rá-Tim-Bum, 
ou o Telekid, do Castelo Rá-Tim-Bum, mas o jornalista, roteirista e apresentador já 
fez e faz outros trabalhos com crianças que também possuem certa ligação com o 
34 
 
 
 
jornalismo. Lançado em 2009, no canal infantil fechado Cartoon Network, Plantão do 
Tas é um telejornal de notícias fictícias em que o âncora tem a companhia de dois 
repórteres mirins. Na mesma emissora, teve início em 2014 o Papo Animado com 
Marcelo Tas, um talk show de aproximadamente três minutos de duração em que 
Tas entrevista personagens de desenhos animados. Já na TV aberta, na Band, 
Marcelo apresentou em 2012 o Conversa de Gente Grande. Nele, algumas crianças 
entrevistavam celebridades e conversavam sobre variados assuntos. 
 
Também merece ser citado o Canal Futura, distribuído na TV por assinatura, em TVs 
universitárias e na Internet. É uma emissora educativa fundada em 1997, 
pertencente à Globosat e que possui parcerias com universidades para produção de 
materiais. Pela falta de informações concretas disponíveis, não podemos afirmar 
com absoluta certeza se há conteúdos de jornalismo infantil atualmente. Porém, 
alguns programas educativos chamam a atenção por tratar de questões corriqueiras, 
com entrevistas de especialistas. Um deles é a série Que abuso é esse?, que fala 
sobre violência sexual infantil por meio de histórias com personagens de bonecos e 
participações de autoridades no assunto. 
 
Ainda vale destacar uma seção do site da TV Climatempo, emissora criada em 1999 
e pertencente à empresa de meteorologia Climatempo. Seu portal possui uma área 
para crianças muito interessante, chamada Climakids. Ela conta com a presença dos 
personagens da Turma da Mônica – do cartunista Mauricio de Sousa – e quadrinhos 
da série sobre fenômenos climáticos e experiências que podem ser feitas pelo leitor, 
além da opção de consultar a previsão do tempo. Na grade de programação da TV, 
há conteúdos socioeducativos, mas não identificamos algo especificamente infantil. 
 
Como a partir deste ponto os resultados das pesquisas por materiais com potencial 
jornalístico são cada vez mais raros, faremos uma breve pausa na questão. Em 
seguida, retomaremos o contexto da produção de conteúdo infantil no país como um 
todo e nos diferentes meios e práticas de comunicação. 
 
1.2. Jornalismo infantil no meio acadêmico 
 
35 
 
 
 
A pouca quantidade de jornalismo infantil na imprensa brasileira também parece 
ocorrer nas universidades do país.Doretto (2013, p. 15) afirma haver diversos 
trabalhos de conclusão de curso em jornalismo infantil, mas a proporção não se 
mantém nas pós-graduações. 
 
Nossas buscas por trabalhos acadêmicos sobre o tema confirmaram esse cenário 
de escassez. No Banco de Teses e Dissertações da Capes (Coordenação de 
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) – fundação do Ministério da 
Educação –, só encontramos cinco pesquisas sobre jornalismo infantil: 
 
- Título: “Ler sem engasgar: dois tipos de recepção do jornalismo infantil da Folhinha 
– suplemento infantil da Folha de S. Paulo”. Pesquisadora: Mônica Pinto Rodrigues 
da Costa. Ano de defesa: 1992. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação 
e Semiótica. Instituição de Ensino: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – 
PUC-SP. Resumo: O trabalho investiga a decodificação de leitura das crianças e se 
elas assimilam as informações da maneira imaginada pelos jornalistas que 
produzem tais conteúdos. 
 
- Título: “Jornalismo infantil: „Pinguinho de Notícia‟”. Pesquisadora: Iracema Batista 
Torquato. Ano de defesa: 2002. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação. 
Instituição de Ensino: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – 
UNESP. Resumo: A pesquisa conta sobre o processo de produção e leitura de um 
jornal infantil feito de forma experimental por uma escola estadual de Jaú (SP), 
envolvendo também a relação entre comunicação e educação. 
 
- Título: “O jornal infantil interativo”. Pesquisador: Emerson Cesar Biral Mendes. 
Ano de defesa: 2002. Formação/Programa: Mestrado em Comunicação. 
Instituição de Ensino: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – 
UNESP. Resumo: O trabalho analisa a forma de adaptação dos jornais Folha de S. 
Paulo, O Estado de S. Paulo e Jornal da Cidade de Bauru ao público infantil, por 
meio de seus suplementos Folhinha, Estadinho e JC Criança. Também pesquisa 
sobre uma proposta de um jornal escolar interativo. 
 
36 
 
 
 
- Título: “Pequeno leitor de papel: jornalismo infantil na Folhinha e no Estadinho”. 
Pesquisadora: Juliana Doretto. Ano de defesa: 2010. Formação/Programa: 
Mestrado em Ciências da Comunicação. Instituição de Ensino: Universidade de 
São Paulo – USP. Resumo: O trabalho mapeia o perfil das crianças entrevistadas 
pela Folhinha e Estadinho em 25 edições de cada um dos suplementos, em 2009. 
Consequentemente, também analisa as notícias de ambos os veículos. 
 
- Título: “O jornalismo infantil e o desejo de consumo: o discurso da revista Recreio”. 
Pesquisadora: Thaís Helena Furtado. Ano de defesa: 2013. Formação/Programa: 
Doutorado em Comunicação e Informação. Instituição de Ensino: Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul – UFRS. Resumo: O estudo faz uma análise do 
discurso da revista Recreio, principalmente verificando como a publicação trabalha e 
incentiva o desejo de consumo das crianças. 
 
Também fizemos uma pesquisa na plataforma de periódicos da Capes e 
encontramos apenas três artigos que tratam de jornalismo infantil: 
 
- Título: “Natureza do hipertexto no jornalismo digital em dois suplementos para o 
público infantil”. Autoras: Izabel Cristina Diniz/CEFET-MG e Leila Aparecida 
Anastácio/CEFET-MG. Revista: Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, v. 5, n. 2, 
2012. Resumo: O artigo faz uma análise do hipertexto, segundo Marcushi (2001), na 
Folhinha, da Folha de S. Paulo, e do Blog do Guri, do Estado de Minas. Verifica 
ainda suas práticas jornalísticas. 
 
- Título: “A relação entre o discurso didático científico e o discurso jornalístico na 
revista Recreio”. Autoras: Thaís Helena Furtado/Unisinos e Sabrina 
Franzoni/Unisinos. Revista: Galáxia, n. 29, jun. 2015. Resumo: O artigo faz uma 
análise dos discursos didático científico e jornalístico da Recreio – é um 
desdobramento da tese defendida por Furtado em 2013, mencionada acima. 
 
- Título: “O jornalismo infantil revistativo da Recreio”. Autora: Thaís Helena 
Furtado/Unisinos. Revista: Vozes e Diálogo, v. 14, n. 2, jul./dez. 2015. Resumo: O 
37 
 
 
 
artigo, também fruto da tese citada, discute se a revista Recreio pode ser 
considerada jornalística, concluindo que sim e que possui características próprias. 
 
Ainda tentamos encontrar artigos sobre jornalismo infantil na plataforma SciELO – 
Scientific Eletronic Library Online (que reúne periódicos científicos na Internet). O 
único achado foi o mesmo feito por Thaís Helena Furtado e Sabrina Franzoni e 
publicado na Galáxia, em 2015: “A relação entre o discurso didático científico e o 
discurso jornalístico na revista Recreio”. 
 
Onde conseguimos maior número de resultados foi no banco de produção científica 
da Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 
que promove encontros científicos, com participação e produção, inclusive, de 
alunos de graduação. A seguir, a lista dos 13 artigos descobertos no Portal de Livre 
Acesso à Produção em Ciências da Comunicação, dos mais recentes aos mais 
antigos. 
 
Tabela 4 – Artigos sobre jornalismo infantil na base de dados da Intercom 
Autores Título Ano 
Thaís Helena Furtado O Discurso Jornalístico presente na revista Recreio 2014 
João Victor Melo Sales O jornalismo infantil na revista Recreio 2013 
Mayra Fernanda Ferreira Potencialidades Educomunicativas do 
Jornalismo para Crianças 
2011 
Thaís Helena Furtado A criança leitora imaginada por Zero Hora 2011 
Greyce Nunes e Jiani 
Bonin 
Perspectivas Teóricas para Compreender o 
Jornalismo Infantil 
2010 
Juliana Doretto Jornalismo e os pequenos leitores: a temática 
de suplementos infantis 
2010 
Rodrigo Pscheidt; Samara 
Najar; Stela Tondo 
Revista Mania – Educação, informação, cultura, 
cidadania e lazer 
2009 
Thaís Helena Furtado A editorialização do Jornalismo Infantil 2009 
Juliana Doretto Foquinha: jornalismo infantil na ditadura militar 2009 
Ednubia Ghisi; Michel 
Prado; Hendryo André 
Análise das revistas Recreio, Disney Princesas 
e Atrevidinha 
2009 
Mayra Fernanda Ferreira Jornalismo Infantil: por uma prática educativa 2007 
Mayra Ferreira e Loriza Infância em papel: o jornalismo infantil no 2007 
38 
 
 
 
de Almeida interior 
Luana Aparecida Vianna Jornalismo Infantil em Ribeirão Preto: Estudo do 
“A Cidade Criança” 
2006 
Fonte: Portcom (2018) 
 
Com essas pesquisas nas principais plataformas de produção científica, vemos 
como realmente há poucos trabalhos acadêmicos do gênero. Em buscas livres no 
Google Acadêmico, também são pouquíssimos os resultados. A maioria dos artigos 
trata de panoramas históricos, publicações antigas – como O Tico-Tico –, veículos 
mais recentes (sobretudo Recreio, Folhinha e Estadinho) e outros exemplos 
pontuais e experimentais de jornalismo infantil impresso e online. Por outro lado e 
por curiosidade, são inúmeros os estudos sobre comunicação e crianças, como suas 
relações com a TV, jogos, videogames e publicidade. 
 
Não satisfeitos, fizemos ainda um levantamento sobre as disciplinas dos cursos 
brasileiros de Jornalismo e Comunicação Social – com habilitação em Jornalismo. 
Em abril de 2017, consultamos a lista do Cadastro e-MEC de Instituições e Cursos 
de Educação Superior, do Ministério da Educação, e, no mês seguinte, visitamos os 
portais de todas as universidades e conseguimos acesso a 225 grades curriculares. 
Infelizmente, nossa intuição estava correta: não encontramos disciplina alguma 
intitulada “Jornalismo Infantil”. 
 
Não entraremos na discussão sobre vantagens e desvantagens pedagógicas de 
disciplinas específicas de editorias. No entanto, entre as 427 aulas optativas e 
obrigatórias identificadas do gênero, nenhuma sequer parece abordar o jornalismo 
infantil. 
 
Tabela 5 – Disciplinas de jornalismo especializado nas graduações do Brasil 
Disciplinas Quantidade (%) 
Jornalismo Esportivo 39 (9,1%) 
Jornalismo Cultural 31 (7,2%) 
Jornalismo Econômico 30 (7%) 
Jornalismo Científico ou de Ciência e Tecnologia 27 (6,3%)Jornalismo Político ou Político e Internacional 22 (5,1%) 
39 
 
 
 
Jornalismo Ambiental ou de Sustentabilidade ou de Meio Ambiente 20 (4,6%) 
Jornalismo Internacional 14 (3,2%) 
Jornalismo Político e Econômico 10 (2,3%) 
Jornalismo Especializado 114 (26,7%) 
Optativa 65 (15,2%) 
Outras 55 (12,9%) 
Jornalismo Infantil 0 (0%) 
Total 427 (100%) 
 
É verdade que o jornalismo para crianças pode, sim, ser estudado, discutido e 
trabalhado em diversas outras matérias – como nas 114 de Jornalismo 
Especializado e nas outras 65 Optativas, das quais não encontramos as opções 
ofertadas –, porém o fato é que, segundo o levantamento, existem aulas de mais de 
30 editorias diferentes, mas não de jornalismo infantil. 
 
1.3. Outros conteúdos infantis na TV 
 
As emissoras brasileiras de TV produzem conteúdo infantil desde praticamente a 
chegada do aparelho no país, em 1950. O primeiro programa do gênero foi o Sítio 
do Picapau Amarelo, que foi ao ar em 1951, como teleteatro. Logo no ano seguinte a 
obra do escritor Monteiro Lobato ganhou sua primeira adaptação para formato série, 
feita pelo casal Tatiana Belinky e Júlio Gouveia e produzida pela antiga TV Tupi. 
Desde então, o Sítio teve novas versões ao longo das décadas e ainda é veiculado. 
 
Outra produção que merece destaque é Vila Sésamo. O original, Sesame Street, 
produzido pela CTW – Children‟s Television Workshop, foi ao ar em 1969, nas TVs 
públicas dos Estados Unidos. Sua primeira versão brasileira, com conteúdos 
nacionais e dublados, foi feita e veiculada pela TV Cultura e pela TV Globo a partir 
de 1972. Destinado a crianças de idade pré-escolar, o programa é um dos mais 
reconhecidos e estudados do mundo e ganhou reedições no Brasil em 2007 e 2017, 
sendo que esta última ainda faz parte da grade televisiva. 
 
Historicamente, a TV Cultura é renomada por sua programação cultural, educativa e 
infantil. São muitas as séries marcantes feitas para a criançada que atingiram 
40 
 
 
 
índices interessantes de audiência e tiveram prestígio. Algumas delas, além de Vila 
Sésamo: Bambalalão (1977), Curumim (1981), Catavento (1985), Revistinha (1988), 
Rá-Tim-Bum (1990), Mundo da Lua (1991), Glub-Glub (1991 e 2006), X-Tudo 
(1992), Castelo Rá-Tim-Bum (1994), Cocoricó (1996), Ilha Rá-Tim-Bum (2002); 
atualmente, Quintal da Cultura (2011) e Que Monstro Te Mordeu? (2014) são alguns 
dos destaques. Aliás, o próprio Castelo Rá-Tim-Bum, parte fundamental desta 
pesquisa, é considerado o principal programa televisivo infantil brasileiro, vencedor 
de prêmios internacionais e dono de audiências jamais imagináveis para uma 
televisão pública no país. Ele será abordado com mais detalhes no próximo capítulo. 
 
Também é impossível não citar os fenômenos das apresentadoras que surgiram nos 
anos 80 e perduraram entre as crianças até poucos anos atrás com seus inúmeros 
shows e programas de auditório. Entre elas, estão Xuxa, Angélica, Eliana, Simony, 
Mara Maravilha, Mariane, Pat, Jacky e Kira. Esse universo ainda é tema de debates 
e críticas sobre suas qualidades e seus impactos na garotada. Da mesma forma 
fazem parte desse contexto atrações de Sérgio Mallandro e do personagem e 
palhaço Bozo. 
 
Os desenhos animados são outro tipo de conteúdo massivamente presente na 
programação da TV nacional, principalmente com a exibição de inúmeras séries 
infantis de sucesso no mundo todo. Provavelmente a TV Globinho (2000 a 2015), da 
TV Globo, é um dos programas de exibição de desenhos mais lembrados pelas 
atuais gerações. No mesmo veículo, quem marcou época de 1993 a 1997 foi a TV 
Colosso. Já no SBT, ainda permanecem o Bom Dia & Companhia (desde 1993) e o 
Sábado Animado (desde 1955). Por ambas as emissoras nos anos 90 e início dos 
2000, passou o Disney Club, produzido pela Disney. Em seguida, no SBT, ele deu 
lugar ao Disney CRUJ (2001 a 2003). Esses são apenas alguns exemplos. 
 
Vale reforçar que a televisão fazia parte de 97,1% dos domicílios brasileiros em 
2015, segundo o IBGE (2016, p. 80), e, para falar um pouco da programação infantil 
gratuita mais atual, vamos nos apoiar no “Informe de Acompanhamento do Mercado 
de TV Aberta”, feito pela Ancine (2016a), em relação a 2015. O órgão analisou as 
veiculações das principais redes brasileiras, que, lembramos, são: Band, CNT, 
41 
 
 
 
Globo, Record, RedeTV!, SBT, TV Brasil, TV Cultura e TV Gazeta. Segundo a 
Ancine (2016a, p. 16), o gênero Infantil4 foi o oitavo mais presente na TV aberta em 
2015, entre as 32 divisões, representando 4,7% ou 3.680 horas e 45 minutos da 
programação das emissoras. Veja o comparativo a seguir. 
 
Tabela 6 – Breve comparativo de gêneros televisivos na TV aberta em 2015 
Gênero Tempo de exibição % Posição 
Religioso5 16.654 horas e 7 minutos 21,1% 1º 
Telejornal6 11.527 horas e 14 minutos 14,6% 2º 
Séries7 9.135 horas e 51 minutos 11,6% 3º 
Infantil 3.680 horas e 45 minutos 4,7% 8º 
Instrutivo8 1.139 horas e 12 minutos 1,4% 15º 
Educativo9 1.078 horas e 23 minutos 1,4% 16º 
Desenho Animado10 335 horas e 42 minutos 0,4% 22º 
Fonte: Ancine (2016a, p. 16). 
 
 
4
 Gênero Infantil: “Voltados ao público infantil (...), podem existir no formato de capítulos e seriados, 
game shows, musicais e programas de auditório, com entrevistas, desenhos, brincadeiras e atrações 
controlados por apresentador (a) ou personagem fantasiado; podem ainda ser entremeados por 
desenhos animados e séries de animação ou ficção brasileiros e/ou estrangeiros” (SOUZA, 2004, p. 
116 e 117 apud ANCINE, 2016a, p. 46). 
5
 Gênero Religioso: “Formato tradicional é o de transmissão ao vivo ou de gravação dos encontros 
religiosos (missa, cultos ou rituais), com público ou auditório (normalmente, o próprio templo). A 
platéia, formada de fiéis, demonstra sua fé com hinos, orações e manifestações espontâneas ou 
solicitadas pelo líder (...)” (SOUZA, 2004, p. 167 apud ANCINE, 2016a, p. 50). 
6
 Gênero Telejornal: “‟Fórmula básica: um ou mais apresentadores leem textos e apresentam as 
reportagens externas realizadas pelos jornalistas, ao vivo ou gravadas‟; atende ao formato de 
noticiário, às vezes com a presença de „comentaristas especializados‟” (SOUZA, 2004, p. 152 apud 
ANCINE, 2016a, p. 48). 
7
 Gênero Séries: “Classificadas pelo seu formato e não por seu gênero, assim como os filmes, 
ocupam determinada fatia da programação geralmente em um mesmo horário; são compostas por 
vários episódios ligados a uma mesma trama ou núcleo de personagens; “servem a todos os públicos 
e o conteúdo varia do educativo ao policial” (SOUZA, 2004, p. 131 apud ANCINE, 2016a, p. 47). 
8
 Gênero Instrutivo: “Linguagem e objetivo claramente educacional, que instrui para uma atividade ou 
profissão”; “podem levar o telespectador a aumentar seus conhecimentos sobre determinado assunto, 
sem a pretensão ou o compromisso de obter qualificação em exames ou provas” (SOUZA, 2004, p. 
154 apud ANCINE, 2016a, p. 49). 
9
 Gênero Educativo: “Aulas com linguagem televisiva”; teleaulas, exibidas “em horário classificado 
pelas próprias redes como pouco lucrativo”, “os quais auxiliam o sistema de ensino regular” (SOUZA, 
2004, p. 153 e154 apud ANCINE, 2016a, p. 49). 
10
 Gênero Desenho Animado: “Predominantemente voltado ao público infantil, „o gênero é produzido 
em escala industrial e comercializado em pacotes, formando uma série de desenhos de curta, média 
ou longa duração (de três minutos a meia hora)‟” (SOUZA, 2004, p. 103 apud ANCINE, 2016a, p. 44). 
 
42 
 
 
 
Como curiosidade, vamos abordar um pouco mais as categorias Infantil e Desenho 
Animado. De acordo com a Ancine (2016a, p.16), o Infantil só não foi veiculado nas 
redes CNT e TV Gazeta. Sua maior presença foi no SBT (18,6% da programação da 
emissora, o principal gênero), na TV Cultura (17,3%, o segundo) e na TV Brasil 
(3,7%). Já o Desenho Animado apenas se fez presente no SBT (2,7%) e na TV 
Brasil (1,1%).De um modo geral, dados do Kantar IBOPE Media (2017) apontam que, em 2016, 
os brasileiros assistiram a 6 horas, 17 minutos e 5 segundos de televisão por dia. 
Em 2008, eram quase 5 horas e 9 minutos, e isso foi crescendo ano a ano. A 
pesquisa ainda diz que “(...) o tempo médio dedicado à TV pelos jovens de 4 a 11 
anos subiu 2,9% de 2015 para 2016. Já entre 12 e 17 anos, o percentual foi 
ligeiramente maior, chegando a 3,1%” (KANTAR IBOPE MEDIA, 2017). Outra 
pesquisa do Kantar IBOPE Media (2014) afirma que os programas infantis estiveram 
em terceiro lugar na preferência das crianças de 4 a 11 anos (atrás de minisséries e 
novelas) – essa garotada passou 49 minutos e 51 segundos por dia assistindo ao 
gênero Infantil no primeiro semestre de 2014. Tal conteúdo foi apenas a sétima 
preferência entre 12 e 17 anos. 
 
Uma emissora que merece destaque no contexto da meninada é a TV Escola, uma 
televisão pública do Ministério da Educação voltada a professores e alunos. Criada 
em 1996, ela se institui como política pública e instrumento pedagógico, veiculando 
desenhos, documentários, entrevistas, reportagens e outros programas. É 
distribuída via satélite aberto, TVs por assinatura e na Internet, como também por 
meio de aplicativos de celulares. Possui um público potencial de 18 milhões de 
pessoas e está presente em cerca de 50 mil escolas do Brasil. Em seu site, há 
programas veiculados na TV, jogos, notícias etc. 
 
No entanto, a quantidade principal de conteúdo televisivo para crianças brasileiras 
está mesmo na TV fechada. Aliás, em julho de 2015, quase 30% dos domicílios 
brasileiros (19,64 milhões de assinantes) possuíam o serviço, segundo a Anatel – 
Agência Nacional de Telecomunicações (2015). Entre os cerca de 250 canais pagos 
que constam registrados na Ancine (2017a), 18 são exclusivamente infantis 
43 
 
 
 
(incluindo suas versões em HD, independentemente de transmitirem ou não a 
mesma programação): Baby TV, Boomerang, Cartoon Network, Cartoon Network 
HD, Discovery Kids, Discovery Kids HD, Disney Channel, Disney Channel HD, 
Disney Junior, Disney XD, Gloob, Gloob HD, Nick HD, Nick Jr, Nickelodeon, 
Tooncast, TV Rá Tim Bum! e Zoomoo. 
 
Entre as seis categorias de canais11 apresentadas também pela Ancine (2016b, p. 
44), a Infantil era a quarta com maior presença em 2015, cerca de 10%. Porém, sua 
importância é enorme para esse tipo de serviço, pois facilmente encontramos tais 
emissoras na liderança de audiência das TVs por assinatura, conforme a Ancine 
(2016b, p. 47 e 48). 
 
Os canais infantis disponíveis atualmente que estão há mais tempo no Brasil, 
segundo a Ancine (2015), são o Cartoon Network (1993), o Nickelodeon (1996) e o 
Discovery Kids (1998), todos dos Estados Unidos. Os únicos de origem brasileira 
são a TV Rá Tim Bum! (2004), da Fundação Padre Anchieta, e o Gloob e Gloob HD 
(ambos de 2012), da Globosat. Os mais recentes são o Zoomoo (2013) e as versões 
em HD do Discovery Kids (2013) e Cartoon Network (2014). Os conteúdos 
veiculados pelas emissoras infantis são principalmente desenhos animados, filmes e 
séries. Em seus sites e perfis nas redes sociais, é possível assistir a ao menos parte 
dessa programação e acessar diversos jogos. Naturalmente, também entendemos 
que há veiculações para crianças em outros canais. 
 
1.4. Um pouco mais sobre Internet 
 
Esta segmentação de subcapítulos de acordo com cada meio de comunicação é útil 
para deixar um pouco mais claros os diferentes contextos e características de 
conteúdos infantis, mas é natural que todos conversem entre si. E é praticamente 
impossível isolar totalmente a Internet, pois, como vimos, a maioria absoluta das 
emissoras de TV, jornais, revistas etc. estão presentes na rede online. Inclusive, 
para se ter ideia, a população da Grande São Paulo consumiu uma média diária de 
 
11
 A Ancine (2016b, p. 44) agrupou os canais em seis categorias, aqui em ordem de maior presença 
em 2015: Filmes & séries (37%), Esportes (21%), Variedades (20%), Infantil (10%), Documentário 
(8%) e Notícias (5%). 
44 
 
 
 
1h e 38 minutos de conteúdo televisivo em dispositivos móveis, como celulares e 
tablets, entre janeiro e outubro de 2016, segundo o Kantar IBOPE Media (2016a). 
Então, vamos trazer agora um pouco mais de informações e panoramas desse 
ambiente virtual. 
 
De um modo geral, o Kantar IBOPE Media (2016b) revela que usar as redes sociais 
e ver e/ou baixar vídeos foram as principais atividades que brasileiros entre 12 e 75 
anos fizeram na Internet, no período analisado de 2016. O estudo “Retratos da 
Leitura no Brasil”, feito pelo Instituto Pró-Livro (2016), em relação a 2015, mostra 
algumas especificidades. As principais atividades das crianças de 5 a 10 anos que 
usaram a Internet nos últimos três meses em relação à pesquisa foram jogar (69%), 
assistir a vídeos, filmes ou TV online (58%) e escutar música (48%),12 segundo o 
Instituto Pró-Livro (2016, p. 103). Já entre os pequenos de 11 a 13 anos, suas 
ocupações foram jogar (59%), trocar mensagens no WhatsApp ou no Snapchat 
(57%) e assistir a vídeos, filmes ou TV online (55%),13 também conforme o Instituto 
Pró-Livro (2016, p. 103). 
 
Vamos nos ater agora à produção e consumo de vídeos, mais especificamente no 
YouTube, principal plataforma de vídeos do mundo virtual. Segundo a pesquisa 
“Geração YouTube”, de Corrêa (2016, p. 8), em 2016 havia 230 canais infantis no 
YouTube Brasil – divididos em sete categorias –, 120 a mais que em 2015. 
 
 
12
 As demais atividades da meninada entre 5 e 10 anos na Internet, segundo o Instituto Pró-Livro 
(2016, p. 103): trocar mensagens no WhatsApp ou no Snapchat (43%), enviar ou receber e-mails 
(24%), acessar ou participar de redes sociais, blogs ou fóruns (23%), trabalhar ou buscar informações 
sobre trabalho ou profissão (17%) e fazer compras (8%). 
13
 Suas outras atividades foram: escutar música (51%), acessar ou participar de redes sociais, blogs 
ou fóruns (39%), enviar ou receber e-mails (33%), trabalhar ou buscar informações sobre trabalho ou 
profissão (17%) e fazer compras (12%), também de acordo com o Instituto Pró-Livro (2016, p. 103). 
45 
 
 
 
Gráfico 1 – Quantidade de canais infantis no YouTube Brasil por categoria 
 
Fonte: Corrêa (2016) 
 
Para se ter uma noção de tamanho, esses 230 canais somavam 211,6 milhões de 
inscritos e, naquele último ano, seus vídeos tiveram 52,1 bilhões de visualizações, 
de acordo com Corrêa (2016, p. 15 e 30). Entre os 100 maiores canais do YouTube 
Brasil, 48 eram infantis, também conforme Corrêa (2016, p. 13), mostrando a 
relevância do nicho das crianças. 
 
O Google (2017), proprietário do YouTube, afirma que em 2016 as pessoas do 
mundo todo assistiram a 1 bilhão de horas de vídeos por dia na plataforma. E uma 
prova da importância do fenômeno no Brasil foi a chegada do YouTube Kids no país 
em 30 de junho de 2016. O aplicativo feito para a garotada foi lançado no exterior 
em 2015 e teve 10 milhões de downloads em seu primeiro ano. Segundo o Google 
(2016), ele reúne os conteúdos infantis disponíveis no YouTube e ainda oferece 
diversas opções de controle e segurança para os pais ou responsáveis, como 
configurações de busca, senha e acesso de acordo com a faixa etária e delimitação 
de tempo de uso do app. 
 
1.5. Cinema para crianças 
 
Games –
Minecraft, vlogs de 
games e 
entretenimento e 
gameplays (58)
25%
Programação de 
TV, desenhos e 
novela infantil (35)
15%
Desenhos e 
musicais infantis –
não disponíveis na 
TV (35)
15%
Propagandas de 
brinquedos, unboxi
ng, vídeo de 
massinhas e de 
brincadeiras, histor
inhas a partir de 
brincadeiras (26)
11%
YouTuber Mirim 
(61)
26%
YouTuber Teen (14)
7%
Educativos (1)
1%
Canais infantis no YouTube Brasil
46 
 
 
 
A oferta para crianças no cinema também

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