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MAQUIAVEL E A LOGICA DO PODER

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50 
 
 
 
 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 2021. 
Revista Filosofia Capital – RFC ISSN 1982-6613, Brasília, Reexistência: existência e resistência ao poder dominador! 
Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
 
MAQUIAVEL E A LÓGICA DO PODER: O 
PROBLEMA DA ESTRUTURA POLÍTICA MEDIEVAL 
A DEMONSTRAR RUPTURAS NO ALVORECER DO 
PENSAMENTO FILOSÓFICO MODERNO 
 
MACHIAVEL AND THE LOGIC OF POWER: THE 
PROBLEM OF THE MEDIEVAL POLITICAL 
STRUCTURE DEMONSTRATING RUPTURES IN THE 
DAWN OF MODERN PHILOSOPHICAL THOUGHT 
 
BORGES, Ricardo de Moura
1
 
 
Resumo 
O presente artigo traz uma discussão sobre a lógica do poder em Maquiavel, analisando o 
processo histórico do surgimento da política, por meio de revisão bibliográfica. Demonstra as 
concepções e o surgimento da política na idade antiga, por meio dos considerados pilares do 
pensamento filosófico antigo: Sócrates, Platão e Aristóteles. Depois, com a expansão do 
cristianismo, por meio do Império Romano em decadência surge um período na história 
denominado de Idade Média, momento em que a lógica do poder está pautada pela mentalidade 
cristalizada de um poder divino. Daí foram destacados os três poderes concentrados na Igreja 
Católica: religioso, econômico e intelectual, que dão suporte à lógica do poder. Por fim 
adentramos o pensamento do filosofo renascentista Nicolau Maquiavel, fazendo uma análise do 
pensamento político sob uma nova perspectiva, por meio de dois termos: a virtú e a fortuna, que 
são ferramentas chave para entender o pensamento do nosso filosofo renascentista, a partir de sua 
obra O Príncipe. 
Palavras-chave: Maquiavel. O Príncipe. Lógica do Poder. Política. 
Abstract 
This article presents a discussion on the logic of power in Machiavelli, analyzing the historical 
process of the emergence of politics, through a literature review. It demonstrates the conceptions 
and emergence of politics in the ancient age, through the considered pillars of ancient 
philosophical thought: Socrates, Plato and Aristotle. Then, with the expansion of Christianity, 
through the decaying Roman Empire, a period in history called the Middle Ages appears, a 
moment in which the logic of power is guided by the crystallized mentality of a divine power. 
Hence, we highlight the three powers concentrated in the Catholic Church: religious, economic 
and intellectual, which support the logic of power. Finally, we enter the thought of the 
Renaissance philosopher Nicolau Machiavelli, analyzing political thought from a new perspective, 
through two terms: virtú and fortune, which are key tools to understand the thinking of our 
Renaissance philosopher, from his work The Prince. 
 
Keywords: Machiavelli. The prince. Logic of Power. Politics. 
 
1 Mestrando em Sociologia – UVA – CE; Graduado em Licenciatura em Filosofia pelo Instituto Católico de Estudos 
Superiores do Piauí – ICESPI, Av. Palmeirais em Teresina-PI (2015). Graduado em Licenciatura em História pela 
Universidade Federal do Piauí, Campus Senador Helvídio Nunes de Barros em Picos-PI (2016). Pós Graduado com 
Especialização em História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena pelo Centro Universitário Internacional - UNINTER, 
polo Picos-PI (2017). Pós Graduado em Filosofia pela Estácio de Sá. CV Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/9110148245859195. 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 2021. 
Revista Filosofia Capital – RFC ISSN 1982-6613, Brasília, Reexistência: existência e resistência ao poder dominador! 
Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
 
Introdução 
 
Muito discutido e objeto de muitas 
reflexões, o pensamento de Maquiavel, 
surpreendentemente, se faz presente depois 
de séculos de sua escrita, principalmente nas 
chamadas crises políticas, que estamos 
vivendo em nosso século. Dessa forma, é de 
fundamental importância que nos 
debrucemos sobre esse filósofo, para que 
entendamos a filosofia política no 
pensamento político moderno. Contudo 
devemos situarmo-nos no contexto histórico, 
para não corrermos o risco de desumanizar o 
homem, sem ao menos torná-lo demônio ou 
anjo que inaugurou uma nova forma de 
pensar sobre a política. 
Para isso dividimos o presente artigo 
em três tópicos que nos ajudarão a 
compreender o processo histórico do 
pensamento de nosso filósofo. Por isso, no 
primeiro tópico encontramos os gregos e os 
romanos como inventores da política, 
ressaltando de forma breve os pilares do 
pensamento filosófico grego desde a 
formação das primeiras cidades e a 
necessidade de se criar uma organização 
política com leis que norteassem a vida na 
pólis. 
Passando pelos sofistas e no divisor de 
águas, Sócrates, podemos apreciar a 
compreensão de política e a lógica do poder 
nos dois pilares da filosofia, a saber: Platão e 
Aristóteles, fazendo perceber que esse 
modelo foi alastrado para outras civilizações, 
onde Roma domina a Grécia pela força, nas 
conquistas territoriais, mas a cultura, a 
filosofia, a matemática, a religião e a política 
gregas são assimiladas pelos romanos de 
forma intensa. 
No segundo momento, adentraremos a 
Idade Média, começando a desconstruir esse 
termo, demonstrando uma construção feita 
pelos modernos, colocando em evidência que 
a lógica do poder agora passa a ser 
incrementada pelo desempenho e expansão 
constantes do cristianismo e passando por 
uma breve analise de construção do 
cristianismo pelas bases judaicas e com sua 
expansão através da agregação e expansão 
pelo Império Romano. 
A igreja católica agora passa a possuir 
os três poderes, a saber: religioso, econômico 
e intelectual. Dessa forma, a lógica do poder 
passa a se cristalizar, onde a filosofia passa a 
ser serva da teologia e os textos sagrados dão 
ênfase à construção da política medieval, 
dando autoridade ao soberano por forças 
divinas. 
No terceiro momento, apresentamos 
uma análise sobre a compreensão da lógica 
do poder em Maquiavel, situando-o 
historicamente e culturalmente, 
demonstrando que, a partir de sua 
experiência de vida na política na cidade de 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
2021. 
Revista Filosofia Capital – RFC ISSN 1982-6613, Brasília, Reexistência: existência e resistência ao poder dominador! 
Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
Florença e em momentos de exílio, utiliza a 
sensibilidade e análise da história, buscando 
em outros autores, como por exemplo, o 
historiador Tito Lívio, que descreve a 
expansão de Roma, para compreender a 
situação política, culminando em sua obra de 
grande repercussão até os dias atuais: O 
Príncipe. 
O pensamento político que já estava 
concretizado no período em que Maquiavel 
viveu era pautado no período medieval. Cabe 
destacar que esse período estava alicerçado 
na cristandade que, com a queda do império 
romano, ganhou força e se mostrou como 
ponto unificador a partir de uma sociedade 
marcada pelo sistema feudal, que não pode 
ser entendo apenas como posse de terras para 
caracterizá-lo, como veremos mais adiante. 
O poder dos reis, dos senhores feudais 
marcou uma nova organização da sociedade, 
agora atrelando dois poderes, o poder 
temporal e o poder religioso, que na idade 
antiga se faziam separados, mas que também 
se uniram. Vale ressaltar que os antigos 
povos romanos, por exemplo, tinham o rei ou 
imperador Augustus,que quer dizer divino, 
por isso esse imperador era visto com um 
novo deus presente na terra, portanto, sendo 
aqueles contrários a essa concepção deveriam 
ser executados. 
Diferentemente do cristianismo, em 
que o rei deveria ser sagrado por um bispo, 
um cardeal ou até pelo próprio pontífice de 
Roma, o papa, para receber autoridade 
política que deveria ser dada por Deus, a 
nova estrutura apresentada pelo 
expansionismo dos mercadores, que se fez 
presente desde o tempo das guerras “santas”, 
como as cruzadas, o surgimento e a 
intensificação das feiras nos oriundos burgos, 
onde moram os chamados burgueses, dentre 
outros fatores trouxeram o alvorecer de 
novos tempos que se configuraram por uma 
historiografia tradicional de: Idade Moderna. 
Nesse contexto, percebemos a figura 
do nosso filósofo, que provavelmente, se 
tivesse nascido em tempos anteriores, 
poderia ter ocupado grandes posições de 
destaque na sociedade, o que de fato não 
aconteceu, devido aos interesses políticos da 
época. Este, em Florença na Itália (1469 – 
1527), é designado como um bom estudioso, 
principalmente dos clássicos, a exemplo não 
só dos grandes oradores gregos mas também 
dos filósofos Platão e Aristóteles, que deram 
uma grande contribuição para o pensamento 
político. 
Maquiavel configurava-se como 
intelectual e apaixonado pela política, mas 
acabou percebendo o problema conceitual de 
uma política que estava se tornando 
ultrapassada em relação às interpretações 
teóricas da época. Dessa forma, o filósofo 
analisou os problemas políticos por meio de 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
2021. 
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Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
um caminho novo. 
Por fim, veremos sobre como a lógica 
do poder, em Maquiavel, parte de um 
pressuposto de análise de cunho 
investigativo, segundo o autor que analisou a 
história minunciosamente, estabelecendo 
uma nova ótica sobre a virtú e a necessidade 
de o soberano se fixar no poder através das 
oportunidades, onde esse conceito está 
intrinsecamente unido ao conceito de fortuna. 
 
Gregos e romanos inventaram a política: a 
lógica do poder nos clássicos 
Em primeiro lugar faz-se necessário 
buscarmos entender o conceito e o 
surgimento do termo política, para 
posteriormente adentrarmos o pensamento de 
Maquiavel. Entendemos que, em seu sentido, 
a política foi inventada pelos gregos e 
aprimorada pelos povos romanos, tendo 
justamente como finalidade a obtenção da 
vida justa e feliz. Por esse motivo, muitos 
pensadores colocam que a política está 
intrinsecamente unida à ética. 
Atualmente isso parece difícil de ser 
visualizado, devido às graves crises políticas 
existentes. Parece que uma vive distanciada 
da outra, devido a concepção de que os 
políticos são corruptos, fazendo com que 
esse atributo seja inerente à política. 
Percebemos uma grande cobrança de ética na 
política, de modo que parece ser necessário 
voltarmos à origem da invenção da política, 
para encontrarmos os pontos que ligaram 
ética e política que está associado a phíloi, 
tendo em vista a sua separação em nossos 
tempos. Como acrescenta Konstan (2005, p. 
90): 
 
Phíloi inclui todos os que são simpáticos 
aos jovens rebeldes. Na atmosfera da 
guerra civil, em que os fugitivos retornam 
para derrubar o novo regime, as relações 
são polarizadas entre amigos e inimigos, e 
o termo phíloi equivale a partidários. 
 
De fato, houve um vínculo interno 
entre política e ética, que trazia um 
significado das qualidades do poder e das leis 
que necessariamente dependiam das 
qualidades morais dos cidadãos. Como 
afirma Japiassú (2006, p.220), “política é 
tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos e 
ao governo da cidade, aos negócios 
públicos”. Com o surgimento das cidades 
(polis em grego), que deve ser entendida para 
além do espaço urbano, como comunidade 
política, onde se seguia a lógica de que 
somente em uma cidade boa e justa poderia 
haver homens bons e justos e, 
consequentemente, somente por meio de 
homens bons e justos poderia existir uma 
cidade boa e justa. 
O surgimento da cidade, contudo não 
nasceu de passividade e justiça, mas 
justamente por meio da luta de classes, 
havendo um poder exercido por uma 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
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Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
autoridade. Claro que antes dos gregos havia 
essa autoridade, mas esta era exercida pelo 
predomínio dos mitos, sendo que foi 
justamente na cidade que o poder e 
autoridade existiram de forma política, 
substituindo o poder despótico (chefe da 
família). 
Esses conflitos gerados na polis e 
agora, não solucionáveis apenas por um 
poder despótico, entre ricos e pobres e entre 
ricos e ricos, agora deveria fundamentar-se 
em leis e princípios que valessem para todos 
os cidadãos. Assim nasce a política como 
uma necessidade de organização social. 
Dessa forma, não apenas no tempo de 
Maquiavel existia a luta pelo poder político, 
mas desde o seu surgimento na Grécia 
Antiga, quando os mesmos estavam 
interessados em garantir um status social 
para angariar benefícios para si e os seus. 
Percebemos o surgimento de três grandes 
sofistas (sábios, professores) Hípias, 
Protágoras e Górgias, que tinham por 
finalidade ensinar a elite ateniense a arte do 
bem falar, por meio da oratória e da retórica. 
Ora, se a própria política nasce de uma 
convenção social, por uma necessidade, o 
pensamento dos sofistas conclui que a polis 
(cidade) não é diferente, ao perceberem que a 
vida em comum traz mais benefícios do que 
o próprio isolar-se. Daí nasce o nomós (leis), 
ou seja, regras de convivência, como reforça 
Botelho (2015 p. 49): 
 
E é ai que entram os sofistas. No século 5 
a.C., o nome (não?) se aplicava exatamente 
a uma escola filosófica, mas a uma 
profissão. Os sofistas eram intelectuais 
itinerantes que perambulavam na Grécia, 
ensinando diversos assuntos – 
principalmente a arte de raciocinar com 
clareza e falar de forma convincente. 
Adotaram a dialética, criada por Zenão, e 
adaptaram-na a suas necessidades. 
 
Nessa transitoriedade onde algo que 
poderia se naturalizar necessariamente 
poderia ser mudado com a discussão e o 
debate, surge um espaço privilegiado, 
chamado de Ágora, que é um espaço público 
onde a jovem elite bem preparada pelos 
sofistas podia discutir em público, 
argumentando em favor de suas opiniões nos 
debates das assembleias, a fim de defender 
sua posição. Dessa maneira continua Botelho 
(2015 p. 49): 
 
O primeiro dessa nova tendência filosófica 
foi Protágoras, nascido por volta de 490 
a.C em Abdera, no norte da Grécia. Passou 
a vida perambulando de cidade em cidade 
e dando aulas sobre a arte de falar bem; 
seu ensino não era desinteressado: quem 
quisesse ouvi-lo e aprender com ele tinha 
de pagar. Essa veia mercantil trouxe má 
reputação aos sofistas – afinal de contas, 
nada estaria mais longe do ideal 
contemplativo descrito por Pitágoras do 
que um intelectual que pensa e fala por 
dinheiro, sem se preocupar com a realidade 
final das coisas. Por isso, a palavra sofista 
até hoje tem uma conotação negativa. 
“Eles não tinham a intenção de ensinar 
coisas ligadas a religião ou à virtude; 
ensinavam a arte de argumentar e todos os 
conhecimentosa eles relacionados. 
 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
2021. 
Revista Filosofia Capital – RFC ISSN 1982-6613, Brasília, Reexistência: existência e resistência ao poder dominador! 
Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
Como veremos posteriormente, nosso 
filósofo passou por muitas discussões 
políticas em Florença, no século XV d. C. 
Nesse contexto, surge um filósofo 
considerado como divisor de águas para a 
história da filosofia, pois antes, e mesmo no 
tempo dele, o pensamento era caracterizado 
pela busca do princípio de todas as coisas 
pela própria natureza, e agora, com Sócrates, 
o problema filosófico passa a ser 
antropocêntrico, ou seja, o homem é o centro 
de seus questionamentos, procurando sair do 
mero mundo das opiniões dos sofistas, para 
se chegar a uma essência do que seja a 
justiça. Sócrates conclui que a verdadeira 
sabedoria se daria pelo reconhecimento da 
própria ignorância, como nos refere Botelho 
(2015, p. 61): 
 
O primeiro passo no caminho do filósofo é 
sempre incômodo: consiste em questionar 
todos os conhecimentos herdados, todas as 
certezas individuais e coletivas, e 
recomeçar a busca pela verdade de forma 
implacável, expondo tudo à lamina de um 
raciocínio rigoroso. Após a mensagem de 
Pitonisa, Sócrates convenceu-se de que a 
missão era iluminar a mente dos seres 
humanos, mostrando-lhes que nada sabiam 
– pois só assim poderiam vir a saber 
alguma coisa. 
 
Mesmo com a dúvida por parte de 
muitos historiadores da filosofia sobre a 
existência ou não de Sócrates, devido ao fato 
de o conhecermos apenas pelo que outros 
deixaram sobre ele, ou seja, os seus 
discípulos, é inegável que este, real ou não, 
provocou uma nova forma de se pensar a 
filosofia. Como afirma Reale (1990, p. 85), 
 
Parece sempre mais claro que se deve 
distinguir duas fases na vida de Sócrates. 
Na primeira fase, ele esteve próximo dos 
físicos, particularmente Arquelau, que, 
como vimos, professava doutrina 
semelhante à de Diógenes de Apoínea. 
Sofrendo a influência da sofistica, fez 
próprios os seus problemas, embora 
polemizando firmemente contra as 
soluções que lhes foram dadas pelos 
maiores sofistas. Assim sendo, não é 
estranho o fato de que Aristófanes, na 
celebre comédia As nuvens, representada 
no ano 423, tenha apresentado um Sócrates 
bem diferente daquele apresentado por 
Platão ou Xenofonte, que é o Sócrates da 
Velhice, o Sócrates da última parte da 
vida. 
 
Com isso entendemos que Sócrates, 
como qualquer outro pensador, está marcado 
pela sua época, cultura e sociedade, de onde 
são lançados olhares e perspectivas sobre os 
problemas surgidos. 
O seu discípulo Platão escreveu uma 
obra intitulada A República, onde coloca o 
ideal ético a ser seguido, para que haja justiça 
na polis, onde o Rei- filósofo deveria ser o 
melhor governante para a polis grega. Já o 
seu discípulo Aristóteles escreveu uma obra 
intitulada A Política, e nos diz que o homem, 
por natureza, é um ser político, destacando 
que é na polis (cidade) onde o ser humano 
tem as melhores condições de desenvolver 
suas potencialidades. 
Com essa breve contextualização 
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 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
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Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
histórica, evidenciamos que a lógica do 
poder, discutida posteriormente, já se faz 
presente desde a criação da política na Grécia 
antiga, onde a luta de classes e interesses 
políticos trouxe diversas discussões, ou por 
uma busca constante por verdades 
passageiras, opiniões que poderiam ser 
moldadas ao prazer das circunstancias, ou na 
perspectiva platônica, posta sob foco o 
Sócrates que busca a essência, a verdade 
imutável, caracterizando que a justiça, 
mesmo sob o olhar do próximo discípulo de 
Platão, Aristóteles, deve ser almejada por 
todos os homens. Assim afirma o filósofo 
Aristóteles, em sua obra A Política, (p. 1253 
a). 
 
Estas considerações deixam claro que a 
cidade é uma criação natural, e que o 
homem é por natureza um animal social, e 
um homem que por natureza, e não por 
acidente, não fizesse parte de cidade 
alguma, seria desprezível ou estaria acima 
da humanidade [...]. Agora é evidente que 
o homem, muito mais que a abelha ou 
outro animal gregário, é um animal social. 
Como costumamos dizer, a natureza nada 
faz sem um propósito, e o homem é o 
único entre os animais que tem o dom da 
fala. 
 
Por meio da comunicação mais 
aprimorada por meio da fala, o ser humano 
constrói a cidade, consequentemente as 
relações sócias aprimoram- se, ou seja, a 
natureza dos gatos contemporâneos 
permanece a mesma desde os tempos de 
Aristóteles, devido ao grau de abstração do 
conhecimento, sistematização e passagem 
para outros tempos. 
O ser humano, por meio da memória e 
da fala, transmite o conhecimento, muda a 
realidade, transforma a natureza por meio da 
cultura e da política. Pensando sobre a 
origem e a finalidade da comunidade política, 
temos a definição do ser humano como 
animal político, pela analogia com as abelhas 
e as formigas, que vivem em grupo. Mas, 
diferentemente das abelhas e formigas, o ser 
humano desenvolveu a linguagem e, por 
meio desta, modifica a realidade apresentada. 
Os romanos expandiram seu território, 
dominando os gregos e, como era práxis de 
domínio, instituíram a pax romana, ou seja, 
dominavam os territórios mas deixavam que 
estes continuassem com suas tradições, 
cultura, ou seja forma de organização. Assim, 
os romanos receberam forte influência a 
partir do século II a.C, com valores culturais, 
literários, filosóficos e científicos da 
civilização grega, que passaram a fazer parte 
do dia a dia dos romanos. 
Houve resistência dos setores mais 
conservadores da sociedade romana, pois 
estes temiam a perda das tradições. Não 
diferentemente, a religião romana foi 
enriquecida com a assimilação de deuses 
oriundos da Grécia, enquanto a língua latina 
incorporava as palavras gregas. Até na 
educação, muitos romanos deixavam a 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
2021. 
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Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
educação dos seus filhos à mercê dos gregos. 
Esse processo conhecido por helenização foi 
tão forte que historiadores afirmam que 
muitas famílias romanas adotaram nomes 
gregos. Assim nos esclarece Botelho (2015, 
p.121): 
 
O império de Alexandre começou a ruir no 
momento de sua morte. Depois de 323 a. 
C., as vastas conquistas do macedônio 
foram divididas entre três de seus generais: 
a Ptolomeu, coube o Egito; Seleuco 
apossou-se do Oriente Médio; e Antígono 
reclamou a Europa. Após uma sucessão de 
revoltas contra os macedônios, Atenas foi 
derrotada definitivamente entre 267 a. C., e 
sua importância política se extinguiu de 
uma vez. Mas a roda da fortuna continuou 
girando: em 198 a. C., os próprios 
macedônios foram suplantados por Roma. 
Mas uma vez os gregos acreditaram-se 
livres, e, mais uma vez, estavam iludidos: 
algumas décadas depois, a Grécia tornou-
se a província de um novo império. A 
época que vai da morte de Alexandre à 
anexação da península gregapor Roma é 
conhecida como Era Helenística. 
 
Esses elementos nos ajudam a dar mais 
um passo para compreender a lógica do 
poder em Maquiavel, que parece estar mais 
presente, na idade antiga, entre gregos e 
romanos, devido aos embates políticos e ao 
surgimento de novas teorias políticas, como 
fundamentação dos filósofos acima citados. 
No entanto, com o alvorecer do cristianismo, 
as perspectivas políticas ganham uma nova 
configuração que será discutida no próximo 
tópico. 
 
 
Idade Média: a lógica do poder teológico 
político 
Antes de iniciarmos propriamente a 
nossa discussão, cabe uma ressalva sobre o 
termo idade média, que foi construído 
devidamente por aqueles que se 
consideravam estar em outro estagio de 
pensamento, se auto classificando como 
modernos. Estes tornaram-se conhecidos 
como renascentistas entre os séculos XV e 
XVI, quando estabelecem uma visão 
distorcida sobre o período compreendido 
entre os séculos V e XIV. Calainho (2014 p. 
14) assim afirma: 
 
A Idade Média, então, foi vista como um 
hiato, uma fase de interrupção do 
progresso humano, um período 
intermediário – daí média – entre o 
esplendor da Antiguidade Clássica e os 
“novos tempos” dos renascentistas e 
humanistas. A Idade Média foi 
considerada, então, como “Idade das 
Trevas”, a exemplo do poeta italiano 
Francesco Petrarca (1304 – 1374), que se 
referiu ao período tenebrae (sombra, 
escuridão). 
 
Essa visão foi construída e disseminada 
por muitos intelectuais da época renascentista 
e moderna. Calainho (2014, p. 14) ainda 
destaca que, 
 
Percebida como uma época de grande 
fanatismo religioso, ignorância e 
estagnação econômica, a Idade Média – a 
“longa noite de mil anos” – foi desprezada 
e detratada por vários intelectuais, como o 
renomado pintor Rafael Sânzio (1483 – 
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Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
1520), que denominou a arte medieval de 
gótica, termo que era sinônimo de bárbaro. 
Este olhar preconceituoso do período 
medieval se consolidou no século XVI, 
quando o italiano Giorgio Vasari, 
publicando uma obra bibliográfica dos 
grandes artistas da época, popularizou o 
termo “Renascimento”, em contraponto ao 
período anterior. E, no século XVII, o 
alemão Christian Keller publicou, em 
1688, um manual de sua autoria, dedicado 
à Antiguidade e aos Tempos Modernos. 
 
Essa visão sobre a Idade Média só 
ganha uma nova perspectiva de enfoque no 
século XIX. Mesmo assim, hoje, no século 
XXI, encontramos o ensino moderno sobre a 
Idade Média. A idade Média, sob a 
perspectiva da escola dos annales, nascida na 
França no século XX, demonstrou que é um 
período que deve ser olhado como “objeto de 
novas reflexões historiográficas, ancoradas 
em novas fontes e metodologias” (FRANCO, 
1983.p. 12). Assim, esse novo período 
histórico começa com a queda do Império 
Romano, em 476 
d. C, e está dividido em: Alta Idade 
Média (Séculos V a X) e Baixa Idade Média 
(Séculos X a XIV), tendo em vista que o 
nosso foco é a concepção política dada pelos 
fatores que unificaram os povos, ou seja, pela 
lógica dos poderes políticos sob a égide da 
política romana e do cristianismo. 
Com o aparecimento do cristianismo 
no ocidente, as concepções dos filósofos 
antigos passam a ganhar nova tonalidade, 
ganhando uma centralidade religiosa. Por 
isso a lógica do poder, que antes estava em 
uma racionalidade política, dada pelo debate 
e discussão, sendo consolidada pelas leis, 
propicia o surgimento do direito romano, que 
até hoje é um dos pilares do ocidente, 
somando-se a dois outros: O cristianismo e a 
filosofia grega. Enquanto isso percebemos 
confronto com o cristianismo inicial e o 
império romano, como nos mostra Blainey 
(2012, p. 62), 
 
Desde o ano 64, quando Nero governava o 
Império Romano, empreendiam-se grandes 
campanhas de perseguição aos cristãos. 
Algumas eram mais amplas, mas a maior 
parte delas se concentrava em locais 
específicos, sob o comando de 
governadores de províncias. Não se sabe 
quantos cristãos foram executados no 
período de trezentos anos. O número de 
cristãos presos, então, é incalculável. Os 
crentes desafiadores, que se recusavam a 
renunciar ao seu Senhor, eram cruelmente 
torturados em público. Não se poupavam 
as mulheres: depois de terem o cabelo 
cortado ou raspado, como forma de 
humilhação, recebiam o castigo, ainda que 
tivessem dado a luz recentemente, 
estivessem grávidas ou fossem idosas. A 
maior parte dos torturados se recusava a 
abandonar a crença. Em Cartago, no ano 
de 203, os sofrimentos de Perpétua, aos 22 
anos, e de sua escrava Felicidade 
permaneceram por muito tempo na 
memória do povo. Nenhum outro mártir – 
exceto os apóstolos – foi mais 
reverenciado do que elas. 
 
O cristianismo é herdeiro de duas 
tradições, a saber: a hebraica e a romana, 
portanto daqui partiram as suas teorias 
políticas. Os hebreus deram um caráter 
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teocrático à política. Por essa concepção, o 
poder pertence com exclusividade a Deus; 
assim, por meio dos profetas e pessoas 
ligadas à fé hebraica, pode-se eleger os 
dirigentes. 
Encontramos no livro dos provérbios, 
8, 15: “É por mim que reinam os reis e que 
os príncipes governam a justiça”, dando 
sustentação divina ao governo dos reis na 
idade média. Provavelmente aqui 
encontramos um dos principais obstáculos 
enfrentados por Maquiavel, ao descrever a 
realidade política por meio de interesses 
humanos e não apenas, como a mentalidade 
da época considerava, pautado no livro 
sagrado. 
Os hebreus, além de serem conhecidos 
como povo de Deus, são conhecidos também 
como povo da lei. Assim, o cristianismo, ao 
se consolidar, estabelece uma junção da 
antiga aliança, do povo que estabelece uma 
aliança com Deus, e uma nova lei ou aliança 
de Deus com o povo, por meio de Jesus. 
Com a consolidação do cristianismo, a 
lógica do poder político, que estava sob força 
romana, encontramos o príncipe investido de 
poderes novos. Príncipe é uma palavra que 
indica primeiro cidadão, contudo, sendo 
Roma a senhora do universo, o príncipe se 
torna imperador do universo, que ficaria 
justamente em Roma. Assim, a lógica do 
poder está enfaixada sob a teoria política 
cristã com a teologia política, dando 
resultado ao poder da Igreja. 
No entanto, o poder a Igreja cresce na 
mesma proporção que o poder do Império 
Romano cai no ostracismo. Dois motivos 
levam a esse crescimento, Como aponta 
Chauí (2000, p. 324): 
 
A expansão do próprio cristianismo pela 
obra da evangelização dos povos, realizada 
pelos padres nos territórios do Império 
Romano e para além deles; e o sistema 
resultante do esfacelamento de Roma, 
conhecido como feudalismo, que 
fragmentou a propriedade da terra e fez 
surgirem pequenos poderes locais isolados, 
de sorte que o único poder centralizado e 
homogeneamente organizado era a Igreja. 
 
Enquanto o Império Romano entra em 
decadência, a igreja passa a agregar três 
poderes, a saber: o poder religioso, que antes 
era marcado pelo politeísmo, chegando até a 
divindade dos próprios Imperadores 
(Augustus), o poder econômico (doações de 
terras fizeram com quea Igreja se tornasse 
imensamente rica em um período conhecido 
como feudalismo) e o poder intelectual, já 
que as obras dos antigos intelectuais estavam 
sob o domínio da Igreja. 
Agora deveriam ser repensadas sob a 
ótica do cristianismo, pois nesse período 
surge a filosofia como serva da teologia, ou 
seja, todas as coisas que antes eram 
explicadas pelos antigos devem passar por 
uma revisão cristã. Assim, muitos filósofos e 
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teólogos da Idade Média cristianizaram as 
obras dos antigos, a exemplo de Platão, 
cristianizado por Agostinho, e de Hipona e 
Aristóteles, cristianizado por Tomás de 
Aquino. Como nos esclarece Botelho (2015, 
p. 137): 
 
O triunfo cristão acarretou novos desafios 
intelectuais à filosofia: a tentativa de 
adequar a Razão e a Fé, de modo que 
ambas coincidissem, é uma linha de força 
que atravessa a história do pensamento 
desde o fim da Antiguidade até o ápice da 
Idade Média. Nos primeiros séculos da 
nova religião, uma sequência de 
pensadores – conhecidos como os Pais da 
Igreja – buscou adequar a ideia de 
revelação divina às especulações clássicas 
da Antiguidade, essa fase do pensamento 
cristão é conhecida como filosofia 
patrística. 
 
Sobre o feudalismo, Bloch (1982, p. 
38) nos diz que “o feudalismo originou uma 
sociedade em que o indivíduo não pertencia a 
si próprio, em que os laços de fidelidade 
eram maiores do que os de sangue”. 
Adentrando a Baixa Idade Média no 
ocidente, percebemos que esta passou por 
uma crise motivada por diversos fatores, o 
que fez alvorecer uma nova forma de pensar 
o poder político através do poder econômico. 
Essa crise abalou a nobreza, como a queda de 
fortunas, fazendo com que muitos partissem 
em êxodo para as cidades que tinham sido 
menos atingidas pela crise. Outro fator foi a 
peste negra, que dizimou milhares de 
pessoas, como salienta Calainho (2014, p. 
121), ao dizer que 
 
A doença era praticamente fatal em 80 a 
100% dos casos, pouco tempo depois de 
contraída. Ironicamente, chegou à Europa 
por conta de grande expansão mercantil 
que marcou o feudalismo, vinda com 
comerciantes oriundos da colônia genovesa 
de Caffa, na região do Mar Negro, e 
difundindo-se pelo restante da Europa. A 
doença devastou a população do sul para o 
norte, caminhando em velocidade 
espantosa e atingindo indistintamente ricos 
e pobres, bem e mal alimentados. A 
salvação era estar longe dos focos, a 
exemplo dos personagens de De Cameron, 
livro de autoria de Giovanni Boccaccio, 
escrito em 1350, que viram sua cidade 
natal Florença, ser dizimada pela moléstia. 
 
Como foi visto em um dos fatores que 
levaram à crise na Idade Média, encontramos 
a cidade de nosso filosofo descrita na citação 
acima, onde analisaremos por conseguinte a 
lógica do poder em Maquiavel, tendo em 
vista que encontramos perspectivas do 
pensador. Por isso fez-se jus ao passeio 
histórico que fizemos na Grécia antiga e no 
período medieval. 
Aqui percebemos que essa 
consolidação cristã do conceito de política 
romano marca um impasse quando 
adentrarmos o pensamento de Maquiavel, 
marcado por crises que não se sustentam 
mais, percebemos a necessidade do alvorecer 
do conceito de política sob uma nova ótica. 
Quando observamos na obra O Príncipe (p. 
8), temos a seguinte passagem: 
 
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Como sei que muita gente já escreveu a 
respeito dessa matéria, duvido que não seja 
considerado presunçoso propondo-me 
examiná-la também, ainda mais se ao tratar 
deste assunto me afastar dos princípios 
estabelecidos pelos outros. Todavia, como 
é de meu intento escrever coisa útil para os 
que se interessarem, pareceu-me mais 
conveniente procurar a verdade pelo efeito 
das coisas do que pelo que delas se 
imagina. 
 
Passemos para o pensamento de 
Maquiavel enquanto filosofo moderno, 
renascentista que se situa na cidade de 
Florença e como o mesmo começa a perceber 
a lógica de poder político que é instituída na 
sociedade. Um filosofo que parte de 
observações do seu cotidiano, marcado por 
inúmeras derrotas na área da política, passa a 
escrever sua obra, O Príncipe, no momento 
em que está preso. Deixando de lado as 
discussões sobre governos e governantes 
ideais, o filósofo se preocupa em descrever 
como é de fato esse governo, destacando que 
existem limites para o uso da violência para 
que o soberano conquiste e continue no 
poder e como conseguir um governo estável. 
Por isso se faz necessário lançarmos um 
olhar reflexivo sobre a lógica do poder em 
Maquiavel, pois proporciona uma visão da 
história desapegando das tradições até então 
aceitas. A lógica, portanto, significa uma 
mudança de paradigmas que perpassa a idade 
moderna através de considerações dadas por 
outros filósofos. Portanto, Maquiavel é se 
torna o precursor da filosofia política 
moderna com sua forma de entender a 
política em um viés realista. 
 
A Lógica do poder em Nicolau Maquiavel 
O problema da estrutura política 
medieval a demonstrar rupturas no alvorecer 
do pensamento filosófico moderno, se dá 
justamente pelas condições de constante 
transformação em que a Europa Ocidental se 
encontra. Percebemos que, quando 
Maquiavel nasce, a própria península itálica 
encontrava-se descentralizada e fragmentada. 
Destacamos cinco estados que tinham poder: 
O Reino de Nápoles, O Reino dos Estados 
Pontifícios, o Estado Florentino, o Ducado de 
Milão e a Republica de Veneza. Estes viviam 
em constante conflito, que os deixavam 
frágeis caso houvesse invasões inimigas. 
Em 1492 morre Lourenço de Médici, 
conhecido como Lourenço o Magnifico, rico 
da casa de Médici que dominava Florença. O 
seu sucessor não teve o mesmo prestigio. 
Dois anos após a morte de Lourenço, o rei da 
França Carlos VII, atravessou os Alpes em 
busca de conquistar Florença, em um período 
de guerras que durou até o ano de 1559. Por 
infelicidade, nosso filósofo Maquiavel 
passou grande parte de sua vida sob efeito de 
catástrofes políticas na Itália. Japiassú (2006, 
p. 177) assim descreve Maquiavel: 
 
Homem solitário e revoltado, o italiano 
Maquiavel (nascido em Florença), tornou-
se aos 29 anos, secretário do governo 
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republicano de Florença. Empreendeu 
várias missões diplomáticas. Os Médici, 
porém sustentados pelo Papa Júlio II, 
apoderaram-se de Florença e dos Estados 
Vizinhos. O republicano Maquiavel 
organizou, em vão sua resistência. Foi 
preso, torturado e banido (exilado). Em 
San Cassiano, onde se refugiou e passou 
10 anos, escreveu dois livros: O discurso 
sobre a primeira década de Tito Lívio e o 
Príncipe. 
 
Com base nesta citação, percebemos o 
infortúnio do filosofo, que no momento de 
crise (exílio), preparou uma de suas obrasmais conhecidas e vendidas nos dias de hoje, 
O Príncipe, que é uma obra dedicada a 
Lourenço de Médici, que era neto de 
Lourenço o Magnifico, quando em 1512 a 
família Médici voltou ao poder de Florença. 
A obra foi uma esperança para que 
Lourenço conduzisse a política, tal como seu 
avô, mantendo um processo de unificação 
política da região da Itália. Contudo, em 
1527, os Médici foram expulsos do poder no 
mesmo ano em que o nosso filósofo 
“solitário e Revoltado” (JAPIASSÚ, 2006, p. 
177) Niccolò Maquiavel faleceu. Com a 
queda do último Médici, a cidade de 
Florença estava em decadência, como afirma 
Hibbert (1993, p. 223). 
 
Florença tinha outros motivos para chorar. 
Era agora uma cidade triste, pobre, 
sombria e sem esperança. Os turistas a 
descreveram repleta de mendigos, 
vagabundos e monges que em lúgubre 
cortejo passavam por escuros edifícios de 
vidraças tapadas com papel. [...]. Apesar 
dos onerosos tributos decretados por 
Cosimo, que em seu leito de morte 
autorizava uma nova forma de imposto de 
renda, o Estado se encontrava praticamente 
falido. E falidas se achavam muitas 
famílias nobres cujos ancestrais haviam 
sido tão ricos. 
 
Maquiavel, ao analisar a política, 
rejeita as construções tradicionais de política 
marcadas por um idealismo tanto de Platão, 
ao falar em seu livro a República do Rei 
Filósofo, como de Aristóteles, que 
posteriormente ganha novo teor nos textos de 
Tomás de Aquino. Assim, segue a trilha dos 
historiadores antigos, como Tácito, Políbio, 
Tucídides e Tito Lívio. Como nos esclarece 
Wefort (2008, p.17), 
 
Seu ponto de partida e de chegada é a 
realidade concreta. Daí a ênfase na verità 
effettuale – a verdade efetiva das coisas. 
Esta é sua regra metodológica: ver e 
examinar a realidade tal como ela é e não 
como se gostaria que ela fosse. A 
substituição do reino do dever ser, que 
marcara a filosofia anterior, pelo reino do 
ser, da realidade, leva Maquiavel a se 
perguntar: como fazer reinar a ordem, 
como instaurar um Estado estável? O 
problema central de sua análise política é 
descobrir como pode ser resolvido o 
inevitável ciclo de estabilidade e caos. 
 
Essas questões colocam fim a uma 
estrutura que estava naturalizada e que foi 
marcada por leis ditas eternas. Assim essa 
ordem política não é nem do acaso e nem de 
forças divinas como se acreditava até então. 
Como salienta o historiador Miceli (2016, p. 
39), ao apontar que, 
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Para melhor entender essa espécie de 
contemporaneidade entre O Príncipe, basta 
substituir o personagem título por 
entidades politicas detentoras de poder 
social, independente de seus nomes e 
aparelhos jurídicos-administrativos, sejam 
os ditadores e chefes de Estado 
plenipotenciários, sejam os caudilhos ou 
líderes de partidos únicos, sindicatos todo- 
poderosos e impessoais burocracias 
estatais. 
 
É como se perguntássemos hoje em dia 
que o presidente da república de nosso país 
(em momento de escândalos, corrupção, 
compra de deputados e etc.) fosse esse poder 
atribuído a ele pelo acaso ou estivesse 
pautado em textos sagrados que deveria este 
ser governante do país. 
Estando atento à história e aos 
acontecimentos que o rodeavam, Maquiavel 
começa a estudar de forma meticulosa e 
esmiunçada a história para tirar desta os 
exemplos políticos que fundamentaram sua 
obra. Uma coisa era o que se via na prática e 
outra era o conceito sobre política, ou seja, o 
que se vivia e o como se queria ou dizia 
sobre como se viver. É o que encontramos 
em Maquiavel (1973, p. 11): 
 
Ora desejando eu apresentar-me com 
algum testemunho, que prove a minha 
admiração por Vossa Magnificência, não 
encontrei entre os meus pertencentes coisa 
de maior valia ou que tanto estime, como o 
conhecimento das ações, dos grandes 
homens, adquirido numa longa experiência 
das coisas modernas e numa contínua lição 
das antigas, que, meditadas por longo 
tempo e examinadas como grande 
diligência, juntei agora um pequeno 
volume que vos envio. E, no entanto, que a 
recebereis, considerando que não posso 
oferecer dádiva que facilitar-vos, em 
brevíssimo tempo, o que a mim me custou 
anos não poucos trabalhos e perigos. 
 
Essa prática voltada para uma ação 
eficaz e real mostra em sua obra, o príncipe, 
a lógica do poder que se torna a lógica da 
força, assim como diz Maquiavel (1973, p. 
44): “Portanto, precisa ser raposa para 
conhecer os laços e leão para aterrorizar os 
lobos”. 
Em seu contexto histórico percebemos 
que a visão de mundo se dá a partir do 
universo político, que não é outra coisa senão 
a guerra, sendo importante na política 
alcançar os resultados traçados como meta, 
não importando os meios para se atingir. 
Daqui nasce a secularização da política. 
Teoricamente, Maquiavel descreve pela 
prática vivenciada o abandono da ética cristã, 
provocando uma separação entre moral 
privada e moral pública. Observamos em sua 
obra o Príncipe onde Maquiavel (1973, p. 
11), 
 
Não enfeitei a obra nem com palavras 
brilhantes e pomposas, nem com nenhum 
desses vãos ornamentos com que muitos 
autores costuma embelezar e descrever as 
suas. Apenas quis, ou que nada a honre, ou 
que só a variedade da matéria e a 
gravidade do assunto a tornem grata. Nem 
quero se tenha por presunção que um 
homem de baixo e ínfimo estado se atreva 
a discorrer das regras sobre os governos e 
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os príncipes. Porque, assim como os que 
desenham paisagens se colocam nas 
planícies para considerar a natureza dos 
montes e das colinas, e, para considerar as 
planícies, se colocam no cimo dos montes, 
do mesmo modo para conhecer bem a 
natureza dos povos é preciso ser príncipe e 
para compreender a dos príncipes é 
necessário ser filho do povo. 
 
O governante deverá agir com virtú, 
como a firma o próprio Maquiavel (1973, p. 
44): “É preciso que ele tenha um espirito 
disposto a voltar-se segundo os ventos da 
sorte e as variações dos fatos”, não tem 
nenhuma ligação com os conceitos de virtude 
ligados à justiça e ao bem, mas sim à força e 
ao valor. Como salienta Wefort (2008, p. 21), 
 
Para os antigos, a Fortuna não era uma 
força maligna inexorável. Ao contrário sua 
imagem era a de uma deusa boa, uma 
aliada potencial, cuja simpatia era 
importante atrair. Essa deusa possuía os 
bens que todos os homens desejavam: a 
honra, a riqueza, a glória e o poder. Mas 
como fazer para que a deusa Fortuna nos 
favorecesse e não a outros? - perguntavam- 
se os homens da antiguidade clássica. Era 
imprescindível seduzi-la. Respondiam. 
Como se tratava de uma deusa que era 
também mulher, para atrair suas graças era 
necessário mostrar-se vir, um homem de 
verdadeira virilidade, de inquestionável 
coragem. Assim, o homem que possuísse 
virtú, no mais alto grau seria beneficiado 
com os presentes da cornucópia e da 
fortuna. 
 
Com o cristianismo essa visão foi 
distorcida e derrotada. A deusa foi 
substituída pelo poder cego. Dessa forma, a 
virtude maquiavélica estaria associada a 
oportunidade, acaso, revelando que aquele 
que estiver mais apto diante das 
circunstâncias eatento será o governante. 
Esse príncipe com a virtú, será aquele que 
souber aproveitar e fazer as necessárias 
mudanças para alcançar seus objetivos. 
Dessa forma entendemos que a lógica do 
poder se inverte de forma prática e eficiente 
sob a perspectiva de nosso filósofo. 
Maquiavel propunha em sua obra 
demonstrar como deveria ser o príncipe que 
tivesse as qualidades necessárias com a 
finalidade de garantir a unificação da Itália, 
tirando de cena o declínio anárquico e a 
fragilidade de Florença se submeter a outras 
potências. Vemos que o sucesso ou o 
fracasso do príncipe é avaliada a partir da 
capacidade deste de executar meios 
necessários para se manter no poder, como 
afirma a filósofa Aranha (1993, p.65): 
 
Aliás, disso nos apercebemos quando 
Maquiavel descreve as inúmeras ações dos 
príncipes, cujos perfis não são nitidamente 
definidos, mas, ao contrário, são 
apresentados até de forma ambígua, 
variando conforme a situação. Isso porque, 
para Maquiavel, o sucesso e o fracasso do 
príncipe pode ser avaliado não em função 
de padrões fixos de comportamento, mas 
de sua capacidade de executar a política 
exigida para a resolução dos problemas 
coletivos. 
 
Assim percebemos que o filósofo 
demonstra que o príncipe deve ser ágil, de 
acordo com as situações apresentadas em seu 
contexto. No livro O Príncipe, relata a forma 
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como os principados estavam organizados e 
passa a dar vários conselhos de como o 
governante deve agir para conquistar 
territórios e, além disso, mantê-los. Por isso 
faz uma descrição de como lidar com as 
pessoas, como garantir a estima e até como 
evitar os aduladores. Assim, Maquiavel 
(1973, p. 108) nos diz, 
 
Não há outro meio de guardar-se da 
adulação, a não ser fazendo com que os 
homens entendam que não te ofendem 
dizendo a verdade; mas, quando todos 
podem dizer-te a verdade, passam a faltar-
te com a reverencia. Portanto, um príncipe 
prudente deve proceder por uma terceira 
maneira, escolhendo em seu Estado 
homens sábios e somente a eles deve dar a 
liberdade de falar-lhe a verdade daquilo 
que ele pergunte e nada mais. Deve 
consulta-los sobre todos os assuntos e 
ouvir as suas opiniões; depois de liberar 
por si, a seu modo, e, com estes conselhos 
e com cada um deles, portar-se de forma 
que todos compreendam que quanto mais 
livremente falarem, tanto mais facilmente 
serão aceitas suas opiniões. Fora aqueles, 
não querer ouvir ninguém, seguir a 
deliberação adotada e ser obstinado nas 
suas decisões. Quem procede por outra 
forma, ou é precipitado pelos aduladores, 
ou muda frequentemente de opinião pela 
variedade dos pareceres; daí resulta a sua 
desestima. 
 
Para que isso seja compreendido pelo 
governante, o mesmo deve ter capacidade de 
ler a história e perceber a hora certa, agir 
com ponderação, ou seja, a regra máxima 
para governar deve ser que o governante 
deve sair da observação de regras absolutas, 
pois as circunstâncias mudam e o mesmo 
deve estar atento para a história. 
O espirito do renascimento, com o 
alvorecer da modernidade, transformou a 
mentalidade de nosso filósofo, fazendo com 
que Maquiavel observasse atentamente a 
história, procurando a inspiração para pensar 
a época de sua vida em Florença, mas não 
nos filósofos antigos clássicos, como os 
citados em nosso primeiro tópico, que tinham 
uma lógica do poder diferente do pensando 
por ele, mas em outros pensadores antigos, 
de forma particular o historiador Tito Lívio, 
que fez um relato da expansão de Roma. 
 
Conclusão 
Compreender a política hoje em dia 
não se restringe apenas a Maquiavel, contudo 
faz-se de fundamental importância estudá-lo, 
pois caracteriza-se por uma visão da 
realidade, onde o filosofo aponta um 
caminho interessante, que é buscar por si só 
desnaturalizar o natural. Em uma sociedade 
marcada por constantes crises em seu 
contexto, Florença ganhou um intelectual de 
peso, pois muitos recorrem aos textos de 
Maquiavel para fazerem suas análises sobre 
política. 
Desnaturalizar o natural foi 
compreender a política não apenas como os 
outros. A tradição milenar estipulou que 
todos aceitassem cegamente, mas, justamente 
por meio de uma análise prática de 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613 Vol. 17, Edição 23, Ano 
2021. 
Revista Filosofia Capital – RFC ISSN 1982-6613, Brasília, Reexistência: existência e resistência ao poder dominador! 
Vol. 17, n. 23, p. 50-67, jan/dez2021. 
convivência com as situações políticas de seu 
tempo, Maquiavel conseguiu desnudar a 
política e mostrar não um pessimismo, mas 
um realismo sobre os fatos que se mostravam 
visível a tal realidade. 
Compreender a lógica do poder é 
entender que nas relações sociais somos 
movidos por interesses, que a construção da 
sociedade é de fato uma construção e que o 
ser humano é protagonista de sua história, 
mas que está dentro de uma história pré 
estabelecida por forças, instituições e 
modelos que constituem uma padronização, 
ou seja, um modelo a ser seguido. 
Maquiavel utiliza dois elementos chave 
para a construção de sua obra, a saber: a 
sensibilidade, que é utilizada como ponto de 
investigação sobre o Estado, e a criatividade, 
sob o ponto de vista que procura sobre novos 
horizontes, novas perspectivas ao construir o 
pensamento político de sua época. Não se 
deixa apenas abater pelos problemas 
vivenciados (exílio), mas faz disto, desse 
ponto de solidão, um momento para colocar 
as ideias em uma sequência lógica, 
raciocinando sobre os eventos acontecidos, 
fazendo uma análise histórica. 
Para não concluir, é necessário destacar 
o quão se faz presente a análise do filosofo 
sobre a realidade política nos dias atuais, 
para sair não mais dos conceitos que estavam 
ligados ao tempo em que Maquiavel viveu, 
mas das diversas concepções que são 
formuladas pelos partidos políticos diversos 
(lembrando que o contexto é diferente, mas 
as ações políticas de se angariar o poder não 
são tão diferentes) e pelo que o senso comum 
muitas vezes destaca, que política deve ser 
desacreditada completamente, fazendo com 
que aqueles que estão no poder continuem da 
mesma forma, pois o senso comum muitas 
vezes faz com que muitos não se preocupem 
com a política em si, mas com o que ela pode 
proporcionar momentaneamente. 
Essa concepção da relação entre ética e 
política passa a ser de fundamental 
importância, para que possamos pensar em 
uma sociedade com menos desigualdades 
sociais, pobreza, fome e miséria, entendendo-
a não a partir de um sonho utópico, mas que 
as forças de poder e as instituições se 
construíram em tempos históricos em nosso 
país e que tudo tem uma razão de ser e existir 
graças a virtú e a fortuna. 
Tudo isso demonstra que essa relação 
entre política e ética em outros tempos foi 
vivenciada por um tipo de harmonia, pois, 
mesmo no nosso imaginário coletivo, existe 
uma ideia de justiça onde a política 
verdadeira é compatível com a ética, onde o 
papel desta é realizá-la e não corrompê-la. 
 
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sabedoria régia. Bíblia de Jerusalém. São 
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 Revista Filosofia Capital 
 ISSN 1982 6613Vol. 17, Edição 23, Ano 
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