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Geovanna Carvalho - T30 - UFCA DERRAMES PLEURAIS Definição: é uma condição em que há excesso de líquido na cavidade pleural, devido a um desequilíbrio na taxa normal de produção, absorção ou ambos. Classificação: - Transudatos: não inflamatório e não infeccioso → aumento da pressão microvascular (hidrostática) ou redução da pressão oncótica - Exsudatos: inflamatório ou infeccioso → inflamação da pleura com aumento da permeabilidade à proteína Fisiopatologia - Pleura visceral → irrigação é feita pelas artérias brônquicas e artéria pulmonar, drenagem é feita pelo sistema venoso e drenagem linfática. - Pleura parietal → irrigação feita pelas artérias sistêmicas e drenagem pela veia cava ou peribrônquicas. Drenagem tbm realizada pelo sistema linfático sistêmico - Espaço pleural → espaço virtual entre as duas pleuras que fisiologicamente comporta um volume muito pequeno de líquido. Mecanismos de formação do DP: 1. Aumento da pressão hidrostática → expulsa líquido para o 3º espaço → ex.ICC, desnutrição (reduz a coloidosmótica) TRANSUDATO 2. Aumento da permeabilidade capilar → expulsa líquido e proteína → ex: processo inflamatório EXSUDATO 3. Diminuição da pressão oncótica 4. Aumento da pressão negativa no espaço pleural Quadro Clínico → Sintomas sistêmicos como astenia, anorexia, emagrecimento e febre dependem de respostas inflamatórias e imunológicas ao agente etiológico ou ao mecanismo etiopatogênico. (doença de base) → Sintomas causados pela presença do líquido: - Tosse seca - Dor pleurítica → ventilatório-dependente, melhora quando o paciente se inclina para frente (principalmente se for DP inflamatório) - Dispneia (dependem do volume e da velocidade de aumento desse volume do derrame) obs.: + comum → dor pleurítica + tosse seca discreta + dispnéia. Exame físico Inspeção: - desvio contralateral do mediastino (desvio da traqueia) Palpação: - Reduz FTV Ausculta: - MV reduzido - Atrito pericárdico (se inflamatório) Geovanna Carvalho - T30 - UFCA - abaulamento e alargamento intercostal - reduz expansibilidade torácica Percussão: - Macicez - Rebaixamento hepático Diagnóstico Investigando o derrame pleural → 3 etapas: 1. Dados clínicos (exame físico e quadro clínico) + exame de imagem do RX em PA e Perfil → detectar a presença do derrame 2. Abrir HD para a etiologia do derrame 3. Decidir por toracocentese com ou sem biópsia pleural Procedimentos de investigação diagnóstica: → Toracocentese (após diagnóstico de exame de imagem) → Biópsia pleural (investigação etiológica) → Toracotomia exploradora → Pleuroscopia ● Quando há indícios de que a causa do derrame seja infecciosa, como na vigência de tuberculose pulmonar comprovada ou de pneumonia, a toracocentese poderá ser necessária, pelo menos, para excluir ou confirmar a presença de empiema, situação em que deverá ser realizada a drenagem pleural. Exames de imagem 1. Radiografia de tórax (abordagem inicial após suspeita no exame físico) 2. USG (derrames pequenos) 3. Tomografia de tórax Raio-X → Radiografía de tórax (PA, Perfil e decúbito lateral) - 75 ml: opacifica recesso costofrênico posterior - 175 - 200 ml: opacifica recessos costofrênicos laterais ● Achados comuns: - Opacificação de recesso costofrênico - Má ou nenhuma visualização de cúpula diafragmática - Opacificação homogênea com linha côncava voltada para o mediastino Geovanna Carvalho - T30 - UFCA Derrame pleural costuma ser característico de opacidade homogênea em um hemitórax que oblitera a visualização do seio costofrênico e deixando uma borda em formato de menisco: Apresentações atípicas de derrame pleural no Rx 1. Derrame intrapulmonar ou subpulmonar pode ser confundido com elevação da hemicúpula diafragmática. Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 2. Derrame pleural septado ou loculado: quando existem aderências pleurais prévias ou recém-formadas, resultando em uma imagem irregular, diferente da habitual 3. Loculação entre as cissuras (tumor fantasma): o LP pode manter-se encapsulado na cissura horizontal ou oblíqua, formando uma imagem compatível com uma massa na projeção PA, mas, em geral com formato elíptico na projeção lateral Dados radiológicos podem auxiliar no diagnóstico diferencial: ● O derrame bilateral é mais comumente associado a transudato, tuberculose de disseminação hemática, neoplasia metastática e colagenose. ● O derrame volumoso ocupando todo ou quase todo o hemitórax em geral é neoplásico. Geovanna Carvalho - T30 - UFCA ● O derrame septado costuma ser infeccioso. ● Massa intrapulmonar, adenomegalias mediastinais e lesões osteolíticas favorecem neoplasia. ● Lesões pulmonares em lobos superiores (micronódulos, nódulos, estrias, consolidações acinolobulares) favorecem a tuberculose. Ultrassonografia → É indicado fazer quando: ● Derrames Pleurais loculados. ● Massas pulmonares adjacentes à parede torácica. ● O exame clínico e radiológico não é conclusivo. ● Existe uma escassa quantidade de líquido. ● Ou há uma suspeita de derrame pleural encistado (para marcação para drenagem). Tomografia → Indicado para investigar situações adjacentes ao DP ou complicações - Estudo do parênquima pulmonar: abscesso pulmonar, pneumonia, Câncer broncogênico? - Estudo da Pleura: Mesotelioma, placas pleurais? - Abscesso pulmonar / Empiema? - Derrames pleurais loculados? Punção-biópsia pleural (Agulha de Cope) No exame anatomopatológico, dois achados definem o diagnóstico: - neoplasia maligna, em geral carcinoma metastático ou linfoma; ou granuloma, sem/com necrose, caseosa ou não. obs.: A presença de granuloma na pleura costuma ser suficiente para confirmar o diagnóstico de tuberculose, uma vez que as outras causas de doença granulomatosa raramente se acompanham de derrame pleural. Pleuroscopia - Pleuroscopia está indicada quando não há vantagem na execução de uma nova biópsia por punção ou quando se planeja realizar a pleurodese. - Toracotomia exploradora é indicada quando: ● a principal suspeita for neoplasia e os outros procedimentos não forem efetivos ● possibilidade de mesotelioma pleural ● necessidade de decorticação/pleurectomia ou ressecção pulmonar ● hemorragia pós-trauma grave Toracocentese - A Toracocentese de alívio é indicada em pacientes com grande DP que estejam cursando com desconforto intenso ou dispneia → Remover até 1,5L pois a retirada de grande volumes rapidamente pode gerar edema pulmonar de reexpansão. - A toracocentese diagnóstica é indicada para avaliação etiológica e não deve ser realizada quando o derrame for menor que 10 mm na radiografia em decúbito lateral. → Quando indicar a toracocentese diagnóstica? Geovanna Carvalho - T30 - UFCA - DP unilateral > 1cm em rx de tórax em decúbito lateral obs.: DP bilateral com doença de base compatível (ex.: IC), afebril e sem dor torácica é recomendável observar e promover diurese antes de optar pela toracocentese. Caso o DP persista por mais de 3 dias é indicado toracocentese. → Quando indicar a toracocentese de alívio? - Derrames pleurais volumosos + dispneia em repouso. - evitar remover mais que 1500ml para não gerar edema de reexpansão → O que solicitar para a análise do material coletado na toracocentese? - Exames para separar em grupos as doenças que causam Transudato ou Exsudato( proteínas e desidrogenase láctica) - Exames de acordo com sua HD etiológica. - Amostras devem ser feitas para exame químico, bacteriológico e citológico de acordo com suspeita diagnóstica. - Derrame purulento => apenas solicitar Gram e culturas (bactérias e fungos) EXSUDATOS : ocorrem quando os fatores locais que influenciam o acúmulo de líquido pleural são alterados - as principais causas: pneumonia, câncer e embolia pulmonar TRANSUDATOS: ocorre quando se acumula líquido pleural devido a um desequilíbrio entre as pressões hidrostáticas e oncóticas. - principais: ICC, cirrose e embolia pulmonar. Toracocentese (punção do líquido pleural) Análise do líquido pleural: → Aspecto amarelado do líquido: é o + comum e não há relação com nenhuma causa em especial.- Aspecto de coloração enegrecida: melanoma - Líquido com odor pútrido indica que provavelmente há infecção por anaeróbios. Odor de urina indica provável urinotórax - Aspecto purulento e/ou cultura com presença de germes e/ou pH baixo → empiema - Aspecto hemorrágico: acidente de punção, trauma ou neoplasia maligna, embolia pulmonar, não costuma ocorrer na tuberculose. - Taxa de proteínas muito elevada: tuberculose ou outro exsudato com intensa resposta inflamatória Geovanna Carvalho - T30 - UFCA - Citológico diferencial com linfocitose e ausência de células mesoteliais: tuberculose. - Citopatológico com a presença de células malignas: derrame neoplásico. - Pesquisa de bacilos álcool-ácido resistentes (BAAR) positiva ou anatomopatológico demonstrando granuloma: tuberculose. - Células LE presentes e/ou FAN com título elevado: lúpus eritematoso sistêmico. - Derrame quiliforme com triglicerídeos elevados e/ou presença de quilomicra: quilotórax. - Taxa de adenosina deaminase (ADA) superior a 40 UI/L: aponta fortemente para tuberculose. - pH abaixo de 7,2 em paciente com derrame pleural parapneumônico: pode significar empate. - Achado de eosinofilia (> 10%) no líquido pleural: pode ser secundário à presença de sangue na cavidade pleural, como por hemorragia pós-punção, ou à existência de anormalidades imunoalérgicas sistêmicas. → Citometria: - Transudatos apresentam celularidade inferior a 1000/mm3 - Exsudatos apresentam celularidade superiores a 1000/mm3 - Nº de células > 10.000/mm3 → empiema, mas pode ocorrer na TB, pancreatite, embolia e lúpus → Citometria diferencial: - Predomínio de neutrófilos (PMN): parapneumônico, Empiema, Fases da TB pleural e das colagenoses, Pancreatite, Embolia pulmonar - Predomínio de mononucleares: TB, neoplasia, colagenoses, embolia pulmonar, acometimentos crônicos da pleura. - Predomínio de eosinófilos: neoplasias, derrame por drogas, sangue no espaço pleural, pneumonia eosinofílica - Predomínio de linfócitos: se >50% é tuberculose - Plasmócitos: mieloma múltiplo → pH do líquido pleural: - Justificado a solicitação na suspeita de derrame parapneumônico ou neoplásico. - pH < 7,2 em um paciente com derrame pleural parapneumônico indica a necessidade de drenagem do fluido - ph < 7,2 em paciente com derrame pleural neoplásico indica péssimo Geovanna Carvalho - T30 - UFCA prognóstico → Glicose - a presença de baixos níveis de glicose no fluido pleural (< 60 mg/dL) indica derrame parapneumônico ou neoplásico - causas menos comuns: hemotórax, TB, pleurite reumatóide ou lúpica. → Desidrogenase Lática (DHL) no LP - O nível de DHL no líquido pleural correlaciona-se com o grau de inflamação pleural e deve ser medido toda vez que um nome amostra for colhida. - Quando maior o DHL mais agressiva deve ser abordagem de investigação do diagnóstico → Testes oncológicos no líquido pleural - a análise pode estabelecer o diagnóstico de adenocarcinoma metastático para pleura em 70% dos casos → Marcadores de TB no LP - Uma vez que < 40 % dos pacientes com pleurite tuberculosa tem cultura positiva → é necessário utilizar outros meios mais sensíveis para diagnóstico da TB pleural: - biópsia de pleura mandatória na suspeita - adenosina desaminase (ADA > 40 U/L) - interferon-g (>140 pg/l) - PCR para DNA de micobactéria → Amilase: - níveis elevados são vistos em pacientes com doença pancreática e ruptura esofágica - não solicitada rotineiramente, apenas se houver clínica e história sugestiva Derrame Pleural Parapneumônico Classificação 1. DPP não complicado: aspecto do líquido claro, ph = 7,2, DHL < 1000, GL>40 2. DPP complicado: aspecto do líquido claro ou turvo, ph < 7,2, DHL > 1000, GL < 40 3. Empiema: aspecto do líquido é purulento, independe de achados laboratoriais Conduta para DPP 1. Toracocentese terapêutica: - considerar em derrame menores que ½ hemitórax com gram e cultura negativas e ph > 7,2 2. Drenagem pleural - considerar para derrames volumosos (maiores que ½ do hemitórax) ou que se apresentam com gram ou cultura positivos ou ph < 7,2 e no empiema franco - considera tbm em caso de DP com paciente instável Geovanna Carvalho - T30 - UFCA 3. Agentes trombolíticos - Para lise das loculações pode ser usado trombolíticos (estreptoquinase, uroquinase ou fator ativador de plasminogênio) - recomenda-se estreptoquinase por via intrapleural através do dreno torácico (250.000 UI, em 50 a 100ml de SF, 1-2x/dia por 3 dias) 4. Pleuroscopia - indicada nos DPP loculados com abordagem precoce (antes de ser necessário decorticação) - pode ser uma alternativa na fase crônica do empiema 4. Toracotomia e decorticação - indicada no empiema com inadequação da expansão pulmonar - nos casos de fístula persistente do parênquima - coleções encistadas mesmo após tratamento com trombolíticos ou pleuroscopia 5. Drenagem aberta e pleurostomia - pacientes debilitados e com empiema crônico que não suportam procedimentos cirúrgicos agressivos Empiema - Condição pós-pneumonia (comunitária ou hospitalar). - Pós-operatório, iatrogênica. - Secundário a trauma torácico. - Obstrução brônquica devida a neoplasia central ou por corpo estranho. Derrame pleural tuberculoso - História de contágio, dor torácica ventilatório-dependente, febre de início subagudo e hemograma normal. - Rx: geralmente é um DP unilateral e pequeno a moderado - Paciente adulto jovem masculino - No líquido pleural há aumento de adenosina deaminase (ADA), aumento de linfócitos, com ausência ou pouca presença de células mesoteliais e aspecto amarelo citrino Derrame pleural neoplásico - Sintomas de início insidioso com ou sem dor torácica dolente, sem febre. - A radiografia de tórax pode mostrar apenas o derrame pleural que geralmente é unilateral e volumoso, ou alguns achados como massa intrapulmonar, adenomegalias mediastinais - Recidiva é frequente e rápida após a toracocentese Geovanna Carvalho - T30 - UFCA - aspecto hemorrágico, taxa de proteínas abaixo de 4,0 g%, podendo haver linfocitose com a presença de células mesoteliais Quilotórax - É a presença de linfa no espaço pleural, ocorre quando há ruptura, laceração ou obstrução do ducto torácico, com liberação de quilo no espaço pleural. - Causas: malformações linfáticas congênitas, linfomas, tumores de mediastino, infecção, procedimentos cirúrgicos, traumas. - Diagnóstico: líquido pleural branco e aparência leitosa e os nível de TGL são maiores que 110 mg/dL Derrame parapneumônico complicado - pH do líquido pleural reduzido < 7,2 + infecção pulmonar = drenagem torácica - Glicose pleural < 60 mg/dL fala a favor de DP parapneumônico tbm Resumão → Se após a avaliação não houver diagnóstico evidente é necessário avaliar a possibilidade de EMBOLIA PULMONAR - se o diagnóstico permanece incerto considerar testes invasivos: toracoscopia, biópsia da pleura por agulha, biópsia pleural aberta Etiologia Critérios de Light : define o derrame como exsudativo. - Só é necessário ter 01 critério ● Relação proteína pleural e sérica > 0,5 ● Relação DHL pleural e sérica > 0,6 ● DHL pleural > ⅔ do limite superior no soro obs.: todo paciente que faz toracocentese para avaliação de líquido pleural precisa coletar sangue periférico para fazer as relações. Geovanna Carvalho - T30 - UFCA DHL → desidrogenase lática limitações dos critérios de Light - podem classificar alguns transudatos como exsudatos - Quando há forte suspeita de se tratar de transudato, solicitar o gradiente entre albumina sérica e pleural. Resultado > 1,2 g/dL trata-se de transudato Geovanna Carvalho - T30 - UFCA TRANSUDATOS → Insuficiência cardíaca: - DP bilateral e geralmente maior a direita e quando unilaterais são a direita → Hipoalbuminemia causada pela síndrome nefrótica principalmente - DP bilateral e com edema em outros locais - ascite e edema em membros → Derrames parasciticos - Movimentação de líquido do espaço peritoneal para o espaço pleural - Causas: Síndrome de Meigs, diálise peritoneal e pancreatite aguda - Cirrose hepática - DesnutriçãoEXSUDATOS - Câncer - Pneumonia bacteriana - Tuberculose - Doenças do tecido conectivo (Lúpus, Artrite reumatóide) - Pancreatite Em serviços de pneumologia, são vistos com maior frequência: ■ Transudatos: insuficiência cardíaca ■ Exsudatos infecciosos: tuberculose e pneumonia ■ Exsudatos não infecciosos: neoplasias metastáticas (carcinomas e linfomas), embolia pulmonar e colagenoses ■ Situações cirúrgicas: empiema, hemotórax e quilotórax Tratamento 1. Tratar causa base 2. Alívio dos sintomas: pacientes muito sintomáticos devem receber cuidados gerais, oxigênio e toracocentese de alívio (retirar menos que 1000 - 1500 ml) 3. Paciente com derrame pleural de repetição pode ser feito a pleurodese
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