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A T E N Ç Ã O À S A Ú D E D E P E S S O A S C O M S O B R E P E S O E O B E S I D A D E RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | UFSC 2019 A T E N Ç Ã O À S A Ú D E D E P E S S O A S C O M S O B R E P E S O E O B E S I D A D E RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | DEISE WARMLING | | CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO || CAROLINA ABREU HENN DE ARAÚJO | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | | LUCIARA FABIANE SEBOLD | FLORIANÓPOLIS UFSC 2019 CRÉDITOS | FICHA TÉCNICA 3 GOVERNO FEDERAL MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) Departamento de Promoção da Saúde (DEPROS) Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor: Ubaldo Cesar Balthazar Vice-Reitora: Alacoque Lorenzini Erdmann Pró-Reitor de Pós-Graduação: Cristiane Derani Pró-Reitor de Pesquisa: Sebastião Roberto Soares Pró-Reitor de Extensão: Rogério Cid Bastos CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Diretor: Celso Spada Vice-Diretor: Fabrício de Souza Neves DEPARTAMENTO DE SAÚDE PÚBLICA Chefe do Departamento: Fabrício Augusto Menegon Subchefe do Departamento: Lúcio José Botelho EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Coordenação-Geral de Alimentação e Nutrição Gestora geral do Projeto Sheila Rubia Lindner Coordenação de Produção de Material Elza Berger Salema Coelho CRÉDITOS | FICHA TÉCNICA 4 Autores Deise Warmling Carolina Abreu Henn De Araújo Luciara Fabiane Sebold Revisores Nome 1 Nome 2 Equipe Editorial Carolina Carvalho Bolsoni Thays Berger Conceição Deise Warmling Dalvan Antonio de Campos Assessoria Pedagógica Márcia Regina Luz Assessoria de Mídias Marcelo Nogueira Capillé Equipe Executiva Patricia Dia de Castro Gabriel Donadio Costa Eurizon de Oliveira Neto Design Instrucional/Elaboração Soraya Falqueiro das questões avaliativas FICHA CATALOGRÁFICA 5 Identidade Visual/Projeto gráfico Pedro Paulo Delpino Bernardes Diagramação/Finalização Laura Martins Rodrigues Esquemáticos/Infográficos Naiane Cristina Salvi Desenvolvedor Web Rodrigo Rodrigues Pires de Mello Fonte para Imagem e Esquemáticos Adobe Stock W277r Warmling, Deise. Reconhecendo o sobrepeso e a obesidade no contexto da atenção primária à saúde [recurso eletrônico] / Deise Warmling, Carolina Abreu Henn de Araújo, Luciara Fabiane Sebold -- 1. ed. -- Florianópolis : Universidade Federal de Santa Catarina, 2019. 57 p. : il.; color. Modo de acesso: www.unasus.ufsc.br Conteúdo do módulo: Unidade 1: Sobrepeso e Obesidade: Definição, Determinantes e Impactos. – Unidade 2: Atenção à Saúde das pessoas com Sobrepeso e Obesidade. - Unidade 3: Políticas públicas e Promoção da Alimentação saudável. ISBN 978-85-8267-149-8 1. Obesidade. 2. Atenção primária em saúde. 3. Sobrepeso. I. UFSC. II. Obesidade: atenção à saúde de pessoas com sobrepeso e obesidade. III. Araújo, Carolina Abreu Henn de. IV. Sebold, Luciara Fabiane. VI. Título. CDU: 613.24 6 APRESENTAÇÃO 8 1 SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS 10 1.1 DEFINIÇÕES DE SOBREPESO E OBESIDADE 10 1.2 DETERMINAÇÃO SOCIAL DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 11 1.3 EPIDEMIOLOGIA DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 13 1.4 IMPACTOS E CONSEQUÊNCIAS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 15 ENCERRAMENTO DA UNIDADE 17 2 ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE 19 2.1 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO ALIMENTAR E NUTRICIONAL 19 2.1.1 Vigilância Alimentar e Nutricional 21 2.1.2 Avaliação antropométrica e da composição corporal 23 2.1.3 Diagnóstico alimentar e nutricional e classificação de risco 24 2.2 LINHA DE CUIDADO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 27 2.3 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO 29 2.3.1 Estratificação de risco 29 2.3.2 Autocuidado apoiado 29 2.3.3 Estabilização da condição crônica 30 ENCERRAMENTO DA UNIDADE 32 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 34 3.1 POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PARA O CONTROLE E A PREVENÇÃO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE 34 3.2 ALCANÇANDO UMA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL A PARTIR DO GUIA ALIMENTAR 38 3.2.1 Classificação dos alimentos segundo o Guia Alimentar 39 3.2.2 Combinação dos alimentos em forma de refeições 43 3.2.3 Recomendações gerais sobre alimentação saudável 46 3.3 DIETAS DA MODA: DO MITO À EVIDÊNCIA 47 ENCERRAMENTO DA UNIDADE 51 ENCERRAMENTO DO CURSO 52 REFERÊNCIAS 53 MINICURRÍCULO DOS AUTORES 56 SUMÁRIO 7 de avaliação, diagnóstico e monitoramento alimentar e nutricional, para que você possa inserir, na sua prática cotidiana, ações de cuidado e controle e prevenção do sobre- peso e obesidade. Por fim, apresentamos algumas recomendações para a escolha de alimentos e refeições, na composição de uma alimentação adequada e saudável, valorizando-se a autonomia dos indivíduos quanto às escolhas alimentares. Esperamos que você tenha um bom estudo! Deise Warmling Carolina Abreu Henn de Araújo Luciara Fabiane Sebold Olá, Seja bem-vindo ao Curso “Reconhecendo o Sobrepeso e Obesidade no Contexto da Atenção Primária à Saúde”. Sabemos que a proporção de adultos com excesso de peso tem aumentado, correspondendo a 53,8% da população brasileira. A problemática do sobrepeso e da obesidade é uma questão relevante de saúde pública, apresenta questões multifatoriais e exige atuação multiprofissional e intersetorial para a atenção integral às pessoas com essa condição. Diante desse panorama, elaboramos este curso para que você, profissional de saúde, reconheça a Atenção Primária à Saúde (APS) como espaço de atenção e cuidado às pessoas com sobrepeso e obesidade, enfocando na sua prevenção. O conteúdo apresentado segue organiza- do em três unidades. A primeira apresenta definições, determinantes e impactos do ex- cesso de peso, instrumentalizando-o para identificar a problemática em seu coti- diano de trabalho. Na segunda unidade, apresentamos os principais instrumentos APRESENTAÇÃO 8 CARGA HORÁRIA DE ESTUDO RECOMENDADA Para estudar e apreender todas as informações e conceitos abordados, bem como trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, estabelecemos uma carga horária de 30 horas para este curso. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de: • Reconhecer a problemática de sobre- peso e obesidade como uma questão multifatorial relevante a ser abordada na Atenção Primária à Saúde. • Identificar os principais instrumentos de avaliação, diagnóstico e moni- toramento alimentar e nutricional, necessário para as ações de cuidado, controle e prevenção do sobrepeso e obesidade. • Identificar as recomendações para escolhas de alimentos e refeições,na composição de uma alimentação adequada e saudável. APRESENTAÇÃO SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS 10 1 SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS Esta unidade abordará a problemática do sobrepeso e da obesidade como uma questão relevante de saúde pública, com dimensões multifatoriais e que necessita de atuação multiprofissional e intersetorial para a atenção e cuidado integral às pessoas, com base nos princípios e diretrizes da Atenção Primária à Saúde (APS), reconhecendo as potencialidades e desafios do território para prevenção e controle da obesidade. 1.1 DEFINIÇÕES DE SOBREPESO E OBESIDADE Em primeiro lugar, é preciso diferenciar os termos sobrepeso e obesidade, muitas vezes utilizados como sinônimos. Enquanto o primeiro significa um aumento exclusivo do peso, o segundo representa o aumento da adiposidade (gordura) corporal. Para esclarecer esses conceitos, defi- ne-se obesidade como acúmulo de gordura no organismo, que está associado a riscos para a saúde, devido à sua relação com várias complicações metabólicas. Pode ser compreendida como um agravo de caráter multifatorial, pois suas causas estão rela- cionadas a questões biológicas, históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas. Trata-se simultaneamente de uma doença e de um dos fatores de risco mais im- portantes para outras doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovascu- lares e Diabetes Mellitus (BRASIL, 2014). Ou seja, a obesidade é um agravamento do sobrepeso que acarreta em problema de saúde. Usualmente, o sobrepeso e a obesidade são mensurados pelo Índice de Massa Corporal (IMC), calculado por meio da divisão do peso em kg pela altura em metros elevada ao quadrado (kg/m²), sendo esse o cálculo mais usado para avaliação da adiposidade corporal – um bom indicador: simples, prático e sem custo. Índice de Massa Corporal (IMC): Peso (kg) Estatura² (m) 11 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS sociedade e sua inserção no mercado de trabalho, a concentração das populações no meio urbano e a diminuição do esforço físico e, consequentemente, do gasto energético, tanto no trabalho quanto na rotina diária, assim como a crescente industrialização dos alimentos (MOTTA et al., 2004). Este cenário é consequência das altera- ções nos padrões de alimentação que estão mudando rapidamente na grande maioria dos países. As principais mudanças envol- vem a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados de origem vegetal (arroz, feijão, mandioca, batata, legu- mes e verduras) e preparações culinárias à base desses alimentos por produtos indus- trializados prontos para consumo. Essas transformações, observadas com grande intensidade no Brasil, determinam, entre outras consequências, o desequilíbrio na oferta de nutrientes e a ingestão excessiva de calorias (OMS, 2014). Os principais responsáveis pelo aumento acelerado da obesidade no mundo e em nosso país são relacionados ao ambiente e às mudanças de modo de vida, sendo, portanto, passíveis de intervenção demandando ações no âmbito individual e coletivo. crônicas relacionadas ao consumo excessivo de calorias e à oferta desequilibrada de nu- trientes na alimentação, como a hipertensão (pressão alta), doenças do coração e certos tipos de câncer. Inicialmente apresentados como doenças de pessoas com idade mais avançada, muitos desses problemas atingem agora adultos jovens e mesmo adolescentes e crianças (OMS, 2014). Alguns indicadores servem para embasar as ações de promoção da saúde na APS, entretanto é importante identificá-los nos contextos populacionais, direcionando para a atenção à saúde da pessoa obesa (BRASIL, 2006). Quais são os fatores que podem levar ao excesso de peso e à obesi- dade? Existem outras doenças asso- ciadas? Ao longo dos anos, ocorreram mudanças nos padrões alimentares da população (transição nutricional) que estão fortemente ligadas também às modificações de ordem demográfica e social. Fatores sociais, econômicos e culturais estão presentes, destacando-se o novo papel feminino na A obesidade faz parte do grupo de doenças crônicas não transmissí- veis (DCNT). As DNCT se consti- tuem como o grupo de doenças de maior magnitude no país, atingindo, especialmente, as populações mais vulneráveis, como as de baixa renda e escolaridade (BRASIL, 2011). É fundamental que você, profissional de saúde, reconheça a obesidade como problema de saúde e promova reflexão sobre o cuidado e acompanhamento dos usuários na APS. Mediante a isso, nos pró- ximos itens conheceremos alguns aspectos que estão fortemente relacionados com a obesidade, e que precisam ser conhecidos para subsidiar nossas ações no território ampliado. Vamos lá! 1.2 DETERMINAÇÃO SOCIAL DO SOBREPESO E DA OBESIDADE Na maioria dos países, em particular na- queles economicamente emergentes como o Brasil, a frequência da obesidade e do diabetes vêm aumentando rapidamente. De modo semelhante, evoluem outras doenças 12 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS ao menor consumo de frutas e hortaliças, maior consumo de gordura, açúcar e alimen- tos processados (BRASIL, 2019). Assim, a obesidade é determinada por múltiplos fatores, e por isso fica tão complexo e difícil definir uma única estratégia para preveni-la e controlá-la. Apontar um fator dietético específico como responsável pelo ganho de peso é excluir todo o ambiente, os hábitos de vida e a maneira com que nos relacionamos com a alimentação, que, como visto, são um potente estímulo para o ganho de peso e obesidade. Como profissionais da saúde, de que maneira podemos auxiliar os usuá- rios com intervenções em nível local para apoiar nas escolhas alimenta- res mais saudáveis e na adoção de prática de atividade física? Um fator imprescindível para a promoção de práticas corporais e atividades físicas se refere às condições de infraestrutura, pois a utilização de espaços públicos seguros facilita a incorporação dessa prática no cotidiano. A segurança nas ruas é um fator essencial para a garantia desses espaços, assim como o planejamento urbano, devendo prever instalações para iluminação, recreação, ciclovias, condições de calçadas, investimento em parques e equipamentos públicos (ANDRADE, 2013). Além disso, o nível de escolaridade e a renda têm sido identificados como variáveis que podem interferir na forma como a população escolhe seus alimentos, na adoção de comportamentos saudáveis e na interpretação das informações sobre cuidados para a saúde. Mudanças sociocomportamentais da população também estão implicadas no aumento da ingestão alimentar e, portanto, no aparecimento da obesidade, tais como: a diminuição do número de refeições realiza- das em casa, o aumento compensatório da alimentação em redes de fast food levando Figura 1 – O ambiente e os modos de vida interferem na alimentação. Fonte: ronstik/ Adobe Stock Alguns ambientes são considerados obesogênicos, por incentivarem a inatividade física e escolhas alimentares não saudáveis, e que estão relacionados a possíveis causas e feitos da obesidade (FIESBERG, 2016). Você já observou, em seu território, se existem espaços que estimulam a adoção de hábitos de vida saudável nos usuários, tais como praças, aca- demias ao ar livre, parques, espaços de lazer, feiras, entre outros? 13 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS Dados recentes do Vigitel – inquérito telefônicopara vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas do Minis- tério da Saúde – apontam que, no Brasil, a frequência de adultos com excesso de peso ocorre de maneira diferente em cada estado, variando entre 47,2% em São Luís e 60,7% em Cuiabá (BRASIL, 2019). Acompanhe, a seguir, outros dados apresentados na pesquisa. Ao mesmo tempo em que declina a ocorrência da desnutrição em crianças e adultos em ritmo bem acelerado, aumenta a prevalência de sobrepeso e obesidade. No entanto, esses agravos continuam a coexistir, ainda que a desnutrição atinja grupos populacionais mais delimitados (populações mais vulneráveis), representando situação de extrema gravidade social. 1.3 EPIDEMIOLOGIA DO SOBREPESO E DA OBESIDADE O panorama da evolução nutricional da população brasileira revela, nas últimas décadas, mudanças em seu padrão. As tendências temporais da desnutrição e da obesidade definem uma das características marcantes do processo de transição nutricional do país. Mudanças em alguns momentos da vida (exemplo: casamento, viuvez, separação) Determinadas situações de violência, fatores psicológicos (como o estresse, a ansiedade, a depressão e a compulsão alimentar) Paridade (número de filhos) Alguns tratamentos medicamentosos (psicofármacos e corticoides) Especificidades das fases da vida (fase intrauterina, o peso de nascimento, a amamentação, fase puberal e menopausa) A suspensão do hábito de fumar O consumo excessivo de álcool A redução drástica de atividade física Outros fatores ainda podem ser destacados por estarem associados ao ganho excessivo de peso, que são: Mudanças em alguns momentos da vida (exemplo: casamento, viuvez, separação) 14 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS Essa condição tendeu a aumentar com a idade até os 44 anos. Entre homens, a frequência aumentou com a idade até os 44 anos e foi maior nos estratos extremos de escolaridade. Entre mulheres, a frequência do excesso de peso aumentou com a idade até os 64 anos e diminuiu notavelmente com o aumento da escolaridade. Já para a obesidade, a frequência de adultos obesos variou entre 15,7% em São Luís e 23,0% em Cuiabá e Manaus. Maiores frequências de excesso de peso: Porto Alegre (66,7%) Rio Branco (65,2%) Cuiabá (65,1%) Rio de Janeiro (58,4%) Manaus (56,8%) São Paulo (56,6%) Cuiabá (56,6%) Homens Mulheres Menores frequências de excesso de peso: No conjunto das 27 capitais brasileiras, a frequência de excesso de peso foi de 55,7%, sendo maior entre homens (57,8%) do que entre mulheres (53,9%%). Teresina (49,3%) São Luís (49,6%) Curitiba (53,0%) Palmas (44,1%) São Luís (45,2%) Florianópolis (46,0%) Homens Mulheres Maiores frequências de obesidade: Manaus (27,1%) Cuiabá (25,4%) Porto Velho (23,2%) Rio de Janeiro (24,6%) Rio Branco (23,0%) Recife (22,6%) Homens Mulheres Menores frequências de obesidade: Ao total das cidades pesquisadas, a frequência de adultos obesos foi de 19,8%, ligeiramente maior em mulheres (20,7%) do que em homens (18,7%). Aracaju (14,4%) Curitiba (14,8%) Goiânia (15,5%) Palmas (14,9%) São Luís (15,7%) Florianópolis (16,4%) Homens Mulheres 15 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS se comporta de maneira diferente em homens e mulheres. Lembre-se de que as diferenças de saúde entre ambos denotam fatores biológicos, mas também refletem comportamentos específicos. No item seguinte vamos conhecer alguns problemas que a obesidade pode causar com os custos diretos e indiretos para o sistema de saúde no Brasil. Vamos lá! 1.4 IMPACTOS E CONSEQUÊNCIAS DO SOBREPESO E DA OBESIDADE O excesso de peso é um dos principais fatores que contribuem para a mortalidade e para a carga global de doenças no mundo. Em termos de mortes atribuíveis, a hipertensão arterial, principal fator de risco para doenças cardiovasculares, causa cerca de 7,5 milhões de mortes/ano (12,8% de todas as mortes). Ao tabagismo são atribuídas 6 milhões de mortes/ano, ao passo que a inatividade física, sobrepeso/ obesidade, níveis sanguíneos elevados de colesterol e consumo abusivo de álcool são responsáveis, respectivamente, por 3,2, 2,8, 2,6 e 2,3 milhões de mortes/ano (OMS, 2011). O panorama final mostrou que a frequência de consumo recomendado de frutas e hortaliças foi de 23,1%, sendo menor entre homens (18,4%) do que entre mulheres (27,2%). A frequência do consumo recomendado de frutas e hortaliças tendeu a aumentar com a idade entre mulheres até os 64 anos, não havendo um padrão uniforme de variação com a idade no caso dos homens. Em ambos os sexos, o consumo recomendado de frutas e hortaliças aumentou com o nível de escolaridade. Confira também informações sobre o consumo alimentar de carnes com excesso de gordura, leite com teor integral de gordura, alimentos doces em cinco ou mais dias da semana, refrigerantes, feijão, substituição de almoço e jantar por lanches, prática de atividade física, acessando o link: <https://portalarquivos2.saude.gov. br/images/pdf/2019/julho/25/vigitel- brasil-2018.pdf> Perceba, a partir dos dados apresentados, a relevância da obesidade como problema de saúde pública em nosso país, e como a prevalência do sobrepeso e da obesidade A frequência de obesidade aumentou com a idade até os 44 anos para homens e até os 64 anos para mulheres. Em ambos os sexos, a frequência de obesidade diminuiu com o aumento do nível de escolaridade, de forma notável para mulheres. Essa pesquisa também avaliou o consumo alimentar de frutas e hortaliças da população brasileira, em que se considera como consumo regular a ingestão desses alimentos em cinco ou mais dias da semana. Os resultados mostraram que a frequência de adultos que consomem cinco ou mais porções diárias de frutas e hortaliças foi baixa na maioria das cidades estudadas, variando entre 23,% em Belém e 44,7% em Florianópolis. As maiores frequências foram encontra- das, entre homens, em Florianópolis (38,7%), Belo Horizonte (36,9%) e João Pessoa (35,5%) e, entre mulheres, em Palmas (51,4%), Curitiba (50,8%) e Belo Horizonte e Florianópolis (50,1%). As menores frequên- cias do consumo regular de frutas e hortali- ças no sexo masculino ocorreram em Belém (16,7%), Macapá (20,5%) e Salvador (21,8%) e, no sexo feminino, em Belém (28,3%), Manaus (28,8%) e Rio Branco (29,1%) 16 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS prevenção, diagnóstico e tratamentos tanto para a própria obesidade quanto às comorbidades associadas. Além disso, necessitam adaptações na infraestrutura na própria comunidade dos locais públicos e/ou privados para pessoas obesas, como: camas reforçadas, mesas de operação e cadeiras de rodas; catracas ampliadas e assentos em estádios, modificações para o transporte, entre outras (WOF, 2015). No Brasil entre os anos de 2008 e 2011 , o gasto médio com o tratamento da obesidade foi de R$25.404.454,87, sendo constatado um aumento de R$16.260.197,86 entre 2008 e 2011. Para o diabetes, o gasto médio nestes quatro anos foi de R$78.471.7365,08, com um aumento de R$25.817.762,98 entre o primeiro e o último ano. O tratamento do infarto agudo do miocárdio, por sua vez, custou, em média, R$197.615.477,67, com incremento de R$93.673.355,73. Já o custo do trata- mento da hipertensão arterial manteve-se relativamente estável, com média de R$43.773.393,48 e aumento de apenas R$1.679.789,79. Entre os sexos, as mulheres custaram mais que os homens, exceto para O aumento contínuo dessa enfermidade em várias partes do mundo pode significar sérios problemas relativos aos custos sociais para indivíduos e serviços de saúde. Os tratamentos oferecidos às pessoas obesas a fim de cuidar dasconsequências decorrentes da doença representam enormes gastos no setor da saúde. Os custos diretos contemplam serviços de Em 2018 foram registradas 41 milhões de mortes ao ano por DCNT. Coletivamente, câncer, diabetes, doenças pulmonares e cardiovasculares responderam por 71% de todas as mortes no mundo (OMS, 2018). De natureza multifatorial, a obesidade é um dos elementos mais importantes para explicar o aumento da carga das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Fonte: SCHMIDT et al., 2011. As consequências econômicas da obesidade e doenças associadas incluem custos indiretos ou sociais Incapacidade com aposentadorias precoces e morte Diminuição da qualidade de vida Problemas de ajustes sociais Perda de produtividade As consequências econômicas da obesidade e doenças associadas incluem custos indiretos ou sociais 17 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE SOBREPESO E OBESIDADE: DEFINIÇÃO, DETERMINANTES E IMPACTOS das DCNT. No âmbito do SUS, a proposta das redes de atenção à saúde, que inclui a linha de cuidado da obesidade, consolida-se em um contexto de valorização crescente das ações da atenção básica e de organização da rede de serviços para garantir o cuidado integral dos indivíduos, considerando todas as suas necessidades e particularidades (BRASIL, 2012). A obesidade envolve uma complexa relação entre corpo-saúde-alimento-socie- dade e essas inter-relações influenciam nas condições para a promoção da saúde. Promover saúde é considerar a autonomia e singularidade dos sujeitos, das coletivida- des e dos territórios, pois as formas como eles elegem seus modos de viver, como organizam suas escolhas e como criam possibilidades de satisfazer suas necessi- dades dependem não apenas da vontade ou da liberdade individual e comunitária, mas como já vimos nesta unidade, estão condi- cionadas e determinadas pelos contextos social, econômico, político e cultural em que eles vivem (BRASIL, 2019). o infarto agudo do miocárdio. As Regiões Sul, Sudeste e Nordeste revelaram maiores gastos nos tratamentos das enfermidades para o SUS (MAZZOCCANTE, 2013). Veja que a obesidade pode acarre- tar em hospitalização em decorrên- cia de suas complicações e de sua causa multifatorial. Isso reforça a necessidade de articulação do setor saúde na realização de ações inter- setoriais, de maneira a promover uma atenção integral. Dessa maneira, o tratamento e o acompa- nhamento da obesidade e de doenças a ela associadas têm consequências econômicas relevantes para os serviços de saúde, reper- cutindo fortemente na economia do país. A compreensão da complexidade dessa doença é fundamental para o controle e prevenção, uma vez que os esforços de construção da intrassetorialidade e da intersetorialidade podem contribuir para uma maior integração e efetividade do conjunto de medidas de prevenção e controle ENCERRAMENTO DA UNIDADE Nesta unidade abordamos os aspectos multifatoriais que envolvem o sobrepeso e a obesidade, percebendo-as como doenças crônicas não transmissíveis. O conhecimento sobre os determinantes sociais e o panorama epidemiológico é fundamental para identifi ca- ção dos usuários com esses agravos de saúde e, principalmente, para o reconhecimento des- sa problemática como uma questão relevante a ser abordada na APS. A intrassetorialidade corresponde a todos os níveis de atenção e esferas de gestão do SUS. A intersetorialidade corresponde à articula- ção entre sujeitos de setores diversos, com diferentes saberes e poderes. ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE 19 2 ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE Esta unidade abordará os instrumentos de avaliação, diagnóstico e monitoramento alimentar e nutricional para organização das linhas de cuidado no controle e prevenção do sobrepeso e da obesidade, reconhecendo as potencialidades e os desafios do território para prevenção e controle do sobrepeso e da obesidade. 2.1 AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO ALIMENTAR E NUTRICIONAL Para caracterização do estado nutricional geral do indivíduo, um parâmetro isolado não é suficiente, sendo necessário empregar uma associação de vários indicadores para melhorar a precisão e acurácia do diagnóstico nutricional. Neste sentido, a avaliação do estado nutricional é primordial para que possamos iniciar as condutas, e tem como objetivo identificar os distúrbios nutricionais, possibilitando uma intervenção adequada de forma a auxiliar na recuperação e/ ou manutenção do estado de saúde do indivíduo. A importância da avaliação nutricional é reconhecida na atenção primária, para acompanhar o crescimento e a saúde das pessoas ao longo do ciclo vital, desde a gestante, a criança e o adolescente, o adulto e o idoso, com o intuito de detectar precocemente os distúrbios nutricionais, bem como auxiliar no manejo da desnutrição, do sobrepeso e da obesidade (BRASIL, 2013). Confira, no quadro a seguir, a importância da anamnese como instrumento de avaliação do estado nutricional. 20 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE Há exames que devem ser realizados em pacientes com excesso de peso (IMC >25 kg/m2): circunferência da cintura, lipidograma, pressão arterial, glicemia, avaliação do risco cardiovascular, avaliação de condições endócrinas e câncer. Com base na anamnese, é importante que os profissionais da saúde construam junto ao usuário um plano de ação com metas de ações para redução do peso no curto, médio e longo prazo, contando com o envolvimento familiar sempre que possível. A meta do acompanhamento do usuário e monitoramento alimentar deve ser a apropriação pelo usuário do seu próprio corpo, do autocuidado, do resgate da sua autoestima e o controle das suas comorbidades. A redução da gordura corporal implica diretamente na melhora do seu estado de saúde e contribui para a redução dos riscos e complicações que o excesso de peso pode ocasionar (BRASIL, 2014a). Assim, busca-se, como resultado, que os usuários reduzam o ganho excessivo de peso e adotem um comportamento alimentar e prática de atividade física mais saudável, de forma a romper com os fatores determinantes da obesidade. A motivação para a adesão a um modo de vida mais ativo e saudável é o grande desafio para os profissionais de saúde da APS. Portanto, devem-se identificar estratégias que propiciem essa adesão debatendo junto ao grupo de equipe multidisciplinar questões como a em destaque a seguir. Como tornar hábito uma alimentação saudável, utilizando os re- cursos econômicos disponíveis e estimulando o consumo dos ali- mentos produzidos localmente? Algumas questões são importantes de serem abordadas durante a anamnese: História psicossocial do usuário Avaliação dos marcadores de consumo alimentar Histórico de saúde (diabetes, pressão alta, doenças do coração, colesterol alto, úlcera ou gastrite, insuficiência renal crônica, constipação intestinal) História familiar de doenças associadas Uso de medicamento ou de suplemento Tabagismo Sono Dados antropométricos (peso, altura, IMC, circunferência da cintura (CC), circunferência do quadril (CQ)) Prática de atividade física (frequência e tempo) Tempo inativo (TV ou computador) Para saber mais sobre os critérios de classificação dos exames citados, bem como o cálculo do Escore de Framinghan, para avaliação do risco cardiovascular, acesse: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/estrategias_cuidado_pessoa_doenca_ cronica.pdf> 21 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE para cada fase do curso da vida e estadosfisiológicos adotados no SISVAN. Fases do Ciclo de Vida Índices Crianças • Peso por idade • Estatura por idade • Peso por estatura • IMC por idade Adolescentes • IMC por idade • Estatura por idade Adultos • IMC • Circunferência da cintura Idosos • IMC Gestantes • IMC por semana gestacional • Ganho de peso gestacional Fonte: BRASIL, 2011 Desta maneira, realizar o diagnóstico coletivo é conhecer a situação de saúde e nutrição de uma coletividade, quer seja de pessoas atendidas nos serviços de saúde (clientela), quer seja da população de deter- minada região geográfica (comunidade). O principal objetivo de fazer um diagnóstico coletivo é que as informações coletadas propiciem ações efetivas ao controle de Assim, fortalecer e qualificar o cuidado nutricional no âmbito da APS é uma forma mais econômica, ágil, sustentável e eficiente de prevenir a ocorrência de novos casos de obesidade e doenças associadas à má alimentação, uma vez que o agravamento dessa condição pode demandar atendimento hospitalar em um futuro próximo (CFN, 2008). 2.1.1 Vigilância Alimentar e Nutricional A Vigilância Alimentar e Nutricional faz parte de um conjunto de ações da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que contribui para a promoção de modos de vida saudáveis, proporcionando condições para que as pessoas possam exercer maior controle sobre a sua saúde, uma vez que pro- move o monitoramento, a análise e a divul- gação de dados sobre a situação alimentar e nutricional da população (BRASIL, 2013a). O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) tem como objetivo fazer o diagnóstico descritivo e analítico da situação alimentar e nutricional da população brasileira, contribuindo para que se conheça a natureza e a magnitude dos problemas de nutrição, identificando áreas geográficas, segmentos sociais e grupos populacionais de maior risco aos agravos nutricionais e, ainda, acompanhar de maneira contínua as tendências das condições nutricionais, visan- do ao planejamento e à avaliação de políticas, programas e intervenções (BRASIL, 2013a). As principais fontes de dados das ações de vigilância alimentar e nutricional são os dados coletados pelos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS). Entretanto, outras fontes de dados podem ser utilizadas pelos profissionais, tais como: • estudos e pesquisas populacionais; • creches, escolas e outras entidades pertinentes; • outros bancos de dados do SUS como, por exemplo, Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação sobre Nascidos-Vivos (SINASC), Sistema de Atenção Básica (SIAB), entre outros. Um dos principais objetivos da Vigilância Nutricional contemplada pelo SISVAN cor- responde à avaliação do estado nutricional de diferentes grupos populacionais. A classificação do estado nutricional pode ser realizada por meio de índices antropométri- cos. A seguir são apresentados os índices preconizados pela Vigilância Nutricional 22 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE agravos à saúde, assim como possibilitem a proteção à saúde, a prevenção de doenças e a recuperação da saúde da população. O diagnóstico tem como finalidade, especificamente no nível local, de orientar ou reorientar ações para melhorar a assistência prestada aos usuários dos serviços básicos de saúde e programas comunitários, por meio da implementação do conceito de atitude de vigilância, valorizando o estado nutricional como um componente fundamental para a saúde. Em 2018, o SISVAN dispunha de registros de acompanhamento do estado nutricional de 20,7% população – ou seja, mais de 40 mi- lhões de pessoas acompanhadas nos serviços de Atenção Primária à Saúde. Quanto ao acompanhamento de marcadores do consumo alimentar, nesse mesmo ano, mais de 1,6 milhão de pessoas foram questionadas sobre hábitos relacionados à alimentação e consu- mo de alimentos, revelando o desempenho das equipes de saúde de todo o Brasil. Para saber mais sobre VAN e SISAVNA, acesse: <http://aps.saude.gov.br/ape/vigilanciaalimentar/van_sisvan> O SISVAN, portanto, não deve se restringir a um banco de dados, seu objetivo maior é “atitude de vigilância”, e isso significa ter um olhar diferenciado para cada indivíduo, para cada grupo, para cada fase da vida, usando a informação rotineira para subsidiar as ações locais e as instâncias superiores, repensando a prática do serviço de saúde qualificando a assistência prestada aos indivíduos que diariamente estão à procura de atendimento. Diversos ambientes podem ser propícios para o desenvolvimento de ações e estratégias no âmbito coletivo com base no diagnóstico proporcionado pela vigilância alimentar e nutricional, potencializando a articulação com outros setores sociais disponíveis, como escolas, creches, centros da rede socioassistencial, centros de esporte e lazer, restaurantes populares, cozinhas comunitárias, associações de bairro, entre outros. Atividades que podem ser desenvolvidas na Atenção Primária à Saúde: Organização da vigilância alimentar e nutricional, a partir da avaliação do peso e da estatura e a avaliação do consumo alimentar Realizar ações em grupos de apoio e de caminhadas; promover as práticas corporais e integrativas e atividade física no espaço da Academia da Saúde Promover, nos diversos espaços, ações de promoção da alimentação adequada e saudável Realizar ações de alimentação saudável e atividade física nas escolas e creches, públicas e privadas Utilizar os equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional do território (feiras, restaurantes populares, bancos de alimentos, cozinhas comunitárias, Central de Abastecimento Municipal) Definir plano de metas individuais para o indivíduo adotar comportamentos mais adequados e saudáveis do ponto de vista alimentar e de práticas corporais e atividade física Garantir avaliação periódica dos usuários 23 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE corporal, é um indicador que não descreve a distribuição da gordura corporal, nem distin- gue massa gorda de massa magra, portanto a combinação de IMC com medidas da dis- tribuição de gordura pode ajudar a resolver alguns problemas do uso do IMC isolado. Figura 2 – Por meio da antropometria é possível identificar fatores de risco. Fonte: JPC-PROD/ Adobe Stock Nas últimas décadas, tem-se considerado a medida da circunferência da cintura (CC) como indicador que reflete melhor o conteúdo de gordura visceral, bem como se associa muito à gordura corporal total. Para diagnóstico de síndrome metabólica a Federação Internacional de Diabetes estabelece como ponto de corte para risco Dentro desse conjunto de estratégias insere-se a organização da linha de cuidado às pessoas com sobrepeso e obesidade, que tem como objetivo qualificar e organizar a atenção a essas pessoas por meio da integralidade e da longitudinalidade do cuidado nos diversos pontos das Redes de Atenção à Saúde. 2.1.2 Avaliação antropométrica e da composição corporal Antropometria é a medida do tamanho corporal e suas proporções. Trata-se de um dos indicadores diretos do estado nutricional, sendo que as medidas recomendadas pelo MS na APS para a avaliação antropométrica são: peso, altura, perímetro da cintura e perímetro da panturrilha. O IMC é considerado um bom indicador antropométrico em nível populacional ou mesmo na prática clínica, por sua facilidade de mensuração, por ser uma medida não invasiva e de baixo custo. O risco de desenvolvimento de morbida- des ou DCNT aumenta progressivamente de acordo com o aumento do IMC. Mas, é importante destacar que o IMC, mesmo sendo útil para avaliar o excesso de peso Os equipamentos necessários para a avaliação antropométrica são: Formulários de marcadores do consumo alimentar doSisvan Infantômetro (estadiômetro infantil ou horizontal) e estadiômetro vertical Balança pediátrica e de plataforma Calculadora, planilha ou disco para a identificação do Índice de Massa Corporal (IMC) Curvas de crescimento (OMS, 2006 e 2007) Cartões e cadernetas de acompanhamento do Ministério de Saúde, por fase da vida: • Caderneta de Saúde da Criança • Caderneta de Saúde do Adolescente • Caderneta da Gestante • Caderneta do Idoso 24 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE Organização Mundial da Saúde lançada em 2007 (OMS, 2007). O índice antropométrico mais recomen- dado pelo Sisvan para avaliação do excesso de peso é o IMC-para-idade. Isso porque a associação para determinar o risco à saúde é mais sensível quando avaliada a relação entre o peso e o quadrado da medida de altura (IMC) do que com a medida isolada da altura (Peso-para-estatura). Os pontos de corte de IMC para idade são: Classificação do estado nutricional Pontos de corte do IMC Crianças menores de 5 anos Risco de sobrepeso > Percentil 85 e≤ Percentil 97 Sobrepeso > Percentil 97 e≤ Percentil 99,9 Obesidade > Percentil 99,9 Crianças dos 5 aos 10 anos Sobrepeso > Percentil 85 e≤ Percentil 97 Obesidade > Percentil 97 e≤ Percentil 99,9 Pela facilidade, baixo custo e não ser invasivo, a antropometria é o método mais utilizado no diagnóstico da obesidade. Entre os indicadores antropométricos mais utilizados estão o IMC e a CC, tornando- se uma importante ferramenta para traçar políticas de saúde para a população. 2.1.3 Diagnóstico alimentar e nutricional e classificação de risco Vimos no item anterior que o diagnóstico do sobrepeso e da obesidade em crianças, adolescentes, idosos e gestantes é obtido a partir do IMC. Os critérios diagnósticos e a classificação de risco estabelecidos pela OMS serão vistos a seguir, acompanhe. Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em crianças Compreende todos os indivíduos menores de 10 anos, com diferentes parâmetros e orientações por faixas etárias. O referencial para classificar o estado nutricional de crianças menores de 5 anos são as curvas de crescimento infantil propostas pela Organização Mundial da Saúde em 2006 (OMS, 2006), e para as crianças de 5 a 10 anos incompletos a referência da cardiovascular aumentado a medida de circunferência abdominal (CC) igual ou superior a 94 cm em homens e 80 cm em mulheres, e muito aumentado quando a medida alcança ou ultrapassa 88 cm em mulheres e 102 cm em homens. Outras medidas de circunferências que podem ser usadas para a avaliação antropométrica são: braquial, coxa, cervical e panturrilha. A circunferência braquial (ponto médio entre o acrômio e o olecrano) e a da panturrilha são bons marcadores de estados de deficiência nutricional, sendo que esta última pode indicar um quadro de perda de massa e força na musculatura esquelética com o envelhecimento, definida como sarcopenia em idosos, se <31 cm. (ABESO, 2016). Para saber mais sobre os critérios de avaliação e pontos de corte, consulte as seguintes publicações: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/marco_referencia_ vigilancia_alimentar.pdf> <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/orientacoes_coleta_ analise_dados_antropometricos.pdf> 25 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE Por tais motivos, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2014b) sugere um ponto de corte maior de IMC para esta faixa etária: Classificação do estado nutricional Pontos de corte Baixo peso ≤ 22 km/m² Eutrófico > 22 e < 27 km/m² Sobrepeso ≥ 27 km/m² Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em gestantes O diagnóstico de sobrepeso e obesidade em gestantes considera o indicador IMC por semana gestacional, tendo como vantagem o diagnóstico nutricional em qualquer momento da gestação, possibilitando o monitoramento do estado nutricional por meio do cartão da gestante. Além de identificar os possíveis riscos nutricionais no início do acompanhamento, a identificação do ganho de peso menor ou excessivo para a idade gestacional é essencial para a manutenção da saúde da mulher e do bebê. O usuário que teve o diagnóstico de sobrepeso e obesidade em qualquer ciclo de vida pode ser encaminhado para Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em adultos Compreende todos os indivíduos com idade entre 20 e 60 anos incompletos. Para a classificação do estado nutricional, são adotados os seguintes conceitos, segundo o valor do Índice de Massa Corporal do adulto: Classificação do estado nutricional Pontos de corte Baixo peso < 18,5 km/m² Eutrófico ≥ 18,5 e < 25 km/m² Sobrepeso ≥ 25 e < 30 km/m² Obesidade I ≥ 30 e < 35 km/m² Obesidade II ≥ 35 e < 40 km/m² Obesidade III ≥ 40 km/m² Já o diagnóstico de sobrepeso e obesida- de em idosos leva em consideração algumas características específicas desse grupo, tais como: redução do conteúdo de água corporal e da massa muscular, mudanças posturais e perda de tônus muscular, mudança na quantidade e distribuição do tecido adiposo com aumento da localização abdominal, alteração na elasticidade e na capacidade de compressão dos tecidos. Confira outras informações sobre os critérios para classificação do estado nutricional, de acordo com os índices antropométricos da criança, aces- sando o link: <http://bvsms.saude. gov.br/bvs/publicacoes/estrategias _cuidado_doenca_cronica_obesida de_cab38.pdf> Diagnóstico de sobrepeso e obesidade em adolescentes Compreende todos os indivíduos com idade de 10 a 20 anos incompletos. Para a classificação do estado nutricional dos adolescentes, deve ser adotada a referência da Organização Mundial da Saúde lançada em 2007 (OMS, 2007). Entre os percentis (> Percentil 97 e ≤ Percentil 99,9) e (> Escore-z +2 e ≤ Escore-z +3), o adolescente apresenta obesidade. Para mais informações sobre a aná- lise de dados antropométricos na população adolescente, consulte o capítulo correspondente na publica- ção Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde (BRASIL, 2011). 26 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE Assim, em um cenário de primeira abordagem ao paciente, é indicada a realização da anamnese, e, posteriormente, promover uma discussão em equipe sobre o caso para definição de melhor conduta por meio de questionamentos, como os descritos a seguir. Caso haja preocupação em relação ao manejo do caso – acionar profissional do NASF para discussão do caso (presencialmente ou à distância). Desta maneira, o profissional do NASF pode sugerir conduta para profissionais da ponta ou, percebendo a gravidade, agendar para uma avaliação individual. avaliação da equipe de saúde da família, com o apoio da equipe multidisciplinar do NASF. Caso necessário, nutricionista e educador físico podem apoiar em intervenções individualizadas, considerando as particularidades dos usuários. Por que isso é importante? Segundo o Ministério da Saúde, o processo interdis- ciplinar pode ser determinante no cuidado da pessoa obesa, uma vez que faz parte do princípio desse processo a realização de reuniões periódicas para avaliação dos casos existentes no território tendo como fi- nalidade a autonomia da equipe para tomada de decisões. A equipe interdisciplinar ainda deve participar de consultas ambulatoriais, coletivas e domiciliares, nos trabalhos cole- tivos, de grupos e na comunidade. Considerando que os profissionais do NASF atuam com volumes de ter- ritório muito além da capacidade clí- nica instalada de oferta de serviços, é possível, por meio de matriciamen- to, instrumentalizar os diferentes profissionais que são corresponsá- veis pelo cuidado do usuáriocom excesso de peso. Tópicos para discussão em equipe sobre o caso Esse caso é possível de ser manejado pela equipe – médicos, enfermeiros e demais integrantes? Há preocupação em relação ao manejo do caso ? Qual o grau de obesidade do paciente? Há comprometimento sistêmico associado? 27 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE acompanhamento, e as ações esperadas em cada ponto de atenção na prevenção e no tratamento do sobrepeso e da obesidade (BRASIL, 2014). Assim, a linha de cuidado representa para as pessoas com sobrepeso e obesidade a garantia de acesso aos serviços de saúde, ações de prevenção e de tratamento, em tempo oportuno, oferecendo infraestrutura, com mobiliário e equipamentos adequados para o cuidado dos indivíduo, além de ações que buscam promover a alimentação adequada e saudável, práticas corporais e de atividades físicas adequadas, de integralidade e de longitudinalidade do cuidado, em todos os pontos de atenção da rede de atenção à saúde (BRASIL, 2014). No âmbito da APS, as ações de prevenção e controle do sobrepeso e da obesidade precisam ser planejadas de maneira compar- tilhada junto à comunidade, contemplando características sociais e respeitando os as- pectos culturais de cada ambiente. Pontos de produção de cuidado: • unidades de saúde, • escolas, • creches, • polo da Academia da Saúde ou similares, ambulatorial e atenção especializada hospitalar) e nos sistemas de apoio, tendo vários tipos de estratificação (clínica, de risco, entre outras) para definir as ações de cuidado (BRASIL, 2014). A implantação da linha de cuidado das pessoas com sobrepeso e obesidade busca organizar os serviços e as ações nos diferentes níveis de atenção a saúde. As ações de cuidado são prioritariamente embasadas na promoção da saúde e no cuidado ampliado, contemplando aspectos individuais, familiares, comunitários, serviços de saúde e as políticas públicas. É importante que os profissionais da saúde atuantes na APS saibam que a linha de cuidado desenha os fluxos assistenciais multiprofissionais e a regionalização dos serviços, a forma de regulação para o acesso à atenção especializada (fi la única, cota para cada região), critérios da regula- ção (protocolos de encaminhamento), as formas de monitoramento da implantação da linha (cronograma de implantação e acompanhamento), os indicadores de Esses recursos são mecanismos de gestão da clínica num contexto em que a oferta de serviços é muito superior à capacidade instalada de atendimento. Eles se fazem indispensáveis para uma avaliação de risco, já que não há disponibilidade de nutricionista nas unidades básicas para atendimento de todas as pessoas que possuem alguma necessidade alimentar específica ou obesidade. No próximo item falaremos mais sobre a linha de cuidado, sua organização e ações desde a prevenção até o tratamento do sobrepeso e da obesidade. Vamos lá! 2.2 LINHA DE CUIDADO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE A linha de cuidado visa estabelecer um pacto entre os diversos atores institucionais dos pontos de atenção da rede de atenção à saúde, estabelecendo fluxos de referência e contrarreferência para assistir o usuário com sobrepeso e obesidade no SUS. As linhas definem a organização dos serviços e as ações que devem ser desenvolvidas nos diferentes pontos de atenção de uma rede (atenção primária, atenção especializada 28 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE as possibilidades terapêuticas na APS, necessitarem de outros pontos de atenção, quando apresentarem IMC maior ou igual a 30 kg/m² com comorbidades ou IMC maior ou igual a 40 kg/m². • assistência terapêutica multiprofissio- nal aos usuários que realizaram proce- dimento cirúrgico para tratamento da obesidade após o período de acompa- nhamento pós-operatório realizado na Atenção Especializada Ambulatorial e/ou Hospitalar; e • acolhimento adequado das pessoas com sobrepeso e obesidade em todos os equipamentos da atenção básica, incluindo os Pólos de Academia da Saúde. É importante que as equipe de Saúde da Família mantenham o vínculo com os indivíduos enquanto são atendidos na Atenção Especializada, permanecendo na coordenação do cuidado na RAS. A equipe de Saúde da Família também deve continuar oferecendo outras opções terapêuticas (grupos de caminhada, atividade física etc.) para acompanhar de forma conjunta o tratamento desses indivíduos. • instituições religiosas, • Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), • associações de moradores, entre outros. Para a prevenção e controle do sobrepeso e da obesidade, podem ser desenvolvidas diversas atividades pelas equipes multi- profissionais, no âmbito da APS, tais como (BRASIL, 2013a): • vigilância alimentar e nutricional – visando à estratificação de risco para o cuidado do sobrepeso e da obesidade • promoção da saúde e prevenção do sobrepeso e da obesidade – ações intersetoriais e com participação popular, respeitando hábitos e cultura locais, com ênfase nas ações de promoção da alimentação adequada e saudável e da atividade física; • apoio do autocuidado para manuten- ção e recuperação do peso saudável; • assistência terapêutica multiprofissio- nal aos indivíduos adultos com sobre- peso e obesidade, com IMC entre 25 e 40 kg/m²; • coordenação do cuidado dos indivíduos adultos que, esgotadas Ações de acompanhamento na atenção especializada: Orientação e apoio multiprofissional para mudança de hábitos Prescrição dietética Psicoterapia Farmacoterapia Prescrição de atividade física Atividades educativas com estratégias de educação permanente Palestras Rodas de conversa Oficinas com temas relacionados ao tratamento cirúrgico da obesidade (cirurgia bariátrica, cuidado pré e pós-operatório, necessidades alimentares, possíveis complicações) Ações de monitoramento e avaliação do peso, entre outras Fonte: BRASIL, 2014. 29 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE • Severidade da condição crônica: é re- sultado da complexidade do problema (e sua interferência na qualidade de vida da pessoa) e do risco de ocorrer um evento que cause morbidade ou mortalidade. • Capacidade de autocuidado: a avalia- ção da capacidade de autocuidado é, em boa parte, subjetiva, pois depende da percepção do profissional e da equipe de saúde ao observar o contex- to e as atitudes da pessoa diante de sua condição crônica. 2.3.2 Autocuidado apoiado Para entendermos melhor o significado do autocuidado apoiado no contexto da APS, é importante que exista uma relação baseada no diálogo entre os saberes de cuidar de si e os saberes de cuidar do outro. Essa relação apresenta na escolha de problemas, estabelecendo prioridades, fixando metas, criando planos conjuntos de cuidado, checando o cumprimento de metas, identificando as dificuldades em cumpri-las e resolvendo os problemas de competência dos serviços de Saúde (BRASIL, 2014). Assim, a ampliação do acesso da população aos recursos e aos serviços das Unidades Básicas de Saúde buscam a resolubilidade das demandas dos usuários. A partir disso, a reorganização das ativi- dades das equipes de saúde passa a ser uma necessidade da gestão visando o alcance de melhores resultados nas doenças crônicas, o que está dentro do contexto dos princípios e atributos da APS e do próprio SUS. 2.3.1 Estratificação de risco Estratificar significa agrupar, segundo uma ordem, um critério. Estratificar, em doenças crônicas, significa reconhecer que as pessoas têm diferentes graus de risco/ vulnerabilidade e, portanto, têm necessidades diferentes que variam conforme seu risco. Conhecer os riscos de cada usuário ajuda as equipes de APS a adequar e ampliaras ações, tanto individuais como coletivas, conforme as necessidades da população adscrita, além de utilizar melhor os recursos do serviço (BRASIL, 2014). A estratificação dos usuários em condições crônicas busca identificar necessidades semelhantes, de acordo com dois critérios (MENDES, 2011): Ainda na linha de cuidado, o controle e tratamento da obesidade podem ser desenvolvidos na atenção especializada ambulatorial e hospitalar, pois são responsabilidades também de assistência terapêutica clínica e acompanhamento, levando em consideração as comorbidades associadas, além do acompanhamento pré e pós cirurgia bariátrica, a cirurgia bariátrica e a cirurgia plástica reparadora com profissionais especializados para o cuidado do indivíduo obeso (BRASIL, 2014). 2.3 ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE TRABALHO A linha de cuidado não se configura apenas por uso de protocolos e fluxogramas estabelecidos, mas também pelo reconhecimento dos gestores dos serviços em pactuar fluxos, reorganizando o processo de trabalho, facilitando o acesso do usuário às unidades e aos serviços dos quais necessita. Com o estabelecimento da linha de cuidado para a pessoa com excesso de peso, alguns aspectos precisam ser pontuados para melhor entendimento do cuidado. 30 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE 2.3.3 Estabilização da condição crônica Condições crônicas são aquelas con- dições de saúde de curso mais ou menos longo ou permanente que exigem respostas e ações contínuas, proativas e integradas do sistema de atenção à saúde, dos profissio- nais de saúde, e das pessoas usuárias para sua estabilização e controle efetivo, eficiente e com qualidade (MENDES, 2018). As necessidades dos usuários com condições crônicas são distintas daqueles com condições agudas, pois precisam de apoio continuado, não apenas de intervenções biomédicas – o cuidado deve ser planejado e de atenção capaz de prever suas necessidades. Para esse grupo, a atenção necessita ser integrada e, para sua efetividade, é preciso envolver tempo, oferta de cuidados de saúde e o empoderamento para o autocuidado (MENDES, 2011). A estabilização de condições crônicas é um elemento central do modelo de atenção crônica. A não estabilização leva às complicações potencialmente evitáveis da atenção à saúde e ao aumento do tempo total das consultas médicas (MENDES, 2018). Certas agudizações de condições crônicas são consideradas eventos sentinela As estratégias para fomentar o autocuidado são várias, podem ser em nível individual, nas consultas clínicas ou da visita domiciliar; na realização de grupos; em consultas coletivas; e até mesmo à distância, por meio de telefone e da internet. Também, podemos envolver outros usuários que, em seus processos de cuidar de si, conseguiram avançar, ou seja, são conhecedores e familiarizados com o proble- ma e, a partir das suas experiências, podem apoiar de distintas maneiras o autocuidado de outros usuários e desenvolver reuniões de grupos sob a orientação de um membro da equipe, garantindo as manifestações e o intercâmbio de ideias entre os participantes. O autocuidado, assim, é centrado na pessoa, no diálogo, e propõe a construção conjunta de um plano de cuidados a partir de uma priori- dade escolhida por meio de uma negociação entre o profissional de saúde e o usuário. Isso significa, entre outros aspectos, compreender as diferentes vulne- rabilidades da pessoa, conhecer o modelo explicativo da sua condição e estabelecer um horizonte comum de cuidados entre todos os atores envolvidos no processo. Figura 3 – O profissional de saúde deve orientar sobre o autocuidado. Fonte: kieferpix/Adobe Stock O autocuidado deve ser estimulado na atenção e ação, pois exercem sobre o próprio usuário o sentimento de cuidado de si mesmo para preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável, autônoma e livre nas escolhas das ferramentas para a sua realização (BRASIL, 2014). Entretanto, o autocuidado não deve ser entendido como exclusiva responsabilidade do indivíduo e de sua família, mas sim responsabilidade do profissional e das instituições de saúde, pois o diálogo é base da compreensão das necessidades de cuidado da pessoa em relação à sua condição crônica. (BRASIL, 2014). 31 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE na adoção de modos de vida saudáveis, assim como a luta pela garantia de políticas públicas que promovam a vida saudável. Nesse sentido, a RAS, em especial as equipes de AP, podem contribuir diretamente para o empoderamento dos usuários sobre suas condições de saúde de forma a auxiliá- los no processo de autocuidado. Ou seja, na atenção e ação que exercem sobre si mesmos para preservar e cultivar uma boa qualidade de vida de maneira responsável e autônoma. denso ou mais disperso), a forma como os indivíduos se organizam e se relacionam com seus pares e com o ambiente, a influência de fatores ambientais, da infraestrutura, do sa- neamento básico, da mobilidade urbana, os modos de vida das populações, a influência do nível econômico, da escolaridade e da inserção no mercado de trabalho, devem ser estudadas no território uma vez que se relacionam diretamente com o estado nutri- cional, como já vimos anteriormente. As ações de prevenção são fundamentais para os usuários, famílias e comunidades e devem ser investigadas para definir e corrigir as falhas sistêmicas da atenção, em especial na AB (MENDES, 2018). A prevenção e o controle da obesi- dade devem prever a oferta de um espaço de ações que apoiem os usuários na adoção de modos de vida saudáveis que permitam a ma- nutenção ou a recuperação do peso saudável. Por isso, torna-se necessária a articulação da Rede de Atenção à Saúde (RAS) com uma rede muito mais complexa, composta por outros saberes (gestores das diferentes esferas), outros serviços e outras instituições, não apenas do setor saúde, ou seja, a busca da interdisciplinaridade e da intersetorialidade, e essencialmente a busca de parcerias na comunidade e equipamentos sociais, implementando novas formas de agir, mesmo em pequenas dimensões (BRASIL, 2013b). Questões como a organização dos espa- ços urbanos, a distribuição populacional (a fim de identificar áreas de povoamento mais Figura 4 – Usuários com condições crônicas necessitam de apoio continuado. Fonte: Photographee.eu/Adobe Stock 32 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE ATENÇÃO À SAÚDE DAS PESSOAS COM SOBREPESO E OBESIDADE ENCERRAMENTO DA UNIDADE Nesta unidade, compreendemos como a linha de cuidado perpassa por todos os aspectos da atenção à saúde ao usuário, família e comunidade na avaliação, no diagnóstico e na determinação das metas para a redução do peso, assim como a estabilização da condição crônica da obesidade. POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 34 3 POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Nesta unidade, vamos conhecer as princi- pais políticas públicas que têm apresentado estratégias para o controle e prevenção do excesso de peso no Brasil, tanto no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) como do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). Estas políticas buscam promover sistemas alimentares sustentá- veis, favorecendo a aquisição de alimentos in natura e minimamente processados. Após a abordagem das políticas públicas, apre- sentaremos a classificação dos alimentos e principais recomendações, baseadas no Guia Alimentar para População Brasileira. Estas informações podem auxiliar você, profissional de saúde da Aten- ção Primária à Saúde,a fornecer orientações gerais para o alcance de uma alimentação saudável e ade- quada aos usuários que frequentam a unidade de saúde. Considerando as dúvidas existentes sobre informações frequentemente apresentadas na mídia e redes sociais acerca de dietas e alimentação, abordaremos algumas dietas da moda, esclarecendo os mitos existentes. A partir deste conhecimento, esperamos que você, profissional de saúde, esteja apto a reconhecer estratégias e orientações a serem aplicadas no seu cotidiano de trabalho, promovendo uma alimentação adequada e saudável da população adscrita em seu território de atuação. 3.1 POLÍTICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO PARA O CONTROLE E A PREVENÇÃO DO SOBREPESO E DA OBESIDADE Para que você possa atuar no controle e na prevenção do sobrepeso e da obesidade, no âmbito da APS, é fundamental conhecer quais as políticas públicas têm sido implementadas no contexto brasileiro. O principal propositor de políticas públicas na área de alimentação e nutrição, no Brasil, é o Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), que vem pautando a temática desde a década de 1990. O enfoque no controle e prevenção da obesidade justifica-se 35 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 2011 Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil: elaborado e coordenado pelo Ministério da Saúde, prevê a cooperação entre vários ministérios e visa promover políticas públicas efetivas para a prevenção e o controle das DCNT e seus fatores de risco, dentre os quais destaca-se o sobrepeso e a obesidade. 2012 Política Nacional de Alimentação e Nutrição, revisada: tem como propósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, mediante a promoção de práticas alimentares adequadas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, a prevenção e o cuidado integral dos agravos relacionados à alimentação e nutrição. Essa política reafirma Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS): dentre as estratégias preconizadas para implementação dessa política, destaca-se a promoção de ações relativas à alimentação adequada e saudável enquanto um dos seus temas prioritários. Esta deve ocorrer em todos os níveis de atenção, com ênfase na atenção básica. Diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudá- vel nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas, em âmbito nacional: foram publicadas considerando o aumento das DCNT, com ênfase nas elevadas proporções de excesso de peso e obesidade, especialmente entre crianças e adolescentes. 2007 Programa Saúde na Escola (PSE): envolve os Ministérios da Educação e da Saúde e prevê ações de avaliação antropométrica, promoção da segurança alimentar e nutricional, de práticas corporais e de atividade física, que podem ser estratégicas no controle e prevenção do sobrepeso e obesidade. pela sua elevada e crescente prevalência, bem como da sua associação às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e às doenças cardiovasculares (MALTA et al., 2014). Vamos, agora, conhecer mais sobre os principais documentos, produzidos no âmbito do SUS, que abordam o controle e prevenção da obesidade enquanto política pública e que marcaram a inserção do tema nas agendas de governos no Brasil. Políticas públicas para controle e prevenção da obesidade no SUS: 2006 Caderno de Atenção Básica nº 12 – Obesidade: insere a abordagem temática sobre alimentação e nutrição na Atenção Básica (AB), enquanto uma demanda emergente. O material se propõe a subsidiar os profissionais de saúde da AB, incluindo a Estratégia de Saúde da Família, na atenção ao paciente obeso, sobre o manejo alimentar e nutricional. 36 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Guia alimentar para a população brasileira, 2ª edição: aborda a promoção da alimentação adequada e saudável como parte da construção de um sistema alimentar sustentável e destaca condicionantes da alimentação, desde a produção até o consumo. Suas recomendações baseiam-se em uma classificação de alimentos segundo o grau de processamento. A partir da Política Nacional de Promoção da Saúde e da Política Nacional de Alimentação e Nutrição, é sinalizada a necessidade de ações intersetoriais para a implementação das suas diretrizes. Em 2006 foi criado o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), que organiza ações implementadas por diferentes ministérios, abarcando desde a produção até o consumo de alimentos. Quando de sua criação, em 2006, integravam o SISAN a Caisan (e similares nos estados e DF e municípios) Consea nacional, estaduais e municipais e conferências de SAN (nacional, estaduais e municipais). Vamos, agora, conhecer as principais políticas e normativas estabelecidas no âmbito do SISAN, para o controle e prevenção do sobrepeso e da obesidade. 2014 Caderno de Atenção Básica nº 38 - Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: obesidade: tem por finalidade subsidiar os profissionais de saúde atuantes nos serviços de Atenção Básica no SUS para o cuidado integral da obesidade, com ênfase no manejo alimentar e nutricional. Política Nacional de Promoção da Saúde – PnaPS, revisada: aponta a necessidade de articulação com outras políticas públicas para fortalecê-la, enfatizando-se a participação social e dos movimentos populares, reconhecendo que o setor saúde não responde isoladamente ao enfrentamento dos determinantes e condicionantes da saúde. Embora não aborde diretamente a obesidade, considera a alimentação adequada e saudável e as práticas corporais e de atividade física como temas prioritários. o compromisso do Ministério da Saúde com problemas nutricionais relacionados à desnutrição infantil e materna, bem como com sobrepeso e obesidade, sinalizados pelas elevadas prevalências na população adulta. 2013 Redefine as diretrizes para a organização da prevenção e do tratamento do sobrepeso e obesidade como linha de cuidado prioritária da Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas: a linha de cuidado para o sobrepeso e a obesidade estabelece como diretriz articulação de ações intersetoriais para promoção da saúde, visando a apoiar indivíduos e comunidades em prol da adoção de modos de vida saudáveis. 37 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL 2014 Estratégia Intersetorial de Prevenção e Contro- le da Obesidade: recomendações para estados e municípios. Tem por finalidade prevenir e controlar a obesidade na população brasileira, por meio de ações intersetoriais, promovendo a alimentação adequada e saudável e a prática de atividade física. A partir das principais políticas públicas e marcos assumidos na agenda brasileira para o controle e prevenção da obesidade, notamos que a temática foi historicamente vinculada ao setor saúde, por meio do SUS. Embora a obesidade seja uma problemática que se manifesta no indivíduo, cujas conse- quências recaem sobre o sistema de saúde, a busca da intersetorialidade é essencial para o controle e prevenção do excesso de peso, por meio de abordagens e estratégias que transcendam a abordagem biológica e contemplando também os contextos am- bientais, culturais e sociais e econômicos envolvidos na determinação da obesidade e comorbidades a ela relacionadas. 2007 Criação da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional – CAISAN, pelo Decreto nº 6.273, de 23 de novembro de 2007. É uma das instâncias integrantes do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN). Este sistema busca a promoção e articulação dos órgãos relacionados à áreade segurança alimentar e nutricional, na esfera federal. 2012 Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas. Busca apoiar os diferentes setores de governo em suas ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN), que contemple os diversos setores vinculados ao processo de produção, distribuição, abastecimento e consumo de alimentos. Outras políticas públicas para apoio ao controle da obesidade no Brasil: 2006 Criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada. É um sistema que reúne diversos setores de governo em órgãos intersetoriais, como a Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (CAISAN), além de instâncias de participação social na forma de Conferências e de Conselhos Nacionais de Segurança Alimentar e Nutricional. Nelas, representantes de organizações da sociedade civil e do setor privado, especialistas e profissionais diversos, em conjunto com gestores públicos, constroem proposições voltadas ao objetivo de assegurar e proteger o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável a todas as pessoas que vivem no território nacional. Ressalta-se que a Medida Provisória 870/2019 extinguiu o Consea Nacional - uma das instâncias do Sisan - que articulava governo e sociedade civil. 38 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Essa versão atual do Guia Alimentar para a População Brasileira, reconhece o caráter intersetorial da promoção da alimentação saudável e seu papel entre os campos da saúde e da segurança alimentar e nutricional. O enfoque principal do material é a promoção da saúde e prevenção de doenças. Para as situações de doenças específicas, é indispensável que nutricionistas adaptem as recomendações do guia para as condições apresentadas individualmente. Um dos diferenciais deste guia é o estímulo a adoção de hábitos alimentares saudáveis e incentivo à ampliação da autonomia de cada um, sobre a escolha das suas práticas alimentares. Está fundamentado em práticas que ampliam o autocuidado, respeitando as preferências, diferenças e subjetividades das pessoas. As recomendações, que serão apresentadas a seguir, partem de um olhar ampliado sobre a alimentação, no sentido de valorizar o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, valorizando a cultura e os sistemas alimentares locais. A promoção da alimentação adequada e saudável é considerada uma dimensão da promoção de saúde e engloba estratégias de incentivo e apoio a práticas alimentares saudáveis. Alguns exemplos são a regulação da rotulagem nutricional e da publicidade de alimentos, bem como a elaboração de guias alimentares, voltados para população em geral. A primeira versão do Guia Alimentar para a População Brasileira foi publicada em 2006, alertando para o risco do consumo excessivo de açúcar, sal, gorduras e alimentos com densidade energética elevada, com vistas ao controle da obesidade e de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). Em 2014, foi publicada a edição atual do Guia, apresentando recomendações sobre alimentação para promoção da saúde, em nível individual e da sociedade brasileira como um todo. Trata-se de um guia que pode ser lido por qualquer cidadão, em quaisquer espaços. Seja nas residências, nas unidades de saúde, escolas, centros comunitários, sedes de movimentos sociais ou demais espaços, onde ocorram atividades de promoção de saúde (DIAS et al. 2017). 3.2 ALCANÇANDO UMA ALIMENTAÇÃO ADEQUADA E SAUDÁVEL A PARTIR DO GUIA ALIMENTAR Para iniciarmos nossos estudos sobre alimentação adequada e saudável, vamos conhecer o conceito adotado pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). A alimentação adequada e saudável constitui-se enquanto um direito hu- mano básico em assegurar o acesso permanente e regular, de forma so- cialmente justa, a uma alimentação adequada aos aspectos biológicos e socioculturais; acessível do pon- to de vista físico e financeiro, em quantidade e qualidade suficiente, considerando a variedade, equilíbrio, moderação e prazer; fundamentada em formas de produção adequadas e sustentáveis. Ressalta-se que este conceito, adotado em publicações do Ministério da Saúde, está em consonância com a política de segurança alimentar e nutricional, no que se refere à adequação cultural, social, econômica da alimentação. 39 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Vamos conhecer melhor cada um desses grupos a seguir, acompanhe! Alimentos in natura ou minimamente processados Alimentos in natura são obtidos diretamente de plantas ou de animais e não sofrem qualquer alteração após deixar a natureza. São as partes comestíveis de plantas (sementes, frutos, folhas, caules, raízes) ou de animais (músculos, vísceras, ovos, leite), cogumelos, algas, bem como a água logo após sua separação da natureza. Já os alimentos minimamente processados correspondem a alimentos in natura que foram submetidos a processos de limpeza, remoção de partes não comestíveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congelamento ou processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. alimento da natureza e antes que ele seja submetido à preparação culinária ou antes do consumo (no caso alimentos crus). Você, profissional de saúde básica, conhece a nova classificação dos alimentos proposta pelo Guia Ali- mentar para População Brasileira, a partir do grau de processamento dos alimentos? Esta nova classificação divide os alimentos em três grupos (BRASIL, 2014): Alimentos in natura ou minimamente processados Exemplo: peixe fresco Alimentos processados Exemplo: peixe em conserva Alimentos ultraprocessados Exemplo: empanado de peixe minimamente processados Exemplo: peixe em conserva Alimentos ultraprocessados Exemplo: empanado de peixe 3.2.1 Classificação dos alimentos segundo o Guia Alimentar Para orientar sobre a escolha dos alimentos, os guias adotam sistemas de classificação dos alimentos, sendo que os convencionais partem do perfil de nutrientes. Por exemplo, alimentos fontes de proteína podem ser carnes frescas ou embutidos à base de carne com adição de sal; alimentos fontes de carboidratos podem ser grãos de arroz ou trigo, bem como as farinhas, e biscoitos adicionados de açúcares. Tal classificação foi relevante em um período em que os maiores problemas alimentares decorriam da carência de energia e nutrientes. Porém, considerando o contexto epidemiológico em que predominam as doenças crônicas não transmissíveis, bem como o acesso facilitado a alimentos ultraprocessados, o Guia passou a adotar uma classificação dos alimentos fundamentada no seu grau de processamento. Nesse sentido, o Guia Alimentar para a População Brasileira considera o processamento de alimentos os processos físicos, biológicos e químicos que ocorrem após a colheita do alimento ou, de modo mais geral, após a separação do 40 RECONHECENDO O SOBREPESO E A OBESIDADE NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE POLÍTICAS PÚBLICAS E PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL Quanto a óleos, gorduras, sal e açúcar, o uso destes ingredientes culinários costuma gerar dúvidas e insegurança em relação aos efeitos do consumo sobre a saúde. Vamos conhecer como eles são definidos e desmistificar o seu uso no cotidiano. Óleos, gorduras, sal e açúcar são produtos extraídos de alimentos in natura ou da natureza por processos como prensagem, moagem, trituração, pulverização e refino. São usados nas cozinhas das casas e em refeitórios e restaurantes para temperar e cozinhar alimentos e para criar preparações culinárias. Exemplos: • óleos de soja, de milho,
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