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Mayra Alencar Nefrolitíase/ Litíase Renal Conceito Enfermidade caracterizada pela formação de cálculos de diferentes composições no trato urinário, podendo ou não apresentar sintomas. Epidemiologia Condição extremamente comum. ➔ Incidência de 1:1000 da população ➔ Entre 20 - 50 anos - Associação com a alimentação e ingesta de álcool Obs.: Tem se observado um aumento no índice de crianças e adolescentes com nefrolitíase, visto o consumo cada vez maior e precoce de refrigerantes e processados por esse grupo. ➔ Homens ➔ Taxa de recorrência de até 50% em 5 anos (alta) - Visto essa elevada taxa de recorrência, há a necessidade de orientação quanto àm necessidade de mudanças de hábitos de vida para aqueles indivíduos já acometidos pelo quadro. Fatores de risco ➔ História familiar positiva ➔ Baixa ingesta de água - Principal fator de risco - Torna a urina mais concentrada, o que facilita a aderência entre substâncias ➔ Dieta rica em sal e proteínas - Sangue rico em sódio + baixa [Na] nos túbulos → Menor [H2O] nos túbulos ➔ Hiperuricemia - Moléculas de ácido úrico possuem capacidade de se aderir umas às outras, podendo formar cálculos. ➔ I.T.U crônica ou recorrente - A urease produzida pela bactéria é capaz de converter ureia em amônia. A amônia liga-se ao fosfato formando estruturas fosfato amônio magnesiana (cálculos) ➔ Medicações - Exemplo: Topiramato ➔ Alterações do Ph urinário - Ph ácido ou Ph básico formam cálculos específicos - Urina ácida (obesidade, insulina, diabetes mellitus tipo 2) ➔ Obesidade e DM Composição dos cálculos ➔ Cálculos de cálcio - Tipo mais comum (70-80%) - O cálcio liga-se ao fosfato, fosfato de cálcio (apatita), ou ao oxalato, oxalato de cálcio (mais comum). ➔ Cálculos de estruvita - Fosfato de amônio magnesiano - Representa cerca de 10-20% dos cálculos - Geralmente, são cálculos grandes capazes de obstruir toda a pelve renal. - São cálculos formado por processos infecciosos, a partir do composto urease liberado pelas bactérias (ex: I.T.U por Proteus e Klebsiella, bactérias mais comuns de produzirem urease) - Cálculos coraliformes (aspectos de corais marinhos, cálculos grandes, os quais representam um prognóstico ruim Cálculo coraliforme ➔ Cálculos de Ácido úrico - Para facilitar a formação de cálculos de ácido úrico, é preciso: Ph baixo + baixo volume urinário + hiperuricosúria ➔ Cálculos de Cistina - Quando associado a baixa ingesta hídrica, pode favorecer a formação de cálculos. Fisiopatologia Formação de cristais por ação de elementos químicos + sais insolúveis. Na urina, existem vários elementos químicos os quais, ao se combinarem, podem produzir sais insolúveis, levando a formação de cristais. O crescimento e agregação desses cristais levam a formação dos cálculos. 1. Supersaturação da urina - Pré-requisito para a formação dos cristais - Favorece a aderência entre as substâncias que formam os cristais - Os produtores dessa supersaturação da urina sofre influência do: ➔ Ph urinário - > 7,0 (básico): estruvita e fosfato de cálcio - < 5,0 (ácido): ácido úrico e cistina - Oxalato de cálcio (mais comum) independe do ph 2. Crescimento e agregação - Aderência ao epitélio da pelve renal 3. Desprendimento de todo ou de parte do cálculo 4. Obstrução de qualquer região do trato urinário Fisiopatologia - Cálculos de estruvita (fosfato de amônio magnesiano) Inibidores Fisiológicos Mecanismos fisiológicos que ajudam a impedir a formação do cálculo. Água Inibidor fisiológico mais importante, o qual inibe as fases de cristalização, crescimento e agregação de um cálculo renal. - A urina diluída reduz a concentração de todos os elementos químicos, logo, diminuindo a cristalização. - Aumenta o fluxo urinário, o que auxilia na eliminação de cristais recém formados. Citrato - Inibidor do oxalato de cálcio Capacidade de ligar ao cálcio, logo, compete com o fosfato e o com o oxalato, impedindo a formação de cálculo. Magnésio - Inibidor do oxalato de cálcio Capacidade de se ligar ao oxalato, impedindo sua interação com o cálcio. Dessa forma, em quadros de infecção, o magnésio piora o quadro de nefrolitíase, porém, em situações fisiológicas, atua como efeito protetor. Proteínas de Tamm- Horsfall ➔ Presentes nos túbulos renais ➔ Possuem a capacidade de interagir com os cristais de Ca, Na e ác. úrico, logo, competindo com demais substâncias impedindo a formação de cálculos. Pontos de contração fisiológica Representam pontos de redução do lúmen ureteral os quais são mais propensos a obstruções por cálculos. Junção ureteropélvica - Mais comum ⅓ inferior do ureter - Local de contato com as veias ilíacas Junção vesicoureteral Manifestações clínicas ➔ Cólica nefrítica - Principal sintoma - Quadro álgico intenso - A sintomatologia é resultado da mobilização e da obstrução, logo, cálculos grandes e imóveis podem ser assintomáticos até provocarem obstrução. - Contração ureteral, espasmódica e repetitiva. Como tentativa de expulsar o cálculo, há uma contração espasmódica e repetitiva ureteral. ➔ Duração de 20-60 minutos (na prática, pode durar mais) ➔ Sinal de giordano - Positivo nos casos de obstruções na porções superiores - Assim como, pode ser positivo nos quadros de obstruções nas porções inferiores que levam ao quadro de hidronefrose. ➔ Náuseas, vômitos, sudorese, taquicardia e síncope ➔ A altura da obstrução influência na sintomatologia - Junção ureteropélvica (dor em flanco + sinal de giordano positivo) - ⅓ inferior do ureter (dor abdominal com irradiação para testículos e grandes lábios ipsilateral) - Junção vesicoureteral (polaciúria, disúria, noctúria, dor peniana - sintomas que lembram I.T.U) Obs.: Polaciúria (urina muito, porém em pouca quantidade) Disúria (dor ao urinar) Noctúria (“urina noturna”; acorda o paciente) ➔ Hematúria - Presente em 90% dos casos (muito comum, porém, não obrigatório) - Pode ser micro ou macroscópica ➔ Infecção do trato urinário - Secundária a obstrução Obs.: A urina possui propriedades antimicrobianas, visto que o ato de urinar protege a bexiga e a uretra. Obstrução → Urina retida → Baixo volume de urina na bexiga → Bactéria presente na uretra ascende até a bexiga → Colonização na bexiga ➔ Hidronefrose - Dilatação renal em consequência da obstrução. Obs: Cálculos coraliformes apresentam o pior prognóstico. Diagnóstico ➔ Clínico e laboratorial A suspeita de nefrolitíase deve ser formulada a partir das apresentações clínicas de Síndrome de “cólica nefrética”, hidronefrose e hematúria. - Logo, necessita-se de uma anamnese detalhada - Quadro insidioso: cólica nefrítica, hematúria, disúria, náuseas e vômitos - Pode apresentar febre (I.T.U) ➔ Exames: - Hemograma, leucocitose, neutrofilia - EAS: ph, cristais - Urocultura: proteus e klebsiella - Dosagem sérica: cálcio, fosfato, sódio, ácido úrico, ureia, creatinina e pth O paratormônio é responsável pelo controle da saúde óssea, logo, se alterações do pth → desmineralização óssea intensa → Favorece formação de cálculos. O pth é avaliado, principalmente, nos casos de calculose recorrente. ➔ Raio X de abdome - Cálculos de ácido úrico são de difícil visualização (não absorvem radiação) - Auxiliam a visualização de cálculos de cálcio (“branquinho”) Obs.: Visto a anatomia, as alterações vistas no raio x podem ser dos rins ou do intestino. Nesses casos, diferenciar pela clínica. ➔ Ultrassonografia de vias urinárias - Visualiza as alterações nas conformações dos rins - Hidronefrose - Estruturas mais sólidas → formam sombras escuras, denominada sombra acústica posterior ➔ Tomografia de abdome - Padrão outro - Melhor visualização de cálculos, de qualquer tipo, e hidronefrose - Boa visualização de cálculos de ácido úrico Tratamento Cálculos assintomáticos ➔ Conduta expectante ➔ Orienta-se ingestão hídrica várias vezes ao dia , melhora na alimentação e, caso aparecimento de sintomas, solicitar retorno. Cálculos < 10 mm ➔ Terapia médicaexpulsiva - Associação de AINE + Bloqueador alfa 1 adrenérgico - Cálculos <10mm conseguem atravessar o ureter ➔ Duração de 4-6 semanas - Acompanhamento a cada 10 dias ➔ Analgesia - AINES (1º escolha), reduz o espasmo ureteral - Opióides, se dor refratária, insuficiência renal ou contraindicação de AINES. Não reduzem o espasmo ureteral, sendo por isso, 2º opção. ➔ Bloqueador alfa 1 adrenérgico (Tamsulosin) - Relaxa a musculatura lisa ureteral, o que facilita a passagem do cálculo e, consequente, eliminação espontânea. - Nifedipina - BCC- (2º opção, caso alergia a tamsulosin), risco de hipotensão ➔ Repetir USG de vias urinárias de 7-14 dias ➔ Hidratação - Não há evidência científica entre hiperidratação x eliminação do cálculo, visto que o ideal não é urinar muito, mas sim urinar várias vezes ao dia. - Importante a longo prazo, com intuito de prevenção - Orientar ingestão hídrica várias vezes ao dia Obs.: Diuréticos não auxiliam no quadro, visto que o uso de diuréticos associados a baixa ingestão hídrica pode favorecer ainda mais a formação de cálculos Cálculos >10mm (ou refratários ao tratamento) 1. Litotripsia extracorpórea por ondas de choque (loce) -1º escolha, técnica não invasiva -Cálculos em cálice renal ou ureter proximal -Fragmentação dos cálculos por vibração, o facilita sua expelição - A vibração deve ser correta e controlada 2. Litotripsia por ureterorrenoscopia - Procedimento invasivo - Cálculos em ureter distal - Introduz aparelho pela uretra até o cálculo, o fragmentando por vibração. Pode ocorrer retirada 3. Nefrolitotomia percutânea - Procedimento invasivo (mais que o anterior) - Cálculos refratários a loce - Introduz aparelho pelo rim 4. Nefrolitotomia aberta - Última opção - Cálculos complexos ou refratários
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