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Embriologia Humana Período Fetal: da Nona Semana ao Nascimento O desenvolvimento durante o período fetal está relacionado, principalmente, com o crescimento corporal e a diferenciação de tecidos, órgãos e sistemas. Os sistemas de órgãos rudimentares foram formados durante o período embrionário. A taxa de crescimento corporal durante o período fetal é rápida, e, durante as últimas semanas, o ganho de peso do feto é muito grande. Medições por ultrassom do comprimento cabeça-nádega (CRL) podem ser usadas para determinar o tamanho e a provável idade do feto. O período intrauterino pode ser dividido em dias, semanas ou meses, mas surgem dúvidas quando não se especifica se a idade foi calculada a partir do último período menstrual normal (LNMP) ou a partir da idade de fecundação. Clinicamente, o período gestacional é dividido em três trimestres, com duração de três meses cada. Várias medidas e características externas são úteis para fazer uma estimativa da idade fetal. A medição do CRL é o método de escolha para estimar a idade gestacional até ao final do primeiro trimestre. Principais eventos do período fetal Não existe um sistema formal para o estagiamento do período fetal; no entanto, é útil levar em consideração as principais mudanças que ocorrem no período de 4 a 9 semanas. Da Nona à Décima Segunda Semana No início da nona semana, a cabeça constitui metade do CRL do feto. Em seguida, há uma rápida aceleração do crescimento do comprimento do corpo, de modo que, ao final de 12 semanas, o CRL corresponde a quase o dobro. Com 9 semanas a face é larga, os olhos estão bem separados, as orelhas têm implantação baixa e as pálpebras estão fusionadas. No início da nona semana, as pernas são curtas e as coxas são relativamente pequenas. Ao final de 12 semanas, os membros superiores já quase alcançaram os seus comprimentos relativos finais, mas os membros inferiores ainda são ligeiramente mais curtos do que os seus comprimentos relativos finais. Até o final da 12ª semana, a genitália externa masculina e feminina ainda não está totalmente desenvolvida. As alças intestinais são claramente visíveis na extremidade proximal do cordão umbilical até a metade da décima semana. Na 11ª semana, o intestino já retornou ao abdome. A formação de urina começa entre a 9ª e a 12ª semana, e a urina é lançada pela uretra no líquido amniótico. O feto reabsorve um pouco deste líquido após degluti‑lo. Os produtos de excreção fetal são transferidos para a circulação materna, passando através da membrana placentária. Da Décima Terceira à Décima Sexta Semana Durante este período, o crescimento é muito rápido. Com 16 semanas, a cabeça é relativamente pequena em comparação com a de um feto de 12 semanas, e os membros inferiores estão mais compridos. Os movimentos dos membros, que ocorrem pela primeira vez no final do período embrionário, tornam-se coordenados a partir da 14ª semana, mas ainda são discretos demais para serem sentidos pela mãe. No entanto, esses movimentos são visíveis nos exames de ultrassom. Os ossos em desenvolvimento são claramente visíveis em imagens de ultrassom obtidas no início da 16ª semana. Movimentos lentos dos olhos ocorrem com 14 semanas. A padronização dos cabelos do couro cabeludo também é determinada durante este período. Com 16 semanas, os ovários são diferenciados e contêm folículos ovarianos primordiais com ovogônias (células germinativas primordiais). Os olhos ocupam uma posição anterior na face, e não mais anterolateral. Da Décima Sétima à Vigésima Semana O crescimento desacelera durante este período, mas o CRL do feto ainda aumenta cerca de 50 mm. Os movimentos fetais – pontapés – são percebidos com maior frequência pela mãe. Neste momento, a pele está coberta com um material gorduroso – o vérnix caseoso. Este é constituído por células mortas da epiderme e por um material gorduroso secretado pelas glândulas sebáceas do feto. O vérnix caseoso protege a pele delicada do feto contra abrasões, rachaduras e endurecimento, que poderiam resultar da exposição ao líquido amniótico. Em geral, os fetos estão completamente cobertos por uma penugem muito fina e delicada, o lanugo, que ajuda a manter o vérnix sobre a pele. As sobrancelhas e os cabelos também são visíveis. Uma gordura marrom se forma da 17ª à 20ª semana, sendo o local de produção de calor no recém‑nascido, em particular. Esse tecido adiposo especializado, encontrado principalmente no pescoço, em posição posterior ao esterno, produz calor pela oxidação de ácidos graxos. Com 18 semanas, o útero fetal já está formado e a canalização da vagina já começou. Com 20 semanas, os testículos já começaram a descer, mas ainda estão localizados na parede abdominal posterior. Ocorre um ganho de peso importante durante este período, e o feto está mais bem proporcionado. A pele é geralmente enrugada e mais translúcida. A pele tem coloração rósea a vermelha porque é possível ver o sangue nos capilares. Com 21 semanas começam os movimentos rápidos dos olhos, e foram relatadas respostas de piscar por sobressalto com 22 a 23 semanas. As unhas já estão presentes com 24 semanas. Também com 24 semanas, as células epiteliais secretoras (pneumócitos tipo II) dos septos interalveolares do pulmão começaram a secretar o surfactante, um lipídio tensoativo que mantém abertos os alvéolos pulmonares em desenvolvimento. Embora um feto de 22 a 25 semanas nascido prematuramente possa sobreviver inicialmente se receber cuidados intensivos, ele pode morrer, pois seu sistema respiratório ainda é imaturo. Fetos nascidos antes de 26 semanas de gestação têm risco elevado de deficiência (funcional) no desenvolvimento neurológico. Da Vigésima Primeira à Vigésima Quinta Semana Da Vigésima Sexta à Vigésima Nona Semana Durante este período, em geral os fetos sobrevivem se nascerem prematuramente e receberem cuidados intensivos, porque os pulmões já se desenvolveram o suficiente para realizar trocas gasosas adequadas. Além disso, o sistema nervoso central já amadureceu para o estágio em que pode guiar o ritmo dos movimentos respiratórios e controlar a temperatura corporal. A mortalidade neonatal acontece principalmente em recém‑nascidos de baixo peso ao nascer com 2.500 g ou menos. Com 26 semanas, as pálpebras já estão abertas e o lanugo e o cabelo estão bem desenvolvidos. As unhas dos pés tornam‑se visíveis e uma considerável quantidade de gordura subcutânea está presente, suavizando muitas rugas da pele. Da Trigésima à Trigésima Oitava Semana O reflexo pupilar dos olhos à luz pode ser induzido com 30 semanas. Normalmente, ao final deste período, a pele é rósea e suave e os membros superiores e inferiores têm uma aparência gordinha. Os fetos nascidos com 32 semanas normalmente sobrevivem. Fetos com 35 semanas têm um aperto firme e orientam‑se espontaneamente para a luz. Próximo ao termo (37 a 38 semanas), o sistema nervoso está suficientemente maduro para realizar algumas funções integrativas. Durante esse “período de acabamento”, a maioria dos fetos é gorda. Com 36 semanas, as circunferências da cabeça e do abdome são aproximadamente iguais. Conforme se aproxima o momento do nascimento, há uma desaceleração do crescimento. A maioria dos fetos pesa cerca de 3.400 g ao nascer. Durante as últimas semanas de gestação, o feto ganha cerca de 14 g de gordura por dia. O tórax é saliente e as mamas fazem leve protrusão em ambos os sexos. A data provável do parto de um feto é de 266 dias, ou 38 semanas, após a fecundação (ou seja, 280 dias ou 40 semanas após o LNMP). Cerca de 12% dos bebês nascem 1 a 2 semanas após a data esperada do nascimento. Data Provável do Parto O feto requer substratos para o crescimento e produção de energia. Gases e nutrientes passam livremente da mãe para o feto através da membrana placentária. A glicose é a principal fonte de energia para o metabolismo e crescimento fetal; os aminoácidos também são necessários. A insulina é necessária para o metabolismo da glicose e é secretada pelo pâncreas do feto. Acredita‑se que a insulina,o hormônio de crescimento humano e alguns pequenos polipeptídios (p. ex., fator de crescimento semelhante à insulina I) estimulam o crescimento fetal. Diversos fatores — maternos, fetais e ambientais — podem afetar o crescimento pré‑natal. Em geral, fatores que atuam durante toda a gravidez, como o tabagismo e o consumo de álcool, tendem a fazer com que as crianças tenham restrição ao crescimento intrauterino (RCIU) e sejam pequenas, enquanto fatores que atuam Fatores que influenciam o crescimento fetal durante o último trimestre (p. ex., desnutrição materna) geralmente fazem com que elas tenham peso reduzido, mas com comprimento e tamanho da cabeça normais. A desnutrição materna grave resultante de dieta de má qualidade causa redução no crescimento fetal. Os neonatos (recém‑nascidos) resultantes de gravidez de gêmeos, trigêmeos e outras gravidezes múltiplas geralmente pesam menos do que os bebês resultantes de uma única gravidez. Isso mostra que os requisitos totais de dois ou mais fetos excedem o fornecimento nutricional disponível da placenta durante o terceiro trimestre. A repetição de casos de RCIU em uma família indica que genes recessivos podem ser a causa do crescimento anormal. Nos últimos anos, também foi demonstrada a associação de aberrações estruturais e numéricas nos cromossomos com casos de retardo de crescimento fetal. O RCIU é acentuado em recém‑nascidos com trissomia do 21 (síndrome de Down). O baixo peso ao nascer tem se mostrado um fator de risco para muitas doenças em adultos, incluindo hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares. O peso elevado ao nascer, resultante de diabetes gestacional, está associado a obesidade e diabetes no adulto. Ultrassonografia A ultrassonografia é o principal exame de imagem para avaliação do feto, devido à sua ampla disponibilidade, à qualidade das imagens, baixo custo e ausência de efeitos adversos conhecidos. Também é possível determinar o tamanho placentário e fetal, gravidezes múltiplas, anormalidades na forma da placenta e apresentações anormais. Muitas anomalias congênitas também podem ser detectadas no pré‑natal por ultrassonografia. Procedimentos para avaliação do estado do feto Amniocentese Diagnóstica A amniocentese diagnóstica é um procedimento diagnóstico invasivo comum no pré‑natal tipicamente realizado durante o segundo trimestre. Para o diagnóstico pré‑natal, uma amostra de líquido amniótico é obtida da cavidade amniótica pela inserção de uma agulha oca através das paredes abdominal anterior e uterina da mãe. Uma seringa é, então, ligada à agulha e o líquido amniótico é retirado. O procedimento é relativamente desprovido de riscos, especialmente quando realizado por um médico experiente que esteja utilizando ultrassonografia como guia para determinar a posição do feto e da placenta. Amostras de Vilosidades Coriônicas A biópsia das vilosidades coriônicas é realizada para detectar anomalias cromossômicas, erros inatos do metabolismo e doenças ligadas ao X. A coleta das vilosidades coriônicas pode ser realizada a partir de sete semanas após a fecundação. A taxa de perda fetal é de aproximadamente 1%, ligeiramente mais alta do que o risco associado à amniocentese diagnóstica (0,5%). A principal vantagem da amostragem de vilosidades coriônicas sobre a amniocentese diagnóstica é que ela permite realizar a análise dos cromossomas fetais várias semanas mais cedo. Culturas de Células O diagnóstico do sexo do feto e de aberrações cromossômicas também pode ser realizado pelo estudo dos cromossomas sexuais de células fetais obtidas por amniocentese mantidas em cultura. As culturas são normalmente realizadas quando há suspeita de uma anomalia autossômica, como ocorre na síndrome de Down. Através do estudo de culturas de células, também é possível detectar erros inatos do metabolismo e deficiências enzimáticas em fetos. Amostra de Sangue por Punção Percutânea do Cordão Umbilical É possível realizar análises cromossômicas a partir de amostras de sangue da veia do cordão umbilical por punção percutânea do cordão umbilical (PUBS). A localização dos vasos é definida por ultrassonografia. A obtenção de amostras para análise cromossômica por PUBS é muitas vezes feita aproximadamente 20 semanas após o LNMP, quando um exame de ultrassom ou outros exames mostram características de defeitos congênitos. Imagem por Ressonância Magnética Quando um tratamento fetal, como cirurgia, está previsto, é possível utilizar tomografia computadorizada e imagem por ressonância magnética (RM). A RM tem a vantagem de não necessitar de radiação ionizante para produzir imagens. A análise por RM pode fornecer informações adicionais sobre uma anomalia congênita detectada por ultrassom. Monitoramento Fetal O monitoramento contínuo da frequência cardíaca fetal em gestações de alto risco é uma prática de rotina e fornece informações sobre o estado de oxigenação do feto. A angústia fetal, indicada por um ritmo ou frequência cardíaca anormal, sugere que o feto está em sofrimento. Dosagem de Alfafetoproteína A alfafetoproteína (AFP), uma glicoproteína sintetizada pelo fígado fetal e saco vitelino, escapa da circulação fetal para o líquido amniótico em fetos cujo tubo neural apresenta um defeito de abertura, como na espinha bífida com mielosquise. A AFP também pode entrar no líquido amniótico por defeitos de abertura na parede ventral, como ocorre na gastrosquise e onfalocele. Também é possível medir a AFP no soro materno. Diagnóstico Prénatal Não Invasivo A síndrome de Down (trissomia do 21) é o distúrbio cromossômico sobre o qual mais se tem conhecimento; as crianças que nascem com essa condição têm graus variados de deficiência intelectual. O diagnóstico não invasivo da trissomia do 21 se baseia no isolamento de células fetais no sangue materno e a detecção de DNA e RNA fetal. Os resultados, comparados com a amniocentese e a biópsia de vilosidades coriônicas, tornam‑se disponíveis mais cedo e há menos complicações. A metodologia deste teste diagnóstico baseado em DNA continua a evoluir e a tornar‑se mais refinada para melhorar sua confiabilidade. Período neonatal O período neonatal corresponde às primeiras quatro semanas após o nascimento. O período neonatal inicial abrange o período desde o nascimento até 7 dias após o nascimento. O neonato (recém‑nascido) não é um adulto em miniatura, e um prematuro extremo não é o mesmo que um recém‑nascido a termo. O período neonatal final abrange o período de 7 a 28 dias após o nascimento. Em geral, o cordão umbilical cai 7 a 8 dias após o nascimento, ao final do período neonatal inicial. No momento do nascimento, a cabeça de um recém‑nascido é grande em proporcionalmente ao resto do corpo. Depois disso, a cabeça apresenta um crescimento mais lento do que o tronco (torso) do corpo. Normalmente, um neonato perde cerca de 10% do seu peso dentro de 3 a 4 dias após o nascimento devido à perda do excesso de fluido extracelular e descarga do mecônio, o material intestinal esverdeado ejetado pela primeira vez do reto. Quando a mão do neonato é tocada, ela normalmente agarra o dedo. Se a mãe segurar o bebê perto do seu peito, o bebê irá procurar a mama para encontrar o mamilo e se alimentar. Os neonatos nascem com uma capacidade visual completa de enxergar objetos e cores a cerca de 20 a 38 centímetros de distância; no entanto, eles são extremamente míopes. Os olhos de alguns neonatos prematuros são cruzados porque os músculos dos olhos não se desenvolveram totalmente. Um leve estalar na bochecha do bebê faz com que ele se volte em direção à fonte de contato com a boca aberta.
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