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RESENHA - GONORREIA

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RESENHA 
 
GONORREIA E SUA RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS 
Renato Barbosa de Oliveira 
Matrícula: 2797441 
RELAÇÕES MICRORGANISMOS E HOSPEDEIROS - 17925 
 
 
François de La Rochefoucauld (1613-1680) dizia que muitos são os remédios 
que curam o amor, mas nenhum é eficaz. A frase que em tempos renascentistas 
remetia-se ao sexo, hoje pode-se facilmente ser atribuída as doenças sexualmente 
transmitidas, dentre elas, a gonorreia; assunto desta resenha. 
Primeiramente cabe ressaltar que a gonorreia é uma infecção sexualmente 
transmissível, causada pelo agente etiológico Neisseria gonorrheae. A maior 
preocupação das autoridades de saúde é a disseminação fácil e rápida da doença, 
que pode ser transmitida por via parenteral ou sexo vaginal, anal e oral desprotegido. 
Nos homens, os sintomas podem variar desde ardor ao urinar, corrimento uretral, dor 
nos testículos e inflamação do epidídimo. Nas mulheres, os sintomas mais presentes 
são ardor ao urinar, corrimento vaginal, hemorragias vaginais e dor pélvica. A 
complicação mais grave é a Doença Inflamatória Pélvica. Se não for diagnosticada e 
tratada corretamente, a gonorreia pode se espalhar pelo organismo gerando artrite 
séptica, endocardite, conjuntivite e infertilidade feminina e masculina. 
A revisão de literatura, realizada por Rowersan Cabral Silva e Genival Gomes 
da Silva Junior, pontua que, segundo a OMS, cerca de um milhão de infecções 
sexualmente transmissíveis (IST) são transmitidas por dia, em todo o mundo. 
Ainda segundo o estudo, o tratamento para a maioria dessas infecções é eficaz, 
com exceção da gonorreia, cujo a bactéria evoluiu e gerou linhagens resistentes aos 
antibióticos que são preconizados para seu tratamento. 
A falta de informações sobre a epidemiologia da infecção pela N. gonorrhoeae 
é consequencia dos raros estudos disponiveis, que foquem na sua incidência. O que 
levanta a indagação do motivo de esta infecçao não estar inclusa na Lista Nacional 
de Doenças e Agravos de Notificação Compulsória. Já que sem estudos direcionados 
é impossível haver dados, resultando na falta de politicas de enfrentamento. Isso fica 
evidente em um estudo levantado pela Revista da comissão intergovernamental de 
 
 
 
 
 
HIV/AIDS do Mercosul (2015), onde aponta que no Brasil, milhões de jovens são 
contaminados por DSTs, como a sífilis, gonorréia e AIDS. Sendo que o número de 
contagiados com AIDS, durante o período de 2004 a 2013, cresceu 53,2% entre 
jovens de 15 a 19 anos. O estudo não menciona os dados de infecção por gonorréia. 
A falta de informação ou a quantidade de informações disponíveis na internet a 
respeito da doença acaba levando as pessoas a optar pela auto-medicação, tornando 
o problema ainda maior. Um estudo feito nos anos 2000 já afirmava que na época 
muitos dos casos não recebiam a orientação e tratamento adequados, permanecendo 
subclínicos, transmissores e mantinham-se como os elos fundamentais na cadeia de 
transmissão das doenças. (OLIVEIRA et al. 2000). 
Farmacos como sulfonamida, betalactâmicos, tetraciclinas e outros 
antibioticos, são citados no estudo de SILVA e SILVA JUNIOR, como já sendo 
ineficazes contra cepas de N. gonorrhoeae. Os autores alertam que essa bactéria está 
adquirindo cada vez mais resistência ao redor do mundo e evidenciam que a situação 
pode se agravar se não houver políticas de conscientização para a população. 
A gonorreia afeta todas as populações, independentemente do sexo e 
orientação sexual. Tem se mostrado uma grande vilã entre as doenças sexualmente 
transmissível. É fácil de se espalhar e afeta principalmente pessoas com vida sexual 
ativa, que fazem sexo desprotegido. Como em alguns casos é assintomático, sua 
disseminação acaba sendo frequente e constante. A falta de informações sobre a 
doença, resulta em automedicação ou em não buscar a orientação de um profissional 
de saúde. O uso indiscriminado de antibióticos, tem tornado a bactéria mais forte ao 
longo dos anos. A falta de estudos dirigidos aos grupos infectados, influência 
diretamente na falta de políticas públicas de enfrentamento. Cabe aos profissionais 
da saúde e em especial aos acadêmicos desta área, refletir sobre as graves 
consequências da falta de dados, e engajarem-se na iniciativa cientifica para um 
levantamento de dados mais preciso, de infecções nas microrregiões e macrorregiões. 
 
Com isso, abrem-se duas questões quanto ao uso indiscriminado de antibióticos: 
 
O uso indiscriminado de antibióticos contra COVID-19 poderia resultar em uma 
superbactéria N. gonorrhoeae? 
 A politização da pandemia tornou os dados a respeito dos medicamentos muito 
imprecisos, porém é fato que ao utilizar antibióticos como tetraciclina ou mesmo 
 
 
 
 
 
azitromicina, que se tornaram parte do kit-covid, ao invés de combater o vírus, o 
indivíduo está entregando informações importantes de resistência, nas mãos de 
bactérias. Kirkcaldy et al. (2016) apontam que em 2014, segundo estudos nos EUA, 
5093 linhagens da N. gonorrhoeae já mostravam 25% de resistência contra 
tetraciclina. Na Argentina 81 linhagens da N. gonorrhoeae, entre 1995 e 1996 
apresentavam 58,5% de resistência a tetraciclina, como apontam Famiglietti et al. 
(2001). Dados levantados por Regnath et al. (2016) na Alemanha, mostravam uma 
resistencia de 5,5% ante a azitromicina, entre os anos de 2004 e 2015. 
Quanto maior o contato com esses antibioticos, de forma indiscriminada, maior é a 
resistencia dessa bactéria. 
 
O uso indiscriminado de penicilina, nos anos 90, poderia ter criado linhagens de 
N. gonorrhoeae resistentes a antibióticos? 
 A Etiópia, que estampou os jornais nos anos 90 e 2000, por conta do HIV, de 
acordo com Ali et al. (2016) em estudo publicado, demonstrou que a N. gonorrhoeae, 
em 2015 já apresentava 100% de resistência contra penicilina. Nossos vizinhos 
argentinos, de acordo com os estudos de Famiglietti et al. (2001), nos anos 90, já 
possuiam casos de N. gonorrhoeae 10% resistente a penicilina. 
 A Venezuela, outro vizinho nosso, entre 2008 e 2009, já possuía casos de N. 
gonorrhoeae com 95% de resistência a penicilina. Como mostrado nos estudos de 
Flores Fernández et al. (2012). 
 Carecemos de dados a respeito do Brasil, mas cabe lembrar que era padrão 
no atendimento de saúde entre os anos 1960 e 2000, injetar penicilina em pacientes 
que se queixavam de dor ou infecção desconhecida. 
 
Finalizo essa resenha com a seguinte indagação: 
 
Qual será a próxima pandemia? 
Estamos preparados para ela ou estamos preparando-a? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
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revisão de literatura. BRAZILIAN Journal of Surgery and Clinical Research - 
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