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Patologia Gastrointestinal I Patologias inflamatórias ................................................................................................. Esôfago - É um tubo muscular oco, que conduz o alimento ao estômago - Histologia normal do esôfago: - Mucosa – formada por epitélio escamoso estratificado não queratinizado, por uma LP de tecido conjuntivo frouxo e vasos, e pela muscular da mucosa Ep estratificado e pavimentoso para resistir ao atrito provocado pelos alimentos ao passarem pelo tubo - Submucosa – com algumas gl secretoras de muco, que protegem a mucosa (com secreção de mucina e bicarbonato) e facilitam o transporte dos alimentos → mesmo assim, não tornam esse tecido resistente ao ácido gástrico; - Camada muscular - formada, dependendo da porção, por músculo esquelético e liso (esquelético nas iniciais devido a deglutição, e liso nas mais distais) - Camada externa - adventícia na porção torácica, e serosa no abdome - Ep que reveste esófago é escamoso (ep escamoso estratificado não queratinizado), resistente à abrasão por decida do bolo alimentar, mas não ao ácido gástrico - Esfíncter esofagiano inf (EEI) impede a subida do conteúdo ácido do estômago para o esôfago - Mas, muitas vezes, o esfíncter não funciona adequadamente, cursando com refluxo gastroesofágico, que provoca esofagite (irritação da mucosa esofágica) - O refluxo dos conteúdos gástricos no esôfago inferior é a causa mais frequente de esofagite, e a condição clínica associada é chamada de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) Patologia Especial a) Patogênese - Causa mais comum do RGE é o relaxamento transitório do EEI → mediado por vias vagais (pode ser desencadeado distensão gástrica, gás, alimentos, estimulação faríngea não acompanhada de deglutição e estresse) - Também pode ser provocada por redução do tônus do EEI ou aumento da pressão abdominal - provocado por drogas como álcool, tabaco, obesidade, depressão do SNC, gestação, hérnia hiatal, retardo do esvaziamento gástrico, aumento do volume gástrico; o aumento repentino da pressão abdominal pode fazer abertura forçada do EEI hipotensivo quando o paciente tosse, faz esforço ou movimento de se curvar A hérnia de hiato é caracterizada pela protrusão do estômago para dentro do tórax através do hiato esofágico no diafragma (abertura do diafragma por onde passa o esôfago). - Sem causa definida (idiopática) b) Epidemiologia - Mais comum em crianças (especialmente neonatos) → tratamento: comidas mais pastosas Em crianças o EEI está, ainda, imaturo, tornando esse refluxo mais frequente nelas; mas, conforme a maturidade fisiológica se estabelece, isso não deveria mais acontecer. - Mais comuns em indivíduos > 40 anos - Recomendação – elevar a cabeceira c) Clínica - Pirose (sensação de queimação na localização do esôfago → pode se confundir com dor no coração), disfagia (dificuldade de deglutição), regurgitação e dor torácica aguda (pode, inclusive, ser confundida com doenças cardíacas) - Tratamento normalmente com inibidores da bomba de prótons, reduzindo a secreção gástrica d) Macro e micro - Na macro, pode-se não observar alterações, ou lesões hiperemiadas podem se manifestar no esôfago, por vezes seguidas de erosão e ulcerações de mucosa - Na micro, as células basais podem sofrer hiperplasia, alongamento das papilas da LP, permeação do ep por linfócitos e eosinó filos (células mais avermelhadas) em pequenas quantidades Na foto A ao lado nota-se essa permeação do ep. por eosinófilos e uma leve expansão as zona basal Embora a severidade dos sintomas não esteja intimamente relacionada ao grau de lesões histológicas, estas tendem a aumentar com a duração da doença e) Complicações - Ulcerações com sangramento, provocando hematêmese ou melena (fezes com sangue digerido → enegrecidas com odor bastante forte) - Estenose (decorrente do processo inflamatório crônico, que cursa com fibrose) → foto ao lado de endoscopia - Esôfago de Barret → complicação da DRGE crônica que cursa com metaplasia intestinal na mucosa esofágica (substituição do ep. escamoso por ep. glandular com cél caliciformes) → pode evoluir para displasia e carcinoma Esôfago de Barret confere grande risco de adenocarcinoma esofágico; normalmente compartilham mutações com esse adenocarcinoma, mantendo-se a ideia de que ele pode ser uma lesão precursora do câncer. Na macro é caracterizado por várias placas vermelhas de mucosa aveludada acima da junção gastroesofágica, alternada com mucosa escamosa normal, lisa e pálida. Imagem de micro ao lado→ epitélio da direita = ep escamoso; esquerda = metaplasia glandular (células glandulares com células caliciformes) Importante acompanhamento desses pacientes com endoscopia a cada 2 anos para avaliar transformações displásica e adenocarcinomatosa Sintomas da DRGE levam à endoscopia e biópsia → únicas formas de identificar Barret - Tem um grande número de eosinófilos permeando o ep (> 20 eosinófilos por campo de grande aumento) a) Epidemio - Comum em adultos e crianças atópicos (pacientes com rinite, dermatite atópica, asma) b) Clínica - Disfagia e sensação de impactação dos alimentos em adultos - Intolerância alimentar e sintomas semelhantes aos da DRGE em crianças - Normalmente usa bombinhas de asma como tratamento para esses pacientes Aqui, de maneira geral, o refluxo ácido não é tão expressivo, e os inibidores da bomba de prótons não costumam ter muita eficácia para reduzir os sintomas; os tratamentos se baseiam principalmente em restrições na dieta para evitar exposição a alérgenos dos alimentos (como produtos com leite de vaca e soja), além da aplicação de corticosteroides tópicos ou sistêmicos c) Endoscopia - Anéis concêntricos ou áreas de hiperemia d) Microscopia - Eosinófilos permeando o epitélio em grande quantidade, particularmente na superfície Esse grande número de eosinófilos ajuda a diferenciar a esofagite eosinofílica da DRGE e de outras causas de esofagite - Por vezes, observa-se um grande acúmulo dessas células, que se assemelham a abcessos eosinofílicos - Eosinófilo → células com citoplasma vermelho - Na foto abaixo, nota-se número grande de eosinófilos, formando quase um abcesso (grande estrutura rósea pink/vermelha) ................................................................................................. Estômago - Anatomicamente dividido em: cárdia, fundo, corpo e antro → cárdia e antro particularmente revestidas por células foveolares secretoras de mucina, que formam pequenas glândulas. - Mucosa gástrica é normalmente pregueada, e revestida de epitélio cilíndrico simples glandular – células: mucosas/foveolares (muco), reserva (renovação celular), parietais (produz HCl e fator intrínseco), principais (produz pepsinogênio e lipases gástricas em crianças), enteroendócrinas (G – gastrina; D – somatostatina; ECL – histamina) - Entre essas células, tem a LP, comumente infiltrada por linfócitos Células parietais mais concentradas no fundo e corpo gástrico - Submucosa sem glândulas; Camada muscular de m. liso; Camada externa serosa - Na foto ao lado: Camada 1 – mucosa; 2 – muscular da mucosa; 3 – submucosa; 4 – camada muscular - Tem mecanismos de produção de substâncias ácidas (HCl) para formação do suco gástrico, importantes para a digestão dos alimentos → pH gástrico entre 1-2 - Mas, esse ambiente extremamente ácido é cáustico para a mucosa (não apenas pelo ácido, mas também pelas enzimas proteolíticas presentes no suco), então ela precisa dispor de mecanismos de defesa para não ser digerida pelo suco gástrico - Normalmente, existe um balanço entre os fatores de agressão(HCl e enzimas pépticas) e de proteção (mucina protetora secretada pelas células foveolares com íons bicarbonato, fluxo sanguíneo elevado para retirada dos íons H+, barreira epitelial, capacidade proliferativa, prostaglandinas) O fluxo sanguíneo elevado fornece um grande suprimento de O2 e nutrientes para a mucosa, mantendo-a viva, e por ser rápido, tem um bom “fluxo de limpeza” do ácido gástrico retrodifundido na LP, evitando injúria dessa mucosa - Quando existe injúria, seja por aumento dos mecanismos agressivos ou redução dos de barreira (infeção por H. pylori, ácool, tabaco, AINES) pode-se evoluir para gastrite e úlceras gástricas AINES inibem a síntese de PGE2 e PGI2 por inibirem as COX. Essas prostaglandinas estimulam vários dos mecanismos de defesa, incluindo o muco, bicarbonato, fluxo sanguíneo da mucosa e restituição epitelial, além de reduzirem a secreção ácida. A cox-1 é a mais importante nesse cenário, mas a cox-2 também contribui para a proteção da mucosa. Inibidores não seletivos das COX (aspirina, ibuprofeno e naproxeno) são mais agressivos para o estômago, já que inibem as COX 1 e 2, mas os inibidores seletivos das COX-2 também podem resultar em danos a essa mucosa. H. pylori – inibe transporte gástrico de bicarbonato Álcool, AINES e algumas terapias radioativas ou quimioterápicas podem provocar danos celulares diretos, contribuindo para a manifestação das gastrites. Além disso, agentes que inibam a síntese do DNA ou impeçam as mitoses (caso da quimioterapia), podem causas danos à mucosa gástrica devido à renovação epitelial insuficiente. - As gastrites são processos inflamatórios da mucosa gástrica. Se houver neutrófilos, essa gastrite é ativa (seja ela recente – aguda, ou crônica agudizada); - Formas brandas (pouca dor ou passa desapercebida) ou mais graves (gastrites hemorrágicas erosiva aguda) Erosão aguda → perda do epitélio cursando com defeito superficial na mucosa → normalmente acompanha-se de infiltrado neutrófilo e exsudato com fibrina. Quando a erosão se estende profundamente ela pode progredir para úlcera - Causas: AINES, álcool em excesso, fumo em excesso, quimioterápicos, isquemia e choque, irradiação, trauma (SNC) - Clínica: assintomática, epigastralgia, náuseas e vômitos (com ou sem sangue = hematêmese) - Geralmente não é biopsiada, uma vez que costuma ter lesões bastante sangrativas, especialmente as mais graves, já que são erosivas (perdem a camada superficial → ocorre depósito de fibrina e neutrófilos) - Pacientes em CTI, grandes queimados, traumatizados graves, que realizaram cirurgias de grande porte, com doenças intracranianas → comum notar essas gastrites agudas por estresse, normalmente com úlceras (úlceras de estresse em pacientes com choque, sepse ou trauma; úlceras de Curlin em graves queimados ou tramas, e úlceras de Cushing em pacientes com doença intracraniana) → normalmente decorrente de isquemia local (por hipoperfusão sistêmica ou vasoconstrição esplâncnica induzida por estresse), ou de hipersecreção de ácido gástrico (comum nas doenças intracranianas → ativação direta dos núcleos vagais) Essas úlceras de estresse agudas são encontradas em qualquer parte do estomago, são mais comumente múltiplas, e não dependem da agressão crônica (como as pépticas) - Comum serem múltiplas lesões e bastante sangrativas Pode não apresentar muitas alterações histológicas, mas pode cursar com hiperplasia das células foveolares e proliferação epitelial. Pode-se observar neutrófilos entre as células epiteliais ou dentro das glândulas mucosas. - São de tempo mais prolongado - Cursam com alterações inflamatórias crônicas da mucosa, atrofia, metaplasia intestinal - Pode causar atrofia da mucosa, metaplasia intestinal, e em casos mais graves, displasia e adenocarcinoma - Causa: Infecção por H. pylori (mais comum), auto-imune (anemia perniciosa), tóxicas (fumo e álcool), pós-gastrectomias parciais, mecânicas (por impactação de estrutura em estômago ou por tumor), doenças granulomatosas (doença de Crohn) - Clínica: geralmente caracterizada por epigastralgia acompanhada de náuseas, vômitos (acompanhados ou não de sangue); sintomas são menos graves do que aqueles que acontecem na gastrite aguda, mas normalmente são mais persistentes. Hematêmese é incomum na gastrite crônica. a) Helicobacter pylori - Bacilo curvilíneo ou espiralado - Coloração azul = gimsa; marrom = prata - São estruturas bem pequenas, bacilares, que ocupam o interior das criptas, glândulas ou se aderem à mucosa gástrica - Comumente afetam o antro do estômago - Tem funções protetoras contra o ambiente gástrico → flagelo (permite mobilidade no muco); urease - produzem amônia a partir da ureia endógena, elevando o pH gástrico, facilitando a sua sobrevida no meio → única bact. que vive naquele ambiente, uma vez que o altera, reduzindo sua acidez; tem adesinas (melhoram a adesão da bact. a superfície das células foveolares); toxinas (envolvidas na progressão da doença) - Em casos extremos, eles podem formar tapetes nas superfícies luminais das células foveolares, podendo se estender para dentro das criptas Ele exibe afinidade pela mucosa gástrica, por isso não é encontrado em associação com a metaplasia intestinal ou com o ep duodenal Nas gastrites por H. pylori é comum encontrar neutrófilos intraepiteliais e plasmócitos subepiteliais b) Localizações da gastrite I. Antral - Relacionados à infecção por H. pylori, produção normal ou aumentada de ácido e risco aumentado de úlcera duodenal (quando a inflamação permanece limitada ao antro) Em alguns pacientes, essa gastrite progride para envolver o corpo gástrico e o fundo. II. Corpo e fundo - Associadas a atrofia da mucosa, secreção reduzida de ácido (em decorrência dessa atrofia), metaplasia intestinal e risco aumentado de adenocarcinoma A gastrite multifocal associa-se a placas de atrofia da mucosa, redução das células parietais e da secreção de ácido, metaplasia intestinal e risco aumentado de adenocarcinoma gástrico. Existe, então, um relacionamento inverso entre a úlcera duodenal e o adenocarcinoma gástrico. Imagem → entre as gl existe a LP, normalmente com linfócitos; quando existe grande quantidade deles e associação com os plasmócitos, dá-se o diagnóstico de gastrite crônica - Na endoscopia, pode não ser visualizada nenhuma alteração, ou áreas hiperemiadas ou, ainda, de atrofia. Mas, por vezes, nenhuma alteração é visualizada macroscopicamente, se apresentando apenas lesões microscópicas. Ao lado, nota-se uma gastrite crônica atrófica com metaplasia intestinal Importante biopsiar o antro e o fundo gástrico → patologista deve avaliar presença de atipias, metaplasias e atrofia no ep e também a quantidade de células inflamatórias na LP (cório) Imagem 1 de micro acima: Áreas nas setas → acúmulo de linfócitos produzindo folículos linfóides Imagem 2: Seta acima → hemorragia, congestão; seta azul → folículo linfóide Os agregados linfoides representam uma forma induzida de tecido linfoide associado à mucosa (MALT) que tem um potencial de se transformar em linfoma. Em ambas as gastrites, uma complicação importante é a metaplasia intestinal (caracterizada pela presença de células caliciformes – foto ao lado), que se consolida como fator de risco para o adenocarcinoma gástrico - Imagem 3 abaixo: neutrófilos permeando o ep → neutrófilos em processo inflamatório crônico no TGI indicam gastrite crônica que agudizou (gastrite crônica em atividade) - Imagem 4: complicação → presença de células caliciformes (metaplasia intestinal) - Imagem 5: Atrofia glandular - Perda da continuidade da mucosa do TGI, que geralmente se estende através da muscular da mucosa, ou mais profunda, estendendo-seà submucosa, muscular e serosa - Pode acometer o duodeno ou o estômago - É a complicação da gastrite crônica → ou seja, as úlceras pépticas só surgem na condição de lesão crônica. - Na imagem acima, nota-se área de perda de continuidade, mas convergência das pregas → características de úlcera benigna - Maior parte associada à infecção por H. pylori, AINEs, tabagismo - Frequência de acometimento: duodeno, estômago, junção esofagogástrica. - Local mais acometido: duodeno proximal e antro gástrico a) Epidemiologia - Incidência diminuindo em países desenvolvidos, mas surgimento de novo grupo de pacientes > 60 anos b) Clínica - Dor intensa, em queimação, na região epigástrica (comumente surge 1-3h após a refeição e piora à noite); pode vir associada a náuseas, vômitos, distensão abdominal, eructação, perda de peso c) Complicações - Anemia ferropriva (pelo sangramento crônico da lesão), hemorragias (hematêmese ou melena), perfuração (úlcera perfurante → pode perfurar para peritônio livre), estenose d) Macroscopia - Úlceras benignas são normalmente únicas, bem circunscritas, com fundo limpo (tem fibrina), pregas convergentes, bordas discretamente elevadas - Foto ao lado → lesão vai até muscular da mucosa, apenas, não chega a comprometer a submucosa e nem a muscular propriamente dita e) Microscopia - Nota-se borda da úlcera - As úlceras pépticas (gástricas ou duodenais), caracterizam-se pela perda perpendicular ao plano da mucosa. A transição entre a mucosa e a área ulcerada é abrupta. - A base dessas úlceras é lisa e limpa como resultado da digestão péptica do exsudato - Ocorre hiperplasia do epitélio - Fundo da úlcera → primeira camada de necrose, fibrina e neutrófilos; camada mais abaixo → tecido de granulação; mais abaixo → tecido de granulação se transformando em fibrose Quantidade de tecido fibroso e profundidade dela é proporcional a duração da mesma. Quantidade de cél inflamatórias no tecido fibroso diminui da superfície pra a profundidade, e a quantidade de fibras colágenas aumenta A mucosa nas proximidades da úlcera pode apresentar gastrite crônica, com formação de folículos linfóides. - Fotos abaixo: 1 – exsudato fibrinoso; 2 – tecido de granulação; 3 – tecido fibroso frouxo com infiltrado inflamatório crônico; 4 – tecido fibroso denso com pouco infiltrado inflamatório ................................................................................................. Intestinos - ID: duodeno, jejuno, íleo - Mucosa revestida por epitélio cilíndrico simples glandular; os enterócitos são as células absortivas (mais abundantes no ep); células caliciformes para proteção contra acidez gástrica - Apresenta, naturalmente, pregas, vilosidades e microvilosidades para ampliar a superfície de contato com os alimentos Vilosidades = 4-5x tamanho da cripta → parte que se aprofunda para baixo) - Nas alterações de ID, é importante avaliar o tamanho das vilosidades para verificação do grau de atrofia delas. - - IG: não têm vilosidades, também revestido por ep cilíndrico simples com células caliciformes - Enteropatia relacionada a alergia a alimentos que contêm glúten (trigo, centeio, cevada) → maior proteína de armazenamento do trigo e grãos similares - Indivíduos geneticamente pré-dispostos a) Patogênese - Hipersensibilidade ao glúten, que é um componente proteico do trigo e grãos derivados (aveia, cevada e centeio) - O glúten é digerido pelas enzimas proteolíticas, mas um de seus componentes é resistente à degradação pelas proteases gástricas, pancreáticas e do intestino → pode levar as células epiteliais a expressarem citocinas que proliferam linfócitos CD8 intraepiteliais, que começam, então, a atacar as próprias células intraepiteliais - Imunidade celular exacerbada → a mucosa intestinal exposta ao glúten apresenta acúmulo de linfócitos T citotóxicos intraepitelial (linfocitose intraepitelial) e grande número de LT helper na LP. Citocinas liberadas por elas lesam as cél epiteliais intestinais. - Assim, as vilosidades sofrem atrofia (provoca má absorção), e as criptas hiperplasiam. De início, pode não haver atrofia das vilosidades ou lesões epiteliais → logo, o fator mais importante no diagnóstico é a linfocitose intraepitelial b) Epidemiologia - Acomete adultos de 30-60 anos e crianças de 6-24 meses Antigamente quase não se tinham casos dessa doença → não se sabe se hoje em dia o diagnóstico é mais preciso ou se os alimentos estão modificados a ponto de mais pessoas desenvolverem ela c) Macro e micro - Fotos 1 e 2 → aumento da celularidade na LP (espaço entre as glândulas), principalmente de linfócitos (T) Não deveria haver linfócitos em grande quantidade dentro desse epitélio Foto ao lado → doença celíaca grave com atrofia total das vilosidades (elas não existem mais), hiperplasia das criptas, atrofia vilositária, linfócitos intraepiteliais (fazem inflamação e destruição de células epiteliais), número de células caliciformes reduzido d) Clínica - Normalmente assintomática, mas pode apresentar diarreia, flatulência, distensão abdominal, fadiga, anemia (má absorção crônica de ferro e vitaminas) - Em crianças: irritabilidade, distensão abdominal, anorexia, diarreia, perda de peso, retardo da puberdade, baixa estatura. - Queixas extraintestinais também podem se manifestar, como artrite, estomatite aftosa, alterações a nível hormonal. e) Complicações - Normalmente as complicações decorrem do comprometimento na absorção de outros nutrientes no ID - Indivíduos com doença celíaca têm uma taxa de malignidade acima da normal, e o CA mais comumente associado à doença celíaca é o linfoma de células T associado a enteroparia (linfoma agressivo de LT intraepiteliais). - Adenocarcinoma de ID também é mais frequente em indivíduos com doença celíaca f) Diagnóstico - Conjunto de fatores: clínica, sorologia para os IgA e IgG anti-transglutaminase e IgA anti- endomisial; também é feita biópsia do bulbo e da segunda porção do duodeno para avaliação de linfócitos intraepitelias e atrofia das vilosidades; sempre se associa esses fatores a história clínica. g) Tratamento - Adesão a uma dieta sem glúten geralmente cursa com a resolução dos sintomas, reduzindo os títulos de Ac anti-transglutaminase e outros ac relacionados a doença, e a restauração da histologia normal ou quase normal da mucosa é obtida entre 6-24 meses - Doenças inflamatórias crônicas recidivantes (períodos alternados de inflamação e quiescência) - Ativação persistente e inadequada do sistema imunológico - Causa desconhecida → nunca se identificou alterações nas microbiotas específicas ou bactérias patogênicas causadoras do distúrbio - Comum em adolescentes e adultos jovens (20-25 anos) a) Clínica - Diarreia (pode vir acompanhada de muco, pus e sangue), dores abdominais, febre, com períodos de melhora e piora - Recaídas podem estar relacionadas com estresse físico ou emocional - Manifestações extra-intestinais: poliartrite migratória, eritema nodoso (nódulos subcutâneos), espondilite anquilosante, colangite esclerosante, uveíte b) Características - Incluem a colite ulcerativa e a doença de Crohn - Doença de Chron → pode acometer da boca ao ânus, sendo mais comum na porção íleo- terminal (também chamada de ileíte regional). Costuma apresentar lesões entremeadas (permeadas por áreas preservadas de mucosa intestinal), e a inflamação pode e costuma ser transmural (acomete toda a espessura da parede - da mucosa à serosa) - Retocolite ulcerativa → se restringe ao colon e reto, e as lesões ali se estabelecem em disposição contínua. Além disso, a inflamação acomete apenas a mucosa e submucosa, e nota-se áreas de reparo entre úlceras (pseudo-pólipos)- A distinção entre elas, então se baseia, em grande parte, na distribuição do local afetado e na expressão morfológica da doença c) Patogênese - As causas precisas para essas doenças ainda não são bem definidas, mas parece haver uma combinação entre alterações na interação hospedeiro-microbiota intestinal, disfunção epitelial do intestino, respostas imunológicas aberrantes da mucosa e composição alterada da microbiota do intestino. - Existe uma influência importante da genética (risco da doença é maior quando algum membro da família é afetado) d) Doença de Crohn - Pode acontecer em qualquer área do TGI, mas os locais mais frequentemente acometido é o ID. - 40% acometem intestino delgado, 30% colon e 30% colon e intestino delgado - Nas áreas afetadas, há reação inflamatória crônica com fibrose, que caracteristicamente afeta as 4 camadas do intestino. - A doença tem um curso crônico, com surtos de agudização e períodos assintomáticos. - Caracterizada pela patologia por: envolvimento transmural, presença de granulomas sem necrose caseosa, e sem associação com nenhum agente etiológico; formação de fissuras e fístulas - Intestino se consolida com uma parede espessa, endurecida pela inflamação crônica e reparo, com fibrose, edema e congestão (se houver atividade da doença). Lúmen diminuído (estenose). Áreas sãs bem demarcadas das áreas com doença (lesões salteadas) - Doença inicial se apresenta com úlceras focais mucosas (úlceras aftosas), que podem progredir para lesões múltiplas, que frequentemente se fundem formando úlceras alongadas e serpentiformes - Pode ocorrer formação de fissuras, posteriormente fístulas e perfuração do órgão. O padrão alterando de mucosa lesada com mucosa sã é conhecido como padrão de “pedra de calçamento” → o tecido doente fica deprimido e abaixo do nível da mucosa normal, preservada - Na micro → perda do epitélio, necrose, infiltrado inflamatório neutrofílico (neutrófilos se infiltram e lesionam o ep da cripta → chamados de abcessos de cripta). Com o avançar da doença, as úlceras coalescem, formando úlceras lineares orientadas ao logo do eixo. - Podem ser encontrados granulomas não caseosos na doença de Crohn, e eles estão sempre dissociados da presença de qualquer agente causal etiológico (não são encontrados microorganismos nesses granulomas) Imagem → seta demonstra área mais deprimida – úlceras lineares, serpiginosas, que acompanham o eixo do órgão - Foto micro abaixo → granuloma (células epitelióides, células gigantes multinucleadas e linfócitos); Sempre que se tem necrose, faz-se coloração especial para avaliar presença de microorganismos → na doença de Crohn, a presença desses microorganismos não acontece. e) Retocolite ulcerativa - Também se caracteriza por períodos ativos e de remissão - Na fase ativa costuma ocorrer ataques de diarréia mucossanguinolenta, dor em cólica no abdome inferior e frequentemente são precipitadas por episódios de estresse emocional. Podem se alternar com períodos de constipação. - Úlceras principalmente na muc e submuc de cólon e reto - Entre as áreas que são mais deprimidas tem-se áreas de regeneração de ep (pseudo- pólipos) → quando as pontas dos pólipos se unem, formam-se pontes mucosas - Diferentemente da doença de Crohn, o espessamento mural não se apresenta, a serosa é normal e as estenoses são raras. Os pseudopólipos, de maneira geral, são formados de mucosa e submucosa descoladas da camada muscular pelo processo inflamatório e necrosante. São chamados de pseudopólipos uma vez que não são pólipos verdadeiros (não envolvem um aumento real de células epiteliais por hiperplasia ou neoplasia) Colonoscopia → evidencia os pseudopólipos Biópsia de intestino grosso → difícil diferenciar retocolite de Crohn; se for em ID ou tiver granulomas (excluindo-se o diag de TB) é Crohn; mas, se for biópsia de IG sem essas especificações não tem como diferenciar as duas → precisa da peça para verificar acometimento transmural ou não - O processo inflamatório inicia-se na profundidade das criptas, formando microabcessos (abcessos em cripta), que começa a se estender por contiguidade às áreas vizinhas. Os microabcessos nada mais são que neutrófilos que se acumulam na luz das criptas e começam a destruí-las. Os abcessos podem se romper na luz ou se estender à submucosa, soltando a mucosa em volta, a qual se levanta parcialmente, ficando presa por pedúnculos (pseudopólipos) → os pseudopólipos persistem mesmo nas fases de remissão ou cura. - Mucosa e submucosa inflamadas eventualmente sofrem necrose e descamam, deixando áreas escavadas, mas a muscular e a serosa são sempre preservadas - De forma geral, na microscopia observa- se glândulas atrofiadas, e dentro delas, infiltrado neutrofílico (microabcessos de cripta); além disso, na LP existe grande quantidade de infiltrado inflamatório mononuclerar e também neutrofílico (indica que a retocolite está em atividade) - Uma complicação grave de retocolite ulcertiva é o megacólon tóxico → ocorre em RU muito aguda, em que há dano tóxico à camada muscular da mucosa e ao plexo mioentérico, levando a falência da função neuromuscular do IG. Exige colectomia imediata, e tem alta mortalidade. Microscopicamente, a mucosa e submucosa sofrem descamação, e a camada muscular torna-se muito fina, congesta, edemaciada e necrótica. - Muito grave - Comprometimento de ID ou IG (flexura esplênica local mais acometido → menor aporte sanguíneo) - Oclusão da artéria: celíaca, mesentérica sup ou inf - Injúria causada por hipóxia ou reperfusão - Causas: obstrução arterial aguda (aterosclerose, aneurisma aórtico, estado hipercoagulável, uso de ACO, embolizações cardíacas ou aórticas), hipoperfusão (insuficiência cardíaca, choque, desidratação, uso de fármacos vasoconstrictores), vasculite (podem ser sistêmicas), trombose venosa mesentérica (incomuns, mas podem resultar de estados hipercoaguláveis hereditários ou adquiridos, neoplasias invasivas, cirrose, trauma ou massas abdominais que comprimem a drenagem portal) nas obstruções venosas (como por trombos), o sangue arterial continua a fluir por um tempo, levando a uma transição menos abrupta de intestino afetado para o normal (como acontece na obstrução arterial, em que a demarcação entre intestino normal e o isquêmico é nítida); mas, o resultado é similar ao produzido pela obstrução arterial, uma vez que a drenagem venosa prejudicada acaba evitando que o sangue arterial oxigenado entre nos capilares. - Cólon costuma ser mais acometido pela isquemia GI Células de revestimento intestinal são relativamente resistentes à hipóxia transitória. Mas a reperfusão (iniciada pela restauração do suprimento de sangue) é bastante precipitante de lesão → ainda pouco compreendidos os efeitos dessa lesão, mas incluem passagem de produtos bacterianos da luz intestinal (LPS, por ex, para circulação sistêmica), prod de radicais livres, infiltração de neutrófilos e lib de mediadores inflamatórios adicionais Podem acometer apenas parte da espessura da parede (infartos da mucosa ou murais) ou toda ela (transmurais) a) Clínica - É grave - Normalmente tem inicio abrupto de dor abdominal intensa, em cólica (porção inferior e à esquerda), hemorragia ou diarreia com sangue, vontade de defecar. - Pode evoluir para quadro de ruptura de alça e choque cirurgia pode ser necessária em casos em que o íleo esteja paralítico (som peristáltico reduzido) ou quando existem outras características de infarto (defesa e sensibilidade à descompressão) - Mais comum em > 70 anos - “Apesar de estar frequentemente associada a uma doença vascular ou cardíaca coexistente, a isquemia também pode ser precipitada por vasoconstritores terapêuticos, algumas drogas ilícitas, comoa cocaína, lesões endoteliais e oclusão dos pequenos vasos após infecção por citomegalovírus ou por E. coli, hérnia estrangulada ou comprometimento vascular devido à cirurgia anterior.” b) Classificações do infarto - Infarto mucoso – só acomete a mucosa até no máx a musc da mucosa - Infarto mural – envolve mucosa e submucosa - Infarto transmural – envolve toda a espessura da parede → tratamento cirúrgico (parede muito fina pode romper → segmento todo necrosado deve ser retirado do intestino) - Pode ser multifocal ou contínuo - Flexura esplênica do cólon é o local mais acometido c) Características do infarto - Infarto intestinal é hemorrágico (vermelho) devido a dupla circulação nesses órgãos - Intestino fica com coloração vinhosa - Necrose é de coagulação – mantem arquitetura da célula; apresenta áreas de hemorragia e congestão vascular - Na micro, nota-se atrofia característica ou descamação da superfície epitelial; neutrófilos são recrutados dentro de algumas horas de reperfusão; - Isquemia crônica é acompanhada de cicatrização fibrótica da LP, e raramente cursa com estreitamento. - Acomete principalmente pacientes mais idosos (bastante raros em < 30 anos, com frequência progressivamente maior com o aumento da idade) - Está associado a um enfraquecimento da parede intestinal, especialmente na região em que as artérias atravessam a camada muscular para nutrir a mucosa e submucosa → com a idade, pode haver enfraquecimento dessa estrutura, que, cedendo, permite a formação de uma pequena bolsa, que é o divertículo (formados só por mucosa e submucosa, que atravessam a camada muscular e fazem proeminências ao lado da serosa) - A formação dos divertículos é muito mais frequente na população ocidental → provavelmente relacionado com a alimentação - História de constipação a longo prazo - Maioria das vezes pode ser assintomática → inflamação associada a infecção no divertículo pode gerar dor, febre, distensão abdominal, cólicas, constipação e enterorragia A obstrução do divertículo pode levar a alterações inflamatórias que geram a diverticulite → a inflamação e a pressão aumentadas dentro do divertículo obstruído podem levar à sua perfuração, uma vez que sua parede é naturalmente mais fina, não compostas por todas as camadas de revestimento intestinal - Pode, ainda, haver ruptura do divertículo, levando a um quadro de abdome agudo a) Divertículo - Formação em fundo de saco por parede mais fina e delgada devido a hipotrofia da camada muscular → decorre de aumento da pressão luminal, provavelmente decorrente de contrações peristálticas exageradas (pode ser acentuada pelas dietas pobres em fibras) - Na mucosa notam-se pequenos furos - Aos cortes, observam-se estruturas saculares - Na micro, estrutura sacular revestida por epitélio intestinal e camada hipotrófica ou ausente da camada muscular - Divertículos, por impactação de fezes, sementes, podem ter infecção e inflamação, cursando com a diverticulite - Podem ser únicos ou múltiplos