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Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 1 Sumário Sistema Gastrointestinal ---------------------------------- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- -- 2 Patologia Esofágica (anomalias congênitas, varizes esofágicas) ----------------------------------------------------3 Hérnias de Hiato ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 DRGE -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 7 Neoplasias do Esôfago -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12 Patologia Gástrica --------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 Neoplasias Gástricas ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 23 Patologia Intestinal -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 28 Isquemia Intestinal -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 29 Apendicite Aguda ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 33 Doença de Hirschsprung ----------------------------------------------------------------------------------------------------- 34 Doença Diverticular do Cólon ------------------------------------------------------------------------------------------------ 35 Doença Inflamatória Intestinal ------------------------------------------------------------------------------------------------ 35 Neoplasias Intestinais ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41 Sistema Hepatobiliar ------------------------------------------------------------- 48 Patologia Hepática -------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 48 Distúrbios do Metabolismo da Bilirrubina ---------------------------------------------------------------------------------- 52 Hepatites Virais ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 56 Doença Hepática Gordurosa ------------------------------------------------------------------------------------------------- 69 Cirrose Hepática ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 74 Esquistossomose----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 78 Tumores Hepáticos ------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 81 Patologia Biliar ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 87 Patologia Pancreática --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 90 Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 2 Sistema Gastrointestinal Patologia Esofágica Esôfago: ❖ Tubo muscular oco, bastante distensível. ❖ Se estende desde a epiglote até a junção gastroesofágica (JEG). ❖ 25 a 33cm no adulto. ❖ Dividido em três regiões: o Superior/cervical – esfíncter esofágico superior (EES), que é um esfíncter muscular verdadeiro. o Média/torácica. o Inferior (supra e infra-diafragmática) – esfíncter esofágico inferior (EEI), que fica na JEG – esfíncter funcional, não é propriamente anatômico. ❖ EEI: é importante para manter a pressão intra-esofágica elevada, impedindo o refluxo do conteúdo do estômago. Ele é importante para impedir a doença do refluxo gastroesofágico. ❖ Constrições esofágicas: o Faringoesofágica: nível da cartilagem cricoidea. o Broncoaórtica: o esôfago é comprimido pelo arco aórtico e pela bifurcação da traqueia. o Diafragmática: região em que o esôfago atravessa o diafragma (sai do tórax e chega ao abdômen). Histologia: ❖ Divisão em camadas dos órgãos ocos: ❖ 1ª camada = mucosa. o Possui 3 camadas: epitélio pavimentoso estratificado não ceratinizado, lâmina própria e a muscular da mucosa ❖ 2ª camada = submucosa: composta por tecido conjuntivo e por glândulas muco secretoras. ❖ 3ª camada = muscular própria: no terço superior do esôfago, essa camada é formada por musculo esquelético (voluntária), já no restante é composta por musculo liso (contrações e peristaltismo involuntário). ❖ 4ª camada = adventícia: não é revestida por mesotélio. o No esôfago abdominal, temos a camada serosa no lugar da adventícia. ❖ A camada mucosa é composta por um epitélio e pela lâmina própria (tecido de sustentação). A camada muscular da mucosa divide a mucosa da submucosa. ❖ Epitélio: pavimentoso estratificado não queratinizado. Anomalias Congênitas ❖ São raras (1:1000 RN). ❖ Possuem grande importância, pois são graves. ❖ Manifestam-se precocemente. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 3 ❖ Sintomas precoces: disfagia, vômitos, regurgitação, sialorreia (salivação excessiva), emagrecimento. Podem haver infecções pulmonares por conta de comunicações entre esôfago e traqueia, causando insuficiência respiratória. ❖ A maioria precisa de correção cirúrgica. ❖ Muitas vezes, estão associadas a outras malformações no organismo, por exemplo na Síndrome de Vater (Vértebra, Ânus, Traqueia, Esôfago, Rim/radio). Atresias: ❖ Estreitamento da abertura do canal do esôfago. ❖ Cordão fino e não canalizado, causando uma obstrução mecânica. ❖ Ocorre mais comumente no nível da bifurcação traqueal. Fístulas: ❖ Comunicação entre esôfago e traqueia ou brônquio: leva alimento para a via respiratória. ❖ Geralmente ocorre em associação à atresia. ❖ Ambas precisam de correção cirúrgica rápida, pois a maioria é incompatível com a vida. ❖ Sintoma mais comum: regurgitação imediata após a amamentação. Divertículos: ❖ Dilatação circunscrita da parede de um órgão tubular oco, que se comunica com a luz do órgão. ❖ Dilatação sacular para fora da parede. ❖ Podem ser congênitos ou adquiridos (maioria). ❖ CLASSIFICAÇÃO: o Verdadeiro: a evaginação da parede contém todas as camadas viscerais (mucosa, submucosa, muscular própria e adventícia). o Falso/pseudodivertículo: contém apenas a mucosa e a submucosa. A: atresia esofágica. B: atresia (segmento esofágico superior com fundo cego) e fistula (segmento inferior). Essa associação é a forma mais comum das anomalias. C: fistula. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 4 ❖ Podem se desenvolver em três regiões: 1. Divertículo Faringoesofágico ou de Zenker: ocorre na constrição faringoesofágica → acima do EES. • Sua formação está relacionada à fraqueza dos músculos cricofaríngeo e constritor inferior da faringe. • Com o aumento da pressão na luz do esôfago (causado por espasmos ou obstruções, como a acalásia) a mucosa e a submucosa projetam-se para fora. • É um divertículo FALSO (hernia apenas mucosa e submucosa). • Mais comum em pacientes mais idosos (acima de 50 anos). • Sintomas: disfagia (o divertículo está muito próximo à cavidade oral), regurgitação (pode haver acúmulo de alimentos no interior do divertículo, podendo, posteriormente, refluir), halitose (mal hálito – em razão da estase alimentar no divertículo) ou aspiração – o alimento pode sair do divertículo e cair na traqueia. Isso predispõe a infecções pulmonares. • O melhor exame é o RX com contraste de bário. 2. Divertículo de tração: localizado na região média; na região da contração broncoaórtica. • Na maioria das vezes é assintomático. 3. Divertículo epifrênico: acima do EEI, na contrição diafragmática.• Pode predispor a refluxos → doença do refluxo gastroesofágico. Lacerações Esofágicas ❖ Mais conhecidas como SINDROME DE MALLORY-WEISS. ❖ São lacerações lineares e longitudinais, principalmente na região da junção gastroesofágica (JGE). ❖ Varia de tamanho de poucos milímetros a alguns centímetros. ❖ Consequência de vômitos de repetição, comum em pacientes alcoólatras e com distúrbios alimentares (bulimia). ❖ Pode ter hematêmese: as lacerações esofágicas correspondem 10 a 15% das hemorragias digestivas altas. ❖ A maioria dos casos apresenta sangramentos leves, com cura espontânea. Porém em alguns casos, é necessário correção cirúrgica. ❖ Uma possível complicação grave é o rompimento do esôfago → Síndrome de Boerhaave. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 5 Varizes Esofágicas ❖ Dilatações circunscritas e permanentes das veias do esôfago, que ficam principalmente nos plexos submucoso e periesofágico (na adventícia). ❖ Secundarias à HIPERTENSÃO PORTAL, mas também pode estar associada a outros aspectos (menos comuns) como ICD acentuada, trombose das veias hepáticas, etc. ❖ Irrigação do esôfago: o Terço distal e médio: veias esofágicas → v. gástrica esquerda → v. porta. o A pressão aumentada da veia porta dificulta a circulação, causando acúmulo de sangue → congestão → dilatação. o As varizes ocorrem no esôfago e no fundo gástrico, pois ele também é drenado pela veia gástrica esquerda. ❖ Causa principal: 90% dos pacientes → cirrose ou esquistossomose hepática. ➔ MACROSCOPIA: ❖ Dilatações, saliências, tortuosidades e irregularidades das veias submucosas e periesofágicas. ❖ As veias ficam superficiais, pois estão muito dilatadas → a mucosa fica azulada e delgada – a veia comprime a mucosa, deixando-a mais fina → risco de ruptura e de sangramento. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 6 ➔ MICROSCOPIA: ❖ O epitélio do esôfago não possui vasos. Os vasos normalmente se encontram na lâmina própria e na submucosa. Entretanto, com a dilatação das veias, elas ficam muito próximas ao epitélio. ❖ É possível ver as veias congestas de sangue. Complicações: ❖ Hemorragia: • Os vasos superficializados ficam sujeito a traumatismos causados por alimentos ou por aumento da pressão dentro dele → rupturas. ❖ Hematêmese em caso de rompimento de vasos maiores. ❖ Caso o vaso rompido seja de pequeno calibre, pode ser imperceptível para o paciente. E, se não for reparado logo, pode desenvolver anemia crônica. ❖ Essa ruptura pode ocorrer em razão do aumento da pressão das veias. Tratamento: ❖ Vasoconstrição esplâncnica → uso de medicamento, por exemplo a Terlipressina → reduz o calibre dos vasos que irrigam os órgãos abdominais, diminuindo, consequentemente, o volume de sangue na veia porta → diminui a pressão portal → reduz a chance de ruptura. ❖ Escleroterapia: injeção de agente trombótico na veia esofagiana dilatada, com o objetivo de destruí-la, para evitar seu rompimento. ❖ Tamponamento por balão esofágico. ❖ Ligação de varizes: “amarram-se” as veias acometidas. Hérnias de Hiato ❖ Hérnia: saída de uma determinada estrutura por um orifício, sendo o orifício natural ou não. ❖ A Hérnia de Hiato ocorre por separação dos pilares diafragmáticos, com alargamento do espaço entre eles. Isso permite a passagem de conteúdo do abdômen para o tórax. ❖ Geralmente, é o estômago que hernia. ❖ Pode ser congênita ou adquirida. ❖ A incidência aumenta com a idade. ❖ Pode ser encontrada em recém-nascidos. ❖ Mais comum em mulheres acima dos 40 anos. Padrões Anatômicos: ❖ Tipo II e III são os mais importantes. TIPO I: ❖ Hérnia congênita. ❖ Surge por conta de o esôfago ser curto. ❖ Traciona/puxa o estômago para a cavidade torácica. TIPO II: ❖ Hérnia paraesofágica ou por rolamento. ❖ O esôfago é normal, mas o fundo gástrico do estômago penetra no tórax. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 7 TIPO III: ❖ Hérnia esofagogástrica ou por deslizamento. ❖ 95% dos casos: é a mais comum. ❖ A porção abdominal do esôfago desliza e entra no tórax, trazendo consigo o estômago. TIPO IV: ❖ Estômago + outros órgãos (intestino, baço etc). Patogênese (t ipo 2 e t ipo 3): ❖ Ocorrem por enfraquecimento dos músculos do hiato diafragmático. ❖ Condições que predispõe à hérnia: obesidade, tosse vigorosa, gravidez, vômitos recorrentes, ascite, entre outros → essas condições aumentam a pressão abdominal. Clínica: ❖ Podem ser assintomáticas (maioria) ou sintomáticas. ❖ Quando sintomáticas, estão, frequentemente, associadas à doença do refluxo gastresofágico (DRGE). ❖ Perda do esfíncter inferior do esôfago: sai da sua posição anatômica normal e vai para a região torácica → o conteúdo do estômago fica com mais facilidade para refluir. Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) ❖ Refluxo anormal do conteúdo do estômago para o esôfago, normalmente causado por relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior. ❖ É normal ocorrer um refluxo de pequena duração e em pequena quantidade para o esôfago, mas isso não causa nenhuma alteração no esôfago. ❖ Afeta 10-20% da população mundial. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 8 ❖ Predomina em pacientes acima dos 40 anos, mas acomete qualquer idade e gênero. Sintomas e Lesões: ❖ Azia = queimação na região epigástrica; ❖ Pirose = queimação retroesternal (caminho do refluxo); ❖ Regurgitação; ❖ Dificuldades de deglutição; ❖ Disfagia; ❖ As principais lesões concentram-se no terço distal do esôfago → Esofagite de Refluxo e Esôfago de Barrett. ❖ Se o refluxo subir mais, ele pode afetar a laringe, traqueia e pulmões, causando rouquidão, tosse e infecções. ❖ Caso atinja a cavidade oral, estimula a salivação e por corroer os dentes, pode gerar cáries dentárias. Diagnóst ico: ❖ A endoscopia não é o exame padrão-ouro, pois ela é utilizada para analisar as lesões e nem todos os pacientes com DRGE possuem lesões no esôfago. ❖ Padrão-ouro: impedâncio-pHmetria esofágica. o Um tubo é passado pelo esôfago do paciente através da cavidade nasal, permanecendo entre 24-48 horas. o O tubo possui marcadores (em amarelo) que marcam a impedância, que é o fluxo de alimentos que passam do esôfago até o estomago e o refluxo desses alimentos. o Existe um sensor distal que mede o pH. Lesão no esôfago. Patogênese: ❖ Ocorre quando a pressão intra-abdominal aumenta e os mecanismos anti-refluxos não funcionam muito bem para conter os alimentos. ❖ Alterações anatômicas e funcionais na JEG: o Alterações no EEI (é a principal barreira) e na musculatura diafragmática. ❖ Fatores que alteram a pressão na junção esofagogástrica: o Estresse mecânico e emocional; Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 9 o VIP (peptídeo intestinal vasoativo) e NO (óxido nítrico) → em pacientes com DRGE, eles estão em níveis elevados e causam relaxamento o EEI. o Tabagismo, alcoolismo e alguns fármacos. o Alimentos como: café, chocolates e frituras → relaxa o EEI. o Hérnia de hiato. o Obesidade e gravidez. ❖ Quando o paciente está deitado, é mais fácil ocorrer o refluxo. ❖ Pode ser sintomática ou assintomática, com lesão ou não. ❖ Pode ser sintomática, mas sem lesão. ❖ Pode ser assintomática, mas ter lesão morfológica. Tratamento: ❖ Inicialmente são recomendadas medidas comportamentais. o Evitar deitar-se logo depois de se alimentar. o Evitar comer grandes quantidades de uma única vez e evitar os alimentos que predispõe ao refluxo (frituras, chocolates, café etc). o Orientar a elevar a cabeceira da cama (colocar algo para levantar os a cabeça da cama). ❖ Medicamentos = antiácidos. ❖ IBP = inibidor da bomba de próton = omeprazol e pantoprazol = diminuem a secreção ácida no estômago. ❖ Anti-histaminicos H2 = ranitidina e carnitidina. Consequências:Esofagite de Refluxo: ❖ O refluxo é a principal causa de esofagite. ❖ Inflamação do esôfago. ❖ O epitélio esofágico é resistente ao atrito dos alimentos, porém é mais sensível aos ácidos. ELEMENTOS DA BARREIRA ANTI-RGE ❖ Ligamento frenoesofágico: ajuda a “segurar” o esfíncter na posição normal. ❖ Esfíncter esofágico inferior: ❖ Conteúdo gástrico: pode ajudar no refluxo → principalmente em pacientes que comem muito ou muito rápido, ou em pacientes com o esvaziamento gástrico lento → faz com que o estomago fique cheio e aumente a pressão no interior do estomago. ❖ Ângulo de His: normalmente é um ângulo agudo = ajuda a conter o refluxo. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 10 ❖ Possui glândulas na submucosa que secretam mucinas e bicarbonato para tentar neutralizar o ácido. ➔ PATOGÊNESE: ❖ Refluxo do estômago ácido → descamação do epitélio do esôfago → regeneração epitelial → o processo contínuo de refluxo, sem tratamento, aumenta a perda e a regeneração não consegue compensar. ❖ Desequilíbrio entre perda e regeneração do epitélio. ❖ O epitélio fica atrófico, mais fino. Por isso, ele fica mais sensível às erosões e às ulcerações, que podem gerar hemorragias ❖ O tecido cicatriza, mas se a cicatrização for muito vigorosa, ela pode gerar estenoses. ➔ MACROSCOPIA: ❖ Depende do tempo e da intensidade do refluxo. ❖ Pode variar desde uma pequena área com hiperemia ou edema até uma área com erosão. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Células inflamatórias dentro do epitélio = neutrófilos, linfócitos e principalmente eosinófilos → anormal. ❖ Hiperplasia da camada basal, pois a regeneração do epitélio inicia-se nessa camada. ❖ Alongamento das papilas da lâmina própria e congestão. ❖ É possível ver vasos sanguíneos nas papilas = diferente dos epitélios. ❖ As papilas possuem terminações nervosas, com o alongamento esses nervos ficam mais expostos e causam mais sintomas nesses pacientes, mais desconforto e dor. Esquerda: áreas avermelhadas e irregulares = hiperemia e agressão da parede. Direita: cicatrização e estenose da luz do órgão. Esquerda: camada basal hiperplasiada → regeneração do epitélio. Direita: papilas conjuntivas da lâmina própria alongadas, invadindo o epitélio. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 11 Esôfago de Barrett: ❖ Substituição do epitélio escamoso estratificado no esôfago por um epitélio colunar do tipo intestinal secretor de muco – metaplasia intestinal. ❖ Complicação da DRGE e da esofagite, acometendo 10% dos pacientes com refluxo. ❖ Acomete, principalmente, homens brancos com idade entre 40-60anos. ❖ Principal fator de risco para o desenvolvimento do adenocarcinoma esofágico. Critérios Diagnósticos: ❖ ENDOSCOPIA: o Mucosa aveludada, cor salmão, com pequenas projeções digitiformes (semelhantes a dedos) acima da JEG. o Coloração mais clara = esôfago normal. ❖ HISTOLOGIA: o Metaplasia intestinal = substituição do epitélio. ❖ Se fizermos uma biópsia em uma JEG NORMAL, observamos uma transição entre o epitélio do esôfago e do epitélio colunar secretor do estômago. ❖ Na metaplasia intestinal, a biópsia encontra uma transição do epitélio estratificado escamoso do esôfago para o epitélio colunar do tipo intestinal (com células caliciformes). Classificações: ❖ Segmento curto = menos de 3cm. ❖ Segmento longo = mais de 3cm superior à JEG. ❖ Quanto mais longo o segmento, maior a chance do surgimento do adenocarcinoma esofágico. Complicações: ❖ Úlcera péptica: o Pode causar hemorragias → hematêmese, melena (sangue nas fezes) ou anemia crônica – depende da intensidade. o Essa úlcera pode ser reparada, sofrendo fibrose → estenose. ❖ Risco de malignização: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 12 o Metaplasias -→ displasia de baixo grau → displasia de alto grau → carcinoma “in situ” → adenocarcinoma invasor. o Surgimento do adenocarcinoma invasor. Neoplasias Malignas de Esôfago ❖ Décima causa de morte oncológica no Brasil. ❖ Normalmente é diagnosticada tardiamente, pois os pacientes são assintomáticos por um longo período. ❖ CCE = carcinoma de células escamosas – mais comum em negros. ❖ Adenocarcinoma – predomina em pacientes brancos. ❖ Mais comum nos homens, principalmente devido aos hábitos de vida. ❖ Fatores de risco: o DRGE + esôfago de Barrett → adenocarcinoma. o Megaesôfago – acalasia → CCE e adenocarcinoma. o Obesidade → adenocarcinoma; o Dieta → baixo consumo de vitaminas → CCE e adenocarcinoma; o Alimentos contaminados com fungos, principalmente os produtores de nitrozaminas = substâncias cancerígenas → CEE o Hábitos de vida: tabagismo (mais associado ao CCE), etilismo (CCE) e consumo de bebidas quentes (CCE); o Genética. Carcinoma de Células Escamosas: ❖ Tipo histológico mais comum no Brasil e na maior parte do mundo. ❖ Derivado do epitélio normal do esôfago. ❖ Localiza-se, geralmente, no terço médio e inferior do órgão. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Macroscopia: inicialmente surge como uma discreta elevação da mucosa – displasia, CCE “in situ” ou CEE microinvasor → endoscopia digestiva alta – diagnóstico em fase precoce é muito importante. • Evolui para a formação de placas e de lesões ulcerosas e volumosas: o Lesões vegetantes (“tipo couve-flor”). o Anular = envolve toda a circunferência do esôfago. o Ulcerada – formação das pérolas córneas o Infiltrante = cresce para a parede do esôfago. ❖ Microscopia: células escamosas atípicas invadindo a parede do esôfago. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 13 Adenocarcinoma: ❖ Tipo mais comum em países desenvolvidos, devido ao fato de a população ser mais obesa e devido à redução dos fatores de risco para o CCE, como o etilismo. ❖ Sua incidência vem aumentando no Brasil, devido a uma mudança nos hábitos de vida. ❖ Derivado, principalmente, do epitélio de Barrett. ❖ pode surgir na submucosa – mais raro. ❖ Localiza-se na JEG e no terço inferior do esôfago. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Macroscopia: irregularidade da mucosa “vermelho-salmão”. • Displasia, carcinoma “in situ” ou adenoarcimoma microinvasor. • Lesões planas ou formando placas avermelhadas na mucosa metaplasica. • Pode haver a formação de massas/nódulos. • Ulceração. ❖ Microscopia: • Glândulas produtoras de muco. • Glândulas infiltrando a lâmina própria. • Imagem: displasia de alto grau; difícil visualizar as glândulas; começam a invadir a lâmina própria. Estadiamento: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 14 ❖ O T é de acordo com a profundidade de acometimento do câncer. Clínica: ❖ Evolução silenciosa/assintomática → diagnostico tardio. ❖ Sintomas: o Disfagia o Odinofagia o Dor torácica o Vômitos o Hematêmese ou melema o Perda de peso progressiva. Complicações: ❖ Obstrução. ❖ Ulceração → hemorragias e perfurações ❖ Inflamação de órgãos adjacentes. Metástases: ❖ As metástases dos carcinomas ocorrem, preferencialmente, nos linfonodos. ❖ Linfonodos: o Neoplasia no 1/3 superior: acomete linfonodos cervicais. o Neoplasia no 1/3 médio: acomete linfonodos mediastinais e traqueobrônquicos. o Neoplasia 1/3 inferior: acomete linfonodos abdominais. ❖ Acometem, principalmente, o fígado, pulmões e suprarrenais. ❖ A sobrevida é de 5 anos: o Diagnóstico precoce = até o estágio T1 = sobrevida de até 80%. o Diagnostico tardio = com metástase ou a partir de T2 = sobrevida inferior a 25%. o Importância da endoscopia digestiva alta. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 15 Sistema Gastrointestinal Patologia Gástrica Estômago: ❖ Órgão em formato de bolsa. ❖ Localizado na região superior do abdômen. ❖ S armazenamento e digestão. ❖ Histologia: mucosa (epitélio coluna mucossecretor simples + lâmina própria + muscular da mucosa), submucosa, muscularprópria (camada circular interna e longitudinal externa) e camada serosa. ❖ Corpo e fundo gástrico possuem a Mucosa Oxíntica. ❖ Antro gástrico possui a Mucosa Antral → produtora de muco e bicarbonato. Funções das Células: ➔ MUCOSA OXÍNTICA: ❖ Células parietais: produzem ácido clorídrico e o fator intrínseco (FI – importante na absorção de vitaminas B12). ❖ Células principais: produzem pepsinogênio (ajuda na digestão de proteínas). MUCOSA OXÍNTICA: células parietais (ricas em mitocôndria – coloração mais rosada) e células principais ou zimogênicas (coloração roxa). MUCOSA ANTRAL: células mucossecretoras. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 16 ❖ Células neuroendócrinas (ECL): produz histamina (estimula as células parietais). ➔ MUCOSA ANTRAL: ❖ Células mucossecretoras: produzem muco e HCO3- (essenciais na defesa do órgão). ❖ Células G: produzem gastrina (estimula as células parietais a produzirem HCL) ❖ Células D: somatostatina (inibe a produção de HCL pelas células parietais). Obs: existe um mecanismo de Feed Back negativo entre as células G e as células parietais → altos níveis de HCL produzido pelas células parietais inibe a produção de gastrina. Fatores de Proteção da Mucosa Gástrica: ❖ Camada de muco. ❖ HCO3-. ❖ Barreira epitelial. ❖ Fluxo sanguíneo (nutriente e oxigênio). ❖ Prostaglandinas: estimulam a produção de muco e HC03, inibe a secreção de HCL e promove vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo. Gastrite: ❖ Processo inflamatório da mucosa gástrica, podendo ser antral e/ou oxíntica. ❖ Condição histopatológica sem quadro clínico específico. ❖ Para a confirmação da doença é necessário a realização da biópsia e da análise histológica. ❖ Os sintomas podem ser confundidos com a Dispepsia Funcional (má digestão): dor epigástrica em queimação, desconforto abdominal e sem lesão morfológica. Classificações: ➔ QUANTO À TOPOGRAFIA: ❖ Antral; ❖ Oxíntica; ❖ Pangastrite (antral + oxintica). ➔ QUANTO À ETIOLOGIA: ❖ Uso excessivo de álcool ou de medicamentos; ❖ Auto-imune; ❖ Infecciosa (bacteriana: Helicobater pylori) etc. ➔ QUANTO AO TEMPO DE DURAÇÃO: ❖ Crônica. ❖ Aguda. Gastrite Aguda: ❖ Agressão aguda ou de curta duração. ❖ Causas principais: álcool, alterações isquêmicas na mucosa gástrica e uso de anti-inflamatórios não- esteroidais (AINEs). o O álcool lesa a barreira epitelial e também cliva o muco que protege a mucosa. o Em casos de isquemia, como no tabagismo, temos menor aporte de nutrientes e de oxigênio, levando a uma lesão epitelial. o Os AINEs inibem a COX-1 e COX-2, que são enzimas responsáveis pela produção de prostaglandinas. Com a diminuição das prostaglandinas, há redução da produção de muco e de HCO3, aumento dos níveis de HCL e vasoconstrição. ➔ MORFOLOGIA: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 17 ❖ Infiltrado inflamatório, predominantemente, granulo-mononuclear – rico em neutrófilos. ❖ Pode haver hiperemia, edemas e erosões. ❖ Imagem: possível ver áreas de agressão; perda do epitélio = erosão; muitos neutrófilos. ❖ Endoscopia: é possível ver regiões mais avermelhadas, edemaciadas, com erosões e hemorragias. Clínica: ❖ A maioria é assintomática. ❖ Sintomas comuns: dor epigástricas náuseas, vômitos e hemorragias. Gastrite Crônica: ❖ Agressão crônica e de longa duração à mucosa gástrica. ❖ Mais comum. ❖ Causas principais: • Infecção bacteriana (H. pylori – 80% dos casos do Brasil); • Doenças autoimunes (10%); • Lesão por radiação, refluxo, doença de Crohn, AINEs, álcool e tabagismo (10%). Clínica: ❖ Maioria assintomático. ❖ Sintomas dispépticos: dor abdominal em queimação (azia), empachamento/plenitude pós-prandial (sensação de persistência de alimentos no estômago), saciedade precoce, náuseas e vômitos. GASTRITE CRÔNICA AUTOIMUNE: ❖ Predominante em mulheres entre 50-60 anos. ❖ Produção de auto-anticorpos contra células parietais (mucosa oxíntica). ❖ Redução da produção de HCL → hipocloridria e alcalinização do pH. ❖ Queda na produção de fator intrínseco (FI) → baixa de B12 (causa anemia perniciosa e neuropatias). ❖ O antro não é atingido (não possui mucosa oxíntica). Mecanismo de feedback fisiológico: ❖ A gastrina produzida pelas células G estimula as células parietais a produzirem HCL. ❖ Altos níveis de HCL provocam inibição da produção de gastrina pelas células G. ➔ PATOGÊNESE: 1. Produção de anticorpos contra as células parietais. 2. Diminuição da produção de HCL. 3. Hipocloridria (aumento do pH). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 18 4. O aumento do pH causa aumento da atividade das células G para tentarem estimular mais as células parietais → hipertrofiam. 5. Aumento da produção de gastrina → hipergastrinemia. 6. Bloqueio do feedback → como as células parietais estão sendo destruídas, não há como inibir a produção de gastrina pelas células G → há um constante estímulo nas células parietais. 7. A gastrina também estimula as células ECL → essas células se hipertrofiam e sofrem hiperplasia → surge uma massa de células neuroendócrinas nessa região → fator de risco para o desenvolvimento do Tumor Neuroendócrino (carcinoide gástrico). Essas células estão presentes na mucosa oxíntica. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Atrofia da mucosa oxíntica (corpo/fundo), com redução da sua espessura e perda do pregueamento habitual – a mucosa fica lisa e mais fina. ❖ Microscopia: • Infiltrado inflamatório, predominantemente, mononuclear; • Destruição das glândulas; • Atrofia da mucosa; • Podem surgir metaplasias intestinais como forma de adaptação; • Hiperplasia de células neuroendócrinas ECL (células apontadas pela seta azul. Elas não são vistas na mucosa normal). GASTRITE CRÔNICA POR H. PYLORI: ❖ Causada pelo Helicobacter pylori: bacilo espiralado. ❖ Principal causa de gastrite. ❖ Está muito relacionado aos baixos índices socioeconômicos. o Transmissão via fecal-oral. o Está associada às más condições sanitárias e de higiene. ❖ Normalmente adquirida na infância. ❖ Alta prevalência. ❖ Brasil: presente em 60% da população. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 19 ➔ FATORES DE VIRULÊNCIA DO H. PYLORI: ❖ Morfologia espiralada – permite movimentos de rotação e de aprofundamento na região do muco gástrico. ❖ Flagelos: confere motilidade no núcleo. ❖ Adesinas – moléculas de adesão que permitem a fixação da bactéria nas células colunares do epitélio. ❖ Existem diferentes cepas, sendo CagA+ e VacA+ as mais virulentas. ❖ Alta produção de enzimas urease – capaz de clivar a ureia em amônia e CO2. ➔ PATOGÊNESE: ❖ A bactéria tem preferência de se alojar no piloro (região antral), pois o pH é mais básico quando comparado ao corpo e ao fundo. 1. Infecção por H. pylori. 2. Alta produção de urease na mucosa antral. 3. Clivagem da ureia em amônia e CO2 → como a amônia é básica, haverá um aumento do pH na região do antro. 4. As células G passam a ser estimuladas a produzir gastrina, para estimular as células parietais a produzirem HCL → hipergastrinemia (bloqueio do feed-back negativo). 5. A gastrina estimula as células parietais a produzirem HCL → hipercloridria. ❖ O conteúdo gástrico fica hiper-ácido e é liberado no duodeno → predispõe à Úlcera Péptica Duodenal. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Achados inespecíficos. ❖ Mucosa avermelhada, hiperemiada. ❖ Microscopia: infiltrado inflamatório, principalmente, neutrófilos, invadem os epitélios para tentar fagocitar o microrganismo. ❖ Algumas células inflamatórias fazem exocitose para dentro da célula, para tentar fagocitar as bactérias. ➔ FORMAS CLÍNICAS: ❖ De acordo com o local de infecção. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 20 ❖ ANTRO: • Mais comum. • Hipertrofia ou atrofia da mucosa, em razão da lesão nas glândulas (sempre focais).• Associa-se à hipersecreção ácida. • Muitas vezes associada às úlceras pépticas duodenais. ❖ ANTRO E CORPO: • Pangastrite. • Evolução mais rápida para hipotrofia da mucosa e metaplasia intestinal (focos múltiplos). • Destruição de células parietais → Hipocloridria. • Mais associado com UPG e possui risco aumentado para a formação de carcinoma gástrico. Diagnóstico: ❖ Endoscopia digestiva alta → biópsia ou teste rápido da urease (remove um pequeno fragmento do estômago e coloca em um vidro. A H. pylori converte a ureia em amônia e CO2 e a coloração do vidro muda de amarelo para rosa). ❖ Teste respiratório: simples e não invasivo. • O paciente ingere ureia marcada com carbono e, caso ele esteja contaminado, a ureia é degradada pela urease e o CO2 é exalado pelo paciente. ❖ Outros: PCR, sorologia, cultura... Tratamento: ❖ Inibidor de bomba de próton = IBP, associado com dois antibióticos (Amoxicilina + Claritromicina). Complicações: ❖ Úlcera péptica gástrica ou duodenal. ❖ Carcinoma gástrico. ❖ Existem cepas mais predispostas a desenvolver úlceras e outras para desenvolver o câncer. Úlceras Pépticas: ❖ Lesão escavada na mucosa ou na parede do estômago ou duodeno. ❖ A úlcera surge por digestão ácido-péptica (HCL + enzimas). ❖ Mais comuns em homens de 30-50 anos. ❖ Causas principais: H.pylori, anti-inflamatórios, tabagismo, entre outros. ❖ A incidência vem reduzindo no mundo, pois o tratamento da H. pylori é cada vez mais comum.. ➔ PATOGÊNESE: ❖ Surge quando há um desequilíbrio entre os mecanismos de defesa e a agressão à mucosa. ❖ UPD: origina-se, geralmente, em razão do aumento do ataque à mucosa duodenal. ❖ UPG: diminuição dos mecanismos de defesa. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 21 Úlcera Péptica Duodenal (UPD): ❖ Aumento da agressão à mucosa duodenal. ❖ Os pacientes com UPD possuem níveis mais elevados de secreção ácida e de pepsinogênio. ❖ Esvaziamento gástrico mais rápido → o conteúdo vai rapidamente para o duodeno e possui um contato mais prolongado com a mucosa. ❖ Tendem a ter maior número de células parietais – ficam mais sensíveis à gastrina. ❖ Hipergastrinemia (principal fator da UPD: H. pylori). Úlcera Péptica Gástrica (UPG): ❖ Queda dos mecanismos de defesa. ❖ Geralmente surge na região da incisura angular. ❖ Causas: • H. pylori: produz toxinas capaz de lesar o endotélio e clivar o muco. • AINEs: podem causar lesão epitelial direta ou inibir as enzimas COX. • Álcool: agressão epitelial direta. • Tabagismo: vasoconstrição. Isso gera redução do aporte de oxigênio. • Refluxo duodenal: refluxo de sais biliares. ❖ Quebra a barreira de defesa → retrodifusão de íons de H+ e pepsina → digestão ácida-péptica da mucosa. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Área de descamação da mucosa. ❖ Normalmente arredondada ou oval; possui fundo limpo/homogêneo recoberto por fibrina. ❖ 0,5-2cm. Microscopia: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 22 ❖ Quatro camadas: 1. Debris celulares e PMNs – neutrófilos. 2. Necrose fibrinóide. 3. Tecido de granulação – possui infiltrado inflamatório associado. 4. Fibrose. ➔ TIPOS: ❖ Classificação de acordo com sua profundidade de invasão. ❖ Superficial: até a submucosa. ❖ Profunda: atinge a muscular própria. ❖ Perfurada: atravessa todas as camadas. ❖ Terebrante: atinge o pâncreas – mais grave → pancreatite aguda. Clínica: ❖ Dor epigástrica, queimação, que surge entre 2-3h após as refeições. ❖ Melhora com o uso de antiácidos e após a alimentação (pois o alimento tampona a região da úlcera, impedindo que o ácido degrade as outras camadas da parede). ❖ Náuseas, vômitos, distensão abdominal e perda de peso. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 23 Complicações: ❖ Hemorragia maciça ou discreta (anemia crônica). ❖ Perfuração cavidade abdominal ou de algum órgão vizinho → peritonite: o conteúdo extravasa para a cavidade abdominal. ❖ Cicatrização → pode haver estenose/obstrução. ❖ Malignizacao → úlcera neoplásica. Tratamento: ❖ Tratar a bactéria H. pylori. ❖ Mudanças de hábitos de vida. Neoplasias Gástricas Malignas ➔ CONDIÇÕES PRÉ-CANCEROSAS: ❖ Situações em que o portador tem maior risco de desenvolver o câncer gástrico. ❖ METAPLASIA INTESTINAL (MI): • O H. pylori desequilibra o microambiente da mucosa. • A MI é uma forma de adaptação da mucosa à agressão do microrganismo e pela secreção ácida. • Observa-se a presença de células caliciformes, orla em escova (microvilosidades) e as células de Paneth (função de defesa). • Classificada em três padrões: ▪ Tipo I = completa – menor chance de desenvolver o câncer. ▪ Tipo II e III = incompleta – algum dos fatores não estão presentes; tipo II é a mais incompleta e com maior risco de desenvolver câncer. ➔ LESÕES PRÉ-CANCEROAS: ❖ Lesões morfológicas específicas com maior risco de transformação para o câncer gástrico. ❖ Displasia: aumento da proliferação de células; surgimento de figuras atípicas; atipias celulares e nos núcleos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 24 Carcinoma Gástrico: ❖ 90-95% das neoplasias malignas gástricas. ❖ Presente, principalmente, em países com baixo nível socioeconômico, pois há maior taxa de infecção por H. pylori e os padrões de dieta favorecem esse surgimento. ❖ Importante causa de óbito por câncer em ambos os sexos. ❖ Geralmente é assintomático ou inespecífico. ❖ Apenas 10-20% são diagnosticados, já em fase avançada e o prognostico é ruim. ➔ PATOGÊNESE: ❖ Doença multifatorial: fatores ambientais + do indivíduo (genéticos). ❖ Fatores que agridem a mucosa gástrica aumentados: dieta (alimentos ricos em conservantes, defumados e com nitrosaminas) e inflamação crônica por H. pylori. ❖ Fatores de proteção da mucosa reduzidos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 25 ➔ TIPOS: ❖ De acordo com a classificação histológica de Lauren. CARCINOMA GÁSTRICO FORMADOR DE GLÂNDULAS DE PADRÃO INTESTINAL = CARCINOMA INTESTINAL: ❖ Proliferação de glândulas justapostas e atípicas. ❖ Lesão vegetante ou ulcerada. CARCINOMA DO TIPO DIFUSO: ❖ Proliferação de células isoladas contendo muco. ❖ As células possuem forma semelhante ao de anel de sinete – o muco empurra o núcleo para a periferia da célula. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 26 ❖ Não há formação de glândulas. ❖ A célula cresce no interior da parede, espessando-a. Ele não cresce formando uma massa, mas sim espessando a parede. ➔ MACROSCOPIA – CLASSIFICAÇÃO DE BORRMANN: classificação mais utilizada para o adenocarcinoma gástrico invasivo. • I: crescimento polipoide ou vegetante. Forma uma massa na luz do estômago. • II: neoplasia ulcerada – irregular, necrótica, heterogenia. • III: tumor úlcero-infiltrativo (“raiz de uma árvore”). • IV: tumor infiltrativo – espessa a parede gástrica; crescimento anular (típico do carcinoma difuso). Conhecida como linite plástica. ❖ Linite Plástica: • Borrmann IV. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 27 • Tipo de crescimento clássico do carcinoma difuso de Lauren. • Difuso = espessa toda a parede gástrica. • Sintomas tardios. ESTADIAMENTO (TMN): ❖ Quanto maior a profundidade, maior a classificação (T). ❖ Metástases em linfonodos e em outros órgãos. ❖ A porcentagem indica a taxa de sobrevivência estimada dos pacientes. Disseminação: ❖ Nódulo da irmã Maria José: nódulo neoplásico na cicatriz umbilical. ❖ Sinal de Trosier ou Nódulo de Virchow: linfonodo supra clavicular. ❖ Tumor de Krukemberg: metástase no ovário. Complicações: ❖ Prognóstico ruim: diagnóstico tardio, pois a sintomatologia demora a aparecer. ❖ Sintomas mais comuns: perda de peso e de apetite, dor, anemia e vômitos. ❖ Obstrução gástrica: lesões volumosas de crescimento na direção da luz gástrica.❖ Hemorragias: hematêmese (hemorragia digestiva alta – HDA) ou melena (hemorragia digestiva baixa – HDB). ❖ Ulceração e necrose tumoral → choque hipovolêmico. ❖ Perfuração da parede gástrica: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 28 ❖ Disseminação da neoplasia na cavidade peritoneal → carcinomatose peritoneal. ❖ Infiltração por contiguidade para órgãos abdominais ❖ Peritonite → SIRS → sepse → choque séptico. Sistema Gastrointestinal Patologia Intestinal I Intest inos: ❖ Funções: digestão, absorção de nutrientes e excreção. ❖ INTESTINO DELGADO: duodeno, jejuno e íleo. ❖ Macroscopia: parede lisa e delgada. Seu interior é formado por uma mucosa com pregueamento perpendicular ao fluxo de alimentos no intestino. O pregueamento é mais visível no intestino delgado do que no intestino grosso. ❖ INTESTINO GROSSO: ceco, cólon ascendente, cólon transverso, cólon descendente, cólon sigmoide e reto. ❖ Macroscopia: possui saculações formadas pelas tênias. Possui mucosa com pregueamentos – menos proeminentes quando comparado ao ID – perpendicular ao sentido do fluxo de alimentos no intestino. Histologia: ❖ Ambos possuem três camadas na mucosa: epitelial + lâmina própria + muscular da mucosa. ❖ A diferença entre os dois está na mucosa, mais especificamente no epitélio. ❖ ID: possui vilosidades intestinais → aumentam a superfície de contato, aumentando a absorção do ID. ❖ Células colunares simples com poucas células caliciformes. ❖ Presença de borda em escova: microvilosidades para absorção de nutrientes. ❖ IG: não há vilosidades; epitélio com criptas = pequenos aprofundamentos da mucosa. ❖ Possui muitas células caliciformes (produção de muco → lubrificação). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 29 Irrigação: ❖ Feita, principalmente, pelas Aa. Mesentéricas Superior e Inferior. ❖ Presença de anastomoses formadas pelas arcadas intestinais → proteção contra isquemias. Doença Isquêmica Intest inal: ❖ Causada por um fluxo sanguíneo deficiente. ❖ Predomina em idosos, acima de 70 anos → essa faixa etária possui mais problemas cardíacos e casos de aterosclerose. ❖ Alta morbidade e mortalidade, em casos de evolução para infarto intestinal. ❖ As consequências dependem da intensidade e da duração do evento isquêmico. ❖ Pode ser: ❖ Crônica → angina abdominal. ❖ Aguda → infarto intestinal. Causas: ➔ INTERRUPÇÃO DO FLUXO SANGUÍNEO: ❖ Obstrução arterial → trombose – associada à aterosclerose – ou embolias. • Causas: IAM, endocardite, arritmias (coração esquerdo). ❖ Obstrução venosa → trombo nas veias mesentéricas. • Dificulta a drenagem sanguínea do intestino → aumento da pressão nas veias, vênulas, capilares, arteríolas e na chegada das artérias mesentéricas. • As artérias mesentéricas passam a ter mais dificuldade de irrigar o órgão. • Condições predisponentes: ICC, inflamação de órgãos abdominais, cirurgias, neoplasias... Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 30 ➔ BAIXA PERFUSÃO TECIDUAL: ❖ Ex.: ICC, desidratação, estado de choque. ➔ FATORES MECÂNICOS: ❖ Hérnias = protrusão de uma víscera abdominal para fora da cavidade peritoneal em locais de menor resistência. ❖ O intestino pode ser “estrangulado” → afeta o trânsito/obstrução intestinal e a irrigação. ❖ Aderência = traves fibrosas que se desenvolvem entre duas alças do intestino ou entre uma alça e a parede abdominal. ❖ Normalmente surgem após manipulação cirúrgica do abdômen. ❖ Também causa estrangulamento → isquemia e obstrução do fluxo intestinal. ❖ Volvo ou vôlvulo = torção da alça intestinal sobre si mesma. ❖ Causa obstrução do fluxo normal e isquemia. ❖ Pode ser idiopático, mas, na maioria dos casos, está relacionado aos megas, como o megacólon chagásico. ❖ Intussuscepção = invaginação da alça dentro dela mesma. ❖ Gera compressão vascular e pode obstruir o trânsito. ❖ Não é muito comum. ❖ Ocorre, sobretudo, em crianças. ❖ Está relacionada a alterações do peristaltismo intestinal. ISQUEMIA INTESTINAL CRÔNICA: ❖ Ocorre em pacientes com aterosclerose das artérias mesentéricas. ❖ Baixo fluxo sanguíneo → hipóxia → angina abdominal (dor intermitente, duração variável e piora após refeições, pois com a alimentação, o aporte sanguíneo para essas artérias tem que ser aumentado. Como a artéria está obstruída, a dor abdominal piora. ❖ A hipóxia causa lesões nas células epiteliais, gerando inflamação naquela região. Isso pode causar erosão ou, até mesmo, ulceração da mucosa. ❖ Pode haver um processo reparativo → fibrose da lesão. ❖ A fibrose pode ser excessiva, causando estenose. ISQUEMIA INTESTINAL AGUDA: ❖ A intensidade e a duração determinam: ❖ Infarto apenas da mucosa: intensidade e duração baixas. Necrose restrita à camada mucosa. ❖ Infarto transmural: intensidade e duração prolongadas. Afeta, sobretudo, o jejuno distal, íleo e flexura esplênica. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 31 ➔ INFARTO DA MUCOSA: ❖ Necrose somente da mucosa, no máximo da submucosa. ❖ Causas: baixa perfusão tecidual, comum em estados de desidratação, choque e ICC. ❖ Muitas vezes, é precipitado por vasoconstrição. ❖ Caso a causa seja tratada, essa lesão pode ser reparada. ❖ O prognóstico é melhor do que o infarto transmural. MORFOLOGIA: ❖ Microscopia: perda da arquitetura habitual do epitélio; presença de sangue represado nos capilares. ❖ Macroscopia: exterior do órgão mais avermelhada; congestão. Não há necrose da serosa, apenas congestão e hiperemia. ➔ INFARTO TRANSMURAL: ❖ Necrose de toda a parede intestinal. ❖ Causas: obstrução (trombo/êmbolo) da artéria mesentérica superior → mais obliqua = mais fácil do trombo penetrar. A MS também é mais calibrosa, logo isso facilita a entrada do êmbolo/trombo. ❖ Infarto vermelho, do tipo hemorrágico. Isso ocorre por conta das anastomoses, que fazem reperfusão do órgão em situações de obstrução da artéria mesentérica superior. ❖ Segmentos mais acometidos: jejuno distal, íleo e flexura esplênica = irrigados pela AMS. ❖ Possui um prognóstico ruim e alta mortalidade. ❖ Predispõe a colonização bacteriana. MORFOLOGIA: ❖ Microscopia: necrose isquêmica + inundação hemorrágica; afluxo de células inflamatórias, principalmente neutrófilos (infiltrado polimorfonuclear). A isquemia com a necrose predispões À colonização bacteriana, que pode gerr perfuração intestinal. Infarto (intensa eosinofilia). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 32 ❖ Macroscopia: paredes enegrecidas, edemaciadas e congestas; infarto do tipo hemorrágico, em razão das anastomoses das arcadas mesentéricas. ❖ Limite nítido entre mucosa normal e mucosa infartada = obstrução arterial → o fluxo é sessado de uma vez. ❖ Limite menos nítido: obstrução venosa. A artéria continua irrigando aquela região; tempo de hipóxia diferente. Clínica: ❖ Dor abdominal súbita e intensa, mais localizada na região periumbilical. ❖ Taquicardia e hipotensão arterial. ❖ Redução ou abolição dos movimentos peristálticos. ❖ Pode ocorrer náuseas e vômitos. ❖ Diarreia sanguinolenta (HDB = hemorragia digestiva baixa). ❖ HDB: sangramentos que ocorrem abaixo da Flexura Duodenojejunal (Ângulo de Treitz). Complicações: ❖ Choque hipovolêmico. ❖ Íleo paralitico ou adinâmico → perda dos movimentos contráteis normais em razão da necrose. ❖ Peritonite → com a necrose, a parede abdominal perde sua capacidade de impermeabilidade; proliferação bactéria. ❖ Perfuração do intestino → isquemia + proliferação bacteriana. ❖ Sepse → choque séptico. Prognóstico: ❖ Ruim. ❖ Influenciado pela extensão da lesão e pelo tempo do diagnóstico. ❖ Mortalidade de 40-70%. ❖ Obstrução arterial. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 33 Apendicite Aguda: ❖ Inflamação aguda do apêndice cecal.❖ Mais comuns em crianças, adolescentes e adultos jovens. ❖ H:M (2:1). Causas: ❖ Qualquer coisa que seja capaz de obstruir a luz do apêndice: ❖ Fecalitos; ❖ Parasitas, como áscaris; ❖ Corpo estranho; ❖ Tumores. Patogênese: ❖ Obstrução da luz → retenção de muco → proliferação de bactérias e distensão da parede → aumento da pressão intraluminal → compressão venosa → isquemia → hipóxia + resposta inflamatória. Clínica: ❖ Hiporexia (perda do apetite), náuseas e vômitos. ❖ Febre. ❖ Dor periumbilical e, posteriormente, dor na fossa ilíaca direita → Sinal de Blumberg +. ❖ Compressão do ponto McBurney’s (linha imaginária entre o umbigo e a crista ilíaca direita anterior; divide em três terços – encontro dos 2/3 proximais com o 1/3 distal) → dor. ❖ Leucocitose com desvio para esquerda, ou seja, células jovens e imaturas são lançadas na corrente sanguínea. Morfologia: ❖ Macroscopia: ❖ Depende da fase da apendicite. ❖ Hiperemia, distensão, hemorragia, depósitos de fibrina e necrose. ❖ Microscopia: ❖ Imagem da esquerda: apêndice inflamado, com infiltrado inflamatório; epitélio destruído. ❖ Imagem da direita: maior aumento – infiltrado inflamatório do tipo polimorfonuclear – rico em neutrófilos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 34 Doença de Hirschsprung: ❖ Também chamada de Megacólon Aganglionico Congênito. ❖ Causa de obstrução intestinal em recém-nascidos e crianças. ❖ Relativamente rara (1:5000). ❖ Predomina no sexo masculino. ❖ Surge, principalmente, de forma esporádica, mas pode estar associada a outras anomalias, como a Síndrome de Down (10%). ❖ Causa: aganglionose → ausência de gânglios, ou seja, falta de neurônios nos plexos nervosos no intestino (Meissner e Auerbach). ❖ Afeta, sobretudo, o retossigmoide; pode acometer todo o intestino. Patogênese: ❖ Segmento intestinal sem neurônio → não há contrações peristálticas → obstrução funcional → o segmento anterior (proximal) dilata, pois o conteúdo se acumula nessa região. Clínica: ❖ Doença congênita. ❖ Manifesta-se no período neonatal: • Ausência ou dificuldade em eliminar o mecônio (fezes). • Distensão abdominal. • Vômitos. ❖ Constipação intestinal crônica: • Predispõe a enterocolites = infecções, associadas a estase. • Pode haver perfuração, peritonite, sepse e choque séptico. Diagnóstico: ❖ Biópsia aberta para poder observar os neurônios nos plexos nervosos submucoso e muscular. Ausência dos plexos. Tratamento: ❖ Ressecção da região agangliônica. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 35 Doença Divert icular do Cólon: ❖ Condição patológica adquirida. ❖ Divertículos = dilatações saculares da mucosa e da submucosa através da camada muscular da parede intestinal. ❖ São divertículos falsos. ❖ Acomete mais idosos (>60 anos). ❖ Acomete, sobretudo, o cólon sigmoide. ❖ Surgem na borda mesentérica do cólon. Patogênese: ❖ Dois fatores: 1. Fraqueza local da parede: • O ponto de penetração dos vasos é uma região de fraqueza da parede intestinal. • Os divertículos ocorrem na borda mesentéria (região onde chegam os vasos mesentéricos). 2. Aumento da pressão intraluminal: • As ondas de peristaltismo são estimuladas pelo volume fecal. • Em dietas pobres em fibras e vegetais, ocorrem contrações segmentares anômalas que provocam um grande aumento da pressão intraluminal, o que pode predispor à formação dos divertículos. • Está relacionada com o padrão alimentar. • Por que o cólon esquerdo é mais afetado? Porque o bolo fecal no lado esquerdo do IG já está mais bem formado e endurecido, o que aumenta a pressão luminal. Morfologia: ❖ Macroscopia: • Óstios = comunicação dos divertículos com a luz intestinal. • Arredondados, pequenos e acinzentados. • Pode haver acúmulo de fezes → complicações. Clínica: ❖ A maioria é assintomático. ❖ Sintomas: desconforto; dor abdominal tipo cólica; constipação intercalada com diarreia; distensão abdominal/ hemorragia discreta. ❖ A clínica está associada a possíveis complicações, como inflamações. Complicações: ❖ Diverticulite = inflamações → causadas, sobretudo, pela entrada de fezes nos divertículos. ❖ Perfuração → peritonite, abcessos e fistulas. ❖ Reparação → fibrose → estenose. Doença Inflamatória Intest inal: ❖ Condição idiopática, de inflamação prolongada, exacerbada e destrutiva. ❖ Parece resultar da ativação do sistema imune por antígenos da flora microbiana normal do hospedeiro. ❖ Sintomas: diarreia mucossanguinolenta crônica e recidivante, pode durar anos ou décadas. ❖ Predomina em mulheres, brancas, entre 20-40 anos. ❖ Duas formas: Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa Idiopática (RUCI). ❖ NÃO É UMA DOENÇA AUTOIMUNE. Patogênese: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 36 ❖ Desconhecida. ❖ Resposta imunitária anormal contra a flora intestinal. ❖ A composição alterada da microbiota intestinal pode predispor ao surgimento da doença. ❖ Disfunção do epitélio intestinal, que permite o contato de antígenos da bactéria com células inflamatórias na mucosa intestinal. ❖ Fatores Genéticos: • Risco maior quando há membro da família afetado. • Mais de 160 genes associados → destaca-se o gene NOD2. • NOD2: mutado em 10% dos pacientes; codifica uma proteína anômala que se liga aos peptideoglicanos bacterianos → ativam vias de sinalização inflamatória. ❖ Microbiota: estudos mostram que animais isentos de bactérias não desenvolvem colite, logo somente animais colonizados desenvolvem a colite. ❖ Mecanismos Imunitários: • Ativação exacerbada da resposta imune → defeito intrínseco do sistema imune ou falha nos mecanismos de supressão da resposta inflamatória (não se sabe ao certo). • Mediada por linfócitos TCD4+. • Parte do tratamento é feita com medicamentos imunossupressores. ❖ Defeitos Epiteliais: • Defeitos na função de barreira permitem o contato de antígenos bacterianos com células inflamatórias da mucosa → apresentação de antígenos para DC e macrófagos, que ativam o sistema imune. Diagnóstico: ❖ Associação entre a clínica, exames laboratoriais e análise histopatológica. ❖ Mesmo assim, pode ser indeterminada em alguns casos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 37 ❖ Retocolite ulcerativa estende-se somente no intestino grosso. ❖ Lesões alteadas/intercaladas = áreas normais intercaladas com áreas doentes na Doença de Crohn. ❖ Inflamação transmural = todas as camadas. DOENÇA DE CROHN: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Congestão, edema e processos inflamatórios que se iniciam na mucosa e, posteriormente, pode se estender por toda a parede. ❖ Causa destruição epitelial, erosões e pode evoluir para úlceras profundas e estreitas. ❖ Áreas mais avermelhadas = úlceras. ❖ Mucosa mais claras = áreas preservadas. ❖ Lesão salteada dentro do próprio segmento afetado ou em segmentos diferentes. ❖ Aspecto em “pedra de calcamento”. ❖ Com o passar do tempo, pode haver a formação de fissuras = úlceras alongadas, estreitas e profundas. ❖ Essas fissuras podem atingir a camada serosa → comunicação com a cavidade peritoneal ou formação de fistulas e de aderências. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 38 ❖ Inflamação transmural → reparo: fibrose → estenose. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Inflamação em todas as camadas (transmural). ❖ IIGMN = neutrófilos. ❖ Formação de granulomas não caseosos; nem sempre estão presentes. ❖ Microabscesso de cripta = coleção de neutrófilos no lumen da cripta = marcador de atividade da Doença de Crohn. ❖ Agregados linfoides (mais basófilos). ❖ Distorção da arquitetura da mucosa. Íleo terminal e válvula íleo cecal afetadas. Setas azuis = úlceras profundas e estreitas. Setas pretas = fissuras lineares e tortuosa. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 39 ❖ Pode haver úlcerasfinas e fibrose (setas pretas). Clínica: ❖ Variável. ❖ Início: ataques intermitentes de diarreia leve, febre e dor abdominal. ❖ O paciente pode ficar assintomático por vários períodos. ❖ Hematoquezia = sangue vivo nas fezes. Complicações: ❖ Anemia. ❖ Obstrução intestinal em razão da fibrose → estenose. ❖ Pode haver perfurações e formação de fístulas, abscessos e peritonite → sepse. ❖ Desidratação e desnutrição. ❖ Aumenta o risco de câncer colorretal. Isso ocorre em razão do aumento do turn ouver celular + ambiente hostil = inflamação → erros na multiplicação celular. RETOCOLITE ULCERATIVA: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Processo inflamatório contínuo. ❖ Mucosa hiperemiada/avermelhada; friável; sangra com facilidade. ❖ Transição abrupta entre o cólon sadio e doente. ❖ Úlceras rasas e limitadas pela mucosa ou submucosa. ❖ Pseudopólipos inflamatórios: ilhas isoladas de mucosa em processo de regeneração; parece um pólipo. ❖ Mucosa hiperemiada, de aspecto granular. Friável. ❖ Ilhas isoladas de mucosa regenerativa: aspecto falso de um pólipo → Pseudopólipo regenerativo inflamatório. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 40 ➔ MICROSCOPIA: ❖ Inflamação da mucosa. ❖ A inflamação se estende na mucosa, no máximo na submucosa. ❖ Áreas ulceradas + pseudopólipo. ❖ Distorção da arquitetura. ❖ Infiltrado inflamatório. Obs.: Como os achados microscópicos são bastante semelhantes aos achados da Doença de Crohn, o diagnóstico por biópsia é difícil. É necessário a endoscopia. Clínica: ❖ Distúrbio recorrente, caracterizado por episódios de dor abdominal, com diarreia mucossanguinolenta. ❖ Períodos assintomáticos. Complicações: ❖ Anemia. ❖ Desidratação. ❖ Aumenta o risco para câncer colorretal (mais do que a D. de Crohn). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 41 Neoplasias Intestinais ❖ Adenoma e adenocarcinoma. ❖ Tumores primários do intestino delgado são raros. ❖ Tumores do intestino grosso: pólipos e câncer colorretal. • Pólipos: o Não neoplásicos: pólipos hiperplásicos e pólipos hamartomatosos (lesão constituída por tecido normal do local, que cresce de forma desordenada). O pólipo hiperplásico não carrega risco de malignidade, mas os pólipos hamartomatosos podem evoluir para câncer colorretal. o Neoplásicos: pólipos adenomatosos ou adenomas. Neoplasia benigna, mas possui risco aumentado para o câncer colorretal. PÓLIPOS COLÔNICOS: ❖ Lesões elevadas formadas por criptas e por glândulas da camada mucosa que se projetam para cima da linha da mucosa, formando protusão para a luz colônica. ❖ Pólipos Hiperplásicos: hiperplasia de criptas e das glândulas mucosas. ❖ Pólipos Neoplásicos: proliferação neoplásica de criptas e de glândulas mucosas. Pólipos Hiperplásicos: ❖ Resultam de hiperplasia, ou seja, aumento do número de criptas e de glândulas da camada mucosa. ❖ Mais frequentes. ❖ São pequenos (0,1 a 1cm). ❖ Sésseis: a base de implantação do pólipo se dá diretamente na mucosa. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 42 ❖ Únicos ou múltiplos. ❖ Mais comuns no retossigmoide. ❖ Ocorrem principalmente a partir de 50 anos. ❖ Criptas bem definidas,muitas vezes alongadas. A maturação das células tem que estar preservada (não há displasia). Aspecto serrilhado (a flanfula não é redonda,mas sim irregular. Pólipos Adenomatosos (Adenomas): ❖ Proliferação neoplásica de células epiteliais com diferentes graus de atipia celular (displasia). ❖ O adenoma é uma neoplasia benigna. ❖ Únicos ou múltiplos. ❖ Sésseis ou pediculados. ❖ Até 10cm. ❖ Após 40 anos. Principalmente, após 50 anos. ❖ Mais comuns no cólon esquerdo (retossigmoide). ❖ Maioria assintomática. ❖ Potencial de evoluir para adenocarcinoma. Os adenomas precedem os adenocarcinomas em, aproximadamente, 10 anos. ❖ Classificação: tubular, viloso e tubuloviloso. Adenoma Tubular: ❖ Maioria dos adenomas (75%). ❖ Glândulas tubulares com graus de atipias epiteliais (displasia). ❖ Lesão arredondada, de aspecto liso ou cerebiforme. ❖ Únicos ou múltiplos. ❖ Geralmente pequenos. ❖ Sésseis ou pediculados. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 43 ❖ Esporádicos ou síndromes genéticas. Adenoma Viloso: ❖ Minoria (10%) dos adenomas. ❖ Composto por projeções/ramificações papilíferas com atipias epiteliais (displasia). ❖ Geralmente sésseis e únicos. ❖ Tamanho variável: até 10cm. ❖ Risco 10x maior do que o adenoma tubular de transformação para adenocarcinoma. ❖ Evolui para adenocarcinoma em 30-50% dos casos. ❖ Histologia: projeções em dedos de luvas, arboriformes e papiliformes. Adenoma Tubuloviloso: mistura dos outros dois tipos. Formas de Ocorrência dos Adenomas: ❖ Forma esporádica ou aleatória: • Não relacionado à transmissão genética ou familiar. • Pólipo único ou múltiplos (polipose colônica). ❖ Forma genética ou familiar: • Centenas ou milhares de pólipos. • Polipose Colônica Familial – Polipose Adenomatosa Familial (FAP). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 44 Polipose Adenomatosa Familial (FAP): ❖ Doença genética, de herança autossômica dominante, causada por mutações do gene APC. Esse gene normalmente bloqueia o crescimento celular desordenado. Se ele está mutado, ele perde a função, logo ocorre crescimento desordenado. ❖ Os pólipos começam a surgir na 2ª e 3ª décadas de vida. ❖ Numerosos pólipos adenomatosos (dezenas a milhares). Forma Clássica: ❖ Mais de 100 pólipos (500 a 2500). ❖ Predominam no cólon esquerdo. ❖ Risco altíssimo para desenvolvimento de câncer (100%). Se o paciente não for tratado, ele vai desenvolver câncer em alguma fase da vida. ❖ Nesse caso, deve-se retirar todo o cólon do paciente. ❖ Os tumores tendem a surgir entre 30 e 50 anos de idade. Forma Atenuada: ❖ <100 pólipos (+- 50). ❖ Predomina no cólon direito. ❖ Risco para desenvolvimento de câncer (50%). ❖ Nesse caso, pode ser que o cirurgião consiga tirar todos os pólipos, dependendo do paciente. Síndrome de Gardner: pólipos colônicos + lesões extraintestinais. Ex: osteomas, cistos cutâneos e tumores da tireoide. Síndrome de Turcot: pólipos colônicos + tumores malignos do SNC. Adenocarcinoma Colônico: ❖ 95% dos tumores malignos do intestino grosso. ❖ Neoplasia maligna de alta prevalência mundial. ❖ Brasil: neoplasia mais frequente do TGI (ambos os sexos). ❖ Local predominante: cólon esquerdo (70%) – retossigmoide. ❖ Tumores esporádicos: 60 a 80 anos. Provenientes dos adenomas. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 45 ❖ Tumores hereditários: <50 anos. Síndromes Genéticas Familiares: FAP e HNPCC (Câncer colorretal hereditário não associado à polipose). Epidemiologia: ❖ Segundo tumor mais incidente nos homens e nas mulheres. ❖ Afeta igualmente ambos os sexos. Patogênese: ❖ Dieta (hábitos alimentares): • Ingesta de poucas vitaminas e fibras: isso aumenta a quantidade de radicais livres na luz intestinal, o que pode ser lesivo para as células. A ingestão de poucas fibras altera a microbiota do paciente. • Alta ingesta de carboidratos refinados, carne vermelha e lipídeos: a microbiota alterada pode degradar os carboidratos refinados, produzindo substancias oxidativas e tóxicas para a mucosa colônica. • Dieta rica em carnes vermelhas e gordura aumenta a síntese hepática de colesterol e de ácidos biliares. Essas substancias podem ser convertidas em substancias carcinogênicas, pela microbiota intestinal. ❖ Estilo de vida: • Sedentarismo: redução do trânsito intestinal, o que aumenta o contato do bolo fecal com o epitélio intestinal. • Obesidade. • Tabagismo e alcoolismo. ❖ Obs: Doença de Crohn e colite ulcerativa também predispõe ao surgimento do câncer. Via Supressora: ❖ Responsável pela maioria dos carcinomas colônicos. ❖ Genes supressores de tumor(APC). ❖ Em condições normais, a proteína APC se liga à beta-catenina e a degrada. Quando o gene está mutado, a beta-catenina fica livre e se desloca para o núcleo e ativa a transcrição do DNA, estimulando o crescimento celular. ❖ Proto-oncogene (K-RAS). Via Mutadora: ❖ Minoria dos adenocarcinomas colônicos. ❖ Instabilidade nos genes de reparo do DNA (MSH2 e MLH1). ❖ Instabilidade de microssatélites. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 46 Via Supressora (via APC/beta-catenina): ❖ A sequência adenoma → carcinoma é o protótipo para o desenvolvimento da maioria dos carcinomas colorretais. • 1° evento: mutação de gene supressor do tumor (primeiro golpe no gene APC). • 2° evento: inativação do 2° alelo normal (segundo golpe): dificuldade de degradar a beta-catenina. • Com o passar o tempo, surgem os adenomas, que acumulam mutações de proto-oncogenes (K- RAS) e de genes supressores de tumor (TP53). • Mutações adicionais levam ao carcinoma. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 47 Patogênese: Sequência Adenoma → Carcinoma: ❖ Fatores de maior risco de evolução para adenocarcinoma colônico: • Adenomas colônicos que apresentem: • Componente viloso; • Tamanho > 2cm; • Multiplicidade; • Displasia de alto grau (DAG). • Síndrome hereditária → polipose colônica (adenomatosa) familial. Síndrome de Lynch – Câncer de Cólon Hereditário Não Associado à Polipose (HNPCC): ❖ Forma sindrômica mais comum de câncer de cólon; ❖ 2 a 4% dos casos de câncer colorretal; ❖ Pacientes mais jovens (<50 anos); ❖ Cólon direito; ❖ Relacionada à mutação de genes de reparo do DNA → IMS; ❖ Genes mais envolvidos: MSH2 e MLH1. ❖ Acúmulos de mutações. ❖ Pode associar-se ao câncer de: endométrio, ovário, estômago, pâncreas e vias biliares. Morfologia: ❖ Macroscopia: • Cólon direito: o Lesões úlcero-infiltrativas; o Lesões polipoides/vegetantes/exofíticas. o Luz ampla, crescimento lento e fezes líquidas: obstrução rara. • Cólon esquerdo: o Lesões úlcero-infiltrativas; o Lesões anulares e constritivas. ❖ Microscopia: • Não há diferença entre o lado esquerdo e o lado direito. Displasia e glândulas infiltrando a parede colônica. • Proliferação de células colunares atípicas, formando glândulas que invadem/infiltram as camadas da parede colônica. Clínica: ❖ Fase precoce: assintomático. ❖ Cólon direito: • Silencioso: menor obstrução, pois nesse local as fezes são mais líquidas. • Sinais e sintomas inespecíficos: fadiga e fraqueza por anemia cônica. ❖ Cólon esquerdo: • Obstrução intestinal progressiva. • Alterações do hábito intestinal e das fezes: • Diarreia; • Constipação: dor abdominal; Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 48 • Perda de sangue nas fezes (oculto ou evidente - hematoquezia). Complicações: ❖ Emagrecimento acentuado (caquexia). ❖ Sangramento → crônico (anemia) ou agudo (hematoquezia) → choque hipovolêmico. ❖ Obstrução. ❖ Perfuração → peritonite → sepse → choque séptico. ❖ Fístulas. ❖ Disseminação (ascite carcinomatosa, carcinomatose peritoneal, infiltração de órgãos adjacentes ou metástases). Prognóstico: ❖ Profundidade de invasão da parede intestinal. ❖ Metástase. ❖ Sobrevida global em 5 anos: 30 a 65%. Estradiamento: ❖ (N): Metástases linfonodais. ❖ (M): Metástases à distância: fígado, ossos e pulmões. Patologia Hepática Fígado: ❖ Órgão sólido, localizado no hipocôndrio direito. Revestido por cápsula (Glisson). ❖ Peso: 1300 a 1800g. É mais pesado no homem. Funções: ❖ Metabólicas; ❖ Síntese; ❖ Catabólicas; ❖ Armazenamento; ❖ Excretora; ❖ Defesa (células de Kupffer). ❖ O fígado pode ser dividido em 8 segmentos, pois cada um possui vascularização e drenagem diferentes. Logo, é possível remover um segmento sem prejudicar os demais. ❖ Dupla circulação: veia porta e artéria hepática comum. ❖ Espaço portal: ducto biliar, arteríola hepática e vênula que drena para a feia porta. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 49 ❖ A arteríola e a vênula se fundem e formam os capilares sinusoides hepáticos, os quais drenam para as veias centrolobulares. ❖ As veias centrolobulares se unem e formam as veias hepáticas: direita, intermédia e esquerda. ❖ A artéria hepática é responsável por 30 a 40% do sangue eu entra no órgão e a veia porta é responsável por 60 a 70%. O sangue da artéria hepática é mais rico em oxigênio e o sangue da veia porta é mais rico em nutrientes. ❖ O lóbulo hepático possui forma de hexágono. Cada vértice possui um espaço porta. ❖ Cada lóbulo é dividido em 6 triângulos, chamados de ácinos. ❖ Cada ácino é dividido em 3 zonas: • Zona 1: peritportal. • Zona 2: mediozonal. • Zona 3: perivenular. ❖ O capilar passa primeiro na zona 1, depois na zona 2 e depois na zona 3, até chegar na veia centrolobular. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 50 ❖ Imagem da esquerda: hepatócitos (células poligonais contendo núcleo pequeno e arredondado) em torno da veia centrolobular. ❖ Imagem da direita: espaço portal sustentado por tecido conjuntivo fino, contendo um ramo de veia porta, um ramo de artéria hepática e um ramo de ducto biliar. Alterações Circulatórias: ❖ Qualquer alteração circulatória pode ter impacto considerável no fígado. Bloqueio da Circulação Arterial: ❖ Infarto é raro, devido à dupla circulação. ❖ Quando o infarto surge, geralmente ele é pequeno e do tipo hemorrágico. ❖ Fígados transplantados: anastomose vascular. A fragilidade da anastomose pode gerar dificuldade de vascularização do órgão, podendo gerar um infarto. Influxo de Sangue ou Fluxo Intra-Hepático Insuficientes: ❖ Obstruções de veia porta por trombose, dificultando a entrada de sangue no fígado. ❖ Cirrose hepática: o sangue até consegue entrar, mas possui dificuldade de circular pelo fígado. Bloqueio da Drenagem Venosa (veias hepáticas): ❖ Represamento de sangue no fígado. ❖ Causas principais: • Insuficiência cardíaca direita → fígado cardíaco. • Trombose ou compressão das veias hepáticas ou VCI → Síndrome de Budd-Chiari. Fígado Cardíaco: ❖ Causa: insuficiência cardíaca direita. Patogênese: ❖ Veia porta → ramos da veia porta (espaço portal) → capilares sinusoides → veias centrolobulares → veias hepáticas → VCI → coração direito. Se o sangue fica represado no coração direito, ele gera estase sanguínea no fígado, sobretudo nas veias centrolobulares. Achado principal: ❖ Congestão de veias centrolobulares. ❖ Se intenso, temos necrose e hemorragia centrolobular. Possível hipertensão portal. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 51 Morfologia: ❖ Hepatomegalia congestiva dolorosa: quando aumentamos o fígado, ocorre distensão da cápsula de Glisson, que possui muitas terminações nervosas. ❖ As áreas mais escuras (congestas) são áreas de veias centrolobulares. A congestão ocorre mais na zona 3. ❖ Microscopia: congestão na região da veia centrolobular e no seu entorno, o espaço perivenular (zona 3). Síndrome de Budd-Chiari : ❖ Obstrução por trombose de duas ou três veias hepáticas ou da veia cava inferior. ❖ Quando ocorre trombose de apenas uma veia hepática, não ocorre congestão. ❖ Isso gera aumento da pressão intra-hepática. Causas: ❖ Distúrbios trombogênicos diversos. Morfologia: ❖ Igual ao fígado cardíaco (congestão), mas em geral a congestão é mais intensa. ❖ Congestão muito intensa, que pode levar à grande necrose dos hepatócitos. Clínica: hepatomegalia dolorosa, ascite e hipertensão portal. Síndromes Hepáticas: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 52 Aspectos Gerais das Doenças Hepáticas: ❖ Vulnerável a insultos metabólicos, tóxicos, microbianos, circulatórios e neoplásicos. ❖ Principais doenças hepáticas primárias: hepatites virais, doenças hepáticas gordurosas(alcoólica e não alcoólica) e CHC. ❖ Grande reserva funcional. ❖ Para perder função hepática que gere manifestação clínica, temos que perder cerca de 70% do parênquima hepático. ❖ Processo insidioso → clínica tardia (meses a anos). ❖ Flutuações das lesões hepáticas e seu processo de reparo (cicatrização) podem passar despercebidas. ❖ Alterações laboratoriais: provas de função hepática. ❖ Muitas vezes, o paciente com doença hepática é diagnosticado tardiamente, logo já é uma doença hepática crônica → cirrose hepática. Exames Laboratoriais: ❖ Enzimas hepatocelulares: marcadores de lesão hepática. • TGO (AST) → mais específica. • TGP (ALT). ❖ Enzimas biliares: marcadores de lesão de via biliar. • Fosfatase alcalina. • Gama GT. ❖ Substâncias secretadas na bile: icterícia. • Bilirrubina → total e frações (BD e BI). ❖ Proteínas secretadas no sangue: marcadores de insuficiência hepática. • Albumina. • Fatores de coagulação → fibrinogênio, protombina, fatores V, VII, IX e X. Síndromes Hepáticas: ❖ Síndrome é a compilação de sinais e de sintomas que, em seu conjunto, definem o diagnóstico e o quadro clínico de uma condição médica. ❖ Distúrbios do metabolismo da bilirrubina (icterícia/colestase). ❖ Insuficiência hepática. ❖ Hipertensão portal. ❖ Insuficiência hepática e hipertensão portal estão muito relacionadas à cirrose hepática. Distúrbios do Metabolismo da Bilirrubina Drenagem Bi liar: ❖ O hepatócito produz a bile, que é drenada pelos canalículos biliares. Esses canalículos se abrem e se juntam nos dúctulos biliares (Canal de Hering). Os dúctulos biliares se juntam e formam os ductos biliares no espaço porta. Depois, o ducto biliar se funde nos ductos interlobulares/segmentares e ductos lobares (direito e esquerdo). ❖ Os ductos lobares/hepáticos direito e esquerdo se fundem, formando o ducto hepático comum. O ducto hepático comum se funde ao ducto cístico, formando o ducto colédoco. O ducto colédoco se abre na papila maior (Ampola de Vater), no duodeno. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 53 Função da Bile: ❖ Emulsificação de gordura. ❖ Eliminação de bilirrubina, excesso de colesterol e de xenobióticos. Icterícia: ❖ Coloração amarelo-esverdeada da pele, esclera e mucosas. ❖ Ocorre por aumento sérico de bilirrubina por: • Excesso de produção; • Déficit de eliminação. Colestase: ❖ Interrupção do fluxo biliar, com retenção sistêmica de todos os componentes da bile, inclusive da bilirrubina. Ciclo Entero-Hepático da Bilirrubina: ❖ A degradação das hemácias gera a hemoglobina, que é degrada em duas frações: globina e grupo heme. ❖ O heme é convertido em biliverdina pela ação da hemeoxigenase. ❖ A biliverdina é convertida em bilirrubina não conjugada (indireta) pela ação da biliverdina redutase. ❖ A bilirrubina não conjugada (indireta) não é hidrossolúvel, logo ela circula combinada à albumina. No fígado, a BI é conjugada em BD, por ação da UGT-1A1. ❖ A bilirrubina conjugada (direta) é convertida em urobilinogênio no intestino, pela ação da beta- glicuronidase. ❖ Parte do urobilinogênio é reabsorvido para a corrente sanguínea, mas a maior parte sofre oxidação e se transforma em estercobilina. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 54 ❖ A BD é hidrossolúvel, logo ela não precisa da albumina para circular na corrente sanguínea. Icterícia: ❖ Não é uma doença, mas sim uma manifestação/sinal de algum problema. Patogênese: 1. Produção excessiva de bilirrubina. 2. Captação reduzida pelo hepatócito. 3. Conjugação prejudicada. ❖ Esses 3 fatores causam aumento da bilirrubina indireta. 1. Excreção hepatocelular reduzida (deficiência de transporte). 2. Fluxo biliar prejudicado: colestase. ❖ Esses 2 fatores causam aumento da bilirrubina direta. Icterícia Neonatal Fisiológica: ❖ Icterícia precoce em RN por imaturidade fisiológica dos sistemas de conjugação e de excreção da bile. ❖ Até 2 semanas de vida. ❖ Hiperbilirrubinemia indireta (não conjugada) discreta e transitória. ❖ A icterícia pode ser exacerbada pela amamentação, pois o leite materno possui algumas enzimas que desconjugam a bilirrubina. Tratamento → Fototerapia: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 55 ❖ Ação da luz modifica a bilirrubina indireta e a torna hidrossolúvel. ❖ A luz altera as ligações de hidrogênio da BI, tornando-a hidrossolúvel, logo ela consegue ser eliminada pela urina. ❖ O banho de luz NÃO transforma a BI em BD. Síndrome ou Doença de Gi lbert: ❖ Deficiência na conjugação da bilirrubina por deficiência parcial da enzima UGT-1A1. ❖ Elevação discreta de bilirrubina indireta de forma intermitente. ❖ Caráter genético/familiar. ❖ Herança autossômica recessiva. ❖ Atinge até 5% da população mundial. ❖ Associada ao estresse, exercício vigoroso ou jejum. ❖ Não há consequências clínicas e não requer nenhum tipo de tratamento específico. Colestase: ❖ Interrupção do fluxo biliar para o intestino, com refluxo de todos os componentes da bile para a corrente sanguínea. Causas: ❖ Intra-hepática: • Excreção deficiente de bilirrubina direta pelos hepatócitos. • Obstrução dos canalículos/ductos biliares. ❖ Extra-hepática: obstrução dos grandes ductos (hepático e colédoco). Clínica: ❖ Icterícia, colúria e acolia fecal (fezes sem cor). ❖ Prurido (os sais biliares refluem para corrente sanguínea e causam prurido) e xantomas (pequenos tumores benignos de pele, contendo grande quantidade de lipídeos). Os xantomas ocorrem, pois o colesterol reflui para a corrente sanguínea. ❖ Má absorção intestinal de vitaminas lipossolúveis (K, A, D, E). ❖ Aumento da fosfatase alcalina e da gama GT. ❖ Hepatócitos com depósito de bile: coloração marrom. ❖ A proliferação de canalículos biliares é uma tentativa de reverter a colestase, mas isso não resolve nada. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 56 Sistema Gastrointestinal Hepatites Virais Hepatites: ❖ Conjunto de lesões necroinflamatórias (necrose + inflamação dos hepatócitos) que acometem o fígado de maneira difusa, de forma heterogênea. ❖ Causadas por agentes agressores diversos e respostas do hospedeiro. ❖ Causas: virais; autoimunes; drogas/medicamentos; alcoólicas; metabólicas. ❖ Vírus: • Mononucleose (EBV) • Citomegalovírus (CMV) • Febre amarela • Adenovírus • Herpes vírus, etc... • Vírus hepatotrópicos = com afinidade pelos hepatócitos – A, B, C, D e E. Formas de Apresentação: INFECÇÃO AGUDA ASSINTOMÁTICA: ❖ Maioria dos casos. ❖ Evidência sorológica: aumento da TGO ou TGP. ❖ Pode evoluir espontaneamente para a cura ou progredir para a forma crônica. ❖ Muitas vezes não é diagnosticada. ❖ Pode ser causada por todos os vírus da hepatite. HEPATITE AGUDA SINTOMÁTICA: ❖ Anictérica → sintomas inespecíficos – fadiga, náusea, perda de peso, perda do apetite, febre baixa, dores e fígado doloroso à palpação. ❖ Ictérica → aumento da bilirrubina direta – colúria, acolia fecal, prurido cutâneo. ❖ Pode evoluir para cura ou para forma crônica. ❖ Pode ser causada por todos os vírus da hepatite, sobretudo o HAV e HBV. ❖ Hepatite fulminante: • Insuficiência hepática aguda; • Destruição maciça do parênquima hepático; • Fatal em até 70% dos casos; • HAV, HBV, HDV, HCV e HEV (mais raro). HEPATITE CRÔNICA: ❖ Persistência da inflamação por mais de 6 meses. ❖ Sintomática ou não. ❖ Evidência sorológica. ❖ Aumento das transaminases (TGO e TGP). ❖ Pode ou não apresentar fibrose. ❖ Vírus: HCV, HBV e HDV. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 57 Hepatite A – HAV: ❖ Vírus de RNA. ❖ Evolução normalmente é benigna e autolimitada – baixa letalidade. ❖ Incubação curta: 2-6 semanas. ❖ Doença endêmica no Brasil; relacionada aos baixos níveis socioeconômicos e de higiene. ❖ Transmissão:fecal-oral (ingestão de água e alimentos contaminados). ❖ Possui vacina. Formas: ❖ Assintomática. ❖ Aguda (25%) → raramente pode evoluir para hepatite fulminante. ❖ Nunca evolui para a forma crônica. Sorologia da HAV: ❖ O vírus é eliminado nas fezes do paciente – isso começa a ocorrer antes do aparecimento dos sintomas. ❖ IgM anti-HAV (marcador de fase aguda) → inicia-se junto ao aparecimento dos sintomas; com o tempo, passa a decair. ❖ IgG – anticorpo de longa duração → imunidade. ❖ Obs: não é fácil mensurar o IgG do paciente. Para calculá-lo é necessário medir os anticorpos anti- HAV totais e subtrair o IgM anti- HAV. Hepatite B – HBV: ❖ Vírus de DNA (único); mais complexo. ❖ Incubação: 2-26 semanas. ❖ Transmissão: via parenteral, sexual e vertical (mãe-filho). ❖ Vacina – 3 doses (ao nascer, 1 mês e 6 meses de vida). ❖ Problema de saúde global: 400 milhões de portadores no mundo. Formas e Evolução: ❖ Assintomática (65%). ❖ Aguda (25%) → hepatite fulminante (raro). ❖ Crônica (5-10%). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 58 Sorologia da HBV: ❖ O HBV-DNA codifica algumas proteínas = antígenos. ❖ HBcAg: proteína do core (centro) → difícil detecção no soro. ❖ HBsAg: proteína do envelope (superfície) → muito usada na prática; fácil detecção; pode aparecer antes mesmo da apresentação dos sintomas. ❖ HBeAg: proteína do pré-core (pré-central) → a dosagem positiva indica a replicação viral; aparece logo após o surgimento do HBsAg. ❖ HBV-DNA: material genético do vírus. Indica replicação viral e aparece logo após o HBsAg. Anticorpos: ❖ Anti-HBc IgM: significa contato recente com o vírus. ❖ Anti-HBc IgG: significa contato prévio com o vírus (não indica cura). ❖ Anti-HBs: significa proteção contra a infecção. Se a dosagem for positiva, significa que o paciente entrou em contato com o vírus e foi curado ou que o paciente nunca teve contato com o vírus, mas foi vacinado. ❖ Anti-HBe: sugere parada de replicação viral. Infecção Aguda com Resolução: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 59 ❖ O HBsAg aumenta antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Quando ele diminui, ocorre aumento do Anti-HBs, que indica cura da doença. ❖ O HBeAg aparece um pouco depois do HBsAg. Ele indica replicação viral, o que faz com que ocorra aumento das transaminases séricas. Quando o HBeAg diminui, ocorre queda das transaminases séricas. ❖ O IgM-anti-HBc aumenta logo após o início da infecção, junto com o Anti-HBc total. ❖ Posteriormente, para calcular o IgG-anti-HBc, deve-se subtrair o IgM-anti-HBc do Anti-HBc total (área demarcada em amarelo). Progressão para Infecção Crônica: ❖ O HBsAg é permanente na fase crônica. ❖ O vírus está se replicando, pois o HBeAg permanece elevado. ❖ Não há surgimento do anti-HBs, pois ele só surge quando o HBsAg cai, mas na fase crônica o HBsAg permanece elevado. ❖ O IGM-anti-HBc se eleva na fase aguda e depois cai na fase crônica. ❖ O anti-HBc total permanece elevado, pois após a queda do IGM-anti-HBc, o IgG-anti-HBc se eleva. ❖ As transaminases não voltam ao seu nível normal, pois os vírus nos hepatócitos lesam o fígado. Ocorre flutuação dos níveis de transaminases, pois o fígado se regenera em partes. Evolução: ❖ A resposta imune do hospedeiro determina o resultado da infecção. • Resposta imunitária inata e adquirida (mediada por linfócitos TCD4 e CD8). ❖ Alguns indivíduos podem evoluir para a forma crônica: • Idade é o melhor preditor de cronicidade (recém-nascidos → 95% evoluem para a forma crônica). Tratamento: ❖ Antivirais: cura difícil. ❖ Difícil cura na fase crônica. ❖ Medicamentos para retardar a progressão e reduzir a lesão hepática, prevenindo a cirrose. Prevenção: ❖ Vacinação → induz a produção de anticorpos anti-Hbs (95% dos casos). ❖ Triagem de sangue, órgãos e tecidos de doadores. Hepatite C – HCV: ❖ Vírus de RNA instável; apresenta múltiplos genótipos e subtipos. ❖ Não há vacina, devido à instabilidade do vírus. ❖ Incubação: 2-26 semanas. ❖ Transmissão: via parenteral (mais comum), sexual e vertical (mais rara). ❖ É a principal causa de hepatite crônica do mundo. FORMAS: “infecção persistente e hepatite crônica são as marcas registradas da Hepatite C, apesar da natureza geralmente assintomática da doença aguda”. ❖ Assintomática. ❖ Aguda (rara). ❖ Crônica (80-90%) → 20% evoluem para cirrose. Formas e Evolução: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 60 Infecção Aguda Com Resolução: ❖ Logo após a infecção é possível detectar o material genético do vírus (HCV-RNA). ❖ Atinge seu pico juntamente com o pico das transaminases e dos sintomas. ❖ O anti-HCV surge próximo ao pico de HCV-RNA, atinge seu pico, diminui e depois se mantém estável durante toda a vida do paciente. ❖ O anti-HCV não confere cura ao paciente, pois o vírus da hepatite C é muito instável. Progressão para Infecção Crônica: ❖ Persistência da presença do RNA viral e do anti-HCV. ❖ As transaminases atingem seu pico no início da infecção. Com o tempo, podem alternar seus valores de acordo com a atividade viral. Diagnóstico: ❖ Carga viral: HCV-RNA. ❖ Anticorpo: anti-HCV → não confere imunidade. Tratamento: ❖ Medicamentos (ribavirina e interferons). ❖ A cura não impede uma nova infecção. ❖ Não há vacina, pois o vírus de RNA é instável, com vários subtipos. Prevenção: ❖ Triagem de sangue, órgãos e tecidos dos doadores. Morfologia das Hepatites Virais: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 61 Hepatite Aguda: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Fígado congesto, edema e depressões na superfície externa (parênquima necrosado). ❖ Cor esverdeada em caso de colestase. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Degeneração hidrópica = acúmulo de água dentro do citoplasma da célula, por defeitos na membrana plasmática. ❖ Fusão dos hepatócitos por conta de defeitos na membrana plasmática. ❖ Apoptose. ❖ IIMN → predomínio de linfócitos, plasmócitos e macrófagos; predomina da região perivenular com necrose focal (lobular); pode ser portal, discreto e restrito, sem hepatite de interface (não há extravasamento do espaço porta para os hepatócitos). ❖ Colestase → pigmentos biliares nos hepatócitos (hepatocitária) ou nos canalículos (canalicular). Hepatite Aguda Grave (Fulminante): ➔ MACROSCOPIA: ❖ Fígado menor e retraído em razão da destruição. Seta branca: hepatócito com degeneração hidrópica. Váculos brancos no citoplasma. Seta preta: corpo apoptótico; núcleo mais condensado e citoplasma mais eosinof ílico. Seta grande: hepatócito fundido, por defeito na membrana plasmática. • Colestase canalicular → canalículos preenchidos com pigmentos biliares. • Colestase hepatocitária: hepatócitos contendo pigmentos biliares. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 62 ❖ Destruição maciça dos hepatócitos (parênquima). ❖ Capsula de Glisson enrugada. ❖ Órgão mais amolecido – necrose. ❖ Pode ficar esverdeado, principalmente próximo aos ductos biliares – em razão da colestase. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Necrose hepatocitária evidente → restos celulares, fibras de reticulina rompidas (fibras que dão sustentação ao órgão), congestão/hemorragia, inflamação variável e reação ductular (forma de regeneração do fígado). Para o fígado se regenerar, ocorre proliferação de células epiteliais progenitores, que podem virar hepatócito ou célula do epitélio de ducto biliar. ❖ Necrose em ponte: confluência de necroses focais. ❖ Pontes = liga um espaço portal a uma veia centrolubular, ou duas VCL. ❖ Gera um colapso do arcabouço reticular. ❖ Necrose maciça = hepatite fulminante: confluência das pontes → colapso do parênquima hepático. Quadro Clínico: ❖ Quadro clínico-laboratorial grave e abrupto, progredindo para insuficiência hepática agudaem 2-3 semanas após o início dos sintomas. Necrose em ponte: áreas claras = hepatócitos necrosado. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 63 ❖ Causas: • Hepatites virais → HAV e HBV (10-12%). • Medicamentosa/toxicidade a drogas (50-55%). • Causa desconhecida (18%). • Outros (15-20%). Insuficiência Hepática Aguda: ❖ Doença hepática aguda associada com encefalopatia e coagulopatia. ❖ Início: náuseas, vômitos, ictérica e colestase. ❖ Grande elevação de TGO e TGP inicialmente. ❖ Progressão: encefalopatia potencialmente fatal e coagulopatia. ➔ ENCEFALOPATIA HEPÁTICA: ❖ Alterações de consciência, por conta da doença hepática do paciente. ❖ Anormalidade comportamentais sutis → confusão acentuada → coma e morte. ❖ Patogênese: alterações metabólicas e de neurotransmissores causadas pela doença hepática. O acúmulo de amônia no organismo é o principal fator desencadeante. Isso porque, a amônia é metabolizada no fígado. Em casos de insuficiência, essa substância passa a se acumular. ❖ Sinais: • Sinais neurológicos: rigidez e hiperreflexia da cabeça e extremidades (mão/dedos); "Asterix" ou Flapping – movimentos rápidos, não ritmados e involuntários da cabeça e de braços, observados quando os braços estão mantidos em extensão e os punhos em dorsoflexão. ➔ COAGULOPATIA: ❖ Perda da produção de fatores de coagulação → hemorragias. ➔ SÍNDROME HEPATORRENAL: ❖ Insuficiência renal como consequência da insuficiência hepática. ❖ Sem lesões aparentes nos rins. ❖ Patogênese: 1. Vasodilatação sistêmica por conta da liberação de mediadores inflamatórios da insuficiência hepática. 2. Baixa da perfusão renal = diminuição da pressão de perfusão renal. 3. O rim entende que ocorreu queda de pressão e tenta compensar com a ativação do sistema nervoso simpático renal e do SSRAA → vasoconstrição arteriolar renal. 4. Causa: diminuição da filtração glomerular e da perfusão do rim → diminuição da filtração glomerular. ❖ Consequências: menor produção de urina, níveis séricos de ureia e creatinina elevados. Hepatite Crônica: ❖ Persistência da inflamação, com evidência sorológica, associada a níveis sérico elevados das transaminases por mais de 6 meses. ❖ Pode ser sintomática ou não. Seus sintomas são inespecíficos, como: fadiga, hiporexia e icterícia. ❖ A biopsia hepática é essencial para o estadiamento da doença. ❖ O estadiamento é feito através do sistema METAVIR → possível ver as alterações inflamatórias, necrose e fibrose → importante para o tratamento. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Depende do grau de inflamação, necrose e fibrose. ❖ Acometimento hepático difuso; IIMN (linfócitos), predominantemente portal. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 64 ❖ HEPATITE DE INTERFACE: o infiltrado inflamatório extravasa para os hepatócitos próximos ao espaço porta (hepatócitos da placa limitante), causando necrose desses hepatócitos = necrose em “saca bocados”. É um indicador de atividade inflamatória e progressão. ❖ REAÇÃO DUCTULAR: regeneração de hepatócitos ao longo de ductos. Não é suficiente para compensar a perda do parênquima perdido ao longo do tempo. ❖ Surgimento de fibrose = lesões de reparo. ❖ Inicialmente, a fibrose concentra-se somente no espaço porta, mas pode progredir para os septos. ❖ Pode evoluir para cirrose. ❖ A: inicialmente, a inflamação fica restrita ao espaço porta → depois, ocorre extravasamento da inflamação → hepatite de interface. ❖ B: inflamação restrita ao espaço porta → fibrose no espaço porta → emissão de septos fibróticos → os septos se unem com o passar do tempo. Agregado inflamatório no espaço porta. Espaço porta aumentado em razão do infiltrado inflamatório. Possível observar a placa limitante de hepatócitos (contorno). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 65 Particularidades de Alguns Vírus: ➔ HEPATITE B CRÔNICA: ❖ Hepatócito em vidro fosco ou despolido: acúmulo de HBS-Ag no citoplasma do hepatócito. ➔ HEPATITE C CRÔNICA: ❖ Tipo de hepatite que mais cursa com esteatose e agregados linfocitários denso. Espaço porta com área de hepatite de interface. Células inflamatórias no parênquima → quadro mais avançado. . Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 66 ❖ Regeneração do parênquima. ❖ Surgimento de fibrose – coloração azulada (fibras colágenas). ❖ Fibrose na região portal → progressão para o restante do parênquima hepático → cirrose (extensa fibrose circundando nódulos de hepatócitos). ❖ A cirrose hepática é o desfecho comum de qualquer doença hepática crônica, seja ela de natureza viral ou de qualquer outra. Hepatite Autoimune: ❖ Inflamação crônica do parênquima hepático, que cursa com hipergamaglobulimenia e fibrose progressiva. ❖ Causada pela produção de autoanticorpos. ❖ Predisposição genética, mais comum em mulheres (80%). ❖ Pode estar associada a outras doenças autoimunes, como: artrite reumatoide, tireoidite de Hashimoto, etc. ❖ Raramente é assintomática. ❖ Hepatite fulminante é incomum. ❖ Muitas vezes é diagnosticada na fase crônica, já com cirrose, pois é uma doença de difícil diagnóstico. ❖ Diagnóstico: clínica + aspectos laboratoriais + histológicos + exclusão de outras etiologias. Classificação com Base no Padrão de Anticorpos Circulantes: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 67 ➔ Tipo I: • Anticorpos anti-músculo liso (SMA) e anti-núcleo (ANA). • 80% dos casos em adultos e predomina em mulheres. ➔ Tipo II: • Anticorpos antimicrossomos hepáticos e renal tipo 1 (anti-LKM-1) e anticitosol hepático tipo 1 (ACL- 1). • Predominante em crianças. ➔ MICROSCOPIA: ❖ IIMN portal rico em plasmócitos (isso porque, são os plasmócitos que produzem as imunoglobulinas). ❖ Hepatite de interface com plasmócitos. ❖ Atividade necroinflamatória lobular proeminente: áreas confluentes de necrose e, ate mesmo, colapso do parênquima. ❖ Ao contrário das hepatites virais, a fibrose tende a ser precoce na hepatite autoimune. Hepatite de interface. Setas pretas = plasmócitos (núcleo excêntrico e imagem negativa do complexo de Golgi = área mais clara do citoplasma). Área grande de necrose (rosa mais claro). Fibrose. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 68 Evolução: ❖ Prognostico é melhor em adultos. ❖ Caso não tratado, em 40% dos casos o quadro evolui para óbito. ❖ Cirrose em 40% dos sobreviventes. ❖ Terapia: não há cura; terapia imunossupressora → melhora a sobrevida. • Remissão em 80% dos pacientes, após parar de utilizar drogas imunossupressoras. ❖ Transplante hepático: 75% de sobrevida em 10 anos. Recorrência em 20% dos casos. Hepatite por Drogas/Medicamentos: ❖ O fígado é o principal metabolizador de fármacos, toxinas e drogas. Logo, essas substâncias são capazes de lesar o órgão. Mecanismos de Lesão: ❖ Ações lesivas diretas. ❖ Conversão hepática para uma substância toxica ativa, capaz de lesar o fígado. ❖ Mecanismo imune → os metabólitos derivados do fármaco são capazes de alterar determinadas proteínas dos organismos, transformando-as em um imunógeno = antígeno lesivo. Lesões: ❖ Previsíveis ou intrínsecas: afetam todos os indivíduos; dose dependentes. ❖ Imprevisíveis ou idiossincrásicas: predisposição particular do indivíduo que leva seu organismo a reagir de forma não esperada (individual) a agentes externos, como alimentos e medicamentos. ❖ Ambas podem ser imediatas ou demorar semanas/meses para se desenvolverem. ❖ Diagnostico: história clínica + marcadores sorológicos virais + anticorpos. Padrões de Lesão: ❖ Hepatite aguda e fulminante → acetaminofeno (paracetamol). ❖ Hepatites colestáticas → esteroides anabolizantes e antibióticos. ❖ Lesões vasculares → quimioterapia e anticoncepcional oral. ❖ Neoplasias → esteroidesanabolizantes e álcool. ❖ Esteatose e esteatohepatite → álcool e corticoides. ❖ Fibrose e cirrose → álcool e metotrexato. ➔ MORFOLOGIA: ❖ Extremamente variável. ❖ Infiltrado inflamatório com eosinófilos. ❖ História clínica, marcadores sorológicos virais e anticorpos são importantes para o diagnóstico. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 69 ❖ Cuidado com acetominofeno como remédio para resolver ressaca, pois o uso prévio do álcool pode dificultar a metabolização do acetominofeno. Sistema Gastrointestinal Doença Hepática Gordurosa ❖ Também conhecida como ESTEATOHEPATITE. ❖ Esteatose → esteatohepatite → fibrose → cirrose hepática. ❖ Caracteriza-se por uma sequência de lesões: 1. Esteatose = gordura no fígado. 2. Esteatohepatite = agressão aos hepatócitos. 3. Fibrose – lesões reparativas. 4. Cirrose hepática – depende do grau de agressão ao fígado. CAUSAS: o Alcoólica: doença hepática alcoólica. o Não alcoólica: doença hepática gordurosa não alcoólica; está relaciona à síndrome metabólica (obesidade). Doença Hepática Alcoólica: ❖ Obs: o consumo excessivo de álcool é a principal causa de doença hepática no ocidente. ❖ Para que haja a doença hepática relacionada ao alcoolismo, a concentração de álcool no sangue tem que se manter muito elevada durante boa parte do dia, por meses consecutivos – etilismo prolongado. ❖ Quantidade de álcool ingerido (risco): 60-80g/dia por um período prolongado. Isso equivale, por exemplo, a uma garrafa de vinho, 3 ou 5 doses de destilado e 4 ou 5 latas de cerveja. ❖ É uma doença crônica, que pode causar: esteatose hepatocelular, esteatohepatite (hepatite alcoólica) ou esteatofibrose. Fatores de Risco: ❖ Ingestão prolongada de álcool. ❖ Caráter genético → relacionada aos genes que codificam a enzima ALDH2 tipo 2 – responsável pela conversão do álcool em acetaldeído. A enzima tipo 2 possui atividade enzimática mais lenta. Indivíduos que codificam mais enzimas do tipo 2 possuem maior predisposição à lesão hepática decorrente do uso de álcool. ❖ Desnutrição. ❖ Sexo feminino, ingerindo a mesma quantidade de álcool que os homens → relacionado ao estrógeno e à farmacocinética do metabolismo do álcool nos hepatócitos → a quantidade de álcool considerado fator de risco para o desenvolvimento de doenças hepáticas em mulheres é menor. ❖ Doenças hepáticas associadas: hepatite viral, hepatite autoimune etc. Patogênese: ❖ 90% do álcool ingerido é metabolizado pelo fígado, o restante pelos pulmões e rins. ❖ Fígado – 3 vias de metabolização: • ÁLCOOL DESIDROGENASE (ADH): ocorre no citoplasma do hepatócito. • SISTEMA DO CITOCROMO P450: ocorre nos microssomos do reticulo endoplasmático liso dos hepatócitos, principalmente, pela isoforma CYP2E1 do citocromo p450. • CATALASE: menos importante, apenas 10%. Ocorre nos peroxissomos. ❖ O álcool entra no hapatócito e é oxidado em Acetaldeído pelas 3 vias. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 70 ❖ Ao final das 3 vias, o acetaldeído entra nas mitocôndrias e é oxidado em Ácido Acético (acetato), com a ajuda da enzima ALDH e do NAD+. Álcool → oxidação → acetaldeído → ALDH → ácido acético (acetato) → AcetilCoA. ❖ Redução/consumo do NAD+ e aumento da produção de AcetilCoA → acúmulo de ácidos graxos no organismo → ESTEATOSE. ❖ As reações de oxidação liberam radicais livres e citocinas pró-inflamatórias → inflamação → hepatite alcoólica. ❖ Esteatose + hepatite = esteatohepatite alcoólica. Morfologia: ❖ ESTEATOSE: • É uma alteração REVERSÍVEL. ➔ Microscopia: ❖ Pontos/gotículas negativos de gordura acumulada nos hepatócitos; núcleo na periferia da célula. ❖ A esteatose inicia-se na região centrolobular, posteriormente, espalha-se pata o restante do órgão. ➔ Macroscopia: ❖ Hepatomegalia. ❖ Órgão pálido e amarelado. ❖ Macio. ❖ ESTEATOHEPATITE: • Lesão mais típica e característica da doença hepática alcoólica (10 a 35%). ➔ MICROSCOPIA: ❖ Esteatose. ❖ Balonização: acúmulo de lipídeos e de água no interior do citoplasma – fica inflado – mistura de esteatose com degeneração hidrópica. ❖ Corpúsculos de Mallory-Denk ou Hialino de Mallory. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 71 • Seta preta: material eosinofílico, amorfo e condensado no citoplasma do hepatócito. É formado por filamentos do citoesqueleto que se desorganizaram em razão do processo de balonização. ❖ Infiltrado inflamatório neutrofílico lobular. ❖ Necrose de hapatócitos. ❖ Setas pretas: corpúsculo de Mallory-Denk. ❖ ESTEATOFIBROSE: • Ativação de células estreladas/células de Ito dos sinusoides e de fibroblastos portais → síntese de colágeno. • Fibrose na zona perivenular e perissinusoidal (“tela de galinheiro”). • Imagem: fibrose na região da veia centrolobular e acompanhando os sinusoides hepáticos. • Cirrose Alcoólica: o Formação dos septos fibrosos finos unindo a região central à região portal (centro-porta). o Posteriormente, temos a formação de septos espessos (centro-porta, centro-centro e porta- porta) → CIRROSE. o Microscopia: septos de fibrose contornando os nódulos de hepatócitos. o Macroscopia: normalmente é do tipo micronodular; fígado retraído; firme; coloração acastanhada. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 72 Clínica: ❖ Esteatose: hepatomegalia, elevação discreta de TGO, TGP e enzimas canaliculares. Se o paciente cessar o consumo de álcool, o quadro clínico é reversível. ❖ Hepatite alcoólica: hepatomegalia, elevação mais acentuada de TGO, TGP e das enzimas canaliculares. • Quadro clínico variável: perda de peso, anorexia, perda de apetite, dor, desconforto abdominal e colestase. • Óbito (10-20%). • Se o paciente cessar o consumo de álcool, pode ser que o quadro clínico evolua para cirrose, mesmo assim. ❖ Cirrose alcoólica: insuficiência hepática, hipertensão portal e icterícia. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (NAFLD): ❖ Distúrbio metabólico. ❖ Diagnostico diferencial da doença hepática alcoólica. ❖ A diferença está na história clínica do paciente. Nesse caso, os pacientes não ingerem álcool ou consomem pequenas quantidades 9<20g/semana). ❖ Doença hepática crônica mais comum nos EUA e vem crescendo no BR. ❖ Principal causa: síndrome metabólica → obesidade central, resistência à insulina, HAS e dislipidemia. Patogênese: ❖ Fatores de risco: dieta rica em lipídeos, sedentarismo e fatores genéticos. ❖ Teoria de múltiplos golpes: 1. Acúmulo de ácido graxo nos hepatócitos: os pacientes que possuem resistência à insulina, por isso apresentam dificuldade de utilizar glicose como fonte de energia, logo usam a lipólise como fonte de energia. Isso acumula ácido graxo nos hepatócitos. Assim como uma dieta não balanceada → ESTEATOSE. 2. Estresse oxidativo e aumento de citocinas pró-inflamatórias: o excesso de ácidos graxos livres libera metabólitos lipotóxicos ao organismo → HEPATITE. 3. Inibição de replicação de hepatócitos por estresse oxidativo, o que causa prejuízo na regeneração hepática → FIBROSE. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 73 Morfologia: ❖ Semelhante à Doença Hepática Alcoólica. ❖ Esteatose → esteatohepatite não alcoólica → fibrose (cirrose). ➔ MICROSCOPIA: ❖ Esteatose acentuada e difusa. ❖ Balonização. ❖ Fibrose perissinusoidal. ❖ Dicas para diferenciar: • Histórico clínico. • Presença de células inflamatórias mononucleares, como linfócitos e macrófagos. • Corpúsculo de Mallory-Denk menos frequentes. • Fibrose portal mais proeminente. Clínica: ❖ Esteatose: hepatomegalia; normalmente são assintomáticos. ❖ Esteatohepatite: fadiga, dor abdominal mais intensa, sinais e sintomas da síndrome metabolica; elevação das transaminases. Diagnóstico e Acompanhamento: • Ultrassonografia. • Biópsia – mais ideal; possível graduar as lesões.Tratamento: • Controle da síndrome metabólica. Obs.: cirroses criptogênicas = causa idiopática → estudos mostram que 75-95% das cirroses criptogênicas sejam consequências da NAFLD. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 74 Cirrose Hepática ❖ Subversão difusa da arquitetura hepática por nódulos de hepatócitos em regeneração, circundados por septos de tecido conjuntivo (fibrose). ❖ É o estágio final de várias doenças hepáticas crônicas: hepatites virais B e C, autoimune, alcoólica, doenças de origem metabólica (NASH, Hemocromatose, D. de Wilson e deficiência de alfa1- antitripsina), vascular ou biliar. Patogênese: 1. Necrose hepatocelular: • Causada por agressões aos hepatócitos, porém o comprometimento é maior do que a capacidade de regeneração. 2. Proliferação de componentes estromais: • Células de Ito e fibroblastos, que produzem fibras colagênicas. 3. Regeneração hepatocitária: • Reparo do órgão → fibrose circundando o parênquima hepático → produz os nódulos hepatocitários regenerativos. Lesões Fundamentais: • Neoformação conjuntiva em todo órgão. • Formação de nódulos hepatocitários em regeneração circundados por fibrose. • Subversão da arquitetura lobular. • Isso causa alteração no funcionamento dos órgãos, tanto na função dos hepatócitos, quanto no fluxo sanguíneo e da bile. Morfologia: ➔ MACROSCOPIA: • Inicialmente, pode sofrer aumento de peso e volume. Porém, cronicamente, sofre diminuição (<800g). • Possui irregularidades e nódulos de hepatócitos em regeneração. • Subversão da arquitetura por fibrose. • Pode ser classificada em: o MICRONODULAR: nódulos de 2-3mm; septos com espessura uniforme, dando aspecto regular na superfície. o MACRONODULAR: nódulos de tamanhos e formatos variados; septos com espessura variável; superfície irregular. MICRONODULAR MACRONODULAR Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 75 ➔ MICROSCOPIA: • Nódulos de hepatócitos circundados por fibrose. • Septo fibroso alargado: colágeno, IIMN; proliferação de ductos biliares (a cirrose dificulta o escoamento da bile, logo o fígado tenta proliferar mais ductos biliares, mas não adianta nada. Classificação: TRADICIONAL: • Leva em conta aspectos morfológicos. • Macronodular, micronodular ou mista. • Pouca utilidade clínica. ETIOLÓGICA: • História clínica. • Avaliação dos marcadores bioquímicos, virológicos e imunológicos. • Pode ser feita uma biópsia hepática: o Esteatose, neutrófilos, hialino de Mallory → etiologia alcoólica. o Hepatócito em vidro fosco → etiologia viral ou autoimune. o Plasmócitos + hepatite de interface → etiologia viral ou autoimune. o Depósito de ferro e cobre → hemocromatose ou Doença de Wilsson. Clínica: ❖ Pode ser assintomática. ❖ Manifestações inespecíficas: anorexia, perda de peso, fraqueza, dores de cabeça, etc... Quadros Clínicos Tardios: ❖ Insuficiência hepática crônica. ❖ Hipertensão portal. ❖ Carcinoma hepatocelular. Insuficiência Hepática Crônica: ❖ Incapacidade do fígado de cumprir suas funções, em consequência da cirrose hepática. ❖ É um processo contínuo. ❖ Necrose hepatocitária em graus variados. Clínica: ❖ Icterícia → aumento da BD e BI. ❖ Redução da síntese proteica, como de albumina. ❖ Redução da produção de fatores de coagulação → hemorragias. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 76 ❖ Redução da mobilização de hormônios → hiperestrogenismo. • Homens: ginecomastia e hipotrofia testicular. • Eritema palmar e aranhas vasculares → causadas pelo efeito vasodilatador do estrógeno. ❖ Queda do metabolismo da amônia + alterações nos neurotransmissores → encefalopatia hepática → manifestações neuropsíquicas (tremores; alterações de personalidade, consciência e capacidade intelectual. ❖ “Fetor hepaticus” = halitose → causado pela baixa metabolização dos Tióis (mercaptanos) no fígado. Eles são normalmente metabolizados no fígado, mas em caso de IHC, eles passam a ser eliminados pelos pulmões. ❖ Síndrome hepatorrenal → disfunção renal. Hipertensão Portal: ❖ Aumento da pressão venosa no sistema porta, causada por aumento da resistência ao fluxo sanguíneo. Classificação: ❖ PRÉ-HEPÁTICA: • Na veia porta. • Trombose portal. • Constrição extrínseca. • Esplenomegalia com aumento de fluxo para o baço – sobrecarga do sistema porta → aumento da pressão. ❖ INTRA-HEPÁTICA: • Alterações no leito hepático. • Cirrose hepática → fibrose do leito sinusal. • Esquistossomose (fibrose pré-sinusoidal). ❖ PÓS-HEPÁTICA: • Após o fígado: problemas de drenagem das veias hepáticas ou da veia cava inferior. • Síndrome de Budd-Chiari = trombose das veias hepáticas ou da veia cava inferior. • Insuficiência cardíaca severa. ➔ HIPERTENSÃO PORTAL NA CIRROSE – PATOGÊNESE: ❖ Compressão dos sinusoides pela fibrose e nódulos. ❖ Anastomoses arteriovenosas = SHUNTS. • O sangue da artéria é mandado diretamente para o sistema venoso, sem passar pelo sinusoide, o que aumenta a pressão do sistema venoso pós-hepático. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 77 • O sangue não é depurado pelos hepatócitos. • Endotélio sinusoidal: redução da síntese de NO2 e aumento na liberação de endotelina e angiotensina (vasoconstritores). Clínica: ❖ Esplenomegalia congestiva: causada por congestão. o Hiperesplenismo: aumento da função de hemocaterese → redução das plaquetas → plaquetopenia ou pancitopenia. ❖ Circulações colaterais porto-sistêmicas: formados por represamento e desvio do sangue portal para circuitos venosos secundários. o Varizes gastroesofágicas – presente em 40% dos pacientes com cirrose. o Veias do plexo venoso retal – hemorroidas. o Dilatação de colaterais periumbilicais = “cabeça de medusa”. ❖ Ascite: acúmulo de líquido na cavidade peritoneal. o Detectado com pelo menos 500ml. o Normalmente é líquido de transudato o Paracentese = punção para alívio e análise bioquímica. o Aumento o risco de infecções bacterianas devido à falta de opsonina (moléculas que se ligam a um antígeno, facilitando a fagocitose) no líquido. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 78 Esquistossomose ❖ Parasitose causada pelos vermes Schistosoma mansoni. ❖ É endêmica em MG, BA, SE, AL, PB e PE. ❖ Acomete ambos os sexos, mas com predominância nos homens. Mais frequente em crianças na faixa etária escolar. ❖ Transmissão: relacionada aos fatores socioeconômicos – educação sanitária, saneamento básico e serviços de saúde. CIRROSE X ESQUISTOSSOMOSE: ❖ Cirrose: septos fibrosos circundando os nódulos de hepatócitos. ❖ Esquistossomose: não há nódulos de hepatócito; fibrose portal. Forma Aguda: ❖ Normalmente assintomática, ou com manifestações brandas e inespecíficas (febre baixa, mal-estar, mialgia). ❖ Pode durar até 4 meses. ❖ Raro a evolução para óbito. ❖ Pode haver cura ou evolução para a forma crônica. ❖ Tratamento: praziquantel ou oxamniquine. Forma Crônica: ❖ FORMA INTESTINAL/HEPATOINTESTINAL: • Assintomático ou sintomas abdominais inespecífico. Baixa carga parasitária. • Sem hepatomegalia. • Diagnóstico: encontro de ovos nas fezes – método Kato-kartz. ❖ FORMA HEPÁTICA AVANÇADA: • Hepatomegalia. • Pode haver fibrose portal. • Muitos não apresentam hipertensão portal, pois o corpo se adapta. ❖ FORMA HEPATOESPLÊNICA: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 79 • Hepatoesplenomegalia. • Hipertensão portal. Obs: todas as formas clínicas apresentam ovos de Schistosoma no fígado e, consequente, resposta inflamatória granulomatosa. • Esses ovos podem migrar para outros sistemas, causando diferentes quadros clínicos. Forma Hepatoesplênica: ❖ Mais comum em áreas endêmicas. ❖ Forma clínica de maior relevância. ❖ Lesões hepáticas induzidas pelos ovos. ❖ Mais frequenteem casos de reinfecção, o que aumenta a carga parasitária. ❖ 4 a 10% dos indivíduos infectados. ❖ Demora, em média, de 5-15 anos para se manifestar. Patogênese: ❖ Os ovos são depositados nas vênulas mesentéricas. ❖ Podem migrar para a veia porta e alcançar o fígado → oclusão de ramos da veia porta → formação de granulomas → aumento da pressão nas veias intra-hepáticas. → abertura de pequenas vênulas colaterais → fibrose (em haste de cachimbo). ❖ Granulomas: formados, inicialmente, pela resposta inflamatória TH1 (fase aguda). Posteriormente, os antígenos dos ovos induzem a mudança de resposta inflamatória para um padrão TH2 (fase crônica). • Além disso há a produção de diversas citocinas inflamatórias, como o IL-13 que estimula os fibroblastos na produção do colágeno. • Os granulomas são constituídos por macrófagos modificados, o que os torna dinâmicos e ativos. Também são capazes de produzir citocinas e fatores estimuladores de fibroblastos. Morfologia: ➔ MICROSCOPIA: ❖ Pileflebite = inflamação dos ramos da vaia porta no espaço portal. ❖ Peripileflebite = inflamação no tecido conjuntivo portal. ❖ Granulomas: constituídos por agregados de macrófagos modificados e células inflamatórias. ❖ Pode haver hiperplasia de células de Kupffer com pigmento esquistossomótico (pigmento de hematina proveniente do intestino do parasita). ❖ Alargamento fibroso portal, com emissão de septos = fibrose de Symmers-Bogliolo/”haste de cachimbo”. ❖ Arquitetura lobular preservada. ❖ Proliferação de vasos de paredes finas na região da fibrose, com formação de circulação colateral, já que os ramos de veia porta são ocluídos pelos ovos. Imagem A e B: trato portal aumentado de tamanho e inflamação associada. Vários nódulos. Seta: ovo de Schistosoma embrionado com espicula lateral. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 80 ➔ MACROSCOPIA: ❖ Consistência firme e endurecida. ❖ Aspecto pseudo-cirrótico: superfície externa fica irregular em razão da retração da Cápsula de Glisson. ❖ Na superfície interna temos fibrose portal = alargamento estrelar e irregular dos espaços portais por fibrose → fibrose de Symmers-Bogliolo “haste de cachimbo”. ❖ Para o diagnóstico morfológico da esquistossomose, devemos fazer o corte histológico, olhar no microscópio e encontrar o ovo de Schistosoma, pois a fibrose de Symmers-Bogliolo não é patognomônica da esquistossomose. Clínica: ❖ Hipertensão portal: • Hepatoesplenomegalia, circulação colateral ((varizes gastroesofágicas, cabeça de medusa, hemorroidas); ascite. ❖ FORMA COMPENSADA: • Apenas hipertensão portal; • Acomete, principalmente, jovens de 10-30 anos. ❖ FORMA DESCOMPENSADA: • Insuficiência hepática + hipertensão portal. Granuloma rico eosinóf ilos; ovo. Ovos calcif icados e f ibrose. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 81 • Acomete pacientes acima de 35 anos. • Outras alterações associadas, como: sangramento digestivo ou infecções hepáticas virais. • Icterícia, edema de MMII, encefalopatia, disfunção renal, eritema palmar, aranhas vasculares etc. Sistema Gastrointestinal Tumores Hepáticos ❖ Podem ser não neoplásicas ou neoplásicas (benignas ou malignas). • NÃO NEOPLÁSICAS: hiperplasia nodular focal (hepatócito). • NEOPLASIAS BENIGNAS: adenoma hepatocelular (hepatócito) e hemangioma cavernoso (vaso sanguíneo). • NEOPLASIAS MALIGNAS: o Primárias: hepatoblastoma (embrionária – hepatócito imaturo), colangiocarcinoma (epitélio biliar) e carcinoma hepatocelular (hepatócito). o Secundárias: metastáticas – mais frequentes. Tumores Hepáticos Benignos: Hiperplasia Nodular Focal: ❖ Segundo tumor sólido mais comum no fígado. ❖ Não neoplásica. ❖ Predominante em adultos jovens e no sexo feminino (sem relação com o anticoncepcional oral). ❖ Geralmente é assintomática e o diagnóstico feito de forma acidental. ❖ Não possui riscos de evolução maligna. ❖ Diagnóstico diferencial de outas neoplasias hepáticas. Patogênese: ❖ Relacionado a uma artéria anômala no fígado. ❖ Pode haver uma obliteração da circulação venosa. ❖ Hiperperfusão → hiperplasia de hepatócitos. ❖ Hipoperfusão → isquemia → fibrose. Morfologia: ❖ Nódulo subcapsular; protrusão na cápsula. ❖ Bem delimitado e capsula irregular. ❖ Mais claro que o fígado ao redor ❖ Possui uma cicatriz estrelada central = área de fibrose. ❖ Microscopia: fibrose na região central; parte externa com hepatócitos hiperplásicos e ramos arteriolares anômalas. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 82 Hemangioma Cavernoso: ❖ Tumor benigno mais comum no fígado. ❖ Origem vascular. ❖ Afeta pessoas de qualquer idade e gênero. ❖ Normalmente, assintomático. ❖ Os sintomas são mais comuns quando os tumores apresentam mais de 5cm, o que causa dor abdominal por compressão da capsula de Glisson e, pode levar à hemorragia. ❖ Diagnóstico diferencial com outras neoplasias hepáticas. ❖ A biópsia é contraindicada, pois pode haver rompimento da cápsula e sangramentos. Morfologia: ❖ Geralmente subcapsular. ❖ Macio e esponjoso. ❖ Avermelhado, com áreas mais claras = fibrose. ❖ Microscopia: canais vasculares de tamanhos variados; pode haver trombos → isquemia → fibrose. Os vasos são revestidos por células sem atipias. Adenoma Hepatocelular: ❖ Neoplasia benigna dos hepatócitos. ❖ Acometem mais adultos jovens e mulheres. ❖ Relação com o estrógeno e uso de ACO – aumenta até 40% as chances de desenvolver o tumor. ❖ Comum em homens que fazem o uso de anabolizantes esteroides. ❖ Normalmente o diagnóstico é incidental. ❖ Pode crescer muito, causando compressão capsular e dor abdominal. ❖ Risco de malignizar. ❖ PATOGÊNESE: depende do subtipo de adenoma (classificação morfomolecular). ❖ Tratamento cirúrgico, pois há grande risco de hemorragia intra-abdominal por ruptura espontânea do adenoma. • Caso não seja possível realizar a cirurgia, a suspensão do uso do ACO faz com que o tumor regrida. Morfologia: ❖ Nódulo subcapsular. ❖ 5-15cm. ❖ Nódulo único, bem delimitado, pálido e com áreas de hemorragia. ❖ Microscopia: proliferação de hepatócitos, sem atipias ou com atipias discretas. • Arranjos trabeculares = cordões de hepatócitos. • Pode haver estruturas vasculares de paredes finas → risco de ruptura e de sangramento. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 83 Neoplasias Hepáticas Malignas: Hepatoblastoma: ❖ Neoplasia maligna embrionária originada dos hepatócitos. ❖ Rara. ❖ Ocorre, sobretudo, nos primeiros 2 anos de vida. Mais comum em meninos. ❖ Patogênese: mutações em reguladores da via WNT. ❖ Lesão agressiva; fatal – ruptura da massa neoplásica, insuficiência hepática ou metástases à distância. ❖ Tratamento: quimioterapia neoadjuvante (antes da cirurgia) e ressecção cirúrgica. • Sobrevida em 5 anos: até 80%. Morfologia: ❖ Nódulo único, grande e heterogêneo, de 5 a 25cm, heterogêneo (necrose, hemorragia, cistos e componentes mesenquimais). ❖ Componentes mesenquimais – imagem da direita: osteoide, cartilagem... ❖ Microscopia: dois tipos • Tipo epitelial: células de padrão embrionário (pequenas, citoplasma escasso e núcleo hipercorados) ou células de padrão fetal (células maiores, citoplasma hipocorado e amplo, mais semelhante ao hepatócito maduro). • Tipo misto (epitelial + mesenquimal). Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 84 Colangiocarcinoma: ❖ Segunda neoplasia maligna primária mais comum no fígado. ❖ Afeta ambos os gêneros, principalmente, após os 50 anos e pacientes não cirróticos. ❖ Originado do epitélio dos ductos biliares. ❖ Patogênese: relacionada à inflamação crônica e à colestase → fatores que agridem o epitélio e estimulam a proliferação celular. ❖ Classificação– com base na localização: • Intra-hepático (10%). • Peri-hilar ou central (60%) → tumor de Klatskin. • Extra-hepático distal (30%). Clínica: ❖ O tumor intra-hepático demora mais para provocar sintomas, pois é necessário que haja obstrução da drenagem da bile. ❖ Já os tumores da região central ou extra-hepática apresentam sintomas precocemente → icterícia. Morfologia: ❖ Lesão branco-acinzentada. ❖ Firme, infiltrativa e com tamanho variado. • Microscopia: adenocarcinoma → glândulas: estruturas tubulares em meio a um estroma desmoplásico (colágeno endurecido e compacto) abundante. Evolução: ❖ Prognóstico ruim, independentemente da localização. • Tumores peri-hilar e extra-hepático distal: Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 85 o Apesar do diagnóstico ser mais precoce, como essas regiões são ricas em vasos, as metástases espalham-se mais rapidamente. o Sobrevida de 15% em 2 anos. • Tumores intra-hepáticos: o Demora no diagnóstico. Normalmente o diagnóstico é feito de forma tardia, quando o tumor está grande e com metástase. o Tempo médio entre o diagnóstico e o óbito: 6 meses. Carcinoma Hepatocelular: ❖ Neoplasia maligna primária mais comum no fígado. ❖ Originada dos hepatócitos. ❖ Predominância no sexo masculino e acima de 50 anos. ❖ Baixa prevalência no Brasil, mas com alta taxa de mortalidade. Etiopatogênese: ❖ Associado à doença hepática crônica avançada, principalmente, cirrose (fator de risco para o CHC). ❖ Atividade regenerativa aumentada, por conta das agressões (aumenta as chances de erro na multiplicação celular). ❖ Outros fatores de risco: hepatite B e C, etilismo crônico, síndromes metabólicas e aflatoxinas (compostos tóxicos produzidos por cepas do fungo Aspergillus, que pode contaminar alimentos. • Qualquer agressão crônica ao fígado pode causar resposta inflamatória e estresse oxidativo → mutações. Morfologia: ❖ Lesão nodular, pequena, maciça, única ou múltiplas, e bem delimitadas. ❖ Também pode ser difusa e mal delimitada. ❖ Imagem A: lesão nodular e bem delimitada. ❖ Imagem B: lesão difusa. ❖ Microscopia: • Hepatócitos atípicos. • Podem formar arranjos – trabeculares, pseudoglandular/pseudoacinar ou sólido. • Arcabouço reticular alterado. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 86 • Pode haver invasão de vasos. Legenda: ❖ 1: padrão trabecular: mais comum; trabéculas com espessura aumentada. ❖ 2: arcabouço reticular: alterado; trabéculas mais espessas; fibras reticulares mais finas. ❖ 3: pseudoacinar: os hepatócitos abrem o lúmen, simulando uma glândula. ❖ 4: sólido: massa de hepatócitos. ❖ 5 e 6: invasão vascular: vaso sanguíneo com células neoplásicas em seu interior. Estadiamento: ❖ Classificação TNM – a classificação é feita de acordo com o tamanho, profundidade e invasão vascular. Clínica: ❖ Normalmente assintomático. ❖ Sintomas: dor abdominal, perda ponderal, prostração, febre... ❖ Pode ter manifestações de cirrose, como hipertensão porta, insuficiência hepática, icterícia, ascite... Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 87 Diagnóstico: ❖ Exames laboratoriais: alfa-fetoproteína sérica – elevada em casos de tumor; marcador tumoral em lesões avançadas. ❖ Exames de imagem: USG, TC e RMN. ❖ Biópsia. Evolução: ❖ Neoplasia altamente maligna. ❖ Evolução rápida e sobrevida curta. ❖ A maioria dos pacientes vai a óbito nos 2 primeiros anos após o diagnóstico. ❖ Pode invadir ramos da veia porta → metástases e disseminação intra-hepática precoce. Tratamento: ❖ Cirúrgico – segmentectomia, lobectomia ou transplante. ❖ Nem sempre é possível operar. Tratamento alternativos, como quimioterapia ou embolização tumoral. Metástases Hepáticas (Neoplasias Secundárias): ❖ Muito comuns. ❖ Fontes de origem mais frequentes: cólon, mama, pulmão, estomago e pâncreas. ❖ Pode causar hepatomegalia volumosa. ❖ Em geral, são nódulos múltiplos, de tamanhos variados e bem delimitados (hepatomegalia volumosa). ❖ Pode haver necrose, hemorragia, destruição do parênquima hepático e dos ductos biliares. • Clínica de insuficiência hepática e de colestase. • Microscopia: lesões nodulares, múltiplas e bem delimitados. Patologia Biliar Vesícula Biliar: ❖ Órgão oco, dividido em fundo, corpo e colo. ❖ Ducto hepático comum + ducto cístico → ducto colédoco. Colelit íase: ❖ Também conhecida como pedras na vesícula. ❖ Predomina em mulheres (2:1). ❖ 10 a 20% da população adulta. ❖ Maioria assintomática → doença silenciosa (80%). ❖ Componentes insolúveis da bile dão origem aos cálculos, como: colesterol, bilirrubinato de cálcio, outros sais de cálcio, sais biliares e glicoproteínas. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 88 Patogênese: ❖ Os cálculos se formam em razão do aumento dos constituintes da bile e da estase. ❖ Há precipitação ao redor do núcleo orgânico (células descamadas ou bactérias), dando origem aos cálculos. ❖ Fatores de risco: obesidade, dislipidemias, diabetes... Classificação: • COLESTEROL PURO. • PIGMENTARES NEGROS: o Bilirrubinato de cálcio + outros sais de cálcio. • MISTOS: o Colesterol + sais de cálcio → coloração amarelada/parda. o Mais comuns. Clínica: ❖ Maioria assintomático. ❖ Sintomas: cólica biliar por obstrução calculosa das vias. o Dor em hipocôndrio direito ou no epigastro. ❖ Diagnóstico: ultrassom. o Sombra acústica posterior. ❖ Complicações: • Os cálculos podem migrar para o colédoco → coledocolitíase – colestase e inflamação das vias biliares. • Colecistites = inflamação da vesícula biliar. Pode haver perfuração ou formação de fistulas. • Adenocarcinoma de vesícula. • Pancreatite. Colecist ite Aguda: ❖ Inflamação aguda da vesícula biliar. ❖ Muito associada aos cálculos biliares (90 a 95%). ❖ Predominante em mulheres; +-60 anos. Patogênese: ❖ Colecistite calculosa: 1. Obstrução do colo da vesícula ou do ducto cístico por um cálculo. 2. Dificuldade de drenagem da bile → retenção biliar. 3. Dilatação do órgão e compressão dos vasos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 89 4. Isquemia e lesão da mucosa, inicialmente. 5. Infecção bacteriana secundária 6. Necrose. ❖ A mucosa da bile produz fosfolipases. ❖ Essas enzimas podem converter as Lecitinas (presentes dentro da bile) em Lisolecitinas → as lisolectinas “lisam” o muco que a vesícula produz, expondo ainda mais o endotélio às agressões. ❖ Colecistite acalculosa: precipitada por eventos isquêmicos. Morfologia: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Vesícula aumentada de tamanho. ❖ Mucosa alterada: hiperemia, áreas de hemorragia, erosão, deposito de fibrina e necrose. ❖ Casos mais graves: necrose da parede = colecistite aguda gangrenosa. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Inflamação aguda → hiperemia, edema, depósitos de fibrina e erosões. ❖ IIGMN = neutrófilos. Clínica: ❖ Dor no hipocôndrio direito (sinal de Murphy +) ou epigástrica continua. ❖ Febre, sudorese, hiporexia, náuseas e vômitos. ❖ Icterícia discreta. ❖ Exames laboratoriais: • Leucocitose. • Aumento da fosfatase alcalina. ❖ Complicações: gangrena e perfurações em caso de necrose extensa. ❖ Tratamento: • Regressão espontânea. • Quadro súbito e intenso → colecistectomia. Colecist ite Crônica: ❖ Doença que mais acomete a vesícula biliar. ❖ 90% dos casos estão associados à colelitíase. ❖ Mais comum em mulheres. ❖ Patogênese: incerta. • Surtos repetidos de colecistite aguda? • Cálculos? • Estase biliar? • Microrganismo? Clínica: ❖ Náuseas, vômitos, dor abdominal recorrente em hipocôndrio direito ou epigástrio. ❖ Complicações: menos frequentes. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 90 Morfologia: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Depende do grau de inflamação. ❖ Varia em tamanho e espessura da parede. ❖ Camada serosa: pode estarnormal ou opacificada. ❖ Camada mucosa: normal ou hipotrófica. ❖ Em alguns casos, a vesícula pode sofrer muitas alterações, apresentando extensas areais de fibrose → contração da vesícula biliar → espessamento da parede → deposito de cálcio (branco) = VESÍCULA EM PORCELANA. • Risco aumentado de surgimento de adenocarcinoma de vesícula biliar. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Grau de inflamação variável. ❖ IIMN = linfócitos, monócitos e macrófagos. ❖ Seios de Rokitansky-Aschoff: invaginações da mucosa, ficando aprisionada. ❖ Pode apresentar fibrose. Patologia Pancreática Pâncreas Exócrino: ❖ Glândula acessória do TGI. ❖ Órgão alongado e lobulado, envolto por uma pseudocápsula. ❖ Dividido em: cabeça, corpo e cauda. ❖ Ducto pancreático principal ou de Wirsung: geralmente desemboca, junto com o ducto colédoco, na papila maior do duodeno/Ampola de Vater. ❖ Ducto pancreático acessório ou de Santorini: desemboca na papila menor do duodeno. ❖ MICROSCOPIA: células acinares – produzem e secretam pró-enzimas digestivas (pois estão em sua forma inativa. São ativadas no intestino) por estimulação vagal ou por ação de hormônios intestinais. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 91 Pancreatites: ❖ Processo inflamatório do pâncreas. ❖ Classificação: • Aguda: processo inflamatório agudo e reversível com a remoção da causa. • Crônica: processo inflamatório irreversível; há perda do parênquima glandular e fibrose. Pancreatite Aguda: ❖ Afeta, principalmente, adultos entre 30-60 anos. ❖ Causa comum de abdome agudo. ❖ Causas: • Colelitíase e álcool (80%); • Obstrução de ductos pancreáticos – tumor; parasita. • Trauma; • Medicamentos; • Hipercalcemia; • Genética. Patogênese: ➔ LITÍASE BILIAR: ❖ O cálculo da vesícula biliar pode migrar pelo colédoco e alcançar a Ampola de Vater, causando obstrução ductal. ❖ Dificulta a drenagem da secreção pancreática → acúmulo de secreção nesses ductos → aumento da pressão ductal → comprometimento do fluxo sanguíneo → isquemia → lesão de células acinares → extravasamento de enzimas que podem provocar lesões no parênquima. ➔ ÁLCOOL: ❖ O álcool causa lesão direta nas células acinares através da liberação de radicais livres e de citocinas pró-inflamatórias. ❖ Além disso, o álcool causa contração do Esfincter de Oddi. Isso gera uma dificuldade de drenagem da secreção e consequente acúmulo na região ductal → aumento da pressão → isquemia → extravasamento de enzimas → são ativadas no parênquima e causam autodigestão do órgão. Morfologia: ❖ Edema, necrose gordurosa (estatonecrose), necrose do parênquima, destruição de paredes vasculares, hemorragia e IIGMN. ❖ Tipos: • Pancreatite edematosa/intersticial: edema → aumento de volume; esteatonecrese focal e bem localizada (“pingo de vela”; mais amarelada); sem necrose do parênquima ou hemorragia. • Pancreatite necrosante: extensas áreas de necrose. • Pancreatite necrohmorrágica: extensas áreas de necrose, esteatonecrose e hemorragia abundante; mais grave. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 92 Clínica: ❖ Dor abdominal em faixa, intensa e persistente; náuseas, vômitos, febre, taquicardia e hipotensão. ❖ Sinais: • Sinal de Cullen: equimose (acúmulo de sangue no espaço subcutâneo) na região periumbilical. • Sinal de Grey-Turner: equimose no flanco direito ou esquerdo. ❖ Exames laboratoriais: aumento da amilase (24h) e lipase (72h; mais específica). • Hipocalcemia: sinal de prognóstico ruim, pois a esteatonecrose tem grande afinidade com o cálcio. Sendo assim, menor for a dosagem de cálcio no sangue,maior é a extensão da necrose. • Exames de imagem também auxiliam no diagnóstico. ❖ Tratamento: suspensão da dieta oral (“descanso” do pâncreas); uso de analgésico e hidratação endovenosa. Evolução: ❖ A gravidade depende da extensão da lesão. ❖ Normalmente, na pancreatite edematosa, há reversão do quadro. ❖ Já na pancreatite necrosante ou necrohemorrágica temos evolução para diversas complicações, como: abcesso peri-pancreático, pseudocisto pancreático, insuficiência renal aguda, SARA, coagulação intra- vascular disseminada, hipotensão arterial, choque e óbito. Pancreatite Crônica: ❖ Inflamação persistente com destruição irreversível do parênquima pancreático exócrino. ❖ Predomina em homens entre 40-50 anos. ❖ Causa principal: etilismo crônico. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 93 ❖ Outras causas: obstrução prolongada do ducto pancreático, pancreatite autoimune, radioterapia abdominal, anomalias congênitas e causas hereditárias. Patogênese: ➔ PANCREATITE ALCCÓLICA: 1. O álcool induz hipersecreção de enzimas pelas células acinares, porém, esse efeito não é acompanhado pelo aumento da secreção de água e de bicarbonato. 2. Isso gera um espessamento da secreção e formação de tampões proteicos intraductais – pode haver precipitação de cálcio nesses tampões, levando à formação de cálculos e à intensificação da obstrução. 3. Obstrução dos pequenos ductos. 4. Inflamação. 5. Lesão e fibrose do órgão. ➔ PANCREATITE “NECROSE-FIBROSE”: ❖ Repetidos quadros de pancreatite aguda podem levar à destruição constante do parênquima. ❖ Com isso, são liberadas citocinas inflamatórias congênitas (como a TGF-beta) que estimula o recrutamento de fibroblastos e miofibroblastos a depositarem colágeno → fibrose. Morfologia: ➔ MACROSCOPIA: ❖ Tamanho vaiável e firme. ❖ Aspecto nodular, semelhante à cirrose. ❖ Sistema ductal dilatado. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Fibrose parenquimatose. ❖ Hipotrofia de células acinares. ❖ IIMN nos ductos e ácinos. ❖ Tampões de proteína. ❖ Calcificações nos ductos. Clínica: ❖ Dor abdominal recorrente ou contínua. ❖ As crises podem ser precipitadas por abusos de álcool e excessos alimentares. ❖ Febre baixa. ❖ Icterícia: obstrução por cálculos na ampola de Vater. ❖ Exames de imagem: possível observar a hipotrofia do órgão e calcificação. ❖ Complicações: • Insuficiência pancreática → má absorção de alimentos, emagrecimento e esteatorreia. • Diabetes mellitus → destruição das ilhotas pancreáticas. Adenocarcinoma Ductal do Pâncreas: ❖ 90-95% dos tumores do órgão. ❖ Origem: epitélio dos ductos pancreáticos. ❖ Muito agressivo. Sobrevida em 5 anos é menor que 5%. ❖ Predomina em homens, negros, acima de 60 anos. Marcela de Castro Bastos Rodrigues – Patologia II 94 ❖ Fatores de risco: tabagismo, dieta rica em lipídeos e pobre em fibras. o A pancreatite hereditária tem grande relação com esses tumores. ❖ Patogênese: mutação, principalmente, do gene KRAS e TP53 e alteração de metilação em alguns genes (ex.: CDKN2A). Morfologia: ❖ Acomete, principalmente, a cabeça do pâncreas → diagnostico mais precoce, pois gera icterícia obstrutiva ou pancreatite obstrutiva. ➔ MACROSCOPIA: ❖ Tumor solido, firme, branco-acinzentado/amarelado e infiltrativo. ➔ MICROSCOPIA: ❖ Arranjos tubulares, com células colunares ou cuboides atípicos. ❖ Infiltração perineural frequente – tropismo por nervos. ❖ Imagem 2: nervo. Clínica: ❖ Tumor silencioso. ❖ Manifestações tardias. ❖ Sintomas: dor abdominal, perda de peso, anorexia, fraqueza, icterícia e diabetes. ❖ Síndrome de Trousseaus: tromboflebite migratória. • As células tumorais podem secretar fatores de agregação plaquetária e pró-coagulantes, o que predispõe a formação de trombos em veias distantes do tumor. ❖ Pode infiltrar estruturas vizinhas – nervos, baço, suprarrenais, coluna vertebral, colon transverso, estômago e fígado. ❖ Metástases muito comuns. ❖ Prognóstico muito ruim.