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REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE II, III, IV HIPERSENSIBILIDADE TIPO II (mediada por anticorpos) ● Mediada por anticorpos IgM e IgG. ● Anticorpos específicos para antígenos de superfície celular ou da matriz extracelular. ● IgG ou IgM podem causar lesões teciduais ativando o sistema complemento, recrutando células inflamatórias e interferindo nas funções celulares normais. Tempo de hipersensibilidade: 5 - 8h após o 2° contato obs.: para a hipersensibilidade, a reação ocorre a partir do 2° contato (não pode-se prever quando vai ocorrer a hipersensibilidade), já que no 1° contato ocorre a sensibilização (montagem da resposta imune e produção de anticorpos). Alvos: Antígenos na superfície celular (principalmente hemácias) ou na matriz. Mecanismo efetor: morte celular das hemácias circulantes IgG opsoniza o antígeno e induz fagocitose por receptores FcRI de fagócitos, e IgM ativa o sistema completo. IgG → opsonização e fagocitose O anticorpo ligado à célula (opsonizada) desencadeia a eliminação da célula da circulação, principalmente pelos macrófagos teciduais no baço, que possuem receptores FcγRI. IgM → ativação do sistema complemento ⇒ formação do complexo MAC (estímulo inicial por C5) = lise osmótica Hemólise intravascular > Pode ocorrer ativação de ambas as classes de anticorpos. ● Pode ser causada por alguns fármacos→ antibióticos, como penicilina e cefalosporina. Modifica proteínas das hemácias, por exemplo, gerando epítopos estranhos (neoantigênicos) que serão combatidos pelo sistema imune. O fármaco se liga à superfície celular e é um alvo para os anticorpos IgG, resultando na destruição celular (hemólise, no caso das hemácias). Anticorpos antifármacos são produzidos por uma minoria dos indivíduos → não está claro a causa dessa suscetibilidade. Patologias Aloimune: Hemólise de transfusão de sangue grupo ABO-incompatível Autoimune: Anemia hemolítica de fármacos → penicilina Hemólise de transfusão de sangue grupo ABO-incompatível Os indivíduos que expressam um determinado antígeno do grupo sanguíneo A ou B são tolerantes a este antígeno, mas os indivíduos que não expressam este antígeno produzem anticorpos naturais do tipo IgM que reconhecem o antígeno. Grupos sanguíneos ABO: Antígeno presente = Aglutinogênio Anticorpos presentes = Aglutinina ⇒ Anticorpos IgM naturais, preexistentes no organismo Na transfusão clínica, a escolha dos doadores de sangue para um receptor específico é baseada na expressão de antígenos do grupo sanguíneo e nas respostas de anticorpos contra eles. Fase efetora: Lise celular via IgM - Hemólise intravascular Ativação do SI: deposição de imunocomplexos de IgM nos antígenos expressos nas hemácias. Se indivíduos recebem transfusão de sangue incompatível, ou seja, expressando o antígeno, os anticorpos IgM preexistentes se ligam às células transfundidas, ativam o sistema complemento (formação de poros na membrana pelo complexo MAC, que é inserido na membrana da hemácia), resultando no rompimento da hemácia - Hemólise intravascular. ● Incompatibilidade de grupo ABO: lise das hemácias recebidas ● Manifestações: febre, náuseas, hemoglobinúria Hemoglobina→ tóxica para glomérulos → insuficiência renal ● Tratamento: suspensão imediata da transfusão e manutenção do fluxo urinário (diurético) Anemia hemolítica por fármacos ● Hidrólise de hemácias do próprio indivíduo devido a interação com alguns fármacos ● Alteração pela penicilina (hapteno) Ligação da penicilina a proteínas das hemácias→ pode formar o conjugado (hapteno-carreador) ou alterar as hemácias criando novos epítopos (neoantigênicos). Infecção bacteriana pré penicilina→ fragmentos C3b circulante → C3b se liga a hemácia → facilita fagocitose das hemácias alteradas ● Sensibilização Macrófagos ou linfócitos B podem ativar linfócitos TH1, que produzem INFγ e induz a secreção de IgG anti-penicilina por plasmócitos. Os linfócitos B podem também ser ativados pelos linfócitos TH2 ou diretamente pelo contato com o antígeno, se diferenciando em plasmócitos secretores de IgG específico para penicilina. Fase efetora: fagocitose via IgG - Hemólise extravascular - Mediada por macrófagos Com a exposição novamente a penicilina, o anticorpo reconhece as hemácias alteradas, havendo a produção de IgG específicos. Anticorpos IgG e moléculas C3b se depositam nos antígenos de penicilina associados a proteínas de superfície de eritrócitos, opsonizando a célula. Esses anticorpos auxiliam na internalização e destruição das hemácias pelos macrófagos, no baço e no fígado, resultando na Hemólise extravascular Macrófagos presentes em grande quantidade em órgãos como o baço e o fígado (células de Kupffer) expressam Fcγ, para IgG, e C3bR, para C3b. HIPERSENSIBILIDADE TIPO III (mediada por imunocomplexos) ● Mediada por anticorpos IgG ● Anticorpos específicos para antígenos solúveis → formação de imunocomplexos ● Deposição dos imunocomplexos nas paredes vasculares → inflamação, trombose e lesão tecidual. Tempo de hipersensibilidade: 2 - 8h após 2° contato ou outro subsequente Alvos: antígenos solúveis administrados em grande quantidade → soros heterólogos e anticorpos monoclonais. Mecanismo efetor: Inflamação Produção de IgG e formação de imunocomplexos → Ativação de sistema complemento (C3b e C5a) → Desgranulação de mastócitos (pelo C5a) e ativação de neutrófilos (FcγRI) Os imunocomplexos são formados em todas as respostas de anticorpos, mas a patogenicidade está relacionada ao seu tamanho, quantidade, afinidade e isotipo do anticorpos produzido. ● Complexos menores (fase inicial e final) Tendem a se depositar nas paredes dos vasos sanguíneos (↑ afinidade com proteínas endoteliais), onde podem se ligar aos receptores Fc dos leucócitos, levando a inflamação local por ativação de neutrófilos. ● Complexos maiores (fase intermediária) Fixam o complemento e são removidos da circulação pelo sistema fagocítico mononuclear. ● Com as 2 moléculas de IgG ligadas ocorre a aproximação de Fcγ, ativando o sistema complemento, que libera C3b. ● Esse fragmento se liga aos imunocomplexos e aos receptores de C3b (CR1), presente nas hemácias. Os imunocomplexos chegam ao baço, acoplados às hemácias, e são apresentados para os macrófagos, que - INICIALMENTE - internaliza e degrada esses complexos. ● O acúmulo de imunocomplexos no corpo é prejudicial pois induz inflamação e dano tecidual. Sensibilização Um antígeno, geralmente derivado de administração de soro heterólogo via subcutânea, leva a ativação de linfócitos B e produção de IgG específica, que pode ser circulante ou se difundir nos tecidos. Patologias Localizada: Reação de Arthus (principalmente, pele) Sistêmica: Doença do soro (vasculite, glomerulonefrite, artrite) Reação de Arthus ● Reação local ● Induzida subcutânea em indivíduos sensibilizados que têm anticorpos IgG contra o antígeno sensibilizante. Quando o antígeno é injetado na pele, o IgG circulante que se difundiu nos tecidos forma imunocomplexos (IC) localmente. Os ICs se ligam aos receptores Fc dos mastócitos (e outros leucócitos) - FcγRIII -, gerando uma resposta inflamatória local (com ↑ da permeabilidade → exsudação plasmática). Os ICs ativam o complemento, levando à produção de fragmento C5a, que interage com os receptores de C5a nos leucócitos, ativando a atraindo essas células para o sítio inflamatório. C5a se liga e sensibiliza os mastócitos, com isso, esses passam a responder aos ICs: os mastócitos são ativados e se ligam aos ICs (tentando fagocitar→ não consegue - IC preso no endotélio), processo que induz a degranulação (liberação de grânulos enzimáticos). Como resultado da ativação dos mastócitos, as células inflamatórias invadem o local, e a permeabilidade dos vasos e o fluxo sanguíneo estão aumentados ⇒ Reação cutânea (endurece a pele). SOROTERAPIA Consiste na administração de soro (total ou [imunoglobulina purificada]) Doença do soro Reação de hipersensibilidade mediada por imunocomplexos e complemento, causada pela imunização com proteínas séricas heterólogas.Induzida sistematicamente por IgG e formação de IC circulantes ● Utilização de soro heterólogo (veneno de cobra e outros animais peçonhentos) produzidos em cavalos. ● Anticorpos monoclonais de camundongos (reação chamada de resposta de anticorpo humano anti-camundongo ou HAMA). Manifestações clínicas Febre, vasculite generalizada com edema e eritema (exantema), glomerulonefrite e artrite. Prevenção Administração de anti-histamínicos e corticóides (15 minutos antes) corticoide = imunossupressor (↓ resposta inflamatória) A imunização com uma alta dose de um antígeno protéico estranho leva à formação de anticorpos contra o antígeno. Esses anticorpos se ligam e formam complexos com o antígeno circulante, e os complexos são inicialmente removidos por macrófagos no fígado e no baço. Com o aumento da formação dos imunocomplexos, alguns se depositam em leitos vasculares, induzindo a inflamação no interior das paredes dos vasos sanguíneos, levando a ativação do complemento e ligação de receptores Fc dos leucócitos aos anticorpos dos complexos depositados. Neutrófilos, em maior quantidade, interagem com IC e são ativados, liberando grânulos citotóxicos (degradação de MEC e do endotélio), lesionando o tecido e levando a agregação plaquetária e formação de trombos. Os complexos são, geralmente, depositados em: Pequenas artérias ⇒ Vasculite Formação de imunocomplexos→ Deposição de IC na microcirculação → Inflamação e formação de trombos e microhemorragias Glomérulos renais ⇒ Glomerulonefrite Inflamação dos glomérulos renais causada por deposição de IC na membrana basal glomerular ou pela ligação de anticorpos a antígenos expressos nos glomérulos Alteração da permeabilidade → Alteração da composição do filtrado Articulações⇒ Artrite Efeito transitório que desaparece quando a proteína estranha é eliminada. Patogênese das Doenças Mediadas por Imunocomplexos ● Os complexos antígeno-anticorpo são gerados em respostas imunes normais, resultando em uma doença quando são produzidos em excesso, não são removidos e se depositam nos tecidos. Pequenos complexos tendem a se depositar, pois não são normalmente fagocitados. ● Os imunocomplexos depositados ativam leucócitos e mastócitos que secretam citocinas e mediadores vasoativos → Ampliação da deposição (↑ permeabilidade vascular e ↑ fluxo sanguíneo). HIPERSENSIBILIDADE TIPO IV (mediada por células) ● Macrófagos e linfócitos T CD4+ ou CD8+. Os linfócitos T provocam lesão tecidual pela produção de citocinas que induzem inflamação (T CD4+) ou pela destruição direta das células-alvo (T CD8+). Em muitas dessas doenças, o principal mecanismo envolve a ativação de células T auxiliares CD4+, principalmente subpopulações Th1 e Th17, as quais secretam citocinas que promovem inflamação e ativam leucócitos, principalmente neutrófilos e macrófagos ● As células T que causam lesão tecidual podem ser autorreativas ou específicas para antígenos protéicos estranhos que estão presentes ou ligados às células ou tecidos. Tempo de hipersensibilidade: 24 - 48 h após 2° contato ● Normalmente, a inflamação associada a doenças mediadas por células T são crônicas, mas crises de inflamação aguda podem se sobrepor em uma condição de inflamação crônica de fundo. Alvos: substâncias químicas acopladas a proteínas e proteínas microbianas. Mecanismo efetor → Inflamação Ativação de células T CD4+, que secretam citocinas pró-inflamação e de ativação de leucócitos, especialmente neutrófilos e macrófagos. Linfócitos Th17 → IL-17 ⇒ Recrutamento de neutrófilos Linfócitos Th1 → IFN-γ ⇒ Ativação de macrófagos Linf. T e cél.inata (CD, MO) → TNF e quimiocinas ⇒ Recrutamento e ativação de diversos leucócitos As lesões teciduais resultam de produtos dos neutrófilos e macrófagos recrutados e ativados, como enzimas lisossomais e espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. - As citocinas e macrófagos ativados estimulam a inflamação e o recrutamento de mais leucócitos, propagando a lesão. A reação inflamatória clássica mediada por células T é chamada de hipersensibilidade do tipo tardio. Hipersensibilidade do tipo tardio (DTH) ex.: TB A DTH é uma reação inflamatória prejudicial mediada por citocinas resultante da ativação de células T, particularmente das células T CD4+. ● Desenvolve-se ~24 a 48h após o contato em indivíduos previamente sensibilizados; em contraste com as reações imediatas (alérgicas). ● Humanos podem ser sensibilizados para as reações de DTH por infecção microbiana, por sensibilização de contato por produtos químicos e antígenos ambientais ou por imunização. Patologias: Tuberculose (TB) A tuberculose é um bom exemplo de uma doença infecciosa na qual a lesão tecidual se deve, principalmente, à resposta imune do hospedeiro. ● Os bacilos causadores da tuberculose são fagocitados pelos macrófagos alveolares via receptor de manose ou de complemento. ● Os bacilos podem ser mortos pela via de processamento e apresentação de antígeno em MHC-II → Permanecem vivas devido a mecanismos de evasão do sistema imune. ● 90% ⇒ assintomáticos Granuloma - granulação pulmonar ● O sistema imune tenta isolar a infecção, evitando a disseminação das bactérias. Granuloma: Infiltrado inflamatório intenso com a destruição das células imunes. Mycobacterium tuberculosis ficam no interior dos macrófagos como bactérias viáveis, mas em estado latente. - Ao estimular linfócitos T CD4 +, o bacilo induz a secreção de citocinas, como INF-γ, IL-4, IL-6 e TNF- α, recrutando e a ativando macrófagos. - Os macrófagos formam células gigantes multinucleadas que otimizam a fagocitose, e células epitelióides achatadas, que sintetizam citocinas. - A agregação das células gigantes, epitelióides e linfócitos que circundam a bactéria formam o granuloma, que contém a infecção. - Com a cronificação, o centro do granuloma pode sofrer uma necrose caseosa devido à ausência nutricional, formando um centro necrótico. O meio necrótico é desfavorável ao Mtb, que reduz a atividade metabólica e fica adormecido. Mesmo latente, as bactérias podem se proliferar e reativar a infecção, posteriormente. ● 10% ⇒ sintomáticos Com situações de imunossupressão pode haver reativação → Reativação do granuloma e manifestação da tuberculose. Papel da resposta Th1 protetora ● Citocinas estão envolvidas na geração de células Th1. O macrófago infectado apresenta o antígeno para linfócitos Th1, ativando-os. Inicia-se uma produção de IFN-γ por parte dos linfócitos, que age gerando ativando mais macrófagos e tornando-os mais fagocíticos e com maior capacidade de produção de iNOS e de óxido nítrico (microbicida), maturação de fagolisossomos (ambiente ácido e letal), levando a morte da M. tuberculosis. MO apresenta para Th1 → Ativa Th1 → IFN-γ → Ativa + MO → Morte M. tuberculosis Inflamação Granulomatosa Tentativa de conter a infecção, mas causa lesão tecidual significativa e prejuízo funcional. ● Dificuldade respiratória ⇒ causada pela substituição do tecido pulmonar normal por tecido fibrótico, resultado dessa inflamação crônica. Reação de tuberculina A injeção, em indivíduos sensibilizados, de um derivado protéico purificado (PPD) de Mycobacterium tuberculosis induz uma reação de DTH - reação de tuberculina. Dermatite de contato Reação de contato → Sensibilidade de contato (exposição tópica a químicos/antígenos ambientais). ● Reações inflamatórias locais desencadeadas, provavelmente, por neoantígenos formados pela ligação de produtos químicos a proteínas próprias. Dermatite alérgica de contato: reação alérgica local causada pelo contato direto entre a pele e o antígeno. Dermatite alérgica de contato sistêmica: reação alérgica causada pela ingestão oral do antígeno. ● Linfócitos T CD4+ e CD8+ podem ser fontes de citocinas para as reações de sensibilidade de contato. Os antígenos que causam a dermatite de contato são moléculas pequenas, altamente reativas e capazes de penetrar na pele intacta. Esses químicos reagem com proteínas próprias formando complexos hapteno-proteína, que podem ser processados(hapteno-peptídeo), apresentados via MHC e reconhecidos pelas células T. Manifestações Erupções cutâneas induzidas por: ● Hera venenosa e carvalho venenoso (células T reagem contra proteínas próprias modificadas por químicos produzidos pelas plantas). ● Contato com metais → Níquel e berílio ● Contato com couro ● Contato com uma grande variedade de produtos químicos Algumas dessas reações se tornam crônicas, caracterizada, clinicamente, por eczema no local de contato com o alérgeno. Fase de Sensibilização ● Células de Langerhans (CD especializadas) na pele capturam e processam o antígeno. ● Migração das CL para os linfonodos drenantes → Ativação de células T, com produção de células T de memória (migram para a derme). Fase de Reação ● Com uma reexposição ao antígeno sensibilizador, esse é apresentado às células T de memória da derme, que liberam citocinas (IFN-γ e IL-17), estimulando a liberação de outras citocinas pelos queratinócitos (ex.: IL-1, IL-6). obs.: IFN-γ é induzidos por células Th1 e T CD8+ ● ↑ inflamação pela indução da migração de monócitos para lesão→ maturação em magrófagos→ atração de mais células T. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abbas, Abul K. Imunologia Celular e Molecular. Disponível em: Minha Biblioteca, (9th edição). Grupo GEN, 2019. Murphy, Kenneth. Imunobiologia de Janeway. Disponível em: Minha Biblioteca, (8th edição). Grupo A, 2014.