Buscar

ROTEIRO PARA PLANO DE ESTÁGIO

Prévia do material em texto

Universidade Franciscana
Área de Ciências da Saúde
Curso de Graduação em Psicologia
Disciplina de Estágio Básico I
Socialização entre pessoas com síndrome de Down através do grupo remoto
Acadêmica: Eduarda Greca Machado
Supervisora: Fernanda Jaeger
 Santa Maria, 15 de outubro de 2021
1. Introdução 
O atual estudo tem como objetivo analisar a saúde mental dos jovens com síndrome de Down durante o isolamento social decorrente da Covid-19 por meio de um relato de experiência realizado de forma remota na disciplina de estágio básico I de psicologia.
 
1.1 Objetivo Geral
Estudar os comportamentos, atitudes e respostas em relação a saúde mental dos jovens com síndrome de Down em tempos de isolamento social por meio da observação através do grupo remoto.
1.2 Específicos
- Como ocorre as manifestações afetivas no grupo virtual.
- Conhecer características de um atendimento grupal online para pessoas com síndrome de Down.
- Manejo do psicólogo junto à jovens e adultos com Síndrome de Down em um grupo virtual.
1.2 Justificativa 
 O Estágio Básico I visa fornecer uma experiência maior e uma prática aliada da teoria na psicologia com a finalidade de proporcionar através das observações um aprendizado onde o psicólogo(a) estará inserido no futuro da sua profissão.
O estudo tem como propósito, além de adquirir conhecimento e experiência para estudantes de psicologia, dar visibilidade às necessidades de interação social do público com SD em uma pandemia de COVID19 e atenção à sua saúde mental.
O tema é, entanto, de grande relevância para a sociedade atual, pois se torna necessário trabalhar com o isolamento social com um olhar psicológico, promovendo uma qualidade de vida melhor e auxiliando esse público a vivenciar esse momento histórico pandêmico. 
 
2. Desenvolvimento
A síndrome de Down se caracteriza por um erro na distribuição dos cromossomos das células durante a divisão celular do embrião, tendo três cópias do cromossomo 21 no lugar de duas. Em caráter físico apresentam características típicas como baixa estatura, nariz pequeno e achatado, pescoço pequeno, hipotonia muscular, prevalência de sobrepeso ou obesidade. Eles ainda podem apresentar algumas condições médicas como problemas de visão e audição, apneia do sono obstrutiva e cardiopatias congênitas. Quanto aos aspectos psicológicos das pessoas que possuem SD, apresentam um atraso mental com predominância de déficits motores na primeira infância e défices cognitivos na idade escolar. A idade mental geralmente costuma evoluir de forma mais lenta em relação a idade cronológica (Coelho, 2016). Segundo Martínez (2012), é possível dizer que foi superada a alta mortalidade perinatal e infantil de pessoas com SD, isso porque a expectativa de vida já pode superar os 60 anos. Contudo a vida adulta e velhice de pessoas com SD requer atenção à saúde mental, pois é complexo fazer o diagnóstico diferencial dos processos neuropsiquiátricos. Pois há um alta frequência de transtornos psíquicos como o transtorno bipolar e a depressão. Na SD há problemas de comunicação e, por isso, falta de ferramentas adequadas para elucidar diagnósticos, isso pode favorecer diagnósticos incorretos e uso inadequado ou abuso de medicamentos (MARTÍNEZ, 2012).
Contudo, é importante lembrar que o sindrômico pode alcançar um bom desenvolvimento pessoal e social se assim for estimulado pelo seu ambiente. Vygotsky (1988) diz que o desenvolvimento é parcialmente definido pelo processo de maturação do organismo, porém é o aprendizado que possibilita o despertar para os processos internos de desenvolvimento e amadurecimento, ocorrendo este no contato direto com seu ambiente sociocultural. Destaca-se então o papel fundamental da afetividade neste contexto.
Podemos assumir à afetividade, de acordo com Doron e Parot (2001), uma noção de extensão e compreensão bastante ampla, que engloba variados estados como as emoções, as paixões, os sentimentos, as ansiedades, as angústias e até mesmo as sensações de prazer e de dor que, eventualmente, são atreladas às emoções. Segundo Pinto (2004) a afetividade deve ser visualizada como “um dos conteúdos psicológicos que exercem um papel imprescindível na organização e no funcionamento psíquico do ser humano”. E ainda através de estudos das autoras Mahoney e Almeida (2005), torna-se pertinente adicionar ao conceito de afetividade a capacidade e a disposição do sujeito de ser influenciado pelo mundo externo e interno, diante de sensações agradáveis ou desagradáveis.
Ressalte-se que assim como qualquer outro individuo, os portadores de SD possuem uma vida emocional rica, externalizando seus afetos com certa intensidade. A personalidade e o temperamento dos sindrômicos são variados, pois dependem de como o vínculo com os objetos da realidade e a expressão emocional foram estabelecidos. Segundo Rodríguez (2004), é comum que os indivíduos com SD possuam certa capacidade de captar e compreender o ambiente afetivo, pois aparentam ser sensíveis às emoções e sentimentos alheios, como tristeza, ira, carinho e alegria.
A associação Bem Viver sempre exerceu um importante papel para os jovens com SD da comunidade santa-mariense. Os jovens possuíam contato e atividades semanais, entretanto, com a ocorrência da pandemia da COVID19 esse laço acabou por se tornar virtual. As relações entre os indivíduos participantes de certa forma foram afetadas devido às circunstâncias, porém resistem em um meio de encontro adotado para atenuar os efeitos pandêmicos e atender suas necessidades de socialização. A partir deste contexto cabe aos estudantes a observação e compreensão da afetividade envolvida nessas relações através do meio remoto mediante ao pertinente isolamento social.
De acordo com Pichon-Rivière (2005), a tarefa do grupo e o vínculo entre seus integrantes são elementos essenciais para o desenvolvimento grupal. Todo o processo tem na comunicação entre os membros do grupo o aspecto principal para atribuição de papéis (porta-voz, líder, bode expiatório e sabotador), os quais vão surgindo ao longo da tarefa e devem circular entre os atores. Os participantes aderiram à proposta com pertença, identificação e integração uns com os outros, permitindo a elaboração da tarefa. Na cooperação, pressupõe-se o desempenho de papéis diferenciados e complementares de tal modo que cada um contribui com o que sabe e com o que pode - atividade que é crucial para o desenvolvimento e crescimento do grupo. No movimento grupal, é manifestada a capacidade de se colocar no lugar do outro (PICHON-RIVIÈRE, 2005). Podemos dizer que, quanto o grupo remoto, quanto como os encontros semanais, são importantes e agregam para a comunicação, a socialização e até para identificação de situações similares entre eles, do cotidiano.
A comunicação pressupõe um intercâmbio de significados, ou seja, a mensagem vai circular por um canal que inclui ruídos e deverá ser decodificada pelo receptor, podendo ser verbal ou não verbal. Esse aspecto é tomado por Pichon-Rivière como o lugar privilegiado pelo qual se expressam os transtornos e as dificuldades do grupo para enfrentar a tarefa (BARBOUR, 2009). A linguagem é uma das características afetadas pela SD, entretanto, a tarefa de compreender o que está sendo dito é mediado pelas supervisoras, e, não apresentam dificuldade para entender-se entre si, resultando em compartilhamento de experiências e entre outros.
Desta forma, ressalto a importância do grupo para os participantes. Percebe-se o comprometimento, a adoração um pelos outros, a singularidade de cada um, a importância de estar inserido num grupo onde se tem um espaço onde se pode compartilhar experiencias e relatar o seu cotidiano.
3. Metodologia 
A metodologia utilizada será a de uma pesquisa qualitativa, feita por meio de observações simples e participantes. Uma pesquisa qualitativa visa compreender o comportamento do objeto ou pessoa, estudando suas características únicas e singulares para obter um resultado mais fidedigno com a realidade e o contextosocial. Além dela, fazem parte deste trabalho as observações simples, cuja forma de observação é um olhar atento e concentrado sobre o objeto de estudo, porém sem exercer nenhuma forma de contato direto e participação, exceto quando foi feita a apresentação dos estagiários. As supervisoras, todavia, se focam no contato e na participação com os pacientes, visando ajudar e compreender de maneira mais direta conversando e buscando entender toda sua subjetividade e propriedade.
 
3.1 Participantes
O Estágio Básico I será desenvolvido pelos alunos do curso de Psicologia dos 4/5 semestres da Universidade Franciscana tendo como público a ser observado jovens adultos com síndrome de Down entre 21-? anos da comunidade Associação Bem Viver, tendo duas supervisoras de estágio a professora Fernanda Jaeger, minha supervisora e a professora Luciane Najar.
3.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO 
O estágio básico I será realizado de forma remota pela plataforma Google Meets com os jovens portadores de síndrome de Down da associação Bem Viver de Santa Maria/RS. Os participantes, em suas respectivas casas, entram na videoconferência e os estagiários observam as interações uns com os outros virtualmente.
3.3 PROCEDIMENTOS 
As atividades dos estudantes serão feitas por meio de observação participante como fora da pesquisa qualitativa. Será necessário a atenção e o foco de cada aluno para averiguar como os jovens com síndrome de Down se comportam e interagem entre si, como eles se portam, falam, escutam e se envolvem na plataforma online do Google Meets. O resultado esperado é o aprendizado e experiência dos alunos além de uma contribuição para uma pesquisa científica.
3.4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS 
Toda e qualquer pesquisa, meio de observação ou prática desenvolvidos no estágio estarão de acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo (CFP, 2005). Dois artigos do código se destacam neste contexto: 
Art. 6o – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: 
b) Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de preservar o sigilo. 
Art. 9o – É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional.
4. REFERÊNCIAS 
BARBOSA, A. M.; VIEGAS M. A. S.; BATISTA, R. L. N. F. Aulas presenciais em tempos de pandemia: relatos de experiências de professores do nível superior sobre as aulas remotas. Revista Augustus. 2020.
	CFP, Conselho Federal de Psicologia. Código de Ética Profissional do Psicólogo. Brasília, 2005. COELHO, C. A síndrome de Down. https://www.psicologia.pt/. 2016. 
DORON, R; PAROT, F. Dicionário de Psicologia. 1 ed. Lisboa: Climepsi Editores. 2001.
MARTÍNEZ, J. M. B. Cuidados de salud en el adulto con síndrome de Down. Revista Española de Clínica e Investigación, v. 68, n.6, November-December, 2012.
MAHONEY, A. A; ALMEIDA, L R. Afetividade e processo ensinoaprendizagem: contribuições de Henri Wallon. Psic. da Ed., São Paulo, 20, 1º sem., 11-30. 2005.
PICHON- RIVIÉRE. O processo Grupal.7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 
PINTO, F. E. M. O “mundo do coração”: os (novos) rumos de estudo da afetividade na Psicologia. Revista de ciências humanas, Taubaté, vol.10, n.2, 111- 114, jul./dez, 2004.
RODRIGUES, E.C; ALCHIERI, J.C; COUTINHO, M.P.L. A afetividade de crianças e jovens com Síndrome de Down: um estudo sobre as percepções de pais e professores. Revista CES Psicología vol. 3, núm. 2, p. 79-98, julho-dezembro, 2010.
RODRÍGUEZ, E. R. Programa de educación emocional para niños y jóvenes com síndrome de Down. Revista Síndrome de Down 21, p. 84-93, 2004.
TRISTÃO, R. M.; FEITOSA, M. A. G. Linguagem na síndrome de Down. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.14, n. 2, p.127-137, 1998.
VOIVODIC, M.A.M.A; STORER, M.R.S. O desenvolvimento cognitivo das crianças com síndrome de Down à luz das relações familiares. Revista Psicologia: Teoria e Prática. 2002.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Martins Fontes, São Paulo, p. 99. 1988.

Continue navegando