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CARTOGRAFIA Larissa Figueiredo Daves Conceitos de cartografia e mapa Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar tipos de comunicação cartográfica. Sintetizar a história da cartografia e sua importância. Descrever as teorias e os postulados da cartografia. Introdução A cartografia representa o conhecimento a partir das informações en- contradas no mapa. Por meio da comunicação cartográfica, técnicas e instrumentos são utilizados com o objetivo de mostrar a realidade de maneira clara e exata. Assim, a cartografia é entendida como comunicação e análise, enquanto o mapa é uma abstração da realidade. A comunicação é um fenômeno essencial ao debate no plano do conhecimento humano desde os primórdios da humanidade. A comunicação cartográfica é um assunto presente em discussões sobre cartografia e geografia, principalmente, no que diz respeito às representações utilizadas em estudos geográficos e postulados da cartografia. Neste capítulo, você estudará o desenvolvimento da comunicação cartográfica e as características elementares de um mapa a partir da cartografia. Além disso, aprenderá sobre a história da cartografia como ciência, sua relação com a geografia e seus postulados. Comunicação cartográfica e sua essência para a leitura de mapas A comunicação é uma forma de reproduzir informações a partir de linguagens, símbolos e representações. Já a comunicação cartográfi ca é feita por mapas, e sua relevância encontra-se na representação de dados cartográfi cos. Desse modo, ela antecede o mapa, utilizando cartas para determinar o conteúdo de novas informações. A cartografi a como comunicação concentra-se mais na carta existente: como foi feita e como pode ser lida e interpretada. Essa não é a única forma de comunicação, mas uma forma especializada que dá ênfase ao visual. A cartografia como ciência vem do conhecimento de como comunicar, com quais instrumentos e técnicas, para que a realidade representada fique bem mais exata. É o conhecimento de quais símbolos colocar no mapa e quais itens omitir. É o conhecimento da projeção usada no mapa e de como os mapas são produzidos. Também, a ciência na cartografia permite o uso de técnicas avançadas que proporcionam a produção de mapas através de computadores, de imagens de satélites ou fotografias aéreas (ANDERSON, c1982, p. 13). Nesse sentido, o mapa é uma abstração científica da realidade. Essa afir- mação nos permite entender que o: [...] mapa antecipava a realidade espacial, e não vice-versa. Em outros termos, um mapa era um modelo para o que (e não um modelo do que) se pretendia representar. [...] Ele havia se tornado um instrumento real para concretizar projeções sobre a superfície terrestre (WINICHAKUL apud ANDERSON, 2008, p. 239–240 apud FONSECA; OLIVA, 2012, p. 30). Assim, podemos definir o mapa como um instrumento de representação dos aspetos geográficos naturais ou artificiais da Terra destinado a fins cul- turais, políticos, ilustrativos ou científicos. Trata-se de uma representação gráfica, na maioria das vezes, de uma superfície plana com escala específica, que demonstra os terrenos acidentados física ou culturalmente da superfície terrestre, podendo ser também de algum planeta ou satélite. Suas posições devem apresentar precisão em conjunto com um sistema de coordenadas. O mapa também deve denominar parte ou toda a superfície da esfera celeste (OLIVEIRA, 1993). Conceitos de cartografia e mapa2 Para Lacoste (1988), a geografia e o mapa sempre foram confundidos, ou seja, fazer geografia era o mesmo que fazer mapas. Esse pensamento prevaleceu até o final do século XIX, antes de a geografia constituir-se como ciência. Christian Jacob (1992) relata que é de extrema relevância a desconstrução dos mapas antigos e das representações imagéticas (paisagens), pois não descon- sideram as concepções espaciais explícitas (ou implícitas) nas representações do espaço (mapas e paisagens). Fonseca e Oliva (2012, p. 28), ao explanarem sobre espaço e tempo, falam sobre “[...] ‘virtudes e características’ universais da ‘categoria’ espaço, quando o são na verdade parte de uma percepção (uma construção) histórica e limitada de um espaço não generalizável”. Assim, po- demos observar a relevância dos mapas na análise histórica, cultural e política. No que diz respeito à utilização dos mapas para auxílio na análise do espaço geográfico, Jacques Lévy e Michel Lussalt (2003, p. 13, tradução nossa) abordam que: O mapa é um bom exemplo de objeto híbrido: ele é uma representação do espaço fixo na matéria e constitui em si mesmo um espaço próprio, suporte de usos específicos. Este se situa na microescala, mas na interespacialidade, via mapa e linguagens com outros níveis escalares, pode nutrir outras práti- cas de espaço e vários imaginários. Este exemplo, tomado dentre os objetos espaciais que os geógrafos mais utilizaram e naturalizaram, mostra bem toda a complexidade do menor fenômeno que implica uma relação com o espaço. O mapa pode ou não ter caráter científico, além de relatar a respeito da comunicação cartográfica três atributos imprescindíveis: escala; projeção; simbolização. Nesse sentido, as vantagens e limitações derivam do grau pelo qual os mapas: 1. reduzem e generalizam a realidade; 2. comprimem ou expandem formas e distâncias por projeção; 3. apresentam fenômenos selecionados por meio de sinais que, sem possuir semelhanças com a realidade, comunicam as características visíveis ou invisíveis da paisagem. 3Conceitos de cartografia e mapa Assim, a linguagem cartográfica utiliza-se da representação de quatro elementos fundamentais: os três primeiros elementos têm como referência o fundo do mapa, ou seja, a base de informações contextuais julgadas úteis para esclarecer uma situação. O quarto elemento refere-se às informações projetadas sobre o fundo. Os elementos que compõem o mapa estão elencados no Quadro 1. Elementos indispensáveis do mapa Função e posição Escala Contexto, redução da área (fundo do mapa) Projeção Controle de deformações (fundo do mapa) Métrica Contexto, definição de áreas (fundo do mapa) Simbólico Informações projetadas no fundo do mapa Quadro 1. Linguagem cartográfica Kolacny (1967, apud GIRARDI, 2009) apresenta o processo de transmissão de informações por meio de mapas, permanecendo até os dias atuais como o modelo analítico por meio da comunicação cartográfica. A comunicação cartográfica ainda representa o foco da cartografia, principalmente, a partir do momento em que, pelo processo de visualização, chegou-se a um resultado a ser publicitado. Na Figura 1, podemos observar o modelo de transmissão da informação cartográfica. Esse modelo identifica o início e o fim do processo — a realidade, ou seja, a intersecção das esferas chamadas de realidade do cartógrafo e realidade do usuário do mapa. Desse modo, o mapa relaciona- -se diretamente com a dimensão do cruzamento dessas esferas a fim de mostrar a máxima intersecção, configurando o desejo do cartógrafo. Toda- via, as dimensões que afetam tanto o cartógrafo como o usuário do mapa devem ser levadas em consideração, pois, quanto mais o cartógrafo puder conhecer sobre o perfil, as condições e as necessidades do usuário do mapa, maiores serão as possibilidades do uso da linguagem cartográfica adequada para esse usuário. Conceitos de cartografia e mapa4 Fi gu ra 1 . M od el o de c om un ic aç ão c ar to gr áf ic a. Fo nt e: G ira rd i ( 20 09 , p . 1 52 ). 5Conceitos de cartografia e mapa Nesse sentido, o modelo proposto por Kolácny, ao expor as condições do usuário como componente do processo comunicativo, almejou uma série de investigações a respeito de como a informação é recebida pelo usuário do mapa, uma vez que o acesso à informação mapeada aumenta o uso de mapas como fonte de conhecimento por parte do usuário (GIRARDI, 2009). Segundo Nogueira (2009), para a cartografiatemática, os temas a serem mapeados são muitos variados. Diante disso, a construção de cada mapa temá- tico é sempre um novo desafio, que visa à confecção de um mapa eficiente para o leitor. A informação expressa pelo mapa temático deve cumprir sua função, ou seja, dizer o que, onde e como ocorre determinado fenômeno geográfico a partir de símbolos gráficos para facilitar a compreensão do usuário final sobre diferenças ou semelhanças. As pesquisas em comunicação cartográfica passaram por muitas fases. No início dos anos de 1950, a cartografia apresentou métodos de pesquisa da psicofísica para examinar as relações entre estímulo-resposta e símbolos individuais. Ao final dos anos 1960 e início dos anos 1970, os pesquisadores produziram teorias sobre comunicação cartográfica tentando formalizar o processo cartográfico, porém tiveram dificuldades para interpretar os resul- tados das experimentações cognitivas com mapas, principalmente, por causa do surgimento dos computadores. Peterson (1994) e Wood e Keller (1996) relatam que, durante o início dos anos de 1980, os microcomputadores desviaram o interesse pela experimenta- ção cognitiva para o entendimento da nova tecnologia e de como desenvolvê-la para automatizar as operações cartográficas e implementar algoritmos com essa finalidade. Nesse período, iniciava-se o processo de adaptação às inovações tecnológicas com novas ferramentas que deveriam ser integradas às recentes formas de comunicação cartográfica. Nos anos de 1990, ressurgiu o interesse pela cognição na cartografia, en- tretanto, os computadores pessoais tornaram-se equipamentos que produziam mapas em papel e eram um novo meio de comunicação. Diante disso, essa flexibilidade exercida com o uso dos computadores — para dados matriciais, vetoriais e textos que podem ser acessados e combinados — conduzia à ex- ploração de novas alternativas de representação cartográfica sem custos, algo inédito para a época. Nesse sentido, ocorreu o retorno à cognição, envolvendo a dinâmica de display associada à visualização (PETERSON, 1994 apud NOGUEIRA, 2009; WOOD; KELLER, 1996). Nesse período, a computação gráfica proporcionou, a partir da dinâmica de display, a seguinte novidade para a cartografia: flexibilidade na visualização de mapas, pois a visualização co- meçou a assumir um papel preponderante ao lado da comunicação cartográfica. Conceitos de cartografia e mapa6 Cognição cartográfica é um processo único na medida em que desenvolve o uso do cérebro humano para reconhecer padrões e relações em seu contexto espacial (TAYLOR, 1994). História da cartografia Os estudos da cartografi a tiveram início em épocas remotas, quando grupos humanos começaram a representar seu modo de vida, principalmente, em relação à localização e ao seu uso no cotidiano. Assim, a evolução da carto- grafi a é muito relevante até os dias atuais por sua importância no decorrer da evolução das civilizações. Os primeiros estágios sob a forma de mapas itinerários foram feitos por populações nômades no período da Antiguidade. Após esse período, na Grécia Antiga, o conhecimento geográfico e cartográfico esteve idealizado na obra Geografia do astrónomo, geógrafo e cartógrafo grego Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90–168 d.C.). Em sua obra, ele apresenta os princípios da carto- grafia matemática, das projeções e dos métodos de observação astronômica. A contribuição da Grécia Antiga para a ciência cartográfica foi ignorada durante toda a Idade Média, retomada apenas no século XV, quando teve grande influência sobre o pensamento geográfico da época, em um período denominado Renascimento de Ptolomeu (ANDERSON, c1982). De acordo com Anderson (c1982), a evolução da cartografia foi institucionali- zada pelas guerras, pelas descobertas científicas, pelo desenvolvimento das artes e ciências e pelos movimentos históricos, que possibilitaram maior precisão na representação gráfica da superfície da Terra. Na Grécia Antiga, Hiparco (160–120 a.C.) mostrou os primeiros fundamentos da ciência cartográfica utilizando métodos astronômicos para a determinação de posições na superfície da Terra. Além disso, sugeriu a solução para o problema relativo ao desenvolvimento da superfície da Terra sobre um plano idealizando a projeção cônica. Nessa época, os gregos obtiveram as concepções da esfericidade da Terra, polos, equador e trópicos, que configuraram as primeiras medidas geométricas, a idealização do primeiro sistema de projeção e a introdução das noções de longitude e latitude. No século XII, o geógrafo árabe Abdullah Al Idrisi introduziu a agulha magnética com base no campo matemático teórico para atender às exigências náuticas motivadas pelo desenvolvimento da navegação, dando início ao aspecto 7Conceitos de cartografia e mapa funcional da cartografia nesse período. No início do século XIV, as cartas Portulanas obtiveram o ressurgimento e a expansão da obra de Ptolomeu, principalmente, pelos navegadores de Gênova. Essas cartas não obedeceram nenhum critério de projeção, pois eram reservadas aos navegantes que possuíam o traçado das loxodromias (rumos) e o delineamento das costas dos países mediterrâneos (MARTINELLI, 2003; ANDERSON, c1982). A revolução da cartografia teve início no século XV, e o advento da agulha magnética permitiu a exploração dos mares, além de intensificar o comércio para Leste, auge dos descobrimentos portugueses. A obra de Ptolomeu foi explanada novamente na cartografia, sofrendo modificações e adaptações de acordo com o interesse dessa época pela navegação. Com o conhecimento da gravação ou impressão, foi possível uma produção cartográfica abundante, substituindo os manuscritos dispendiosos. Assim, a navegação foi estudada a partir de métodos racionais na Escola de Sagres, e o espírito aventureiro português a serviço dessa Escola descobriu o mundo. No século XVI, a vasta produção cartográfica teve destaque com os tra- balhos dos cartógrafos portugueses, espanhóis e italianos, como Fernão Vaz Dourado, Toscaneli, Cantino e Pedro Nunes. Na Figura 2, podemos observar o mapa-múndi do ano de 1500, confeccionado por Juan de La Cosa, o navegador de Cristóvão Colombo, além da representação cartográfica da navegação e sua característica rústica (ANDERSON, c1982). Figura 2. O mapa-múndi de Juan de La Cosa, utilizado por Cristóvão Co- lombo em 1500. Fonte: CRISTÓVÃO... ([2019], documento on-line). Conceitos de cartografia e mapa8 Anos depois, ainda no século XVI, teve o surgimento da cartografia ho- landesa com a representação de Mercator e Ortelius, sucedendo a cartografia mediterrânea. Em 1569, surgiu o primeiro mapa do Mercator, nome latino de Guerhard Kramer, cuja projeção mostra os meridianos em linhas retas e paralelas formando ângulos retos com os paralelos, também representados por linhas retas e paralelas (Figura 3). Assim, para manter a conformidade das áreas, a separação entre duas paralelas aumenta em direção a cada polo ou em proporção direta com o afastamento dos paralelos em relação à linha do Equador (ANDERSON, c1982). O século XVIII foi marcado pela instituição de academias científicas, dando início à ciência cartográfica moderna. A escola francesa Grandes apresentou inovações como, por exemplo, a proposta do astrônomo francês Cesar-François Cassini de Thury (1714–1784), que produziu a primeira série sistemática de mapas topográficos para a França (MARTINELLI, 2003). Figura 3. Primeiro mapa do Mercator, confeccionado por Mercator e Ortelius em 1569. Fonte: Le Point.fr (2015, documento on-line). Durante o Imperialismo, ao final do século XIX, ocorreu um grande im- pulso nos mapeamentos devido aos novos conhecimentos. Nesse período, cada potência necessitava de um inventário cartográfico com vistas às investidas nas áreas de dominação para sua exploração espoliativa. Ao final do século XVIII e início do século XIX, emergiu a cartografia temática, além do surgimento e sistematização de diferentes ramos de estudos operadoscom a divisão do trabalho científico (MARTINELLI, 2003). 9Conceitos de cartografia e mapa Ao final do século XX e início do atual século, a cartografia tem sido vincu- lada à área da informática. Existem as novas tecnologias que possibilitam que geógrafos e profissionais da área confeccionem mapas atrelados a tecnologias da informação (Sistema de Informação Geográfica [SIG], geoprocessamento e sensoriamento remoto) com a utilização de softwares com o objetivo de representação do espaço geográfico. Entretanto, é possível observar como a geografia está relacionada com a cartografia, segundo Lacoste (1988), o real, o espaço geográfico, é somente aquilo que pode ser mapeado, colocado sobre a carta, delimitado, com precisão sobre o terreno e definido em termos de escala cartográfica. Além disso, a geografia, em suas premissas epistemológicas e análise do processo científico ligado a uma história, deve ser entendida, de um lado, em suas relações ideo- lógicas junto à ciência e, de outro, como prática ou como poder, pelo interesse da sociedade, principalmente, ao uso da cartografia. Leia mais a respeito da cartografia geográfica no artigo “Mapas desejantes: uma agenda para a Cartografia Geográfica”, de Gisele Girardi. Acesse o link a seguir para ler o trabalho na íntegra. https://qrgo.page.link/ChS67 Arte da cartografia: teorias e postulados da cartografia temática A abordagem de teorias na cartografi a tem sido desenvolvida, principalmente, sobre a cartografi a temática na segunda metade do século XIX. A cartografi a teórica moderna, pelo domínio da geografi a, ainda teve atreladas aos seus ob- jetivos a tecnologia de levantamentos e a topografi a, e essa tendência teve mais destaque sobre a técnica e prática da cartografi a topográfi ca do que a teoria. A intenção dos geógrafos era produzir mapas voltados a projeções e cores, representação de relevo e elaboração de atlas (ARCHELA; ARCHELA, 2002). A teoria da semiologia gráfica, preconizada pelo geógrafo Jacques Bertin, salienta a necessidade da transmissão de mensagens com significado universal por parte dos mapas (FONSECA, 2007). Segundo Bertin (1973), a cartografia, Conceitos de cartografia e mapa10 assim como a representação gráfica, possibilita a linguagem, constituída pelos homens para comunicar observações essenciais à sua sobrevivência, definida como linguagem bidimensional atemporal e destinada à vista. Apresenta relevância sobre as demais devido à percepção do leitor ao interpretar o mapa. Diante disso, o autor formulou o sistema semiológico monossêmico como apoio a análise da representação cartográfica. Haja vista que a teoria da semiologia gráfica contribuiu para a construção de mapas ou gráficos para serem vistos e não para serem lidos, com base na percepção imediata, a apreensão deve ser nítida e acessível. O nível monos- sêmico de imagens é construído por um sistema semântico a partir do estudo das regras relacionadas aos signos. Quando se utilizam as primitivas gráficas em uma representação cartográfica, pode-se fazer com que os pontos, as linhas ou áreas sejam mais ou menos perceptíveis. A maneira de conseguir isto é considerar a alteração da sua forma, tamanho, orientação, cor, valor e textura. Denominadas variáveis visuais segundo Bertin nos anos 1960 para representação gráfica compondo uma linguagem bidimensional e atemporal destinada a visão humana (NO- GUEIRA, 2009, p. 128). Bertin (1986) explana duas abordagens a respeito da representação gráfica, explanadas a seguir. a) Neográfica de tratamento: atenta analisar relações existentes entre dados de uma tabela e como agrupá-las para constituir respostas satisfatórias às questões que precisam ser formuladas. b) Neográfica de comunicação: apresenta preocupação em fixar e transmi- tir às pessoas o que foi descoberto nos dados, considerando as dimensões do plano (seja na folha de papel ou tela de computador), chamando a atenção do leitor pela variação visual de manchas. Todavia, a semiologia gráfica é utilizada na construção de mapas temáticos (MARTINELLI, 2003; NOGUEIRA, 2009). A teoria da informação tem influência na cartografia por meio dos sis- temas comunicacionais embasados na teoria geral da comunicação. Utiliza o método para controlar os ruídos de canal que apresenta com o objetivo de transmitir, independentemente de seu conteúdo, um número maior de sinais do que o necessário para a recepção da mensagem, o que implica na repetição de sinais ou redundância. Devido à comunicação cartográfica, vista como produção teórica e metodológica ligada a teoria da informação, nesse caso, a 11Conceitos de cartografia e mapa produção de mapas é explanada com base na dimensão sintática. Essa dimensão é um fenômeno da comunicação pelo mapa, que compreende como construir mensagens que apresentem condições excelentes para, quando veiculadas pelo canal, almejem de forma mais eficiente possível o receptor. Nesse sentido, o mapa é o resultado do processo de comunicação cartográ- fica, pois permite que o conteúdo da realidade seja observado e processado pelo cartógrafo. Além do ato de comunicação, tem que ter significado para que o cartógrafo apresente a realidade do fenômeno a ser mapeado para, en- tão, produzir mapas eficientes, capazes de produzir o efeito que o cartógrafo almeja enquanto emissor da informação. O cartógrafo deve ter em mente a codificação correta dos fenômenos para que os objetivos da transmissão da informação cartográfica sejam alcançados por meio da interseção do reper- tório do cartógrafo com o repertório do usuário de mapa definido no campo comunicacional (GOMES et al., 2013). Segundo Archela e Archela (2002), Taylor foi o precursor da teoria da modelização, introduzida pela tecnologia SIG, resultado da intensiva utilização de métodos matemáticos e estatísticos com diversas variáveis e também da evolução tecnológica e da computação com o auxílio de programas gráficos. Desde então, é possível acessar bases cartográficas que interagem com bancos de dados e produzir documentos cartográficos para a análise espacial. Nos dias atuais, com a ampliação do número de usuários dos SIGs, tornou-se inevitável a melhor capacitação de profissionais em geografia e cartografia. A teoria cognitiva utiliza como método cartográfico o envolvimento com operações mentais lógicas como comparação, análise, síntese, abstração, gene- ralização e modelização cartográfica. Essa pesquisa cartográfica apresenta o mapa como uma fonte variável de informações, dependendo das características do usuário. Ela foi desenvolvida a partir da psicologia, contribuindo para a cartografia tanto no processo de mapeamento quanto para o cartógrafo, pois gerou a preocupação com as características do usuário, como no processo de leitura do mapa. Portanto, o mapa é definido como um instrumento para a aquisição de novos conhecimentos sobre a realidade representada. Essa teoria teve contribuições a respeito dos mapas mentais e da alfabetização cartográfica (ARCHELA; ARCHELA 2002). Conceitos de cartografia e mapa12 A teoria da visualização cartográfica permitiu para a cartografia uma nova concepção de visualização. Sobre a cartografia contemporânea e sua visão particular do que seria a visualização cartográfica no início da década de 1990, Mcormick et al. comentam que: A visualização é um método da computação em que a computação gráfica e a tecnologia de processamento de imagens são usadas em aplicações científicas de análise intensiva de dados, visando transformar o simbólico em geométri- co, capacitando assim o pesquisador a observar suas simulações e cálculos (MCORMICK et al., 1987 apud WOOD; KELLER, 1996). Assim, a visualização possibilita que o pesquisador produza rapidamente um número de imagens com diversas combinações das variáveis de um con- junto de dados. Essa teoria apresenta, a partir da visualização, o potencial de revitalizar a cartografia para além do SIG e da cartografia digital, buscando os atlaseletrônicos interativos e os sistemas de multimídia do SIG, entre as inúmeras tecnologias. As definições e os conceitos desse tipo de atlas envolvem visualização da informação, esquematização, análise comparativa, ordenação, animação, modelagem dinâmica, projeção, navegação casual, hipertexto, base de dados e capacidade para o processamento de interatividade. Nesse sentido, a visualização e os sistemas de mapeamento eletrônico de multimídia envolvem três elementos conceituais, tecnologias sofisticadas que estão na junção dessas novas tecnologias com a cognição e a comunicação cartográfica (ARCHELA; ARCHELA, 2002). O desenvolvimento da cartografia teórica tem sido o tema atual para os estudos geográficos. No artigo “Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa”, Rosely Sampaio Archela e Edison Archela observam as correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa brasileira. 13Conceitos de cartografia e mapa ARCHELA, R. S.; ARCHELA, E. Correntes da cartografia teórica e seus reflexos na pesquisa. Geografia, v. 11, n. 2, p. 161–170, 2002. ANDERSON, P. S. Princípios da cartografia básica. [S. l.: s. n.], c1982. v. 1. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3344668/mod_resource/content/1/ ANDERSON%2C%20P.%20Princ%C3%ADpios%20de%20Cartografia%20B%C3%A1sica. pdf. Acesso em: 11 dez. 2019. BERTIN, J. A neográfica e o tratamento da informação. Curitiba: UFPR, 1986. BERTIN, J. Sémiologie graphique. Paris: Mouton, 1973. CRISTÓVÃO Colombo. In: WIKIPÉDIA, [2019]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/ wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo. Acesso em: 11 dez. 2019. FONSECA, F. P. O potencial analógico da cartografia. 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Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. São Paulo: Contexto, 2003. NOGUEIRA, R. E. Cartografia: representação, comunicação e visualização de dados espaciais. 3. ed. Florianópolis: UFSC, 2009. OLIVEIRA, C. Dicionário cartográfico. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993. PETERSON, M. P. Cognitive issues in cartographic visualization. In: MACEACHEREM, A. M.; TAYLOR, D. R. F. (ed). Visualisation in modern cartography. Oxford: Elsevier Science, 1994, p. 27–43. TAYLOR, D.; FRASE, R. Uma base conceitual para a cartografia: novas direções para a era da informação. Caderno de Textos — Série Palestras, São Paulo, v. 1, n.1, p. 11–24, ago. 1994. WOOD, C. H.; KELLER, C. P. Design: its place in cartography. In: WOOD, C. H.; KELLER, C. P. (ed). Cartographic design: theoretical and practical perspectives. 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