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Síndromes medulares Frederico Frazão PG2 Neurologia – PUCRJ Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro Introdução A medula espinal é uma estrutura cilíndrica, comprida, envolta pelas meninges, que se estende do crânio até a borda inferior da primeira vértebra lombar. Os 31 pares de nervos espinais produzem uma segmentação externa. Assim considera-se a medula composta por 31 segmentos, cada qual fornece pares de filamentos radiculares ventrais e dorsais. A segmentação é a base da avaliação neurológica padronizada da medula espinal. A área da pele inervada por axônios sensitivos de cada raiz nervosa, que corresponde a um segmento medular é chamada de dermátomo O conjunto de fibras musculares inervadas por axônios motores de cada raiz nervosa, de cada segmento medular, é chamada de miótomo. Anatomia 8 pares nervos cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5 sacros e 1 coccígeo. Em recém nascidos a medula espinhal pode estender-se até L3 Durante a maturação a coluna vertebral alonga-se mais que a medula espinhal, sendo assim medula espinhal termina em nível de L1-L2 . Punções lombares deverão ser feitas abaixo deste nível . Cada segmento da medula origina um nervo espinhal misto que contém fibras motoras, sensoriais e autonomicas . Anatomia Região central de substancia cinzenta em forma de H ou borboleta circundada pela branca O H medular Contém substância cinzenta composta por corpos de neurônios fibras amielínicas, neuróglia) Se divididem em colunas anterior posterior e intermédia(central e lateral) A Substancia branca formada por neuróglia e fibras mielínicas circunda a substância cinzenta. Agrupam-se em tratos e fascículos, vias, onde passam impulsos nervosos No centro da substancia cinzenta encontra-se canal central ou ependimario Intumescências (nº aumentado de neurônios para sensibilidade e inervação motora dos membros = formação dos plexos nervosos) Cervical C5 a T1 Lombossacra L1 a S2 Relação segmentos medulares e processos espinhosos. Segmento medular processo espinhosos das vertebras C1 C1 C7 C6 T6 T4 L1 T10 S1 T12 a L1 Níveis medulares ≠ Níveis vertebrais Nível Motor O segmento medular mais inferior cujo músculo-chave apresenta força grau 3, desde que os músculos-chave representados nos segmentos superiores tenham força normal Miótomos clinicamente relevantes Segmento medular Miótomo C5 Deltoide C6 Bíceps C7 Tríceps T1 Região hipotênar L4 Quadríceps L5 Extensor hálux S1 Gastrocnêmico S3 e S4 Esfíncter interno do anus Nível Sensitivo Definido como o segmento mais caudal da medula espinal com função sensitiva normal de ambos os lados do corpo. Cervical Toracica Lombar e Sacral C2 Occipital C3 fossa supraclavicular C4 articulação acromioclavicular C5 lateral braço (fossa antecubital) C6 Polegar C7 Indicador / Dedo médio C8 Dedo mínimo T4 Linha mamilar T7 Xifoide T10 cicatriz umbilical T12 ligamento inguinal L1 antero lateral da coxa L2-L3 face medial da coxa - L4 maleolo medial L5 dorso do pé S1 Borda lateral do calcanhar S2 fossa poplítea S3 tuberosidade isquiática S4 e S5 região perianal Reflexos C5-C6 - Bicipital (nervo musculocutâneo) C5-C6 – Braquiorradial (nervo radial) C7-C8 - Tríciptal (nervo Radial ) C8-T1 – Flexor dos dedos (nervos mediano e ulnar) L3-L4 – Patelar (nervo femoral) S1 – aquileu (nervo ciático) S2,S3,S4 - Bulbocavernoso , contração anal Radiculopadias Radiculopatias Defict motor Defct sensitivo Diminuição reflexos C4 Levantador escapula e elevação ombro - - C5 Deltoide e bíceps - Biceps C6 Braquiorradial e extensão do punho Parestesia no polegar Braquiorradial C7 Triceps e flexão punho Parestesia em em index, dedo médio e anelar Triceps C8 Flexao da falange distal em índex e dedo medio Parestesia em dedo minimo Vias motoras e sensitivas Anatomia A substancia branca é dividida em funículos posterior, lateral e anterior A substancia cinzenta é divididas em colunas posterior, lateral e anterior Tratos ascendentes: Funiculo posterior: Fasciculo grácil Fasciculo cuneiforme Funiculo lateral: Espinocerebelar Espinotalamico lateral Funiculo anterior : Espinotalamico anterior Tratos descendentes: Funiculo lateral: (piramidais) Corticoespinal (ant e lat) Funiculo lateral e anterior: (extrapiramidais) Rubroespinhal Reticuloespinhal Vestibuloespinhal Olivoespinhal Trato espinotalamico anterior – impulso de pressão e trato grosseiro (cruzado) Trato espinotalamico lateral – impulsos temperatura e dor (cruzado) Fasciculo gracil/cuneiforme – impulsos de trato epicrítico , propiocepção consciente , sensibilidade vibratória e esteriognosia. Membro superior e metade superior do tronco. (direto) Trato espinocerebelar anterior/posterior – impulsos proprioceptivos inconscientes Trato corticoespinhal anterior – pequenas fibras originadas do córtex motor que não se decussam Trato corticoespinhal lateral (via piramidal) – trato da motricidade voluntária (cruzado) Trato vestibuloespinhal – controle do tônus da musculatura antigravitacional Tratos da medula espinhal Síndrome de transecção medular completa Todos os tratos serão lesados, tanto motores como sensitivos TO ETIOLOGIAS : TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR - Estável com possibilidade de melhora MIELITE TRANSVERSA INFECCIOSA AUTOIMUNE -Estável com possibilidade de melhora ou em surtos FASE AGUDA CHOQUE MEDULAR Paralisia flácida Arreflexia Perda total da sensibilidade Ausência de função autonômica Bexiga atônica Relaxamento dos esfíncteres Síndrome de transecção medular completa FASE CRÔNICA Paralisia espástica (i.e. com hipertonia) Hiperreflexia Perda total da sensibilidade Alterações autonômicas Sudorese exagerada Piloereção exacerbada Alterações vasculares cutâneas Hipertonia vesical e dos esfíncteres Como descobrir o nível da lesão? Pela presença de nível sensitivo Brown-Sequard síndrome (hemissecção de medula) Brown-Sequard é a lesão da hemissecção medular e geralmente por trauma penetrante. O paciente terá lesão em coluna dorsal, trato corticoespinhal e espinotalamico. Brown-Sequard síndrome (hemissecção de medula) Paralisia motora ipsilateral (NMI) e atrofia muscular no segmento da lesão Espasticidade bilateral abaixo do nível da lesão (tratos descendentes não corticospinal) Sinal de Babinski e perda de reflexos cutâneos ipsilateral abaixo do nível de lesão (trato corticospinal) Faixa ipsilateral de anestesia cutânea no segmento da lesão (raiz posterior) Perda contralateral incompleta do tato 2-3 segmentos abaixo da lesão (trato espinotalâmico anterior) Perda ipsilateral da discriminação tátil e propriocepção abaixo da lesão (funículo posterior) Perda contralateral das sensações de dor e temperatura abaixo da lesão (trato espinotalâmico lateral) - fibras cruzam Síndrome coluna anterior Poupa: coluna dorsal Compromete: trato espinotalamico e corticoespinhal Clínica: paralisia bilateral (NMI) e atrofia muscular no segmento da lesão paralisia espástica bilateral abaixo do nível da lesão (tratos descendentes) perda bilateral das sensações de dor, temperatura e tato grosseiro abaixo da lesão (tratos espinotalâmicos) Causas: Infecciosas: poliomielite, enterovírus 71, West Nile Hereditárias: atrofia muscular espinhal Degenerativas: esclerose lateral amiotrófica Tóxica: intoxicação por chumbo Inflamatória: síndrome paraneoplásica Se acometimento do trato corticoespinhal: síndrome anterior combinada presença de sinais piramidais associados (ELA, HTLV-I) Esclerose lateral amiotrófica Perda da motricidade voluntária por lesão dos neurônios motores alfa. Poliomielite Vírus tem atração principalmente aos cornos ventrais da medula (motores) -Paralisia flácida nos músculos correspondentes a área lesada, seguida depois de algum tempo de hipertrofia Síndrome posterior da medula Acometimento da sensibilidade profunda, trato corticoespinhal e vias autonômicas Diminuição da sensibilidade vibratória e propriocepção(ataxia sensitiva); sinal de Romberg ; sinal de Lhermitte. Diminuição de força, reflexos exaltados, Sinal de Babinski bilateralmente, espasticidade. Alterações esfincterianas Causas: • Inflamatórias: esclerose múltipla, mielite paraneoplásica • Metabólica: Deficiência de vitamina B12 e cobre. • Infecciosas: Sífilis (tabes dorsalis), HIV, HTLV-I • Estrutural: espondilose cervical TABES DORSALIS (neurossífilis) Treponema Palidum se aloja na medula e acomete principalmente o foniculo posterior. -Dificuldade de tato e procicepção (marcha tabética) Síndrome central da medula Paralisia bilateral e atrofia muscular no segmento da lesão (predominante nos MMSS) Paralisia espástica bilateral abaixo do nível da lesão (trato piramidal), com preservação sacral Perda bilateral das sensações de dor, temperatura, tato grosseiro e pressão abaixo da lesão, com preservação sacral Siringomielia Anormalidade de desenvolvimento do canal central Congênita Secundaria a malformação de Arnold Chiari Associado a hidrocefalia Adquirida Secundaria a um insulto Exemplo: AVC, trauma , meningite, hemorragia ou tumor No local da lesão, ocorre cavitação e gliose Na região central ocorre perda bilateral das sensações de dor e temperatura nos dermátomos relacionados aos segmentos medulares acometidos (cruzamento dos tratos espinotalâmicos laterais na comissura branca anterior) Fraqueza nos pequenos músculos das mãos Espasticidade bilateral abaixo do nível da lesão (tratos descendentes não corticospinal) Sinal de Babinski e hiperreflexia tendínea abaixo do nível de lesão (trato corticospinal), síndrome de Horner pode estar presente (lesão de fibras autonômicas no funículo lateral – trato reticuloespinal) Síndrome da cauda equina Sintoma de instalação lenta e irregular Sintomas esparsos de acordo com as raízes envolvidas Dor é o sintoma proeminente Distúrbios sensitivos tardios Todos os tipos de sensibilidade podem estar envolvidos em graus variáveis Síndrome de cone medular Lesões ao redor de L1 Paresia distal nas pernas Perda de sensação perianal e perineal (anestesia em sela) Disfunção erétil Retenção urinária, frequência ou incontinência Incontinência fecal Esfíncter anal hipotônico Reflexo bulbocavernoso e da prega anal anormais Síndrome de cauda equina é mais dolorosa, acompanhada de sinal de Lásegue, alterações motoras assimétricas, alteração esfincteriana e sexual progessivas. Na síndrome do cone medular, a dor é menor e as alterações esfincterianas são mais precoces. Síndrome da artéria espinal anterior Acomentimento de 2/3 da área seccional da medula Lesão de todas as vias exceto a cordonal posterior. Paralisia flácida bilateral no segmento da lesão Paralisia espástica bilateral abaixo da lesão Perda da sensibilidade termoalgésica bilateral abaixo do nível da lesão Preservação da sensibilidade profunda Alterações autonômicas : -Sudorese exagerada -Piloereção exacerbada -Alterações vasculares cutâneas -Hipertonia vesical e dos esfíncteres ETIOLOGIAS VASCULAR Tromboembolismo Vasculite Estável com possibilidade de melhora ou em surtos Como investigar? Exames de imagem (RM x TC x Rx X angiografia) Hemograma e bioquímica Função tireoidiana Dosagem de vitamina B12, ácido fólico, Cobre VDRL, Sorologia para HIV+ HTLV-I Pesquisa de auto-anticorpos (FAN, Anti-ro, Anti-la, Anti-NMO) Análise do LCR (PCR para vírus, pesquisa de bandas oligoclonais) Neurofisiologia: ENMG e potenciais evocados Bibliografia Neuroanatomia Funcional – Angelo Machado, 3º edição Tradado de neurologia da Academia Brasileira de Neurologia, 2º edição
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