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FUNÇÕES E EVOLUÇÃO DA MOEDA Com a evolução das sociedades, dos mercados e, portanto, das trocas, a intermediação monetária começa a se fazer presente, e a sociedade avança para um sistema de trocas indiretas. Nesse novo sistema, bens são trocados por moeda e moedas são trocadas por bens. Com esse avanço, a moeda passa a fazer parte das economias e a ser considerada como uma necessidade social, exercendo suas funções e fazendo parte da vida das pessoas. Contudo, como definir moeda? Por primeira aproximação, moeda é todo ativo capaz de liquidar quaisquer compromissos contratuais à vista ou futuros. A moeda é um artigo utilizado para efetuar trocas. Da‑se moeda em troca de algo. Trabalhamos em troca de moeda. O termo moeda designa moedas metálicas e papel‑moeda, as cédulas que utilizamos. A moeda tem valor? Parece estranho dizer, mas, nas economias modernas, as notas, bem como as moedas, não têm valor. Na verdade, elas representam valor! Representar valor significa ter poder aquisitivo. Uma cédula de R$ 50,00 representa um poder de compra de cinquenta unidades monetárias. A moeda é um objeto que responde a uma necessidade social decorrente da divisão do trabalho. A divisão social do trabalho, característica da economia capitalista moderna, especializou unidades de produção e indivíduos. Os agentes econômicos se tornaram, assim, extremamente independentes. Necessitam fazer inúmeras compras e vendas em períodos, às vezes, bastante curtos. Uma sociedade sem moeda teria uma vida econômica pouco ágil. O tempo para se concretizar uma transação comercial aumentaria demasiadamente, e o desgaste físico e mental para se realizar tal operação seria, talvez, insuportável. Por exemplo, diante de uma chuva inesperada, um indivíduo desejoso de adquirir um guarda‑chuva e que tivesse um excedente em laranjas teria que encontrar alguém que tivesse um excedente de guarda-chuvas. Esse tipo de coincidências é chamado de coincidência mútua e complementar de necessidades. Elas podem ocorrer, mas certamente são raras e sua busca desgasta física e mentalmente os interessados em transações específicas. Caracterização e funções básicas da moeda Em uma economia monetária, os agentes recebem suas remunerações em moeda e podem, portanto, fazer planos mais flexíveis. Adquirem liberdade para comprar o que desejarem e quando desejarem, em geral, sem qualquer perda de tempo ou desgaste físico e mental com as dificuldades em realizar transações que requerem coincidências muito específicas. Se a moeda pode ser pensada como uma mercadoria, mas uma mercadoria especial, ela deve também desempenhar algumas funções. Dessa forma, um volume grandioso de trocas indiretas é realizado e, nesse aspecto, a moeda desempenha uma de suas principais funções: ser intermediária de trocas (meio de trocas). A função intermediária de trocas, meio de troca ou, ainda, meio de pagamento permite que mercadorias sejam compradas e vendidas em diferentes períodos de tempo sem dependerem da coincidência de desejos. Entende‑se que meio de pagamento, ou meio de troca, é a função de intermediar milhares de trocas entre os agentes, permitindo que vendas e compras sejam realizadas em datas diferentes. Com isso, é possível separar a venda da compra. Além de servir como intermediário de trocas, a moeda exerce outras funções básicas: servir como unidade de conta e reserva de valor. A função unidade de conta da moeda está representada nos diversos contratos existentes na economia. Em um contrato de trabalho, por exemplo, a função unidade de conta aparece no valor do salário ali grafado: x unidades monetárias. Em um contrato de prestação de serviços, a moeda também desempenha sua função unidade de conta no valor que será pago pelo contratante ao contratado, mediante o serviço prestado. Essa função está ainda representada nos preços dos produtos. Uma camisa, por exemplo, que está exposta na vitrine de uma loja qualquer. Lá está, possivelmente em uma etiqueta, a indicação do valor daquele produto: x unidades monetárias. Desse modo, a moeda exerce sua função de unidade de conta. Outro nome que pode ser atribuído a essa função da moeda é moeda de conta, que aparece nos contratos ou nos preços dos produtos e determina qual o montante de moeda corrente necessário para aquela troca. Lopes e Rossetti (2005, p. 21‑22) denominam essa função da moeda como medida de valor e apresentam suas principais vantagens: • racionaliza e aumenta o número de informações econômicas, via sistema de preços, tornando possível uma atuação mais racional de produtores e de consumidores e ampliando as margens de eficiência operacional do sistema econômico como um todo. • torna possível a contabilização da atividade econômica e a administração racional das unidades de produção, fator de importância crucial para o desenvolvimento da economia e a resultante ampliação do bem‑estar. • permite a construção de sistemas de contabilidade social, para cálculo dos valores agregados da produção, do investimento, do consumo, da poupança e de outros fluxos macroeconômicos, de grande importância no planejamento e na administração da economia como um todo Outra função desempenhada pela moeda é servir de reserva de valor, pois a moeda permite alocar nossas transações ao longo do tempo de acordo com nossas conveniências. Assim, dá ao detentor de moeda a possibilidade de reter recursos por períodos longos sem que tal atitude lhe imponha qualquer custo de carregamento. De posse de unidades monetárias, e dada a existência de mercados à vista e a prazo, seu possuidor tem o direito de reservar tal moeda para consumo ou para pagamento futuro. As duas principais razões que levam à preferência pela utilização da moeda como reserva de valor são, sem síntese, as seguintes: a) a pronta e mediata aceitação da moeda, quando da decisão de converte‑la em outros ativos, financeiros ou reais. A essa aceitação adiciona‑se a particularidade de ser a moeda um ativo conversível em ampla área geográfica. b) A imprevisibilidade do valor futuro de outros ativos, sobretudo os não financeiros. Nada garante que o valor desses outros ativos esteja a um nível adequado quando vierem a ser utilizados. Na maior parte dos casos, os ativos reais perdem (alguns quase completamente) a reversibilidade. Há bens de uso durável que, imediatamente após sua aquisição em primeira mão, não são mais reversíveis ao valor com que foram adquiridos. Para que um ativo ou um bem sejam considerados uma moeda, é necessário que ele desempenhe as três funções. Caso algumas dessas funções não sejam satisfeitas, o uso da moeda passa a ser questionado e pode não ser aceito, deteriorando‑a até a invalidade. No Brasil, durante a segunda metade dos anos 1980, devido ao problema da inflação elevada, e, portanto, à perda da sua função de reserva de valor, o País teve várias moedas. Lopes e Rossetti (2005) apontam mais funções que são desempenhadas pela moeda: uma delas é a função liberatória, ou seja, a capacidade de saldar dívidas, liberar quem efetuou um pagamento de ser cobrado no futuro, ou seja, liberar o possuidor da moeda de uma situação passiva no futuro. Os autores acrescentam que esse poder é garantido pelo Estado, que pode forçar o curso da moeda, impondo sua aceitação como forma de pagamento, desde que a sociedade a aceite. Continuam: Há assim, fortes vínculos entre a função liberatória da moeda e o grau em que esta é aceita pela sociedade. A aceitação generalizada, que se estabelece essencialmente como uma manifestação de natureza social, é que, em realidade, garante à moeda o exercício dessa importante função (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 23). Outra função a ser destacada é de a moeda servir como padrão de pagamentos diferidos, que significa a facilidade da distribuição de pagamentos ao longo do tempo. Aqui, surge o crédito. Na sociedade moderna,a moeda como padrão de pagamentos diferidos aparece nas compras a prazo e com pagamentos de prestações ao longo do tempo. Os salários, de forma geral, constituem um exemplo bastante claro de um pagamento diferido. Na maior parte dos casos, os salários representam, em essência, uma forma de adiantamento. Embora a empresa não possa dispor daquilo que produz antes que o ciclo de produção esteja terminado, os trabalhadores que se ocupam das diferentes fases da produção não podem esperar que o processo produtivo se conclua, para que seu trabalho seja remunerado. De igual forma, os empresários recorrem a empréstimos para variadas finalidades, desde os que se destinam ao financiamento do giro de seus negócios até os que atendem a necessidades relacionadas a investimentos em capital fixo (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 24). Por fim, cabe destacar outra função da moeda: a de servir como instrumento de poder, seja ele econômico, político ou social, a partir do momento em que se admite ser também a moeda um instrumento de crédito, um título de crédito. “Os que o detêm possuem direitos de haver sobre os bens e serviços disponíveis no mercado, tanto maiores e mais amplos quanto maior for o montante disponível de moeda” (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 24). Para que a moeda desempenhe suas funções, algumas características particulares devem ser reunidas. Dentre elas, estão as econômicas, entendidas como custo de estocagem e custo de transação negligenciáveis ou próximos de zero. O que isso significa? Significa que, para manter e transportar a moeda, seu custo é zero. As outras características da moeda, as físicas, dizem que a moeda deve apresentar indestrutibilidade e inalterabilidade, homogeneidade, divisibilidade, transferibilidade, além de facilidade de manuseio e transporte. Vejamos a importância de cada uma. A indestrutibilidade e a inalterabilidade são importantes, pois a moeda não deve se deteriorar na medida em que os agentes econômicos a utilizam na troca. Dessa forma, tal característica combina com outra, a de a moeda reunir homogeneidade, ou seja, de ser conhecida em qualquer localidade, ser igual em qualquer local e tempo para que seja reconhecida e, assim, aceita. Perceba que estamos chamando a atenção para os diferentes níveis de inflação em diferentes regiões do País e que, portanto, o poder de compra da moeda também é diferente. A divisibilidade é necessária porque a moeda deve poder ser fracionada em múltiplos e submúltiplos para que as transações que exigem valor fracionado ou transações que movimentam grandes valores sejam realizadas sem custos adicionais é a característica da transferibilidade, ou seja, a capacidade de que seja trocada de mãos, digamos, de possuidor, à medida que as transações econômicas são efetuadas é desejável que tanto a mercadoria quanto a cédula não tragam quaisquer registros que identifiquem seu atual possuidor. A moeda deve ser, na medida do possível, difícil de falsificar – já que tal característica aumenta a confiança do público de que não há reprodução indevida – auxiliando consequentemente a sua aceitação generalizada. Além das características acima identificadas, a moeda ainda deve ser manuseável e transportável para que a função meio de troca não seja prejudicada, impondo ao seu detentor custos de transação. Sobre isso: O manuseio e o transporte da moeda não podem prejudicar nem dificultar sua utilização. Se o porte da moeda for dificultado, sua utilização certamente será pouco a pouco descartada. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA MOEDA E DOS SISTEMAS MONETÁRIOS No princípio, as primeiras moedas foram mercadorias. Estas deveriam ser suficientemente raras (para que tivessem valor) e deveriam atender a uma necessidade comum e geral (para que pudessem ser aceitas sem restrições por todos os integrantes dos grupos envolvidos em operações de trocas indiretas). Desta forma, os primeiros tipos de mercadorias tinham, essencialmente, valor de uso. Sendo este comum e geral, passavam a ter, concomitantemente, valor de troca. Só com o correr do tempo, com a passagem de um tipo de moeda para outro, os instrumentos monetários foram submetidos a um processo gradual, porém lento, de desmaterialização, em decorrência do qual a exigência de valor de uso foi progressivamente abandonada, enfatizando‑se de forma crescente o valor de troca. Outra forma de moeda utilizada pelas sociedades antigas foram as moedas preciosas, representando a Era da Moeda Metálica, ou do Metalismo, notadamente pelo uso do ouro e da prata. Também fizeram parte desse período o cobre, o bronze e o ferro. O ouro, em barra, tem um valor incorporado. O mesmo ocorre com as unidades de prata. São mercadorias que, por não apresentarem depreciação, carregam seu valor ao longo dos tempos, permitindo às pessoas guarda‑las para serem utilizadas em trocas de mercadorias no melhor momento. De forma geral, os metais foram as mercadorias que mais se ajustaram às funções monetárias, não só porque suas características intrínsecas aproximam‑se das características essenciais que se exigem dos instrumentos monetários, como também porque seu valor de uso não compromete nem compete tão diretamente com seu valor de troca. Mais ainda: a utilização de metais viabilizou o processo de cunhagem, por meio do qual se certificava seu peso e se garantia sua circulação, notadamente quando esse processo era realizado ou administrado por chefes de Estado. Lopes e Rossetti (2005, p. 31‑32) destacam algumas razões para o uso de ouro e prata: • em todos os países em todas as épocas os metais preciosos sempre foram muito procurados e desejados, quer em razão de seus usos materiais, quer em razão de seu caráter simbólico e de seu valor mítico, como meios de expressão de poder e riqueza. • o ouro e a prata, enquanto instrumentos monetários, eram suficientemente escassos e as novas quantidades descobertas eram insignificantes em relação ao estoque existente, de tal forma que seu valor se mantinha relativamente estável ao longo do tempo, confirmando a confiança do público e favorecendo sua aceitação irrestrita. a Era da Moeda‑Papel (JUDENSNAIDER; MANZALLI, 2011). Essa Era será favorecida pela multiplicação das trocas entre povos de uma mesma região e entre regiões e países diferentes, o que provoca mais dificuldades para que a moeda metálica continue sendo utilizada como instrumento de pagamento. Seu transporte tornou‑se relativamente difícil e muito suscetível a riscos, como roubo. Assim, as sociedades se empenharão para a criação e uso de instrumentos monetários mais adaptáveis àquele tempo e necessidade, inclusive com a efetivação de operações de crédito. “Ademais, as relações comerciais só poderiam desenvolver‑se se esse novo instrumento monetário passasse a ser aceito de forma ampla, ainda que tivesse a necessária contrapartida de lastro metálico integral” (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 32). A sua origem está na solução encontrada para que os comerciantes pudessem realizar os seus empreendimentos comerciais. Em vez de partirem carregando a moeda metálica, levavam apenas um pedaço de papel denominado certificado de depósito, que era emitido por instituições conhecidas como “Casas de Custódia”, e onde os comerciantes depositavam as suas moedas metálicas, ou quaisquer outros valores, sob garantia. Esta modalidade de moeda, um papel, um certificado de depósito, desempenhava boa função. Tinha nele incorporado um valor representativo, inicialmente com lastro de 100% e garantia de aceitação, uma vez que representava uma determinada quantidade de valor. Essa garantia, regularmente confirmada pelo nome e honradez das casas de custódia de maior tradição, acabou por transformar essa nova moeda em instrumento preferencial de troca e de reserva de valor, generalizando‑se e ampliando‑se seu uso com o passar do tempo. (LOPES e ROSSETTI, 2001, p. 33). Dessa modalidade,a sociedade avança para outro tipo de moeda: a moeda fiduciária, ou papel‑moeda. Para Lopes e Rossetti (2005, p. 33), a experiência de custódia e da conversibilidade mostrou que o lastro metálico integral (de 100%) em relação aos certificados em circulação não era necessário para a operacionalização desse novo sistema monetário. Essa constatação decorreu da percepção de que a reconversão da moeda‑papel em metais preciosos não era solicitada por todos os seus detentores ao mesmo tempo. Além disso, enquanto uns solicitavam a reconversão, outros ensejavam novas emissões, levando às casas de custódia novas quantidades de ouro e prata para depósito. Vamos entender melhor. As casas de custódia funcionavam como uma espécie de banco, onde alguns agentes depositavam barras de ouro e peças de prata; em troca, recebiam um papel representando aquele valor. Quilos de ouro x preço do ouro = valor do ouro. Valor do ouro depositado = um papel escrito o quanto vale. De posse de tal documento, papel‑moeda, exerciam suas trocas comerciais. O recebedor de tal documento possuía agora o direito de ir até a casa de custódia e resgatar o valor ali identificado. Tal reconversão nem sempre era necessária, de forma que grande quantidade de ouro permanecia depositada em tais casas, e os “guardiões dos metais preciosos” podem começar a emitir papéis não mais lastreados (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 33). Inaugura‑se, então, um período em que a emissão de papel-moeda será exercida por particulares até que o governo chame para si tal responsabilidade. Vale destacar as características do papel‑moeda: • seu lastro era inferior a 100%, pois as emissões poderiam ser efetuadas em maior quantidade do que o próprio metal precioso reservado na casa emissora do certificado de depósito; • menor garantia de conversibilidade, já que todos, ao mesmo tempo, não podiam transformar papéis em metal, pois o volume de moeda representado nos papéis era maior do que o volume de ouro verdadeiramente existente na casa de custódia; • se todos os depositários tivessem necessidade de, ao mesmo tempo, efetuarem a conversão dos papéis em ouro, o sistema quebraria; • como a emissão era efetuada por particulares e ainda não estava nas mãos do Estado, o sistema era frágil por naturalidade, porém, ainda como destacam Paulani e Braga (2012, p.260), os fiéis depositários de metais preciosos e que se tornariam, tempos depois, os bancos na forma como conhecemos Sistema de cobertura integral. Este sistema consiste em tornar as emissões iguais ao montante do encaixe metálico. Foi adotado na Inglaterra, em 1844 (Pell Act), tendo sido o Banco da Inglaterra autorizado a emitir notas até o limite de seu encaixe‑ouro, mais um montante fixo, de 18 milhões de libras, inexpressivo em relação ao capital do banco. O mesmo sistema foi adotado pelos Estados Unidos, em 1874, quando as emissões passaram a ser limitadas pelo montante dos depósitos dos bancos no Tesouro Nacional. Sistema de reserva proporcional. Este sistema consiste em estabelecer uma relação legal entre a emissão e o encaixe metálico. Esta relação variou muito entre os países, dentro de uma faixa de 30% (Alemanha e Bélgica) até 40% (Estados Unidos, com a implantação, em 1913, dos Bancos Federais de Reserva, Itália, Suiça e Holanda). Sistema de teto máximo. Este sistema consiste na fixação de um teto máximo de emissão, sem relação com o encaixe metálico. Foi praticado pela França, de 1870 a 1928. Esse sistema apresentou a vantagem de ser mais flexível que os de cobertura integral e de reserva proporcional, ensejando a mais fácil regulação da oferta monetária em relação às necessidades da economia. Para o caso do Brasil, o uso mais intenso da moeda fiduciária estará no período entre 1815 e 1913, período marcado por tensão e medo provocados por alguns desastres financeiros mundiais. Percebia‑se que as economias das moedas fiduciárias eram instáveis e que controles rigorosos se faziam necessários. Será no período de 1888 a 1890 que a moeda, também chamada de inconversível, encontrará no Brasil uma tendência à regulação, que estará a cargo de um banco central instigado pelo governo na promoção de estabilidade tanto cambial quanto monetária. Conforme Abreu e Coelho (2009, p. 67), Para o Brasil, a adoção da moeda fiduciária significava liberar as medidas relacionadas ao crescimento econômico com o balanço de pagamentos. A moeda fiduciária permitia livrar as condições domésticas das oscilações dos movimentos de capital e das relações de troca, mas impunha sobre o país a instabilidade cambial, pois a taxa de câmbio seria ajustada no caso de choque de qualquer natureza. Assim, a taxa de câmbio influenciava a economia brasileira a custo de uma crescente instabilidade. Em economia mundial, algumas tentativas de conversibilidade foram adotadas com a criação de dois sistemas: o primeiro, chamado de Gold Exchange Standard, previa conversibilidade de notas nacionais em divisas internacionais que deveriam ser conversíveis em ouro. No segundo sistema, Gold Bullion Standard, as notas deveriam ser conversíveis em lingotes de ouro, uma vez que estes não seriam utilizados como meio de pagamento na economia nacional. Porém, Com a crise de 1929‑1933 (Grande Depressão), esses esforços resultaram inúteis, tendo sido abandonada desde então a ideia destas modalidades de conversão. A partir de então, com a exceção do dólar, que manteve até 1971 a tradição e a garantia de lastro metálico proporcional, as moedas nacionais deixaram de ter garantias metálicas. Os lastros, sob a forma de metais preciosos, ficaram no passado (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 35). Lembre‑se das principais características da moeda fiduciária: não existência de lastro metálico, total inconversibilidade e monopólio estatal das emissões. Ao lado da moeda fiduciária, de emissão não lastreada e monopolizada pelo Estado, de curso forçado e de poder liberatório garantido por disposições legais, desenvolveu‑se uma outra modalidade de moeda: a moeda bancária, escritural ou invisível. O desenvolvimento desta moeda aconteceu de forma acidental. Foi precipitado pela independência do poder decisório dos departamentos bancários e monetário do Banco da Inglaterra, no século XIX. A não conscientização de que os depósitos bancários, movimentados por cheques, eram uma forma de moeda, ajudou a expansão dos meios de pagamento, pelo efeito multiplicador desses depósitos. (LOPES; ROSSETTI, 2002, p. 35). DA MOEDA AOS MEIOS DE PAGAMENTO Consideradas todas as formas que a moeda assumiu durante os tempos, podemos verificar as formas que assume em uma economia moderna como a de nossos tempos. Assim, podemos dizer que o montante de moeda que temos a nossa disposição, ou os meios de pagamento (MP), divide‑se em papel-moeda em poder do público (PMPP) e depósitos à vista nos bancos comerciais (DVbc). Portanto, MP = PMPP + DVbc Ademais, podemos considerar ser PMPP moeda manual (cédulas e moedas metálicas) e DVbc moeda escritural (depósitos ou representação de saldos positivos e/ou negativos em contas-correntes). Há ativos que dão ao agente econômico que os possui um certo rendimento sob a forma de juros ou de dividendos; são assim, respectivamente, os títulos de renda fixa ou as ações. Outros, como o capital instrumental, podem ser acionados no processo de produção e assim gerar futuros rendimentos aos seus detentores. Outros ainda, como os bens de consumo possuídos em dado instante, podem atender a relevantes necessidades correntes, satisfazendo exigências essenciais. Todos, porém, excetuando‑se a moeda, sofrem desgastes ou, então, acarretam despesas de manutenção ou estocagem com o correr do tempo. [...]. cabe acrescentar que os ativos podem ter diferentes graus de liquidez, aqui entendida a liquidez como a capacidade que o ativo revela em se transformar em moeda. Consequentemente, a moedaé então admitida como a liquidez por excelência. E é exatamente este seu atributo que a diferencia dos demais ativos, além do fato de o seu custo de manutenção ou estocagem ser negligenciável, evidentemente inexistindo inflação. Considerando a declaração acima, podemos perceber que somente será considerado moeda, do ponto de vista da economia monetária, se tal ativo apresentar os seguintes atributos: • seu rendimento, em espécie, deve ser zero, resultado da inalterabilidade de seu valor de face, nominal; • o custo de mantê-la estocada é praticamente imperceptível; • deve apresentar a liquidez máxima. Berchielli (2003, p. 17) também contribui: O grau de liquidez de um ativo depende de dois fatores: custos de transação incorridos quando o agente transforma seu ativo em moeda. Por exemplo, para negociar uma ação no mercado secundário (Bolsa de Valores), seu portador deve pagar uma comissão à corretora encarregada da operação. A esse custo podemos acrescentar o recolhimento de impostos ao governo; e tempo gasto para transacionar o ativo no mercado a um preço razoável, ou o prazo de aplicação, no caso de alguns ativos financeiros. Tomemos como exemplo os imóveis: para vender um imóvel a um preço próximo do preço potencial é necessário, às vezes, aguardar vários meses até que surja um comprador disposto a paga‑lo. Alternativamente, o proprietário poderia reduzir o preço para vender o imóvel mais rapidamente. Isso implica uma perda de capital, o que representaria um custo ou o prazo de aplicação, no caso de alguns ativos financeiros. Tomemos como exemplo os imóveis: para vender um imóvel a um preço próximo do preço potencial é necessário, às vezes, aguardar vários meses até que surja um comprador disposto a paga‑lo. Alternativamente, o proprietário poderia reduzir o preço para vender o imóvel mais rapidamente. Isso implica uma perda de capital, o que representaria um custo em poder do público, MM, os depósitos à vista da coletividade em poder dos bancos comerciais, DBC, dos bancos múltiplos, DBM, do Banco do Brasil, DBB, e também das caixas econômicas, DCE, representam a máxima liquidez em moeda. Assim, a oferta de moeda no Brasil, M, considerando seu conceito restrito, qual seja, o de meios de pagamento, pode ser representada por: M = MM + DBC + DBM + DBB + DCE em poder do público, MM, os depósitos à vista da coletividade em poder dos bancos comerciais, DBC, dos bancos múltiplos, DBM, do Banco do Brasil, DBB, e também das caixas econômicas, DCE, representam a máxima liquidez em moeda. Assim, a oferta de moeda no Brasil, M, considerando seu conceito restrito, qual seja, o de meios de pagamento, pode ser representada por: M = MM + DBC + DBM + DBB + DCE O sistema não bancário é representado por todos os agentes da economia, excetuando‑se o Banco Central e o sistema bancário comercial. Esquematizando: Papel-moeda em Circulação = Papel-moeda Emitido – Caixa do Banco Central (retenção). Por sua vez, os bancos comerciais também não colocam à disposição da sociedade todo o volume monetário que o Banco Central injetou. Parte desses recursos os bancos comerciais retêm em encaixe técnico. Assim, Papel-moeda em Circulação = Papel-moeda Emitido – Caixa do Banco Central – Encaixe técnico bancário. Assim: Papel-moeda em Poder do Público = Papel-moeda Emitido – Caixa do Banco Central – Caixa do sistema bancário comercial. Já que estamos tratando dos meios de pagamento, é importante trazer o que destacam Lopes e Rossetti (2005, p. 129) acerca do assunto. Com relação ao papel‑moeda e moedas metálicas em poder do público, MM, componente da oferta monetária também denominado moeda manual ou moeda corrente, cumpre esclarecer que não se trata efetivamente do saldo em circulação nem do saldo emitido. [...]. São considerados como moeda apenas os meios de pagamento possuídos pelos agentes econômicos não bancários. A moeda manual que se encontra de posse das unidades familiares, nos caixas das empresas não bancárias (aqui também incluídas as do setor de intermediação financeira não bancária, isto é, as demais instituições do sistema financeiro do país com exclusão dos bancos comerciais, do Banco do Brasil e das caixas econômicas), e das instituições das três esferas do governo é que se considera para o efeito desse conceito convencional de meios de pagamento. Cabe observar que é exatamente esse critério que leva à caracterização dos depósitos à vista, também denominados moeda bancária ou moeda escritural como o segundo componente dos meios de pagamento e uma economia moderna. Isto porque, como indica o próprio senso comum, os agentes econômicos citados incluem entre suas disponibilidades monetárias imediatas as somas disponíveis de moeda manual e os seus depósitos à vista, sacáveis a qualquer instante e sem prévio aviso, mediante o simples preenchimento de uma ordem de pagamento, representada, no caso, pelo cheque. Como estamos de uma forma convencional tratando dos meios de pagamento, estamos também abordando uma das principais funções da moeda, qual seja, a de servir como intermediário de trocas. Assim, do ponto de vista da economia monetária, considerar os meios de pagamento é considerar exclusivamente a moeda como intermediária de trocas. Caso o tratamento da oferta monetária passe a considerar outra função da moeda, a reserva de valor, teríamos outro conceito do ponto de vista da economia monetária: o conceito de quase moeda. São designados por quase moeda os títulos emitidos pelo Governo Federal, ou por instituições financeiras e empresas públicas, e negociados no mercado por um valor inferior ao de sua emissão (deságio). O deságio verificado na negociação desses títulos é geralmente explicado pela longa maturidade do resgate ou inadimplência do emitente. Por essa desvalorização no mercado esses papéis foram, muitas vezes, conhecidos por moedas podres. Estes títulos podem ser utilizados para pagamentos de determinadas dívidas junto ao Governo Federal. Os quase moeda foram também adquiridos por investidores estrangeiros interessados em participar das privatizações das companhias estatais brasileiras, ocorridas nas décadas de 1980 e 1990. [...]. No caso brasileiro, podem ser classificados por quase moedas os títulos da dívida externa conhecidos por bradies, Títulos da Dívida Agrária (TDA), debêntures da Siderbras (antiga holding estatal do setor siderúrgico), entre outros ativos não monetários. O autor continua: O conceito de quase moeda também pode ser explicado, de forma mais ampla, pelos ativos financeiros que costumam pagar algum rendimento, apresentam alto grau de liquidez e risco bastante reduzido. São representados, em sua maior parte, por títulos públicos. Alguns exemplos, títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, depósitos de poupança, etc. A própria moeda pode ser considerada como quase moeda, porém apresenta duas importantes diferenças: (a) a moeda é sempre usada para transações, e o ativo quase moeda não é aceito em todas as transações (em geral, é aceito para pagamento de tributos); (b) a moeda não rende juros, e a quase moeda costuma oferecer rendimentos (ASSAF NETO, 2012, p. 12). Quando um cliente deposita uma determinada soma de dinheiro em sua conta- corrente, as reservas dos bancos comerciais são acrescidas pelo mesmo valor. Se aos bancos não é requerido reter reservas equivalentes a 100% dos seus depósitos, o volume de reservas existentes lhe permitirá expandir os seus negócios por meio da liberação de novos empréstimos para os seus clientes. Como os valores desses empréstimos são creditados nas contas-correntes dos clientes, a expansão das atividades dos bancos, por empréstimos, gera a criação de novos depósitos. Na economia moderna, os agentes econômicos dificilmente mantêm moeda em sua forma manual e, portanto, preferem a escritural na forma de depósitos. Com relação a isso, Lopes e Rossetti (2005,p. 135) elencam algumas razões que explicam por que os agentes preferem a moeda escritural. • os depósitos bancários à vista são mais seguros e oferecem maiores garantias aos seus detentores. Comparativamente com a moeda manual, são menos passíveis de perdas e roubo. • o manejo de cheques, para efetuar pagamentos, é mais fácil, principalmente quando se trata de transações de grande vulto. • a manutenção de saldos médios nos bancos comerciais facilita a obtenção de empréstimos, quer por parte das empresas (para o financiamento do processo de produção), quer por parte das unidades familiares (para o financiamento do consumo de bens e serviços, em antecipação a rendimentos que estas esperam auferir no futuro). • os pagamentos por intermédio de cheques permitem o melhor controle e a melhor contabilização das despesas, ao mesmo tempo em que podem servir de comprovante para determinadas finalidades legais [...]. • a concessão de aberturas automáticas e limitadas de crédito, superiores aos saldos existentes, de que são exemplos no Brasil os cheques especiais, levam os agentes econômicos (no caso, notadamente as famílias) a se utilizarem, de forma generalizada, dos bancos comerciais como depositários de suas reservas. A criação de moeda escritural pelos bancos ocorre diante de lançamentos contábeis. A criação de moeda escritural pelos bancos ocorre diante de lançamentos contábeis. “por funcionar com um sistema fracionário de reservas, emprestar o equivalente ao volume de suas reservas livres não esgotará o limite de expansão do banco comercial”. Teixeira (2002, p. 25), O uso generalizado da moeda escritural, todavia, está na origem de um processo multiplicador que eleva os saldos de meios de pagamento. Isto porque a moeda de alto poder de expansão (high‑powered money), como usualmente é considerada a moeda originalmente injetada no sistema econômico por decisão das autoridades monetárias, tende a se transformar em depósitos bancários [...]. Subsequentemente uma dada parcela de tais depósitos transformam‑se em empréstimos concedidos pelos bancos, os quais, por sua vez, tendem a retornar ao sistema bancário, na forma de novos depósitos. Este processo tende a se renovar infinitamente, dado que os bancos comerciais não mantêm em caixa a totalidade dos depósitos captados, mas apenas uma parcela deles. Os bancos atuam com reservas fracionárias (LOPES; ROSSETTI, 2005, p. 135).
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