Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2021 Farmacologia ii Prof.a Daiane Fátima Engel Prof.a Iandra Holzmann 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.a Daiane Fátima Engel Prof.a Iandra Holzmann Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: E57f Engel, Daiane Fátima Farmacologia II. / Daiane Fátima Engel; Iandra Holzmann. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 215 p.; il. ISBN 978-65-5663-386-2 ISBN Digital 978-65-5663-382-4 1. Farmacologia. - Brasil. I. Holzmann, Iandra. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 610 apresentação Prezado acadêmico, bem-vindo ao Livro de Farmacologia II. Este livro está dividido em três unidades e cada unidade é subdividida em três tópicos. No tópico 1 da primeira unidade, relembraremos o controle fisiológico do sistema gastrointestinal e, posteriormente, estudaremos as características farmacológicas dos fármacos que afetam a secreção e a motilidade gástrica. O Tópico 2 da primeira unidade refere-se à quimioterapia antimicrobiana, veremos que o desenvolvimento de fármacos antimicrobianos iniciou recentemente, há apenas 80 anos com o advento da penicilina, um marco histórico que representa um dos avanços mais importantes da medicina. Na sequência, estudaremos os principais agentes antimicrobianos disponíveis atualmente. Com relação ao Tópico 3 da primeira unidade, a proposta é abordar, de forma sucinta, as infecções causadas por outros patógenos que não as bactérias, incluindo os fungos, vírus, helmintos e protozoários. Em seguida, discutiremos a quimioterapia disponível para a terapia destes patógenos, bem como as características fundamentais dos fármacos antifúngicos, antivirais e antiparasitários. Na Unidade 2, conheceremos os principais fármacos utilizados em patologias dos sistemas cardiovascular, endócrino e respiratório. Discutiremos os principais distúrbios destes sistemas e como atuam os fármacos utilizados nestas doenças. No Tópico 1, revisaremos a fisiologia do sistema cardiovascular e compreenderemos como se desenvolvem a hipertensão, a insuficiência cardíaca, a arritmia e a angina. Ainda, compreenderemos como as dislipidemias contribuem para o desenvolvimento desses distúrbios cardiovasculares. Uma vez recordada a fisiopatologia, poderemos conhecer os fármacos utilizados no seu tratamento, seu mecanismo de ação, farmacocinética e efeitos adversos. No Tópico 2, abordaremos a farmacologia do sistema endócrino. Relembraremos o papel de hormônios hipotalâmicos, hipofisários, tireoidianos, estrogênios e androgênios, suprarrenais e dos hormônios pancreáticos. Assim, poderemos compreender como funcionam os fármacos utilizados em distúrbios hormonais, como da tireoide, no tratamento da diabetes e da obesidade entre outras patologias. No Tópico 3, abordaremos o tratamento farmacológico de distúrbios do sistema respiratório. Você relembrará os mecanismos patológicos da asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, da rinite alérgica e tosse. Em cada patologia, discutiremos os mecanismos de ação dos principais fármacos utilizados, por exemplo, os β-agonistas, os corticosteroides, anti-histamínicos, antitussígenos, entre outros. Na Unidade 3, você encontrará fármacos utilizados em distúrbios hematológicos, no tratamento do câncer e os principais conceitos em farmacoepidemiologia e farmacovigilância. No Tópico 1, serão abordados os aspectos fisiopatológicos da anemia e distúrbios da coagulação, e assim, apresentados os fármacos utilizados no seu tratamento, bem como os seus mecanismos de ação e efeitos adversos. No Tópico 2, você Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA conhecerá os principais representantes e mecanismos de ação de diversas classes de fármacos antineoplásicos, dentre eles, agentes alquilantes e antimetabólicos, antibióticos citotóxicos, derivados de plantas, inibidores de microtúbulos, hormônios, anticorpos monoclonais, inibidores de enzimas e complexos coordenados de platina. No Tópico 3, discutiremos tópicos especiais em farmacologia, em que, primeiramente, será apresentado o conceito de farmacoepidemiologia para que você compreenda o processo de desenvolvimento e testes de fármacos. Em seguida, será discutida a farmacovigilância, em que você compreenderá como são identificados e acompanhados efeitos nocivos e reações adversas de medicamentos. Por fim, integraremos os conhecimentos de diversos tópicos deste livro, discutindo e exemplificando a fisiopatologia de algumas doenças e sua farmacoterapia. Este livro permite facilitar o seu processo de aprendizagem, para que você adquira o conhecimento – a sua porta de entrada para navegar por outros materiais complementares sugeridos aqui (e muitos outros). Prof.a Daiane Fátima Engel Prof.a Iandra Holzmann Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO...................... 1 TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO.......................... 3 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 3 2 FÁRMACOS USADOS NOS DISTÚRBIOS ÁCIDO GÁSTRICOS ......................................... 4 2.1 INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS H+/K+-ADENOSINA TRIFOSFATASE (IBPS) ...... 4 2.2 ANTAGONISTAS/BLOQUEADORES DE RECEPTOR DE HISTAMINA H2 ....................... 6 2.3 ANTIMICROBIANOS .................................................................................................................... 7 2.4 ANÁLOGOS DAS PROSTAGLANDINAS ................................................................................. 7 2.5 PROTETORES DA MUCOSA (CITOPROTETORES) ................................................................ 8 2.6 ANTIÁCIDOS .................................................................................................................................. 8 3 FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS........................................................................................................ 9 4 FÁRMACOS ANTIDIARREICOS .................................................................................................. 10 5 FÁRMACOS LAXANTES ................................................................................................................ 12 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 14 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 15 TÓPICO 2 — FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS ....................................................................... 17 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 17 2 CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TERAPIA ANTIMICROBIANA ................................ 17 2.1 ESPECTRO ANTIMICROBIANO ............................................................................................... 18 2.2 RESISTÊNCIA AOS ANTIMICROBIANOS .............................................................................. 18 2.3 MECANISMOS DE AÇÃO DOS ANTIMICROBIANOS ........................................................ 19 3 ANTIMICROBIANOS INIBIDORES DA PAREDE CELULAR ............................................... 20 3.1 PENICILINAS ............................................................................................................................... 20 3.2 CEFALOSPORINAS ..................................................................................................................... 24 3.3 OUTROS ANTIMICROBIANOS β-LACTÂMICOS ................................................................. 25 3.3.1 Carbapenêmicos ................................................................................................................... 25 3.3.2 Monobactâmicos .................................................................................................................. 26 3.3.3 Inibidores da β-lactamase ................................................................................................... 26 3.4 GLICOPEPTÍDEOS ....................................................................................................................... 26 3.5 FOSFOMICINA ............................................................................................................................. 27 4 ANTIMICROBIANOS INIBIDORES DA FUNÇÃO DA MEMBRANA CELULAR ........... 28 5 ANTIMICROBIANOS INIBIDORES DA SÍNTESE PROTEICA ............................................ 28 5.1 TETRACICLINAS ......................................................................................................................... 29 5.2 AMINOGLICOSÍDEOS ................................................................................................................ 29 5.3 MACROLÍDEOS E CETOLÍDEOS ............................................................................................. 30 5.4 CLORANFENICOL ...................................................................................................................... 32 5.5 CLINDAMICINA.......................................................................................................................... 33 5.6 LINEZOLIDA ................................................................................................................................ 34 6 ANTIMICROBIANOS FLUOROQUINOLONAS ...................................................................... 34 7 ANTIMICROBIANOS ANTAGONISTAS DE FOLATO ........................................................... 37 7.1 SULFONAMIDAS......................................................................................................................... 37 7.2 TRIMETOPRIMA .......................................................................................................................... 38 7.3 SULFAMETOXAZOL COM TRIMETOPRIMA ....................................................................... 39 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 41 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 42 TÓPICO 3 — FÁRMACOS ANTIFÚNGICOS, ANTIVIRAIS E ANTIPARASITÁRIOS ...... 43 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 43 2 FÁRMACOS ANTIFÚNGICOS ..................................................................................................... 44 2.1 ANFOTERICINA B ....................................................................................................................... 45 2.2 ANTIFÚNGICOS ANTIMETABÓLITOS................................................................................... 46 2.3 ANTIFÚNGICOS AZÓIS ............................................................................................................. 46 2.3.1 Fluconazol ............................................................................................................................. 47 2.3.2 Itraconazol ............................................................................................................................ 47 2.3.3 Voriconazol ........................................................................................................................... 47 2.4 FÁRMACOS USADOS CONTRA MICOSES CUTÂNEAS .................................................... 48 2.4.1 Inibidores da Esqualeno Epoxidase .................................................................................. 48 2.4.2 Ciclopirox .............................................................................................................................. 49 2.4.3 Nistatina ................................................................................................................................ 49 2.4.4 Imidazóis ............................................................................................................................... 49 2.4.5 Griseofulvina ........................................................................................................................ 50 2.5 EQUINOCANDINAS ................................................................................................................... 50 3 FÁRMACOS ANTIVIRAIS ............................................................................................................. 51 3.1 ANTIVIRAIS PARA INFECÇÃO POR HERPES-VÍRUS ........................................................ 52 3.2 ANTIVIRAIS PARA INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS .............................................................. 52 3.3 ANTIVIRAIS PARA O TRATAMENTO DA INFECÇÃO PELO HIV ................................... 53 3.3.1 Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos ou nucleotídeos ....... 55 3.3.2 Inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeos ............................. 56 3.3.3 Inibidores de protease ......................................................................................................... 57 3.3.4 Inibidores de entrada ou fusão ......................................................................................... 58 3.3.5 Inibidores da integrase ........................................................................................................ 58 3.4 ANTIVIRAIS PARA O TRATAMENTO DA HEPATITE B ..................................................... 59 3.5 ANTIVIRAIS PARA O TRATAMENTO DA HEPATITE C ..................................................... 59 4 FÁRMACOS ANTIPARASITÁRIOS ............................................................................................. 61 4.1 FÁRMACOS ANTI-NEMATÓDEOS .........................................................................................61 4.2 FÁRMACOS ANTI-TREMATÓDEOS ....................................................................................... 62 4.3 FÁRMACOS ANTI-CESTÓDEOS .............................................................................................. 63 4.4 FÁRMACOS ANTI-PROTOZOÁRIOS ..................................................................................... 63 4.4.1 Fármacos para o tratamento da amebíase ........................................................................ 64 4.4.2 Fármacos para o tratamento da malária ........................................................................... 65 4.4.3 Fármacos no tratamento da tripanossomíase .................................................................. 67 4.4.4 Fármacos no tratamento da leishmaniose ........................................................................ 67 4.4.5 Fármacos no tratamento da toxoplasmose ...................................................................... 67 4.4.6 Fármacos no tratamento da giardíase ............................................................................... 68 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 69 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 74 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 76 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 79 UNIDADE 2 — FARMACOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR, ENDÓCRINO E RESPIRATÓRIO ....................................................................... 81 TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA CARDIOVASCULAR ................... 83 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 83 2 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO ....................................... 83 2.1 DIURÉTICOS ................................................................................................................................ 85 2.1.1 Diuréticos tiazídicos ........................................................................................................... 85 2.1.2 Diuréticos de alça ................................................................................................................. 85 2.1.3 Diuréticos poupadores de potássio ................................................................................... 85 2.2 INIBIDORES DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA .................................... 86 2.3 BLOQUEADORES DO RECEPTOR DE ANGIOTENSINA II ................................................ 86 2.4 INIBIDORES DA RENINA .......................................................................................................... 87 2.5 BLOQUEADORES DOS CANAIS DE CÁLCIO ....................................................................... 87 2.6 β-BLOQUEADORES .................................................................................................................... 88 2.7 α-BLOQUEADORES..................................................................................................................... 89 2.8 BLOQUEADORES ADRENÉRGICOS COMBINADOS .......................................................... 89 2.9 AGONISTAS ADRENÉRGICOS CENTRAIS ............................................................................ 90 2.10 VASODILATADORES ................................................................................................................ 90 2.11 EMERGÊNCIAS HIPERTENSIVAS ......................................................................................... 90 3 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .............. 91 3.1 INIBIDORES DA ECA ................................................................................................................. 91 3.2 BLOQUEADORES DO RECEPTOR DE ANGIOTENSINA (BRA) ........................................ 91 3.3 ANTAGONISTAS DE ALDOSTERONA .................................................................................. 91 3.4 β-BLOQUEADORES .................................................................................................................... 92 3.5 DIURÉTICOS ................................................................................................................................ 92 3.6 VASODILATADORES ................................................................................................................. 92 3.7 INOTRÓPICOS ............................................................................................................................. 92 3.7.1 Digitálicos ............................................................................................................................ 92 3.7.2 Agonistas β-adrenérgicos ................................................................................................... 93 3.7.3 Inibidores da fosfodiesterase ............................................................................................. 93 4 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA ARRITMIA E ANGINA .......................... 93 4.1 ANTIARRÍTMICOS ...................................................................................................................... 94 4.1.1 Classe I: bloqueadores dos canais de sódio ..................................................................... 94 4.1.2 Classe II: β-bloqueadores .................................................................................................... 94 4.1.3 Classe III: bloqueadores dos canais de potássio .............................................................. 95 4.1.4 Classe IV: bloqueadores dos canais de cálcio .................................................................. 95 4.1.5 Adenosina ............................................................................................................................. 95 4.1.6 Magnésio ............................................................................................................................... 96 4.2 ANTIANGINOSOS ....................................................................................................................... 96 4.2.1 β-bloqueadores ..................................................................................................................... 96 4.2.2 Bloqueadores de canais de cálcio ...................................................................................... 96 4.2.3 Nitratos .................................................................................................................................. 97 4.2.4 Bloqueadores dos canais de sódio ..................................................................................... 97 5 FÁRMACOS DIURÉTICOS ............................................................................................................ 97 5.1 FUNÇÃO RENAL ........................................................................................................................ 97 5.2 DIURÉTICOS TIAZÍDICOS ....................................................................................................... 98 5.3 DIURÉTICOS DE ALÇA .............................................................................................................. 99 5.4 DIURÉTICOS POUPADORES DE POTÁSSIO ......................................................................... 99 5.5 INIBIDORES DA ANIDRASE CARBÔNICA ......................................................................... 100 5.6 DIURÉTICOS OSMÓTICOS ...................................................................................................... 100 6 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DAS DISLIPIDEMIAS ................................. 100 6.1 LIPOPROTEÍNAS PLASMÁTICAS......................................................................................... 101 6.2 PRINCIPAIS HIPERLIPIDEMIAS ............................................................................................ 102 6.3 ESTATINAS: INIBIDORES DA HMG-COA REDUTASE ..................................................... 102 6.4 NIACINA ..................................................................................................................................... 103 6.5 FIBRATOS .................................................................................................................................... 103 6.6 RESINAS SEQUESTRADORAS DE ÁCIDOS BILIARES ...................................................... 104 6.7 EZETIMIBE ................................................................................................................................. 104 6.8 DERIVADOS DO ÓLEO DE PEIXE ......................................................................................... 104 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 105 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 106 TÓPICO 2 — FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA ENDÓCRINO .............................. 107 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 107 2 HORMÔNIOS HIPOTALÂMICOS E HIPOFISÁRIOS .......................................................... 108 2.1 HORMÔNIO DO CRESCIMENTO .......................................................................................... 108 2.2 SOMATOSTATINA ..................................................................................................................... 108 2.3 HORMÔNIO ADRENOCORTICOTRÓPICO ........................................................................ 109 2.4 HORMÔNIO LIBERADOR DE GONADOTROPINAS ........................................................ 109 2.5 GONADOTROPINAS ................................................................................................................ 109 2.6 PROLACTINA ............................................................................................................................. 110 2.7 OCITOCINA ............................................................................................................................... 110 2.8 VASOPRESSINA ......................................................................................................................... 110 3 HORMÔNIOS TIREOIDIANOS.................................................................................................. 110 3.1 FISIOLOGIA E AÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS ............................................ 111 3.2 FÁRMACOS USADOS NOS DISTÚRBIOS DA TIREOIDE ................................................. 111 3.2.1 Hipotireoidismo ................................................................................................................. 111 3.2.2 Hipertireoidismo ............................................................................................................... 112 4 HORMÔNIOS ESTROGÊNIOS, ANDROGÊNIOS E SUPRARRENAIS ............................ 112 4.1 ESTROGÊNIOS .......................................................................................................................... 112 4.1.1 Moduladores de receptor de estrogênio......................................................................... 113 4.2 PROGESTOGÊNIOS ................................................................................................................... 114 4.3 ANDROGÊNIOS ......................................................................................................................... 114 4.4 CONTRACEPTIVOS .................................................................................................................. 115 4.4.1 Contraceptivo combinado ................................................................................................ 116 4.4.2 Contraceptivo apenas com progesterona ....................................................................... 116 4.4.3 Contracepção pós-coito ..................................................................................................... 116 4.4.4 Contracepção prolongada com progesterona ................................................................ 117 4.5 HORMÔNIOS SUPRARRENAIS ............................................................................................. 117 4.5.1 Glicocorticoides .................................................................................................................. 117 4.5.2 Mineralocorticoides ........................................................................................................... 118 5 HORMÔNIOS PANCREÁTICOS E TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DIABETES ................................................................................................................................. 119 5.1 HORMÔNIOS PANCREÁTICOS E O CONTROLE DA GLICEMIA ................................. 119 5.2 DIABETES MELITO ................................................................................................................... 121 5.3 TRATAMENTO DA DIABETES MELITO ............................................................................... 121 5.3.1 Insulina ................................................................................................................................ 122 5.3.2 Agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP1) .......................................... 123 5.3.3 Aminilinomiméticos .......................................................................................................... 123 5.3.4 Sulfonilureias ..................................................................................................................... 123 5.3.5 Meglitinidas ........................................................................................................................ 124 5.3.6 Biguanidas .......................................................................................................................... 124 5.3.7 Tiazolidinadionas (TZDs) ................................................................................................. 124 5.3.8 Inibidores da α-glicosidase ............................................................................................... 125 5.3.9 Inibidores da dipeptidilpeptidase-4 (DPP4) .................................................................. 125 5.3.10 Inibidores do cotransportador 2 sódio-glicose (SGLT2) ............................................ 125 5.3.11 Sequestrantes de ácidos biliares .................................................................................... 125 6 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA OBESIDADE ........................................................ 126 6.1 CONTROLE DO BALANÇO CALÓRICO .............................................................................. 126 6.2 ANOREXÍGENOS ....................................................................................................................... 127 6.3 INIBIDORES DA LIPASE .......................................................................................................... 127 6.4 AGONISTAS SEROTONINÉRGICOS ...................................................................................... 127 6.5 OUTROS FÁRMACOS ............................................................................................................... 128 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 129 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 130 TÓPICO 3 — FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA RESPIRATÓRIO......................... 131 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 131 2 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA ASMA ........................................................ 132 2.1 AGONISTAS β2-ADRENÉRGICOS ......................................................................................... 132 2.2 CORTICOESTEROIDES ............................................................................................................. 133 2.3 METILXANTINAS...................................................................................................................... 133 2.4 ANTIMUSCARÍNICOS .............................................................................................................. 134 2.5 INIBIDORES DE LEUCOTRIENOS ......................................................................................... 134 2.6 ANTICORPOS ANTI-IGE .......................................................................................................... 135 2.7 ESTABILIZADORES DE MASTÓCITOS ................................................................................. 135 3 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA ........................................................................................................................................ 135 3.1 BRONCODILATADORES ........................................................................................................ 136 3.2 CORTICOESTEROIDES ............................................................................................................. 137 3.3 INIBIDORES DE FOSFODIESTERASE (PDE) 4 ..................................................................... 137 3.4 METILXANTINAS...................................................................................................................... 137 4 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA RINITE ALÉRGICA ........................................... 137 4.1 ANTI-HISTAMÍNICOS .............................................................................................................. 138 4.2 DESCONGESTIONANTES ....................................................................................................... 138 4.3 CORTICOESTEROIDES ............................................................................................................. 139 4.4 OUTROS FÁRMACOS ............................................................................................................... 139 5 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA TOSSE ....................................................... 139 5.1 OPIOIDES .................................................................................................................................... 140 5.2 BENZONATATO ......................................................................................................................... 140 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 141 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 147 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 148 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 149 UNIDADE 3 — FARMACOLOGIA DE DISTÚRBIOS HEMATOLÓGICOS, CÂNCER E TÓPICOS ESPECIAIS EM FARMACOLOGIA ......................... 151 TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM NO TECIDO SANGUÍNEO ................................. 153 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 153 2 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA ANEMIA ................................................... 153 2.1 SISTEMA HEMATOPOIÉTICO ................................................................................................ 153 2.2 ANEMIAS .................................................................................................................................... 154 2.3 AGENTES HEMATÍNICOS ....................................................................................................... 154 2.3.1. Ferro .................................................................................................................................... 154 2.3.2 Ácido fólico ......................................................................................................................... 155 2.3.3 Vitamina B12 ..................................................................................................................... 155 2.4 FATORES DE CRESCIMENTO HEMATOPOIÉTICOS ........................................................ 156 2.4.1 Eritropoietina ..................................................................................................................... 156 2.4.2 Fatores estimuladores de colônias (CSFs) ...................................................................... 156 2.5 FARMACOS USADOS NA ANEMIA FALCIFORME ........................................................... 157 2.5.1 Hidroxiureia ....................................................................................................................... 157 2.5.2 Pentoxifilina ........................................................................................................................ 157 2.5.3 Eculizumabe ....................................................................................................................... 157 2.5.4 Hidroxicarbamia ................................................................................................................ 157 3 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DOS DISTÚRBIOS DA COAGULAÇÃO ............. 158 3.1 COAGULACÃO SANGUÍNEA ................................................................................................ 158 3.2. ANTICOAGULANTES ............................................................................................................. 160 3.2.1 Heparina e heparinas de baixo peso molecular ............................................................ 160 3.2.2 Inibidores diretos da trombina e fármacos relacionados ............................................. 161 3.2.3 Varfarina .............................................................................................................................. 161 3.3 TROMBOLÍTICOS ...................................................................................................................... 162 3.3.1 Alteplase, reteplase e tenecteplase .................................................................................. 163 3.3.2 Estreptoquinase .................................................................................................................. 163 3.3.3 Uroquinase .......................................................................................................................... 163 3.4 ANTI-HEMORRÁGICOS .......................................................................................................... 163 3.4.1 Vitamina K .......................................................................................................................... 164 3.4.2 Sulfato de protamina ......................................................................................................... 164 3.4.3 Ácido aminocaproico e ácido trexenâmico .................................................................... 164 3.5 ADESÃO E ATIVAÇÃO PLAQUETÁRIA ............................................................................... 164 3.6 INIBIDORES PLAQUETÁRIOS ................................................................................................ 165 3.6.1 ÁCIDO ACETILSALICÍLICO (AAS) .............................................................................. 1653.6.2 ANTAGONISTAS DO RECEPTOR DE ADENOSINA (P2Y) ...................................... 165 3.6.3 ANTAGONISTAS DO RECEPTOR DE GLICOPROTEINA IIB/IIIA ......................... 166 3.6.4 DIPIRIDAMOL .................................................................................................................. 166 3.6.5 Cilostazol............................................................................................................................. 167 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 168 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 169 TÓPICO 2 — FÁRMACOS ANTINEOPLÁSICOS ...................................................................... 171 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 171 2 AGENTES ALQUILANTES E ANTIMETABÓLITOS .............................................................. 172 2.1. ALQUILANTES .......................................................................................................................... 172 2.1.1 Mostardas nitrogenadas ................................................................................................... 172 2.1.2 Nitrossoureias .................................................................................................................... 173 2.1.3 Dacarbazina ........................................................................................................................ 173 2.2 ANTIMETABÓLITOS ................................................................................................................. 174 2.2.1 Antagonistas do folato ...................................................................................................... 174 2.2.2 Análogos da pirimidina .................................................................................................... 175 2.2.3 Análogos da purina ........................................................................................................... 176 3 ANTIBIÓTICOS CITOTÓXICOS ................................................................................................ 177 3.1 DOXORRUBINCINA E ANTRACICLINAS ........................................................................... 177 3.2 DACTONOMICINA ................................................................................................................... 177 3.3 BLEOMICINA ............................................................................................................................. 177 3.4 MITOMICINA ............................................................................................................................. 178 4 DERIVADOS DE PLANTAS E INIBIDORES DE MICROTÚBULOS .................................. 178 4.1 VINCRISTINA E VIMBLASTINA ............................................................................................ 178 4.2 PACLITAXEL E DOCETAXEL .................................................................................................. 179 4.3 CAMPOTECINAS....................................................................................................................... 179 4.4 ETOPOSÍDEO .............................................................................................................................. 179 5 HORMÔNIOS E ANTICORPOS MONOCLONAIS ................................................................ 179 5.1 HORMÔNIOS ............................................................................................................................. 180 5.1.1 Glicocorticoides .................................................................................................................. 180 5.1.2 Estrogênios ......................................................................................................................... 180 5.1.3 Progestágenos..................................................................................................................... 180 5.1.4 Análogos Do GnRH ........................................................................................................... 180 5.1.5 Análogos da somatostatina .............................................................................................. 181 5.1.6 Antiestrógenos ................................................................................................................... 181 5.1.7 Antiandrógenos .................................................................................................................. 181 5.2 ANTICORPOS MONOCLONAIS ............................................................................................ 182 5.2.1 Rituximabe .......................................................................................................................... 182 5.2.2 Transtuzumabe .................................................................................................................. 182 5.2.3 Cetuximabe e panitumumabe .......................................................................................... 183 5.2.4 Bevacizumabe ..................................................................................................................... 183 6 INIBIDORES DE ENZIMAS E COMPLEXOS COORDENADOS DE PLATINA .............. 183 6.1 INBIDORES DE TIROSINOCINASE ....................................................................................... 183 6.1.1 Imatinibe ............................................................................................................................. 183 6.1.2 Erlotinibe ............................................................................................................................. 184 6.1.3 Sorafenibe e sunitinibe ...................................................................................................... 184 6.2 COMPLEXOS COORDENADOS DE PLATINA .................................................................... 184 6.3 ASPARAGINASE ........................................................................................................................ 185 6.4 INTERFERONAS ........................................................................................................................ 185 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 186 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 187 TÓPICO 3 — TÓPICOS ESPECIAIS EM FARMACOLOGIA ................................................... 189 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 189 2 FARMACOEPIDEMIOLOGIA ..................................................................................................... 189 2.1 DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS ................................................................................ 189 2.1.1 Pesquisa experimental ou fase pré-clínica ..................................................................... 190 2.1.2 Estudos clínicos em humanos .......................................................................................... 191 2.2 VARIAÇÃO INDIVIDUAL NA RESPOSTA AOS FÁRMACOS .......................................... 192 2.2.1 Idade .................................................................................................................................... 193 2.2.2 Etnia ..................................................................................................................................... 193 2.2.3 Gravidez .............................................................................................................................. 194 2.2.4 Doenças ...............................................................................................................................194 2.3 REAÇÕES IDIOSSINCRÁTICAS ............................................................................................. 195 2.4 INTERAÇÕES ENTRE FÁRMACOS ....................................................................................... 195 2.4.1 Interação farmacodinâmica .............................................................................................. 195 2.4.2 Interação farmacocinética ................................................................................................. 196 3 FARMACOVIGILÂNCIA .............................................................................................................. 197 3.1 FARMACOVIGILÂNCIA NO BRASIL ................................................................................... 198 3.2 REAÇÃOS ADVERSAS AOS FÁRMACOS ............................................................................ 198 3.2.1 Efeitos adversos relacionados à ação farmacológica principal ................................... 198 3.2.2 Efeitos adversos não relacionados com a ação farmacológica principa .................... 198 3.3 TOXICIDADE FARMACOLÓGICA ........................................................................................ 199 3.3.1 Mecanismos de toxicidade farmacológica ..................................................................... 199 3.3.2 Hepatotoxicidade ............................................................................................................... 200 3.3.3 Nefrotoxicidade ................................................................................................................. 200 3.4 MUTAGÊNESE CARCINOGÊNESE ....................................................................................... 201 3.5 TERATOGÊNESE ........................................................................................................................ 201 3.6 REAÇÕES ALÉRGICAS ............................................................................................................. 202 4 FARMACOTERAPIA DAS PATOLOGIAS ................................................................................ 203 4.1 FARMACOTERAPIA DA GOTA.............................................................................................. 203 4.2 FARMACOTERAPIA DA ARTRITE REUMATÓIDE ............................................................ 204 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 205 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 212 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 213 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 1 UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • conhecer alguns dos principais distúrbios que afetam o sistema gastrintestinal, entre eles os distúrbios ácido-pépticos, a êmese, a diarreia e a constipação; • entender como atuam os principais fármacos utilizados nos distúrbios do trato gastrointestinal, suas aplicações clínicas, efeitos adversos e as interações medicamentosas mais relevantes; • identificar os princípios fundamentais da terapia quimioterápica contra diferentes agentes infecciosos; • conhecer o princípio do mecanismo de ação dos antimicrobianos, dos antivirais, dos antifúngicos e dos fármacos usados na terapia de infecções parasitárias, compreender suas aplicações clínicas e possíveis efeitos colaterais. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO TÓPICO 2 – FÁRMACOS ANTIMICROBIANOS TÓPICO 3 – FÁRMACOS ANTIFÚNGICOS, ANTIVIRAIS E ANTIPARASITÁRIOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, você tem ideia de quais são as doenças ácido-pépticas? Podemos listar o refluxo gastroesofágico, a úlcera péptica gástrica e/ou duodenal e a lesão da mucosa relacionada ao estresse como as principais. A partir de agora, estudaremos os principais fármacos utilizados no tratamento dessas patologias. A característica marcante dos distúrbios ácido-pépticos é a presença de erosões e/ou ulcerações da mucosa, isso geralmente ocorre quando os fatores agressivos (ácido, bile, pepsina) se sobrepõe aos fatores protetores da mucosa (prostaglandinas, muco, bicarbonato, fluxo sanguíneo e mecanismos regenerativos). A maioria (cerca de 90%) das úlceras pépticas são causadas pela infecção da bactéria Helicobacter pylori (H. pylori) ou são provenientes do uso de anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs) (BLASER, 1998; KATZUNG; TREVOR, 2017; RANG; DALE, 2020). Os fármacos disponíveis no tratamento dos distúrbios ácido-pépticos são divididos em três classes: a) Fármacos que reduzem a acidez gastrointestinal. b) Fármacos que estimulam a defesa da mucosa. c) Antimicrobianos. IMPORTANT E UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 4 Primeiramente, entenderemos como ocorre e qual é a função da secreção de ácido gástrico, ok? Como você imagina que aquele bife duro e “borrachudo”, engolido naquele churrasco em família, foi digerido? Entre outros fatores, graças à secreção ácida e às enzimas que seu estômago produz, claro. A secreção de ácido gástrico no lúmen estomacal ocorre pela ação da enzima H+/K+- adenosina trifosfatase (ATPase) (conhecida como bomba de prótons), que está nos canalículos das células parietais. Preste atenção! São três mecanismos que ativam essas enzimas: a histamina, a gastrina e a acetilcolina. Quando elas se ligam aos seus receptores, ocorre a ativação de cinases, que, por sua vez, promovem a secreção de íons hidrogênio (H+) em troca de potássio (K+) para o lúmen estomacal com gasto de energia (ATP). Esse mecanismo nada mais é que a bomba de prótons trabalhando, (bomba de prótons ativada é sinal de secreção gástrica aumentada). Os fármacos que reduzem a secreção de ácido gástrico atuam bloqueando um dos mecanismos descritos anteriormente (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; KATZUNG; TREVOR, 2017; SILVA, 2010). 2 FÁRMACOS USADOS NOS DISTÚRBIOS ÁCIDO GÁSTRICOS 2.1 INIBIDORES DA BOMBA DE PRÓTONS H+/K+-ADENOSINA TRIFOSFATASE (IBPS) Primeiramente, conversaremos sobre os IBPs. Eles foram introduzidos no fim da década de1980, e desde então assumiram o protagonismo no tratamento dos distúrbios ácido-pépticos. Atualmente, os IBPs são os medicamentos mais prescritos devido à considerável eficácia e segurança. Dentre os IBPs, o mais conhecido é o omeprazol, mas incluem ainda o dexlansoprazol, esomeprazol, lansoprazol, pantoprazol e rabeprazol (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; SILVA, 2010). • Mecanismo de ação: os IBPs são fármacos que aumentam o pH do suco gástrico devido ao bloqueio da secreção ácida no estômago. O mecanismo de ação é ilustrado a seguir, na Figura 1, o qual consiste na inibição da bomba de prótons, ou seja, o metabólito ativo dos IBPs se ligam de forma covalente aos resíduos de cisteína das enzimas H+/K+-ATPase, impedindo o processo de troca de H+ por K+, atuam bloqueando o último evento da síntese de ácido clorídrico. A inibição é considerada irreversível, pois a bomba de prótons não é reativada e a produção de ácido só voltará a ocorrer após a síntese de uma enzima nova. Por apresentarem elevada potência de inibição na secreção de ácido gástrico, os IBPsrepresentam a primeira escolha terapêutica e profilática no tratamento de úlceras, refluxos gástricos, esofagites, úlcera duodenal ativa, entre outros distúrbios (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; RANG; DALE, 2020; SILVA, 2010). TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 5 FIGURA 1 – MECANISMO DE SECREÇÃO ÁCIDA ESTOMACAL MEDIADA PELA BOMBA DE PRÓTONS FONTE: <https://bit.ly/3q5rQLl>. Acesso em: 13 ago. 2020. Além disso, mostram-se mais efetivos no bloqueio da secreção ácida e na cicatrização de úlceras do que outros fármacos como os bloqueadores de receptores H2. Importante destacar que os IBPs reduzem o risco de sangramento das úlceras causadas por AINEs e podem ser usados preventivamente em pacientes que necessitam utilizar AINEs a longo prazo. Todos são eficazes por via oral e devem ser ingeridos pelo menos 30 minutos antes da principal refeição. No geral, são bem tolerados, mas a supressão prolongada de ácido gástrico promovida pelos IBPs pode causar carência de vitamina B12, uma vez que o ácido é necessário para a sua absorção. Contudo, será que um pH gástrico constantemente elevado pode ser prejudicial? A resposta é sim, pois pode alterar a absorção de cálcio e causar fraturas ósseas. A suplementação com citrato de cálcio nesses pacientes mostra-se uma alternativa eficaz, uma vez que sua absorção não é alterada pelo pH gástrico. Efeitos adversos adicionais podem incluir déficit de magnésio, maior incidência de pneumonia e diarreia. O médico deve interromper o tratamento se a diarreia persistir por vários dias. Com relação às interações medicamentosas, os IBPs podem interagir com outros fármacos, não é aconselhável associar omeprazol e esomeprazol em paciente que usam o clopidogrel, pois os IBPs podem reduzir a eficácia do clopidogrel, uma vez que inibem sua conversão em um metabólito ativo (BRUNTON; HILAL- DANDAN; KNOLLMAN, 2019; KATZUNG; TREVOR, 2017). UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 6 2.2 ANTAGONISTAS/BLOQUEADORES DE RECEPTOR DE HISTAMINA H2 Os bloqueadores H2 foram introduzidos nos anos 1970 e eram os fármacos mais prescritos no mundo para as doenças ácido-pépticas naquela época. Contudo, com a descoberta do papel da H. pylori nas doenças ulcerosas em conjunto com o advento dos IBPs, o uso dos bloqueadores H2 foi reduzindo ano após ano. Quando bloqueamos a ligação da histamina aos receptores H2, ocorre redução da secreção do ácido gástrico. Os fármacos mais usados desta classe atualmente incluem a cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina. A cimetidina é a pioneira dos bloqueadores H2 mas tem seu uso limitado devido às interações medicamentosas e efeitos adversos (KATZUNG; TREVOR, 2017; SILVA, 2010). • Mecanismo de ação: atuam bloqueando seletivamente os receptores H2 do estômago. São antagonistas competitivos reversíveis da histamina nas células parietais e suprimem a secreção de ácido basal e estimulado pela alimentação de forma linear e dose dependente. São altamente seletivos, não bloqueiam os receptores H1 ou H3, promovem diminuição da concentração de pepsina e do volume de secreção gástrica. Em doses usuais, todos os bloqueadores H2 inibem até 70% da secreção total de ácido no decorrer de um dia, mas são mais efetivos em inibir a secreção ácida noturna (mediada pela histamina) do que a secreção ácida estimulada por refeições. Lembrando que quando nos alimentamos, a secreção de ácido é proveniente não só da ação da histamina, mas também da acetilcolina e da gastrina (BLACK et al., 1972; SILVA, 2010; RANG; DALE, 2020). Todos os antagonistas H2 apresentam praticamente a mesma eficácia na cicatrização das úlceras gástricas e duodenais. Entretanto, a eficácia é limitada em pacientes infectados pela bactéria H. pylori e nos pacientes acometidos por úlceras induzidas por AINEs. Nestes casos, o tratamento deve ser feito com IBPs, pois são mais efetivos que os antagonistas de receptores H2. ATENCAO Os antagonistas dos receptores H2 são fármacos bastante seguros e os efeitos colaterais ocorrem em menos de 3% dos pacientes, incluindo diarreia ou constipação, cefaleia, fadiga e mialgias. Raramente, ocorrem confusão mental em pacientes ambulatoriais, esse sintoma é mais comum com o uso de antagonistas H2 por via intravenosa em pacientes internados, idosos ou acometidos por disfunções renais ou hepáticas. Quando usada por um período prolongado ou em TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 7 doses elevadas, a cimetidina pode causar ginecomastia e impotência nos homens e galactorreia nas mulheres. Isso porque ela inibe o metabolismo do estradiol, eleva os níveis de prolactina e bloqueia a ligação da di-hidrotestosterona aos receptores de androgênio. Felizmente, esses efeitos são específicos da cimetidina e não ocorrem com os demais antagonistas H2. Por atravessarem a placenta, não devem ser administrados às gestantes (KATZUNG; TREVOR, 2017; SILVA, 2010). 2.3 ANTIMICROBIANOS Que fique bem claro: os antimicrobianos não reduzem a secreção de ácido gástrico, ok? Entretanto, são fundamentais aos pacientes com úlcera péptica (gástricas ou duodenais) infectados com a bactéria H. pylori. A eliminação desta infecção contribui para uma cicatrização rápida da úlcera e para baixos índices de recidivas da doença. Para você ter ideia, menos de 15% dos pacientes apresentam recorrência da úlcera quando conseguem sucesso na erradicação da bactéria, por outro lado, quando não se usa antimicrobiano, cerca de 60 até 100% dos indivíduos apresentam episódios recorrentes. Várias associações de antimicrobianos se mostram efetivos para a erradicação da H. pylori. O tratamento considerado “padrão ouro” inclui um IBP (comumente omeprazol ou pantoprazol) associado com amoxicilina e claritromicina. Pacientes alérgicos à penicilina (amoxicilina é uma penicilina), pode-se utilizar metronidazol como opção terapêutica. Quando há conhecida resistência à claritromicina, adota-se uma terapia quádrupla que inclui subsalicilato de bismuto, metronidazol e tetraciclina associada a um IBP. Normalmente, a taxa de erradicação é alta, superando os 90%. De maneira alguma deve-se utilizar apenas um antimicrobiano, pois além de não ser eficaz, pode causar resistência microbiana (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; KATZUNG; TREVOR, 2017; SILVA, 2010). 2.4 ANÁLOGOS DAS PROSTAGLANDINAS Você lembra que já estudamos as ações das prostaglandinas no organismo? A prostaglandina E2 tem efeito citoprotetor, é produzida pela mucosa gástrica e é responsável pela estimulação da secreção de muco e bicarbonato, além disso inibe a secreção de ácido. O déficit de prostaglandinas pode estar relacionado com a formação de úlceras pépticas. O fármaco misoprostol é um análogo da prostaglandina E1, utilizado na profilaxia de úlceras gástricas causadas por AINEs. A administração de misoprostol precisa ser considerada não apenas para os pacientes em uso de AINEs, mas também para pacientes com histórico de problemas com úlceras. Os efeitos adversos mais comuns incluem diarreias e êmese, também é totalmente contraindicado para gestantes, uma vez que estimula as contrações uterinas e podem levar ao aborto (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; KATZUNG; TREVOR, 2017; SILVA, 2010). UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 8 2.5 PROTETORES DA MUCOSA (CITOPROTETORES) O sucralfato e o subsalicilato de bismuto são os principais exemplos, são fármacos que aumentam os efeitos citoprotetores da mucosa, reduzem inflamação e contribuem para a cicatrização de úlceras. O subsalicilato de bismuto é um dos componentes do tratamento quádruplo para potencializar a cicatrização de úlceras, ele estimula a secreção de muco e liga-se a glicoproteínas na mucosa necrótica, criando, assim, um revestimento protetor. Também apresenta efeito antimicrobiano e impede a atividade da pepsina. O sucralfato é um complexo de açúcar(sacarose sulfatada) e hidróxido de alumínio, tal complexo se liga a proteínas da mucosa dando origem a uma espécie de “gel”, o qual serve como uma barreira física de proteção. Com essa barreia instalada, a úlcera fica protegida da ação da pepsina e do ácido. Importante destacar que o sucralfato só é ativado em pH ácido, por isso não deve ser associado com antiácidos, IBPs e bloqueadores H2. O sucralfato é seguro e bem tolerado, mas tem potencial em fixar-se a outros fármacos, prejudicando sua absorção. Esse fármaco não previne as úlceras induzidas pelos AINEs e nem cicatriza úlceras gástricas (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 2.6 ANTIÁCIDOS Provavelmente, em algum momento da sua vida, você tomou algum antiácido, como o ENO®, por exemplo, não é? Os antiácidos são, na verdade, bases fracas que reagem quimicamente com o ácido gástrico, resultando na formação de sal e água. O objetivo é reduzir a acidez estomacal. Importante destacar que os antiácidos reduzem a ação da enzima proteolítica pepsina, pois ela é inativada em pH acima de 4. Os antiácidos mais usados são associações de hidróxido de alumínio ou hidróxido de magnésio ou carbonato de cálcio. O bicarbonato de sódio pode causar alcalose metabólica quando utilizado a longo prazo, por isso não é recomendando para uso prolongado. A eficiência de neutralização da acidez define a eficácia de um antiácido, mas precisamos considerar o fator alimentação, isso porque na presença de alimentos, o esvaziamento gástrico é retardado e há mais tempo para o antiácido exercer seus efeitos. Por isso, para uma maior eficácia, precisam ser administrados após as refeições. São usados principalmente para o alívio dos sintomas da úlcera péptica e dos refluxos, também auxiliam na cicatrização de úlceras duodenais. O carbonato de cálcio, além da função antiácida, contribui na suplementação de cálcio em pacientes com osteoporose. Com relação aos efeitos adversos, o hidróxido de magnésio tende a causar diarreias, por outro lado o hidróxido de alumínio causa constipação. O uso de antiácidos deve ser evitado em pacientes com doenças renais, isso porque os cátions formados podem se acumular nos rins e agravar ainda mais a nefropatia (RANG; DALE, 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 9 3 FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS Antes de iniciar nossa conversa sobre os fármacos que atuam contra as sensações de náuseas e vômitos (fármacos antieméticos), vamos aprender um pouco sobre o mecanismo de gatilho do vômito? Náuseas e vômitos podem ser resultado de uma variada gama de condições, incluindo efeitos colaterais de medicações como os quimioterápicos, gravidez, alteração vestibular, infecção do sistema nervoso central, distúrbios hepáticos, radioterapia, alterações na motilidade do trato gastrointestinal, infecções gastrintestinais, entre outros (HORNBY, 2001; LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017). Os principais mecanismos envolvidos na êmese são: a) O “centro do vômito”, localizado no tronco encefálico do sistema nervoso central (SNC), onde há alta expressão de receptores muscarínicos M1, histamínicos H1, e de serotonina 5-HT3. b) A “zona de gatilho quimiorreceptora” do SNC, rica em receptores D2 dopaminérgicos e receptores opioides. c) O sistema vestibular do SNC, que está envolvido na cinetose (doença do movimento), também rico em receptores M1 muscarínicos e H1 histamínicos. d) Os nervos do trato gastrintestinal, que são ricos em receptores 5-HT3. Diversos estímulos que fragilizam a mucosa gastrintestinal, como os quimioterápicos, radioterapia, gastrenterite infecciosa e indigestão estimulam a liberação de 5-HT da mucosa. Com a ativação dos receptores serotonérgicos, ocorre o influxo aferente vagal (uma espécie de aviso) para o centro do vômito e a zona de gatilho quimiorreceptora. Graças a identificação dos neurotransmissores relacionados com o vômito é que foi possível desenvolver os fármacos antieméticos, os quais são fundamentais principalmente para a qualidade de vida dos pacientes em quimioterapia. Agora, veremos cada uma destas classes: • Bloqueadores dos receptores 5-HT3: são antagonistas seletivos de receptores 5-HT3 e apresentam potente ação antiemética devido ao bloqueio dos receptores 5-HT3 no centro do vômito, na zona de gatilho quimiorreceptora e nos nervos aferentes do TGI. Geralmente, o efeito antiemético é limitado aos vômitos do pós-operatório, da radioterapia e da quimioterapia, principalmente com o uso de fármacos citotóxicos como a cisplatina. Apresentam duração de ação prolongada e eficácia superior a outros antieméticos. Incluem a ondansetrona, tropisetrona, granisetrona, dolasetrona e a palonosetrona. São fármacos bem tolerados, com ótimo perfil de segurança. Os efeitos colaterais mais relatados consistem em cefaleia, tontura e constipação intestinal. UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 10 • Fenotiazínicos: foram os pioneiros a mostrarem efeitos antieméticos eficazes, atuam pelo bloqueio dos receptores de dopamina. Você lembra do tópico que estudamos os antipsicóticos? Então, as fenotiazinas são antipsicóticos utilizados também por suas potentes ações antieméticas e sedativas. Os agentes mais utilizados para a êmese são a proclorperazina, a prometazina e a tietilperazina. • Butirofenonas: as butirofenonas também são fármacos antipsicóticos que possuem efeito antieméticas, devido ao bloqueio de receptores dopaminérgicos. O principal representante é o droperidol, que em doses antieméticas, apresenta ação sedativa potente. Por causar efeitos extrapiramidais e hipotensão, não deve ser usado como primeira escolha, nem em pacientes que apresentem prolongamento do intervalo QT. • Benzamidas substituídas: incluem a metoclopramida e a trimetobenzamida. O mecanismo de ação contra a êmese consiste no antagonismo dos receptores dopaminérgicos no centro do vômito e na zona de gatilho quimiorreceptora. Você lembra que o bloqueio de receptores dopaminérgicos causa efeitos adversos importantes? Sem dúvida, os sintomas extrapiramidais limitam o uso prolongado e doses elevadas destes fármacos. • Antagonistas de receptores de neurocinina (NK1): apresentam efeitos antieméticos modulados pelo bloqueio central nos receptores de neurocininas 1. O principal representante é o aprepitanto, indicado apenas para regimes quimioterápicos emetogênicos. Geralmente é administrado por via oral com corticoide e um antagonista da 5-HT3. • Associações de fármacos antieméticos: frequentemente, os antieméticos são usados em associação para potencializar seus efeitos e/ou reduzir a toxicidade. Os anti- histamínicos, como a difenidramina, podem ser administrados com doses altas de metoclopramida, a fim de reduzir as reações extrapiramidais. Por um mecanismo pouco esclarecido, os corticosteroides, (principalmente a dexametasona), podem atuar em sinergia com a metoclopramida, com antagonistas 5-HT3, fenotiazínicos, butirofenonas e benzodiazepínicos (BRUNTON; HILAL-DANDAN; KNOLLMAN, 2019; KATZUNG; TREVOR, 2017). 4 FÁRMACOS ANTIDIARREICOS Existem diversas causas que podem levar à diarreia, incluindo doenças subjacentes, infecção, toxinas e até mesmo a ansiedade. Também pode ser decorrente do uso de medicamentos ou de radioterapia. O quadro varia desde um pequeno desconforto até uma emergência que exige hidratação e reposição de eletrólitos por via endovenosa. As alterações fisiopatológicas nos episódios diarreicos incluem o aumento da motilidade do TGI, aumento das secreções e redução da absorção de líquidos com consequente perda de eletrólitos (particularmente Na+) e água. A infecção por cólera produz toxinas que aumentam expressivamente a secreção de eletrólitos e de líquido por ativação irreversível das proteínas G (WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). TÓPICO 1 — FÁRMACOSQUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 11 Existem três protocolos de tratamento da diarreia aguda grave: a) Ajuste do equilíbrio hidroeletrolítico. b) Terapia com antimicrobianos. c) Uso de antidiarreicos. Você sabia que a diarreia aguda é uma das principais causas de morte em lactentes desnutridos? Sobretudo em países em desenvolvimento, onde o atendimento médico é precário e de difícil acesso. Cerca de uma a duas milhões de crianças vem a óbito anualmente pela falta de conhecimento e de medidas simples como a produção de um soro caseiro. IMPORTANT E A primeira intervenção que deve ser realizada em casos de diarreia é o reestabelecimento do equilíbrio hidroeletrolítico por meio de reidratação oral. Soros de reidratação oral consistem em preparações de cloreto de sódio e glicose em solução ou sob a forma de pó, pronto para ser dissolvido em água. O soro caseiro pode ser preparado dissolvendo açúcar (uma colher de sopa) e sal (uma colher de chá) em um litro de água filtrada ou previamente fervida. Uma medida simples e barata que poderia salvar a vida de muitos lactentes nos países subdesenvolvidos. Você já ouviu falar da diarreia do viajante? Milhares de pessoas viajam todos os anos sem intercorrências, mas algumas apresentam sintomas gastrointestinais, principalmente a diarreia. A principal causa da diarreia do viajante é o consumo de alimentos contaminados pela bactéria Escherichia coli produtora de enterotoxinas ou outros microrganismos. A maioria das infecções é leve e autolimitada, exigindo apenas reposição oral de líquido e eletrólitos. INTERESSA NTE Os fármacos antidiarreicos são usados com segurança em pacientes com diarreia aguda, mas não devem ser usados a pacientes febris, com diarreia sanguinolenta ou com sinais de intoxicação, devido ao risco de piorar o quadro. Também são usados no controle da diarreia crônica causada por algumas doenças inflamatórias intestinais (RANG; DALE, 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). UNIDADE 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 12 Os antidiarreicos consistem em fármacos com mecanismos de: a) Antimotilidade. b) Adsorventes. c) Modulação do transporte de água e eletrólitos. Vamos ver um pouco de cada classe? • Fármacos antimotilidade: conforme você viu no subtópico dos fármacos opioides, eles exercem constipação acentuada como um dos efeitos colaterais. Todos os opioides apresentam ação antidiarreica, entretanto, os efeitos sobre o sistema nervoso central e o potencial de causar dependência limita o uso da maioria deles. A loperamida e o difenoxilato são agonistas de receptores opioides que exercem ações localizadas no intestino. O mecanismo de ação é a ativação dos receptores opioides pré-sinápticos localizados no sistema nervoso entérico a fim de inibir a liberação de acetilcolina e, por sua vez, reduzir o peristaltismo. São contraindicados para crianças e pacientes com colite grave. • Adsorventes: o hidróxido de alumínio e metilcelulose são adsorventes utilizados no manejo de diarreias. Acredita-se que eles atuam adsorvendo toxinas intestinais e/ou microrganismos, criando um mecanismo de proteção ao revestir a mucosa intestinal. Apresentam eficácia questionável e podem prejudicar a absorção de outros medicamentos. • Fármacos que modificam o transporte de líquido e eletrólitos: o salicilato de bismuto atua diminuindo a secreção de líquidos no intestino. Seu efeito parece ser decorrente do revestimento protetor que ele produz (RANG; DALE, 2020; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 5 FÁRMACOS LAXANTES Os laxantes são usados para os episódios de constipação, a fim de acelerar a motilidade do TGI. Uma vez que os laxantes aceleram o trânsito intestinal, podem alterar a absorção de fármacos que são pouco absorvidos e de fármacos que tem liberação retardada/prolongada. Quando usados de forma crônica, podem promover desequilíbrios eletrolíticos. O risco de dependência destes fármacos não pode ser descartado (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). A maioria das pessoas não precisa, de fato, dos laxantes. Entretanto, muitos indivíduos utilizam sem prescrição médica e sem indicação adequada. O cenário ideal seria prevenir a constipação com uma dieta rica em fibras, ingestão de muita água e exercícios físicos regulares. IMPORTANT E TÓPICO 1 — FÁRMACOS QUE ATUAM SOBRE O SISTEMA DIGESTIVO 13 Irritantes e estimulantes • Senna: é uma planta medicinal, mais conhecida como chá de sene, muito utilizada para tratar a prisão de ventre, principalmente por suas intensas propriedades laxativas. O nome científico é Senna alexandrina. Possui como princípio ativo um complexo natural de glicosídeos antraquinônicos (senosídeos). Em associações com o docusato (amolecedor de fezes), pode ser útil no tratamento das constipações causadas por opioides. Também promove secreção de água e eletrólitos para o lúmen intestinal. • Bisacodil: atua de forma direta nas fibras nervosas da mucosa intestinal, sendo um potente estimulante do colo do intestino. • Laxantes salinos e osmóticos: o citrato de magnésio, hidróxido de magnésio e fosfato de sódio formam ânions e cátions que são sais não absorvíveis, isso retêm água no intestino por osmose, o que promove distensão intestinal e aumento da mobilidade. A lactulose é um dissacarídeo que também atua como laxante osmótico. É metabolizada pela flora intestinal em ácidos lático, fórmico e acético, os quais aumentam a pressão osmótica causando acúmulo de líquidos, distensão do intestino, amolecimento das fezes e defecação. Há ainda as soluções eletrolíticas com polietilenoglicol, usadas principalmente antes de procedimentos endoscópicos. • Laxantes formadores de volume: consistem em coloides hidrofílicos que são obtidos a partir de partes não digeríveis de frutas e vegetais. Eles produzem uma espécie de gel no intestino grosso, retendo água e estimulando o peristaltismo. O uso em pacientes imobilizados deve ser evitado, pois há risco de causar obstrução intestinal. As fibras e a metilcelulose exercem ações semelhantes. • Laxantes emolientes ou surfactantes (amolecedores de fezes): os fármacos emolientes formam uma emulsão com as fezes, amolecendo-as. Os principais exemplos são o docusato de sódio e o docusato de cálcio. O efeito esperado pode demorar vários dias, por isso são usados como profilaxia. • Laxantes ativadores de canais de cloro: a lubiprostona é usada no tratamento da constipação crônica, por não causar intolerância ou dependência. Ativa os canais de cloreto aumentando a secreção de líquidos no lúmen do intestino, facilitando a progressão das fezes. • Laxantes lubrificantes: Os representantes da classe são o óleo mineral e os supositórios de glicerina, atuam lubrificando as fezes endurecidas. O óleo mineral deve ser ingerido cuidadosamente por via oral em pé, para evitar risco de aspiração que pode causar uma pneumonia lipídica (LÜLLMANN; MOHR; HEIN, 2017; WHALEN; FINKEL; PANAVELLI, 2016). 14 Neste tópico, você aprendeu que: • Os distúrbios ácido-pépticos consistem em erosões e/ou ulcerações da mucosa, que ocorrem quando os fatores agressivos (ácido, bile, pepsina) se sobrepõe aos fatores protetores da mucosa (prostaglandinas, muco, bicarbonato, fluxo sanguíneo e mecanismos regenerativos). Cerca de 90% das úlceras pépticas são causadas pela infecção da bactéria Helicobacter pylori ou são provenientes ao uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs). • A secreção de ácido gástrico no lúmen estomacal ocorre pela ação da enzima conhecida como bomba de prótons. São três mecanismos que ativam essa enzima: a histamina, a gastrina e a acetilcolina. A ativação da bomba de prótons promove a secreção de íons hidrogênio (H+) em troca de potássio (K+) formando o ácido clorídrico no lúmen estomacal. • O objetivo do tratamento dos distúrbios ácido-pépticos é reduzir a secreção de ácido gástrico e erradicar
Compartilhar