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DESCRIÇÃO Reflexões sobre as práticas de linguagens, gêneros discursivos e multiletramentos nos processos de ensino-aprendizagem da escrita e da leitura, de alfabetização e de letramento. PROPÓSITO Compreender as práticas de linguagem recomendadas na Base Nacional Comum Curricular para ampliar o conhecimento sobre os processos de alfabetização e de letramento. 20/04/2022 21:42 Página 1 de 84 PREPARAÇÃO Antes de iniciar os estudos, tenha à mão a Base Nacional Comum Curricular, disponibilizada no portal do MEC, bem como um dicionário para consultar os termos específicos dos estudos da linguagem e da alfabetização. Na internet, você acessa o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa, e o Glossário CEALE, hospedado no portal da UFMG. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar as práticas de linguagem recomendadas na Base Nacional Comum Curricular MÓDULO 2 Reconhecer os fundamentos da alfabetização para a formação de autores/leitores 20/04/2022 21:42 Página 2 de 84 MÓDULO 3 Identificar possibilidades de atividades linguísticas com uso de recursos tecnológicos INTRODUÇÃO Metodologias de Alfabetização e Letramento é uma temática que nos aproxima das percepções das práticas de linguagem leitora, oral e escrita e da análise linguística semiótica propostas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para nos apropriarmos desses pressupostos, porém, temos que ter fortalecidos os conceitos de alfabetização e letramento. Por isso, no Módulo 1, em que abordamos o eixo da produção de texto, iniciamos uma breve apresentação desses conceitos. Em seguida, apresentamos cada uma das práticas de linguagem, mostrando também o trabalho educativo que orienta produções de textos em diferentes gêneros textuais pautados em projetos enunciativos. No Módulo 2, em que abordamos a formação de leitores, reforçamos as fundamentações sobre alfabetização, integrando-as com a prática de linguagem leitora. Em seguida, sugerimos práticas de ensino que contribuem para formação leitora das crianças nos primeiros anos escolares. No Módulo 3, promoveremos reflexões sobre a ortografização e a pontuação no processo da produção de textos a partir do uso de recursos tecnológicos. 20/04/2022 21:42 Página 3 de 84 MÓDULO 1 ! Identificar as práticas de linguagem recomendadas na Base Nacional Comum Curricular ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) enfatiza a participação dos estudantes nas diversificadas práticas de linguagem, objetivando ampliar suas capacidades expressivas, como também, seus conhecimentos sobre essas práticas, dando continuidade ao letramento já iniciado nos meios sociais: escola e família. No entanto, antes de nos apropriarmos dos conceitos dessas práticas de linguagem, precisamos nos ater aos conceitos de alfabetização e de letramento. Trabalhar brevemente esses conceitos é importante, pois devemos entender que o conhecimento teórico será elemento fundamental para a atuação autônoma do educador e, para tanto, deverá integrar a sua formação. Logo, metodologia e teoria são duas faces de uma mesma moeda e são, por isso, inseparáveis. Diante disso, a valoração da teoria será a âncora para a prática. A atuação autônoma dos educadores, em sala de aula, sem o conhecimento do objeto que se deseja ensinar, resulta em uma prática educativa que não se sustenta. Isso é ainda mais relevante se esse 20/04/2022 21:42 Página 4 de 84 conhecimento relacionado com o que se quer ensinar decorre de princípios, diretrizes e procedimentos metodológicos, como é o caso da alfabetização e do letramento (SOARES, 2005). Diante disso, nós, educadores, precisamos entender as teorias sobre alfabetização e letramento. ALFABETIZAÇÃO Designa o ensino e o aprendizado de um sistema de representação da linguagem humana que toma como objeto de representação inicial os sons da fala; a escrita alfabético-ortográfica. Mas, a aprendizagem desse objeto não ocorre em si mesmo, pois acontece no interior de processos de leitura e de escrita. Isso significa que capacidades ou procedimentos como, por exemplo, reconhecer letras, categorizar letras grafadas de formas diferentes, realizar processos de análise e síntese de sílabas e palavras, adquirir fluência em leitura e rapidez na escrita são também importantes dimensões daquilo que aprendemos quando nos alfabetizamos. Esse processo implica conhecimentos e procedimentos ligados à representação e às capacidades motoras e cognitivas (SOARES, 2005). 20/04/2022 21:42 Página 5 de 84 Imagem: Shutterstock.com ESCRITA ALFABÉTICO- ORTOGRÁFICA A escrita alfabético-ortográfica é um sistema de representação e se distingue de outros sistemas de representação, como o desenho, por exemplo. O sistema da escrita representa certas propriedades do signo linguístico; sua utilização envolve uma automatização das relações entre o escrito e aquilo que representa (SOARES, 2005, p. 24). 20/04/2022 21:42 Página 6 de 84 Imagem: Shutterstock.com LETRAMENTO O conceito de letramento surgiu de uma ampliação progressiva do próprio conceito de alfabetização. Entendemos por letramento o uso da leitura e da escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária. É o conjunto de conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais e necessários para uma participação ativa e competente na cultura escrita. Assim, para corresponder adequadamente às características e demandas da sociedade atual, é necessário que as pessoas sejam alfabetizadas e letradas; no entanto, há alfabetizados não letrados e é possível haver analfabetos com certo nível de letramento (SOARES, 2005, p. 50). 20/04/2022 21:42 Página 7 de 84 PRÁTICAS DE LINGUAGEM Com os conhecimentos de alfabetização e letramento já estabelecidos, seguiremos com a conceitualização das práticas de linguagem. As práticas de linguagem se estruturam e contribuem para a produção de textos orais e escritos, que propiciam o processo de ensino e de aprendizagem da língua materna. As práticas de linguagem são: LEITURA É uma prática de linguagem resultante da interação ativa do leitor/ouvinte/espectador com os textos escritos, orais e multissemióticos, a ser desenvolvida nas escolas por estratégias compartilhadas e autônomas em diversos e complexos gêneros textuais. O trabalho não se dá apenas com o texto escrito, não apenas escutando o texto, mas também acontece pelo olhar estético em observação de imagens estáticas ou em movimento e em todas as suas possibilidades de circulação impressas ou digitais. 20/04/2022 21:42 Página 8 de 84 Imagem: Shutterstock.com MULTISSEMIÓTICOS Os gêneros discursivos multissemióticos ou multimodais são aqueles compostos por várias linguagens e combinam diferentes modalidades, tais como as linguagens verbal (oral e escrita), visual, sonora, corporal e digital, por exemplo, textos que misturam a linguagem verbal e desenhos ou gráficos. 20/04/2022 21:42 Página 9 de 84 Imagem: Shutterstock.com ORALIDADE É uma prática de linguagem discursiva relacionada com estratégia de fala e escuta, ocorrendo na interação com o outro no ambiente familiar e, no processo de alfabetização e letramento, no contexto escolar. A oralidade será ampliada na dimensão dos processos de percepção, compreensão e representação, e nas características de interações discursivas e nas estratégias de fala e escuta em intercâmbios orais; elementos importantes para a apropriação do sistema de escrita alfabética e, consequentemente, na produção textual. 20/04/2022 21:42 Página 10 de 84 ESCRITA É uma prática de linguagem compartilhada e autônoma que propicia o domínio progressivo da habilidade de produzir textos em diferentes gêneros, sempre tendo em vista a interatividade e a autoria. Assim como a oralidade e a leitura, a escrita também ampliará o letramento adquirido nas práticas sociais já absorvidas. Imagem: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 11 de 84Imagem: Shutterstock.com ANÁLISE LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA Indica a sistematização da alfabetização, sendo uma prática de linguagem que se articula com as demais práticas, já aqui apresentadas. A partir da análise linguística e semiótica, são propostas reflexões sobre o sistema de escrita alfabética e o funcionamento da língua e de outras linguagens. As práticas de linguagem não são estanques e tampouco possuem um fim em si mesmas. A articulação existente entre elas possibilitará o trabalho com a produção de texto, na qual a prática leitora pode ser contemplada por meio de contações de histórias, por exemplo. Essas mesmas histórias posteriormente serão recontadas, fortalecendo, assim, a prática oral. Em seguida, o estímulo para a recriação das histórias em 20/04/2022 21:42 Página 12 de 84 gêneros diferentes do apresentado ressignificará a escrita, valorando esta prática e proporcionando a análise linguística (BRASIL, 2018). CONSTRUINDO PROJETOS ENUNCIATIVOS PARA A PRODUÇÃO DE TEXTOS A característica básica dos projetos escolares é o conceito de experiência, que reconhece a educação das crianças como um processo realizado por meio do estímulo de práticas sociais, culturais, criativas e interativas, nas quais todos têm o ritmo de ação e iniciativa respeitados. Assim, partindo de uma perspectiva enunciativa-discursiva da linguagem, os projetos objetivam a interação social e têm como pilares o texto, o discurso, o enunciado e o gênero. Diante disso, o trabalho escolar com projetos ampliará os eventos de letramento alcançados, no entanto, os eventos de letramentos serão apropriados para promover reflexões sobre a prática oral e a prática escrita que os motiva, dessa maneira, será viabilizada a conscientização e o aperfeiçoamento dessas práticas situadas em seus contextos de produção (BRASIL, 2018). TEXTO 20/04/2022 21:42 Página 13 de 84 O texto é um todo organizado que produz sentido, podendo ser escrito ou oral. Além disso, outras linguagens não verbais também podem fazer parte de um texto. Podemos dizer, também, que o texto é um produto da enunciação. DISCURSO Discurso é o texto em atividade comunicativa; vindo a público e se realizando. O discurso pode se realizar a partir de um texto escrito ou oral. Também pode se manifestar em textos que trabalham com múltiplas linguagens. ENUNCIADO O enunciado é o produto ou o resultado da enunciação. A enunciação corresponde ao funcionamento ou uso da língua por meio da interação ou da atividade social do enunciador. O enunciador é quem interage pela língua, seja ela escrita ou oral, considerando um enunciatário, ou seja, aquele a quem se fala ou se escreve. 20/04/2022 21:42 Página 14 de 84 GÊNERO O conceito de gênero ou de gênero do discurso foi elaborado por Bakhtin e corresponde a características relativamente estáveis quanto ao tema e à forma composicional de enunciados: “Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem [...]. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana [...]. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso” (BAKHTIN, 2016, p. 11). ! ATENÇÃO É importante que se considere desde o início da aprendizagem escolar que os estudantes possam se apropriar das características e das práticas dos discursos sociais em suas diversas funções. Para isso, os professores devem organizar numerosas e variadas práticas de leitura e escrita. As crianças, embora pequenas, são muito capazes quando bem orientadas, assim, o trabalho escolar por meio dos projetos enunciativos deverá constituir uma abordagem essencial aos interesses destas crianças em descobrir o seu mundo. Eles surgem da identificação das questões que os estudantes querem investigar. O educador será o orientador do processo de busca, a partir de estratégias voltadas para atividades em grupo e de aprendizagem cooperativa e colaborativa. 20/04/2022 21:42 Página 15 de 84 Atividades que estimulam a observação do cotidiano se tornarão significativas na medida em que considerarem os saberes trazidos pelo contexto em que a criança está inserida; assim, a proposta de observar os entornos na intencionalidade de construir projetos enunciativos é tarefa necessária. " EXEMPLO Projeto “Os habitantes do jardim e da horta”, com visita guiada a jardins ou hortas no espaço ou entorno da escola. Por meio desse projeto, é possível incitar olhares para os jardins e para as hortas familiares ou escolares, para os processos de plantação de verduras, legumes, ervas medicinais, temperos e para as flores do jardim. Foto: Ted Alexander Somerville/Shutterstock.com Também é possível a observação dos pequenos insetos que frequentam tais lugares. Partindo desses saberes já constituídos, também se incitarão aprendizagens sobre a germinação, os cuidados com a terra, passando pelas características das plantas, dos frutos, do uso das ervas medicinais e 20/04/2022 21:42 Página 16 de 84 da biodiversidade dos insetos. Os estudantes compreenderão na prática os modos de vida dos animais e das plantas que ali habitam. Essas unidades de aprendizagem poderão ser utilizadas para a articulação de todas as áreas curriculares, colocando situações de aprendizagem significativas perante a realidade de cada turma. As situações de aprendizagem que se desenham no projeto enunciativo de nosso exemplo passam a ser uma referência articuladora de toda a sequência didática estabelecida, permitindo e promovendo a participação ativa das crianças no processo de aprendizagem. Além disso, a partir da situação, podemos projetar uma rede conceitual que evidencia as múltiplas possibilidades de conexão e articulação das áreas curriculares de forma espontânea. Como se nota, demais situações de aprendizagem poderão ser incitadas, todavia, a produção textual, nesse processo, será a mais oportunizada. A sequência didática estabelecida organizará um conjunto de atividades ancoradas ao conteúdo proposto e buscará favorecer a aprendizagem dos estudantes, sempre focando os objetivos já estipulados no planejamento elencado pelo educador. Fato este que salienta a importância de visualizar que projetos educativos requerem organização, planejamento e envolvimento para que o educador consiga se organizar e se orientar em relação aos estudantes. Diante de tal organização, o projeto enunciativo é elencado com algumas possibilidades: 20/04/2022 21:42 Página 17 de 84 Imagem: Shutterstock.com A confecção de placas de identificação para os canteiros e para as plantas ou um folheto com fotos do passo a passo de como plantar e cultivar uma hortaliça. Imagem: Shutterstock.com A construção de um álbum de insetos ou de plantas construído de acordo com o interesse da turma. Imagem: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 18 de 84 A produção de um almanaque que exemplificará as espécies de plantas coletadas e investigadas. Imagem: Shutterstock.com A criação de uma história em quadrinhos onde as personagens possam ser alguns dos animais observados na horta ou no jardim. Todas essas atividades do nosso exemplo de projeto enunciativo fomentarão situações reais do uso da língua na sala de aula e incitarão as crianças para a escrita, mesmo que elas não se apropriem da escrita alfabética por ainda se expressarem por desenhos ou de maneira não convencional. A produção textual coletiva de um roteiro ou a produção de legendas sobre “As plantas e os insetos da horta escolar”, por exemplo, também estimulará nas crianças uma prática significativa de escrita, pois oportunizará a elas a observação da transcrição, feita pelo educador, das produções orais ali ditas por cada criança. # 20/04/2022 21:42 Página 19 de 84 DEPOIS DE ESTAR ATENTA APENAS AOS ASPECTOS GRÁFICOSDA ESCRITA, A CRIANÇA PODE VOLTAR SUA ATENÇÃO PARA A FINALIDADE DA ESCRITA: PARA QUE ELA SERVE? FAZENDO ESSA PERGUNTA, A CRIANÇA PROGRESSIVAMENTE – VIVENCIANDO SITUAÇÕES EM QUE A ESCRITA É UTILIZADA – INFERE QUE ELA SERVE PARA “DIZER ALGUMA COISA”, ISTO É, QUE TEXTOS “DIZEM ALGO”, MANIFESTAM UMA INTENÇÃO COMUNICATIVA. SÃO, PORTANTO, ALGO QUE TEM POR FUNÇÃO SIMBOLIZAR OU REPRESENTAR OUTRA COISA E QUE ESSA “COISA” É UM SIGNIFICADO LINGUÍSTICO, EM GERAL, PARA A CRIANÇA, UM NOME. DESCOBRINDO QUE A ESCRITA REPRESENTA UM SIGNIFICADO LINGUÍSTICO, A CRIANÇA DÁ, ASSIM, UM PASSO EXTREMAMENTE IMPORTANTE PARA SUA ALFABETIZAÇÃO: ELA DESCOBRE, NA 20/04/2022 21:42 Página 20 de 84 VERDADE, QUE A ESCRITA REPRESENTA UMA DIMENSÃO DA LINGUAGEM HUMANA. (SOARES, 2005, p. 37) Ao compreender o contexto de produção da escrita, a criança torna-se capaz de perceber como a intencionalidade do texto interfere na maneira de escrever. Além de observar a existência de vários gêneros textuais que facilitam a transmissão das ideias, ou seja, a prática da linguagem comunicativa da escrita. Foto: Shutterstock.com Sendo assim, o projeto enunciativo que exemplificamos foca o trabalho com os diversos gêneros discursivos ou textuais, tais como: folhetos, placas, álbum, almanaque, roteiro, legendas e história em quadrinhos. O trabalho com esses gêneros provocará leituras e produções textuais que promoverão a articulação e a integração entre as demais práticas linguísticas. 20/04/2022 21:42 Página 21 de 84 # [...] AS DIVERSAS PRÁTICAS DE LINGUAGEM PODEM SER RELACIONADAS, NO ENSINO, POR MEIO DOS GÊNEROS – VISTOS COMO FORMAS RELATIVAMENTE ESTÁVEIS TOMADAS PELOS ENUNCIADOS EM SITUAÇÕES HABITUAIS, ENTIDADES CULTURAIS INTERMEDIÁRIAS QUE PERMITEM ESTABILIZAR OS ELEMENTOS FORMAIS E RITUAIS DAS PRÁTICAS DE LINGUAGEM. OS GÊNEROS LIGADOS A CADA UMA DESSAS PRÁTICAS SÃO UM TERMO DE REFERÊNCIA INTERMEDIÁRIO PARA A APRENDIZAGEM, UMA “MEGAFERRAMENTA” QUE FORNECE UM SUPORTE PARA A ATIVIDADE NAS SITUAÇÕES DE COMUNICAÇÃO E 20/04/2022 21:42 Página 22 de 84 CONSTITUI UMA REFERÊNCIA PARA OS APRENDIZES. (KOCK; ELIAS, 2018, p. 62) À luz dos conceitos e das abordagens que estamos estudando, a criança construirá seu próprio entendimento de que a língua mobiliza os diferentes saberes, pois é na produção de discursos que a criança articula, em momento real, um ponto de vista sobre a sua realidade, e se compromete com a sua palavra e com a sua articulação discursiva, mesmo quando ainda não está consciente. Considerar a produção de textos (orais e escritos) como pontos de partida e chegada de todo o processo de ensino e aprendizagem da língua não será apenas uma inspiração ideológica de inserção da voz das classes desfavorecidas, para delas ouvirmos suas histórias contidas e não contadas. Deve ser, sobretudo, o entendimento de que, no texto, a língua se revelará em sua totalidade, quer em seu conjunto de formas, quer em seu discurso (GERALDI, 1995, p. 135). Entretanto, é necessário que os educadores estejam atentos a esses saberes e tenham em mente os espaços, físicos e sociais, aos quais os estudantes pertencem, para obter elementos reais do cotidiano dos seus alunos, tais como: 20/04/2022 21:42 Página 23 de 84 Imagem: Shutterstock.com Problemas a resolver. Imagem: Shutterstock.com Características socioculturais e patrimônios da comunidade que contribuirão para a construção de experiências válidas e significativas de aprendizagem. 20/04/2022 21:42 Página 24 de 84 Imagem: Shutterstock.com Diversas capacidades, necessidades e experiências dos estudantes, para permitir que as sugestões oferecidas por eles se concretizem em planos e em projetos organizados integralmente pelos membros do grupo. Desta maneira, será favorecido o engajamento “verdadeiramente” social para, assim, promover uma mudança de estado de coisas (KLEIMAN et al., 2013, p.71). Isto posto, o projeto enunciativo favorecerá uma aprendizagem significativa por meio da colaboração e da negociação entre os pares envolvidos (estudantes, educadores e toda comunidade escolar) e ampliará as práticas de linguagem e os eventos de letramento. Além do mais, as crianças interagirão com textos autênticos de circulação e função social, com a diversidade de gêneros e com a flexibilidade organizacional dos diversos graus de familiaridade de práticas letradas e com os gêneros que os viabilizam. As crianças ainda aprenderão sobre seus usos e características, sobre suas diferentes formas de ler e escrever de acordo com suas intenções comunicativas. Assim, nessa produção, as crianças realizam atividades autênticas para alcançar objetivos concretos para a sua vida, como também atingem os conteúdos presentes nos programas curriculares. 20/04/2022 21:42 Página 25 de 84 $ RESUMINDO As práticas de linguagem (oral, escrita, leitura e análise linguística e semiótica) se estruturam em suas especificidades, todavia, não são estanques e muito menos possuem um fim em si mesmas, elas se articulam e contribuem para a produção de textos orais e escritos que propiciam o processo de ensino e de aprendizagem da língua materna. Os projetos escolares apresentam o conceito de experiência que reconhece que a educação das crianças se faz pelo estímulo de práticas sociais, culturais, criativas e interativas, em que todos têm o ritmo de ação e iniciativa respeitados, assim, partindo de uma perspectiva enunciativa- discursiva da linguagem os projetos objetivam a interação social, e têm como pilares o texto, o discurso, o enunciado e o gênero. 20/04/2022 21:42 Página 26 de 84 ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E PRÁTICAS DE LINGUAGEM Assista ao vídeo abaixo com a professora Rita Spíndola contando sobre as práticas de linguagens recomendadas pela BNCC no contexto da alfabetização e do letramento e destacando o trabalho com os projetos enunciativos no ambiente escolar. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS A CONCEITUAÇÃO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA RESGATARMOS A FUNDAMENTAÇÃO DAS PRÁTICAS DE LINGUAGEM RECOMENDADAS NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR (BNCC). ASSIM, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MELHOR CARACTERIZA 20/04/2022 21:42 Página 27 de 84 A CONCEITUAÇÃO DESSES TERMOS: A) Alfabetização refere-se ao ensino de escrita, e letramento ao ensino da leitura de mundo, dando sentido às produções de texto das crianças. B) Letramento implica processos de representações sociais; já alfabetização implica processos ligados à leitura e à escrita. C) Alfabetização ocorre no interior de processos de leitura e de escrita; já o letramento é o uso da leitura e da escrita para exercer uma prática social. D) Alfabetização implica a representação da fala, e o letramento é a representação social da fala. E) Alfabetização implica a representação da escrita; o letramento é a representação social da escrita. 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR. I - OS PROJETOS ESCOLARES DEVEM ESTIMULAR AS PRÁTICAS SOCIAIS, CULTURAIS, CRIATIVAS E INTERATIVAS. II - OS PILARES DOS PROJETOS ENUNCIATIVOS ESCOLARES SÃO AS TÉCNICAS DE ALFABETIZAÇÃO E O LETRAMENTO. III - AS ATIVIDADES PROPOSTAS NOS PROJETOS ESCOLARES DEVEM RESPEITAR O RITMO DE AÇÃO E A INICIATIVA DAS CRIANÇAS. 20/04/2022 21:42 Página 28 de 84 IV - OS PROJETOS ESCOLARES DEVEM PARTIR DE UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVO-DISCURSIVA. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: A) I e II B) I, II e III C) I, II e IV D) I, III, IV E) II, III e IV GABARITO 1. Estudamos a conceituação de alfabetização e letramento para resgatarmos a fundamentação das práticas de linguagem recomendadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, assinale a alternativa que melhor caracteriza a conceituação desses termos: A alternativa "C " está correta. Alfabetização e letramento são conceitos inter-relacionados e interdependentes, mas podemos distinguir a alfabetização como o ensino e o aprendizado da leitura e da escrita, a partir de um sistema de representação da linguagem humana que relaciona os sons da fala com a escritaalfabético-ortográfica. Já o conceito de letramento é a ampliação progressiva do próprio conceito de alfabetização. Entendemos por letramento o uso da leitura e da escrita para exercer uma prática social em 20/04/2022 21:42 Página 29 de 84 que a escrita é necessária. 2. Analise as afirmativas a seguir. I - Os projetos escolares devem estimular as práticas sociais, culturais, criativas e interativas. II - Os pilares dos projetos enunciativos escolares são as técnicas de alfabetização e o letramento. III - As atividades propostas nos projetos escolares devem respeitar o ritmo de ação e a iniciativa das crianças. IV - Os projetos escolares devem partir de uma perspectiva enunciativo-discursiva. Está correto apenas o que se afirma em: A alternativa "D " está correta. Os projetos enunciativos no contexto escolar devem ter como objetivo a interação social por meio da linguagem. Os pilares desses projetos são, como estudamos, o texto, o discurso, o enunciado e o gênero discursivo. O trabalho com a língua, valendo-se de projetos que mobilizam as crianças em atividades sociais, culturais e interativas, pode apresentar resultados promissores nos processos de alfabetização e letramento. MÓDULO 2 ! Reconhecer os fundamentos da alfabetização para a formação de 20/04/2022 21:42 Página 30 de 84 autores/leitores CONCEITOS E QUESTIONAMENTOS INICIAIS Neste módulo, entraremos em contato com metodologias que fomentarão a formação leitora nas crianças em fase de alfabetização. Para tanto, é necessária a aproximação de algumas impressões que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) propõe. Em um primeiro momento, importa conceituar que atividades humanas se realizam nas práticas sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital. É por meio dessas práticas que as pessoas interagem consigo mesmas e com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações, estão conectados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e éticos (BRASIL, 2018, p. 63). Diante desse conceito inicial, devemos ter a perspectiva de que a leitura compreende as práticas de linguagem decorridas das interações ativas que leitores e ouvintes constroem com as mais diversificadas formas textuais (escritas, orais e multissemióticas) e das possíveis interpretações ocorridas, sendo exemplos as leituras para: Fruição estética de textos e obras literárias Pesquisa e embasamento de trabalhos escolares e acadêmicos 20/04/2022 21:42 Página 31 de 84 Realização de procedimentos Conhecimento, discussão e debate sobre temas sociais relevantes Sustentação da reivindicação de algo no contexto de atuação da vida pública Obtenção de mais conhecimento para o desenvolvimento de projetos pessoais, entre outras possibilidades (BRASIL, 2018, p. 71) A leitura se estabiliza como uma prática da linguagem, que se amplia no contexto escolar por estratégias compartilhadas e autônomas em diversos e complexos gêneros textuais impressos ou digitais. Assim, encontramos alguns questionamentos referentes à nossa prática educativa: 20/04/2022 21:42 Página 32 de 84 Imagem: Shutterstock.com Como nossos estudantes se constituem como leitores? Quais as compreensões traçadas perante essas diversidades textuais circundantes em nossa sociedade? Necessitamos refletir sobre as questões que envolvem a construção de sentido com aquilo que se lê e quais as suas finalidades. LEITURA COMO ATIVIDADE COGNITIVO-SOCIAL Durante algum tempo, o processo de alfabetização era entendido como um processo de aquisição do sistema de escrita, correspondendo à codificação. Consequentemente, a leitura estava inserida nesse processo como a decodificação, quando a criança conseguia decifrar o que havia escrito, juntando letras e sílabas, para formar palavras, ou as palavras para formar frases. Nessa dinâmica, não se garantia a compreensão leitora. A leitura feita pelas crianças nos anos iniciais de escolarização era considerada como uma atividade mecânica de decodificar palavras, de explorar sentidos que estariam prontos no texto. Com isso, acreditava-se que, para formar um leitor competente, bastava ensinar a ler no primeiro ano de escolaridade, ou seja, no período de alfabetização, e depois a criança já estaria apta para ler qualquer texto 20/04/2022 21:42 Página 33 de 84 (CAFIERO, 2005, p. 11). Contudo, sabemos que a leitura é uma atividade complexa. Os sentidos que os estudantes constroem ocorrem por meio das relações que se estabelecem entre as informações trazidas no texto e os conhecimentos absorvidos de suas vivências. Isso significa que a leitura é uma atividade cognitiva e social (KLEIMAN et al., 2013). LEITURA COMO ATIVIDADE COGNITIVA Entendemos que, quando as crianças leem, elas executam uma série de operações mentais que extrapolam a decodificação, e utilizam estratégias inconsciente e conscientemente. Assim, como atividade cognitiva, a leitura pode ser ensinada, isto é, podem ser ensinadas estratégias que ajudarão as crianças a lerem melhor. 20/04/2022 21:42 Página 34 de 84 Imagem: Shutterstock.com Imagem: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 35 de 84 LEITURA COMO ATIVIDADE SOCIAL A leitura é compreendida como um ato de interação com o outro, uma relação existente entre um escritor e um leitor, que mesmo distantes se comunicam pelo texto. Isso ocorre dentro de condições muito específicas de comunicação, uma vez que cada um deles tem seus próprios objetivos, suas próprias expectativas e suas próprias vivências de mundo. Tal como atividade social, a leitura implica objetivos e necessidades que são determinados na interação. Diante disso, devemos fazer as seguintes reflexões: Ler para quê? Ler com que objetivos? Ler para interagir com quem? Ler por que motivo? A principal vantagem de se entender a leitura como um processo cognitivo- social é a de mostrar que existem formas para ampliar a competência leitora ao longo da vida, isto é, que o ensino de leitura não é uma etapa pontual que se esgota na alfabetização (CAFIERO, 2005). Diante disso, lançaremos olhares sobre a dimensão cognitiva da leitura, sobretudo em dois aspectos vivenciados pelas crianças em processo de alfabetização: a decodificação e a construção da coerência. Neste contexto, executa-se uma sequência de operações. Entre elas, podemos mencionar: 20/04/2022 21:42 Página 36 de 84 Imagem: Shutterstock.com Perceber Imagem: Shutterstock.com Memorizar Imagem: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 37 de 84 Analisar Imagem: Shutterstock.com Sintetizar Imagem: Shutterstock.com Inferir 20/04/2022 21:42 Página 38 de 84 Imagem: Shutterstock.com Relacionar Imagem: Shutterstock.com Avaliar PROCESSO DE LEITURA Compreender os processos que se realizam na leitura é importante porque nós, educadores, poderemos intervir no momento adequado, criando atividades que ajudarão os estudantes a solucionar dificuldades apresentadas (CAFIERO, 2005). DECODIFICAÇÃO De acordo com Cafiero (2005), o momento inicial do processo de leitura é a decodificação, no qual a criança executará o reconhecimento de palavras 20/04/2022 21:42 Página 39 de 84 e o processamento sintático, ou seja, juntará letras para formar sílabas, sílabas para formar palavras, e palavras para formar frases. Na medida em que processa as informações, a criança as armazenará em sua memória, para que possa organizar as informações em unidades cada vez maiores. Imagem: Shutterstock.com PROCESSAMENTO SINTÁTICO A criança começa a construir a ideia da função da palavra. Como podemos notar, nesse processo de decodificação, além de se fomentar a memorização, outras operações mentais serão elencadas, como 20/04/2022 21:42 Página 40 de 84 a percepção e a síntese, por meio das quais a criança observará unidades menores da palavra (fonemas, sílabas) para unidades maiores (palavra, frase, texto). Além disso, ocorrerá a análise, pormeio da qual a criança fará a observação do todo para as partes. Diante desse processo, a criança rapidamente começará a organizar na memória, porém, sem controle consciente, as relações do código linguístico escrito. A criança organizará as palavras e as comporá em frases, seguindo as regras e os princípios que farão parte do conhecimento funcional da língua materna. Imagem: Shutterstock.com CONSTRUÇÃO DA COERÊNCIA 20/04/2022 21:42 Página 41 de 84 A coerência será o segundo passo para a compreensão e produção de sentido da leitura realizadas pela criança, a partir da organização e do funcionamento social dos textos. Conforme Cafiero (2005, p. 38), “nesse processo, o texto escrito é objeto que busca gerar uma resposta ou um efeito de sentido no leitor”. O texto apresenta organização linguística e da estrutura dos enunciados ou frases. O texto é parte de um funcionamento social, sendo processado por um leitor. Para que o leitor compreenda o texto, ele “realiza ações como percepção, memorização, análise, síntese, estabelecimento de relações, previsão, levantamento de hipóteses, associações, verificação de hipóteses, inferência, generalização e avaliação”. A compreensão do texto por parte do leitor implica, então, os dois aspectos que temos visto: Imagem: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 42 de 84 DECODIFICAÇÃO Ao reunir informações fonológicas, fonéticas, morfológicas, sintáticas. Imagem: Shutterstock.com CONSTRUÇÃO DA COERÊNCIA Ao integrar as informações da decodificação aos seus conhecimentos. CONHECIMENTO PRÉVIO E CONHECIMENTOS INTERPESSOAIS 20/04/2022 21:42 Página 43 de 84 Cafiero (2005, p. 38) ainda nos lembra que o leitor mobiliza diversos tipos de conhecimentos prévios, além de se valer de estratégias antes, durante e depois do processamento de informações. Imagem: Shutterstock.com Os conhecimentos são interpessoais, porque resultam das relações com o outro, do grupo social e da cultura em que a criança está inserida. Por exemplo, saber que o ônibus é um transporte coletivo, como essa dinâmica funciona, mesmo sem nunca ter usado o serviço, é um conhecimento construído nas relações socioculturais. Esses conhecimentos interpessoais surgem da identificação das questões que os estudantes querem investigar. Diante de um fato gerador, o educador orientará o processo de busca, a partir de estratégias voltadas para atividades em grupo e de aprendizagem cooperativa e colaborativa. 20/04/2022 21:42 Página 44 de 84 Foto: Shutterstock.com Esse ensino compreende lidar com a diversidade de gêneros usando estratégias específicas para a leitura que cada criança fará. Diante disso, será importante estabelecer quais as finalidades da leitura. Por isso, é importante orientar as crianças para que aprendam a fazer perguntas ao texto e possam ter os meios para encontrar e avaliar suas respostas. Na opinião de Delia Lerner (apud KAUFMAN; LERNER, 2015), isso é possível sempre que articulamos diferentes situações de leitura e escrita, desde que entendamos que a leitura, para as crianças em fase de alfabetização, envolverá uma prática educativa que se desenvolverá de duas maneiras: 20/04/2022 21:42 Página 45 de 84 Imagem: Shutterstock.com Pela leitura direta de textos imagéticos pelas crianças. Imagem: Shutterstock.com Pela leitura orientada do educador para ensiná-las a construir sentidos cada vez mais complexos. Do mesmo modo, escrever histórias implicará o relato oral dessas narrativas ao educador e a escrita convencional ou espontânea das próprias crianças. A estratégia de promover situações de reescrita de textos conhecidos favorecerá as crianças a se concentrarem em aplicar as características dos diversos gêneros em questão, características estas que foram inferidas e 20/04/2022 21:42 Página 46 de 84 descobertas por meio de inúmeras leituras do mesmo gênero em sala de aula (KAUFMAN; LERNER, 2015). PESQUISA E INVESTIGAÇÃO COMO PRINCÍPIO GERADOR DA FORMAÇÃO DO LEITOR Atividades que incitam a investigação podem promover exposições orais sobre as informações coletadas e argumentações para a criação de um roteiro de estudos. " EXEMPLO Exemplo de atividades: Investigar os animais ou as plantas que ocupam o jardim, a praça ou a horta da escola, do bairro ou da própria habitação da criança. Tais interações estimularão as crianças a escutar, observar e a comentar sobre a investigação. Essa prática significativa da oralidade na escola promoverá discussões intencionais para a construção da prática de linguagem comunicativa da criança. Para estimular a interação das crianças com a diversidade de gêneros textuais, a escola deve se converter em um ambiente letrado. Para tanto, os projetos significativos de aprendizagem devem contribuir para o contato 20/04/2022 21:42 Página 47 de 84 da criança com diferentes articulações de leitura e escrita, pois a leitura, tanto a guiada como a autônoma, promoverá aos estudantes a construção de sentidos linguísticos cada vez mais complexos. % RELEMBRANDO Alguns dos projetos significativos de aprendizagem, considerando o contexto do projeto enunciativo que exemplificamos no Módulo 1, são: A contação de histórias sobre os bichos ou plantas do jardim. Seguir o passo a passo das receitas (microrroteiros) dos chás feitos com as ervas da horta da escola ou da casa. Receber um convite escrito para a exposição das histórias em quadrinhos sobre os “habitantes do jardim da minha casa”. Assim, o ambiente escolar letrado contribuirá para que as crianças leiam uma diversidade de gêneros textuais autorais, oferecendo-lhes oportunidades de construir critérios de seleção, de enriquecimento de suas interpretações e de aprofundamento da construção de significados. Dessa maneira, as práticas de linguagem leitora serão efetivamente estimuladas. Nessa perspectiva, o espaço escolar possibilita a construção do conhecimento, pois envolve momentos de interação que objetivam garantir experiências significativas no cotidiano da criança. A criação de um ambiente escolar letrado e alfabetizador possibilita concretamente que a criança, durante a alfabetização, use a linguagem escrita antes mesmo de dominar as “primeiras letras”. De acordo com 20/04/2022 21:42 Página 48 de 84 Soares (2005, p. 53), uma das formas de organizar a sala de aula com base na escrita é trabalhando com práticas como: Imagem: Shutterstock.com Registro de rotinas. Imagem: Shutterstock.com Uso de etiquetas para organização do material. 20/04/2022 21:42 Página 49 de 84 Imagem: Shutterstock.com Emprego de quadros para controlar a frequência. Foto: Shutterstock.com Para Soares (2005, p. 53), a criação de um ambiente alfabetizador se justifica conceitualmente pela “constatação de que saber para que a escrita serve (suas funções de registro, de comunicação à distância, por exemplo) e saber como é usada em práticas sociais (organizar a sala de aula, fixar 20/04/2022 21:42 Página 50 de 84 regras de comportamento na escola, transmitir informações, divertir, convencer, por exemplo) auxiliariam a criança em sua alfabetização”. Esses saberes também auxiliariam dando significado e função à alfabetização, criando a necessidade da alfabetização; favorecendo a exploração, pela criança, do funcionamento da linguagem escrita (SOARES, 2005, p. 53). Assim, no ambiente letrado, por motivar vários tipos de conhecimentos, a criança adquirirá competências para mobilizar uma série de habilidades, atitudes e valores diversos que a tornarão capaz de executar diversas ações sobre o texto, para compreendê-lo durante o processo de leitura. AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DA LEITURA Chegamos ao processo de avaliação da aprendizagem leitora. Avaliar esse processo envolve por parte do educador a observação do todo e não somente de um produto final. Envolve registrar os avanços em fichas específicas, indicando as habilidades, as atitudes, os valores; comparar e utilizar os resultados da avaliação para preparar novas intervenções.20/04/2022 21:42 Página 51 de 84 Imagem: Shutterstock.com Acreditamos ser o papel dos educadores que se dispõem a ensinar a leitura: levar as crianças a se entenderem como atores sociais que agem sobre o texto escrito. Nesse sentido, a leitura será sempre resultante de uma complexa atividade, marcada não só por fatores ligados ao próprio sujeito interpretante e à situação na qual a interação comunicativa se processa. Defendemos que o papel da escola é de ser o ambiente letrado que não se omitirá, tampouco se negará ao seu papel de incentivar a leitura dos textos e a leitura de mundo. A escola é o ambiente onde as crianças se constituem como cidadãs em suas interações, pelo uso da linguagem. $ RESUMINDO 20/04/2022 21:42 Página 52 de 84 Aprendemos sobre a importância da formação de leitores. Vimos como esse processo é incentivado pelo estímulo da pesquisa e da investigação, levando a dois aspectos fundamentais para a alfabetização: a concepção cognitiva e a concepção social da leitura. A prática da linguagem oral promoverá discussões intencionais para a construção comunicativa da criança em processo de alfabetização, pois estimulará a interação das crianças com a diversidade de gêneros textuais. Para tanto, a escola deve se converter em um ambiente letrado. Será nesse ambiente que as pesquisas e as investigações proporcionarão aos estudantes a construção de sentidos linguísticos cada vez mais complexos. ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E FORMAÇÃO DE 20/04/2022 21:42 Página 53 de 84 AUTORES/LEITORES Assista ao vídeo abaixo com a professora Rita Spíndola, destacando leitura como atividade cognitivo-social, a decodificação e a construção da coerência no processo de leitura, a importância do conhecimento prévio e dos conhecimentos interpessoais, e o ambiente alfabetizador. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. ESTUDAMOS QUE A LEITURA ABRANGE A DIMENSÃO COGNITIVA, E APRENDEMOS QUE ELA IMPLICA DOIS ASPECTOS IMPORTANTES QUE FUNDAMENTAM A FORMAÇÃO DO LEITOR. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE APONTA ESSES DOIS ASPECTOS. 20/04/2022 21:42 Página 54 de 84 A) Decodificação e construção de coerência B) Alfabetização e letramento C) O texto e o contexto D) A compreensão e produção de sentido E) O discurso e o enunciado 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR. I - A ESCOLA DEVE SER UM AMBIENTE LETRADO PARA INCENTIVAR O CONTATO COM VÁRIOS TIPOS DE CONHECIMENTO E PRÁTICAS SOCIAIS DE ESCRITA E DE LEITURA. II - OS PROJETOS INVESTIGATIVOS DE APRENDIZAGEM EXCLUEM A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, POIS OUVIR NARRATIVAS COLOCA AS CRIANÇAS EM UMA POSTURA PASSIVA DE APRENDIZAGEM. III - É NO AMBIENTE LETRADO QUE A CRIANÇA ADQUIRE COMPETÊNCIAS PARA MOBILIZAR UMA SÉRIE DE HABILIDADES, ATITUDES E VALORES DIVERSOS. IV - A INTERAÇÃO COM O AMBIENTE LETRADO TORNA A CRIANÇA CAPAZ DE EXECUTAR DIVERSAS AÇÕES SOBRE O TEXTO, PARA COMPREENDÊ-LO DURANTE O PROCESSO DE LEITURA. 20/04/2022 21:42 Página 55 de 84 ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: A) I e II B) I e III C) I, III e IV D) II e III E) II, III e IV GABARITO 1. Estudamos que a leitura abrange a dimensão cognitiva, e aprendemos que ela implica dois aspectos importantes que fundamentam a formação do leitor. Assinale a alternativa que aponta esses dois aspectos. A alternativa "A " está correta. A dimensão cognitiva da leitura está apoiada em dois aspectos vivenciados pelas crianças em processo de alfabetização: a decodificação e a construção da coerência. Na decodificação, trabalha-se com a criança a partir de elementos linguísticos, como as informações fonológicas, fonéticas, morfológicas, sintáticas. Na construção da coerência, a atividade de leitura busca integrar os subsídios advindos da decodificação com o conhecimento prévio da criança. 2. Analise as afirmativas a seguir. I - A escola deve ser um ambiente letrado para incentivar o contato com vários tipos de conhecimento e práticas 20/04/2022 21:42 Página 56 de 84 sociais de escrita e de leitura. II - Os projetos investigativos de aprendizagem excluem a contação de histórias, pois ouvir narrativas coloca as crianças em uma postura passiva de aprendizagem. III - É no ambiente letrado que a criança adquire competências para mobilizar uma série de habilidades, atitudes e valores diversos. IV - A interação com o ambiente letrado torna a criança capaz de executar diversas ações sobre o texto, para compreendê-lo durante o processo de leitura. Está correto apenas o que se afirma em: A alternativa "C " está correta. A prática significativa da oralidade na escola deve promover discussões intencionais para a construção da prática de linguagem comunicativa da criança. Deve haver interação das crianças com diversos gêneros textuais, buscando o trabalho com a leitura a partir de um ambiente letrado. Assim, o desenvolvimento de projetos significativos de aprendizagem, como a contação de histórias, pode ser proveitoso na promoção do contato da criança com as diferentes práticas de leitura e escrita. MÓDULO 3 ! Identificar possibilidades de atividades linguísticas com uso de 20/04/2022 21:42 Página 57 de 84 recursos tecnológicos ASPECTOS LINGUÍSTICOS DO APRENDIZADO DA ESCRITA NA BNCC Aprenderemos neste módulo sobre o eixo da análise linguística, no tocante à pontuação e à ortografia. Para tanto, precisamos entender que: # [...] AS PRÁTICAS DE LINGUAGEM DA ANÁLISE LINGUÍSTICA/SEMIÓTICA COMPREENDEM OS PROCEDIMENTOS E ESTRATÉGIAS (META)COGNITIVAS DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO CONSCIENTE, DURANTE OS PROCESSOS DE LEITURA E 20/04/2022 21:42 Página 58 de 84 DE PRODUÇÃO DOS DIVERSOS TEXTOS E SUAS DIMENSÕES, RESPONSÁVEIS POR SEUS EFEITOS DE SENTIDO, SEJA NO QUE SE REFERE ÀS FORMAS DE COMPOSIÇÃO, DETERMINADAS PELA DIVERSIDADE DE GÊNEROS E PELA SITUAÇÃO DE PRODUÇÃO, SEJA NO QUE SE REFERE AOS ESTILOS ADOTADOS, COM FORTE IMPACTO NOS EFEITOS DE SENTIDO. (BRASIL, 2018, p. 80) (META)COGNITIVAS Conhecimento que um indivíduo tem acerca dos próprios processos cognitivos (mentais), sendo capaz de refletir ou entender sobre o estado da sua própria mente (pensamento, compreensão e aprendizado). Isso quer dizer que dominar o sistema de escrita do português do Brasil não é uma tarefa tão simples. A BNCC apresenta esse processo como a “construção de habilidades e capacidades de análise e de transcodificação linguística” (BRASIL, 2018), pois tratamos de uma 20/04/2022 21:42 Página 59 de 84 língua que apresenta variedades de fala regionais e sociais. Não lidamos com uma língua que apresenta fonemas neutralizados e desconectados de sua vida na língua falada local. De certa maneira, é o alfabeto que promove essa neutralização das variações na escrita. Por isso, alfabetizar está relacionado com o trabalho de apropriação pelo estudante da ortografia do português do Brasil escrito. É preciso compreender como esse longo processo de construção dos conhecimentos acerca do funcionamento fonológico da língua se dá no processo de aprendizagem do estudante (BRASIL, 2018). TRANSCODIFICAÇÃO LINGUÍSTICA A transcodificação linguística pode ser entendida, no contexto da BNCC, a partir da relação entre sons e letras, entre oralidade e escrita, estando relacionada com o modo pelo qual se dá o reconhecimento dos sons, a forma como se separam, juntam-se em novas palavras e como são registrados por meio da escrita. Ao focalizar a alfabetização a partir da transposição linguística, a BNCC tem sido criticada por autores que veem no documento um reducionismo da alfabetização a aspectos fonológicos apenas. Para isso, é preciso conhecer a forma como a escrita alfabética funciona na prática da leitura e da escrita. Isso implica perceber as relações bastante complexas estabelecidas entre os sons da fala (fonemas) e as letras da escrita (grafemas). Esse processo envolve a “consciência fonológica da linguagem: perceber seus sons, como se separam e se juntam em novas 20/04/2022 21:42 Página 60 de 84 palavras” (BRASIL, 2018, p. 90). Assim, conforme Oliveira (2005), os desviosortográficos que toda criança apresenta em suas escritas iniciais são sinais de que ela está construindo seu conhecimento sobre o que seja escrever e, ao fazer isso, a criança relaciona diretamente o que ela fala com o que escreve. Diante disso, podemos identificar que a língua falada está organizada em dois níveis: NÍVEL HETEROGÊNEO Corresponde à fala. NÍVEL RELATIVAMENTE HOMOGÊNEO Corresponde à língua como sistema ou estrutura. Foto: Shutterstock.com 20/04/2022 21:42 Página 61 de 84 É por meio dos sons que a criança se guia nas suas primeiras produções escritas. A fala é individual e heterogênea, a língua é coletiva e homogênea. Toda fala, ou ato de fala, é única; ela tem um começo e um fim. Mas, a língua que permite esses atos de fala é constante. No entanto, o português escrito padrão, como sistema alfabético de representação, liga-se aos sons da língua, dispensando as diferenças de fala que não implicam diferença de sentido. A criança, ao longo de seu processo de aprendizado da escrita, move-se de um sistema de representação calcado na fala para um sistema de representação calcado na língua (OLIVEIRA, 2005, p. 29). A natureza das hipóteses que a criança faz na construção de um sistema de escrita é a natureza das relações que se estabelecem entre os sons e os grafemas da escrita ortográfica. A vantagem de ter uma classificação dos problemas de escrita é exatamente a de poder separar esses problemas segundo a sua natureza. Feito isso, torna-se muito mais eficaz qualquer proposta de intervenção pedagógica. A escrita ortográfica incorpora outras nuanças que a criança deverá superar ao longo de seu processo de aprendizado, pois permitirá que a criança modifique suas ações à medida que incorpora novos objetos e situações (OLIVEIRA, 2005). RECURSOS TECNOLÓGICOS NO APRENDIZADO DA ORTOGRAFIA 20/04/2022 21:42 Página 62 de 84 E DA LEITURA Vamos, agora, tratar da utilização de softwares de edição de textos, de desenhos, imagens e áudios para produzir textos com o uso correto dos sinais de pontuação ou desenvolver a leitura a partir da pontuação do texto escrito. As mídias digitais podem estabelecer uma relação significativa de aprendizado da escrita ortográfica e da pontuação. A BNCC reconhece que a compreensão e o uso das tecnologias digitais podem contribuir para o processo de alfabetização e de letramento, desde que esse processo aconteça de “forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais” (BRASIL, 2018, p. 63). A BNCC menciona o trabalho com as ferramentas digitais para desenvolvimento das habilidades relacionadas com a escrita e a leitura, contribuindo para a produção de efeitos de sentidos ligados a elementos e recursos não só linguísticos, mas também semióticos (BRASIL, 2018, p. 71). Em nosso caso, podemos trabalhar com as estruturas silábicas da escrita ortográfica e as regras de pontuação estabelecidas como convenções da Língua Portuguesa do Brasil e que já são conhecidas pelas crianças, como: SEMIÓTICOS Recursos de linguagens diversas, como aquelas que utilizam desenhos, fotografias, ícones, pinturas, gráficos etc. 20/04/2022 21:42 Página 63 de 84 Imagem: Shutterstock.com O uso de letras maiúsculas e minúsculas. Imagem: Shutterstock.com A segmentação convencional de palavras. 20/04/2022 21:42 Página 64 de 84 Imagem: Shutterstock.com O uso de pontuações (ponto final, ponto de interrogação, ponto de exclamação, vírgula, ponto e vírgula, dois-pontos). Esse trabalho pode ser realizado não apenas com o uso do corretor ortográfico de um editor de texto em atividades nas quais as crianças digitam e corrigem palavras, frases e pequenos textos. É possível realizar um trabalho em textos do gênero história em quadrinhos (HQ), abordando as possíveis dificuldades de expressão oral dos sentidos trazidos por textos escritos nesse gênero, decorrentes da falta de sistematização dos conhecimentos prévios ou das especificidades do gênero a ser trabalhado. & DICA Para a produção desse trabalho, sugerimos a utilização de softwares de edição de texto e de áudio para a criação de textos escritos e orais. Para os textos escritos, a sugestão é usar um editor de texto como o Word, por ser versátil e popular. 20/04/2022 21:42 Página 65 de 84 Imagem: Shutterstock.com O editor de texto pode ser usado para: Melhorar a habilidade leitora e escritora. Aumentar a capacidade de repertório, fluência e precisão na leitura e escrita. Auxiliar na compreensão e realização de conexões com o objeto de ensino. Permitir a criação de uma história em quadrinhos. TRABALHANDO COM CRIAÇÃO DE HISTÓRIA EM QUADRINHOS 20/04/2022 21:42 Página 66 de 84 Nossa história em quadrinhos pode retomar o contexto da atividade escolar enunciativa que apresentamos no Módulo 1. Assim, proporíamos a criação de uma história em quadrinhos sobre os “habitantes do jardim da minha casa” (ou da minha escola). Para a melhor organização da execução da atividade, o educador poderá distribuir fichas com as devidas orientações e mediar as crianças na exploração prática desse recurso, estabelecendo um ambiente colaborativo. Imagem: Shutterstock.com Seguindo dessa maneira, o educador promoverá as reflexões sobre o processo de ortografização dos nomes (próprios) das personagens e dos nomes comuns, introduzindo a regra da utilização das letras maiúsculas e minúsculas. Posteriormente, introduzirá o conceito do gênero textual – história em quadrinhos – chamando a atenção para as características desse texto. Em 20/04/2022 21:42 Página 67 de 84 seguida, o professor estabelecerá o processo do ensino da pontuação, ampliando, assim, os mecanismos da alfabetização, mas, sobretudo, proporcionando uma aprendizagem prazerosa e significativa. ORTOGRAFIZAÇÃO Trata-se de um processo complementar, que busca a fixação das regras da língua escrita, principalmente do modo como os itens lexicais são expressos por meio das letras do alfabeto. Portanto, a ortografização representa a apropriação do nosso sistema ortográfico da Língua Portuguesa TRABALHANDO COM PODCAST Ainda na intencionalidade de produzir sentido na produção textual escrita e oral, sugerimos a utilização do recurso digital de gravação de áudio para produção de um podcast. O recurso que possibilita o podcast funciona como um gravador digital por meio do qual se pode gravar a fala. Posteriormente, após ouvir o que foi gravado, pode ser criado o podcast com a utilização do software livre e gratuito Audacity. Esse programa permite editar o áudio gravado e mixar vozes e músicas, além de ser interativo e bem intuitivo. O arquivo das produções dos estudantes poderá ser baixado no computador ou no aparelho de celular, facilitando a interatividade escolar e 20/04/2022 21:42 Página 68 de 84 familiar. Imagem: Shutterstock.com Esse trabalho educativo pode valorizar a criatividade, a oralidade, a escuta ativa e a percepção do ambiente, desenvolvendo habilidades cognitivas que contribuem para o processo de alfabetização da criança. Essa é uma forma de dar voz às crianças e permitir que elas sejam protagonistas em uma aprendizagem mais ativa e efetiva. 20/04/2022 21:42 Página 69 de 84 Foto: Shutterstock.com ! ATENÇÃO Lembre-se de que os aplicativos de gravação de voz dos celulares é um recurso bastante acessível e que pode facilitar esse tipo de atividade. Além de haver diferentes aplicativos e recursos que permitem a produção de um podcast, também há recursos que permitem o armazenamento e o compartilhamento dos arquivos gerados na gravação dos podcasts. A partir de Garofalo (2019), propomos a seguinte sequência didática para a criação do podcast: Escolher um tema para o podcast. Definir os alunos participantes do podcast. 20/04/2022 21:42 Página 70 de 84 Criar o roteiro para abordar o tema do podcast. Realizar um ensaio para a gravação. Realizar a gravação em um ambiente com pouco ruído. Editar o podcast. Publicar o podcast. Também é possíveldesenvolver a integração das atividades. Pode-se gravar um podcast que produza a narração da história em quadrinhos da outra atividade. Esse trabalho deve ser realizado promovendo a reflexão sobre os mecanismos da pontuação para a noção de sentido da leitura do texto escrito. Essas atividades, entre outras, podem contribuir para os alunos estabelecerem relação entre letras e sons, perceberem a ortografia das palavras e desenvolverem práticas de leitura e de escrita. Conforme nos lembra Soares (2003), as atividades promovem a entrada da criança no mundo da escrita e da leitura integrando: A aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização. O desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento. ! ATENÇÃO 20/04/2022 21:42 Página 71 de 84 As mídias digitais e suas tecnologias, de certa maneira, desenvolvem a autonomia nos estudantes; todavia, utilizar tais ferramentas e procedimentos digitais por si só não é garantia da aprendizagem. Considerando a natureza e a utilização das tecnologias digitais no contexto da alfabetização, desde uma perspectiva histórica do processo de aprendizagem da escrita e da leitura, Teberosky afirma que podemos chegar a duas conclusões. A primeira conclusão é de que a escrita é uma tecnologia que se manifesta através de diferentes instrumentos técnicos. A segunda conclusão é de que a tecnologia eletrônica requer capacidades cada vez maiores de leitura e escrita (TEBEROSKY, 2004, p. 154). Diante disso, as metodologias de alfabetização e letramento devem promover a inserção da criança em um processo de aprendizagem que dê conta das diferentes manifestações da linguagem em uma sociedade tecnológica. ALFABETIZAÇÃO, LETRAMENTO E RECURSOS TECNOLÓGICOS Já temos visto que a entrada da criança no mundo da escrita ocorre simultaneamente pelos processos de alfabetização e de letramento. Não são processos independentes, mas interdependentes, e indissociáveis: a alfabetização é desenvolvida no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita. Essas práticas sociais de leitura e de escrita 20/04/2022 21:42 Página 72 de 84 correspondem ao letramento que, por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (SOARES, 2005, p.14). Trabalhar com os meios tecnológicos na educação parece-nos atraente, porém, além de educadores e estudantes aprenderem a utilizar os meios tecnológicos na educação, é necessário pensar essa tecnologia para a busca reflexiva do sistema da leitura e escrita. Precisamos refletir sobre utilização na mediação tecnológica no ensino e em como o estudante é desafiado nas atividades propostas. Isso significa não transitar somente pelo entretenimento proporcionado por alguns recursos e pelo contexto tecnológico, mas traçar um planejamento com intencionalidade, agregado ao projeto político pedagógico da escola. As práticas da análise da linguagem devem promover reflexões que permitam aos estudantes ampliarem suas capacidades de uso da língua e de outras linguagens (em leitura e em produção textual), em práticas situadas de linguagem. 20/04/2022 21:42 Página 73 de 84 Foto: Shutterstock.com Para tanto, é necessário contemplar o trabalho com textos e produções multissemióticas nos diferentes campos de atuação considerados. Devemos explorar as diferentes linguagens e trabalhar com diversos recursos digitais, sobretudo editores de textos, de áudios, de vídeos e de fotos. Precisamos levar em conta as práticas colaborativas, de curadoria de conteúdo, de integração de linguagens diferentes. Ainda devemos garantir que a dimensão ética, estética e política perpasse os processos de produção. Além disso, é fundamental considerar tanto os processos de compreensão e análise desses textos multissemióticos quanto de produção, de maneira a assegurar que as crianças tenham voz e interação significativas. No processo de alfabetização e letramento, as crianças devem ter a oportunidade de experimentar por meio da linguagem diversos papéis 20/04/2022 21:42 Página 74 de 84 sociais. Devem ser introduzidas em processos educativos que permitam “mobilizar práticas da cultura digital, diferentes linguagens, mídias e ferramentas digitais para expandir as formas de produzir sentidos (nos processos de compreensão e produção), aprender e refletir sobre o mundo e realizar diferentes projetos autorais” (BRASIL, 2017, p. 85). $ RESUMINDO Alfabetizar é trabalhar com a apropriação pela criança da ortografia da Língua Portuguesa, compreendendo como ocorre esse longo processo de construção de um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento fonológico da língua pela criança. A apropriação das linguagens multissemióticas aliadas às ferramentas digitais proporcionará maior significado no ensino da pontuação e da ortografia às crianças em fase de alfabetização. 20/04/2022 21:42 Página 75 de 84 RECURSOS TECNOLÓGICOS EM ATIVIDADES DE LEITURA E DE ESCRITA Assista ao vídeo abaixo com a professora Rita Spíndola destacando algumas possibilidades de atividades, inclusive com o uso de recursos tecnológicos. 20/04/2022 21:42 Página 76 de 84 VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONFORME APRESENTADO NO TEXTO DA BNCC, ASSINALE A ALTERNATIVA QUE MELHOR COMPLETA A FRASE: APROPRIAR-SE DO SISTEMA DE ESCRITA DO PORTUGUÊS DO BRASIL É ________________. A) uma tarefa simples que deve ser desenvolvida exclusivamente a partir da língua culta. B) tratar de um processo de construção de habilidades e capacidades de análise e de transcodificação linguística. C) desenvolver métodos que tratem de uma língua sem variedades de fala regionais e sociais. 20/04/2022 21:42 Página 77 de 84 D) abordar a estrutura da língua e tratar os seus fonemas como neutralizados. E) despir-se da língua falada local porque essa língua impede a alfabetização e o letramento. 2. ANALISE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR. I - A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES DE EDIÇÃO DE TEXTO E DE ÁUDIO PARA A CRIAÇÃO DE TEXTOS ORAIS E ESCRITOS PODE DESENVOLVER HABILIDADES LEITORAS E ESCRITORAS. II – PRÁTICAS COLABORATIVAS DE APRENDIZAGEM PODEM SER DESENVOLVIDAS EM ATIVIDADES DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS REALIZADAS EM GRUPOS E A PARTIR DE RECURSOS TECNOLÓGICOS. III – OS RISCOS DA TECNOLOGIA E AS CARACTERÍSTICAS DO TEXTO DIGITAL IMPEDEM OU IMPOSSIBILITAM A REALIZAM DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS QUE ENVOLVAM O APRENDIZADO DA LEITURA E DA ESCRITA. ESTÁ CORRETO APENAS O QUE SE AFIRMA EM: A) I B) II 20/04/2022 21:42 Página 78 de 84 C) III D) I e II E) II e III GABARITO 1. Conforme apresentado no texto da BNCC, assinale a alternativa que melhor completa a frase: Apropriar-se do sistema de escrita do português do Brasil é ________________. A alternativa "B " está correta. A escrita do português do Brasil não é dominada pela criança de uma forma tão simples, pois implica um processo no qual é preciso realizar a análise linguística e lidar com a decodificação, a partir de um contexto de variedades no uso da língua falada. A ortografia é que vai estabelecer a regularidade ou o padrão dessa codificação, definindo a escrita considerada “correta”. 2. Analise as afirmativas a seguir. I - A utilização de softwares de edição de texto e de áudio para a criação de textos orais e escritos pode desenvolver habilidades leitoras e escritoras. II – Práticas colaborativas de aprendizagem podem ser desenvolvidas em atividades de leitura e produção de textos realizadas em grupos e a partir de recursos 20/04/2022 21:42 Página 79 de 84 tecnológicos. III – Os riscos da tecnologia e as características do texto digital impedem ou impossibilitam a realizam de atividades pedagógicas que envolvam o aprendizado da leitura e da escrita. Está correto apenas o que se afirma em: A alternativa "D " está correta. A utilização de softwares de edição de texto e de áudio para a criação de textosescritos e orais pode desenvolver a habilidade leitora e escritora das crianças em processo de alfabetização e de letramento, pois aproxima a atividade de leitura e escrita das situações reais de comunicação e interação em um mundo interconectado digitalmente. Além disso, esse tipo de atividade pode contribuir para a fluência digital aliada ao aprendizado da escrita e da leitura. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo, refletimos sobre as práticas de linguagem (oral, escrita, leitura e análise linguística e semiótica) estabelecidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 20/04/2022 21:42 Página 80 de 84 Estudamos os conceitos de alfabetização e letramentos, acompanhamos a importância dos projetos enunciativos como veículos para o ensino de diferentes gêneros textuais implicados nas produções de textos que darão significados ao processo de alfabetização das crianças. Também aprendemos que a prática da linguagem oral promoverá discussões intencionais para a construção comunicativa da criança em processo de alfabetização, pois estimulará a interação das crianças com a diversidade de gêneros textuais. Para isso, a construção de um ambiente letrado pode ajudar os estudantes na produção de sentidos linguísticos cada vez mais complexos. Finalmente, refletimos sobre ortografização e o quanto esse processo está imbricado com as ideias de alfabetização, apresentando também algumas possibilidades de se trabalhar com a leitura, a escrita e a produção oral por meio de recursos das novas tecnologias. AVALIAÇÃO DO TEMA: 20/04/2022 21:42 Página 81 de 84 REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra; notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. CAFIERO, D. Leitura como processo: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/FaE/UFMG, 2005. (Coleção Alfabetização e Letramento). GAROFALO, D. Chegou a hora de inserir o podcast na sua aula. Revista Nova Escola, 2019. GERALDI, J. W. Portos de Passagem. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995. KAUFMAN, A.; LERNER, D. Documento transversal 1: la alfabetización inicial. 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EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo: Leia: Os textos da Coleção Alfabetização e letramento, desenvolvida pelos pesquisadores do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da Faculdade de Educação da UFMG. Os volumes da coleção são disponibilizados no site do Ceale. O artigo As práticas de linguagem contemporâneas e a BNCC, de Jacqueline Barbosa, publicado no site Escrevendo o Futuro. Assista aos seguintes vídeos disponíveis no YouTube: Alfabetização e letramento, com Magda Soares, produzido e disponibilizado pela Alfaletrar Cenpec. A escola e as práticas de linguagem contemporânea, com Jacqueline Barbosa, disponibilizado pela OlimpíadaLP Centec. 20/04/2022 21:42 Página 83 de 84 CONTEUDISTA Rita de Cássia Souza Spíndola ' CURRÍCULO LATTES 20/04/2022 21:42 Página 84 de 84
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