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Apostila_Direito_Constitucional_Internacional

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DIREITO PÚBLICO: CONSTITUCIONAL, 
ADMINISTRATIVO E TRIBUTÁRIO
 
 2 
APRESENTAÇÃO 5 
AULA 1: NOÇÕES PRELIMINARES DO DIREITO CONSTITUCIONAL 
INTERNACIONAL E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS REGEDORES DAS 
RELAÇÕES INTERNACIONAIS 6 
INTRODUÇÃO 6 
CONTEÚDO 7 
COMO SE DEFINE O DIREITO CONSTITUCIONAL INTERNACIONAL? 7 
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS REGEDORES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 9 
ATIVIDADE PROPOSTA 15 
REFERÊNCIAS 15 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 17 
AULA 2: RELAÇÃO ENTRE O DIREITO INTERNACIONAL E O DIREITO 
INTERNO 26 
INTRODUÇÃO 26 
CONTEÚDO 28 
ASPECTOS GERAIS SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS QUANTO AO CONTEÚDO E À 
MATÉRIA 28 
CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS QUANTO À NATUREZA 29 
CLASSIFICAÇÃO DOS TRATADOS EM RAZÃO DA MATÉRIA 31 
ITER PROCEDIMENTAL PARA INCORPORAÇÃO DO TRATADO NO ORDENAMENTO JURÍDICO 
BRASILEIRO 32 
FASES INTERNACIONAIS PARA A CONCLUSÃO DO TRATADO 33 
AS DUAS FASES INTERNAS EXISTENTES NO DIREITO BRASILEIRO PARA A FORMAÇÃO DO 
TRATADO 37 
A DICOTOMIA ENTRE O MONISMO E O DUALISMO 42 
ATIVIDADE PROPOSTA 45 
REFERÊNCIAS 45 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 47 
 
 3 
AULA 3: NACIONALIDADE SOB A PERSPECTIVA DO DIREITO 
CONSTITUCIONAL BRASILEIRO 52 
INTRODUÇÃO 52 
CONTEÚDO 54 
CONCEITO DE NACIONALIDADE 54 
NACIONALIDADE E SUA RELAÇÃO COM OUTROS RAMOS DO DIREITO 55 
NACIONALIDADE E CIDADANIA NO DIREITO BRASILEIRO 56 
DIMENSÕES DA NACIONALIDADE 56 
A QUEM COMPETE DEFINIR OS CRITÉRIOS ATRIBUTIVOS DA NACIONALIDADE? 57 
ESPÉCIES DE NACIONALIDADE 58 
DISTINÇÕES ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS 65 
AS HIPÓTESES DE PERDA DA NACIONALIDADE BRASILEIRA 69 
REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE ORIGINÁRIA NO DIREITO INFRACONSTITUCIONAL 
BRASILEIRO 71 
REFERÊNCIAS 73 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 74 
AULA 4: SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 77 
INTRODUÇÃO 77 
CONTEÚDO 78 
DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS 78 
SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 81 
SISTEMA UNIVERSAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 83 
SISTEMA REGIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS 86 
O BRASIL E A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 91 
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL 93 
ATIVIDADE PROPOSTA 95 
REFERÊNCIAS 96 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 97 
CHAVES DE RESPOSTA 100 
AULA 1 100 
ATIVIDADE PROPOSTA 100 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 100 
AULA 2 102 
 
 4 
ATIVIDADE PROPOSTA 102 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 102 
AULA 3 104 
ATIVIDADE PROPOSTA 104 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO: 105 
AULA 4 107 
ATIVIDADE PROPOSTA 107 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 107 
CONTEUDISTA 109 
 
 
 
 
 5 
Esta disciplina insere-se no conjunto do Módulo de Direito Constitucional e 
dedica-se ao estudo da evolução do Direito Constitucional Internacional. Para 
tanto, contempla as noções preliminares do Direito Internacional e os 
princípios que regem a República Federativa do Brasil em suas relações 
exteriores. 
 
Nesse sentido, a disciplina abarca também temas que envolvem as relações 
entre o Direito Interno e o Direito Internacional, sobretudo no que tange à 
incorporação dos tratados sobre Direitos Humanos e sua ocupação na escala 
hierárquica normativa. 
 
Em consequência da importância dos direitos humanos faz-se imperioso o 
estudo da nacionalidade e dos sistemas jurídicos regionais e universal de 
proteção dos Direitos Humanos já que o constitucionalismo atual caracteriza-
se pela fixação de marcos normativos regedores da política externa estatal 
como estabelecimento de seus limites de atuação. 
 
 
Sendo assim, esta disciplina tem como objetivos: 
 
1. Identificar os princípios regedores das relações internacionais que 
orientam o Estado brasileiro em suas tratativas e traçar as relações 
entre o Direito Interno e Direito Internacional. 
2. Compreender os sistemas regional e universal de proteção dos Direitos 
Humanos, bem como o instituto da nacionalidade. 
 
 
 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Introdução 
Sendo o Direito Constitucional o principal ramo do Direito, dele emergem 
vários temas interligados a outros ramos do Direito. A presente aula tem 
como propósito estabelecer o conceito de Direito Constitucional Internacional 
e sua evolução histórica. Por não existir um objeto próprio, alguns 
doutrinadores não reconhecem a existência de um “Direito Constitucional 
Internacional” autônomo. 
 
 
 7 
Desse modo, existem normas constitucionais de alcance internacional que 
procuram compatibilizar-se com o Direito Internacional. Exemplos dessas 
regras encontram-se nos princípios que regem a República Federativa no 
Brasil nas suas relações exteriores. 
 
Sendo assim, esta aula tem como objetivos: 
1. Identificar o conceito e a evolução histórica do Direito Constitucional 
Internacional; 
2. Conhecer os princípios constitucionais que regem o Estado nas 
relações internacionais, abordando-se a sua especial relevância como 
preceitos normativos balizadores da ação do Estado. 
 
 
Conteúdo 
Como se Define o Direito Constitucional Internacional? 
Há certo consenso doutrinário de que a expressão Direito Constitucional 
Internacional foi utilizada pela primeira vez por Mégalos Caloyanni que, ao 
estudar a Corte Permanente de Justiça Internacional e o Pacto de Paris, de 
1928, equivocadamente, afirmou que a proibição à guerra está registrada em 
diversas Constituições. Sob essa perspectiva, o Direito Constitucional 
Internacional era definido como um conjunto de normas de ordem pública 
inserido no ambiente do Direito Internacional Público, que se imporiam às 
normas constitucionais do Estado. Assim, o autor equivoca-se, pois em 
verdade o que ele pretendia se referir era ao Direito Internacional 
Constitucional. 
 
Em 1933, a partir da publicação da obra de autoria de Mirkine-Guetzévich, 
intitulada de Droit Constitutionnel International, a expressão passou a 
significar o conjunto de regras constitucionais de alcance internacional. 
Posteriormente, o mesmo autor a denomina como um conjunto de normas 
que possuem eficácia internacional. Entretanto, essa proposta mereceu 
 
 8 
críticas, tendo em vista que no âmbito internacional, o Direito Interno não 
tem significação. Neste sentido, a jurisprudência internacional considera o 
direito interno como despido de valor normativo no plano exterior. 
 
Atualmente, à medida que o Direito Constitucional se torna limitado e 
interpretado pelo Direito Internacional, procura-se elaborar uma construção 
conceitual do Direito Constitucional Internacional, pautada no fato deste 
constituir ramo do direito interno, voltado às relações exteriores. É importante 
ressaltar também que em face do processo de globalização, é inegável a 
existência da internacionalização das relações jurídicas, o que influencia 
inexoravelmente no Direito Constitucional de cada Estado. Desta forma, a 
partir da internacionalização das relações jurídicas, amplia-se a dimensão do 
tratamento constitucional das relações externas de um Estado. 
 
Assim, pode-se definir o Direito Constitucional Internacional como o conjunto 
de normas constitucionais que limita e regula as atividades externas do 
Estado. Portanto, é norma de direito interno, inserida na Constituição do 
Estado, que repercutirá na ordem jurídica internacional, uma vez que esse 
mesmo Estado se pautará pela observância do Direito Constitucional em suas 
relações exteriores. Esse conjunto de normas poderá variar de Estado para 
Estado, ou seja, de constituição para constituição. Verifica-se que ainda não é 
considerado ramo autônomo do Direito, mas uma divisão do Direito 
Constitucional, e por variar de constituição para constituição, podemos 
afirmar que existe um Direito Constitucional Internacional brasileiro, alemão, 
argentino etc. Além disso, tais normas de direito interno têm um núcleo 
mínimo que deriva do Direito Internacional Público, ou seja, que dá suporte 
jurídico aos institutos como a celebração dos tratados, resposta armada à 
agressão estrangeira, declaração de paz, concessão de asilo políticoetc. 
 
O Constitucionalismo Clássico e o enfoque das relações exteriores limitaram-
se à organização da gestão política externa a partir da delimitação de 
competências entre os diversos órgãos estatais. 
 
 9 
 
O Constitucionalismo atual caracteriza-se pela fixação de marcos normativos 
regedores da política externa estatal, quais sejam: o estabelecimento de seus 
limites de atuação e a formulação de estímulos voltados ao seu 
direcionamento em razão de certos objetivos. 
 
Princípios Constitucionais Regedores das Relações 
Internacionais 
Após identificarmos o conceito e a evolução histórica do Direito Constitucional 
Internacional, é preciso conhecer os princípios constitucionais que regem o 
Estado nas relações internacionais, abordando-se a sua especial relevância 
como preceitos normativos balizadores da ação do Estado. 
 
O artigo 4º da Constituição da República relaciona os princípios que balizam 
as relações exteriores do Brasil, o que constitui uma inovação no 
constitucionalismo pátrio. Sob a ótica da hermenêutica hodierna, cabe 
ressaltar que os princípios adquirem especial color, sendo considerados 
normas jurídicas, distintamente da concepção positivista de outrora, que os 
considerava meros vetores de aplicação das normas jurídicas. 
 
No que concerne aos princípios constitucionais que regem as relações 
exteriores, Canotilho denomina-os de “princípios políticos constitucionalmente 
conformadores”, pois explicitam as valorações políticas fundamentais do 
legislador constituinte na formulação da política externa brasileira. 
 
A despeito de tal construção normativa constitucional, parte da doutrina 
entende que a referida principiologia constitucional teria natureza 
programática, o que não contribuiria de forma a tornar preciso o 
posicionamento hierárquico das normas de direito internacional no 
ordenamento jurídico interno. 
 
 
 10 
De toda sorte, face ao caráter normativo que a atual hermenêutica atribui aos 
princípios, não se pode conceber o fato de terem mera função retórica, tendo 
em vista a sua importante função de localizar o Brasil nas relações 
internacionais. 
 
Estabelecidas tais considerações, passaremos ao estudo dos princípios 
explicitados no art. 4º da Constituição da República: 
 
1. Princípio da independência nacional 
Preliminarmente, deve-se registrar que a independência associa-se à 
soberania, a qual constitui fundamento da República, conforme previsto no 
art. 1º da Constituição. 
O vocábulo “independência” pode ser compreendido como o direito de o 
Estado estar livre de qualquer influência, seja de ordem econômica, política e 
cultural. Como corolário deste princípio, destaca-se o artigo: 171 da 
Constituição, o qual assegura tratamento diferenciado às empresas nacionais; 
o art. 176, que restringe a exploração dos recursos nacionais pelo capital 
estrangeiro; o art. 178 e o art. 219 do texto magno. Podem-se destacar 
também os artigos 215, 221 e 222 que visam à preservação de valores 
culturais nacionais, como forma de manutenção da independência estatal. 
 
2. Prevalência dos direitos humanos 
Sem precedentes nas Constituições anteriores, a inserção deste princípio no 
texto constitucional é voltada à questão da efetividade do sistema 
internacional de proteção dos direitos humanos na ordem jurídica interna. A 
prevalência dos direitos humanos como paradigma de atuação do Estado 
brasileiro apresenta dupla finalidade: inserir o Brasil nos sistemas jurídicos 
internacionais e regionais de proteção dos direitos humanos, e garantir a 
incorporação destas normas em âmbito interno. 
 
A fim de garantir a eficácia do citado princípio, ressalte-se a importância do 
art. 5º, parágrafo 2º, e após o advento da Emenda Constitucional 45/04, o 
 
 11 
parágrafo 3º que atribuiu aos tratados internacionais de direitos humanos o 
status de norma constitucional, respeitados os requisitos estabelecidos no 
referido dispositivo, que terá o condão de conferir materialidade e coerência 
ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos, que 
constituiu o grande fulcro temático da atualidade. 
 
3. Autodeterminação dos povos 
A autodeterminação é um princípio em constante evolução no plano 
internacional e se encontra solidamente respaldada na normatização do DIP, 
a exemplo da Declaração de princípios de 1970, na Ata de Helsinque de 1975 
e na Carta Africana de 1981. Considerada norma cogente internacional, a 
autodeterminação constitui um dos atributos da soberania estatal, ao lado da 
independência. Pode ser compreendida como o direito de o Estado não se 
submeter à dominação estrangeira, tendo sido o fundamento jurídico do 
processo de descolonização dos territórios subjugados pelos Estados 
europeus até a metade do século XX na África e na Ásia. 
 
Sem embargo, a conjugação da doutrina internacional e da jurisprudência de 
tribunais internacionais denota duas dimensões, como sustenta Antônio 
Augusto Cançado Trindade1. A primeira, interna, está relacionada ao direito 
de todo o povo estar livre de qualquer forma de dominação. No que concerne 
à dimensão externa, esta se referiria ao direito de todo o povo escolher seu 
destino e afirmar a própria vontade, o que significa que governos devem a 
sua existência e seus poderes ao consentimento de seu povo, devendo ser a 
vontade deste, a base da autoridade do governo. Tal é a mais moderna 
concepção. 
 
Cabe destacar o fato de que não se fazia menção, nas Constituições 
anteriores, ao compromisso do Brasil com o princípio à autodeterminação dos 
 
1TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O Direito Internacional num mundo em transformação, p.788. 
 
 12 
povos, conquanto este tenha sido mencionado sempre entre os paradigmas 
tradicionais da política externa brasileira. 
 
4. Não intervenção 
Trata-se de princípio que também é considerado norma cogente 
internacional, constituindo reforço do princípio da soberania. Seu conteúdo diz 
respeito à obrigação de abstenção de interferência nos assuntos internos dos 
Estados. Embora o princípio da não intervenção nunca tenha sido objeto das 
Constituições anteriores, como o princípio da autodeterminação, sempre foi 
utilizado na arquitetura da política externa brasileira. 
 
O princípio em apreço foi consagrado em importantes instrumentos jurídicos 
internacionais, tais como a Carta da ONU, da OEA e da OUA, além de estar 
previsto na Convenção sobre Direitos e Deveres dos Estados de Montevidéu. 
Em 1970, foi incorporado pela Declaração de Princípios que regem as relações 
internacionais, que dispôs acerca da obrigação de não intervenção nos 
assuntos externos e internos dos Estados, seja qual for o motivo, através de 
qualquer forma de ingerência. Se bem que a noção de domínio reservado dos 
Estados encontre-se num processo contínuo de redução nos órgãos políticos 
das Nações Unidas na prática das organizações internacionais, tendo em vista 
que a tendência da Assembleia Geral é não mais aceitar a alegação de 
domínio reservado, por se tratar de interesse internacional. Nesse sentido, há 
uma releitura da clássica noção de soberania absoluta, que passa a sofrer 
uma relativização, vez que atualmente existem mecanismos internacionais de 
aferição da responsabilidade internacional dos Estados por violação dos 
direitos humanos. 
 
Vale ressaltar que o dever de não intervenção comporta exceções, quais 
sejam: intervenção para a proteção de nacionais no exterior; intervenção em 
nome da defesa, e intervenção para proteção dos direitos humanos, levando-
se em consideração para efeito desta última modalidade, o respeito ao 
chamado domínio reservado dos Estados, que, conforme esclarecido 
 
 13 
anteriormente, tende a sofrer minimização no tocante aos direitos humanos, 
por ser considerado atualmente, tema de importância universal. 
 
5. Princípio da igualdade 
Contemplada na Cartadas Nações Unidas de 1945, a igualdade entre os 
Estados trata-se de referencial no sistema internacional. Porém, cumpre 
destacar que a ideia de igualdade no plano internacional associa-se à 
igualdade formal, não substancial, tal como o princípio da isonomia previsto 
no art. 5º da Constituição da República. 
 
Ao caracterizar-se a sociedade internacional como paritária, almeja-se conferir 
maior segurança e estabilidade à organização jurídica internacional, 
conquanto as grandes potências acabem por exercer enorme influência na 
vida internacional, por desfrutarem de poderio econômico e político, o que 
revela uma grande desigualdade a permear o sistema de Estados. 
 
6. Defesa da paz e solução pacífica dos litígios 
A obrigatoriedade de solução pacífica dos litígios apresenta-se no sistema 
internacional como norma jurídica sobre a qual não recai qualquer 
discordância acerca de seu caráter cogente, continuando a vigorar na agenda 
internacional como fator de preservação da paz mundial, tema de grande 
preocupação na época atual. 
 
No Brasil, merece destaque o artigo 21, inc. XXIII Da Constituição, o qual 
prevê a utilização de energia nuclear somente para fins pacíficos, o que se 
encontra em sincronia com o referido princípio previsto no Artigo 4º da Carta 
Magna. 
 
7. Repúdio ao terrorismo e ao racismo 
Ao erigir o terrorismo e o racismo como princípio constitucional regedor das 
relações exteriores brasileiras, o constituinte procurou reforçar o compromisso 
 
 14 
do Estado com a proteção da pessoa humana, que constitui um referencial 
ético no plano internacional. 
 
O terrorismo tem sido uma preocupação constante da sociedade 
internacional. Redes terroristas criadas nos anos 80, a exemplo da rede Al-
Qaeda, expandiram-se rapidamente e, praticando atos de violência extrema, 
agruparam-se em movimentos radicais em diversas regiões asiáticas e em 
vários Estados africanos, além de manterem células ativas no continente 
europeu. 
 
Por revestir-se de formas diversas, há inúmeras definições elaboradas por 
doutrinadores, considerando os objetivos perseguidos, os métodos 
empregados e os efeitos que são procurados, que, de toda sorte, convergem 
para um ponto em comum, qual seja, a ameaça ou uso da violência extrema 
e da força, através do emprego do medo, da coerção e da intimidação, para 
provocar o terror, com vistas ao alcance de determinados fins, geralmente 
políticos. Há que se evidenciar que os fins utilizados pelo terrorista não 
justificam os meios, o que revela uma barbárie e uma antítese com relação à 
dignidade da pessoa humana, que se torna simplesmente descartável frente 
aos objetivos perseguidos pelos terroristas. 
 
Em consonância com o Artigo 4º, inciso VIII, observam-se os incisos XLII e 
XLIII, do artigo 5º, que traduzem a correspondência efetiva entre o princípio 
geral arrolado no artigo 4º e as normas constitucionais específicas referentes 
aos direitos e garantias fundamentais. 
 
8. Cooperação entre os povos 
Sem precedentes nas Cartas anteriores, esse princípio constitui reivindicação 
dos países em desenvolvimento, frente à ausência de solidariedade dos 
Estados ricos, que impera nas relações internacionais. No plano internacional, 
o princípio encontra-se colacionado na Carta da ONU e na Declaração de 
 
 15 
Princípios de 1970, objetivando-se combater o subdesenvolvimento através 
de ações dos Estados. 
 
9. Concessão de asilo político 
Compreende-se por asilo político a proteção assegurada pelo Estado a 
pessoas de nacionalidade diversa do Estado concedente, que têm a sua vida 
ou liberdade ameaçadas por outro Estado, em virtude do cometimento de 
delitos políticos. Tal instituto é peculiar da América latina, em razão da 
instabilidade política da região. 
 
Infere-se que o propósito do constituinte, ao ter inserido este dispositivo no 
rol dos princípios constitucionais das relações exteriores, foi ressaltar o dever 
de solidariedade internacional imposto aos Estados, através do mecanismo do 
asilo político. 
Atividade Proposta 
Em maio de 2012, o Senador boliviano Roger Molina, por força de sua 
ideologia política, entrou na embaixada brasileira, situada em La Paz, em 
virtude de perseguição realizada pela Bolívia. Posteriormente, o parlamentar 
fugiu para o Brasil contando com a ajuda da embaixada brasileira em La Paz, 
fato que gerou um incidente diplomático entre os dois Estados. A partir desse 
fato, você vislumbraria algum princípio constitucional presente no caso? 
 
Referências 
GUERRA, Sidney; SILVA, Roberto Luiz. Soberania: antigos e novos 
paradigmas. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004. 
 
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público. Rio de 
Janeiro: renovas, 2005, v.1 e 2. 
 
________________. Direit o Constitucional Internacional. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2005. 
 
 16 
 
________________. Direitos humanos e conflitos armados. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2000. 
 
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 
São Paulo: Max Limonad, 1996. 
 
________________. Direitos humanos. V.1. Curitiba: Juruá, 2006 
RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na 
ordem internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
 
________________. Processo internacional dos direitos humanos. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2007. 
 
TAVARES, André Ramos. A reforma do Judiciário no Brasil pós-88. São 
Paulo: Saraiva, 2005 
 
TORRES, Ricardo Lobo (org). Teoria dos direitos fundamentais. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. 
 
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O Direito internacional num 
mundo em transformação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
 
 
 17 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de Fixação 
Questão 1 
Hodiernamente, procura-se elaborar uma construção conceitual do Direito 
Constitucional Internacional, pautada no fato deste constituir ramo do Direito 
interno, voltado às relações exteriores. No tocante à definição e objeto do 
Direito Constitucional Internacional, assinale a afirmativa correta: 
 
a) O conteúdo de suas normas independe do grau de internacionalização 
de cada sociedade estatal, por conseguinte, prescinde de experiências 
 
 18 
históricas, sociais, econômicas e culturais vivenciadas em cada Estado, 
determinantes na localização do Estado na sociedade internacional. 
b) Inspira-se no constitucionalismo clássico, no qual o enfoque das 
relações exteriores limitou-se à organização da gestão da política 
externa, a partir da delimitação de competências entre os diversos 
órgãos estatais. 
c) Seu conteúdo restringe-se a normas principiológicas que constituem 
paradigmas de atuação estatal no plano internacional, que 
estabelecem valores que devem permear a materialização dos atos do 
Poder Executivo, em sua competência de conduzir a política externa 
nacional. 
d) A perspectiva de internacionalização atual possibilita a ampliação do 
tratamento constitucional das relações exteriores de um Estado, 
causando impactos na elaboração das Constituições modernas, que 
passam a se adequar à nova realidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 2 
A ideia de se estabelecerem normas internas voltadas ao desempenho das 
relações exteriores não é recente e remonta à antiguidade. Tal se deve ao 
fato de que os Estados relacionam-se externamente e, por conseguinte, 
necessitam de uma estrutura jurídica que regulamente e limite suas 
atividades externas. Esta é a razão pela qual se encontram em sistemas 
jurídicos das civilizações antigas, antecedentes do Direito Constitucional 
Internacional. Nesse contexto, assinale a alternativa INCORRETA: 
 
 
 19 
a) Na civilização grega, a estrutura política da pólis possibilitou a 
existência de um constitucionalismo, uma vez que a autonomia das 
cidades-Estado visa regulamentar assuntos internos e que, em matéria 
de política externa, constituiu fatores a cooperar com odesenvolvimento de uma intensa vida internacional da civilização 
grega. 
b) Com relação às normas de aspecto internacional, os romanos criaram o 
denominado jusgentium formado pelas normas de direito romano 
destinadas aos estrangeiros; o jus civilisquiritum, exclusivamente 
destinado aos cidadãos romanos; e o jus fetiali caracterizado como um 
conjunto de normas internas destinadas a reger as relações entre o 
Império Romano e as nações estrangeiras, podendo ser associado ao 
conceito de Direito Internacional Público, mas direito interno voltado às 
relações externas de Roma. 
c) No período medieval, ocorreu um retrocesso com relação ao 
desenvolvimento das relações internacionais, tendo sido concluídos 
poucos tratados internacionais. 
d) No século XVIII, com o absolutismo fundamentado na teoria da 
soberania de Jean Bodin (poder absoluto de uma República), a 
formulação e o controle das relações externas são prerrogativas do 
povo, excluindo-se inteiramente a participação do monarca no 
processo de tomada de decisões acerca da condução dos negócios 
externos do Estado. 
Questão 3 
Assinale a alternativa INCORRETA: 
 
a) No período medieval, há um desenvolvimento das relações 
internacionais, e a guerra passa a ser objeto de normatização, 
estabelecendo-se regras acerca de direitos dos prisioneiros e das 
imunidades dos portadores de salvo-condutos. 
 
 20 
b) No período renascentista, com a formação e desenvolvimento dos 
Estados nacionais a partir de Westfália, a política externa passa a 
adquirir maior relevância. 
c) Podemos afirmar a existência de um constitucionalismo internacional 
em Roma, a exemplo da normatização acerca da conclusão de tratados 
e de procedimentos necessários para a declaração de guerra, nos quais 
o Senado desempenhava papel fundamental. 
d) Somente após o século XVIII, desenvolve-se a noção de controle 
político das relações internacionais, que passa a constituir assunto de 
competência exclusiva do Poder Legislativo, o que acabou por inspirar 
a edificação da sistemática jurídica atual no que concerne à 
constitucionalização das relações exteriores dos Estados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 4 
Sobre o Direito Constitucional Internacional, assinale a alternativa 
INCORRETA: 
 
a) Pode-se defini-lo como o conjunto de normas constitucionais que 
limitam e regulamentam as atividades externas do Estado. 
 
 21 
b) O Direito Constitucional Internacional limita-se à organização da gestão 
da política externa, a partir da delimitação de competências entre os 
diversos órgãos estatais. 
c) O conteúdo de suas normas depende do grau de internacionalização 
de cada sociedade estatal, podendo, por conseguinte, variar de Estado 
para Estado, em decorrência de experiências históricas, sociais, 
econômicas e culturais vivenciadas. 
d) A constitucionalização dos princípios regedores das relações exteriores 
estabelecidos no art. 4º de nossa Constituição estabeleceu referenciais 
éticos a orientar todos os atos decorrentes da política externa. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 5 
O artigo 4º da Constituição da República colaciona uma sistemática de 
princípios que baliza as relações exteriores do Brasil, o que constitui uma 
inovação no constitucionalismo pátrio. Sobre o tema, assinale a alternativa 
correta: 
 
 
 22 
a) Sob a óptica da hermenêutica hodierna, cabe ressaltar que os 
princípios não são considerados normas jurídicas, mas vetores de 
aplicação destas, diferentemente da concepção de outrora. 
b) Como corolário do princípio da independência nacional, destaca-se o 
art.176, que restringe a exploração dos recursos nacionais pelo capital 
estrangeiro. 
c) Com o advento da Emenda Constitucional 45/04, o parágrafo terceiro 
atribuiu status de norma constitucional a todos os tratados 
internacionais de direitos humanos de que a República Federativa do 
Brasil fizer parte. 
d) Sob o escopo de preservação do atributo da soberania dos Estados, o 
dever de não intervenção não comporta exceções, sendo considerado 
norma cogente internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 6 
Os princípios colacionados no art. 4º da Constituição possuem a importante 
função de localizar o Brasil nas relações internacionais. Sobre o tema, assinale 
a alternativa INCORRETA: 
 
 
 23 
a) A inserção do parágrafo terceiro ao art. 5º teve o condão de conferir 
materialidade e coerência ao princípio constitucional da prevalência dos 
direitos humanos, que constituiu o grande fulcro temático da 
atualidade. 
b) Não se fazia menção, nas Constituições anteriores, ao compromisso do 
Brasil com o princípio à autodeterminação dos povos, conquanto este 
tenha sido mencionado sempre entre os paradigmas tradicionais da 
política externa brasileira. 
c) Pode-se afirmar que o artigo 21, inc. XXIII da Constituição, encontra-
se em dissonância com o princípio da defesa da paz e solução pacifica 
dos litígios, o que revela a tendência ao unilateralismo do país no 
cenário internacional. 
d) A obrigatoriedade de solução pacífica dos litígios apresenta-se no 
sistema internacional como norma jurídica sobre a qual não recai 
qualquer discordância acerca de seu caráter cogente, continuando a 
vigorar na agenda internacional como fator de preservação da paz 
mundial, tema de grande preocupação na época atual. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 7 
Assinale a alternativa INCORRETA: 
 
 
 24 
a) A noção de domínio reservado dos Estados encontra-se num processo 
contínuo de redução nos órgãos políticos das Nações Unidas na prática 
das organizações internacionais. 
b) Na prática internacional, é possível a intervenção para a proteção de 
nacionais no exterior; intervenção em nome da defesa, e intervenção 
para proteção dos direitos humanos. 
c) A prevalência dos direitos humanos como paradigma de atuação do 
Estado brasileiro apresenta a finalidade de inserir o Brasil nos sistemas 
jurídicos internacionais e regionais de proteção dos direitos humanos, e 
garantir a incorporação destas normas em âmbito interno, 
assegurando-lhes sempre status constitucional. 
d) O princípio da autodeterminação constituiu fundamento jurídico do 
processo de descolonização dos territórios subjugados pelos Estados 
europeus até a metade do século XX na África e na Ásia. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 8 
 
 25 
De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, referente à 
incorporação dos tratados internacionais sobre direitos humanos no 
ordenamento jurídico brasileiro, analise as assertivas abaixo: 
 
I. Prevalece a tese da constitucionalização dos tratados ratificados após a 
promulgação da Constituição de 1988, por força da abertura do rol dos 
direitos e garantias fundamentais a outros direitos previstos nos 
tratados internacionais em que a República do Brasil seja parte. 
II. Os tratados de direitos humanos necessitam de aprovação congressual 
como os demais tratados. 
III. Após a Emenda Constitucional nº 45, de 2004, a constitucionalização 
dos tratados internacionais sobre direitos humanos depende, no 
aspecto formal, da observância do procedimento previsto para 
aprovação de emenda à Constituição. 
 
Assinale a alternativa CORRETA 
a) apenas o item II é incorreto. 
b) apenas o item I é incorreto. 
c) apenas o item III é incorreto. 
d) todas são incorretas. 
 
Questão 9 
Dentre os princípios abaixo, assinale aquele que não é regedor da política 
externa brasileira: 
 
a) Cooperação entre os povos. 
b) Erradicação da pobreza. 
c) Prevalência dos Direitos Humanos. 
d) Autodeterminação dos povos. 
 
 
 
 26 
Introdução 
Atualmente, em virtude do crescimento do número de tratados celebrados, é 
importante evidenciar quais são os mecanismos existentes de internalização 
dos tratados internacionais no ordenamento jurídico brasileiro. Para isso, faz-
se necessáriodeterminar com precisão quais são os instrumentos postos à 
disposição do governo brasileiro para incorporação do tratado no direito 
interno. 
 
Acredita-se que a partir de uma definição e classificação dos tratados é 
possível, com certa facilidade, determinar qual patamar hierárquico os 
tratados, especialmente os que cuidam dos direitos humanos, ocuparão na 
pirâmide normativa interna. Consequentemente, eventual conflito que possa 
surgir entre o instrumento internacional e a lei interna poderá ser resolvido 
sem envolver grande complexidade. 
 
Cada vez mais o Direito Internacional vai se tornando um elemento de coesão 
entre os Estados, porque consegue estabelecer uma cooperação entre eles 
Porém, paradoxalmente, também se verifica que o Direito Internacional pode 
trazer tensão entre os sujeitos de direito internacional, mormente quando 
envolve conflito entre duas ordens, isto é, a internacional e a estatal. Neste 
último caso estar-se-ia diante do fenômeno do conflito entre normas jurídicas, 
produzidas em dois contextos jurídicos completamente diferentes. 
 
Sendo assim, esta aula tem como objetivos: 
1. Conhecer os mecanismos de incorporação dos tratados internacionais 
no ordenamento jurídico brasileiro. 
 
 27 
2. Identificar a relação entre as normas de direito internacional e as 
normas do direito interno 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 28 
Conteúdo 
Aspectos Gerais Sobre a Classificação dos Tratados Quanto ao 
Conteúdo e à Matéria 
Com a crescente positivação do Direito Internacional em meados do século 
XIX, os tratados se tornaram a fonte maior de obrigação, papel até então 
reservado ao costume internacional.2 Não se quer afirmar que os mesmos 
preponderam sobre as demais fontes, mas apenas ressaltar a sua importância 
nas relações jurídicas travadas entre os Estados na contemporaneidade, visto 
que trazem para as partes envolvidas segurança jamais alcançada por 
qualquer outra fonte de direito. 
 
A Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969, conhecida como 
o Código dos Tratados ou o tratado dos tratados, procurou conceituar o 
tratado como sendo um acordo internacional celebrado entre Estados e/ou 
Organizações Internacionais3, por escrito, regido pelo Direito Internacional, 
quer conste de um documento ou mais a ele conexo, qualquer que seja a sua 
denominação específica. É a verdadeira Law of Treaties. 
 
Sem embargos de outras classificações existentes, é importante salientar que, 
para fins de verificação do iter procedimental a ser implementado e adotado 
pelo Estado brasileiro, faz-se mister conhecer aquela que leva em cosideração 
única e exclusivamente o conteúdo do tratado. Assim sendo, quanto ao 
conteúdo do tratado, há duas classificações importantes, que geram efeitos 
concretos no direito nacional, a saber: 
 
 em razão da natureza do tratado: tratado-lei e tratado-contrato; 
 em razão da matéria versada no tratado: Tratado geral ou genérico e 
Tratado Internacional sobre Direitos Humanos – TIDH. 
 
2PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 11. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2010, p. 43. 
3 A Convenção de Viena de 1969 não mencionou entre os sujeitos capazes de celebrar tratados as 
Organizações Internacionais, o que só ocorreu em Convenção posterior, assinada também em Viena, no 
ano de 1986. 
 
 29 
 
 
Classificação dos Tratados Quanto à Natureza 
Insertos na primeira categoria, ou seja, quanto à natureza do tratado, 
encontram-se os tratados-normas ou tratados-leis ou tratados-normativos 
(law-making treaties, em inglês, ou Vereinbarungen, no alemão), que criam 
regras de direito, sem contraprestações específicas para os sujeitos da 
relação jurídica. Nesse sentido, as partes estabelecem uma regra de direito e, 
por isso, geralmente, são celebrados por muitos Estados. Eles podem ser 
equiparados a verdadeiras leis, pois fixam normas gerais e abstratas e 
possuem uma finalidade comum e convergente dos Estados, com conteúdo 
idêntico, voltados para determinada finalidade comum. 
 
Por outro lado, os tratados-contratos (Vertragen, em alemão) geram 
benefícios recíprocos e, por isso, geralmente são tratados bilaterais, como 
regra de cunho financeiro ou econômico. Exemplos desses tratados seriam os 
acordos de comércio, de cessão territorial e de aliança. Sobre este aspecto, as 
vontades dos Estados são divergentes. Aproximam-se, pois, da ideia dos 
contratos no direito interno. Cada Estado tem como objetivo retirar do outro 
tudo aquilo que lhe pode ser dado de conveniente. O tratado-contrato, por 
resultar de concessões mútuas dos Estados, tem como finalidade regular 
 
 30 
interesses específicos e de maneira concreta para cada umas das partes 
envolvidas. 
 
Enquanto nos tratados-leis a vontade dos Estados tem conteúdo idêntico, nos 
tratados-contratos, as vontades dos Estados são contrapostas. Segundo essa 
percepção, apenas os tratados-leis seriam genuinamente fonte do Direito 
Internacional, pois são neles que se manifestaria a vontade coletiva. 
 
Essa classificação ganhou importância no direito brasileiro a partir de um 
julgamento do Supremo Tribunal Federal no qual ficou consignado que 
apenas os tratados-contratos poderiam revogar leis internas de caráter 
tributário, porque se acreditava na existência de hierarquia desempenhada 
pelas Leis Complementares em relação às Leis Ordinárias, diferença 
totalmente ultrapassada nos dias atuais. Portanto, tal classificação caiu em 
desuso e vem perdendo prestígio no Direito Internacional. Nesse sentido, 
embora haja divergência doutrinária a respeito, expõe Francisco Resek para 
quem: 
 
“A distinção entre tratados contratuais e tratados 
normativos vem padecendo de uma incessante perda de 
prestígio. Charles Rousseau permaneceu entretanto fiel 
a essa ideia, desenvolvida em sua obra de 1944 e 
reafirmada nas seguintes. É nítida, segundo Rosseau, a 
diferença funcional entre tratados-contratos, assim 
chamados porque através deles as partes realizam uma 
operação jurídica – tais os acordos de comércio, de 
aliança, de cessão territorial -, e os tratados-leis, por 
cujo meio as partes editam uma regra de direito 
objetivamente válida.”4 
 
 
4 RESEK, Francisco. Direito Internacional Público. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 28. 
 
 31 
Percebe-se que por mais que o tratado verse sobre contraprestações 
recíprocas, sempre estabelecerá elementos normativos, como, por exemplo, 
as cláusulas sobre ratificação, possibilidade de reserva, entrada em vigor. 
Além disso, no Direito Internacional vigente, tanto os tratados-leis como os 
tratados-contratos têm o mesmo valor jurídico, inexistindo qualquer 
hierarquia entre eles. 
 
Classificação dos Tratados em Razão da Matéria 
A segunda categoria da classificação do tratado quanto ao conteúdo leva em 
consideração o assunto ou a matéria nele pactuada. Assim, o tratado poderá 
ser genérico ou internacional sobre direitos humanos – TIDH. Tal classificação 
é de suma importância nos dias atuais, pois dependendo da classificação a 
ser atribuída ao tratado, o mesmo poderá estar posicionado em diferentes 
escalas da pirâmide normativa e, com isso, eventual conflito existente entre 
tratado e norma interna poderá ser resolvido pela aplicação do critério da 
hierarquia. 
 
De plano afirma-se que a jurisprudência brasileira informa que os tratados 
internacionais genéricos terão paridade normativa como lei federal 
infraconstitucional, equivalente à lei ordinária. Entretanto, no que tange aos 
tratados sobre direitos humanos, poderá ocorrer variações da posição que 
ocupam no ordenamento jurídico, dependendo do procedimento utilizado pelo 
governo para a sua incorporação estatal. Por tudo isso, os tratados sobre 
Direitos Humanos referendados pelomesmo rito utilizado para elaboração de 
uma Emenda Constitucional serão equivalentes à norma constitucional 
derivada; os tratados sobre Direitos Humanos, referendados por Decreto 
legislativo, terão força de norma supralegal. 
 
A definição de tratado genérico ou geral é feita por exclusão, isto é, todo 
acordo internacional que não cuidar da proteção do ser humano será 
considerado tratado genérico. Ao passo que, se o tratado tiver como eixo a 
 
 32 
proteção do homem, será classificado como um tratado internacional de 
direitos humanos - TIDH. Neste caso o tratado não estabeleceria apenas uma 
obrigação em relação aos demais Estados pactuantes, mas uma obrigação em 
relação aos indivíduos de cada Estado. 
 
Pelo que se extraiu acima, a classificação quanto à matéria versada no 
tratado mostra-se de suma importância na atualidade, haja vista que a partir 
dessa definição, sobretudo a partir da interpretação dada ao artigo 5º, §2º, 
da Constituição Federal e após a entrada em vigor da Emenda Constitucional 
nº 45, de 2004, que incluiu o §3º ao artigo 5º, os tratados sobre direitos 
humanos poderão ocupar lugares diferenciados na escala normativa 
brasileira. 
 
A jurisprudência atual do Supremo Tribunal Federal considera que os tratados 
sobre direitos humanos sempre terão destaque no ordenamento jurídico, ora 
equiparados às Emendas Constitucionais, quando internalizados na forma do 
procedimento similar ao da emenda constitucional, ora com força de norma 
infraconstitucional, por estarem abaixo da Constituição Federal, mas acima 
das leis comuns. Portanto, a classificação do tratado quanto à matéria é 
duplamente importante, serve para definir qual o procedimento a ser seguido 
pelo Estado na internalização do tratado e, após a sua incorporação, como ele 
será posicionado entre as fontes normativas internas. 
 
Iter Procedimental Para Incorporação do Tratado no 
Ordenamento Jurídico Brasileiro 
A partir da classificação do tratado quanto à matéria, é possível estabelecer 
dois procedimentos distintos para a incorporação no ordenamento jurídico 
brasileiro. Nesta esteira, busca-se aqui responder à seguinte indagação: quais 
são os procedimentos existentes no Brasil para a internalização do tratado? 
 
 
 33 
As fases dos tratados somente se completam após os sucessivos atos 
jurídicos que vão se articulando e ligando, desde a sua negociação até a sua 
vigência. A partir daí pode-se afirmar que algumas etapas dos tratados são 
produzidas na seara do Direito Internacional, na qual os Estados devem 
observar estritamente as regras do Direito Internacional e que são comuns a 
todos os Estados. Por outro lado, cada Estado nacional possui regras distintas 
de produção dos tratados para considerá-los como parte integrante de seu 
direito. 
 
Fases Internacionais Para a Conclusão do Tratado 
No Brasil, os Tribunais consideram a existência de um sistema dualista, no 
qual direito interno e direito internacional são duas ordens jurídicas distintas e 
paralelas e, por isso, existe um duplo procedimento para que o tratado seja 
considerado válido. O primeiro procedimento visa o engajamento 
internacional, pelo qual o Estado se obriga perante aos demais Estados 
contratantes. O segundo procedimento tem como propósito o engajamento 
interno, a partir do qual o tratado passa a produzir efeitos para os nacionais. 
O tratado, segundo essa concepção, somente torna-se exequível no Brasil 
após a observância de todas as etapas. 
 
Basicamente, há quatro etapas pelas quais deve passar o tratado até a sua 
conclusão: 
 
1. Fase das negociações e assinatura; 
2. Fase de aprovação interna pelo órgão legislativo do Estado, segundo 
as regras de sua Constituição; 
3. Fase da ratificação ou adesão do tratado; 
4. Fase complementar da promulgação e publicação do texto 
convencional. 
 
 
 34 
Para facilitar o entendimento, sugere-se o esquema abaixo das fases dos 
tratados: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fases Internacionais: 
 
 Negociação 
Como podemos perceber, as etapas que são produzidas no âmbito do Direito 
Intenacional vão se alternando com as etapas produzidas no ambiente 
interno. Seguindo o esquema acima, a primeira fase do tratado se constitui 
das negociações preliminares, que no Brasil cabem ao Poder Executivo, 
podendo variar de Estado para Estado de acordo com as regras 
constitucionais a respeito. 
 
A fase de negociação tem início quando representantes de um Estado 
reunem-se em determinado local a fim de chegar a um entendimento sobre a 
conclusão de um tratado. Nesta etapa são realizadas propostas e 
contrapropostas, debates sobre o tema, concessões por parte dos Estados e 
tomada de posições. 
 
Realizadas as negociações, o tratado estará pronto para prosseguir nas 
demais fases. Desta maneira, já há um projeto de tratado composto de um 
preâmbulo, da parte dispositiva e, eventualmente, dos anexos. 
Negociação Publicação Promulgaçã
o 
Ratificação Assinatura Aprovação 
Congressual 
ETAPAS INTERNACIONAIS 
ETAPAS INTERNAS 
 
 35 
 
 Assinatura 
Levando-se em conta que o tratado resulta da vontade dos Estados, as 
negociações têm o seu final demarcado com a denominada adoção do texto, 
que pode contar com o consentimento de todos os Estados que participaram 
da sua elaboração ou quando a maioria de dois terços de Estados presentes e 
votantes adotarem o texto do tratado. Assim, após a adoção do texto, os 
Estados irão apor suas assinaturas e prosseguir nas demais fases. Convém 
destacar nesse ponto que um Estado pode não adotar o texto, caso seja 
aplicada a regra da adoção pela maioria de dois terços e, mesmo assim, se 
desejar assinar o tratado. Mostra-se com isso, que as etapas da adoção do 
texto convencional distinguem-se da sua assinatura. 
 
Destaca-se que a assinatura de um tratado internacional significa um aceite 
precário e formal não acarretando, a princípio, efeitos jurídicos vinculantes. 
Ela marca o anúncio de eventual e futuro engajamento definitivo das partes 
demonstrando que o Estado tem o propósito de prosseguir nas demais etapas 
e, definitivamente, obriga-se pelo cumprimento do instrumento internacional. 
 
A assinatura, embora de caráter provisório, serve para autenticar os termos 
do tratado. Percebe-se que a assinatura é quase sempre ad referendum, pois 
necessita de confirmação posterior expressa pelo Estado por meio da 
ratificação. O que importa é saber que a assinatura põe fim às negociações e 
é fase necessária no processo de conclusão dos tratados. A partir da 
assinatura fica vedada a alteração do texto do tratado, porém fica permitida a 
apresentação de reservas, se assim permitir o tratado. 
 
 Ratificação e Adesão 
No âmbito do direito internacional, a próxima etapa, portanto após a 
assinatura, será a ratificação do tratado, que significa a confirmação de um 
Estado com intuito de se obrigar pelo tratado. É o aceite definitivo que obriga 
internacionalmente o Estado. É o ato jurídico necessário, que irradia efeitos 
 
 36 
no plano internacional, para que se possa marcar a obrigatoriedade do Estado 
no cumprimento do tratado. 
 
No Brasil, como é sabido, todo e qualquer tratado, antes de ser ratificado, 
deve necessariamente passar pelo crivo do Poder Legislativo. Verifica-se que 
a ratificação representa o segundo momento de participação do Poder 
Executivo na elaboração de um tratado. Assim, pode o Estado num momento 
específico sinalizar que pretende assumir o compromisso efetivo 
posteriormente, como o faz através da assinatura, mas por conveniência e 
oportunidade, num outro momento político, não querer mais se engajar em 
definitivo. Por isso, a ratificação mostra-se como etapa mais importante na 
sistemática dos tratados. Importa destacar que ela é entendida como um ato 
unilateral por meio do qual o Poder Executivo confirme a assinatura aposta 
anteriormente, expressando a vontadedefinitiva do Estado em se obrigar 
pelo Tratado. 
 
A ratificação tem características próprias como sendo um ato externo e de 
governo, ato expresso, ato político e circunstancial. Assim, ela é o segundo e 
último ato praticado pelo Estado na processualística internacional da 
celebração de um tratado antes de iniciadas as fases internas às quais devem 
ser submetidas o texto convencional. 
 
Cumpre ressaltar que o instituto da adesão é similar à ratificação, pois 
permite que um Estado que não tenha participado das negociações 
preliminares possa engajar-se ao tratado tal como ele se encontre, 
produzindo os mesmo efeitos jurídicos da ratificação. 
 
Terminadas as fases internacionais dos tratados, passa-se à análise de sua 
fase interna, que, como foi visto, depende da legislação de cada Estado. 
 
 
 37 
As Duas Fases Internas Existentes no Direito Brasileiro para a 
Formação do Tratado 
No direito brasileiro, há duas formas para internalizar o Tratado, o que 
depende da matéria discutida no instrumento intenacional, ou seja, se a 
matéria é genérica ou se cuida de proteção dos direitos humanos. Portanto, 
haverá de acordo com o assunto versado no tratado dois caminhos possíveis 
a serem considerados para a incorporação ao direito pátrio. 
 
Antes da Emenda Constitucional 45 de 2004, havia um roteiro único para 
internalização do Tratado, pois o governo brasileiro não se preocupava em 
estabelecer um rito próprio para os tratados sobre direitos humanos. 
 
Rito procedimental específico para os tratados genéricos 
Após as etapas concluídas no âmbito do direito internacional, o tratado é 
submetido a um procedimento específico que irá variar de Estado para 
Estado. O que importa destacar inicialmente é que o direito brasileiro prevê 
um rito procedimental específico para a internalização dos tratados genéricos 
e que poderá ser utilizado também para os demais tratados que cuidarem da 
proteção do ser humano. 
 
No Brasil para que ocorra a ratificação ou a adesão, faz-se necessária a 
participação do Poder Legislativo. Claramente a Constituição Federal, nesse 
ponto, estabeleceu a sistemática do checks and balances, pois, ao atribuir a 
participação do Poder Legislativo, limitou e descentralizou o poder do 
Executivo de celebrar Tratados, o que previne o abuso desse poder 5 . Ao 
prever a ação do parlamento, o Brasil legitima democraticamente a 
participação do povo brasileiro na formação do tratado. 
 
Há dois artigos constitucionais que cuidam do tema, o artigo 49, I, que dispõe 
que é da competência exclusiva do Congresso Nacional resolver 
 
5 HENKIN, Louis. Constitutionalism, democracy and foreign affairs. New York: Columbia 
University, 1990. p. 59. 
 
 38 
definitivamente sobre os Tratados que acarretem encargos ou compromissos 
gravosos ao patrimônio nacional, e o artigo 84, ao mencionar que é de 
competência privativa do Presidente da República celebrar Tratados e todos 
os documentos internacionais, que deverão ser sujeitos a referendo do 
Congresso Nacional. 
 
O Congresso Nacional está impedido de realizar emendas ao Tratado, quer 
modificando artigos ou simplesmente substituindo palavras no texto 
submetido à sua apreciação, já que a assinatura encerra a fase das 
negociações, autenticando o texto do tratado, que a partir daí não poderá ser 
alterado, exceto para afastar, através de reserva, o efeito de determinada 
disposição. 
 
Qualquer emenda realizada pelo Parlamento configura afronta à separação 
dos poderes por ingerência indevida deste órgão em assuntos do Poder 
Executivo. A razão também para o impedimento de emendas parlamentares 
justifica-se porque o tratado é produto da vontade conjunta e celebrado após 
longas discussões e concessões recíprocas com um número variado de 
Estados. Em última instância, se tal procedimento fosse permitido, equivaleria 
dar ao Poder Legislativo o poder de negociar tratados e afastar o Poder 
Executivo de sua legítima função. 
 
Após a aprovação do parlamento por decreto legislativo, cabe ao Presidente 
da República, segundo um juízo de conveniência e oportunidade, ratificar o 
tratado. 
 
Finalmente, o Presidente da República promulga, através de decreto, o 
tratado, com intuito de dar publicidade no plano interno, e publica o texto 
integral em diário oficial, em que pese inexistir regra específica, sendo esta 
uma praxe realizada desde o tempo do Império. Trata-se de prática aceita 
amplamente no Direito brasileiro. Nesse sentido, antes da promulgação, um 
tratado internacional não produz efeitos no plano interno. 
 
 39 
Rito procedimental para os tratados sobre direitos humanos 
O Brasil, após a Constituição de 1988, ratificou vários tratados de direitos 
humanos que seguiram basicamente o rito interno comum, destinados aos 
tratados genéricos. Entretanto, a partir da edição da Emenda Constitucional 
nº 45, de 2004, surgiram diversas indagações que consistiam em responder 
às seguintes questões: como os tratados internacionais de direitos humanos 
celebrados anteriormente à publicação da referida emenda à Constituição 
passam a vigorar no Direito brasileiro? Há obrigatoriedade na observância do 
rito previsto pelo artigo 5º, §3º, da Constituição Federal? Prevalecerá a 
mesma sistemática anterior quanto à promulgação e à ratificação para os 
tratados aprovados de acordo com o disposto no artigo 5º, §3º, da 
Constituição Federal? 
 
De antemão, é preciso compreender que a escolha por parte do governo 
brasileiro do rito a ser seguido para a internalização do tratado sobre direitos 
humanos pode alçar o instrumento internacional a diferentes posições 
gradativas no ordenamento jurídico. 
 
Antes da edição da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que acrescentou 
ao artigo 5º, o parágrafo terceiro, o rito observado era o comum, até então a 
única sistemática existente no Brasil. 
 
Sobre o escalonamento dos tratados de direitos humanos, a doutrina e a 
jurisprudência, até a edição da Emenda Constitucional nº 45, de 2004, 
estabeleciam basicamente duas posições: 
 
 Celso de Albuquerque Mello 6 , Flávia Piovesan e Antonio Augusto 
Cançado Trindade7 entendiam que os tratados sobre direitos humanos, 
ao serem internalizados no direito brasileiro, deveriam revestir-se de 
 
6 Em verdade, Celso de Albuquerque Mello e no direito comparado Bidart Campos reconhecem a 
natureza supraconstitucional dos tratados e convenções em matéria de direitos humanos. 
7 Estes dois últimos interpretavam os parágrafos primeiro e segundo do art. 5º, da CRFB, como 
garantidores da aplicabilidade direta e do status constitucional dos tratados sobre direitos humanos. 
 
 40 
estatura de normas constitucionais. Desta forma, segundo esse 
entendimento, a edição da Emenda Constitucional nº 45 só veio a 
reforçar a tese de que o conteúdo de um tratado de direitos humanos 
possuía status elevado no ordenamento jurídico pátrio. 
 
Toda essa construção teórica se baseou na interpretação do artigo 5º, §2º, 
da Constituição Federal, ou seja, a permissão da cláusula de abertura e não, 
evidentemente, na dicção do artigo 5º, §3º, que inexistia à época. 
 
 De outra banda, oposta ao entendimento anterior, o Supremo Tribunal 
Federal e Celso Ribeiro Bastos afirmavam que os tratados sobre 
direitos humanos teriam a mesma natureza jurídica de qualquer 
tratado depois de incorporado ao direito brasileiro, isto é, norma 
infraconstitucional. Concluíram que o tratado, qualquer que fosse a 
matéria ali prevista, possuía o status equivalente à lei ordinária. 
Consequentemente, extraia-se dessa posição, que não havendo 
primazia dos tratados internacionais sobre direitos humanos em face 
da lei ordinária, eventual conflito existente entre as fontes deveria ser 
resolvido pela aplicação do critério cronológico ou pela aplicação do 
critério da especialidade.Nota-se que ambas correntes diferenciavam-se entre si pela inclusão 
hierárquica do Tratado sobre direitos humanos na pirâmide normativa pátria. 
 
Ao procurar responder à primeira indagação proposta acima, isto é, como os 
Tratados internacionais de direitos humanos celebrados anteriormente à 
publicação da Emenda Constitucional 45, de 2004, passam a vigorar no 
Direito brasileiro, depara-se com uma evolução jurisprudencial e, ao mesmo 
tempo, com divergência doutrinária. 
 
A doutrina diverge sobre este aspecto, pois, segundo uma linha de 
pensamento, não seria possível emprestar àqueles tratados a mesma 
 
 41 
natureza jurídica dos que tramitaram em conformidade com a EC 45/04. 
Porém, em sentido contrário, advoga-se a tese de que nada impediria o 
legislador pátrio de submeter aquele tratado já incorporado ao novo rito 
estabelecido pela citada emenda. 
No contexto atual, em que se verifica cada vez mais a abertura do Estado 
constitucional brasileiro a ordens jurídicas supranacionais de proteção dos 
direitos, não faz mais sentido consagrar a tese da legalidade ordinária aos 
tratados firmados pelo Brasil anteriormente à alteração constitucional. 
Qualquer tese em sentido contrário estaria predestinada ao retrocesso e a 
defasagem. 
 
Portanto, os tratados sobre direitos humanos ratificados pelo Brasil, antes da 
referida emenda, não se equipararão às leis ordinárias, mas também não 
ganham status de emendas constitucionais justamente por não terem 
passado pelo procedimento especial previsto somente a partir de 2004. Nesse 
aspecto, o STF no julgamento do Recurso Extraordinário nº 466.343 conferiu 
status de supralegalidade ao Pacto de São José da Costa Rica. 
 
A segunda indagação proposta acima se refere à obrigatoriedade ou não da 
observância do rito previsto pelo artigo 5º, § 3º, da Constituição Federal. 
Tem-se que a emenda constitucional possibilitou a escolha do governo, por 
motivos de conveniência. Parece que pela redação do dispositivo, porque o 
constituinte reformador utilizou a expressão “que forem aprovados”, não se 
pode exigir do Congresso Nacional que adote o rito especial do quórum de 
três quintos. 
 
A promulgação também parece uma questão que chama atenção no que se 
refere à incorporação dos tratados sobre os direitos humanos que observam a 
regra constitucional, pois como são cediças, as emendas constitucionais não 
são promulgadas pelo Presidente da República, mas sim pelo Congresso 
Nacional. Nota-se que, tradicionalmente, este ato indica uma das etapas de 
internalização dos tratados. Para alguns doutrinadores, não há mais 
 
 42 
necessidade de promulgação nos tratados sobre direitos humanos, pois um 
tratado desse tipo será encaminhado ao Congresso Nacional não como 
projeto de decreto legislativo, mas como proposta de Emenda Constitucional. 
 
A Dicotomia Entre o Monismo e o Dualismo 
O estudo do conflito entre Direito Internacional e Direito Interno é um dos 
temas mais importantes do direito e, ao mesmo tempo, um dos mais 
complexos. Em diferentes momentos, surgiram algumas teorias que se 
digladiaram e continuam envolvidas em suas paixões originais até os dias de 
hoje. Tal dicotomia fez surgir duas teorias que procuravam explicar as 
relações entre o ordenamento jurídico interno e o ordenamento jurídico 
internacional, a saber, a teoria dualista e a teoria monista, que 
passaremos a examinar em seguida: 
 
 Teoria dualista 
Dionizio Anziloti e Heinrich Triepel foram os precursores do dualismo. A teoria 
considerava a existência de duas ordens jurídicas, paralelas, no entanto, 
apartadas, uma de direito internacional e outra de direito interno. Tal 
distinção baseava-se na diferença entre as fontes jurídicas internas e 
internacionais. Para o direito internacional, as relações jurídicas travadas 
eram estabelecidas entre os Estados, que produziam as fontes de direito 
internacional, tais como os costumes internacionais, os princípios gerais de 
direito e, principalmente, os tratados. Nesse ambiente as relações se dariam 
pela forma de cooperação já que as pessoas jurídicas de direito internacional 
seriam juridicamente paritárias. Por outro lado, as normas internas seriam 
originadas da própria vontade estatal e formariam as fontes desse 
ordenamento jurídico, como as constituições nacionais e as leis internas. 
 
Em tese, dada a diversidade de origem das normas internas e internacionais, 
não havia a possibilidade, num primeiro momento, de existir conflito entre 
esses sistemas. Assim, era necessária a criação de um mecanismo de 
 
 43 
internalização das normas internacionais, que retirasse os tratados da esfera 
do direito internacional e os levasse para o ordenamento interno. Somente 
após a internalização, seria possível a cogitação de um eventual conflito entre 
fontes. Na visão de Triepel, não haveria primazia de um tratado ou de uma lei 
interna, pois através do processo de internalização, o tratado passaria a 
adquirir o status de norma interna. 
 
No âmbito do próprio dualismo, surgiram duas outras correntes denominadas 
de dualismo radical ou extremado e dualismo moderado ou 
atenuado. 
 
Os dualistas radicais acreditavam que a incorporação dos tratados à ordem 
interna deveria se dar através de uma lei em sentido formal, enquanto os 
dualistas moderados aceitavam que não deveria haver rigor e propuseram a 
internalização dos tratados através de um procedimento mais simples ou um 
rito procedimental específico previsto no direito interno. 
 
No Brasil, não se discute que as fases dos tratados seguem um rito específico 
que vai desde a sua negociação, no plano internacional, até a sua publicação, 
no plano interno. 
 
 Teoria monista 
O monismo, defendido por Hans Kelsen, considerava a existência de apenas 
um ordenamento jurídico, no qual haveria projeção do direito internacional 
através da celebração dos tratados. Em face da integralidade do sistema 
jurídico, para o monismo não haveria necessidade de criação de mecanismos 
de internalização da norma de direito internacional, o que conduziria a uma 
aceitação automática do tratado na ordem interna. Dessa forma, seria 
perfeitamente possível o conflito entre fontes. 
 
Para Kelsen, os conflitos seriam solucionados pela supremacia do direito 
interno ou pela supremacia do direito internacional, sem que a unidade do 
 
 44 
ordenamento jurídico fosse posta em risco. Essa linha de pensamento ficou 
conhecida como dualismo radical ou extremado. 
 
Por outro lado, surgiu também o dualismo moderado que equiparava o 
tratado genérico à lei ordinária. Os monistas moderados entendiam que, 
havendo conflito entre fontes, a sua resolução deveria ficar por conta dos 
métodos já conhecidos pelos juristas, isto é, critérios cronológicos e da 
especialidade. 
 
A posição adotada no Brasil 
É válido registrar que no Brasil, as referidas teorias tiveram interpretações 
extensivas, passando-se a utilizar as expressões dualismo extremado e 
dualismo moderado, monismo radical e monismo moderado, segundo critérios 
relacionados à necessidade ou não de um processo de internalização da 
norma internacional. 
 
Ao analisar o histórico das decisões dos tribunais no Brasil sobre o tema, 
constata-se que ambas as teorias encontram respaldo. Na década de 70 do 
século passado, destacou-se a decisão do STF no Recurso Extraordinário nº 
71.154, que discutiu a hierarquia do tratado em face da lei, após o seu 
processo de internalização. Posteriormente, no julgamento em 1977 do 
Recurso Extraordinário nº 80.004, o STF entendeu que a lei interna revogava 
o tratado anterior, o que levou a doutrina a cunhar a expressão monismo 
moderado com primazia do direito interno. Até então o STF apregoava o 
primado do direito internacional frente ao ordenamento doméstico brasileiro. 
 
Nos julgamentos da ADIN nº 1.480 e na Carta Rogatória nº 8.279, o STF 
classificou o sistema brasileirocomo dualista moderado, pois é necessária a 
incorporação do tratado através de um iter procedimental específico. 
 
Quanto à adoção dos critérios cronológicos ou da especialidade, merece 
destaque o posicionamento do STJ, no que tange ao conflito entre tratado e 
 
 45 
lei interna. No RESp nº 58.736, o tribunal afirmou a prevalência da norma 
especial sobre a norma geral. Todavia, o próprio tribunal, posteriormente, por 
ocasião do julgamento do RESp nº 169.000, considerou que deve ser aplicado 
o critério cronológico, em vez da regra da especialidade: “Responsabilidade 
civil. Transportador. Limitação de Indenização. Código de Defesa do 
Consumidor. Convenção de Varsóvia. Editada lei específica, em 
atenção à Constituição (art. 5º, XXXII), destinada a tutelar os 
direitos do consumidor, e mostrando-se irrecusável o 
reconhecimento da existência de relação de consumo, suas 
disposições devem prevalecer. Havendo antinomia, o previsto em 
tratado perde a eficácia, prevalecendo a lei interna posterior que se 
revela com ela incompatível. Recurso conhecido e não provido.” 
 
Daí se infere que um tratado ratificado pelo Brasil pode deixar de ser 
cumprido se o Congresso legislar em sentido contrário, visto que, no Brasil, o 
tratado genérico, uma vez incorporado, ingressa em nosso ordenamento na 
mesma posição hierárquica de lei ordinária. 
 
Atividade Proposta 
Digamos que numa situação hipotética, o Brasil, em uma conferência 
internacional, resolvesse assinar um tratado sobre direitos humanos, 
enviando para tanto plenipotenciários. Na etapa do engajamento interno, o 
Presidente da República envia mensagem ao Congresso Nacional com a 
determinação de que o procedimento seguirá na conformidade do rito 
dispensado às Emendas Constitucionais. A partir dessa situação hipotética, o 
Congresso Nacional deveria adotar o rito previsto no artigo 5º, § 3º, da 
Constituição Federal? 
 
Referências 
GUERRA, Sidney; SILVA, Roberto Luiz. Soberania: antigos e novos 
paradigmas. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2004. 
 
 46 
 
MELLO, Celso de Albuquerque. Curso de direito internacional público. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2005, v.1 e 2. 
 
________________. Direito Constitucional Internacional. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2005. 
 
________________. Direitos humanos e conflitos armados. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2000. 
 
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional 
internacional. São Paulo: Max Limonad, 1996. 
 
________________. Direitos humanos. V.1. Curitiba: Juruá, 2006. 
 
RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na 
ordem internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2006. 
 
________________. Processo internacional dos direitos humanos. Rio 
de Janeiro: Renovar, 2007. 
 
TAVARES, André Ramos. A reforma do Judiciário no Brasil pós-88. São 
Paulo: Saraiva, 2005. 
 
TORRES, Ricardo Lobo (Org.). Teoria dos direitos fundamentais. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. 
 
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. O Direito internacional num 
mundo em transformação. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. 
 
 
 
 
 47 
Exercícios de Fixação 
Questão 1 
De acordo com a doutrina e jurisprudência brasileiras, o tratado adquire 
executoriedade interna no Brasil após: 
 
a) Sua ratificação pelo Presidente da República. 
b) Decreto presidencial de promulgação e publicação no Diário Oficial da 
União. 
c) Publicação no Diário Oficial da União e do decreto legislativo de sua 
aprovação. 
d) Sua assinatura pelo Presidente da República. 
 
Questão 2 
Em relação ao tema da apreciação dos tratados internacionais pelo Congresso 
Nacional, é correto afirmar que: 
 
a) O Poder Legislativo ratifica o tratado mediante promulgação de decreto 
legislativo de aprovação. 
b) Os parlamentares podem acrescentar novos dispositivos ao texto 
enviado pelo Poder Executivo. 
c) O Presidente do Senado Federal tem competência para, em nome do 
parlamento, negociar tratados que cuidem de temas relacionados às 
atividades da casa legislativa. 
d) O Congresso Nacional resolve definitivamente sobre um tratado 
internacional quando o rejeita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 48 
Questão 3 
Em relação ao tratado genérico, assinale a alternativa correta: 
 
a) Na fase interna, deve o Congresso Nacional aprová-lo por 3/5 dos 
respectivos membros. 
b) Após a promulgação por decreto presidencial e respectiva publicação, o 
tratado terá status de norma infraconstitucional, equiparado à lei 
ordinária. 
c) É de competência exclusiva do Presidente da República resolver 
definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que 
acarretem encargos gravosos ao patrimônio nacional. 
d) O Pacto de São José da Costa Rica, de 1969, segundo o entendimento 
atual do STF, possui paridade normativa com a lei ordinária. 
 
Questão 4 
Em 2010, o Congresso Nacional aprovou por Decreto Legislativo a Convenção 
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Essa convenção 
já foi aprovada na forma do artigo 5º, § 3º, da Constituição, sendo sua 
hierarquia normativa de: 
 
a) lei federal ordinária. 
b) lei complementar. 
c) emenda constitucional. 
d) status supralegal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 49 
Questão 5 
Com relação aos tratados, no procedimento legislativo brasileiro: 
 
a) Com a edição do decreto legislativo, o Congresso Nacional edita uma 
ordem para a execução do tratado em nosso país. 
b) Somente após o decreto presidencial e respectiva publicação, o tratado 
pode ser aplicado de forma obrigatória, tal qual uma norma 
infraconstitucional. 
c) A celebração e a assinatura de um tratado, pelo Presidente da 
República, obrigam internamente o nosso país. 
d) É competência exclusiva do Presidente da República resolver 
definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que 
acarretem encargos ao patrimônio nacional. 
 
Questão 6 
Sobre a teoria dualista/monista é INCORRETO afirmar: 
 
a) Para a teoria dualista, o Direito Internacional resulta da vontade de 
vários Estados, enquanto o direito interno resulta da vontade de 
apenas um Estado (relação jurídica vertical). 
b) A teoria monista pode ser subdividida em monista moderada e monista 
extremada. 
c) A teoria dualista é adotada no Brasil apenas no que tange ao art. 5°, 
§2°, da CRFB e para os demais casos adota-se a teoria monista. 
d) Para a teoria dualista, uma norma só será aplicada no ordenamento 
interno dos Estados caso seja transformada em direito interno. 
 
 
 
 
 
 
 
 50 
Questão 7 
No Brasil existem diversos acórdãos consagrando o primado do DI [Direito 
Internacional], como é o caso da União Federal v. Cia. Rádio Internacional do 
Brasil (1951) em que o Supremo Tribunal Federal decidiu unanimemente que 
um tratado revogava as leis anteriores (Apelação Cível no 9.587). (...). 
Entretanto, houve no Brasil um verdadeiro retrocesso no Recurso 
Extraordinário no 80.004, decidido em 1978, em que o STF decidiu que uma 
lei revoga tratado anterior. Esta decisão viola também a convenção de Viena 
sobre direito dos tratados (1969) que não admite o término de tratado por 
mudança de direito superveniente. (MELLO, Celso D. de Albuquerque. Direito 
Constitucional Internacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 366). 
Os acórdãos citados no texto são, respectivamente, compatíveis com as 
teorias: 
 
a) monista com primazia do direito interno e dualista extremada. 
b) monista com primazia do direito internacional e monista com primazia 
do direito interno. 
c) monista com primazia do direito internacional e dualista extremada. 
d) dualista extremada e dualista moderada. 
 
 
Questão 8 
Quanto ao dualismo e ao monismo, é correto afirmar que: 
 
a) A teoria da incorporação advém da corrente monista, que defende a 
primazia do direito internacional. 
b) O dualismo tem como premissa a ideia de que todas as fontes emanam 
de um único ordenamento jurídico. 
c) O dualismoaceita a existência de duas ordens jurídicas independentes 
e autônomas. 
d) O monismo defende a primazia do direito interno do país, desde que o 
tratado seja incorporado ao ordenamento jurídico interno. 
 
 51 
Questão 9 
No que diz respeito ao posicionamento do STF sobre a relação entre o Direito 
Internacional e o Direito Interno, assinale a alternativa incorreta: 
 
a) O STF considerava que o direito internacional possuía primazia sobre o 
direito interno, até o julgamento do RE 80.004, que em decisão 
história, mudou seu entendimento e passou a estabelecer paridade 
normativa entre o tratado e lei ordinária. 
b) O STF entende que se um tratado internacional conflitar com a 
Constituição Federal, esta deve prevalecer. 
c) O STF entende que um tratado genérico equivale à lei ordinária. 
d) O STF assentou posicionamento de que o tratado genérico, ao ser 
incorporado ao ordenamento jurídico, adquire status de norma 
constitucional. 
 
Questão 10 
O Estado regulamenta a convivência social em seu território por meio de 
legislação nacional, e a comunidade internacional também cria regras, que 
podem conflitar com as nacionais. A respeito das correntes doutrinárias que 
procuram proporcionar solução para o conflito entre as normas internas e as 
internacionais, assinale a opção correta: 
 
a) Para a teoria monista, o ato de ratificação de tratado gera efeitos no 
âmbito nacional. 
b) De acordo com a corrente dualista, o direito interno e o direito 
internacional convivem em um único sistema jurídico. 
c) A corrente monista moderada considera que a norma interna sempre 
prevalecerá sobre a norma internacional. 
d) O monismo radical prega que o tratado será equivalente à lei ordinária. 
 
 
 
 
 52 
 
Antes de iniciar a aula, conheça o caso de um filho de brasileiro nascido no 
exterior que resolve optar pela nacionalidade brasileira, após a prática de 
crime ocorrida no exterior. Em seguida, responda à questão abaixo: 
O filho de brasileiro nascido no exterior, nesse caso, será extraditado? Por 
quê? 
 
Pedro, filho de brasileiros, nasceu na Alemanha em 1989 e lá cometeu um 
crime de tráfico ilícito de entorpecentes, no ano de 2012. Em decorrência de 
instauração de processo investigatório criminal contra ele, resolve no mesmo 
ano vir, pela primeira vez, ao Brasil. Aqui conheceu um advogado que o 
orientou a optar pela nacionalidade brasileira na Justiça Federal, de acordo 
com os artigos 12, I, “c” e 109, X da CRFB/88. Entretanto, antes de se 
concluir o processo de opção de nacionalidade, o governo alemão solicita ao 
Brasil a extradição de Pedro pelo crime cometido. 
 
Introdução 
A Nacionalidade é tema vasto e de grande repercussão dentro do 
ordenamento jurídico pátrio e do Direito Internacional. Desta forma, o estudo 
sobre as espécies de nacionalidade torna-se de extrema relevância jurídica e 
social, pois através da sua definição, distinguindo nacional do estrangeiro, 
pode-se concluir pelo gozo dos direitos políticos e o acesso a determinadas 
funções públicas, além de viabilizar ou não a expulsão e a extradição. 
 
Além disso, é importante ressaltar que a Constituição da República Federativa 
do Brasil, de 1988, tratou do tema no Título II, Dos Direitos e Garantias 
Fundamentais, em seu art. 12 e parágrafos, erigindo a matéria à categoria de 
 
 53 
direito fundamental. Por fim, faz-se necessário o estudo das hipóteses de 
perda da nacionalidade originária, bem como da reaquisição da nacionalidade 
perdida. 
 
Sendo assim, esta aula tem como objetivo: 
1. Conhecer os aspectos gerais e constitucionais da nacionalidade no 
Direito brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 54 
Conteúdo 
Conceito de Nacionalidade 
Compreende-se por nacionalidade o vínculo jurídico-político que se estabelece 
entre o indivíduo e o Estado e que permite fazer a distinção entre o nacional 
e o estrangeiro para determinados fins. A noção de Estado estabelece uma 
correspondência à ideia de nacionalidade. A nacionalidade associa-se ao ser 
humano, direito garantido pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
 
Neste sentido, a Declaração Universal dos Direitos do Homem proclama em 
seu artigo XV que todo homem tem direito a uma nacionalidade, e que 
ninguém será arbitrariamente privado dela 8 , nem do direito de mudar de 
nacionalidade. 
 
A Convenção Americana sobre os Direitos Humanos de 1969 complementa 
em seu artigo 20 que “toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em 
cujo território houver nascido se não tiver direito a outra”. 
A Constituição Federal de 1988 reservou capítulo próprio do Título II sobre o 
instituto da nacionalidade, representando uma espécie do gênero de direitos 
fundamentais, ao lado dos direitos individuais e coletivos, direitos políticos e 
direitos sociais. 
 
Dentro desse raciocínio, objetiva-se conceituar os tipos de aquisição de 
nacionalidade previstos no ordenamento jurídico pátrio, diferenciando-se, 
portanto, do Direito Internacional. 
 
A matéria é relevante tanto para o Direito Interno como para o Direito 
Internacional, pois a não definição correta de um nacional pode levar a não 
 
8Dolinger, Jacob. Direito Internacional Privado. apud Ramella, Pablo. Nacionalidad y Ciudadania. 
Buenos Aires, EdicionesDepalma, 1978. A história relata que em 1921 a União Soviética privou de sua 
nacionalidade os refugiados russos que se encontravam no estrangeiro. Mais adiante, por decreto de 
1941, a Alemanha também destituiu a nacionalidade de judeus de origem alemã que se radicaram no 
estrangeiro durante a 2ª Guerra Mundial. 
 
 55 
fruição dos direitos políticos e o acesso a determinadas funções públicas e a 
possibilidade de ser submetido à extradição e à expulsão. 
 
Nacionalidade e sua Relação com outros Ramos do Direito 
A nacionalidade é um tema tratado por diversos ramos do direito, 
especialmente pelo Direito Constitucional. Com efeito, a questão da definição 
da nacionalidade tocará a vários ramos do direito, como, por exemplo, o 
direito internacional privado e direito civil quanto à sucessão de bens de 
estrangeiro, observada a lei brasileira em benefício do cônjuge e filhos 
brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujos 
(§1°, art. 10, da LICC); o direito penal, no tocante a aplicação da lei brasileira 
quando o crime for praticado por brasileiro ou quando for cometido por 
estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7º, II, ‘b’ e § 3°, do CP); o 
direito processual quanto às imunidades dos diplomatas e Chefes de Estado; 
o direito empresarial em relação à nacionalidade das pessoas jurídicas. 
 
Há que se considerar também a proximidade do conceito de nacionalidade 
com o de povo, nação e cidadania, sendo certo que estão intimamente 
ligados, e sem os quais o próprio conceito de nacionalidade não poderia 
subsistir. 
 
O conceito de povo está ligado ao conjunto de pessoas que fazem parte do 
Estado, isto é, o seu elemento humano. Assim, diferencia-se de população, 
termo mais abrangente, cujo caráter é predominantemente demográfico, 
sendo o conjunto de residentes no território, seja nacionais ou estrangeiros, 
bem como apátridas. 
 
Nação é o conjunto de pessoas nascidas em um território, ligadas pelo 
mesmo idioma, cultura, tradições e costumes, isto é, comunidade de assento 
cultural, caracterizada por tradições, costumes, língua, interesses, origem, e 
histórias comuns, e provida da comunhão de ideias coletivas e aspirações de 
 
 56 
futuro 9 . Está intimamente vinculada ao conceito de povo, consistente no 
aglomerado de indivíduos ou comunidades, que se ligam a valores culturais e 
morais no território em que vivem. 
 
A cidadania vincula-se ao gozo dos direitos políticos em um Estado. A 
confusão entre os conceitos de nacionalidade e cidadania parece advir dos 
norte-americanos10,

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