Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SISTEMAS DE PRODUÇÃO Jesmael Grams Manufatura enxuta (lean manufacturing) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir a origem e conceito da manufatura enxuta. � Reconhecer os princípios para implementação de uma metodologia enxuta. � Descrever o sistema enxuto (lean system), o método 5S e o poka-yoke (à prova de erros). Introdução Ao longo dos anos, o método de produção industrial passou por várias transformações. O avanço da tecnologia, o aprimoramento de pessoas, os fluxos produtivos e outros tantos fatores colaboraram para o progresso como um todo. Processos, pessoas e metodologias fizeram com que pro- dutos de boa qualidade pudessem ser comprados por um menor preço. A indústria aprendeu a se reinventar com base na necessidade e desa- fios em situações adversas, como guerras, crises financeiras e momentos em que a própria concorrência forçava a sua evolução natural. Uma das principais metodologias que provocaram essa evolução industrial foi a manufatura enxuta (em inglês: lean manufacturing), que teve suas raízes no sistema Toyota de produção. Neste capítulo, você vai estudar as origens e o conceito da manufatura enxuta. Além disso, analisará os princípios para implementação de uma metodologia enxuta e aprenderá sobre o sistema enxuto (lean system), o método 5S e a metodologia poka-yoke (à prova de erros). Origem e conceito da manufatura enxuta De acordo com Andrade (2006), o Sistema Toyota de Produção (STP) foi criado pela montadora japonesa Toyota em meados de 1940 por Taiichi Ohno e Eiji Toyoda. Como o STP revolucionou a produção industrial no mundo todo, os anos se passaram e a metodologia Toyota passou por atualizações e incrementos. Manteve, porém, sua essência e princípios iniciais. Estas trans- formações resultaram em novas vertentes e nomenclaturas, originando assim, a metodologia enxuta. A expressão manufatura enxuta (lean manufacturing) foi elaborada após uma pesquisa empresarial para denominar aqueles trabalhadores que desem- penhavam suas atividades com o objetivo máximo de “fazer sempre mais com menos”. O precursor dessa pesquisa foi o Massachusetts Institute of Technology (MIT), tendo como resultado em 1992 o livro A máquina que mudou o mundo, de Womack e Jones, cuja distribuição disseminou o pensamento enxuto ao redor do mundo (WOMACK; JONES; ROOS, 1996). A manufatura enxuta também trabalha, assim como o Sistema Toyota de Produção, com o objetivo maior de eliminação de perdas e redução de custos. Na época da criação do STP, a Toyota passava por um período pós-guerra marcado por muitas dificuldades, fazendo com que seu foco estivesse na redução dos custos e otimização dos estoques, evitando perdas. Sabendo que as perdas eram de certa forma inevitáveis, a Toyota propôs mapear os desperdícios, estabelecendo categorias que ficaram conhecidas como “as sete grandes perdas”. De acordo com Shingo (1996), são elas: a) superprodução; b) espera; c) transporte; d) processamento; e) movimentação; f) produtos defeituosos; g) desperdícios de estoques. Definida essa abordagem, a Toyota começou a desenvolver ferramentas para combater o desperdício. Com o passar do tempo, a montadora desenvolveu uma série de conceitos, essas ferramentas foram agrupadas no pensamento Toyota, que foi crucial para o pensamento enxuto. Manufatura enxuta (lean manufacturing)2 O conceito de manufatura enxuta se relaciona diretamente com o Sistema Toyota de Produção adicionando algumas premissas à sua filosofia. Seu con- ceito abrange todas as ações para entregar o máximo de valor ao cliente com a menor quantidade de recursos, valorizando também as pessoas ligadas ao processo produtivo. Dessa forma, a metodologia enxuta, além de ter o objetivo de “fazer mais com menos”, desafia as pessoas envolvidas no trabalho para que se tornem profissionais melhores. Figura 1. Pensamento lean: uma única lâmpada ilumina mais que cinco lâmpadas. Fonte: Planet Lean (c2018). Os cinco princípios da metodologia enxuta A metodologia enxuta conta com uma série de princípios e ferramentas de aplicação. Para Womack e Jones (2003), a aplicação desses princípios resul- tará no ciclo chamado “estado enxuto”. O estado enxuto é originado pela otimização do processo e pela eliminação de perdas. Em suma, os produtos serão desenvolvidos com o mínimo de custos, material, e esforço humano. Vejamos abaixo cada um desses princípios detalhadamente de acordo com Machado (2006). 3Manufatura enxuta (lean manufacturing) O princípio do valor Conhecer as especificações, necessidades e desejos do cliente é primordial. O princípio do valor trabalha na premissa que, se você fabricou um produto que não atende a expectativa do cliente, isso é contabilizado como desperdício. Trabalhar o valor do produto para saciar a necessidade e os desejos do seu cliente é fundamental para a sua marca, para a satisfação do cliente e a sua fidelização. De forma resumida, o objetivo é de ouvir o cliente e produzir um produto que o satisfaça. O princípio do fluxo de valor É o conjunto de atividades para a elaboração de um produto, independente qual for. O princípio do fluxo de valor trabalha de forma sistemática com solução de problemas, gerenciamento de informação e transformação da matéria prima em produto final. O objetivo desse princípio é o mapeamento total de todo fluxo produtivo, descobrindo atividades no meio do processo que geram ou não valor. O princípio do fluxo Após mapear o fluxo de valor e eliminar as atividades que de fato não agregam, a próxima etapa é a de potencializar o rendimento das atividades que criam valor. Essa etapa é desafiadora, pois exige mudanças de pensamento. O ponto chave desse princípio é a inovação nas funções dos trabalhadores, criando maior valor em seus produtos pelo fluxo. Pelo fluxo, a empresa inteira pode remodelar sua forma de trabalho. O objetivo dessa etapa é de criar um fluxo contínuo para que os clientes recebam seus produtos de forma instantânea, com valor agregado e sem desperdícios na linha de produção, gerando economia à empresa. Manufatura enxuta (lean manufacturing)4 O princípio do sistema puxado O pensamento enxuto não só mede valores e necessidades dos clientes, mas também como e quando o produto chega ao cliente. Esse princípio notoriamente se relaciona ao sistema puxado do STP, que se resume em o cliente puxar o produto da empresa quando for necessário. Como os princípios trabalham de forma conjunta, é necessário que o princípio do fluxo seja realizado para que o sistema puxado tenha êxito. Vale ressaltar que o kanban (cartão) e o JIT (Just-In-Time) são importantes nesse fluxo. O princípio da perfeição O último princípio é a busca pela perfeição. Baseia-se na metodologia da melhoria contínua (kaizen) e melhoria radical (kaikaku) no fluxo de valor. Vale ressaltar que os quatro princípios anteriores trabalham de forma conjunta e o quinto princípio funciona como uma “meta traçada”, mostrando os resultados efetivos e fazendo com que o trabalho dos princípios leve ao estágio final, que é a perfeição. Figura 2. Fluxograma da aplicação dos princípios da manufatura enxuta (lean). Fonte: Lean it (2017). Perseguir a PERFEIÇÃO Especi�car VALOR Identi�car e mapear o FLUXO DE VALOR Criar FLUO CONTÍNUO Responder a “puxada” do cliente PRODUÇÃO PUXADA MAXIMIZAR O VALOR 5Manufatura enxuta (lean manufacturing) Fique atento com relação aos termos em inglês e japonês que se encontram nesse capítulo. Sistema enxuto (lean system) Um sistema enxuto trabalha de forma conjunta com todos os princípios men- cionados, e também, com o Método 5S e a metodologia poka yoke (à prova de erros). De acordo com Cardoza e Carpinetti (2005), a base de funcionamento do Sistema Enxuto é o Just-In-Time, que representa o tempo e quantidade propícios (o que for necessário no tempo exato) e a autonomação (automação com toque humano). No sistema de produção enxutoum dos objetivos é produzir e receber lotes pequenos de produtos e insumos. A lógica é que uma área específica só produza para a próxima etapa quando solicitada ou avisada de que os componentes já foram utilizados. Uma empresa que pensa em adotar a metodologia enxuta, resultando em um sistema enxuto completo, deve ter também ferramentas que permitam analisar os dados com exatidão. Um exemplo de ferramenta de análise é o sistema de avaliação de desempenho, conhecido também como balanced scoreboard. Segundo Ohno (1997), um dos maiores problemas em uma linha fabril é que cada área tem sua visão, e a fábrica não consegue andar com um pensamento único. Isso acaba trazendo complicações ao processo de tomada de decisão. Além disso, pode provocar o surgimento de gargalos na produção, e tornar mais difícil a sua identificação e tratamento. Frente a este cenário, o autor defende a implementação de um sistema enxuto como forma de mudar a mentalidade dos trabalhadores, que devem “respirar” o pensamento enxuto e aplicá-lo ao dia a dia, colaborando assim para a mudança do cenário apresentado. A imagem abaixo mostra um comparativo entre o sistema enxuto (repre- sentado pela Toyota) e um sistema de produção tradicional (representado pela Ford), sinalizando os principais benefícios derivados do primeiro. Manufatura enxuta (lean manufacturing)6 Fonte: Adaptado de Shingo (1996). Característica Ford Toyota Benefício Fluxo de peças unitárias Somente na montagem Interligação do processo e montagem � Ciclos curtos � Inventários reduzidos de produtos acabados � Estoque intermediário pequeno Tamanho do lote Grande Pequeno � Redução de estoque intermediário � Produção contra pedido Fluxo do produto Produto único (poucos modelos) Produto misto (muitos modelos) � Redução de estoque intermediário � Ajustes para mudanças � Promoção do equilíbrio de carga Quadro 1. Comparativo entre um sitema enxuto e um sistema com produção tradicional Para saber mais sobre a origem da manufatura enxuta e seus princípios e sistema, leia A máquina que mudou o mundo de Womack, Jones e Roos (1996). Para que a metodologia enxuta seja aplicada com sucesso, é necessário um conjunto de ferramentas que atuem de forma integrada com os cinco princípios já apresentados. Entre estas ferramentas, cabe destacar o sistema 5S e a metodologia poka yoke, que você conhecerá mais a seguir. 7Manufatura enxuta (lean manufacturing) Método 5S O método 5Sfoi o alicerce de implementação da qualidade geral nas empresas, sendo considerado como base de sustentação da manufatura enxuta. Surgiu na década de 1960 no Japão e foi responsável pela recuperação de empresas japonesas no período, despertando interesse do próprio governo japonês. O ponto chave do método 5S é a eliminação do desperdício em cinco fases, que são: 1. Seiri (descarte) – Tenha somente a quantidade certa. Cada trabalhador deve saber diferenciar o que é útil ou não. Descartar o que é desnecessário resulta em maior concentração e eliminação da perda de tempo com coisas que não interessam no momento. O seiri tem como vantagens a redução de necessidades de estoques, otimização da ocupação do espaço e do transporte interno. 2. Seiton (arrumação) – Cada coisa no seu devido lugar. O trabalhador deve saber também que, além de ter somente o necessário para suas funções, seus instrumentos de trabalho devem estar em seu devido lugar e próximo do seu local de trabalho, tendo como vantagem a acessibilidade. 3. Seiso (limpeza) – Todos devem ter a consciência da importância de um ambiente limpo. O seiso preza pelo bom ambiente de trabalho e pela boa imagem da em- presa, além de ter uma vantagem muito importante que é a identificação de pontos de contaminação, como invasão de insetos e outros agentes que podem prejudicar a limpeza do ambiente. 4. Seiketsu (padronização) – Repetição regular de todas as fases anteriores como práticas padrão. Cumpridas todas as fases anteriores, deve ser elaborada uma rotina para que as mesmas ocorram de forma constante. A repetição regular e sistemática faz com que os anteriores tenham êxito e a empresa sempre permaneça com a sua qualidade interna em níveis adequados. Manufatura enxuta (lean manufacturing)8 5. Shitsuke (disciplina) – Que as atividades anteriores se tornem sistêmicas e regulares. Essa fase está relacionada a manutenção sistemática, permitindo que o 5Sse torne um hábito com o passar do tempo. O shitsuke tem maior eficácia quando interligado a outros pensamentos do sistema enxuto, como a utilização dos princípios acima abordados. Um fator importante para o sucesso do 5Sé o estabelecimento de uma equipe de auditoria, com a finalidade de manter a constância do modelo. Sabe-se que toda transformação exige sacrifícios, e a criação de um hábito pode levar muito tempo; assim, uma equipe que audite os setores da empresa é fundamental no início e no andamento do trabalho. Figura 3. Utilização do seiri (descarte): o que for desnecessário deve ser removido do local de trabalho e separado em local adequado para descarte. Fonte: Nortegubisian (2016). Quer expandir seus conhecimentos no assunto? Assista ao vídeo sobre pensamento enxuto em: https://goo.gl/SAhhTM 9Manufatura enxuta (lean manufacturing) Poka yoke (à prova de erros) Segundo Shingo (1996), poka yoke consiste em um mecanismo para detecção de anormalidades no fluxo produtivo, que, interligado à essa operação, impede a execução irregular de uma atividade operante. O poka yoke é uma maneira elaborada de bloquear os principais percalços que podem acontecer no meio de uma produção, podendo até antecipar e detectar possíveis defeitos no produto final. Dessa forma, o percentual de produtos defeituosos a serem entregues aos clientes diminui bruscamente, e os princípio de valor de um sistema enxuto se mantém forte na empresa. Na própria Toyota, os dispositivos poka yoke são utilizados para detectar a raiz de defeitos que tiveram certa recorrência nos dados levantados, va- lendo ressaltar que os próprios dispositivos também são auto avaliados com frequência, para que o próprio nome (à prova de erros) seja válido. De acordo com Ohno (1997), os defeitos ocorrentes são imperfeições, e imperfeições são resultados de erros passados, como por exemplo, simples descuidos por parte do trabalhador de estágios anteriores. Se considerarmos uma montadora — que trabalha em linha contínua — caso um trabalhador venha a cometer um erro em estágio inicial da linha (como aparafusar uma peça de forma errada ou riscar a lataria), e um trabalhador do estágio seguinte cometer outro (como encaixar o farol de forma errônea), e estes erros passarem des- percebidos, como você imagina que ficaria a qualidade do produto final? Certamente estaria bastante comprometida. O mecanismo poka yoke trabalha de duas maneiras: a primeira se relaciona com o método de controle com o qual o sistema é ativado, parando a linha de processamento de acordo com a sua apuração. A segunda se relaciona com a advertência do operador por meio de sinal sonoro e iluminação. Assim, o mecanismo poka yoke se interliga com o conceito da autonomação ( jidoka), elaborado pelo Sistema Toyota de Produção. Manufatura enxuta (lean manufacturing)10 Figura 4. Imagem ilustrativa do método poka yoke: prevenção de pequenos defeitos. Fonte: PDCA Home (2013). Lean Seis Sigma No contexto da manufatura enxuta, a busca pelo aumento da qualidade e pela redução do desperdício, perdas e custos são demandas constantes, que fomentam o desenvolvimento das metodologias existentes e até mesmo o surgimento de novas metodologias adaptadas a novos cenários. Muitas vezes, ocorre também a utilização conjunta de filosofias, metodologias e programas, formando um novo modelo, como é o caso do lean Seis Sigma. O lean Seis Sigma surgiu tendo como pano de fundo o contexto da gestão da qualidade e é formado por um conjunto de ações planejadas e executadas em todoo ciclo produtivo. Essas ações são implantadas nas organizações com a finalidade de garantir a qualidade requerida e planejada, visando garantir a maior satisfação de seus clientes. Atrelado ao conceito de gestão da qualidade está a melhoria contínua (MC). Os programas de MC surgiram a partir de sistemas que se concentravam na linha de produção industrial para reduzir o desperdício e melhorar a qualidade do produto. A partir daí, evoluíram e se transformaram em programas que podem ser aplicados nos mais diversos aspectos de uma organização, do processo ao produto. Entre as iniciativas mais utilizadas pelas organizações na busca pela melhoria contínua da qualidade estão a gestão da qualidade total (também denominada TQM, do inglês total quality management), lean manufacturing, o Seis Sigma e o próprio lean Seis Sigma. Essas iniciativas estão intimamente relacionadas, como é o caso do Seis Sigma, que foi originalmente desenvolvido como parte da TQM (ALVES FILHO et al., 2019; JACOBS; CHASE, 2012). 11Manufatura enxuta (lean manufacturing) Essas quatro iniciativas formam um conjunto chamado mecanismos de apoio da melhoria contínua, que tanto apoiam quanto difundem a MC. O Quadro 2 apresenta um breve resumo das características principais de cada mecanismo, incluindo a informação sobre o ano de surgimento, objetivos, princípios e ferramentas utilizadas. Programas Início Objetivos Princípios Métodos e ferramentas TQM 1950 Melhorar e uniformizar o processo Fazer com que todos estejam comprometidos com a qualidade e o foco no cliente PDCA, ferramentas estatísticas e ferramentas gerenciais Lean manu- facturing 1960 Fornecer alto valor para o cliente e reduzir desperdícios Usar as melhores práticas e proces- sos para aprimorar a eficiência, elimi- nar desperdícios, aumentar o foco no cliente, reduzir custos e acelerar e flexibilizar os processos Mapa de fluxo de valor, 5S, poka-yoke, redução de set up, JIT, kanban, padronização do trabalho, entre outros. Seis Sigma 1980 Aplicar a melhoria de produtos e processos e a minimização da variação Diminuir a variabilidade e erros do processo DMAIC, controle estatístico do processo e ferramentas estatísticas (ANOVA, teste de hipótese, entre outras) Quadro 2. Resumo dos principais programas de suporte (Continua) Manufatura enxuta (lean manufacturing)12 O objetivo central das iniciativas voltadas à MC é essencialmente o mesmo: minimizar o desperdício e utilizar recursos por meio de melhorias, aumen- tando a satisfação do cliente e os resultados financeiros. Contudo, ainda que compartilhem o mesmo objetivo central, possuem definições diferentes, como você verá a seguir (ALVES FILHO et al., 2019; JACOBS; CHASE, 2012; SLACK; BRANDON-JONES; JOHNSTON, 2015). A gestão da qualidade total (TQM) é uma abordagem destinada à pro- moção de mudança organizacional que enfatiza a criação de um ambiente favorável a aspectos como inovação e criatividade e ainda promove a ação conjunta de gerentes, colaboradores e clientes, utilizando soluções participa- tivas de solução de problemas. Assim, a TQM pode ser definida como um sistema estruturado que visa criar a ampla participação e um processo de melhoramento contínuo de modo a exceder as expectativas do cliente. Tem como base a ênfase no controle estatístico do processo, que é fundamentado na análise de variâncias e comportamentos amostrais. Para isso, utiliza ferra- mentas como as sete ferramentas do controle da qualidade, as sete ferramentas gerenciais, gestão à vista e benchmarking, além de utilizar princípios como liderança e satisfação do cliente e também ferramentas estratégicas, como o desdobramento da função qualidade e o planejamento estratégico, conjunto esse que cria uma interface entre o nível corporativo e o operacional. Fonte: Adaptado de Alves Filho et al. (2019). Programas Início Objetivos Princípios Métodos e ferramentas Lean Seis Sigma 2000 Reduzir variação, acelerar a produção e reduzir o desperdício Usar as melhores práticas do lean e do Seis Sigma para aumentar a satis- fação do cliente e diminuir os erros Ferramentas usadas no lean manu- facturing e no Seis Sigma Quadro 2. Resumo dos principais programas de suporte (Continuação) 13Manufatura enxuta (lean manufacturing) A filosofia lean manufacturing ou manufatura enxuta visa a geração de valor para o cliente, empregando práticas como 5S, poka-yoke, mapa de fluxo de valor, manutenção preventiva e kanban. A adoção dessa filosofia não requer necessariamente recursos altamente especializados, permitindo que, com algum treinamento, os seus princípios possam ser incorporados pela organização, proporcionando mudanças incrementais e redução de custos. O “pensamento enxuto” por ela proporcionado é focado na redução do desperdício, com o objetivo de diminuir o esforço humano, assim como estoque, tempo para o desenvolvimento de produtos, movimentação, tempo de espera, espaço, de modo a tornar a operação mais flexível na resposta à demanda, ao mesmo tempo que busca a perfeição. Ou seja, uma metodologia de gestão que otimiza custos e reduz o tempo e os desperdícios de uma empresa associada a uma estratégia de negócios voltada essencialmente à satisfação do cliente. Pode-se dizer que a primeira organização a aplicar a manufatura enxuta foi a Toyota, já que a lean manufacturing surgiu a partir do Sistema Toyota de Produção (STP), um sistema integrado de filosofia e práticas de gestão que foi um divisor de águas da indústria (começando pela automobilística), permitindo uma grande evolução em termos de rapidez e qualidade. O STP deu origem a uma estrutura organizacional focada em integrar pessoas com as tecnologias disponíveis no local do trabalho, tendo como principais objetivos a prevenção de falhas e a eliminação do desperdício (em suas diversas formas). Tendo demonstrado sua valia na indústria automobilística, a manufatura enxuta se espalhou ao contexto geral, passando a ser adotado por diversas empresas, dos mais diversos segmentos e portes. Uma delas é a John Deere, multinacional que aplica lean manufacturing com sucesso no setor de produção de equipamento industriais, máquinas e implementos agrícolas. Para alinhar sua produção com os princípios da filosofia lean, a empresa, que é a maior fabricante de produtos agrícolas do mundo, investiu US$ 100 milhões, transformou seus processos e, principalmente, a mentalidade da equipe de engenharia de fabricação, identificando atividades que não agregavam valor e eliminando-as. O lean manufacturing foi usado para monitorar a produção de cada parte do processo produtivo, permitindo que a empresa passasse a não produzir mais do que o necessário e consumisse recursos de forma mais inteligente no processo. Muitos mecanismos de controle de qualidade foram 100% automatizados, o que resultou em mais peças verificadas quanto a defeitos em um período mais curto, com mais produtos fabricados diariamente e oferecidos ao consumidor por um preço menor. Manufatura enxuta (lean manufacturing)14 O programa Seis Sigma (Six Sigma, em inglês) pode ser definido como uma estratégia gerencial disciplinada e altamente quantitativa que possui o objetivo de aumentar a lucratividade das empresas por meio da melhoria de produtos e processos e, como consequência, aumentar a satisfação dos clientes. Para isso a metodologia tem como princípio central a minimização de defeitos a praticamente zero, o que é feito com a utilização do método DMAIC: � define — definir oportunidades; � measure — medir o desempenho; � analize — analisar as oportunidades; � improve — melhor o desempenho; � Control — controlar o desempenho. O Seis Sigma é um programa de melhoria focado na redução de variabilidade nos processos, o que inclui não apenas aqueles voltados à manufatura, mas também aqueles desempenhados nas áreas administrativas da organização, podendo realizar melhorias tanto incrementais (com focona melhoria) quanto radicais (com foco no redesenho de um processo). A letra grega sigma (δ) é usada para indicar o desvio-padrão de um processo, que possui direta relação com a variação apresentada pelo processo e impacta sobre a qualidade do que é produzido por ele. Um sigma de nível 6 indica que o processo gera menos de 4 defeitos a cada milhão de unidades produzidas, resultando em 99,99966% de conformidade, ou seja, defeito quase zero dadas as proporções. Já sigmas de níveis menores que seis indicam que o processo gera mais defeitos e por isso tem menores índices de conformidade: sigma de nível dois, por exemplo, equivale a 308.537 defeitos por milhão de unidades, gerando uma conformidade de 69,15% (RIBEIRO; TEN CATEN, 2012). Sendo assim, no contexto da qualidade total, deseja-se que faixa de especificação de qualquer parte de um produto ou serviço seja de mais ou menos seis desvios-padrão do processo (sigma nível 6); daí a denominação Seis Sigma. 15Manufatura enxuta (lean manufacturing) O Seis Sigma, assim como o poka-yoke, é um método que busca promover o zero defeito, tendo como característica marcante o foco na qualidade. Porém, o caminho utilizado pelo Seis Sigma para atingir este objetivo é a identifi- cação, controle e eliminação da variabilidade nos processos. Assim, o Seis Sigma corresponde a um conjunto de práticas desenvolvidas para melhorar sistematicamente os processos ao eliminar defeitos, considerando-se que um defeito é definido como a não conformidade de um produto ou serviço com suas especificações. Refere-se a um conjunto de filosofias e métodos que as empresas utilizam para atingir o zero defeito em seus processos e produtos, tendo como base a análise estatística, que auxilia a descrição de um processo em termos de sua variabilidade. Um processo que esteja sobre o controle de nível Seis Sigma normalmente não produz mais do que quatro defeitos em cada milhão de unidades. Nesse ponto, observa-se a importância do conceito poka-yoke (à prova de erros), em que os produtos e processos são projetados de forma a eliminar qualquer possibilidade prevista de defeitos. Entre os aspectos mais essenciais para a eficácia do Seis Sigma se desta- cam o comprometimento da gerência com o programa, dada a necessidade da alocação de recursos para sua implementação e manutenção, e a mudança cultural, visto que a implementação da filosofia Seis Sigma requer ajustes na cultura da organização (alinhando-a à filosofia lean) e uma nova atitude por parte de seus integrantes, que devem se manter motivados para lidar com os desafios e o rigor que o programa impõe, especialmente no que diz respeito à coleta e mensuração dos dados dos processos. A metodologia Seis Sigma tornou-se conhecida no fim da década de 1980, quando a Motorola a introduziu, a fim de controlar e melhorar a qualidade, por meio da utilização de ferramentas estatísticas. A empresa estava apresentando um nível de qualidade abaixo do desejado em seus produtos, que apresentavam elevados índices de defeitos. Para mudar esse cenário, foi traçada a meta de melhorar a qualidade em dez vezes dentro de cinco anos. Os executivos da empresa iniciaram então a elaboração de um programa corporativo que permitisse o atingimento da meta, programa mais tarde batizado de Seis Sigma. Partindo de uma metodologia já conhecida — o PDCA (medir, analisar, melhorar e controlar) —, a Motorola iniciou um programa de documentação Manufatura enxuta (lean manufacturing)16 Como forma de enfatizar os elementos das várias abordagens destinadas ao melhoramento das operações, algumas organizações mesclam duas ou mais abordagens para formar modelos híbridos que combinem suas melhores características. Uma das mais conhecidas dessas combinações é o lean Seis Sigma (também denominado Lean Six Sigma, Seis Sigma enxuto ou Lean- -Sigma). Da combinação do lean manufacturing com o Seis Sigma, surgiu a metodologia do lean Seis Sigma, que consiste na união dos métodos “enxutos” e dos conceitos Seis Sigma: mescla a redução de desperdício da filosofia enxuta com o rigor decorrente do controle da variação de Seis Sigma. Tal combinação ajuda as organizações a maximizarem seu potencial de melhoria, pois no lean Seis Sigma o desperdício pode ser removido de forma rápida: as variações nos processos são percebidas e reduzidas mais facilmente, permitindo focar naquilo que efetivamente representa valor para o cliente e entregar o produto ou serviço com melhor qualidade. Tal condição se torna possível em função de que o lean Seis Sigma combina as ferramentas de implementação e controle de qualidade do Seis Sigma com os conceitos de gestão do lean manufacturing e seu pensamento enxuto. dos processos-chave, alinhamento dos processos com os requisitos fundamentais dos clientes e instalação de sistemas de medição e análise para melhoria contínua dos processos. Com a implementação do programa, a qualidade foi melhorada em cem vezes, ou seja, dez vezes a meta traçada, e a empresa passou a ser reconhecida como referência em qualidade. Com base no sucesso da Motorola, outras empresas passaram a utilizar com êxito o programa e a divulgar enormes ganhos, gerando interesse pela metodologia. O caso de maior notoriedade na aplicação do Seis Sigma foi o da General Eletric (GE), iniciada no final da década de 1990. A implantação da metodologia levou a empresa ao alcance de resultados financeiros expressivos, com ganhos de aproximadamente US$ 2 bilhões após dois anos da implementação. No Brasil, o Seis Sigma foi disseminado a partir de 1997, quando o Grupo Brasmotor introduziu o programa em suas atividades e apurou ganhos de R$ 20 milhões após dois anos. 17Manufatura enxuta (lean manufacturing) O lean Seis Sigma é uma metodologia muito útil no ambiente organizacional, que pode ser aplicada nas mais diversas situações. Atualmente, esses programas e suas ferramentas são utilizadas não somente nas operações de manufatura, mas também em outros diversos processos, como contas a receber, vendas, finanças, sistemas da informação, marketing, jurídico, relações públicas, recursos humanos, pesquisa e desenvolvimento, serviços de proteção ambiental e saúde e segurança de empresas. Pode-se concluir, portanto, que o lean Seis Sigma promove a junção dos objetivos propostos pelo lean “tradicional” e pelo Seis Sigma. Ou seja, no Lean Seis Sigma, busca-se gerar valor para o cliente por meio da qualidade e da redução de desperdícios, mas isso é feito de forma mais ágil, uma vez que o controle e redução da variabilidade nos processos permite identificar e solucionar mais rapidamente as inconsistências que levariam a defeitos. É possível dizer que o que diferencia as duas metodologias (lean e Seis Sigma) é o mesmo que as fazem complementares. Ao mesmo tempo que dividem um objetivo comum, elas se utilizam de meios distintos para identificar as fontes de resíduos processuais e os erros: o lean otimiza o processo enquanto o Seis Sigma elimina desperdícios decorrentes das variações desse processo. Dessa forma, as deficiências da organização são localizadas de maneira mais rápida e eficiente. Tendo isso em conta, percebe-se que a diferença mais básica entre lean “tradicional” e lean Seis Sigma é o fato de que o segundo tem a capacidade de fazer com que os objetivos do primeiro sejam atingidos de forma mais rápida e efetiva. A implementação do lean Seis Sigma A implementação do lean Seis Sigma requer a consideração de algumas recomendações e o cumprimento de algumas etapas. Para começar, é preciso destacar que o Lean Seis Sigma é mais do que uma metodologia de otimiza- ção: é uma forma de pensar. É preciso ainda atenção para evitar que a ânsia por mudança acabe boicotando o projeto: deve-se cuidar para que cada uma das etapas seja efetivamente executada e a seu tempo, sem “pular” nenhuma. A tentativa de apressar o processo ou adaptá-lo demais à empresa pode ser prejudicial ao desempenho já atingido. Além disso, o leanSeis Sigma exige Manufatura enxuta (lean manufacturing)18 a consciência de que todos na empresa têm a capacidade e a responsabilidade de zelar pelo avanço contínuo da organização. Quanto às etapas, a primeira deles, antes mesmo de traçar objetivos e metas, consiste no alinhamento da equipe: para que se possa atingir o resul- tado esperado, é essencial que todos os envolvidos, direta ou indiretamente, entendam a metodologia, para que possam perceber valor no tempo e nos esforços exigidos pelo projeto. Após o estudo aprofundado do método, é feito um diagnóstico inicial, tendo como parâmetro o cenário vigente da empresa, e são traçados objetivos e metas. Neste ponto, é preciso lembrar que a empresa é um organismo, e assim tanto o diagnóstico quanto a implementação do lean Six Sigma deve percorrer todos os seus setores. Com base nesse panorama é que são aplicados os conhecimentos do lean e do Seis Sigma, tomando o cuidado de escolher as técnicas apropriadas para cada necessidade, evitando retrabalho ou até a inadequada interpretação de um problema. Afinal, certos problemas serão mais eficientemente resolvidos com as técnicas de algum dos métodos: em situações menos complexas onde há menor número de variáveis envolvidas, é apropriado um conhecimento mais lean que Seis Sigma, por exemplo. Por fim, com as mudanças já em ação, deve-se proceder com a constante revisão do projeto: esse é o caminho para garantir o sucesso não só no curto como também no longo prazo. Além disso, cabe comentar que a implementação do lean Seis Sigma cos- tuma demandar a utilização combinada de uma série de ferramentas, que formam um conjunto denominado ferramentas da qualidade. Elas consistem em técnicas gráficas específicas bastante úteis na resolução de problemas relativos à qualidade, entre as quais estão fluxograma, cartas de controle, diagrama de causa-efeito (espinha de peixe, ou diagrama de Ishikawa), folhas de verificação, histogramas, gráficos de dispersão e diagrama de Pareto. Para oportunizar a melhor compreensão da metodologia do lean Seis Sigma, nada melhor que a verificação de um caso prático. No artigo “Implantação do lean Seis Sigma em uma indústria de fios têxteis”, publicado na revista digital GEPROS, você pode acompanhar, em detalhes, um exemplo da implantação do lean Seis Sigma em uma organização industrial. 19Manufatura enxuta (lean manufacturing) ANDRADE, G. J. P. O. Um método de diagnóstico do potencial de aplicação da ma- nufatura enxuta na indústria têxtil. 2006. 297 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2006. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/88970/236945. pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 24 jan. 2018. ALVES FILHO, A. G. et al. Gestão da produção e operações: abordagem integrada. São Paulo: Atlas, 2019. CARDOZA, E.; CARPINETTI, L. C. R. Indicadores de desempenho para o sistema de produção enxuto. Revista Produção, v. 5, n. 2, 2005. Disponível em: <https://produca- oonline.org.br/rpo/article/viewFile/338/433>. Acesso em: 24 jan. 2018. JACOBS, F. R.; CHASE, R. B. Administração de operações e da cadeia de suprimentos. 13. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. LEAN IT. Lean IT ou TI enxuta! [S.l.]: Unicamp, 2017. Disponível em: <http://www. ft.unicamp.br/liag/leanit/lean-it/>. Acesso em: 24 jan. 2018. MACHADO, M. C. Princípios enxutos no processo de desenvolvimento de produtos: pro- posta de uma metodologia para implementação. 2006. 247 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: <http:// www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-19092006-105948/en.php>. Acesso em: 24 jan. 2018. MUNIZ, J. Organização Industrial: aula 03: pensamento enxuto: particularidades brasileiras. São lPaulo: UNIVESP, 2017. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=4SWGkY13E3c>. Acesso em: 24 jan. 2018. 1 vídeo (31 min.), son., color. NORTEGUBISIAN. Implantação do programa de melhoria 5S. Campinas: Nortegubisian, 2016. Disponível em: <http://nortegubisian.com.br/consultoria/gestao-de-operacoes- -e-servicos/implantacao-do-programa-de-melhoria-5s/>. Acesso em: 24 jan. 2018. OHNO, T. O sistema Toyota de produção: além da produção em larga escala. Porto Alegre: Bookman, 1997. PDCA HOME. Poka yoke: a method to create a safe design. [S.l.]: PDCA Home, 2013. Disponível em: <https://pdcahome.com/english/124/poka-yoke-a-method-to-create- -a-safe-design/>. Acesso em: 24 jan. 2018. PLANET LEAN. Five lean practitioners answer the same question #7. [S.l.]: Planet Lean, c2018. Disponível em: <http://planet-lean.com/five-lean-practitioners-answer-the- -same-question-7>. Acesso em: 24 jan. 2018. RIBEIRO, J. L. D.; TEN CATEN, C. S. Controle estatístico do processo: cartas de controle para variáveis, cartas de controle para atributos, função de perda quadrática, análise de sistemas de medição. Porto Alegre: Fundação Empresa Escola de Engenharia da UFRGS, 2012. Manufatura enxuta (lean manufacturing)20 SHINGO, S. O sistema Toyota de produção: do ponto de vista da engenharia de pro- dução. Porto Alegre: Bookman, 1996. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. WOMACK, J. P; JONES, D. T. Lean thinking: banish waste and create wealth in your coroporation. New York: Free Press, 2003. WOMACK, J. P; JONES, D. T.; ROOS, D. A máquina que mudou o mundo. Campus: Rio de Janeiro, 1996. Leituras recomendadas FELTRIN, J. A.; HORITA, R. Y. O sistema Toyota de produção e o balanced scorecard. In: SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO UNISALESIANO, 5., 2015, Lins. Anais... Lins: Unisalesiano, 2015. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/simposio2015/publicado/ artigo0185.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018. FERREIRA, F. P. Análise da implantação de um sistema de manufatura enxuta em uma em- presa de autopeças. 2004. 178 f. Dissertação (Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional) – Universidade de Taubaté, Taubaté, 2004. Disponível em: <http://www. ppga.com.br/mestrado/2004/ferreira-fernando_pereira.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2018. RAMOS, E. M. L. S. ; ALMEIDA, S. S.; ARAÚJO, A. R. Controle estatístico da qualidade. Porto Alegre: Bookman, 2013. SHINGO, S. Sistemas de troca rápida de ferramentas: uma revolução nos sistemas pro- dutivos. Porto Alegre: Bookman, 2000. 21Manufatura enxuta (lean manufacturing) DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE COM METODOLOGIAS ÁGEIS Fabrício Leonard Leopoldino Lean software development (LSD) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Explicar a filosofia lean da Toyota e suas origens. Discutir os princípios da metodologia lean software development (LSD). Demonstrar o uso da metodologia lean no desenvolvimento de software. Introdução Em todo o mundo, gestores estão mudando as formas de gerenciar as suas empresas, com o objetivo de sobreviver em um ambiente cada vez mais competitivo, desde a produção de vassouras até a produção de naves espaciais. Se observarmos ao nosso redor, poderemos perceber diversas mudanças, principalmente, nos grandes centros comerciais, onde antes eram abarrotados de produtos e hoje muitos têm poucos produtos em suas prateleiras ou em seus estoques locais e, em diversas situações, quando buscamos por um determinado produto, somos direcionados aos seus portais na internet. E, com isso, a forma de produzir software também vem mudando, pois esse também é um produto que precisa ser desenvolvido. Com o objetivo de auxiliar nesse processo de mudança, equipes de desenvolvimento estão adotando metodologias que contribuem para o enfrentamento de imprevistos durante o processo de desenvol- vimento de um software, auxiliando o processo de gestão de projetos, que estimula a inspeção e os ajustes frequentes; essas metodologias são conhecidas como ágeis. As metodologias ágeis estimulam as atividades de uma equipe de desenvolvimento, a comunicação,a auto-organização, a atenção focada no cliente e, o melhor de tudo, que cada entrega deve ter valor, e não apenas entregar por entregar. Neste capítulo, estudaremos o sistema lean de produção Toyota, o seu histórico e as suas características, a metodologia lean aplicada ao desenvolvimento de software, os seus princípios básicos, como aplicar a metodologia lean no processo de desenvolvimento de software e a meto- dologia de treinamento para desenvolvimento de software Coding Dojo. 1 Sistema Toyota de Produção Com a necessidade de busca por melhores resultados, a palavra redução vem sendo incluída no dicionário de muitas pessoas ao redor do mundo. É nesse ponto que o Sistema Toyota de Produção, criado entre 1947 e 1975, no qual a sua base consiste na absoluta eliminação do desperdício no processo de produção, tem dois pontos como itens essenciais ao sistema (OHNO, 1988). Just-in-time consiste no processo em que somente as partes necessárias para a montagem correta de um produto são utilizadas, sem a necessidade de fazer estoque de tais partes. Como exemplo, vamos supor que queremos fazer um bolo e a receita pede apenas três ovos. Nessa situação, não é necessário comprar quatro ou mais ovos, sendo que o quarto ovo indica desperdício para a produção desse bolo. Mas leve em conta que para isso funcionar os três ovos devem estar perfeitos. Autonomação consiste no processo de automação com um toque humano, no qual a máquina é acoplada a um dispositivo de parada automática, e quando algum problema é detectado, a máquina para de funcionar, evitando, dessa forma, a produção de produtos defeituosos. Esse sistema recebe o nome de jidoka (controle autônomo de prevenção de defeitos) (POPPENDIECK; PO- PPENDIECK, 2010). O criador desse sistema foi o engenheiro de produção Taiichi Ohno e, segundo ele, o Sistema Toyota de produção não é apenas um sistema de pro- dução, mas um sistema gerencial adaptado à era atual de mercados globais e de sistemas de computadores de informações de alto nível (OHNO, 1988). No Sistema Toyota de Produção, a habilidade individual e o trabalho em equipe são bem valorizados. Buscando uma relação prática com os pilares do sistema just-in-time e da autonomação, podemos fazer uma analogia com uma equipe de desenvolvimento de software ágil, na qual a autonomação corresponde à habilidade e ao talento individual que cada desenvolvedor tem, ao passo que o just-in-time corresponde ao trabalho da equipe envolvida para estabelecer um objetivo comum preestabelecido. Lean software development (LSD)2 Taiichi Ohno nasceu em 12 de fevereiro de 1912, em Dalian, China, e depois frequentou a Escola Técnica de Nagoya. Após a formatura, ele começou a trabalhar na Toyoda Spinning e Automatic Loom Works, uma das primeiras empresas da família Toyoda. Esta família realizou um concurso para criar um novo logotipo para a empresa e o design vencedor usou a palavra Toyota — com o “t” no lugar do “d” — assim nasceu a Toyota Motor Company. Em 1943, Ohno era o engenheiro de produção da Toyota Motor Company. Ele subiu rapidamente entre as fileiras da Toyota. Em 1949, tornou-se gerente de oficina de máquinas e progrediu como diretor em 1954, diretor gerente em 1964, diretor gerente sênior em 1970 e vice-presidente executivo em 1975 (OHNO, 1988). No Sistema Toyota de Produção, o principal objetivo é reduzir custos e, consequentemente, menos custos geram maiores lucros ou podem ser compar- tilhados com os clientes, oferecendo produtos com melhores preços. Mas, para conseguir essa redução, é necessário um sistema de gestão que desenvolva a habilidade humana até a sua mais plena capacidade de produção para melhorar a criatividade e a eficácia na utilização das instalações e dos equipamentos, com o objetivo de eliminar todo o desperdício (OHNO, 1988). Durante o desenvolvimento do Sistema Toyota de Produção, Taiichi Ohno identificou o que ele chamou de “os sete desperdícios” (KEMP, 2018), listados a seguir: 1. tempo de espera sem valor agregado; 2. superprodução — fazendo demais; 3. processamento excessivo ou adição de atividades sem valor; 4. transporte desnecessário; 5. movimentos ou movimentos excessivos; 6. inventário; 7. baixa qualidade e defeitos. 3Lean software development (LSD) Em setembro de 2006, o então diretor sênior de engenharia da Corbis (empresa fundada por Bill Gates), David J. Anderson, decide projetar um sistema kanban que substituiria a então abordagem existente para a atualização de aplicativos baseado no kanban criado pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno (BERNARDO, 2014). O Sistema Toyota de Produção é regido pelas quatro regras implícitas (MARTINS; LAUGENI, 2015) listadas a seguir. Todo trabalho deve ser altamente especificado no seu conteúdo, se- quência, tempo e resultado. Toda relação cliente-fornecedor (interno e externo) deve ser direta, com um canal definido e claro para enviar pedidos e receber respostas. O fluxo de trabalho e processo para todos os produtos e serviços deve ser simples e direto. Qualquer melhoria deve ser feita pelo método científico, sob a coorde- nação de um orientador e no nível mais baixo da organização. O Sistema Toyota de Produção passou a ser chamado de lean production (produção enxuta) e muitas empresas buscaram aplicar essa metodologia; algumas sem sucesso por acharem a metodologia contraintuitiva e outras com grande sucesso. Os princípios pregados pela metodologia lean (enxuta) foram adotados para diversas áreas, como as cadeias de fornecimento, o desenvolvimento de produtos e o desenvolvimento de software. 2 Lean software development Uma metodologia de desenvolvimento de software é um conjunto de atividades que auxiliam no desenvolvimento de um software, em que o resultado dessa atividade é um produto que refl ete a forma como o processo foi conduzido (KOSCIANSKI; SOARES, 2007). As equipes de desenvolvimento devem se preocupar em entregar um software de qualidade no menor tempo possível. Para Sommerville (2011), o processo de produção de software acontece de diferentes formas, seja para novos ou para os já em desenvolvimento, mas Lean software development (LSD)4 sempre as fases de análise de requisitos, projeto, implementação e testes devem estar incluídas (Figura 1). Figura 1. Fases tradicionais de desenvolvimento do ciclo de vida do software. Fonte: Brookshear (2013, p. 267). Uma metodologia de desenvolvimento de software ágil consiste na rea- lização das atividades de levantamento de requisitos, planejamento, projeto, implementação e testes, de fabricação rápida por meio de uma série de incre- mentos de funcionalidades, interações de curtos espaços de tempo e entregas aprovadas pelo cliente. Esse tipo de metodologia é utilizado para produzir, rapidamente, software que entreguem valor ao cliente. Quando se deseja utilizar métodos ágeis no desenvolvimento de um produto de software, a equipe deve ter em mente que o software deverá entregar um software de qualidade no menor tempo possível, reduzindo a burocracia por meio de poucos artefatos e de iterações de execução de atividade em pequenos espaços de tempo, sendo possível realizar as alterações solicitadas pelo cliente, tornando, dessa forma, um projeto leve. Criado no Japão, o Sistema Toyota de Produção, que também pode ser conhecido como lean manufacturing, aplicado na produção de carros, surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial na fábrica da empresa automobilística Toyota. Nessa época, a indústria japonesa tinha uma produtividade muito baixa e sofria com a falta de recursos, o que consequentemente a impedia de adotar o modelo de produção em massa (OHNO, 1988). A filosofia da metodologia 5Lean software development (LSD) lean busca produzir melhor, com redução de recursos e tempo, incorporando maior valor ao cliente. O termo desenvolvimento de software lean originou-se em um livro com o mesmo nome, escrito por Mary Poppendieck e Tom Poppendieck, em 2003. O livro reafirma os princípiosenxutos tradicionais, bem como um conjunto de 22 ferramentas e compara as ferramentas às práticas ágeis correspondentes. O envolvimento dos Poppendiecks na comunidade de desenvolvimento de software agile, incluindo palestras em várias conferências agile, resultou em tais conceitos, sendo mais amplamente aceitos dentro da comunidade agile. A metodologia lean é distribuída em sete princípios (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010): 1. eliminar o desperdício; 2. integrar qualidade; 3. criar conhecimento; 4. adiar comprometimentos; 5. entregar rápido; 6. respeitar as pessoas; 7. otimizar o todo. Princípios são verdades subjacentes que não mudam no tempo ou espaço, enquanto práticas são a aplicação dos princípios a uma situação particular. As práticas podem e devem diferir conforme você muda de um ambiente para o próximo, e elas também mudam à medida que uma situação evolui (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010). Sete princípios do desenvolvimento lean de software Depois de conhecermos a metodologia lean desde o seu histórico até os princípios, fi ca a pergunta: como podemos implementar isso no processo de desenvolvimento de software? Não existe uma fórmula mágica para isso, mas Poppendieck e Poppendieck (2010) sugerem duas formas de começarmos a implementar os princípios do lean: o famoso "aprenda fazendo", no qual esco- lhemos um conjunto de práticas já consolidadas que levarão ao entendimento Lean software development (LSD)6 dos princípios ou o "entenda antes de fazer", em que entendemos primeiro o princípio e, a partir dele, criamos práticas que resolvem melhor o problema dentro de um determinado contexto. Mas, como citado, não existe uma fórmula mágica para isso. Quais das duas abordagens pode apresentar um melhor resultado? Poppendieck e Poppendieck (2010) indicam a junção das duas, pois copiar as práticas sem entender os princípios traz consigo um longo histórico de problemas. Quem nunca tentou copiar uma receita da Internet e no final o produto não condisse com que o estava descrito na receita? No entanto, quando entendemos os princípios, copiar práticas já consolidadas em situações parecidas pode ser o caminho mais eficiente. Então, trazendo isso para o nosso dia a dia, se iniciarmos um novo projeto adotando boas práticas usadas em outro projeto, e as aplicarmos no projeto sem entendermos o porquê aquilo foi feito, certamente dará certo. Além disso, se precisarmos de uma adaptação, é possível que não consigamos fazer. Para podermos implementar o lean com sucesso, precisamos entender um pouco mais sobre os princípios descritos por Poppendieck e Poppendieck (2010). Princípio 1: eliminar o desperdício — no desenvolvimento de software, remova tudo o que não ajuda a entregar valor para o projeto, como, por exemplo, funcionalidades que o usuário não utilizará. Princípio 2: integrar qualidade — evitar o problema e buscar a qualidade durante a produção em vez de procurar erros depois. Para isso, podemos utilizar metodologias de testes como o desenvolvimento guiado por comportamento, que é uma técnica de desenvolvimento ágil que encoraja a colaboração entre desenvolvedores, setores de qualidade e pessoas não técnicas ou de negócios em um projeto de software, relacionando-se com o conceito de verifi cação e validação. Lembre-se: a metodologia lean valoriza as pessoas. Princípio 3: criar conhecimento — garantir que o conhecimento sobre o produto de software seja criado durante o seu desenvolvimento em vez de ter uma lista de requisitos e/ou um layout recomendando como deve ser o resultado da aplicação antes do início de seu desenvolvimento. Segundo Alan MacCormack, professor de Administração de Howard, existem quatro pilares que garantem uma boa aceitação no mercado: releases breves com um conjunto mínimo de funcionalidades para clientes avaliarem e darem feedback; builds diários e feedback rápido de testes de integração; uma equipe e/ou um líder com experiência e instintos para tomar boas decisões; e uma arquitetura modular 7Lean software development (LSD) que dê suporte à habilidade de adicionar facilmente novas funcionalidades (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2010). Princípio 4: adiar comprometimentos — comprometimentos são decisões tomadas que, por algum motivo, não podem voltar atrás. São decisões per- manentes que serão adotadas dali para frente, dando certo ou não. Por isso, deve-se tentar trabalhar sempre com decisões planejadas que possibilitem colocar em prática, medir, aprender e validar. Lembre-se: estamos trabalhando com um produto volátil. Contudo, existem três passos básicos para identifi car quando estamos assumindo um comprometimento ou tomando uma decisão planejada: identifi car quando estamos fazendo uma escolha, identifi car se a escolha é reversível e quanto tempo precisamos para voltar atrás da decisão que está sendo tomada. Princípio 5: entregar rápido — precisamos descobrir como entregar tão rápido que nossos clientes não tenham tempo para mudar de ideia. Porém, é importante ressaltar que a velocidade não serve de nada se não andar junto com um nível muito alto de qualidade. Para conseguirmos ter um processo de produção rápido e uma boa disciplina na linha de produção, precisamos nos preocupar com algumas coisas, como: muita organização, planos e processos detalhados, forma de trabalho padronizada, documentação do workfl ow e descrição de trabalho específi co. O objetivo é conseguir ter um projeto tão padronizado que a curva de aprendizado seja mínima quando precisarmos transferir as pessoas para outro projeto, indo ao encontro do princípio criar conhecimento. Princípio 6: respeitar as pessoas — é o principal princípio de todos os sete da metodologia lean, pois sem o respeito às pessoas, nenhum dos outros princípios faz sentido. Respeitar as pessoas não é apenas tratar bem e ser educado com clientes e colaboradores que trabalham ao seu lado, mas deixar o orgulho e o ego fora do ambiente de trabalho. Independentemente do nível técnico de quem esteja propondo uma solução, essa opinião deve ser levada em conta e, se válida, deve ser implementada. Isso envolve não só respeito, mas também confi ança. Se uma pessoa está com alguma responsabilidade em mãos, ela é plenamente capaz de resolver aquilo e é nossa obrigação ajudar e confi ar nas decisões dessa pessoa. Princípio 7: otimizar o todo — a otimização de apenas uma parte do processo pode trazer grandes problemas, como o excesso de responsabilidades ou muito Lean software development (LSD)8 desgaste das áreas responsáveis por parte do processo que estão tentando “otimizar”. O ideal não é olhar apenas para o desenvolvimento (o que muito comumente acontece), mas sim para como aquele pedido está sendo atendido, como ele está sendo detalhado e repassado para entrar em desenvolvimento, etc. Sem a otimização do todo, não é possível funcionar nenhum dos princípios anteriores, por isso, apesar de ser bem fácil o entendimento, é muito importante que esse princípio seja colocado em prática. Agora que sabemos um pouco mais sobre os princípios da metodologia lean de desenvolvimento de software, o grande desafio é aplicar uma metodologia de desenvolvimento de veículos automotivos na produção de software, produtos completamente distintos, mas que atualmente se complementam. 3 Lean no desenvolvimento de software O desenvolvimento de software tem tido cada vez mais importância na vida moderna, com aplicativos e hardwares embutidos, como podemos observar nos smartphones, sendo fundamental para a realização de diversas tarefas, desde assistir a um simples vídeo até pedir comida. Assim, o sistema criado pelo engenheiro japonês Taiichi Ohno, o lean, pode contribuir no processo de desenvolvimento de software para aumentar a produtividade e a qualidade desse tipo de produto. O casal Mary Poppendieck e Tom Poppendieck, em seu livro Lean Software Development: An Agile Toolkit (2003), identifica sete princípios fundamentais da metodologia lean e os adaptapara o mundo do desenvolvimento de software, com o objetivo de tornar o desenvolvimento melhor, mais barato e rápido. Todavia, deve ficar claro que a aplicação de uma metodologia ágil de desenvolvimento de software na produção de um software requer experiência, disciplina e respeito dos profissionais envolvidos no processo, buscando sem- pre colocar o cliente como coadjuvante do processo. Não existe uma fórmula mágica nem uma receita de bolo de como aplicar a metodologia lean no de- senvolvimento de software. Com base em alguns princípios apresentados por Poppendieck e Poppendieck (2003), vamos apresentar algumas dicas de como preparar a equipe para o uso da metodologia. Dica 1: estude sobre a metodologia. O primeiro passo para aplicar a metodologia lean de desenvolvimento de software foi dado, mas os estudos devem continuar. Sendo assim, busque compreender as suas vantagens e desvantagens. 9Lean software development (LSD) Dica 2: análise de empresas nas quais a metodologia lean foi aplicada. Esta dica pode parecer óbvia demais, mas pesquisar por empresas nas quais uma determinada metodologia foi aplicada irá auxiliar a entender se a metodologia serve para o produto que será desenvolvido. Dica 3: qualifique a sua equipe. No Sistema Toyota de Produção, a habilidade individual e o trabalho em equipe são bem valorizados, e como esse sistema foi o percursor da metodologia lean, essa afirmação é válida, indo diretamente ao encontro dos sete princípios levantados por Mary e Tom. O treinamento pode ser por meio de cursos presenciais ou on-line. Uma sugestão para uma melhor integração da equipe seria utilizar a técnica de aprendizagem de programação Coding Dojo; ela vai ao encontro dos sete princípios da metodologia lean de desenvolvimento de software, direta e indiretamente. Coding Dojo Um Coding Dojo (Dojo de Codifi cação) é uma reunião em que vários desen- volvedores se reúnem para resolver um desafi o de programação (BACHE, c2013), sendo que os principais objetivos são a diversão e o envolvimento de práticas deliberadas de desenvolvimento, a fi m de melhorar as suas habilidades. O Coding Dojo tem as seguintes características: ambiente não competitivo, colaborativo e divertido; todos os níveis de habilidade são bem-vindos; seguro para experimentar novas ideias. Dojo é o local especial onde se treinam artes marciais japonesas. Muito mais do que uma simples área de atividades físicas, o Dojo deve ser respeitado como se fosse um templo. Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma reverência antes de entrar e ao sair do Dojo, tal como se faz nos templos japoneses (MENEZES, c2015). As características do Coding Dojo estão de acordo com o sexto princípio da metodologia lean de desenvolvimento de software, respeitar as pessoas, além Lean software development (LSD)10 de fazer uma ótima integração na equipe de desenvolvimento. Os requisitos para que um Coding Dojo seja feito são listados a seguir: um computador conectado a um projetor; uma tela de projeção onde todos possam ver a solução do problema; um piloto, um copiloto e um mestre; mais pessoas que desejem participar; um bom número seria no mínimo cinco e no máximo nove. Com os requisitos organizados, o mestre oferece um desafio ao grupo. O piloto, um dos participantes sentado ao computador, é a única pessoa que pode utilizá-lo para concluir o desafio, enquanto o copiloto permanece ao seu lado, mas somente para observá-lo em ação e oferecer indicações. Todos os demais observam e podem discutir entre si e com o copiloto e o piloto. Qualquer um pode ainda fazer perguntas ao mestre, mas este só pode responder com outra pergunta. Um dos objetivos do Coding Dojo é a interação, por isso ao final de um tempo preestabelecido pelos participantes, em média entre 5 e 7 minutos, é feita uma troca entre um dos participantes da seguinte maneira: o piloto volta para a plateia, o copiloto se torna o próximo piloto e alguém da plateia passa a ser o copiloto, o que vai ao encontro do quarto princípio da metodologia lean, adiar comprometimentos. Ao final do Coding Dojo é feita uma retrospectiva, na qual podem ser utili- zadas diversas técnicas, com o objetivo de responder a três perguntas básicas. 1. O que aprendemos com o Coding Dojo de hoje? 2. O que podemos melhorar para a realização dos próximos Coding Dojos? 3. O que devemos continuar fazendo nos próximos Coding Dojos? Esses são um dos pontos mais altos do Dojo, pois é o momento em que os conhecimentos são apresentados a todos, indo ao encontro do terceiro princípio da metodologia lean, criar conhecimento. 11Lean software development (LSD) No artigo “Coding Dojos como aprendizado interno”, de Vitor Ruiz Leonel (2013), podemos aprender como funciona o uso da técnica de Coding Dojo como ferramenta de aprendizado e de trocas de experiências em uma empresa. No artigo “Coding Dojo 101”, Humberto Rocha (2016) demonstra um vídeo de um Coding Dojo feito na empresa Globo.com. No vídeo “Coding Dojo”, Daniel Cukier (2010) explica os conceitos básicos do Coding Dojo na empresa. Além do ambiente altamente divertido e do espírito de equipe que os Coding Dojos proporcionam, também são ensinadas técnicas de programação que vão ao encontro dos princípios um, cinco e sete da metodologia lean, eliminar desperdícios, entregar rápido e otimizar o todo respectivamente, que são trazidos de outra metodologia ágil, a Extreme programming (TELES, 2014), como as seguintes. Pair programming: programação em par. Passos de bebê: cada etapa para a solução deve ser pequena o suficiente para que todos possam compreender e replicar mais tarde. Refactoring: refatoração de código. Test driven development — TDD: antes de ser escrita uma implemen- tação de código é escrito um teste. Como podemos observar, no desenvolvimento de software, é imprescindível a adoção de uma metodologia de desenvolvimento ágil, com o objetivo de buscar competitividade no mercado, e o interessante é que todas as metodo- logias valorizam o capital intelectual das pessoas, recurso mais precioso em todo o processo. Lean software development (LSD)12 BACHE, E. The Coding Dojo handbook: a practical guide to creating a space where good programmers can become great programmers. [S. l.]: The Author, c2013. BERNARDO, K. Kanban: do início ao fim. Cultura Ágil, 8 dez. 2014. Disponível em: https:// www.culturaagil.com.br/kanban-do-inicio-ao-fim/#. Acesso em: 1 set. 2020. BROOKSHEAR, J. G. Ciência da computação: uma visão abrangente. 11. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013. KEMP, A. Taiichi Ohno: hero of the Toyota production system, 2018. Disponível em: https://www.qad.com/blog/2018/03/taiichi-ohno-toyota-production-system. Acesso em: 1 set. 2020. KOSCIANSKI, A.; SOARES, M. S. Qualidade de software: aprenda as metodologias e técnicas mais modernas para o desenvolvimento de software. 2. ed. São Paulo: Novatec, 2007. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 2015. MENEZES, I. R. (adapt.). O Dojo: o lugar de iluminação. c2015. Disponível em: https:// www.segmentodojo.com.br/o-dojo/o-que-e-dojo/. Acesso em: 1 set. 2020. OHNO, T. Toyota production system: beyond large-scale production. Portland, OR: Productivity Press, 1988. POPPENDIECK, M.; POPPENDIECK, T. Implementando o desenvolvimento Lean de software: do conceito ao dinheiro. Porto Alegre: Bookman, 2010. POPPENDIECK, M.; POPPENDIECK, T. Lean software development: an agile toolkit. Boston, MA: Addison-Wesley Professional, 2003. SOMMERVILLE, I. Engenharia de software. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. TELES, V. M. Extreme programming: aprenda como encantar seus usuários desenvolvendo software com agilidade e alta qualidade. 2. ed. São Paulo: Novatec, 2014. Leituras recomendadas CUKIER, D. Coding Dojo: introdução. [S. l.: s. n.], 2010. 1 vídeo (11 min). Publicado pelo canal TecNoz. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=E-jFKkaAc7k. Acessoem: 1 set. 2020. LEONEL, V. R. Coding Dojos como aprendizado interno. 2013. Disponível em: https:// partiu.loggi.com/coding-dojos-como-aprendizado-interno-203eb5ef8e92. Acesso em: 1 set. 2020. ROCHA, H. Coding Dojo 101, 2016. Disponível em: https://humberto.io/pt-br/blog/ coding-dojo-101/. Acesso em: 1 set. 2020. 13Lean software development (LSD) Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Lean software development (LSD)14 EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO Aguinaldo Ferreira dos Santos Lean startup Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar startup. Caracterizar a metodologia lean startup. Aplicar as principais metodologias ágeis envolvidas na metodologia lean startup. Introdução Com o intuito de evitar desperdícios, surgiu, no mundo empresarial, a metodologia lean startup, que é aplicada em todas as fases do processo de produção para a identificação e resolução de focos de desperdício de custo, tempo e recursos. Neste capítulo, você vai aprender sobre o conceito de lean startup, vendo como se conceitua startup, como se caracteriza, como se gerencia e quais objetivos devem permear essa metodologia. Além disso, vai compreender o que significa lean neste contexto, suas características e aplicações, especialmente no tocante às startups. Por fim, você vai entender quais são os aspectos envolvidos com metodologias ágeis (discutindo essa terminologia, suas características e aplicações) e como se aplicam nas lean startups. O conceito de startup O mundo corporativo, assim como o mundo em que vivemos, passa constante- mente por mudanças de costumes e de formas de ver e entender as coisas. No entanto, nenhuma área ou setor da economia passa por uma mudança de forma tão radical como o mercado de tecnologia da informação, muitas vezes com o intuito de focar em algo mais rápido e prático (TEIXEIRA; LOPES, 2017). Essas mudanças podem ser observadas com o surgimento e a aplicação de diferentes perceptivas e formas de fazer os negócios, como os atuais modelos de negócios. Esses planos, metodologias, modelos, ações e formas de identificar e agir frente a uma ideia que surge são determinados e mesmo associados à atual evolução tecnológica, que muito se deve ao advento da internet de uso comercial em meados dos anos 1990. Novas metodologias organizacionais têm se popularizado, principalmente na internet e em áreas correlatas. Nesse contexto, junto ao canvas, uma das metodologias organizacionais tidas como novas que vem se destacando é a de lean startup (em português, empresa iniciante enxuta). Para Dornelas (2016), o método lean startup foca na prototipação quando se trata de empre- endedorismo, sendo encarado como empreendedorismo efectual, pois propõe uma abordagem prática e rápida, com a intenção e proposta de “testar” um conceito, um produto ou serviço, além de analisar os resultados obtidos com essa prototipação, de modo que seja possível fazer as devidas melhorias ou adaptações e lançar uma nova versão no mercado. A Figura 1, a seguir, demonstra o fluxo considerado ideal para a metodo- logia lean startup. Figura 1. Lean startup. Fonte: Adaptada de (2018). Lean startup2 Lean Segundo Romero e Andery (2016), o lean manufacturing foi criado na fábrica da Toyota, no Japão do pós-guerra, mas, ainda segundo esses mesmos autores, se voltamos um pouco mais no tempo, é importante marcar que, no ano de 1937, Sakichi Toyoda desenvolveu estudos sobre a automação de teares manuais. Com a criação e implementação desse sistema que automatizava os teares, marca-se o surgimento de um dos pilares mais importantes do sistema Toyota de produção, mundialmente conhecido e amplamente utilizado até os dias atuais. No entanto, nem tudo é perfeito, e o sistema criado por Sakichi Toyoda, apesar de trabalhar sem a intervenção humana (já que operava automatica- mente), sempre parava quando se tinha algum problema, como, por exemplo, falta de fio. Essas metodologias do sistema Toyota de produção voltaram a ter evo- luções no Japão do Pós-Guerra, muito devido à devastação em que o país se encontrava, o que influenciou a criação dos sete desperdícios do sistema, listados a seguir. superprodução (Overproduction); estoque (Inventory); espera (Waiting); transporte (Transportation); defeitos (Defects); movimentação nas operações (Staff movement/Excess Motion); processamento (Unnecessary processing/Inappropriate Processing). Assim, considera-se o sistema Toyota de produção como responsável pela definição do termo lean manufacturing, pois esse sistema pregava, desde sua origem, o uso racional dos recursos. De forma clara e resumida, lean significa usar apenas o necessário, mantendo um fluxo contínuo, com fluxo de valor, produção enxuta e busca pela perfeição. Startup Segundo Bortoli Neto et al. (2018), Schumpeter, já na década de 1960, trouxe uma perspectiva em que propunha que o desenvolvimento econômico sempre esteve diretamente ligado ao empreendedorismo e à inovação. Nesse sentido, 3Lean startup esses mesmos autores destacam os aplicativos, e em especial os de transporte individual, como atores que cada vez mais aumentam sua participação e importância no mundo das inovações: Aplicativos criativos desestruturaram o negócio dos taxistas e a forma de atender os passageiros, como o Easy Taxi e o 99. Em seguida veio o Uber e, sem possuir nenhum ativo e com serviços mais baratos e mais sofisticados que o táxi, conseguiu atingir grande parte do público dos taxistas, revolucionando mais uma vez o setor. Foi a vez da entrada de concorrentes internacionais e da adaptação da 99 criando o 99 Black, com carros mais luxuosos e serviços especiais para enfrentar a concorrência. Mais uma vez, o Uber se transformou, criando o serviço compartilhado no qual cada passageiro paga parte da corrida (BORTOLI NETO et al., 2018, p. 144). Mas antes mesmo de tratarmos das startup propriamente ditas, precisamos identificar três termos que comumente são confundidos e classificados como a mesma coisa, são eles: invenção, descoberta e inovação. Inovação: apenas a introdução de uma novidade não determina uma inovação, são necessários alguns requisitos para que uma mudança de inovação agregue valor e seja percebida e aceita pelos clientes. Apesar de o termo ser amplamente utilizado de maneira indiscriminada, segundo Bortoli Neto et al. (2018), o conceito se aplica no âmbito da empresa e de organizações e não é adequado para a vida e realizações individuais (BORTOLI NETO et al., 2018). Invenção: é a criação de algo novo, que ainda não tinha sido usado ou percebido, que tenha ou não relevância econômica — algumas invenções inclusive acabam não indo a cabo pelo fator econômico. As invenções podem ser caracterizadas como uma inovação quando se transformam em uma mercadoria, que ganha valor atribuído e é aceita (comprada) pelos clientes. Descoberta: é “ato ou efeito de descobrir (algo), de retirar a proteção, a cobertura, a capa, o invólucro etc.; e descobrimento da ação, processo ou efeito de patentear ou revelar (o que não se sabia ou se achava escondido)” (HOUAISS, 2009, p. 635). Então, existe uma relação entre esses três termos e as startups? Sim, se- gundo Moreira (2016), essa relação começou durante a época denominada “bolha da internet”. Startup significava um grupo de pessoas trabalhando com uma ideia diferente que, aparentemente, poderia fazer dinheiro. Assim, Lean startup4 sempre foi sinônimo de iniciar uma empresa e colocá-la em funcionamento. Além disso, podemos caracterizar como startuptoda empresa em começo de operação, que está começando (start) seus trabalhos e operações. Mas você sabe qual é a ligação entre startup e tecnologia? É comum pensar em aplicativo quando se pensa em startup, e isso tem uma explicação: a tecnologia, em especial a internet e seus meios de comunicação, permitiu que cada vez mais indivíduos tenham oportunidade de demonstrar suas ideias e a importância e aplicabilidade das suas ideias. Assim, atualmente, temos um fenômeno de espalhamento de ideias e startups por meio dos apli- cativos, sendo que existem para todas as demandas do dia a dia das pessoas (BORTOLI NETO et al., 2018). O conceito de lean startup cada vez mais se expande no mundo do empreendedorismo. Acesse o link a seguir para descobrir como aplicar essa metodologia. https://qrgo.page.link/Y19pV Diferenciando startup e lean startup O conceito de lean startup não é novo, mas fi cou popular no mundo das startups (empresas de inovação geralmente envolvida com tecnologia embarcada) a partir da disseminação do modelo de negócio canvas, que foi seu propulsor. Segundo Oliveira (2018), o canvas pode ser entendido como uma luva para o modelo lean startup, pois apresenta uma representação esquemática visual, em blocos, que resume os principais componentes do modelo de negócio de uma empresa. Como toda startup está em busca de um modelo de negócio sustentável e replicável, o lean startup é uma ferramenta aplicável, pois precisa criar protótipos, testar hipóteses para, então, começar a crescer. Essa é a maior vantagem da ferramenta startup aqui apresentada: o que difere o startup puro e simples do lean startup consiste basicamente nessa saída do modo generalista e na busca pelo foco. Nesse contexto, o pioneiro na discussão sobre esse termo e metodologia foi Eric Ries, em seu livro A startup enxuta (2012). Para o autor, o método lean startup está apoiado em três importantes pilares: 5Lean startup Em primeiro lugar, todo indivíduo que pretende se tornar um empre- endedor precisa estar ciente de que, antes de lançar seu produto, não basta apenas se basear em pesquisa, tendo apenas hipóteses que precisa comprovar. Steve Blank (STEVE BLANK, 2009) sugere que, em vez de fazer um relatório, que pode ser longo e confuso (plano de negócios), a metodologia do lean startup propõe que o empreendedor use o canvas para montar o seu modelo. Em segundo lugar, o candidato a empreendedor precisa testar as suas hipóteses por meio do desenvolvimento com clientes (customer deve- lopment). Nessa etapa, o empreendedor busca contato com usuários, compradores e parceiros para coletar opinião sobre todas as partes do modelo de negócios, incluindo características do produto e preços. Em terceiro lugar, a startup enxuta usa o chamado “desenvolvimento ágil”, que possui uma ligação direta da empresa com os consumidores, dando cada vez respostas mais rápidas às necessidades desses clientes. Nesse desenvolvimento ágil, não há perda de tempo ou de recursos. Resumindo, para Eric Ries (2012), um modelo de criação de ideias e em- presas, para se caracterizar como lean startup (startup enxuta), precisa se enquadrar nesses três passos: utilizar o canvas, por ser mais visual e demo- crático entre todos os usuários, além disso, manter uma proximidade com o cliente e desenvolver o seu produto de acordo com a necessidade do cliente/ consumidor, para então utilizar metodologias ágeis no desenvolvimento da ideia, tornando-a mais dinâmica e flexível (RIES, 2012). Outra contribuição para o mundo dos negócios oriundo do lean startup foi a criação do conceito de MVP (Minimum Viable Product — produto mínimo viável), que se discute na sequência e que é tido como uma das bases sólidas do lean startup. MVP (Minimum Viable Product — produto mínimo viável) Um MVP (do inglês Minimum Viable Product — produto mínimo viável) é como uma versão beta de um produto, praticamente prototipação, que tem a função de ser desenvolvido de forma ágil e econômica, o mais barato possí- vel, para ser apresentada ao seus potencias clientes e receber retornos desses produtos iniciais, de forma a observar como ele se comportou no mercado. Trata-se de uma excelente ferramenta para obter informações sobre o seu mercado e validar premissas. Lean startup6 Assim, inclui testar hipóteses, pegar devolutivas do cliente acerca do pro- duto “lançado” e melhorar o produto antes desse lançamento, o que significa exatamente o contrário da corrente empresarial de meados do século XX, quando se gastava muito para criar e desenvolver um produto e lançá-lo no mercado — caso desse errado, tinha-se grande prejuízo e podia-se fechar a empresa (indiferentemente do seu porte). Assim, o MVP nasceu para ser um instrumento de teste e busca, dentre todas as vantagens que oferece, ajudar a antecipar problemas ou até a reescrever a estratégia do negócio. A seguir, veja alguns pontos que podem ajudar a determinar o MVP do seu produto ou empresa: formule hipóteses para validar; entenda o seu mercado; defina indicadores e estabeleça métricas; pense nas funcionalidades do seu MVP; não desista; não tenha medo de errar. Acessando o link disponível a seguir, você terá acesso ao site de Steve Blank, que apresenta toda a história do autor e fatores relacionados aos temas aqui tratados (lean startup e MVP). https://qrgo.page.link/xH5Wr Aplicabilidade de metodologias ágeis em lean startup O primeiro passo para a determinação uma metodologia ágil é o desenvolvi- mento de uma equipe que seja ao mesmo tempo multidisciplinar e multifuncio- nal, em que cada integrante saiba exatamente o que deve fazer em cada etapa do processo de desenvolvimento do produto ou serviço (OLIVEIRA, 2018). Segundo Oliveira (2018), devemos atentar para alguns aspectos que permitem formar uma equipe considerada com características ágeis, veja-as a seguir. 7Lean startup Busque sempre formar equipes multidisciplinares: formar equipes multidisciplinares consiste em recrutar para equipe os indivíduos com habilidades o mais diversificadas possível. Cada um deve saber o que fazer e principalmente como fazer. Forme equipes autogerenciáveis: equipes autogerenciáveis estão dire- tamente ligadas à capacidade individual da pessoa, pois não existe a necessidade da figura de um gestor detentor das informações. A própria equipe com seus integrantes se autorregula, determina as regras e como se cumpre os prazos. Após a escolha da equipe (multidisciplinar e auto gerenciável), torna- -se necessário determinar qual metodologia ágil se pretende utilizar. Nesse sentido, com maior afinidade com o lean startup, abordaremos 2 vertentes, o XP (Extreme Programming) e o Scrum. XP: nasceu no final da década de 1990 e é uma metodologia ágil, com foco no aumento da qualidade e da produtividade do desen- volvimento de sistemas de informação, com a inclusão de algumas técnicas práticas. Scrum: considerada uma das metodologias ágeis mais conhecidas e utilizadas, apresenta uma aplicabilidade em gestão de projetos e tecnologia da informação didático e de fácil entendimento. Essas são apenas duas entre uma grande variedade de metodologias ágeis no mercado atualmente, que está sempre recebendo atualizações. XP e Scrum, nesse contexto, destacam-se por serem de mais fácil entendimento e aplicação, especialmente no tocante a startups, e ainda mais focado ainda em lean startup, que busca sempre manter o mais enxuto e ágil o processo de desenvolvimento de uma ideia ou empresa. Como mencionado, a metodologia ágil possui uma ligação intrínseca com a metodologia lean startup, pois ambos termos e mesmo a forma de se pensar esses termos se assemelham, buscando: rapidez; agilidade; flexibilidade; envolvimento; Lean startup8 engajamento; multidisciplinaridade; Assim, ambas as metodologias se complementam, cada uma na sua particu- laridade e contribuindo com a outra, de forma que o lean startup fica melhor aplicado
Compartilhar