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ISSN 2176-1396 A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO SOB O OLHAR CRÍTICO DOS ACADÊMICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA Ana Lucia Berno Bonassina 1 - Colégio Assunção - Faculdade da Indústria Julia Cristina Bazani Banas 2 - Faculdade da Indústria Sonia Maria Packer Hübler 3 - Colégio Sagrado Coração de Jesus/Faculdade da Indústria Barbara Raquel do Prado Gimenez Corrêa 4 - PUCPR Grupo de Trabalho - Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo objetiva apresentar as impressões e as reflexões dos acadêmicos do curso de Pedagogia em relação à importância da prática do Estágio Supervisionado, o qual é realizado em instituições de ensino de Educação Infantil e Ensino Fundamental, na formação do futuro profissional pedagogo. Este estudo ressalta os desafios encontrados no cotidiano escolar, refletidos em sala de aula em momentos de reuniões destinadas à supervisão de estágio. Para muitos acadêmicos, o Estágio Supervisionado significa o primeiro contato com um de seus futuros campos de atuação. É um rico momento de aprendizagem em que o estagiário integra seu conhecimento ao meio social, profissional, cultural e didático-pedagógico, isto é, completa o processo formal de ensino na articulação entre teoria e prática nas instituições estagiadas. Para a concretização do estágio, é preciso observar e participar ativamente do cotidiano escolar. É por meio das observações participativas e da aplicação de regências que o acadêmico vivencia situações reais de trabalho em sala de aula, as quais lhe auxiliarão em possíveis práticas futuras, agregando saberes e valores a sua futura atuação como docente. Dessa forma, esta pesquisa, de cunho qualitativo, apropriou-se de uma fundamentação teórica relevante à temática em questão, enriquecida pela análise dos dados obtidos na aplicação de um questionário aos acadêmicos da licenciatura em Pedagogia que já participaram do estágio obrigatório. Evidenciou-se a importância do estágio, entendido como um processo de diálogo 1 Mestre em Educação pela PUCPR. Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade da Indústria. Coordenadora Pedagógica do Núcleo de Educação a distância da Faculdade da Indústria. Professora-pesquisadora do IFPR. Realiza estudos sobre as tecnologias aliadas à educação. Professora de tecnologias do Colégio Nossa Senhora da Assunção. Coordenadora da área de Informática do Colégio Assunção. E-mail: ana.bonassina@ielpr.org.br. 2 Mestre em Educação pela PUCPR. Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade da Indústria e de Cursos de Licenciaturas da UFPR. Especialista em Pedagogia Terapêutica pela UTP. Graduada em Pedagogia pela UTP. E-mail: juliacbbanas@hotmail.com. 3 Mestre em Linguística de Língua Portuguesa pela UFPR. Professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade da Indústria. Professora do Curso Normal do Colégio Sagrado Coração de Jesus. E-mail: sonia.hubler@ielpr.org.br. 4 Doutoranda em Educação na PUCPR. Bolsista CAPES/Fundação Araucária. Mestre em Educação pela PUCPR. Especialista em Magistério Superior pelo IBPEX. Graduada em Pedagogia pela PUCPR. E-mail: barrakel@gmail.com. 11987 entre teoria e prática em torno de uma ação crítica e reflexiva na formação acadêmica, com o intuito de qualificar e habilitar futuros profissionais. Palavras-chave: Formação Profissional. Estágio. Prática pedagógica. Introdução Atualmente, evidencia-se, no mercado de trabalho competitivo, a busca constante por profissionais que apresentem um diferencial relacionado a uma sólida formação acadêmica, atualizações na área tecnológica e conhecimento de outros idiomas. Por isso, ressalta-se que os cursos de graduação precisam estar em consonância com essas exigências, tanto mais os que trabalham especificamente com formação, como é o caso dos de licenciaturas. Com esse intuito é que se buscou desenvolver alguns estudos com o propósito de verificar como isso vem ocorrendo, de maneira particular em instituições de ensino superior, no curso de licenciatura em Pedagogia. Um dos fatores fundamentais na formação acadêmica refere-se à articulação da teoria com a prática, uma vez que ambas são estritamente necessárias, por serem complementares, visto que uma prática esvaziada de teoria não tem sentido e uma teoria desarticulada da prática também não. Assim sendo, este artigo trata especificamente da prática do estágio curricular, contemplando assuntos relacionados ao cumprimento obrigatório da disciplina do Estágio Supervisionado, no curso de licenciatura em Pedagogia, sob o olhar crítico de acadêmicos matriculados no próprio curso, de duas instituições de ensino superior, sendo uma pública e outra da rede privada. O estágio nas licenciaturas A busca constante de aliar teoria e prática nos cursos de graduação precisa ser alvo de preocupação de todos os envolvidos no processo, particularmente nas licenciaturas. É preciso compreender que toda prática está fundamentada em uma teoria, mesmo que de forma inconsciente. Não se coloca dúvida que a prática reflexiva é uma fonte de aprendizagem. No entanto, essa convicção não pode ser justificativa do mito do valor da experiência, segundo a qual os professores são levados a acreditar que são as experiências profissionais que realmente os formam, de tal modo que o saber sistematizado, especializado e formalizado torna-se dispensável (LIMA; REALI, 2002, p. 225). 11988 Portanto, ressalta-se que a importância dada às práticas desenvolvidas de forma alguma invalida e, muito menos, dispensa as teorias estudadas. Ambas, teoria e prática, são necessárias. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN nº 9394/96, art. 61, § único) corrobora esse aspecto, reafirmando que é fundamental: I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho. II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço (BRASIL, 1996). Um dos espaços na formação acadêmica refere-se ao cumprimento da disciplina de Estágio Supervisionado, sendo esse entendido como “a atividade em que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao campo futuro de trabalho [...]. Por isso, costuma-se denominá-lo a ‘parte mais prática’ do curso, em contraposição às demais disciplinas consideradas como a ‘parte mais teórica’ (PIMENTA, 2011, p. 27, grifo da autora). A primeira Lei do estágio, n° 6.494, de 07 de dezembro de 1977, revogada pela Lei n° 11.788, de 25 de setembro de 2008, define o estágio em seu artigo 1° como sendo: O ato educativo escolar supervisionado no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos (BRASIL, 2008). Para o desenvolvimento de qualquer profissão, é necessário que o acadêmico vivencie momentos de prática. Segundo a Resolução do Conselho Nacional de Educação / CP Nº 1, de maio de 2006: Art. 7° - O curso de Licenciatura em Pedagogia terá a carga horária mínima de 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, assim distribuída: II - 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado prioritariamente em Educação Infantil e Anos iniciais do Ensino Fundamental, contemplando também outras áreas específicas, se for o caso, conforme o projeto pedagógico da instituição (BRASIL, 2006). Assim, o curso de Pedagogia contempla, em sua matriz curricular, disciplinas destinadas ao cumprimento de uma carga horária que auxilia o acadêmico a desenvolver atividades relacionadas em campos nos quaispoderá atuar profissionalmente. A Lei n° 11.788, de 25 de setembro de 2008, artigo 1°, inciso I, faz referência ao papel do professor orientador, declarando que: 11989 O estágio, como ato educativo escolar supervisionado, deverá ter acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de ensino e por supervisão da parte concedente, comprovado por vistos nos relatórios referidos no inciso IV do caput do art. 7° desta lei e por menção de aprovação final. (BRASIL, 2008) O professor orientador acompanhará o acadêmico em suas práticas de estágio, por meio de orientações coletivas e individuais, na própria Instituição de Ensino Superior, para relatos e esclarecimentos de dúvidas ou supervisão da prática de estágio na instituição selecionado pelo acadêmico. Esse acompanhamento será pré-programado e definido pela instituição, de acordo com a necessidade e disponibilidade do professor de estágio. Ao desenvolver a prática do estágio, o acadêmico do curso de Pedagogia terá a oportunidade de observar as diversas posturas e posicionamentos de professores que atuam em diferentes escolas, turmas e faixas etárias e, desse modo, poderá então adquirir subsídios que o auxiliem em sua prática futura. Assim sendo, Pimenta e Lima (2012, p. 35) comentam: A profissão do professor também é prática. E o modo de aprender a profissão, conforme a perspectiva da imitação, será a partir da observação, imitação, reprodução e, às vezes, reelaboração dos modelos existentes, na prática, consagrados como bons. As autoras destacam que a formação acadêmica não ocorre somente na instituição de ensino superior em que o acadêmico está matriculado. Logo, é imprescindível que o professor conheça a comunidade na qual está atuando, bem como as mudanças ocorridas no decorrer dos anos. Para que a formação do futuro profissional, professor/pedagogo, se dê por completo, é necessário que todas as disciplinas do curso de Pedagogia estejam entrelaçadas, articuladas, sejam elas chamadas de teóricas ou práticas, pois isso possibilitará compreender “a complexidade das práticas institucionais e das ações ali praticadas por seus profissionais como alternativa no preparo para sua inserção social” (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 43). Assim sendo, as disciplinas poderão colaborar para a construção de conhecimentos que possibilitarão a formação de um professor/pedagogo crítico. A disciplina do estágio é uma área de pesquisa a ser explorada pelo acadêmico de Pedagogia, sendo uma tática, um processo, uma probabilidade de aprendizado que lhe permite desenvolver habilidades de pesquisa e atuação. Ela “supõe que se busque novo conhecimento na relação entre explicações existentes e os dados novos que a realidade impõe e que são percebidos na postura investigativa” (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 46), por ser um campo de 11990 reflexão sobre a prática, possibilitando ao acadêmico o desenvolvimento de pensamentos. Isso oportuniza que a pesquisa do aluno se torne mais rica, não sendo apenas empreendida na instituição de ensino superior, mas também pela atuação em sala de aula. Conforme Pimenta e Lima (2012, p. 100), deve-se analisar o estágio obrigatório curricular como: O sentido da profissão, o que é ser professor na sociedade em que vivemos, como ser professor, a escola concreta, a realidade dos alunos nas escolas de ensino fundamental e médio, a realidade dos professores nessas escolas, entre outras. Desse modo, o acadêmico de Pedagogia terá a oportunidade de reafirmar sua escolha na profissão de pedagogo, tendo uma visão mais ampla do campo de trabalho que irá encontrar ao desenvolver suas atividades profissionais. A Operacionalização do estágio supervisionado em uma instituição de ensino superior da rede privada Na instituição em questão, o primeiro Estágio Supervisionado ocorre para os acadêmicos matriculados no terceiro período do curso. Esse estágio se realiza com alunos que frequentam a primeira etapa da educação básica, ou seja, a da Educação Infantil, perfazendo um total de 180 horas, divididas em aulas presenciais na própria instituição de ensino superior e momentos de observações e regências em CMEIs (Centro Municipal de Educação Infantil) ou em escolas da rede privada que ofertam a Educação Infantil. No quinto período do curso, ocorre outro Estágio Supervisionado, o realizado na segunda etapa da educação básica, ou seja, no Ensino Fundamental - Anos Iniciais e EJA. Nesse, o acadêmico precisa cumprir 180 horas/aulas: 80 na própria instituição de ensino superior onde se realizam atividades de estudos, organização, orientações coletivas e individuais, elaborações de projetos e relatórios, voltados à prática pedagógica, e 100 horas destinadas a observações e regências em instituições de ensino da rede pública ou privada que ofertam o Ensino Fundamental. A Operacionalização do estágio supervisionado em uma instituição de ensino superior da rede pública O Estágio Supervisionado do curso de Pedagogia da instituição pública de ensino superior pesquisada é composto de três estágios práticos, sendo eles: Prática Pedagógica A: 11991 Estágio em Docência na Educação infantil, o qual os acadêmicos realizam no terceiro ano do curso; Prática Pedagógica B, realizada no decorrer do quarto ano do curso, abrangendo Estágio em Docência nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, no último ano do curso, a Prática Pedagógica C: Estágio Supervisionado na Organização do Trabalho Escolar. Coleta de Dados Tendo como foco o estágio, ou seja, algo não tangível, a pesquisa foi de cunho qualitativo. Marconi e Lakatos (2002) apontam que a abordagem qualitativa permite a classificação de distintos tipos de dados, cuja análise pode resultar em diferentes propriedades. Já Ludwig (2009, p. 9) traz que “medidas qualitativas são caracterizadas por alguma característica ou algum atributo”. Desse modo, a pesquisa qualitativa tenta responder à pergunta como, obtendo assim respostas para as questões levantadas (MARCONI; LAKATOS, 2009, p. 140). Inicialmente, utilizou-se a pesquisa bibliográfica para embasar os estudos. Marconi e Lakatos (2009) afirmam que esse tipo de pesquisa tem por objetivo colocar o pesquisador em contato com tudo o que já foi estudado em relação ao tema, assim tornando o campo de pesquisa mais amplo, podendo o pesquisador explorar diversas fontes de pesquisa. Para responder ao propósito desta pesquisa, que se refere à importância da prática dos estágios sob o olhar crítico dos acadêmicos do curso de Pedagogia na formação do futuro profissional pedagogo, foi realizado um questionário direcionado a eles. De acordo com Marconi e Lakatos (2009, p. 184): Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o entrevistador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador. O questionário utilizado solicitava primeiramente aos acadêmicos informações referentes a dados pessoais, tais como: idade, gênero, formação acadêmica, período do curso, se trabalha em instituição de ensino, tempo de atuação nessa instituição, turma(s) e disciplina(s) que ministra. Em seguida, apresentou três questões, sendo uma de resposta fechada e duas abertas. É importante justificar que esse questionário foi aplicado especificadamente aos acadêmicos do curso de Pedagogia que já haviam realizado algum período que contemplou a disciplina de Estágio Supervisionado. 11992 As instituições pesquisadas foram escolhidas devido ao fácil acesso que as pesquisadoras encontraram para obter as informações em relação ao Estágio Supervisionado, sendo uma de ensino superior da rede privada e outra pública. Para a obtenção dos dados relacionados ao estágio, foram entregues aos acadêmicos do curso de Pedagogia um total de cento e quarenta eoito questionários, dos quais cento e quatorze retornaram respondidos. Análise de resultados Com o propósito de caracterizar os sujeitos participantes da pesquisa, foram tabulados inicialmente os dados pessoais, os quais serão apresentados, na sequência, por meio de gráficos ilustrativos. Primeiramente, indagou-se sobre a idade dos participantes, como representado no Gráfico 1: Gráfico 1: Idade Fonte: As autoras. A média de idade entre os acadêmicos do curso de Pedagogia varia, porém a faixa etária predominante está compreendida entre 21 e 30 anos. Percebe-se que a idade dos participantes apresenta-se bem variada, com predomínio de sujeitos entre 21 e 30 anos. No Gráfico 2, identificou-se o aspecto referente aos participantes quanto masculino e feminino, conforme os mesmos se posicionaram quando no questionário. 11993 Gráfico 2: Identificação masculino / feminino dos participantes Fonte: As autoras. Conforme os participantes se posicionaram no preenchimento do questionário da pesquisa, pode-se perceber a maioria dos mesmos como sendo feminino. Para traçar um perfil atualizado da amostra, questionou-se qual a formação acadêmica dos participantes indicada no Gráfico 3. Gráfico 3: Identificação Acadêmica Fonte: As autoras. Observou-se que a maioria dos acadêmicos está cursando a primeira graduação. Quatro por cento dos entrevistados, totalizando cinco alunos, estão cursando sua segunda graduação. O gráfico 4 dimensiona sobre a atuação dos profissionais em instituições de ensino participantes da pesquisa: 11994 Gráfico 4: Identificação sobre a atuação em instituição de ensino Fonte: As autoras. Ao analisar os dados e conforme ilustração gráfica, notou-se que a maioria dos acadêmicos entrevistados atuam em instituições de ensino. Outras questões foram realizadas aos participantes da pesquisa com vistas a responder o problema da pesquisa e serão discutidas na sequência. Sobre o questionamento: para você o estágio supervisionado significa, os respondentes tinham a opção de assinalar uma ou mais alternativas, configuradas em: uma contribuição para a atuação pedagógica; uma exigência acadêmica; um espaço de aprendizagem; uma possibilidade de empregabilidade futura e outros. O gráfico 5 representa as respostas dos participantes. Gráfico 5: Para você o “estágio supervisionado significa:” Fonte: As autoras. 11995 Nessa questão, percebeu-se que os acadêmicos optaram por mais de uma alternativa para representar o significado do estágio. Dos cento e quatorze acadêmicos participantes, quarenta e quatro consideram que o estágio é -um espaço de aprendizagem- , no qual poderão aprender a profissão e reafirmar as suas escolhas. De acordo com Libâneo (2010 apud PIMENTA E LIMA, 2012, p. 153), o estágio “é um campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa”. Assim sendo, os alunos entendem que é importante a aprendizagem do campo de estágio. Trinta e cinco acadêmicos consideram o Estágio Supervisionado -uma contribuição para atuação pedagógica-, que, como a expressão sugere, está relacionada às contribuições que o estágio agregará na futura atuação profissional. Na concepção de Pimenta e Lima (2012, p. 56): Assim, o estágio prepara para um trabalho docente coletivo, uma vez que o ensino não é um assunto individual do professor, pois a tarefa escolar é resultado das ações coletivas dos professores e das práticas institucionais, citadas em contexto social, históricos e culturais. Desse modo, ao realizar o estágio, os acadêmicos estarão vivenciando diversas práticas pedagógicas exercidas em diferentes instituições de ensino, o que auxiliará no desenvolvimento da identidade do docente. Treze acadêmicos definiram o estágio apenas como -uma exigência acadêmica-, o que muitas vezes gera desconforto para executar tal prática, desmotivando cada vez mais o acadêmico a realizar as práticas de estágio. Dez acadêmicos veem o Estágio Supervisionado como -uma possibilidade de emprego futuro-. Assim, sentem-se motivados a desenvolver essa atividade com mais prazer, pois uma vez que sua prática de estágio foi bem empreendida, a instituição de ensino, no caso a de rede privada, poderá contratá-lo futuramente para atuar na escola, passando de estagiário remunerado a professor efetivo. A última alternativa tratada nessa questão referia-se às demais assertivas que o aluno estagiário poderia apresentar em relação ao estágio obrigatório, sendo denominada como: - outros, quais? Nesse campo, três acadêmicos escreveram, sendo que um deles afirmou ver o estágio como uma troca de experiências entre alunos estagiários e professores regentes, um campo de reflexão e construção do conhecimento. Outro acadêmico abordou acerca do 11996 excesso de exigências que a prática de estágio impõe, sendo visto como um problema para sua efetivação. O terceiro aluno escreveu que o estágio é “um contínuo aprendizado, quando este não faz parte de sua prática diária” (AC1 5 ). Portanto, é necessário que o acadêmico se dedique às práticas de estágio, pois elas estão relacionadas à área de atuação do pedagogo. A próxima questão era: -quais as contribuições que o estágio trouxe à sua prática pedagógica?-. Ao analisar as respostas obtidas, pôde-se notar que os acadêmicos consideram diversas as contribuições para a sua formação acadêmica, sendo que muitos deles avaliam que o estágio acrescentou muito em sua formação. Uma das referências indicadas pelos participantes foi a possibilidade que o estágio abrange a articulação entre teoria e prática, assim encontra-se nas respostas: Acredito que o Estágio foi essencial para meu processo de ensino aprendizagem, onde ouve a possibilidade de sairmos apenas do estudo do campo teórico, para o estudo das práticas pedagógicas presentes nas instituições de ensino, unindo deste modo a teoria com a prática de uma forma dialógica. (AC2). O estágio é fundamental para a formação do pedagogo, pois por meio dele é possível fazer a união da teoria aprendida no decorrer do curso com a prática realizada nas escolas, possibilitando desta forma, a compreensão real do trabalho do pedagogo/docente(AC3). Para esses acadêmicos houve a manifestação sobre a importância do estágio supervisionado enquanto cursam a graduação no que se refere a relação teórica e prática. Assim, contribui sobre essa importância, a afirmação: “a compreensão da relação entre teoria e prática possibilitou estudos e pesquisas que têm iluminado perspectivas para uma nova concepção de estágio” (PIMENTA E LIMA, 2012, p. 44). Dessa forma, o estágio, sendo uma atividade teórica na qual o aluno desenvolve pesquisas, acrescenta muitos conhecimentos ao acadêmico, possibilitando o desenvolvimento do seu aprendizado. Outra referência indicada pelos participantes foi a relação do estágio supervisionado no que se articula ao conhecimento e a prática pedagógica, mediante a isso, encontram-se afirmações: O estágio traz experiências de como é a prática em sala, podendo analisar a teoria o que se aprende em sala e colocar em prática e também analisar a realidade. (AC4). 5 Os participantes da pesquisa serão identificados por letras e números, entre parênteses de forma sucessiva, conforme necessário para análise das referidas participações. 11997 Com a realidade do Estágio Supervisionado pude obter mais conhecimentos e ideias sobre a rotina da educação infantil, a importância de realizar práticas pedagógicas criativas e que tenham interesse para a criança e quanto a relação do adulto com a criança é fundamental para seu desenvolvimento (AC5).Para a referência sobre o estágio e a relação com o conhecimento, os alunos indicaram como sendo importante a vivência no espaço de estágio e a oportunidade de desenvolver suas práticas pedagógicas, assim, consoante ao que afirmou Carvalho (2012, p. 3), “a sala de aula em que um professor vai trabalhar não está isolada no mundo, ela se encontra dentro de uma escola que tem seus valores bem estabelecidos”. Portanto, o acadêmico tem a oportunidade de conhecer o cotidiano da escola em diversas situações no decorrer do estágio, o que contribui para que ele enriqueça seus conhecimentos a partir de experiências vividas no ambiente escolar. Vários alunos indicaram a aprendizagem como contribuição efetiva no desenvolvimento. Dessa forma, justificando a questão anterior, representada pelo gráfico 5, no terceiro item da questão: um espaço de aprendizagem. Conhecimento e um grande aprendizado da prática escolar (AC6). O Estágio foi construtivo, pois foram momentos de aprendizagem por meio da observação, pesquisa e prática pedagógica, tanto no modo de trabalho como visão (AC7). Quando apontado sobre aprendizagem como contribuição efetiva no desenvolvimento, Oliveira (2010, p. 59) corrobora afirmando que o aprendizado “é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes, etc. a partir de seu contato com a realidade, com o meio ambiente e outras pessoas”. Assim, o aprendizado obtido no campo de estágio é de grande importância, pois, a partir dele, o acadêmico passará a desenvolver sua prática em sala de aula. A próxima questão mencionava sobre as dificuldades encontradas no decorrer do estágio. Notou-se que a maior dificuldade encontrada pelos acadêmicos do curso de Pedagogia, ao realizar a prática do Estágio Supervisionado, está relacionada ao aceite do (a) estagiário (a) pela professora regente de turma: alguns alunos relatam que o professor regente não se mostrava à vontade com a sua presença e quinze alunos reclamaram da dificuldade para encontrar escolas que aceitem que o acadêmico desenvolva a prática de estágio na instituição. 11998 Já entrei em sala onde a professora pediu para fazer algo e não pude nem observar o seu trabalho. Já fui mal recepcionada, como se eu fosse uma fiscal e julgaria a prática da professora (AC8). Recusa de alguns docentes e acadêmicos em sala de aula (AC9). O estágio no Ensino Fundamental apresentou certas dificuldades como: relação com a professora regente, que era bem intimidadora.(AC10). Muitas vezes, a professora regente, ou até mesmo a coordenação da escola, sentem-se desconfortáveis com a presença dos estagiários, entendendo que sua função é de espionar o que estava acontecendo na instituição. Isso acaba distanciando estagiário (a) e professor (a), causando um desconforto para ambas as partes. Dezesseis alunos relataram que não têm tempo para realizar a prática de estágio, e dez acadêmicos tiveram dificuldade de conciliar o estágio com o trabalho e as aulas na faculdade. Os acadêmicos declaram como uma das grandes dificuldades o tempo limitado mantido com o professor “orientador” de estágio (queixa de quatorze acadêmicos). Essa afirmação foi pontuada principalmente pelos alunos da rede pública: “Uma das principais dificuldades encontradas consiste na falta do professor orientador, nossas práticas pedagógicas e auxiliando na resolução de problemas que encontramos no dia a dia (AC11)”. Sobre as atividades de supervisão dos professores em prática de estágio, Pimenta e Lima (2012, p.144) argumentam: As atividades de supervisão que acontecem no estágio requerem aproximação e distanciamento, partilha de saberes, capacidade de complementação, avaliação, aconselhamento, implementação de hipóteses de soluções para problemas que, coletivamente, são enfrentados pelo estagiário. No entanto, os acadêmicos do curso de Pedagogia respondentes fazem crítica ao trabalho que seus professores de estágio têm desenvolvido. Como citado acima, o professor deve orientar os alunos e partilhar os conhecimentos, porém eles consideram que não é isso que tem ocorrido em suas instituições de ensino. Ademais, nove alunos encontraram dificuldade para relacionar a teoria com a prática e sete alunos, para a escrita do relatório de estágio. “Em relatório de estágio, a primeira revelação de muitos alunos é sobre o pânico, a desorientação e a impotência no convívio escolar” (PIMENTA; LIMA, 2012, p. 103). A escrita do relatório de estágio deve ser desenvolvida com tempo apropriado, haja vista ser um texto rico em detalhes, abrangendo desde a chegada à escola até o último dia da prática de estágio. Dessa forma, os alunos apresentam razoável dificuldade na organização dos conceitos 11999 e, por esse motivo, precisam conhecer e compreender a rotina do estágio e da instituição onde estão desenvolvendo suas atividades; isso auxiliará no momento da escrita do relatório. Os participantes da pesquisa também expuseram outras dificuldades, relacionadas, principalmente, ao cansaço, à burocracia em relação aos documentos necessários para realizar a prática de Estágio Supervisionado, ao limite de abrangência de locais em que o Estágio Supervisionado pode ser desenvolvido, à falta do professor regente durante as atividades, à elaboração dos planos de aula a serem aplicados na turma. Os respondentes também trouxeram outros problemas, como: Má formação dos pedagogos que atuam na área, professores cansados e desgastados (AC12). Sem sombra de dúvida, a má formação profissional professores e pedagogos que atuam na área(AC13). Falta de formação, interesse e disponibilidade dos profissionais que atuavam nessas escolas (AC14). Pimenta e Lima (2012, p. 105) referem que o aluno estagiário muito provavelmente vai encontrar professores desmotivados e cansados. Por isso, acaba sendo “comum” os estagiários serem recebidos na escola com apelações do gênero: “desista enquanto é tempo” e “o que você tão jovem está fazendo aqui?” Assim, o aluno sente receio em continuar na área pretendida, tranca a disciplina de estágio para realizar posteriormente ou até mesmo desiste do curso de Pedagogia, com medo do que irá encontrar no decorrer de sua profissão. Alguns acadêmicos fizeram alusão aos alunos rebeldes, sendo que três deles relacionaram isso como dificuldade. Segundo Vasconcellos (2009, p. 57), “a crise da disciplina escolar realmente é muito séria” a indisciplina afeta a todos envolvidos no cotidiano escolar, desestimulando consequentemente os professores a desempenhar seus papéis em sala de aula. Considerações Finais Esse artigo objetivou apresentar as impressões e as reflexões dos acadêmicos do curso de Pedagogia em relação à importância da prática do Estágio Supervisionado, o qual é realizado em instituições de ensino de Educação Infantil e Ensino Fundamental, na formação do futuro profissional pedagogo 12000 Portanto, pela pesquisa realizada evidenciou-se que os acadêmicos consideram a realização do estágio supervisionado no decorrer do curso de Pedagogia como sendo relevante na relação entre teoria e prática e o desenvolvimento do conhecimento pedagógico como sendo relevâncias à formação inicial. Pode-se afirmar que o Estágio Supervisionado é fundamental para que os acadêmicos compreendam as práticas a serem desenvolvidas. Ainda, as autoras como docentes- orientadoras do estágio supervisionado, destacam que a formalidade desse momento na formação inicial do acadêmico requer organização para que os relatos, documentos, formalidades são necessárias para a integridade e comprovação desse processo. Ao realizar a prática de Estágio Supervisionado, o acadêmico vivencia o espaço escolar, amplia conhecimentos, observa na prática o que foi aprendido na teoria, na sala de aula. Logo, enriquece sua formação profissional. Dessa forma, ao passar por situações de aprendizagem no campodo Estágio Supervisionado, o acadêmico estará enriquecendo seu futuro desenvolvimento profissional e terá a oportunidade de reafirmar a escolha da área de atuação profissional pretendida, bem como aprendendo nas diversas situações vivenciadas. As experiências pelas quais os acadêmicos passam, com certeza, auxiliarão no seu desenvolvimento pessoal e profissional. Este artigo evidenciou o quão importante é o estágio supervisionado na vida acadêmica, porém importante se faz ressaltar que os estudos relacionados à temática abordada nesta pesquisa não foram esgotados. Pelo contrário, intencionam despertar o interesse para o desenvolvimento de novas pesquisas. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n° 9394, de 26 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. Disponível em < http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2015. BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Conselho Pleno. Resolução n. 1 – 15 de maio de 2006. Diário Oficial, n. 92, Brasília, 16 mai. 2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em: 1 jul. 2015. BRASIL. Lei n° 11.788, de 25 de setembro de 2008. Brasília, 2008. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm>. Acesso em: 1 jun. 2015. CARVALHO, A. M. P. Estágio nos Cursos de Licenciatura. São Paulo: Cengage Learning, 2012. 12001 LIMA, S. M. de; REALI, A. 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