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Livro - Introdução aos estudos históricos


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1 
 
Disciplina: Introdução aos Estudos Históricos 
Autor: M.e Rangel Max Lima Vidal 
Revisão de Conteúdos: Marcos Vinicius Tavares 
Revisão Ortográfica: Esp. Juliano de Paula Neitzki 
Ano: 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em 
cobrança de direitos autorais. 
 
 
2 
 
Rangel Max Lima Vidal 
 
 
 
 
 
Introdução aos Estudos Históricos 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Revisão de Conteúdos 
Marcos Vinicius Tavares 
 
Revisão Ortográfica 
Juliano de Paula Neitzki 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
VIDAL, Rangel Max Lima. 
Introdução aos Estudos Históricos / Rangel Max Lima Vidal. – Curitiba: Editora 
São Braz, 2019. 
85 p. 
ISBN: 978-85-5475-354-2 
1. História. 2. Historiografia. 3. Escola de Annales. 
Material didático da disciplina de Introdução aos Estudos Históricos – Faculdade 
São Braz (FSB), 2019. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos, o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade São Braz 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ...................................................................................................... 8 
Aula 1 – História: um campo de conhecimento ........................................... 10 
Apresentação da aula 1 .............................................................................. 10 
 1.1 – Antes da cientificidade do conhecimento histórico ...................... 10 
 1.2 – Heródoto, Tucídides e Flávio Josefo ........................................... 13 
 1.3 – A Idade Média ............................................................................. 16 
 1.4 – A Idade Moderna ........................................................................ 17 
Conclusão da aula 1 ................................................................................... 19 
Aula 2 – O tempo: um dos objetos da história ............................................ 19 
Apresentação da aula 2 .............................................................................. 19 
 2.1 – O tempo fora da história .............................................................. 20 
 2.1.1 – O tempo para Aristóteles ......................................................... 21 
 2.1.2 – O tempo para as Ciências Biológicas ...................................... 21 
 2.1.3 – O tempo cronológico e o tempo existencial .............................. 22 
 2.1.4 – A física e o tempo de Isaac Newton .......................................... 22 
 2.2 – Tempo linear e progresso ........................................................... 22 
 2.3 – Ciclos econômicos da história ..................................................... 23 
 2.4 – Temporalidade: domínio do historiador ...................................... 24 
 2.5 – Kant e as representações: desvalor da história ........................... 25 
 2.6 – Hegel e a temporalidade histórica ............................................... 25 
 2.7 – A cultura superior em Condorcet ................................................ 25 
 2.8 – A contribuição de Darwin ao etnocentrismo ................................ 26 
 2.9 – Heideger, Dilthey e os Annales ................................................... 27 
 2.10 – O tempo subjetivo da psicologia ............................................... 27 
Conclusão da aula 2 ................................................................................... 28 
Aula 3 – O ofício do historiador e as fontes históricas ................................. 29 
Apresentação da aula 3 .............................................................................. 29 
 3.1 – Documentos escritos .................................................................. 29 
 3.1.1 – Cartas ...................................................................................... 30 
 3.1.2 – Testamentos ............................................................................ 31 
 3.1.3 – Circulares, jornais e revistas ................................................... 31 
 3.1.4 – Documentos judiciais ............................................................... 33 
 3.1.5 – Documentos do Estado ........................................................... 34 
 3.1.6 – Outras fontes ........................................................................... 34 
 3.2 – Fontes iconográficas .................................................................. 35 
 3.2.1 – Pintura ..................................................................................... 35 
 3.2.2 – Escultura e arquitetura ............................................................. 36 
 
 
6 
 
 3.2.3 – Mapas ...................................................................................... 36 
 3.3 – Fontes orais ................................................................................ 38 
Conclusão da aula 3 ................................................................................... 38 
Aula 4 – História e Memória: a produção do conhecimento histórico ......... 39 
Apresentação da aula 4 .............................................................................. 39 
 4.1 – História e Memória ...................................................................... 40 
 4.2 – A memória .................................................................................. 40 
 4.2.1 – Lugar ocupado e distância temporal ........................................ 41 
 4.2.2 – Relações desenvolvidas .......................................................... 42 
 4.2.3 – A memória está exposta ao inconsciente ................................. 42 
 4.2.4 – A memória e os sentimentos .................................................... 42 
 4.2.5 – Memória individual e coletiva ................................................... 43 
 4.2.6 – Memória e linguagem .............................................................. 43 
 4.2.7 – Memória e vida ........................................................................ 44 
 4.3 – A história ..................................................................................... 44 
 4.3.1 – A história e a instrumentalidade............................................... 45 
 4.3.2 – História e diluição .................................................................... 45 
 4.3.3 – História é ciência ..................................................................... 45 
 4.3.4 – História oral ............................................................................. 46 
Conclusão da Aula 4 .................................................................................. 46 
Aula 5 – A longa duração: contextualização do surgimento das escolas 
de teoria ..................................................................................................... 47 
Apresentação da aula 5 .............................................................................. 47 
 5.1 – Contextos de longa duração: do século XV ao século XIX ......... 47 
 5.2 – Contribuições da Reforma Protestante ....................................... 48 
 5.3 – O trabalho neste contexto ........................................................... 49 
 5.4 – A usura e a acumulação ............................................................. 50 
 5.5 – A fé ............................................................................................. 51 
 5.6 – O Iluminismo ............................................................................... 52 
 5.7 – Finalmente, o século XIX ............................................................ 52 
Conclusão da aula 5 ................................................................................... 53 
Aula 6 – Produção historiográfica: a objetividade e neutralidade das 
fontes ......................................................................................................... 54 
Apresentação da aula 6 .............................................................................. 54 
 6.1 – Os atores do Positivismo ............................................................ 55 
 6.1.1 – Auguste Comte (1798-1857) ................................................... 55 
 6.1.2 – Stuart Mill (1806-1873) ............................................................ 57 
 6.1.3 – Leopold Von Ranke (1795-1886) ............................................. 58 
 6.2 – O método Positivista ................................................................... 59 
Conclusão da aula 6 ................................................................................... 61 
 
 
7 
 
Aula 7 – A crítica da fonte: o materialismo histórico-dialético ..................... 61 
Apresentação da aula 7 .............................................................................. 61 
 7.1 – Figuras históricas do materialismo histórico-dialético ................. 61 
 7.1.1 – Friedrich Hegel (1770-1831) .................................................... 62 
 7.1.2 – Karl Marx (1818-1883) ............................................................. 64 
 7.1.3 – Friedrich Engels (1820-1895) .................................................. 66 
 7.2 – Materialismo histórico-dialético: o método .................................. 67 
Conclusão da aula 7 ................................................................................... 69 
Aula 8 – A cientificidade histórica dos Annales ........................................... 70 
Apresentação da aula 8 .............................................................................. 70 
 8.1 – As gerações dos Annales ........................................................... 71 
 8.2 – A primeira geração ..................................................................... 71 
 8.3 – A segunda geração ..................................................................... 73 
 8.4 – A terceira geração ...................................................................... 74 
Conclusão da aula 8 ................................................................................... 76 
Índice Remissivo ........................................................................................ 78 
Referências ................................................................................................ 82 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Prefácio 
 
 
Olá, caro aluno e cara aluna. 
Bem-vindos à disciplina de Introdução aos Estudos Históricos. Iremos 
adentrar ao processo do saber que irá nos mostrar como é desenvolvido o modo 
de produzir história ao longo de alguns paradigmas direcionadores dos 
conhecimentos históricos. Trataremos da História enquanto campo do 
conhecimento científico, já que ela nem sempre foi considerada uma ciência. 
Vamos entender como foi esse processo que proporcionou ao historiador o ofício 
de cientista. Iremos ver sobre as fontes e o trabalho do historiador. Procuraremos 
compreender como é a sua relação enquanto cientista diante das diversas fontes 
que são tratadas para a produção do conhecimento histórico. 
Vamos às perguntas que podem auxiliar em como devemos entender esta 
disciplina, ou seja, qual direção deve nos guiar diante deste material: como se 
escreve ou se produz o conhecimento da história? Quem é o historiador? 
Qual a relação da história com o tempo? O que são e quais são as correntes 
historiográficas? O que é a historiografia? Quais são e como faço uso das 
fontes históricas? Todas essas indagações e outras que poderiam ser 
formuladas devem ser respondidas no desenvolvimento de nossas aulas a partir 
daqui. 
Mesmo a forma e, ainda, o como produzir o conhecimento histórico tem 
a sua trajetória que precisa ser concebida no tempo da história. É como se 
disséssemos: “Vamos entender como se produz o conhecimento histórico 
na história da história”; isso é o que simplifica o propósito da nossa disciplina, 
ou seja, compreender o processo histórico do fazer histórico e da produção do 
conhecimento ao longo da história. 
Iremos expor a forma de escrita e captação do conteúdo histórico ao longo 
das civilizações desde os Gregos até a contemporaneidade, priorizando as 
correntes e formas da produção historiográfica que mais influenciaram e 
impactaram no modo de operação dos conhecimentos históricos. Veremos as 
principais correntes historiográficas, como a Escola Positivista, que é precursora 
da história enquanto ciência, no processo de desenvolvimento do pensamento 
racional do século XIX. Compreenderemos as novas propostas sobre como 
 
 
9 
 
produzir o conhecimento histórico, empreendidas pelo Marxismo, com base no 
materialismo histórico-dialético, e também veremos a última grande escola que 
tem direcionado o modo de fazer história desde o início do século XX, a chamada 
Escola dos Annales, que propõe dar voz aos “esquecidos” da história. 
Ao propormos a compreensão das Correntes Historiográficas, não vamos 
aprofundar em sua teoria de maneira específica, finalidade esta que será 
alcançada nas disciplinas de Teoria da História, mas precisamos, neste 
momento, compreender o que são essas correntes e como elas são importantes 
para a história enquanto campo científico. A exposição das correntes 
historiográficas nesta disciplina é um primeiro passo para compreendermos 
como elas colaboraram de maneira fundamental para a cientificidade do 
conhecimento histórico, ao propor métodos estruturados para que o historiador 
possa trabalhar com as fontes e objetos, “elevando” a história a campo de 
conhecimento científico. 
Esta disciplina é fundamental na formação do historiador como licenciado, 
pois com ela é possível entender a vida humana dentro de seu contexto social 
em um dado tempo histórico. 
A priori, esses são os caminhos nos quais iremos trilhar, para que 
possamos agir como historiadores segundo a corrente historiográfica que mais 
se adequar ao nosso perfil de trabalho. De antemão, faço-lhe a seguinte 
recomendação: não se preocupe em se apegarpor quaisquer correntes 
historiográficas para direcionar seu modo de operação na história. Mas, nesta 
disciplina, abra sua mente ao máximo, para compreender todas as correntes e, 
quando estiver mais adequado ao processo de manuseio da história, escolher 
quais caminhos teóricos trilhar enquanto historiador. 
Um grande abraço, e vamos lá! 
 
 
 
10 
 
Aula 1 – História: um campo de conhecimento 
 
Apresentação da aula 1 
 
Olá, caro aluno e cara aluna. Sejam bem-vindos à primeira aula da 
disciplina. A partir de agora, vamos compreender quem é o historiador, como ele 
tem atuado ao longo da história humana, qual sua importância e como ele vem 
se transformando ao longo do tempo. 
Veremos de maneira sucinta a atuação de homens que hoje são tidos 
como historiadores, partindo do período grego, caminhando para alguns 
personagens historiográficos em Roma, no contexto de ascensão do cristianismo 
e ainda saltaremos para dentro do teocentrismo histórico da Idade Média. Em 
seguida, veremos um novo modo de pensar a história, a partir do processo 
conhecido como Renascimento, sob a perspectiva de que abrirá as portas para 
a revolução científica e consequentemente viverá seu apogeu com a ciência 
moderna, em que se busca a elevação das ciências humanas. 
Esse processo de exposição da aula tem como objetivo auxiliar na 
compreensão temporal linear de como houve a construção da história e da 
própria historiografia, sem que necessariamente a história fosse tratada como 
uma ciência ou campo de conhecimento disciplinar, como iremos conhecer e 
vivenciar a partir do século XIX. Boa aula! 
 
Importante 
 
A historiografia se ocupa da forma como a história é produzida, quais as 
correntes teóricas que direcionam suas ferramentas analíticas e produção do 
conteúdo histórico. 
 
1.1 Antes da cientificidade do conhecimento histórico 
 
A partir de agora, nossa preocupação será em definir o que é história. Ao 
longo do tempo, no que tange à produção do conteúdo histórico, os autores e 
cientistas que empreenderam essa caminhada tiveram a preocupação em definir 
 
 
11 
 
o que de fato pode ser concebido e definido como história, como primeira 
questão metódica, para balizar o serviço e a atividade do historiador. 
Segundo o historiador da Escola dos Annales Marc Bloch (1974), a 
história é o estudo do ser humano no tempo e, portanto, o historiador é 
aquele que se ocupa de conhecer e documentar essa história de forma 
metódica. Antes, porém, de adentrarmos nas representações de história e 
historiador, que são validadas a partir do século XIX, com a “elevação” da história 
ao reconhecimento enquanto ciência, vamos nos valer dos conceitos de história 
e historiador, considerados quase que informais, pois se encontram dissolvidos 
dentro dos períodos históricos. 
Ao pensarmos nas primeiras narrativas que representam, de alguma 
forma, uma produção historiográfica, guardadas as devidas proporções no que 
tange ao rigor científico proposto no século XIX, temos que a história, para o 
contexto da Grécia Antiga, era a história dos mitos, das narrativas heroicas e dos 
representantes das origens gregas que se encontram no interior dos poemas 
Ilíada e Odisseia. Essas são produções históricas sobre o passado heroico da 
civilização grega em que há a exposição da relação dos homens com o processo 
de construção social, e a relação dos homens com o transcendente mítico, 
personificados pela sua deidade. 
 
Vocabulário 
 
Deidade: diz respeito à divindade. 
 
É comum encontrarmos na historiografia que esses textos são poemas. 
Caso sejam, a poesia pode ter sido um dos primeiros meios ocidentais de se 
produzir a história. A priori, quem compilou esses poemas de Ilíada e Odisseia 
foi Homero ou os homéridas. Homero é tido como o grande responsável por 
compilar oralmente o conteúdo dessa poesia histórica. Expomos os dois termos 
devido à existência de duas compreensões sobre esse personagem da 
historiografia. A primeira é a probabilidade de Homero ter de fato sido um 
homem, que se encarregou de transmitir o passado micênico grego, oralmente 
para gerações posteriores até o momento que fora compilado de forma escrita. 
 
 
12 
 
Outra interpretação traz a possibilidade de ter havido os homéridas: uma 
função social no passado grego que se encarregava de garantir a transmissão 
oral do passado da Grécia. Para que possamos compreender como seriam 
esses homéridas, vamos recorrer didaticamente ao exemplo da realidade das 
tribos indígenas. Nessas tribos existe um personagem patriarca, às vezes 
investido na figura do pajé que é, entre outros aspectos, responsável por garantir 
que as tradições das tribos vão ser apreendidas pelas gerações ascendentes e 
vindouras. Esse processo ocorre por meio da transmissão oral do conhecimento 
cultural acumulado. 
 
 Importante 
 
Muitas tribos indígenas vêm aprendendo, aprimorando e intensificando o 
processo de construção de sistemas alfabéticos escritos de suas próprias 
línguas de origem. Uma grande parte das sociedades indígenas brasileiras se 
mantém como sociedades de tradição exclusivamente oral, mas uma outra parte 
adquiriu recentemente a prática alfabética. Os indígenas têm adquirido a prática 
alfabética tanto em português como em suas línguas nativas (GUESSE, 2011). 
 
Dessa forma, alguns especialistas da historiografia defendem que os 
homéridas seriam profissionais da tradição oral grega responsáveis por garantir 
essa transmissão do passado grego aos mais infantis e assim por diante. Por 
isso, o formato dos poemas e a forma apoteótica assemelham-se ao processo 
de construção proposital de um passado glorioso, com heróis que atendam a 
magnitude dessa glória. 
 
Vocabulário 
 
Apoteótica: diz respeito à apoteose, que significa endeusamento de algo ou de 
alguém. 
 
 
 
 
 
13 
 
1.2 Heródoto, Tucídides e Flávio Josefo 
 
Ainda no contexto de uma possível historiografia dos gregos, temos outro 
grande personagem, Heródoto. Representado pela arte renascentista com seus 
pergaminhos às mãos, viveu entre 485-425 a.C. e se destacou na escrita da 
história da invasão dos persas na Grécia. Foi reconhecido como um dos 
primeiros a usar para esse perfil de trabalho literário o termo em grego historie, 
que originalmente faz referência à “pesquisa”. Apesar da demora no 
reconhecimento da história enquanto um campo científico do saber, o termo 
usado por Heródoto já expressava um trabalho árduo de empreender-se no 
campo da pesquisa para que houvesse o conhecimento sobre o passado. 
 
 
Heródoto. 
Fonte: https://pixabay.com/pt/her%C3%B3doto-a-est%C3%A1tua-de-fil%C3%B3sofo-
1211819/ 
 
Para alguns historiadores, Heródoto subverteu a originalidade de algumas 
fontes, exagerando a sua precisão e conteúdo e, ainda, ampliando, 
possivelmente, o espaço territorial pelo qual percorreu no propósito de conhecer 
sobre o passado. Certo é que Heródoto tem sido representado como pai da 
História, mas uma história relegada “à periferia” do conhecimento. Ou seja, não 
havia nenhum tratamento específico com relação à sua produtividade ou seus 
métodos de produção. Por outro lado, havia nesse período em que Heródoto 
viveu poucas áreas do saber que reconhecessem mais especificamente seu 
 
 
14 
 
rigor, sobretudo a retórica e as ciências da saúde e da botânica. Para alguns, 
porém, Heródoto ainda foi o pai da historiografia. 
Outro escritor grego importante no processo historiográfico no tempo é 
Tucídides. Tucídides viveu entre 460-400 a.C. e foi responsável por documentar 
em sua época sobre a Guerra do Peloponeso. Enquanto Heródoto, para muitos, 
foi importante para a historiografia, pensando o formato da escrita, Tucídides foi 
responsável, para alguns, pelo processo de construção do rigor metodológico 
para a construção do conhecimento e conteúdo histórico. Há ainda outros nomes 
que podemos aprofundar por meio de pesquisas. Aqui, limitar-me-ei emcitá-los: 
Posidônio, Políbio, Hecateu de Mileto, Xenofonte e Éforo. 
 
 
Tucídides. 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tuc%C3%ADdides#/media/File:Thucydides-bust-
cutout_ROM.jpg 
 
 Podemos inserir, dentro de perspectivas similares que corroboram para 
uma forma de exposição histórica, o conteúdo do complexo de narrativas bíblicas 
ramificadas no judaísmo. Estas foram responsáveis por conduzir uma produção 
da história do homem desde sua origem, mas que a partir da perspectiva 
profissional do ofício do historiador se enquadram no campo da produção mítica, 
da mesma forma em que estão enquadradas as produções de Ilíada e Odisseia. 
 Concomitante à produção historiográfica bíblica, há, em certa medida, 
uma mudança na análise do conteúdo bíblico, a partir, sobretudo, da ascensão 
do cristianismo. Uma importante personagem da historiografia para esse 
processo foi Flávio Josefo. 
 
 
15 
 
 
Flávio Josefo. 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A1vio_Josefo#/media/File:Josephusbust 
.jpg 
 
 Flávio Joséfo nasceu em 37 d.C e pôde acompanhar in locus o efeito da 
ascensão do cristianismo a partir da igreja primitiva, a releitura do judaísmo pelos 
cristãos e, ainda, verificou presencialmente o processo de invasão das tropas de 
Vespasiano, responsáveis por destruírem Jerusalém. Possuía nacionalidade 
judaico-romana e era membro sucessório de uma importante família no contexto 
do Império Romano. Seu nome em hebraico é Yossef Ben Mattiyahm. Seu 
falecimento se deu no ano 100. 
Por descrever alguns fatos históricos, vivenciados cotidianamente, foi 
responsável por desenvolver um conhecimento histórico participativo. A 
pesquisa participativa é hoje um importante recorte do método de pesquisa das 
ciências humanas, em que o pesquisador vivencia na pele as contradições do 
objeto pesquisado. Guardadas as devidas proporções, Flávio Josefo teve 
significativa importância para registros que nos permitem compreender esse 
processo envolto no Império Romano e ascensão do cristianismo. 
 
 
 
 
 
 
16 
 
1.3 A Idade Média 
 
 No contexto da Idade Média, temos significativas mudanças no campo da 
produção que se destina ao conteúdo histórico. Concentrada nos monastérios e 
em figuras da vida religiosa, a história, nesse momento, é uma história 
teocêntrica. As relações sociais e a organização dos fatos históricos, por parte 
do historiador, estão fundamentados na vontade de Deus e, mesmo as 
discussões mais incisivas sobre o tempo histórico, como fez Santo Agostinho, 
parte de Deus como princípio central – Deus é o motor da história, o dominante 
da história. Essa história, muitas vezes, estava sendo produzida dentro dos 
monastérios, e seus precursores são vinculados diretamente à vida sacra. 
 Como exemplos, temos Gregório de Tours (538-594), historiador galo-
romano – viveu na antiga região da Gália, mas possui laços diretos com os 
descendentes do império Romano – ficando conhecido como o Bispo de Tours. 
O historiador Jacques Le Goff se utiliza de diversas produções de Gregório para 
compreender, na narrativa, o processo de construção do mundo feudal a partir 
das dinastias merovíngias. A principal contribuição de Gregório para a 
historiografia foi a sua obra Historia Francorum, obra responsável por relatar 
diversas personagens do processo de construção da Europa feudal, dentro das 
dinastias merovíngias e carolíngias, que circunscrevem aos Francos. 
 
 
Estátua de São Gregório no Museu do Louvre, na França. 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Greg%C3%B3rio_de_Tours#/media/File: 
Gregory_of_Tours_cour_Napoleon_Louvre.jpg 
 
 
17 
 
 Outro expoente desse período é João de Bicaro (540-631) ou São João 
Godo de Valclara – Bispo de Girona, que fundou o mosteiro Bicaro –, também 
clérigo da igreja, que produziu uma história teocêntrica, a partir de Deus como 
governante das ações humanas. 
Esse conjunto de historiadores não oficiais, no sentido da história 
enquanto ciência, foram fundamentais para um processo de afirmação da igreja 
na Europa Feudal. Eles são responsáveis por construírem as histórias dos 
santos católicos e as figuras heroicas dos clérigos que, de geração em geração, 
aumentavam o seu poder simbólico no contexto da Idade Média. Esse processo 
empodera de tal forma a igreja que ela adentra o ano 1000 buscando, com a 
Reforma Gregoriana, a infalibilidade papal e ser uma igreja que jamais devesse 
ter suas verdades questionadas. Verdades que muitos desses historiadores 
ajudaram a construir. 
 Ainda no contexto da Idade Média, podemos citar outros nomes que, 
necessariamente, não foram historiadores, mas que suas discussões filosóficas 
foram fundamentais para o maior problema da história: a relação do homem com 
o tempo. Temos o clérigo Santo Agostinho, que empreende reflexões fantásticas 
que contribuem para a importância da história, cuja centralidade de algumas 
reflexões está justamente na relação do homem com o tempo e em seu processo 
de construção social, que são objetos motores do trabalho dos historiadores. Há 
ainda as contribuições de Santo Tomás de Aquino, com sua magna obra Summa 
Theologica, que também irá empreender discussões sobre a relação do homem 
com o tempo, responsáveis por auxiliar a discussão historiográfica. 
 
1.4 A Idade Moderna 
 
 Avançando para o contexto da Modernidade, na virada do século XV e 
XVI, o processo que culminou no movimento renascentista vai impactar no modo 
como o ser humano enxerga e constrói a própria história. Agora, o pensamento 
racional, evocado do glorioso passado grego, permeia a vida renascentista. Essa 
racionalidade grita pela valorização do homem como ser responsável pelo 
próprio tempo e construtor da própria trajetória a partir das relações sociais. A 
historiografia renascentista vai então se preocupar com a história do indivíduo, 
centrada nas personagens da vida urbana, que revelam a história do novo e do 
 
 
18 
 
avanço, e passa a conceber o processo de construção historiográfico como 
ferramenta educativa. 
 Concomitante a esse processo, historiadores passam a ser compiladores, 
construtores de enciclopédias que se tornam verdadeiros baús de um 
conhecimento da vida do homem e produzido pelo homem. Para alguns 
historiadores, o período da Renascença para a história significa o desabrochar 
de um espirito científico que será plenamente vivido na modernidade. 
Concebendo o período dos séculos XIV, XV e XVI como momento de ruptura 
com o obscurantismo religioso da Idade Média, cultuando o passado glorioso do 
pensamento racional que irá proporcionar um boom de revoluções científicas em 
diversas áreas – inclusive nas ciências sociais, com notoriedade para História, 
Sociologia, Geografia, ciências que irão tomar proporções inéditas na 
modernidade. 
 Aqui também é possível enxergar a contribuição interdisciplinar no 
processo de desenvolvimento tanto historiográfico quanto para todo o campo 
cientifico, sobretudo quanto aos artistas, que terão papel fundamental no 
processo de construção da história do indivíduo, retratando a partir de agora, sob 
a égide do humanismo, a esfera subjetiva e objetiva dos objetos de pesquisa 
historiográficos, Nesse sentido, a arte renascentista irá ser um modo de 
operação que permite a construção de sujeitos históricos antes não conhecidos, 
cujas imagens eram inexpressivas. Basta percorrer a Velha Europa para notar a 
quantidade de artes renascentistas que se revelam verdadeiras obras 
historiográficas, caracterizando personagens históricos. 
 Assim, a modernidade é o auge desse processo que, com o 
desenvolvimento técnico, permite ao historiador se munir de outras fontes e, 
principalmente, desenvolver o método de pesquisa, buscando “elevação” a título 
de ciência, tais quais as ciências exatas e biológicas. Esse movimento irá resultar 
em três grandes escolas do pensamento historiográfico que coexistem na 
contemporaneidade da historiografia– encontramos um pouco de cada no modo 
de produzir história, na atualidade. Veremos, nesta disciplina, a contribuição de 
cada uma dessas correntes no processo de construção das ciências sociais com 
ênfase para a história. 
 
 
 
 
19 
 
Conclusão da aula 1 
 
Chegamos ao final da nossa primeira aula. Aprendemos sobre o caminho 
de uma construção do conteúdo histórico sem que, necessariamente ou, de 
forma oficial, houvesse um debate com relação à historiografia enquanto 
construção de método de produção do conteúdo histórico, a concebendo como 
um ramo do conhecimento científico. Caminhamos a partir da Grécia até a 
modernidade, citando e expondo ao aluno alguns personagens de cada período, 
proporcionando a chance de identificação visual com cada etapa do processo. 
Com essa exposição, esperamos subsidiar nosso aluno com uma base 
intelectual que auxilie e facilite a compreensão das próximas etapas dessa 
disciplina, que envolve uma discussão mais técnica do processo de construção 
historiográfico, problematizando correntes historiográficas e construção de 
métodos. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
 
No processo de compreensão a partir da imagética, pesquise sobre o museu 
do Louvre na França e descreva a sua importância para a historiografia. 
 
 
 
 
 
Aula 2 – O tempo: um dos objetos da história 
 
Apresentação da aula 2 
 
Olá, aluno(a). Seja bem-vindo(a) a nossa segunda aula. Vamos buscar 
expor sobre um debate inacabado, devido ao seu contínuo movimento, ou seja, 
a sua constante necessidade de transformação. Vamos expor sobre o tempo. 
Problema singular para a historiografia e objeto de debate de outras ciências, a 
concepção de tempo, de que se mune o historiador no processo de análise e 
narrativa do seu objeto, é determinante para os resultados do seu trabalho. 
 
 
20 
 
Para que o trabalho do historiador se desenvolva da forma mais plena 
possível, é necessário pensar em outros objetos que envolvem seu ofício. 
Certamente, porém, devemos a priori pensar que seja qual for esse objeto, 
sempre haverá para o ofício do historiador a preocupação fundamental de 
quando e onde esse objeto está enquadrado. Então, para o processo de 
construção científica do conhecimento histórico, o tempo é objeto, mas também 
compõe a metodologia. 
Nesse sentido, esta aula é de suma importância para a formação do 
historiador, sobretudo como produtor de pesquisas e conhecimentos 
historiográficos. Para o historiador que irá focar no ensino, tende a ser menos 
influente, podendo se limitar ao conhecimento informativo das diversas leituras 
e concepções temporais. Por outro lado, para o profissional de história que irá 
empreender no campo da pesquisa historiográfica, a forma com a qual ele 
concebe o tempo direcionará seus trabalhos, a relação com as fontes, a forma 
com a qual ele faz a leitura dos fatos e demais aspectos. Bons estudos! 
 
 
Cada ser humano se relaciona com o tempo de forma diferente. 
Fonte: https://image.freepik.com/fotos-gratis/passe-segurar-um-cronometro_53876-
24904.jpg 
 
2.1 O tempo fora da história 
 
 O tempo, apesar de ser fundamental para o trabalho do historiador, não 
se limita a um problema da história. Desde a antiguidade da Grécia, passando 
para o período clássico, os racionais do tempo e da sociedade já se 
 
 
21 
 
preocupavam com a forma com a qual os homens se relacionam com o tempo e 
como o concebemos. Pensemos filosoficamente a indagação: o que é o tempo? 
 
2.1.1 O tempo para Aristóteles 
 
 O filósofo clássico Aristóteles (384-322 a.C.), tido como um dos 
responsáveis pelo método científico, se preocupou com o tempo e sua 
concepção para pensar as relações sociais e existenciais da humanidade. Ao 
debruçar-se sobre o problema do tempo, Aristóteles faz a observação de que, 
antes, para pensarmos o tempo, precisamos existencialmente admitir que existe 
o movimento. 
Aristóteles vai desenvolver uma justa relação entre tempo e movimento. 
Ele expõe que o tempo é perceptível pela concepção do movimento por meio 
das transformações perceptíveis pelo homem vivente nas diversas esferas da 
sua existência. Elas permitem-lhe experimentar o fato de que o tempo está de 
alguma forma caminhando. Ainda dentro da concepção aristotélica, essa 
percepção vai balizar as relações do homem com o tempo, tanto no seio da vida 
social quanto no seio da vida física. 
 
2.1.2 O tempo para as Ciências Biológicas 
 
 As correntes de pensamento mais vinculadas às ciências biológicas, 
como, por exemplo, a psicologia, irão compreender duas formas temporais, 
correlatas à existência biológica: existência física do ser e a existência da pisque 
desse mesmo ser. Nesse sentido, as ciências biológicas afirmam o tempo 
enquanto uma percepção sensorial, não sendo uma criação intelectual do ser 
humano. Assim, o tempo é uma experiência do meio corpóreo experimentando 
algum tipo de passagem, correlato às condições físicas. A evidência desse 
conceito temporal é presente no processo natural de envelhecimento humano. 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
2.1.3 O tempo cronológico e o tempo existencial 
 
 Há, ainda com relação à concepção de tempo, o tempo cronológico (esse 
sim dotado de uma convenção humana) e o tempo existencial, ou seja, o tempo 
que a psique do ser humano consegue captar, perceber. 
No caso do tempo cronológico, ele é instituído de acordo com as 
condições e objetivos da sociedade em um dado período. Um segundo adendo 
ao tempo cronológico é que ele vem para organizar funções e atividades 
específicas da vida social do ser humano. Ambas as concepções encontram 
harmonização nas divisões temporais de semear e colher, de paz e de guerras. 
Essas perspectivas são encontradas em momentos da construção historiográfica 
sem que fosse dada como uma ciência mitológica propriamente dita. 
 
2.1.4 A física e o tempo de Isaac Newton 
 
 Ao ingressarmos no contexto que emerge as bases da modernidade, com 
profundo apego ao conhecimento científico e metódico a partir do 
desenvolvimento da técnica propriamente dita, temos a física, que também irá 
se ocupar de definir e questionar sobre a unidade temporal, ou seja, sobre o 
tempo. O que nos importa destacar está na construção de Isaac Newton (1643-
1727). Ao escrever, no ano de 1687, a obra Philosophiae naturalis principia 
mathematica (Princípios da Matemática da Filosofia Natural), definiu o tempo 
absoluto verdadeiro e matemático pela sua própria natureza, por si próprio. Ou 
seja, o tempo possui uma objetividade que independe de quaisquer fatores da 
vida humana, que deve e pode ser quantificado na natureza. Esse tempo é a 
medida para o movimento em um determinado espaço. Ele dividiu esse tempo 
em relativo e absoluto. O absoluto é o existente na concretude da natureza. O 
relativo é aquele que percebemos de acordo com o movimento no espaço. 
 
2.2 Tempo linear e progresso 
 
 O princípio temporal de Isaac Newton foi importante para a escola 
positivista da história no que tange à organização de uma lógica temporal, linear 
e progressista. Essa perspectiva foi fundamental para uma produção 
 
 
23 
 
historiográfica, que labutava em fazer o hoje ser superior ao ontem e, por isso, 
construir uma perspectiva de progresso. No seio da vida cotidiana do ser 
humano, essa percepção sobre o tempo provocou uma serie de complicações 
utópicas no dia a dia na medida em que esse conceito passou a se afirmar no 
interior do senso comum. O ser humano, pois, ignorantemente se convenceu 
que necessariamente o hoje deve ser melhor que ontem e que amanhã será 
melhor que hoje. Há a consciência, porém, de que esse processo não ocorre 
dessa forma. 
 Diametralmente, a vida nos conduz a descaminhos que nos mostram que 
hoje podemos fatalmente experimentar sensações e fatos que culminarão em 
um retrocesso de muitos fatores da nossa cotidianidade, colocando por terra 
essa percepção de progresso no tempo. É claroque o fundamento dessa 
concepção está assentado no tecnicismo que as disciplinas matemáticas 
produzem nesse contexto. A técnica incorporou com demasia precisão a 
capacidade de desenvolver melhores condições por meio de uma linearidade 
progressista, mas, infelizmente, essa realidade não se aplica ao tempo 
relacionado à vida humana em sua psique e na sua objetividade histórica. 
 Na história propriamente dita, essa linearidade matemática e progressista 
cria a percepção de que a produção do conteúdo histórico deve acontecer dentro 
da organização com começo e fim – uma produção historiográfica cujo conteúdo 
deve caminhar para uma definição, dando em determinado momento a sensação 
de que o problema foi definido, resolvido, atendendo a perspectiva solucionadora 
dessa época, em que se depositava na construção racional da ciência toda a 
possibilidade de solução. 
 Por outro lado, devemos fazer o seguinte alerta nesse processo de 
formação da história: as ciências sociais, de uma maneira geral, não possuem 
quaisquer possibilidades de trazer ao seio da sua produção a competência 
solucionadora no processo de fazer da história humana, sobretudo com o ser 
humano se tornando o dono de seu fazer. 
 
2.3 Ciclos econômicos da história 
 
 Com o processo crescente do sistema capitalista pautado na mercadoria 
de todas as espécies, as teorias econômicas também vão contribuir para uma 
 
 
24 
 
percepção sobre o tempo. Isso irá ocorrer com a retomada dos ciclos temporais 
aplicados à noção de ciclos econômicos. Ou seja, assim como a natureza possui 
ciclos produtivos (do arroz, da soja, do milho, etc.), a economia e o tempo do 
mundo capitalista também possuem e acompanham a lógica dessa 
produtividade, sendo igualmente cíclicos. Esse processo vai ocorrer com mais 
força no contexto do século XX, contribuindo inclusive para a quantificação dos 
dados para a produção historiográfica, em que cada vez mais as ciências sociais, 
de modo geral, apelarão aos dados quantitativos como o IBGE (Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística) para construir a narrativa histórica que 
convém ao objeto e à capacidade do historiador. Por isso, nesse momento 
encontramos historiografias publicando obras e definindo recortes temporais 
pela produção: sociedade do café, ciclo histórico do açúcar, entre outros que 
remetem ao ciclo de um sistema produtivo. 
 
2.4 Temporalidade: domínio do historiador 
 
As temporalidades históricas, por sua vez, podem ser entendidas como 
um passo significativo para que o tempo fosse cada vez mais propriedade e 
domínio do historiador. Paul Ricoeur (1976), ao tratar do tempo no contexto da 
temporalidade histórica coloca este como um processo social intuitivo que 
progride com o amadurecimento psicológico do sujeito que o percebe. Ou seja, 
para efeito da temporalidade histórica, o historiador está refém da maturidade e 
da forma que percebe aquele processo. Nesse sentido, para a história enquanto 
campo científico, é o empoderamento do historiador frente ao tempo que 
determinaria seu domínio. 
 A partir desse momento, parece haver um processo de conscientização 
de que o tempo histórico e a forma com a qual o historiador lida com seu objeto 
ocorrem com alguma medida de subjetividade do historiador. Isso ocorre na 
medida em que a percepção do historiador pode ser influenciada pelo seu próprio 
contexto ou condição existencial e ainda que não perceba influenciar na escolha 
do objeto, em como tratá-lo, conflitando inclusive com a tese positivista da 
neutralidade do pesquisador sobre o objeto. 
 
 
 
 
25 
 
2.5 Kant e as representações: desvalor da história 
 
 Essa relatividade quanto à temporalidade na história e ao posicionamento 
frente ao objeto aumenta na medida em que Immanuel Kant (1724-1804), em 
sua obra Kritik der reinen Vernunft (Crítica da Razão Pura) (1781), estabelece 
que o homem jamais consegue apreender o problema em sua totalidade. Dirá 
que o que concebemos são representações que produzimos do concreto, mas 
jamais conhecemos o concreto propriamente dito. Essas representações, por 
sua vez, são permitidas pelos sentidos que captam todo o processo. 
O problema posto por Kant, para a historiografia é, dessa forma, que tudo 
que for produzido pela história não passa de representações, caindo em uma 
linha tênue com a inverdade. 
 
2.6 Marx e Engels e a temporalidade histórica 
 
 A proposta de como pensar o tempo e tudo o que é produzido em um dado 
contexto ocorre a partir de diferentes perspectivas. O filósofo Georg Wilhelm 
Friedrich Hegel (1770-1831) propõe o idealismo absoluto, cuja ideia central era 
a de que o mundo, finito, era um reflexo da mente – a consciência humana criaria 
a realidade. Esta, sozinha, era verdadeiramente real. A partir dele e em 
contraponto a ele, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) 
propõem o materialismo histórico-dialético, baseando-se no argumento de 
que a história resulta de condições materiais, e não de ideias – a realidade criaria 
a consciência humana. 
Esse procedimento com relação ao tempo histórico analisa as condições 
de um determinado tempo a partir das mudanças nas condições materiais do ser 
humano, provocadas, sobretudo, pelo trabalho. Ou seja, se pretende entender 
aquele dado período, sua inércia ou mesmo suas transformações, deve-se partir 
das relações sociais e materiais do ser humano. 
 
2.7 A cultura superior em Condorcet 
 
 Novamente mais próximo de uma produção positivista e etnocêntrica da 
história, temos a temporalidade diagnosticada e debatida por Marie Jean Antoine 
 
 
26 
 
Nicolas de Caritat (1743-1794), conhecido como Marquês de Condorcet. Sua 
proposta é que o tempo histórico deve ter sua análise a partir da cultura. Essa 
proposta cultural em nada se assemelha às propostas contemporâneas. Diz 
respeito a uma análise progressiva das sociedades a partir do seu conteúdo 
cultural, determinando na linearidade do tempo que uma cultura no passado é 
sinônimo de atraso, enquanto o presente é uma cultura social complexa e 
sinônimo de progresso, que deve ser inclusive seguido por outras nações como 
modelo de progresso. Essa cultura etnocêntrica foi fundamental para a 
historiografia que se encarregou de produzir um conteúdo histórico eurocêntrico, 
como se as bases da sociedade europeia fossem sinônimo de progresso, 
havendo a necessidade de estudarmos o tempo a partir delas e aprender com 
elas o caminho do progresso. 
 
2.8 A contribuição de Darwin ao etnocentrismo 
 
 Concomitante a essa visão de temporalidade progressista da história, 
ainda houve um adendo que auxiliou no processo de surgimento da Escola 
metódica dita positivista, o processo de seleção evolucionista da história, 
extraída justamente da tese de Charles Darwin (1809-1882) sobre as espécies. 
Essa “simbiose” gerou no positivismo de August Comte (1798-1857) a 
necessidade de se buscar uma história cuja narrativa se encarregasse de contar 
a história da evolução das nações a partir de leis que deveriam balizar ou regular 
o desenvolvimento humano. 
 Veremos mais à frente as especificidades da escola metódica, mas 
podemos salientar que, pelo fato de ter se desenvolvido simultaneamente 
enquanto história e sociologia, ela busca parâmetros regulatórios para a 
condução da história e da sociedade, no sentido de criar um método que, uma 
vez adotado, no tempo, poderá te conduzir ao mesmo estágio de progresso ou 
evolução do outro. São as receitas de bolo para o progresso da humanidade no 
campo historiográfico. Somado a isso, ainda temos a contribuição de Leopold 
Von Ranke (1795-1886), que irá supervalorizar o Estado Nacional, em um 
determinado estágio de progresso comparado a outro menos evoluído. Há ainda 
nessa valorização do Estado as questões correlatas à construção dos heróis 
 
 
27 
 
nacionais. No Brasil, por exemplo, essa perspectiva influenciou na construção 
dosheróis brasileiros do período da Ditadura Militar. 
 
2.9 Heideger, Dilthey e os Annales 
 
 Influenciando a temporalidade como compreensão do historiador, temos 
a contribuição de Martin Heideger (1889-1976) e de Wilhelm Dilthey (1833-
1911), que formularão temporalidades desenvolvidas no interior da Escola dos 
Annales. Heidegger refuta a tese de uma temporalidade absoluta, dizendo que 
isso era algo variável de acordo com a relação com o futuro. Dilthey acrescenta 
ainda que essa variável poderia ser também a partir do presente. Quando os 
Annales discutem a temporalidade, usam esses autores para refutar a noção de 
anacronismo, ou seja, de enxergar a história a partir de questões do presente. 
Esse processo é o que gera na humanidade as fontes históricas. 
 A Escola dos Annales, veremos de maneira específica, significou uma 
renovação na temporalidade histórica, havendo o trabalho simultâneo de 
diversas temporalidades em um mesmo processo analítico. Veremos isso com a 
escola já no seu momento inicial com Fernand Braudel. 
 
2.10 O tempo subjetivo da psicologia 
 
 Sobre o tempo, pensando a historiografia, o processo de 
interdisciplinarização do conteúdo histórico passou-se a partir da fenomenologia, 
campo desenvolvido sobretudo na psicologia, com a perspectiva de tempo 
objetivo e o tempo subjetivo e que algumas historiografias têm carregado sua 
produção com essa noção. Objetivamente, existe um tempo, seja ele 
cronológico, seja ele social ou de qualquer outra forma. A relação do sujeito 
historiador, porém, com o tempo, pode variar devido a sua subjetividade e 
emoção. 
 Para encerrar, vamos a uma ilustração cotidiana desse processo. O dia 
tem convencionalmente 24 horas. Se você se encontra em um estado emocional 
positivo ou alegre, o dia passa a uma velocidade maior. Se as mesmas 24 horas, 
forem vivenciadas, experimentadas em um momento de angústia ou de tristeza, 
a sensação da psique é que esse dia está mais longo. 
 
 
28 
 
 O certo é que o tempo histórico permanece para a historiografia e para o 
historiador em constante revisão e transformação, devido ao próprio quadro de 
transformação contínua da vida humana e suas relações sociais. Como 
historiadores, temos que ser criteriosos em nossa escolha com relação à 
temporalidade histórica, pois isso irá interferir no processo analítico. Ainda que 
a corrente positivista pregue a neutralidade do historiador frente ao objeto, é em 
demasia impossível que essa interferência não ocorra, mesmo em estágios do 
processo que não aparente, como a escolha do objeto, o recorte temporal, o 
recorte espacial que, apesar de estarem amparados pela técnica do ofício do 
historiador, podem facilmente carregar em algum grau a subjetividade do 
pesquisador. 
 
Conclusão da aula 2 
 
Chegamos ao final de mais uma aula. Aqui, pudemos problematizar sobre 
a relação do homem/ser humano com a história e o tempo. Vimos o tempo fora 
da história, em outros campos analíticos, mas que influenciaram o modo de 
construção historiográfico, e outros que ainda influenciam. Expomos sobre 
algumas temporalidades inerentes ao historiador, que nos servirão como base 
para analisar as três principais correntes historiográficas desse processo. 
A discussão foi uma contextualização geral e histórica sobre o problema 
sempre inacabado do historiador e o tempo, que deve orientar a sua forma de 
entender, enxergar e construir o conteúdo da história. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
 
Fora do tempo histórico, pudemos ver diversas contribuições acerca do tempo 
no processo de construção da vida humana no seu contexto total. Dessa 
forma, empreenda uma pesquisa e descreva qual a exposição de Platão sobre 
o tempo. 
 
 
 
 
 
 
29 
 
Aula 3 – O ofício do historiador e as fontes históricas 
 
Apresentação da aula 3 
 
Olá, caro aluno e cara aluna. Seja bem-vindo(a) à terceira aula da 
disciplina. A partir de agora, vamos aprender sobre as fontes históricas enquanto 
conteúdo analítico para o ofício de historiador. 
Nesse momento, escolhemos fazer a exposição objetiva dessas fontes a 
partir de uma perspectiva mais tradicional da história, metodicamente nos 
limitando a problematizá-las nelas mesmas. Não há quaisquer pretensões de 
uma criticidade absolvida pelas correntes historiográficas das quais nos 
utilizaremos. 
Iremos expor primeiramente sobre as fontes escritas, depois as fontes 
iconográficas, pensando na sua diversidade e, por fim, iremos analisar as fontes 
orais. De maneira sucinta, também iremos pensar as fontes vinculadas a outras 
ciências, mas que igualmente são úteis ao processo de construção do 
conhecimento historiográfico. Boa aula! 
 
3.1 Documentos escritos 
 
 Analisando especificamente as opções de fontes dentro do recorte das 
fontes escritas, podemos levar em conta as fontes escritas ditas oficiais e 
pessoais. Comumente essas fontes oficiais são relacionadas a documentos de 
instituições públicas, privadas ou mesmo religiosas, que expressam as 
convenções sociais de cada tempo. As fontes pessoais são documentos escritos 
circunscritos à vida privada de um sujeito ou coletividade que não tenha 
quaisquer relações institucionais. Uma carta, por exemplo, ou mesmo um 
documento podem ser enquadrados na condição de fontes históricas escritas 
pessoais de uma determinada pessoa. 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
3.1.1 Cartas 
 
 
Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei Dom Manuel I (1500). 
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Pero_Vaz_de_Caminha#/media/File:Carta-caminha 
.png 
 
 A imagem é da carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da esquadra 
portuguesa que chegou ao Brasil no início do século XVI. As cartas, de maneira 
geral, são importantes documentos de uso do historiador para construir 
uma percepção do real. No caso do nosso exemplo, podemos pensar no que a 
carta deve ter contribuído para a construção da historiografia ter acesso ao 
conteúdo desse documento. Ela possibilitou ao historiador compreender quais 
as percepções que o português teve ao encontrar as terras brasileiras, como ele 
concebeu o território, os ocupantes e o quanto o cenário impactou a perspectiva 
portuguesa, como exemplos. 
Outra situação interessante de se problematizar ao se ter acesso a tal 
fonte é quanto à linguagem e aos termos da época, que revelam por meio do 
letramento e das expressões usadas a formação cultural de quem escreve. 
A carta pode ser tanto oficial quanto pessoal. Por exemplo, no contexto 
da carta de Pero Vaz de Caminha, ela se trata de um importante meio de 
comunicação pessoal, ao passo que é usada tanto para meios oficiais, de 
estado, exército, cartórios e outros. Os textos bíblicos, por exemplo, que se 
 
 
31 
 
tornaram fundamentais para a constituição do cristianismo, sobretudo os textos 
paulinos, se tratam de cartas destinadas a amigos e a igrejas, que foram fontes 
para a história e ainda para fundamentar toda uma filosofia cristã. 
 
3.1.2 Testamentos 
 
 Os testamentos também se enquadram enquanto importantes fontes de 
conhecimento acerca de um contexto histórico. Com eles, podemos quantificar 
riquezas e proporcionar dimensões de valor – o que era valoroso para o objeto 
pesquisado e, ainda, para quem direcionava suas posses –, revelando situações 
no campo da afetividade. Também é possível, nos testamentos, compreender o 
processo de valorização das relações sociais, transformações e 
heterogeneidade no processo de construção das relações. 
 Um exemplo interessante nesse processo de análise historiográfica de 
testamentos ocorreu em documentos testamentários de senhores de escravos 
no estado do Paraná. No testamento, o senhor garantia posses ao escravo, 
garantindo-lhe alguma condição de vida e de sustentabilidade. Para o contexto 
da escravidão moderna, no Brasil, porém, esse testamento serviu para 
problematizar a heterogeneidade do processo escravocrata no território 
brasileiro. Também permitiucompreender relações de pessoalidade, em que os 
senhores, algumas vezes, trataram com carinho o seu escravo, demonstrando 
clara afetividade por ele. Esse tipo de revelação, por exemplo, proporciona ao 
historiador uma riqueza analítica complexa, que compõe, no processo, com 
outras ciências; narrativa, estrutura linguística e análise de discurso auxiliam na 
compreensão dos documentos escritos. 
 
3.1.3 Circulares, jornais e revistas 
 
 As circulares, jornais e revistas têm se tornado importantes fontes 
historiográficas no processo de análise do contexto social em dada realidade 
histórica. Passado pelo crivo metodológico da corrente que embasa o processo, 
esse tipo de documento é muito buscado para analisar períodos mais recentes 
da história, histórias regionais, formações de territórios novos, que permitem o 
 
 
32 
 
acesso a esse tipo de fonte, com conteúdo significativo para compreender os 
dilemas e perspectivas de um dado território no tempo. 
 
 
Anúncio de escravo fugido (1834). 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/624733779533584105/ 
 
 Enquanto fonte histórica, temos, como exemplo, uma circular que trata da 
informação sobre um escravo fugido, com todas as especificações acerca do 
escravo e ainda uma proposta de recompensa para sua captura. Importante 
fonte escrita, esse tipo de circular é muito recorrente no cotidiano do trabalho 
dos historiadores que estão debruçados sobre a escravidão moderna, no 
contexto da história do Brasil. Esse tipo de documento, por exemplo, auxilia no 
processo de compreensão das características sociais do escravo, de como se 
escreve sobre esse sujeito, revelando a forma com a qual a sociedade concebia 
e tratava na cotidianidade a sua pessoalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
33 
 
 Saiba mais 
 
Em 13 maio de 1888, a aprovação de uma lei pelo Império deu fim ao sistema 
que permitia o tratamento de homens e mulheres negros como objetos, 
propriedades cujo valor se media em moedas e, por isso, podiam ser negociados 
como mercadoria. O Jornal Nexo apresenta dados e conversa com 
pesquisadores dedicados ao tema da desigualdade racial para entender o atual 
estado da questão no Brasil. As diferentes etapas da vida do brasileiro, da 
primeira infância à velhice, são abordadas sob a ótica da população negra, 
colocando à vista as dimensões do problema e as saídas possíveis para uma 
sociedade livre dele. Ao fim, colunistas do Nexo apresentam ensaios inéditos 
sobre questões não resolvidas no Brasil pós-abolição. 
Disponível no link: https://www.nexojornal.com.br/especial/2018/05/11/130-
anos-p%C3%B3s-aboli%C3%A7%C3%A3o 
 
3.1.4 Documentos judiciais 
 
 Documentos judiciais são importantes fontes históricas para compreender 
diferentes contextos históricos, sobretudo a partir dos conflitos que comumente 
agravam o processo de transformação social. Se fizermos um comparativo com 
o tempo presente, o sistema judiciário possui significativa importância no 
processo de vida cotidiana e relações sociais. As leis, por exemplo, são vistas 
sociologicamente como mecanismos de coerção social e balizam as relações 
sociais. Por isso, ter acesso aos processos judiciários ajuda a compreender o 
modo de vida do contexto social no passado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
34 
 
3.1.5 Documentos do Estado 
 
 
Esboço da Constituição Francesa de 1795. 
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/-
oIqTPxYzH4M/VgZr49SqhkI/AAAAAAABA3Q/tPyuJaZkwuA/s1600/constitucion_anyo_i
ii_republica_francesa.jpg 
 
 Os documentos ditos oficiais em grande parte são vinculados às 
instituições. Como exemplo, temos um fragmento do esboço da Constituição 
Francesa de 1795 com diversas anotações. Esse tipo de documento comumente 
causa diversas problematizações entre os historiadores, sobre a objetividade de 
documentos que atendem a necessidade de uma instituição, carecendo de uma 
revisão crítica sobre essa intencionalidade. Na tradição positivista, por exemplo, 
o método analítico consistia em não questionar a objetividade da informação que 
o documento trazia. 
 
3.1.6 Outras fontes 
 
Para que você possa se aprofundar em uma possível necessidade da sua 
carreira de historiador, seguem outros tipos de fontes históricas: registro de 
cartório; registro de nascimento; obituário médico; registro de alfandegas; 
balanço contábil; etc. As possibilidades para fonte histórica são numerosas, 
dependendo muito da criatividade e capacidade por parte do historiador em 
 
 
35 
 
explorar as alternativas que vão surgindo no processo de construção da 
humanidade. 
 
3.2 Fontes iconográficas 
 
 Ao tratarmos de fontes iconográficas, estamos falando da importância da 
imagem no processo de construção do conteúdo histórico. A iconografia tem se 
valido de singular importância para o processo de conhecimento histórico. 
Enquadram-se como iconografia fontes como pinturas, fotos, esculturas, 
desenhos, mapas e quaisquer outros procedimentos imagéticos empreendidos 
no passado e que nos possam revelar informações sobre o passado. 
 
3.2.1 Pintura 
 
 A pintura traz conteúdos reveladores da história humana que, além de 
demonstrar a perspectiva da época sobre o objeto retratado, também demonstra 
a própria vivência da realidade representada. Em algumas ocasiões, falam mais 
que quaisquer outros tipos de documentos. 
 
 
Teto da capela Sistina (Michelangelo, 1508-1512). 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin/379076493605247014/ 
 
 
36 
 
 
A título de exemplo, temos a pintura na Capela Sistina, em Roma, 
considerada uma obra de arte renascentista de Michelangelo. Ela confirma, 
assim como outras obras renascentistas, o movimento intelectual que clamava 
pelo renascimento da perspectiva clássica dos gregos, sobre a vida e a 
centralidade do homem. Podemos perceber que quanto mais antiga a civilização 
pesquisada, maior a importância das imagens, mesmo porque grande parte das 
civilizações mais antigas não possuíam sistemas de grafia e registravam sua 
vida a partir de pinturas – como, por exemplo, as pinturas rupestres. 
 
3.2.2 Escultura e arquitetura 
 
 As esculturas são importantes fontes históricas iconográficas. Revelam 
concepções de mundo, de sociedade, de pessoas e de objetos e auxiliam o 
historiador no processo de reconstrução do tempo. Isso é fundamental em 
diferentes tempos. A título de exemplo, na Grécia, muitos personagens 
importantes eram representados por meio de esculturas. 
Concomitante às esculturas, temos a cunhagem de moedas. Como 
exemplo dessa riqueza cultural, temos as moedas do Império Romano, que são 
muito ricas no processo de compreensão sobre seus símbolos e funcionamento. 
 A arquitetura é outro importante documento historiográfico, podendo servir 
como indicador da tecnologia de uma dada civilização no processo de 
construção. 
 
3.2.3 Mapas 
 
Os mapas também são importantes fontes historiográficas, justamente por 
não estarem limitados à utilidade da história. Pertencentes à cartografia no 
contexto da geografia, os mapas mostram muito mais que territórios e 
localizações: revelam movimentos e transformações que denunciam a relação 
do ser humano com o espaço e, consequentemente, com o tempo. Os mapas 
revelam a condição territorial de reinos, de impérios, de estados nacionais e 
movimentos migratórios e permitem ao historiador enxergar os dilemas 
territoriais que tais processos tiveram que encarar. 
 
 
37 
 
Um mapa, enquanto fonte histórica, pode ser concebido como um 
revelador da capacidade técnica de determinado tempo em um povo, ao 
apresentar uma tecnologia na própria confecção do mapa. Também pode revelar 
a noção de espaço concebido por uma dada civilização. Por exemplo, ao 
consultarmos os mapas europeus da Idade Média (anteriores aos 
descobrimentos), veremos que, de fato, os medievais, no eurocentrismo 
territorial, em momento algum em sua cartografia apresentam sinais de que 
concebiam a existência de tais terras, demonstrativode relativa fatalidade no 
processo histórico dos descobrimentos. 
 
 
Portulano. Parte do Atlas Catalão. 
(Abraham e Jehuda Cresques, 1375). 
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Catalan_Atlas#/media/File:Atles_catal%C3%A0_ 
(full_4,_ca000004).jpg 
 
Como exemplo de fonte histórica, temos a representação de um 
portulano. Este gênero cartográfico “desenvolveu-se durante os séculos XIII e 
XV ao redor da bacia mediterrânea e é considerado base do desenvolvimento 
técnico necessário para a cartografia científica renascentista” (NOGUEIRA; 
BIASI, 2015). Concebido antes das Grandes Navegações, não se encontra 
documentado o continente americano, relevando a importância do mapa e da 
interdisciplinaridade das fontes, no processo de pesquisa do historiador. 
 
 
 
38 
 
3.3 Fontes orais 
 
As fontes orais tratam-se de documentos históricos muito antigos quanto 
à sua utilidade ou mesmo em sua forma tradicional de transmissão de 
conhecimento. Por outro lado, sua utilização como fonte histórica é 
contemporânea, complexa e em constante processo de análise. A fonte oral 
caminha junto com o conceito de história e memória; a história construída a partir 
das narrativas. 
É uma fonte historiográfica extremamente complexa para se trabalhar, na 
medida em que o historiador fica refém da memória do depoente e tem que crivar 
e cruzar diversos discursos, analisando suas congruências e divergências e 
amarrando o processo analítico com outras fontes “mais” documentais, para 
caminhar num processo de validação da narrativa. Como ela é dependente da 
memória, as fontes orais em certa medida são um risco para o historiador. 
Por outro lado, enquanto forma humana de transmissão de conhecimento, 
sobretudo tradicional, é o meio mais antigo para se reproduzir uma história de 
geração em geração. Mesmo na contemporaneidade, podemos perceber sua 
eficiência nos povos indígenas, ao sustentarem suas tradições a partir da 
oralidade. É muito importante, contudo, estar dotado de técnicas e ferramentas 
metodológicas para validar a utilidade da fonte oral, no processo afirmativo da 
historiografia. 
 
Conclusão da aula 3 
 
Chegamos ao final de mais uma aula. Conhecemos diversas fontes 
históricas que se encontram disponíveis para a historiografia, fazendo proceder 
com o trabalho do historiador. Expomos as fontes com exemplos objetivos de 
como podemos nos servir delas, e também imagens que auxiliassem na 
compreensão das fontes históricas. 
Os objetivos desta aula se justificam na medida em que cada fonte 
histórica é utilizada e aproveitada dentro de um contexto metodológico proposto 
pela corrente historiográfica e o método de que se utiliza o historiador – de 
acordo com a corrente historiográfica, a forma de tratar a fonte histórica utilizada 
pode variar. Isso significa que positivistas, materialistas histórico-dialéticos e 
 
 
39 
 
culturalistas dos Annales podem tratar de uma mesma fonte histórica a partir de 
perspectivas e visões diferentes. Assim fica claro o porquê de não aprofundamos 
a nossa análise sobre o processo de utilização das fontes históricas. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
 
Faça a leitura do documento abaixo, que trata do texto contido na declaração 
do fim da Escravidão Moderna no Brasil, assinado pela princesa Isabel. 
Descreva o que pode ser percebido no texto, na linguagem e na 
intencionalidade de sua carta, procedendo como um historiador frente ao 
documento. 
 
http://www.historia.seed.pr.gov.br/arquivos/File/fontes%20historicas/lei_aure
a.pdf 
 
 
 
 
 
Aula 4 – História e Memória: a produção do conhecimento histórico 
 
Apresentação da aula 4 
 
Olá, caro aluno e cara aluna. Sejam bem-vindos à quarta aula da 
disciplina. A partir de agora, vamos aprofundar em conhecer sobre a correlação 
entre história e memória e ainda aprofundar nossa compreensão em como lidar 
com os documentos orais no processo de crivo para construção do conteúdo 
histórico. Esse processo é muito importante para o ofício do historiador, no 
sentido de validar e tornar científico o conhecimento histórico. 
A preocupação com o processo científico na construção do conhecimento 
histórico é justamente o que diferencia a história, enquanto disciplina científica, 
de outras matérias, como estória, jornalismo e outros que não possuem o rigor 
científico. Bons estudos! 
 
 
 
 
 
40 
 
4.1 História e Memória 
 
 A relação entre história e memória é íntima em demasia. A história, 
segundo a historiografia, em muito recorre à memória para produzir a história. 
Apesar dessa relação muito próxima, história e memória possuem muito mais 
coisas que as diferem do que necessariamente elementos que as tornam 
parecidas. 
 O uso da tradição oral ou da memória para o processo de construção da 
história passou a ser considerado com maior intensidade a partir de 1950 nos 
Estados Unidos e no México a partir da invenção do gravador. Basicamente, 
consiste em diversos meios de colher depoimentos, entrevistas e falas que 
possam ser filmadas, gravadas ou mesmo transcritas sobre um fato histórico 
sobre o qual estará debruçado o historiador. O que há de comum entre memória 
e história que as fazem manter constante diálogo? Basicamente, história e 
memória mantêm em comum a justificativa do diálogo constante entre elas, a 
relação conectada entre passado e presente. Tanto a história quanto a 
memória se utilizam do passado para tratar de questões correlatas ao presente. 
 Para grande parte dos historiadores, isso é o que há de mais acentuado 
entre história e memória, no que tange à similaridade. Depois dessa correlação 
vinculada que ambas sustentam pelo passado para pensar questões do 
presente, há muitas outras questões que as diferem. E as diferem de tal maneira 
que a história deve ter muitos cuidados com as zonas de tensão entre ela e a 
memória quando se utilizar dessa fonte como subsídio para a construção do 
conhecimento científico. Vamos trazer mais alguns elementos circunscritos à 
realidade da memória que irão nos auxiliar a compreendê-la comparativamente 
à história. 
 
4.2 A memória 
 
 É válido se atentar, enquanto futuro historiador, que a memória é a linha 
tênue posta com a história, incitando muitos historiadores iniciantes ao erro de 
tratá-las como iguais ou mesmo confundi-las no processo analítico e construtivo 
junto às fontes. Nesse sentido, o historiador deve ter respeito com relação à 
memória enquanto “patrimônio histórico” do seu objeto de pesquisa. 
 
 
41 
 
 Visto que constantemente estamos lutando para que patrimônios 
históricos físicos sejam conservados e tratados com respeito para que se 
conservem neles as insígnias de um tempo passado, a memória, nesse sentido, 
indefere-se. Ela se trata, antes de tudo, de um metafórico patrimônio histórico 
que empreende uma luta de igual ou maior proporção para se manter, tal qual, 
quaisquer patrimônios históricos e culturais que possam encontrar-se em risco 
de desabamento pela falta de cuidados por aqueles que se interessam pelo 
conteúdo nele impresso. 
 Dito isso, o primeiro ponto metodológico que chamamos a atenção é a 
relação da memória com o lugar. Para que a memória possa 
metodologicamente ser utilizada pela história, devemos nos perceber sua íntima 
relação com o lugar, ou seja, o espaço que proporcionou vazão a essa memória. 
Toda memória expressa pelo depoente possui um lugar onde ela foi construída, 
originada, e conhecer ou saber desse lugar é fundamental para o historiador no 
processo de legitimação daquela determinada memória para o conhecimento 
histórico. Perceba, aqui, o que propósito do lugar é justamente em desenvolver 
um caminho para crivar a sua originalidade e a sua utilidade para a produção 
historiográfica. Uma memória sem lugar possivelmente deve ser descartada do 
processo de construção historiográfico. 
 
4.2.1 Lugar ocupado e distância temporal 
 
Além de se preocupar, enquanto historiador,com o lugar de onde se 
origina determinada memória, deve também se atentar com o lugar que ocupa o 
depoente com relação à memória e seu lugar de origem, pois as experiências 
posteriores no tempo e sua vivência em um espaço distinto do original em que 
foi gerada podem facilmente interferir na rememoração dos fatos. Narrativas 
desconexas e cheias de lacunas podem ser trazidas, tornando o trabalho do 
historiador ainda mais complexo. 
Quanto maior for a distância temporal com relação ao fato rememorado, 
maior é o risco desse fato ser rememorado com condições de falhas. 
 
 
 
 
 
42 
 
4.2.2 Relações desenvolvidas 
 
Concomitantes ao lugar ocupado no momento da rememoração estão as 
relações que se desenvolvem posteriormente ao processo vivido que também 
podem alterar a veracidade do fato vivido. Essas lembranças próximas ao real 
vivido podem ser lançadas ao esquecimento, transformando o jeito de 
rememorar, sendo contado o mesmo fato de diversas maneiras. Esse risco fica 
claro quando o historiador passa a empreender a tentativa de uso da memória 
em mentalidade coletiva, ou seja, a tentativa de reconstruir metodologicamente 
um fato que diversas pessoas vivenciaram conjuntamente. Ao empreender as 
entrevistas individualmente, é possível construir um mosaico de fatos e detalhes, 
que um lembrou e o outro não. Ou, ainda, um terceiro que colocou outra ponta 
no novelo que, há pouco, sequer existia. 
 
4.2.3 A memória está exposta ao inconsciente 
 
É comum da nossa atividade cerebral que, ao passar dos dias, semanas, 
meses e anos, “lancemos fora” para o inconsciente diversas informações que 
fazem dele um depositário sem vida. Subitamente, porém, podem mudar os 
rumos da retórica do entrevistado, com surgimentos, que alteram o curso 
analítico, tornando o processo algo realmente como um quebra-cabeças ou 
mesmo a construção de um mosaico, que ao final precisa fazer sentido ou 
mesmo manter uma coerência metodológica. 
 
4.2.4 A memória e os sentimentos 
 
Diferente da objetividade do historiador, a memória vinculada ao vivido ou 
ainda de quem vive está atrelada e exposta aos efeitos da emoção. Desse modo, 
o afeto que o meu entrevistado desenvolve para com o objeto pesquisado pode 
facilmente alterar o modo, a intensidade e até mesmo a veracidade com a qual 
o entrevistado narra o fato. Isso inclusive pode acontecer inconscientemente. 
Dependendo do que se trata, pode sim ser consciente, havendo a ocultação de 
fatos, ou mesmo a mudança da intensidade com o qual eles ocorreram na 
realidade. 
 
 
43 
 
Essa relação entre memória e sentimento é uma problematização aguda, 
no processo de construção do saber histórico vinculado a esse procedimento. 
 
4.2.5 Memória individual e coletiva 
 
As memórias individuais e coletivas possuem uma estreita relação de 
influência que tornam o processo analítico, a compilação e a organização das 
narrativas um desafio considerável para o ofício do historiador. No caso 
expresso, a memória individual, apesar de todos os campos de subjetividade, 
não consegue ser construída sozinha. Nesse sentido, a memória individual, além 
de estar vinculada ao lugar de origem, está conectada com o coletivo que a 
muniu e a proporcionou dinâmica para sua construção individual. 
Outro ponto de soma nesse processo de construção da memória 
individual é a sua absorção do conhecimento histórico. É como se eu fosse narrar 
sobre minha experiência na infância com a ditadura militar, mas tivesse um 
imbricamento na memória entre o que vivi e o que os outros viveram; é possível 
que eu rememore aquilo que foi transmitido pelo meu ciclo social mais próximo 
e que pode facilmente interferir no meu processo de rememorar o fato. Assim, 
irei expressar uma memória carregada de sentido individual subjetivo, que é o 
que vivi, de sentido coletivo, que é o que absorvi com as narrativas de outros e, 
por fim, aquilo que aprendo com a história. Nesse processo de três dimensões, 
se ampliam os riscos significativos para a fidelidade ou mesmo objetividade 
histórica. 
 
4.2.6 Memória e linguagem 
 
A relação entre memória e linguagem deve ser compreendida como um 
sendo responsável pela afirmação da outra. A linguagem é o modo ou 
caminho pelo qual ocorre o processo de afirmação da memória. O sujeito 
que rememora está condicionado pela linguagem para dar vida a essa memória. 
Eu vivo, lembro e torno documento ou fonte histórica por meio da linguagem. É 
a conexão entre o lembrar e o narrar. A linguagem também pode ser concebida 
pela historiografia enquanto ferramenta responsável por socializar a memória, 
 
 
44 
 
pois é capaz de congregar em um único espaço memórias vinculadas a culturas 
e sentimentos dos mais diversos. 
 Outra condição que deve ser observada é que a memória é objeto de 
lutas de interesses e de grupos sociais. Isso ocorre na medida em que há 
uma disputa entre aqueles que buscam manter vivas suas memórias no seio do 
cotidiano, mas, para isso, é urgente a necessidade de outras memórias serem 
apagadas, negativadas ou transformadas de tal modo que tenham menos 
importância. Um exemplo desse processo é a transição do Renascimento para 
a Modernidade, com relação à memória Medieval. A tentativa para a afirmação 
do Renascimento e o pensamento racional da Modernidade era de apagar da 
memória as lembranças sobre a Idade Média. Uma das formas de executar esse 
processo é negativando as imagens ou as memórias anteriores. Aí vemos e 
confirmamos a memória enquanto campo de disputa de interesses e de grupos 
sociais distintos, fosse no tempo ou no espaço. 
 
4.2.7 Memória e vida 
 
A memória é a expressão da vida na medida em que procuramos a 
memória de quem de alguma forma vivenciou algo e apenas recorre à lembrança 
para expor o vivido. É necessário salientar que o historiador jamais irá ter 
sucesso em captar a totalidade da narrativa, ficando isso condicionado à 
exclusividade de quem vivenciou o processo na pele. Para concluir a etapa 
comparativa da memória, fechamos deixando claro que se trata de uma 
representação do passado carregada de mágica e afetividade e ainda dotada de 
uma multiplicidade de memórias, ou seja, a narrativa singular que deve ser 
comparada com o lugar e com o outro, devido à emergência de várias memórias. 
 
4.3 A história 
 
A história faz uso da memória no processo de construção do 
conhecimento historiográfico. Esse processo, contudo, ocorre amparado por um 
método que vai validar ou não o resultado do processo. Assim, a história se 
diferencia da memória porque é uma categoria acadêmica de estudo, ou seja, 
 
 
45 
 
tende à verificação do conteúdo da memória. História e verificações 
caminham juntas para que haja uma real construção histórica. 
 
4.3.1 A história e a instrumentalidade 
 
A história como campo científico de análise e verificação para validação 
do conteúdo histórico é responsável por instrumentalizar a memória, de modo 
que consiga elevar seu potencial útil. 
 A história, assim como a memória, é revisitada. A história, porém, é 
revisitada no sentido estrito das ciências, que se trata da constante verificação 
metódica do conteúdo construído para que não haja erros na sua veracidade ou 
validade frente ao leitor. A história não se torna, nesse sentido, um aglomerado 
de memórias. Ela criva e verifica a memória, com criticidade, sem que haja 
quaisquer alterações. 
 Outra condição importante para o campo da história é o cruzamento das 
memórias. Devido à necessidade de encontrar condições para a construção 
lógica e clara da memória, a história é responsável pela sistematização do 
processo de cruzar diferentes narrativas 
 
4.3.2 História e diluição 
 
 Na história ocorre a diluição da memória no corpo social no qual ela é 
produzida e no qual ela surge. Ao levar a memória ao lugar de origem, no corpo 
social onde ela nasceu, ela passa por um processo de diluição, no sentido