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1 2 SUMÁRIO 1 CONTEXTUALIZANDO AS QUEIMADURAS .................................... 3 2 QUEIMADURAS ................................................................................ 5 2.1 Etiologia das queimaduras .......................................................... 7 2.2 Classificação das queimaduras ................................................. 10 3 AVALIAÇÃO E CONDUTAS GERAIS À VÍTIMAS DE QUEIMADURAS 18 3.1 Avaliação ................................................................................... 19 3.2 Classificação de pequeno, médio e grande queimado, de acordo com o grau da queimadura e a superfície corporal atingida ......................... 22 3.3 Condutas para cada tipo de queimadura: .................................. 24 3.4 Complicações decorrentes de queimaduras ............................. 27 4 ASSISTÊNCIA E CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM QUEIMADURAS. .................................................................................... 30 4.1 Tratamento Imediato de Emergência (pré-hospitalar) ............... 30 4.2 Primeira fase ............................................................................. 31 4.3 Segunda fase ............................................................................ 37 4.4 Terceira fase ............................................................................. 43 5 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ........... 47 6 HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO DO PACIENTE EM UNIDADE DE TRATAMENTO DE QUEIMADURAS - UTQ ................................................... 50 7 CUIDADOS DE ENFERMAGEM NOS PROCESSOS DOLOROSOS E ATENDIMENTO PSICOLÓGICO ..................................................................... 51 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 53 3 1 CONTEXTUALIZANDO AS QUEIMADURAS Fonte: fabiosa.com.br As queimaduras são definidas como injurias decorrentes de trauma por origem térmica, a partir da exposição ao frio, a líquidos e superfícies quentes, chamas, substâncias químicas, radiação, atrito ou fricção. Estes resultados podem ocorrer através da ação direta ou indireta do agente causador sobre o organismo (BICHO; PIRES, 2002; ASSIS, 2010). O tipo de queimadura depende do grau de comprometimento do tecido, além da exposição ao agente agressor. Desta forma, a pessoa vítima desse tipo de acidente pode vir a óbito, ou ficar com sequelas irreversíveis, além do grande sofrimento físico e psicológico (ASSIS, 2010). Por se tratar de um trauma de grande complexidade e requerer tratamento eficaz e imediato, muitos destes acidentes apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade em todo o mundo, com grande frequência entre as crianças, na sua maioria das vezes em ambientes domésticos (ROSSI et al., 1998, 2003 e 2010). As crianças apresentam maior risco, ao acidente, devido a curiosidade, impulsividade e falta de experiência em avaliar os perigos (DALANEZE, 1996; HARADA et al., 2000; DRAGP, 2005). Pesquisas também revelaram que o baixo nível sócio econômico favorece para o problema em questão (DELGADO et al., 2002). 4 As características mais comuns aos pacientes que sofreram algum tipo de queimadura têm como fator principal, a intensa dor e grande impacto emocional, sendo, estes, alguns dos fatores que interferem em sua recuperação. É necessário conhecer o tipo da queimadura que estará sendo analisada, pois é um fator crucial nas medidas e intervenções terapêuticas que serão adotadas, direcionando os cuidados do enfermeiro e da equipe de saúde, assegurando, assim, melhora e evolução no quadro clínico do paciente (VALE, 2005; GRECO et al., 2007). Fonte: portalenf.com Dependendo de sua extensão e profundidade, a lesão causada pode comprometer vários tipos de distúrbios físicos, como, por exemplo, perda de volume líquido, mudanças metabólicas, deformidades corporais e risco de infecção, Greco et al. (2007), adicionados a complicações advindas da queimadura, que podem ocasionar maiores complicações no estado de saúde do paciente. Além do comprometimento físico decorrente ao acidente de causa térmica, o paciente mostra-se, geralmente, muito abalado, até mesmo em estado de choque. No momento em que o paciente é acolhido em uma unidade de emergência, a assistência de enfermagem, nesse momento, se torna fundamental no tratamento do paciente, tendo como objetivo necessário que este receba um tratamento imediato e eficaz (GRAGNANI; FERREIRA, 2009; ASSIS, 2010). O cuidado prestado pelo enfermeiro não pode apenas focar-se 5 em metodologias hospitalares, requer também, uma abordagem mais ampla, não olhando apenas o indivíduo, mas também seus familiares. Através deste ideal, se permite estabelecer intervenções direcionadas ao paciente e sua família, a fim de obter resultados positivos na tentativa de lhes preservar a vida (COELHO; ARAÚJO, 2010) 2 QUEIMADURAS Fonte: palotinapress.com.br Entende-se por queimaduras, lesões dos tecidos orgânicos produzidas por trauma de origem térmica e por várias outras etiologias como radiações, química e congeladuras. O que vai influenciar na gravidade do ferimento é a profundidade da queimadura, ou seja, o número de camadas da pele e do tecido subjacente, ou outras estruturas abaixo da pele, que foram atingidos. Avalia-se que no Brasil acontecem em torno de 1.000.000 de incidentes por queimaduras ao ano, sendo que 100.000 pacientes buscaram atendimento hospitalar e, destes, cerca de 2.500 pacientes irão a óbito direta ou indiretamente em função de suas lesões. A queimadura é o ambiente ideal para a instauração de uma infecção, como consequência do cometimento da pele, que é o órgão primordial para a defesa do organismo da entrada de germes. A infecção associa-se com diversos fatores de risco, principalmente relacionados com o agente infeccioso em si, como a sua capacidade de replicação, virulência e resistência às barreiras de 6 defesa naturais ou mesmo às terapias antimicrobianas, assim como a fatores relacionados com o hóspede em decorrência da sua idade, extensão e profundidade da queimadura, estado nutricional e doenças associadas, entre outros. Independentemente da extensão, todas as queimaduras são graves. Mesmo queimaduras de menor gravidade podem resultar em grave incapacidade. Uma concepção comum e errónea é que as lesões por queimadura são isoladas à pele. Pelo contrário, as queimaduras extensas podem ser lesões multissistêmicas, capazes de provocar efeitos possivelmente fatais no coração, nos pulmões, nos rins, no trato gastrointestinal e no sistema imunológico. A causa de morte mais comum em uma vítima de incêndio, por exemplo, não são as complicações diretas do ferimento por queimadura, mas as complicações relacionadas à insuficiência respiratória. Após uma queimadura, o corpo do doente tenta se desligar e entrar em choque, levando à morte. Uma parte substancial do atendimento inicial de doentes queimados é direcionada à reversão deste choque. Em doentes que apresentam lesões traumáticas associadas a queimaduras, a mortalidade real destas lesões combinadas é muito maior do que a prevista para cada uma, separadamente. A inalação de fumaça tóxica provoca uma lesão possivelmente fatal que tende a ser mais perigosa do que a lesão por queimadura. A inalação de fumaça tóxica prediz melhor a mortalidade por queimaduras do que a idade do doente ou a extensão da queimadura. A vítima não precisa ter inalado uma grande quantidade de fumaça para estar predisposta a uma lesão grave; em geral, as complicações com risco de vida podem demoram vários dias para se manifestar. Aproximadamente 20% de todas as vítimasde queimaduras são crianças, e 20% destas crianças são vítimas de lesão intencional ou abuso infantil. 7 2.1 Etiologia das queimaduras Queimaduras térmicas: São decorrentes do contato ou exposição a uma fonte de calor (fogo, vapor e objetos quentes); ou frio (gazes especiais, temperaturas excessivamente baixas, e líquidos como o CO² e o nitrogênio). Fonte: staging.picsolution.com Queimaduras químicas: São decorrentes da ação cáustica aguda causada por um determinado agente químico, estas queimaduras são de grande importância e gravidade. São eles: ácidos fortes (sulfúrico ou nítrico), bases (soda cáustica) e outros. Fonte: dicasparacura.blogspot.com Queimaduras elétricas: São causadas pela transformação da energia em calor, os efeitos variam dependendo do tipo da voltagem e amperagem da corrente, podendo ocorrer alterações que produzem distúrbios: respiratórios, circulatórios 8 e do SNC. As queimaduras são invariavelmente graves (em alguns casos o tecido gorduroso, músculos e até ossos podem ser comprometidos), podendo resultar até mesmo em morte no local do acidente. Fonte: g1.globo.com Queimaduras radioativas: Causadas comumente pela exposição excessiva aos raios ultravioletas advindos do sol, esta radiação atinge a epiderme (camada superficial da pele) danificando as células, que liberam substâncias químicas que ativam os receptores da dor caracterizando ardência localizada. Há também as queimaduras causadas por agentes radioativos como o cloreto de césio-137 (CsCl), quer pela exposição ou contato pode ocasionar queimaduras graves, deformidades irreversíveis ou até a morte. Fonte: colourbox.com 9 As queimaduras mais comuns, são aquelas causadas por líquidos aquecidos (água, leite, café, gorduras quentes) – queimaduras térmicas - geralmente em casa e na cozinha. E as crianças, infelizmente são as maiores vítimas desse tipo de acidente. Em segundo lugar estão os acidentes com álcool, sempre graves e importantes e acontecem, geralmente nas churrasqueiras, fogueiras, acampamentos etc. Entretanto a mais invasiva é a elétrica, que representa a forma mais agressiva de trauma, e tem como característica um ponto de entrada e outro de saída, afetando diversas estruturas no corpo, tais como: nervos, vasos, músculos, pele, tendões e ossos, sendo frequentes as amputações em sua decorrência. Principais agentes causais de queimaduras Causas comuns: Escaldadura (queimadura por líquidos quentes): é a principal causa em menores de 5 anos. Contato com fogo e objetos quentes: as queimaduras por chamas são mais graves, atingem maior extensão e profundidade da pele. O álcool é um importante agente causador. Queimadura provocada por substâncias químicas: a ingestão de soda cáustica continua sendo a maior fonte de queimaduras químicas em crianças. As pequenas pilhas, as baterias de relógios e de aparelhos eletrônicos representam perigo por possuir conteúdo corrosivo. Queimadura por exposição à eletricidade: os acidentes por fios e aparelhos elétricos acometem mais as crianças menores de 5 anos. Também são vítimas os adolescentes que ao empinar ou retirar pipas da rede elétrica têm contato com fios de alta tensão. Exposição excessiva ao sol. 10 2.2 Classificação das queimaduras O ministério da saúde classifica as queimaduras de acordo com a profundidade em até o 3º grau (de acordo com a “Cartilha para tratamento de emergências das queimaduras”). Já o PHTLS (Pre Hospital Trauma Life Support), classifica a profundidade das queimaduras até o 4º grau. Quanto a profundidade: Primeiro grau Fonte: essaseoutras.com.br Também chamada de queimadura superficial, são aquelas que envolvem apenas a epiderme, a camada mais superficial da pele. Os sintomas são: dor intensa, vermelhidão na pele (que se torna branca com efeito da pressão), às vezes há inflamação e desidratação leve. Em alguns casos pode causar um pouco de febre e dor. Não é possível observar a presença de bolhas ou feridas. A lesão da queimadura de 1º grau é seca e não produz bolhas. Geralmente melhoram no intervalo de 3 a 6 dias, podendo descamar e não deixam sequelas. PHTLS: é um programa de formação contínua que aborda e padroniza as intervenções dos operacionais em ambiente pré-hospitalar à vítima de trauma. Este programa de formação é revisto a cada quatro anos e a sua qualidade e excelência é reconhecida em todo o mundo. 11 Esse tipo de queimadura é a mais simples e sem repercussões clínicas. Exceto a queimadura pelo sol em grande parte do corpo, que pode evoluir para desidratação, principalmente em crianças e idosos. Fonte:sbqueimaduras.org.br Segundo grau (ou de espessura parcial) Fonte: saudecominteligencia.com.br 12 As queimaduras de segundo grau, também denominadas queimaduras de espessura parcial, são aquelas que envolvem a epiderme e porções variadas da derme subjacente. Essas queimaduras podem ainda ser classificadas como superficiais ou profundas. Estas queimaduras são observadas como bolhas ou áreas desnudas, com aparência brilhante ou base úmida. Devido à sobrevida de resquícios de derme, estas queimaduras tendem a cicatrizar em duas a três semanas. As queimaduras de espessura parcial, a zona de necrose envolve toda a epiderme e várias profundidades da derme superficial. Caso estas lesões não sejam bem cuidadas, a zona de estase pode progredir para necrose, aumentando o tamanho da queimadura e, talvez, convertendo-a numa queimadura de terceiro grau. Queimaduras de segundo grau profundas podem requerer tratamento cirúrgico. Fonte: concursosdasaude.com.br A queimadura de 2º grau superficial: É aquela que envolve a epiderme e a porção mais superficial da derme. Os sintomas são os mesmos da queimadura de 1º grau, incluindo ainda o aparecimento de bolhas e uma aparência úmida da lesão. A base da bolha é rósea, úmida e dolorosa. A cura é mais demorada podendo levar até 3 semanas, não costuma deixar cicatriz, mas o local da lesão pode ser mais claro. 13 As queimaduras de 2º grau profundas São aquelas que acometem toda a derme, sendo semelhantes às queimaduras de 3º grau. A base da bolha é branca, seca, indolor e menos dolorosa (profunda). Como há risco de destruição das terminações nervosas da pele, este tipo de queimadura, que é bem mais grave, pode até ser menos doloroso que as queimaduras mais superficiais. As glândulas sudoríparas e os folículos capilares também podem ser destruídos, fazendo com a pele fique seca e perca seus pelos. A cicatrização demora mais que 3 semanas e costuma deixas cicatrizes. Fonte: sbqueimaduras.org.br 14 Terceiro grau (ou espessura total) Fonte: saudecominteligencia.com.br Queimaduras profundas que acometem toda a derme e atinge tecidos subcutâneos, com destruição de nervos, folículos pilosos, glândulas sudoríparas e capilares sanguíneas, podendo inclusive atingir músculos e estruturas ósseas. As queimaduras de terceiro grau podem apresentar diversas aparências. Com maior frequência estes ferimentos são espessos, secos, esbranquiçados, com aparência semelhante a couro, independentemente da raça ou da corda pele do indivíduo. Em uma queimadura de 3º grau, a vítima geralmente queixa-se de dor nas bordas da lesão, onde a queimadura é de 2º ou 1ºgrau. Fonte: sbqueimaduras.org.br 15 Em casos graves, a pele parece chamuscada, com visível trombose dos vasos sanguíneos. São lesões esbranquiçadas/acinzentadas, secas, indolores e deformantes que não curam sem apoio cirúrgico, necessitando de enxertos. Fonte: concursosdasaude.com.br Quarto grau As queimaduras de quarto grau são aquelas que acometem não somente todasas camadas da pele, mas também o tecido adiposo subjacente, os músculos, os ossos ou os órgãos internos. Fonte: blog.concursosdasaude.com.br 16 Fonte: enfermagemcomamor.com.br Classificação da queimadura pela extensão Utiliza-se percentagens com a utilização da regra dos nove que permite estimar a superfície corporal total queimada (SCTQ), conforme a extensão da queimadura. Nesse caso, analisamos somente o percentual da área corpórea atingida pela lesão, sem considerar sua profundidade (seus graus). A regra dos nove divide o corpo do adulto em doze regiões: Onze delas equivalem a 9% cada uma. A última (região genital) equivale a 1%. Com relação ao percentual na criança, há divergência na literatura com relação a valores. Na cartilha do Ministério da Saúde de queimaduras, a cabeça e pescoço da criança tem 21% e as pernas 12%, porém outras literaturas trazem a cabeça e pescoço com percentual de 18% e as pernas com 13,5%. Fonte: bvsms.saude.gov.br Fonte: ergoss.com.br 17 Fonte: blog.concursosdasaude.com.br 18 Gravidade das queimaduras A gravidade de uma queimadura deve sempre considerar os seguintes aspectos: Grau da queimadura (3 e 4º grau). Percentagem da superfície corporal queimada - SCTQ (>10% em criança e > 20% em adultos); Localização da queimadura (áreas nobres); Complicações que a acompanham; Idade da vítima; Enfermidades anteriores da vítima A gravidade da queimadura será determinada pela profundidade, extensão e localização. As queimaduras de mãos, pés, face, períneo, pescoço e olhos, qualquer que seja a profundidade e extensão são consideradas graves. 3 AVALIAÇÃO E CONDUTAS GERAIS À VÍTIMAS DE QUEIMADURAS Fonte: enfermagemnovidade.com.br 19 3.1 Avaliação São múltiplos os fatores envolvidos nas queimaduras que devem ser observados em sua avaliação. A profundidade, extensão e localização da queimadura, a idade da vítima, a existência de doenças prévias, a concomitância de condições agravantes e a inalação de fumaça têm de ser considerados na avaliação do paciente com queimaduras. O ambiente da avaliação deve manter-se aquecido, devendo a pele ser descoberta e examinada em partes, de modo a minimizar a perda de líquido por evaporação. A avaliação meticulosa e precisa, irá direcionar as diretrizes e ações a serem adotadas para o tratamento e cuidados imediatos e posteriores. Profundidade Depende da intensidade do agente térmico, se foi gerador ou transmissor de calor, e o tempo de contato com o tecido. É o fator determinante para o resultado estético e funcional da queimadura e pode ser avaliada em graus. Extensão Os riscos gerais do queimado nas primeiras horas dependem fundamentalmente da extensão da área queimada. Quanto maior a área afetada, maior a repercussão sistêmica, devido à perda das funções da pele. A extensão da área afetada é calculada em porcentagem. Em queimadura pequenas, um método prático para calcular a área queimada toma como medida de referência a palma da mão da vítima, considerando-se que a superfície palmar, incluindo os dedos unidos e estendidos, corresponde aproximadamente a 1% de sua superfície corporal. Excluindo os dedos, a superfície palmar representa 0,5% da superfície corporal (SC), independentemente da idade. Embora grosseiro, esse método é bastante útil para determinar de imediato se a área, principalmente nas queimaduras irregulares, ultrapassa 15% da SC do adulto e 10% da SC da criança, situação em que se deve instituir a reidratação de urgência. No entanto, para uma avaliação mais precisa da extensão da queimadura, o método mais empregado é a regra dos noves de Wallace: 20 Anterior (adulto) Posterior (adulto) 9% = rosto 9% = costas 9% = tórax 9% = abdômen 9% = abdômen 9% = perna direita 9% = perna direita 9% = perna esquerda 9% = perna esquerda 9% = os 2 braços 9% = os 2 braços 1% = órgãos genitais 55%=Sub-total 45%=Sub-total 55%(anterior) + 45%(posterior) = 100% da área do corpo. Esse método deve ser ajustado para crianças menores de 10 anos de idade. Método mais acurado para avaliar a área da queimadura utiliza o diagrama de Lund & Browder, que pondera as variações da forma do corpo conforme a idade. É, portanto, mais adequado para crianças, mas tem de estar disponível, impresso na ficha da vítima, dada a dificuldade de ser memorizado. Fonte: fr.dreamstime.com Localização Em razão dos riscos estéticos e funcionais, são desfavoráveis as queimaduras que comprometem face, pescoço e mãos. Além disso, aquelas 21 localizadas em face e pescoço costumam estar mais frequentemente associadas à inalação de fumaça, assim como podem causar edema considerável, prejudicando a permeabilidade das vias respiratórias e levando à insuficiência respiratória. Por outro lado, as queimaduras próximas a orifícios naturais apresentam maior risco de contaminação séptica. Idade do paciente Deve ser considerada na avaliação da gravidade das queimaduras. Idosos e crianças costumam ter repercussão sistêmica mais crítica, os primeiros pela maior dificuldade de adaptação do organismo, e os últimos pela desproporção da superfície corporal em relação ao peso. Nessas faixas etárias as complicações são, portanto, mais comuns e mais graves. Doenças e condições associadas São condições que pioram o prognóstico os traumas concomitantes, principalmente neurológicos, ortopédicos e abdominais, ou mesmo politraumatismos, assim como a presença de doenças preexistentes, tais como: insuficiência cardíaca, insuficiência renal, hipertensão arterial, diabete e etilismo. Também tendem a evoluir com pior prognóstico as vítimas alcoolizadas ou sob efeito de drogas ilícitas. Essas situações devem ser consideradas e adequadamente abordadas. Nesses casos a recuperação das alterações decorrentes da queimadura fica substancialmente prejudicada. Inalação de produtos de combustão Além dos danos provocados pela inalação de gases tóxicos, como monóxido de carbono, os produtos de combustão são irritantes e causam inflamação com edema da mucosa traqueobrônquica, que se manifesta por rouquidão, estridor, dispneia, broncoespasmo e escarro cinzento. Essas lesões ostumam ser graves, pioram muito o prognóstico e são responsáveis por elevar a mortalidade dos queimados. 22 3.2 Classificação de pequeno, médio e grande queimado, de acordo com o grau da queimadura e a superfície corporal atingida Pequeno queimado ou Queimado de Pequena Gravidade Primeiro grau em qualquer extensão; Segundo grau com área corporal de até 5% em crianças<> de 12 anos. Queimaduras de segundo grau abaixo de 10% ou terceiro grau abaixo de 5%. Médio Queimado ou Queimado de Média Gravidade Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida entre 5% a 15% em menores de 12 anos, Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida entre 10% a 20% em maiores de 12 anos Qualquer queimadura de segundo grau envolvendo mão ou pé ou face ou pescoço ou axila ou grande articulação (axila ou cotovelo ou punho ou coxofemoral ou joelho ou tornozelo), em qualquer idade Queimaduras que não envolvam face ou mão ou períneo ou pé, de terceiro grau com até 5% da área corporal atingida em crianças até 12 anos, Queimaduras que não envolvam: face, mão, períneo ou pé, de terceiro grau com até 10% da área corporal atingida em maiores de 12 anos. Grande Queimado ou Queimado de Grande Gravidade Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida maior do que 15% em menores de 12 anos Queimaduras de segundo grau com área corporal atingida maior do que 20% em maiores de 12 anos Queimaduras de terceiro grau com área corporal atingidamaior do que 5% em menores de 12 anos 23 Queimaduras de terceiro grau com área corporal atingida maior do que 10% em maiores de 12 anos Queimaduras de segundo ou terceiro grau atingindo o períneo, em qualquer idade Queimaduras de terceiro grau atingindo mão ou pé ou face ou pescoço ou axila, em qualquer idade Queimaduras por corrente elétrica. Observação: Será igualmente considerado grande queimado ou queimado de grande gravidade, o paciente que for vítima de queimaduras de qualquer extensão que tenha associada a esta queimadura uma ou mais das seguintes situações: • lesão inalatória; politrauma; • diabetes; • fratura óssea em qualquer localização; • distúrbios da coagulação e hemostasia; • trauma craniano (diagnosticado por exames radiológicos ou por quadro clínico); • embolia pulmonar; • choque de qualquer origem; • infarto agudo do miocárdio; • insuficiência renal; • quadros infecciosos graves decorrentes ou não da queimadura (que necessitem antibioticoterapia venosa); • insuficiência cardíaca; • síndrome compartimental ou do túnel do carpo, associada ou não à queimadura • insuficiência hepática; • doenças comsuptivas • qualquer outra afecção que possa ser fator de complicação à lesão ou ao quadro clínico da queimadura. 24 3.3 Condutas para cada tipo de queimadura: Queimaduras térmicas: Afastar a vítima da origem da queimadura; Se a vítima estiver com fogo nas vestes, role-a no chão ou envolva-a em um cobertor ou similar. Ao utilizar extintores, verifique se é indicado para o tipo de material em combustão Abordagem primária (ABCDE): Verificar as vias aéreas, observar sinais de queimaduras na face (fuligem no nariz, cílios chamuscados, edema nos olhos e boca), podem indicar obstrução respiratória – queimaduras ‘internas’; Retirar as partes da roupa que não estejam grudadas na área queimada cortando; Retirar pulseiras, colares, relógios e anéis devido ao risco de interrupção da circulação pelo edema; Proteger os locais queimados com curativos estéreis próprios para queimaduras. Transportar para hospital especializado. Queimadura química: A equipe que atende deve utilizar proteção universal para não ter contato com o agente químico; Identificação do agente (ácido, base, composto orgânico); Avaliar concentração, volume e duração de contato; A lesão é progressiva. Remover roupas úmidas com o produto, cortando- as com tesoura; Substância em pó, remover previamente excesso com escova ou panos; Diluição da substância pela água corrente por no mínimo de 30 minutos. Pós (cimento, cal, soda cáustica): Remover o conteúdo sólido da pele; Lavar com água corrente. Atenção: Nunca faca fricção no local; 25 Empregar água sobre pressão na lavagem. Queimaduras nos olhos: Fonte: enfermagemcomamor.com.br Lavar os olhos com água corrente Cobrir ambos os olhos da vítima com compressa macia úmida; Encaminhar a um hospital especializado. Queimadura elétrica: Definir se foi alta tensão, corrente alternada ou contínua, se houve passagem de corrente com ponto de entrada e saída; Avaliar traumas associados (queda de altura e outros); Avaliar se ocorreu perda de consciência ou PCR no momento do acidente; Podem causar: Parada cardíaca > lesão de grupos musculares > liberação de potássio: arritmias Liberação de mioglobina na corrente sanguínea > tóxica aos rins. Queimaduras locais de limites bem definidos ou de grande extensão. Elevados índices de mortalidade; Geralmente são de pequenas extensões, porém de grande profundidade; 26 A intensidade da queimadura dependerá do tipo de corrente, da voltagem e da resistência; Afastar a vítima da fonte antes de iniciar o atendimento e desligar a fonte de energia. Interromper o contato da vítima com o agente agressor usando um pedaço de madeira seca, cinto de couro, borracha grossa ou luva de borracha; Avaliar extensão da lesão e passagem da corrente; Fonte: enfermagemcomamor.com.br Fazer avaliação primária; Estar atento aos sinais de PCR, aplicar manobras de compressão torácica, se necessário; Identificar o local de entrada e saída da corrente elétrica; Proteger os pontos de entrada e saída da corrente elétrica. 27 Fonte: enfermagemcomamor.com.br Queimaduras circunferenciais: Podem contrair a parede torácica (devido ao inchaço provocado causado por queimaduras) a ponto de a vítima ser incapaz de respirar; Nos membros superiores e inferiores, criam um efeito de compressão, que pode fazer com que haja ausência de pulsos em braços e pernas. 3.4 Complicações decorrentes de queimaduras O PTHLS aponta as possíveis complicações que podem ocorrer em pacientes vítimas de queimaduras, bem como sua fisiologia, de forma direcionar as condutas e ações a serem adotadas em cada caso. O método de atendimento de trauma ABCDE é aplicado ao tratamento do doente vítima de queimadura, embora seu cuidado possa trazer desafios únicos em cada uma de suas etapas. Via aérea (calor de um incêndio) Pode causar edema da via aérea, acima do nível das cordas vocais, ocluindo-a. Um doente queimado, por exemplo, pode apresentar via aérea desobstruída à primeira avaliação. A seguir, a face, assim como a via aérea, sofre aumento de volume. 28 A via aérea pode apresentar estreitamento em um ponto em que há obstrução, e o ar não pode passar além da traqueia. É mais provável observar o efeito fisiológico do estreitamento, mas não da obstrução, da via aérea. O estreitamento da traqueia pelo aumento de volume da mucosa reduz o fluxo dos gases inalados, o que, fisiologicamente, é o mesmo que aumentar a resistência ao fluxo. A dificuldade de respirar causada pelo aumento de volume da via aérea pode contribuir para o desenvolvimento ou inclusive provocar uma parada respiratória, mesmo na ausência de obstrução. Para evitar o estreitamento ou a oclusão catastrófica da via aérea, o controle precoce é prudente. A intubação destes doentes é geralmente difícil e perigosa, uma vez que a anatomia é distorcida. Caso o doente seja entubado, precauções especiais devem ser tomadas para a fixação do tubo endotraqueal (ET), impedindo seu deslocamento inadvertido ou a extubação. Após uma queimadura, a pele da face geralmente descama ou libera fluido. Em queimaduras faciais, os esparadrapos não são adequados à fixação do tubo ET. O tubo pode ser preso usando dois esparadrapos umbilicais ou pedaços de acessos IV, enrolados ao redor da cabeça. Respiração Após uma lesão por queimadura, a pele queimada começa a endurecer e a se contrair, enquanto os tecidos moles mais profundos simultaneamente aumentam de volume. O resultado final é que as queimaduras contraem a parede torácica da mesma maneira que diversos cintos de couro, apertando o tórax do doente. Com o passar do tempo, o doente não pode mais mover a parede torácica e respirar. Ao tentar ventilar doentes com queimaduras circunferenciais na parede torácica, a compressão do ambu pode ser difícil ou até impossível. Em tais casos, a escarotomia imediata da parede torácica permite o restabelecimento da ventilação. A escarotomia é um procedimento cirúrgico em que é feita uma incisão através da endurecida escara da queimadura, permitindo que a lesão e o tórax se expandam e se movimentem durante a respiração. 29 Circulação A avaliação e o tratamento da circulação incluem a mensuração da pressão arterial, a avaliação de queimaduras circunferenciais e a instituição de acesso IV. Os membros queimados devem ser mantidos elevados durante o transporte, para reduzir o grau de aumento de volume do membro afetado. A colocação de dois cateteres IV calibrosos, capazesde prover o rápido fluxo necessário à administração de grandes volumes de fluido, é requerida em queimaduras que envolvem mais de 20% da área corpórea superficial total. O ideal é que os cateteres IV não sejam colocados através do tecido queimado ou em suas adjacências; a colocação através da lesão só é aceitável na ausência de sítios alternativos. Formas alternativas de imobilização dos acessos incluem enrolar a área com Kerlix ou Coban (curativos). Em alguns pacientes, o socorrista pode não ser capaz de obter um acesso venoso. O acesso intraósseo (IO) é um método alternativo e confiável de administração de fluidos intravenosos, assim como de narcóticos. Incapacidade A vítima de queimadura é também vítima de traumas, e pode ter sofrido outras lesões que não térmicas. As queimaduras são lesões óbvias e, ocasionalmente, intimidantes, mas é vital procurar outras lesões internas, menos óbvias, que podem, em curto prazo, ser mais fatais do que as lesões por queimadura. Na tentativa de escapar da queimadura, as vítimas: pulam de janelas de edifícios; elementos da estrutura queimada podem colapsar e cair sobre elas ou elas podem ficar presas nas ferragens. Avalie o doente quanto à presença de déficits neurológicos e motores. Identifique fraturas em ossos longos e coloque talas. Realize a imobilização da coluna em caso de suspeita de lesão na coluna vertebral. Uma fonte de incapacidade neurológica potencialmente fatal que é típica de vítimas de queimaduras é o efeito de toxinas inalas, como o monóxido de carbono e o cianeto de hidrogénio. 30 Exposição/Ambiente A próxima prioridade é a exposição completa do doente. Cada centímetro quadrado do doente deve ser exposto e inspecionado. Em vítimas de trauma mecânico, todas as roupas do doente são removidas, para identificação de lesões que podem estar escondidas. Em vítimas de queimadura, a remoção das roupas pode ter um benefício terapêutico. As roupas e as joias podem reter calor residual que pode continuar a ferir o doente. As vítimas de queimaduras não são capazes de reter seu próprio calor corpóreo, sendo extremamente suscetíveis à Hipotermia. 4 ASSISTÊNCIA E CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE COM QUEIMADURAS. Fonte: saude.rn.gov.br 4.1 Tratamento Imediato de Emergência (pré-hospitalar) Afastar a vítima do agente da queimadura; Encharcá-la com água e extrair as roupas queimadas não aderentes; Se se tratar de uma queimadura química, retirar cuidadosamente as roupas e despejar grandes quantidades de água sobre a ferida; 31 Se se tratar de uma queimadura eléctrica e a vítima ainda estiver em contato com a corrente eléctrica, não tocar na vítima. Interromper o contato com um objeto seco não condutor (ex.: uma corda); Estabelecer a permeabilidade das vias aéreas e avaliar as lesões provocadas por inalação. Administrar oxigénio se possível; Avaliar e iniciar o tratamento das lesões que requeiram atenção imediata; Retirar joias ou roupas apertadas; Cobrir a queimadura com uma cobertura húmida esterilizada ou limpa; Cobrir a vítima com uma cobertura seca e quente, para evitar a perda de calor; Transportar a vítima para o centro hospitalar mais próximo. Segundo Brunner & Suddarth o tratamento dos queimados é dividido em três fases: Reanimação Reparação ou aguda Reabilitação. 4.2 Primeira fase A fase de reanimação do tratamento consiste no período de tempo necessário para resolver os problemas imediatos resultantes das lesões provocadas pelas queimaduras. As medidas imediatas têm como objetivos tratar as consequentes alterações sistémicas, lesões concomitantes e as áreas que sofreram queimadura. Tratamento na sala de Emergência: Vias aéreas- Avaliação: Acesso venosos: Avaliar presença de corpos estranhos, verificar e retirar qualquer tipo de obstrução. Obter preferencialmente acesso venoso periférico calibroso mesmo em área queimada; Respiração: Somente na impossibilidade desta, utilizar Acesso Venoso Central 32 Aspirar vias aéreas superiores, se necessário; Passagem de Sonda Vesical de Demora para controle de diurese para queimaduras acima de 20% em adultos e 10% em crianças. Administração de O2 conforme prescrição médica se necessário; Reposição Volêmica: Observar suspeita de lesão inalatória: queimadura em ambiente fechado, face acometida, rouquidão, estridor, escarro carbonáceo, dispnéia, queimadura nas vibrissas, insuficiência respiratória. Deve ser instituída precocemente Cabeceira elevada (30°). Receber fluídos por via parenteral compensar a perda através das lesões. Intubação endotraqueal = Escala de coma Glasgow < 8, PaO2 < 60, PaCO2 > 55 na gasometria, saturação < 90% na oximetria, edema importante de face e orofaringe. Atentar-se para o fluxo urinário e às medidas hemodinâmicas. Num segundo momento é coletada a história e realizado exame físico do paciente, bem como detalhamento do acidente. Esses dados coletados são analisados para se identificar os diagnósticos de enfermagem, que são de suma importância para a suficiência do tratamento. É feita uma avaliação de acordo com os critérios já citados para encaminhamento ao centro de referência para queimados. Dados subjetivos O conhecimento das circunstâncias que rodearam o acidente é extremamente importante no tratamento da vítima. Essa informação poderá obter-se da própria vítima ou por testemunhos do acontecimento. 33 Os dados devem incluir: Como ocorreu o acidente; Quando ocorreu; Duração do contato com o agente causal; Local (recinto fechado sugere a possibilidade de inalação de fumo e/ ou envenenamento com monóxido de carbono); Se houve explosão (sugere a possibilidade de outras lesões). Dados objetivos Os dados objetivos dizem respeito à extensão da queimadura, à área afetada e à presença de fatores de complicação. O estado de saúde e a idade do queimado são fatores importantes, que podem modificar o tratamento. Os idosos e as crianças têm uma maior taxa de mortalidade do que o jovem adulto com a mesma percentagem de queimadura. Uma doença endócrina, pulmonar, cardiovascular ou renal, pré-existente, ou a história de abuso de fármacos diminuem a capacidade da vítima de superar queimaduras graves. Como a maioria dos doentes vai precisar de uma terapia tópica e sistémica com muitos fármacos, devem ser determinadas as alergias e as sensibilidades a estes, e devidamente documentadas. De acordo com Brunner & Suddarth, o tratamento da reposição volêmica deve ser realizado ainda nesta fase para que se previna a instalação do choque, repondo os líquidos e eletrólitos perdidos. A terapia varia de acordo com o paciente, pois a posição hídrica é determinada: pelo total de débito urinário e o índice de perfusão renal. Problemas/ intervenções de enfermagem Alteração da permeabilidade das vias aéreas Os pacientes com queimaduras na face e no pescoço ou os que inalaram vapor ou fumo devem ser cuidadosamente observadas, para verificar se há sinais de edema da laringe e obstrução das vias aéreas. Nesse sentido, é importante mudar o paciente de decúbito no leito, faze- lo tossir, insistir nas inspirações profundas e nas expirações periódicas forçadas 34 bom espirometria. Se necessário, realizar a aspiração endo ou naso-traqueal, registando as características das secreções. Poder-se-á ventilar e oxigenar o paciente só com o ar ambiente. Contudo, se tiver ocorrido qualquer lesão convém fornecer-lhe oxigénio. Se a vítima está com dificuldade respiratória ou há suspeita de lesões por inalação, torna-se necessária a intubação endotraqueal. O posicionamento apropriado diminui o trabalho respiratório e promove uma adequada expansão torácica, que associado ao fornecimento de oxigéniopode diminuir ainda mais, o stress metabólico e assegurar uma oxigenação tecidual adequada. A enfermagem também deve estar preparada para a realização de uma traqueostomia ou escarotomia em que a assepsia deve ser mantida para evitar a contaminação das vias respiratórias e infecção. Alteração do equilíbrio hídrico e eletrolítico Hipotermia A manutenção da temperatura do corpo é um fator crítico durante a limpeza, porque a pessoa gravemente queimada perdeu parte da sua capacidade de regulação da temperatura corporal, o que obriga a que a temperatura central seja monitorizada de hora em hora. A temperatura do ambiente deve ser ajustada de acordo com as necessidades do paciente. Um ambiente muito quente pode causar uma perda de líquidos através da transpiração, além de facilitar o crescimento bacteriano. Devem ser eliminadas as correntes de ar, utilizar lâmpadas ou luzes de aquecimento e evitar a prolongada exposição das feridas ao ar. O ambiente da sala de procedimento e o quarto devem ser aquecidos e as áreas expostas do corpo cobertas com lençóis e cobertores esterilizados, enquanto as outras áreas de queimadura estão a ser limpas. Risco de infecção Um dos fatores mais importantes a considerar ao cuidar de uma queimadura é a perda da capacidade do paciente de resistir a uma infecção na área onde a pele está danificada ou destruída. 35 Assim, é necessário a avaliação dos sinais clínicos de infecção nomeadamente a descoloração do ferimento, odor, cicatrização demorada, alteração dos sinais vitais, hiperglicemia, glicosúria, cefaleias. Nos procedimentos com o paciente é fundamental o uso da técnica asséptica e ter o cuidado de administrar os antibióticos e agentes tópicos antibacterianos conforme prescritos. A nutrição adequada e uma higiene pessoal cuidada ajudam na diminuição do risco das infecções. Devido aos episódios de bacteriemia e septicemia, a febre também é comum nos pacientes queimados, daí a administração de antipiréticos. Distúrbios gastrointestinais A dilatação gástrica e a ausência de ruídos intestinais ocorrem frequentemente nos períodos iniciais pós-queimadura e são exteriorizados por náuseas e distensão do abdómen. No âmbito de se evitar os vómitos e a aspiração dos conteúdos gástricos para os pulmões deve-se introduzir uma sonda nasogástrica. A sonda deve ser ligada a um sistema de sucção baixa, intermitente, até que retornem os ruídos intestinais, que devem ser auscultados de quatro em quatro horas. Quando for iniciada a alimentação oral após a fase imediata da queimadura, os líquidos por via oral devem ser dados lentamente. Deve ser anotada a tolerância do paciente e, se não ocorrem vómitos ou distensão, os líquidos podem ser gradualmente aumentados e o paciente passa a uma dieta normal. Nos pacientes gravemente queimados há uma tendência para a formação de ulceras gástricas ou duodenais. Assim sendo, o pH gástrico deve ser avaliado regularmente e mantido a um nível menos ácido do que o normal, através de um tratamento com antiácidos. Também é importante despistar a presença de sangue oculto nas fezes e conteúdo do aspirado gástrico. Dor e ansiedade As dores das queimaduras extensas são melhor controladas com a manipulação mínima e suave, e com a aplicação de pensos, para afastar o ar das superfícies queimadas. 36 O grau de dor é, geralmente, inversamente proporcional à profundidade da lesão; isto é, as queimaduras de espessura total (3º grau) são geralmente indolores, pois as terminações nervosas ficaram destruídas, mas o paciente pode queixar de dores devido as possíveis queimaduras superficiais e de espessuras parciais (1º e 2º graus) que podem estar presentes. Em pequenas queimaduras de espessura parcial, as compressas frescas no local da queimadura poderão proporcionar algum alívio, desde que a vítima se conserve aquecida. Estão contraindicados os sacos de gelo porque podem causar maiores lesões da pele e hipotermia. A administração de analgésicos assim como, a introdução de técnicas de relaxamento, distração ou outros meios constituem-se como procedimentos antiálgicos. O apoio emocional e o conforto são essenciais para a redução do medo e da ansiedade excessivos resultantes da queimadura, do tratamento e dos resultados. As informações honestas sobre as condições e a intervenção médica favorecem a confiança necessária para o bem-estar emocional do paciente e a aceitação dos tratamentos dolorosos. A explicação prévia dos procedimentos e o diálogo durante os mesmos reduz a ansiedade. 37 4.3 Segunda fase Fonte: varelanoticias.com.br A fase aguda do tratamento começa no final da fase de reanimação até à cicatrização das lesões, sendo a sua duração variável. Se tratar-se de uma lesão de espessura parcial, a fase aguda prolonga-se por 10 a 20 dias; se a queimadura for uma lesão de espessura total, numa grande percentagem do corpo, exigindo enxertos de pele, a fase aguda poderá durar meses. Durante a fase aguda, há dois princípios orientadores a respeitar: 1. Tratamento das lesões da queimadura 2. Evitar, detectar e tratar as complicações. As complicações mais comuns são: infecção (septicemia e pneumonia), doença renal e falência cardíaca. Cuidados gerais de Enfermagem Observar a necessidade de analgesia, que geralmente é proporcional à profundidade da área queimada. Monitorizar os sinais vitais; 38 Suporte Nutricional: Deve ser iniciado, de preferência, até 4 horas após a internação hospitalar. Preparar material para passagem de cateter venoso central se necessário; Prevenir desidratação e perda de calor com utilização de plástico estéril sobre a área queimada. Controle rigoroso do Balanço Hídrico. Realização de curativo diário (cobertura de acordo com a prescrição de enfermagem). Manter o paciente aquecido e a área corpórea queimada protegida com a utilização de plástico estéril Observar o padrão respiratório Realizar procedimento de cateterismo vesical Manter a via aérea permeável Controle rigoroso de diurese, bem como a cor e o aspecto da urina Administrar oxigenoterapia conforme solicitação médica; Pesar o paciente diariamente (conforme solicitação e estabilidade Problemas /intervenções de enfermagem Os problemas de enfermagem são fixados a partir da avaliação dos dados do paciente. Alguns dos problemas possíveis, para o paciente com queimaduras, são os que se seguem, não estando a estes limitados. Sobrecarga hídrica e insuficiência cardíaca congestiva Para reduzir o risco de sobrecarga hídrica e insuficiência cardíaca congestiva a enfermagem deve controlar de perto a infusão intravenosa e a ingestão oral de líquidos pelo paciente, usando bombas infusoras para diminuir o risco de uma perfusão acidentalmente muito rápida. Para controlar as alterações das condições hídricas devem ser feitos registos cuidadosos da ingestão e eliminação, e o paciente deve ser pesado diariamente. As veias do pescoço devem ser avaliadas quanto ao seu enchimento e alterações nas pressões arterial, capilar pulmonar, venosa central, bem como a frequência do pulso devem ser relatadas ao médico assistente. 39 A administração de cardiotónicos e diuréticos pode ser implementada, após prescrição médica, para promover um maior débito urinário. O enfermeiro deverá avaliar e registar a resposta do paciente aos medicamentos. Alterações da função respiratória As condições respiratórias do paciente devem ser verificadas de perto quanto à presença de dificuldades maiores na respiração, alteração do padrão respiratório e surgimento de ruídos adventícios. O levantamento das condições respiratórias do paciente é importante pois é nesta fase que surgem os sinais e sintomas de lesão do aparelho respiratório. Comofoi atrás citado o surgimento de ruídos respiratórios (sibilos, estridor), taquipneia e expectoração de coloração escura e em alguns casos contendo tecido traqueal descamado estão entre os muitos achados que podem ser detectados. Os pacientes submetidos à ventilação mecânica devem ser avaliados quanto à diminuição do volume respiratório e dispensabilidade pulmonar. Risco de infecção A observação da ferida é uma atividade diária que exige olho, mão e nariz experimentados. Algumas das características da ferida que devem ser avaliadas incluem o tamanho, cor, odor, presença de escara ou exsudato, inicio de formação de abcesso sob a escara, presença de brotos epiteliais (pequenos agrupamentos piriformes de células sobre a superfície da ferida), sangramento, natureza do tecido de granulação, progresso dos enxertos e locais de doação e qualidade da pele circundante. Quaisquer alterações rápidas na ferida devem ser relatadas ao médico assistente, pois muitas vezes elas indicam infecção local ou sistémica e exigem intervenção imediata. Para o cuidado da ferida, e para procedimentos invasivos (punção venosa periférica ou central, algaliação, aspiração de secreções) deve-se utilizar técnica asséptica cirúrgica rigorosa. O paciente deve ser protegido de fontes de contaminação cruzada, inclusive de outros pacientes, membros da equipe de saúde, visitantes e equipamentos. O simples ato de lavar as mãos antes e após cada contato com o paciente também é um componente essencial do cuidado 40 de enfermagem. Os antibióticos devem ser administrados de acordo com uma programação no sentido de manter níveis sanguíneos adequados. Nutrição inadequada Idealmente a enfermagem deve trabalhar junto com a equipe de nutrição no sentido de planear uma dieta rica em proteínas e calorias além de aceitável para o paciente. Os familiares podem ser estimulados a trazer alimentos nutritivos para o paciente de acordo com o aconselhamento da nutricionista. Se as necessidades nutritivas não forem satisfeitas pela alimentação oral, a enfermagem deverá introduzir uma sonda nasogástrica, prestando os cuidados inerentes, para a satisfação dessas mesmas necessidades. O volume das secreções gástricas residuais deve ser verificado para se avaliar a absorção. A hiperalimentação parenteral pode ser necessária, implicando um novo desafio para a enfermagem quanto à realização de avaliações frequentes, relacionadas com os efeitos nocivos e efeitos esperados deste tratamento. A enfermagem deve avaliar e registar diariamente o peso do paciente. Este procedimento pode ser usado para ajudar os pacientes a estabelecer objetivos quanto à sua própria ingestão e quanto ao controle do ganho ou perda de peso. De uma maneira ideal, o paciente não deve perder mais de 5% do seu peso pré-queimadura, se utilizar um tratamento nutricional agressivo. Também poderá ser necessária a administração das vitaminas A e D, micronutrientes tais como cobre e zinco, além de suplementos de ácidos gordos, especialmente para os pacientes submetidos à nutrição parenteral. O paciente com anorexia necessita de encorajamento e considerável apoio por parte da enfermagem para aumentar a ingestão de alimentos. O ambiente à volta do paciente deve ser tão agradável quanto possível durante as refeições. A consideração quanto às preferências alimentares do paciente e a oferta de lanches com alto teor proteico e vitamínico são maneiras de incentivar o aumento gradual da ingestão de alimentos. 41 Ferida resultante da queimadura O cuidado da ferida é muitas vezes o elemento isolado que mais consome tempo após ter passado o período de reanimação. O cirurgião poderá receitar agentes antibacterianos tópicos, curativos específicos biológicos, biossintéticos ou sintéticos, além de estabelecer um plano para excisão cirúrgica e enxerto. A enfermagem tem aí uma oportunidade de fazer avaliações do estado da ferida, usar abordagens criativas nos seus cuidados e apoiar o paciente durante esta experiência estressante e dolorosa. As funções da enfermagem incluem: A avaliação e registo das alterações, Evolução da cicatrização da ferida Manter todos os membros da equipe informados acerca das mudanças nas feridas do paciente e no regime do tratamento. A enfermagem deverá fornecer informação e apoio psicológico ao paciente e família para assumirem um papel ativo nas alterações das atividades da vida diária e nos cuidados com a ferida. Dor e desconforto A dor é mais intensa nas queimaduras de espessura parcial (2º grau) do que nas queimaduras de espessura total (3º grau), pois as terminações nervosas são destruídas na queimadura de espessura total. As terminações nervosas expostas são sensíveis ao ar frio; portando, um curativo estéril sobre a ferida poderá reduzir a dor. As intervenções de enfermagem, tais como o ensino ao paciente de técnicas de relaxamento, fornecimento de algum controle do cuidado da ferida e da analgesia, e o conforto, ajudam muito. Tem sido usado com eficácia a imaginação para moderar a percepção e a resposta dos doentes à dor. Tranquilizantes fracos podem ser administrados em conjunto com analgésicos conforme a prescrição. É essencial uma constante avaliação da dor e do desconforto. A enfermagem deve trabalhar rapidamente para completar os tratamentos e as trocas de curativos no sentido de reduzir a dor e o desconforto. Deve-se 42 encorajar o paciente a usar medicamentos analgésicos, antes de procedimentos dolorosos e deve também avaliar a sua eficácia em tornar mais toleráveis a dor e o desconforto. Os pacientes relatam que as queimaduras em processo de cicatrização são acompanhadas de prurido e sensação de aperto. O uso de agentes antipruriginosos, o ambiente fresco, lubrificação frequente da pele com água ou uma solução à base de sílica, exercícios físicos para evitar contratura da pele e atividades recreativas ajudam muito na promoção do conforto nessa fase. Alteração da mobilidade física Uma prioridade inicial é evitar as complicações resultantes da imobilidade. A inspiração profunda, a mudança de decúbito e posicionamento adequado são práticas essenciais da enfermagem para evitar atelectasia e pneumonia, controlar o edema, prevenir úlceras de pressão e contraturas. Essas intervenções devem ser modificadas no sentido de preencher as necessidades individuais do paciente. Os colchões de água e as camas rotativas podem ser úteis e também deve ser encorajada a deambulação precoce. Sempre que as extremidades inferiores estiverem afetadas, devem-se usar ligaduras compressivas antes do paciente ser colocado em posição ortostática. A ferida da queimadura permanece num estado dinâmico por um ano ou mais após fechar. Durante esse tempo devem ser feitos esforços agressivos para evitar a contratura e a cicatrização hipertrófica da área da ferida. A partir do dia do internamento devem ser realizadas exercícios ativos e passivos e estes devem ser mantidos após o enxerto dentro das limitações prescritas. Também se utilizam talas moldáveis para evitar ou corrigir contraturas e para imobilizar as articulações 43 4.4 Terceira fase Fonte: fisioteraloucos.com.br Fonte: fisioterapia.com A reabilitação como 3ª fase inicia-se quando a queimadura está reduzida a menos de 20% da área da superfície corporal e o doente seja capaz de assumir uma parte dos cuidados. No entanto é uma preocupação a ter desde o dia do internamento. Os princípios do internamento visam a recuperação funcional e cosmética e a recuperação de um lugar produtivo na sociedade por parte do doente. A reabilitação prolonga-se até que o doente atinja um nível máximo de ajustamento emocional e físico. Essa reabilitação inicia ainda na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).Corresponde principalmente à reabilitação física, como a dieta hiperproteica para melhorar a cicatrização e o posicionamento dos membros inferiores estendidos, evitando-se cicatrizes hipertróficas e contraturas articulares. Há duas áreas de preocupação durante essa fase: a restauração da função nas zonas articulares que estão cicatrizadas e a assistência emocional de que o paciente e a sua família necessitam. A reabilitação do paciente começa efetivamente desde o início do internamento e prossegue durante toda a hospitalização. Após a alta o paciente necessitará de assistência e orientações sobre sua nova condição, bem como sobre as possíveis internações e procedimentos necessários para os tratamentos voltados para sua reabilitação. 44 Outra questão é o suporte emocional, já que a queimadura gera alterações na autoimagem, além de sentimentos como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. O paciente deve ser ajudado a manter a mobilidade das articulações para evitar que a cicatrização das lesões se faça em posições que conduzam a deformidades. Deve-se atender às queixas de dor e pressão. É importante que os pacientes entendam a razão da necessidade de deambulação ou movimentos, ainda que dolorosos. O impacto emocional de uma queimadura, leva a problemas psicológicos que podem permanecer por toda a vida do paciente e seus familiares, se não houver um tratamento e apoio psicológicos adequados. A enfermagem é responsável por avaliar a reação do paciente ao posicionamento, imobilizações, exercício e capacidade do paciente e da sua família para executarem os cuidados que se impõem fazer, diariamente, às feridas após a alta. É necessária uma avaliação cuidadosa e meticulosa quanto à circulação sanguínea, cianose de algum membro eventualmente apoiado (por talas ortoplásticas, por exemplo), e temperatura. O exercício, as atividades da vida diária e a deambulação, também são alvos de uma contínua avaliação quanto à tolerância física e emocional do paciente. Problemas / intervenções de enfermagem Depressão e isolamento psicológico O paciente, quando percebe sua melhora, relata preocupações básicas como: O medo de ficar “defeituoso” Os problemas no emprego e com a família A nova situação econômica. As queimaduras da face tornam o reajustamento particularmente difícil. A enfermagem deve reservar um tempo para ouvir e encorajar o paciente. Se possível, o paciente só deverá ver as queimaduras faciais depois de estar preparado para a experiência. 45 Será necessário apoio e compreensão quanto a reação que o paciente possa ter, quando se ver no espelho. O contato com outros pacientes que sofreram queimaduras, e cujo estado de cura está mais avançado, poderá ajudá- lo a sentir que a recuperação é possível. Além de demonstrar medo, frequentemente o paciente dá vazão a sentimentos de raiva e de culpa. Uma forma de o auxilia-lo será proporcionar-lhe o apoio de alguma pessoa (profissional ou não) que o ajude a libertar as suas emoções, sem que tenha medo de retaliação. Poderá ser algum religioso (a), uma assistente social, um psicólogo ou até mesmo outro profissional da enfermagem, que não estejam diretamente envolvidos no processo de reabilitação do paciente. A enfermagem é responsável também, pela contínua avaliação das reações psicossociais do paciente, assim será capaz de dar apoio e ajudar os outros membros da equipe, a desenvolver um plano que o ajude a lidar com estes sentimentos. Alteração do autoconceito Na sociedade existem preconceitos para com os que são “diferentes do normal”, que se encontram desfigurados. Está incluído no papel da enfermagem ajudar o paciente a mostrar aos outros o que ele realmente é, e ensiná-lo a fazer com que as pessoas que com ele se comunicam, desviem a atenção para o seu íntimo e não para a sua lesão. A enfermagem também pode promover a presença de psicólogos, assistentes sociais e conselheiros vocacionais, dentre outros que possam contribuir para a recuperação e bem-estar do paciente. Alterações do sono e dificuldade em repouso A dor acompanha cada movimento desses pacientes. Os cuidados devem ser planeados de forma a permitir períodos de sono sem interrupções. Uma boa hora para o descanso é após o stress da mudança de pensos (curativos) e do exercício, enquanto as intervenções sobre a dor ainda estão eficazes. Os hipnóticos ministrados ao deitar, podem facilitar o sono à noite. O paciente deve ser confortado em relação a pesadelos da situação em que ocorreu a queimadura, uma vez que podem ser a causa da insónia. 46 Falta de conhecimento acerca da nova situação Se os pacientes estiverem conscientes das consequências da lesão, dos objetivos do tratamento planejado e do seu papel nos cuidados continuados, poderão participar de forma mais ativa durante todo o processo de cura e reabilitação. Intolerância à atividade e limitações da mobilidade A redução do stress metabólico através do alívio da dor, a prevenção dos tremores e a promoção da integridade física de todos os sistemas do corpo, irão ajudar o paciente a conseguir energias para as atividades terapêuticas. Dessa forma, haverá um aumento gradual da tolerância do paciente às atividades, aumentando também a força e a resistência do mesmo, contribuindo para uma melhor recuperação e reabilitação de sua saúde e bem-estar. Os exercícios e a deambulação, iniciam-se logo que o paciente se apresente estável. Estas atividades são supervisionadas por um fisioterapeuta ou terapeuta ocupacional. Todas essas fases requerem uma assistência multidisciplinar, em especial da enfermagem, que acompanha o paciente desde a sua chegada ao hospital até a sua alta, ou dando continuidade do atendimento em domicílio. A enfermagem deve atentar-se para uma assistência de qualidade, observando todas as etapas do processo de enfermagem, que é fundamental para obter-se êxito. 47 5 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Fonte: ebah.com.br A equipe de enfermagem, principalmente o enfermeiro, deve possuir um pensamento crítico que promova a decisão clínica e ajude a identificar as necessidades do paciente e quais as melhores medidas a serem tomadas para atendê-las. Aplica, assim, uma das etapas do processo de enfermagem que se divide em, conforme Brunner & Suddarth, “histórico, diagnósticos de enfermagem, planejamento, implementação e evolução”. Em relação ao paciente considerado grande queimado coletam-se dados sobre sua história, faz-se o exame físico e ainda se recolhe informações sobre como ocorreu a queimadura, depois os dados são analisados. A segunda etapa do processo é o diagnóstico de enfermagem, para Potter, os diagnósticos de enfermagem têm como propósito, “interpretar os dados de avaliação e então identificar os problemas de saúde que envolvam o paciente, a família e outros indivíduos de relevância”. Brunner & Suddarth informam que os diagnósticos de enfermagem mais comuns estão compilados e categorizados pela North American Nursing Diagnosis Association (NANDA), que é atualizada bianualmente. Esses diagnósticos de enfermagem não são diagnósticos ou tratamentos médicos, ou ainda exames de diagnósticos, não compõem a terapia médica. 48 Após a análise e interpretação dos dados, foram identificados alguns diagnósticos de enfermagem, segundo a NANDA: Troca gasosa prejudicada Eliminação urinária prejudicada Padrão respiratório ineficaz Mobilidade física prejudicada Perfusão tecidual periférica prejudicada Dor Volume de líquidos deficiente Enfrentamento individual ineficaz Risco de infecção Ansiedade Integridade cutânea prejudicada Intolerância à atividade Hipotermia Distúrbio da imagem corporal Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais Déficit de conhecimentosobre o cuidado domiciliar e necessidades de acompanhamento pós-alta. De acordo com os diagnósticos de enfermagem citados, verificam-se algumas prescrições de enfermagem correlacionadas: Fornecer oxigênio umedecido, monitorar rigorosamente o paciente em ventilação mecânica. Posicionar a sonda e a bolsa de drenagem de modo que propiciem um fluxo desimpedido de urina. Observar queimaduras do tórax. Posicionar o paciente cuidadosamente, a fim de evitar posições flexionadas nas áreas queimadas, implementar exercícios de amplitude de movimentos várias vezes ao dia. Manter as extremidades aquecidas. Oferecer analgésico aproximadamente 20 minutos antes do processo doloroso, fornece tranquilidade e apoio emocional. 49 Monitorar o débito urinário pelo menos a cada hora e pesar o paciente diariamente. Usar a abordagem multidisciplinar para promover a mobilidade e a independência. Usar a assepsia em todos os aspectos do cuidado com o paciente, inspecionar a ferida para sinais de infecção, drenagem purulenta ou coloração, monitorar a contagem de leucócitos, resultado de cultura e sensibilidade. Explicar todos os procedimentos ao paciente e a sua família, em termos claros e simples, individualizar as respostas para o nível de enfrentamento do paciente e sua família. Limpar as feridas diariamente, realizar o curativo da ferida de acordo com a prescrição, evitar a pressão, infecção e mobilização dos enxertos de pele. Incorporar os exercícios de fisioterapia ao cuidado do paciente, para impedir a atrofia muscular e manter a mobilidade necessária para as atividades diárias; Avaliar com frequência a temperatura corporal central, fornecer ambiente aquecido por meio de cobertores térmicos. Encaminhar o paciente para terapia de grupo. Oferecer dieta hiperproteica, incluindo os alimentos de preferência do paciente, monitorar a contagem de calorias e o peso diário. Avaliar a prontidão do paciente e da família em aprender. Na sequência, é realizado o planejamento em que “os objetivos da assistência são determinados, prioridades são estabelecidas, resultados da assistência são projetados e um plano de assistência é escrito”. Verificam-se quais os procedimentos que melhor se adequem ao estado do paciente queimado. A implementação tem como objetivo a execução do plano de cuidados por meio das intervenções de enfermagem, que devem ser contínuas e interagir com outros componentes. 50 A etapa final corresponde à evolução, que, segundo Brunner & Suddarth, é a “determinação das respostas do paciente às prescrições de enfermagem e a extensão em que os resultados foram alcançados. ” O paciente está respondendo positivamente a assistência prestada? 6 HUMANIZAÇÃO NO CUIDADO DO PACIENTE EM UNIDADE DE TRATAMENTO DE QUEIMADURAS - UTQ Fonte: institutomarcelodeda.com.br Humanizar é cuidar do paciente de forma holística, englobando também a família, respeitando os seus valores, culturas e preocupações de cada indivíduo. A internação em Unidade de Tratamento de Queimados – UTQ traz alterações principalmente psicológicas por causa da aparência e cicatrizes que nem sempre com cirurgia reparadora se desfazem. Os profissionais de enfermagem devem ser preparados para atuar junto ao paciente e sua família, para diminuir os efeitos e dos transtornos da longa internação em UTQ. Segundo Cintra, (2000), a proposta de humanização do cuidado vem em busca do resgata dos valores humanistas, amor, toque, conversa, respeito e da preocupação com o outro. Um aspecto a destacar é a forma com que o cuidado é desenvolvido na prática, totalmente com ênfase nas técnicas, ou seja, nas 51 intervenções de Enfermagem, que em última análise, depende de uma prescrição médica. Dessa forma, o objetivo da Enfermagem não está centrado no cuidado ao paciente, mas na maneira de ser executada a tarefa. 7 CUIDADOS DE ENFERMAGEM NOS PROCESSOS DOLOROSOS E ATENDIMENTO PSICOLÓGICO Fonte: gazetadopovo.com.br Ao abordar a questão da dor no tratamento de paciente com queimaduras, é um dos grandes desafios que a equipe de enfermagem precisa superar, pois o controle da dor torna- se quase impossível. Existe uma relação bastante significativa entre a dor e o medo, a ansiedade e a infelicidade, fatores que exacerbam durante a manipulação das lesões em consequência da realização dos curativos. Todos os pacientes que tiveram seus corpos queimados experimentaram a dor física e psicológica que frequentemente se superpõe. A dor física é geralmente focalizada em atividades específicas tais como: a limpeza da ferida, o desbridamento, a troca de curativo e fisioterapia. A ansiedade antecipada sobre procedimentos que podem ou não ser dolorosos pode causar um aumento progressivo no grau de dor experimentado pelo paciente. 52 Quase todos os tipos de queimaduras apresentam fisiologicamente hiperalgesia, mas a intensidade dolorosa é um fator imprevisível, estando também correlacionado com a percepção da dor pelo próprio paciente e fatores emocionais ligados ao trauma sofrido. O paciente com queimaduras encontra - se em estado de extrema dor exterior e interior. Portanto cabe à equipe de saúde além de cuidar de suas feridas, dar mais atenção às suas queixas interiores. O paciente começa a se achar feio e passa a odiar sua imagem no espelho, pois a queimadura causa lesões, às vezes, irreversíveis na pele e deixa marcas, às vezes permanentes. A equipe de enfermagem deve estar preparada para quaisquer intercorrências junto ao paciente, para isto, esta deve ser portadora de um conhecimento global do processo fisiopatológico e da terapêutica a ser ministrada ao paciente com queimaduras, uma vez que condutas inadequadas na assistência de enfermagem podem provocar sequelas físicas e psicológicas irreversíveis ao doente. A importância de o Enfermeiro estar habilitado a prestar atendimento de forma correta e humanizada às vítimas de queimaduras, é essencial para o prognóstico do paciente a curto e longo prazo. 53 BIBLIOGRAFIA ASSIS, J.T.S.J. Conhecendo a vida ocupacional do paciente queimado por autoagressão após a alta hospitalar. 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