Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 MÓDULO DISTÚRBIOS SENSORIAIS, MOTORES E DA CONSCIÊNCIA 1. ESTUDAR AS DOENÇAS DESMIELINIZANTES (DEFINIÇÃO, ETIOLOGIAS, EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO, TRATAMENTO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL) - GUILLAN BARRÉ, ESCLEROSE MÚLTIPLA, MIELITE ÓPTICA, MIELITE TRANSVERSA. Uma doença desmielinizante é qualquer doença no cérebro ou na medula na qual ocorra uma alteração do tipo inflamação na bainha de mielina dos nervos - daí o termo desmielinização. Que afetam o sistema nervoso central: Esclerose Múltipla Mielite Transversa; Doença de Devic (neuromielite óptica); Que afetam o sistema nervoso periférico: Sindrome de Guillan Barré. GUILLAN BARRÉ É uma doença neurológica desmielinizante, autolimitada, que se apresenta na grande maioria dos casos como uma polirradiculoneuropatia inflamatória aguda, por mecanismo autoimune pós-infeccioso. POLIRRADICULONEUROPATIA = acometimento de mais de uma raiz de nervo periférico. É uma doença rara, na qual a incidência anual é entre 1 a 4 casos por milhão de pessoas. Os homens são 1,5x mais afetados do que as mulheres e os adultos são mais acometidos do que as crianças. FISIOPATOLOGIA Ocorre um fenômeno autoimune desencadeado por uma infecção respiratória ou gastrointestinal, na qual o sistema imune começa a atacar a bainha de mielina dos nervos periféricos. A principal hipótese para explicar a origem dessa doença é a ocorrência de uma reação cruzada com antígenos de uma infecção. No qual o organismo reconhece um antígeno (infecção, vacina) e começa a ataca-lo. Só que na bainha de mielina existe uma estrutura que é muito parecida com esse antígeno, sendo também atacada “por engano”. Nessa doença os mecanismos celulares envolvidos são linfócitos T e imunidade humoral - auto anticorpo antiglicofosfolipídio 1, também conhecido como anti-GQ1b. Os agentes infecciosos mais relacionados são o Campylobacter jejuni (intestinal) e o citomegalovírus e o Epstein-Barr (respiratórios). Além do HTLV, HIV, Zika vírus. Porque o ataque autoimune só ocorre no segundo neurônio motor e poupa a bainha de mielina do primeiro neurônio motor? Isso ocorre, porque a bainha de mielina do 2º neurônio motor contém Problema 04: Reflexos demais. Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 uma proteína denominada P2, que parece ser um alvo importante para ligação dos anticorpos que participam do ataque autoimune à mielina. Como a bainha do 1º neurônio motor não expressa a P2, ele não é acometido. QUADRO CLÍNICO O paciente refere inicialmente uma lombalgia importante, com uma redução de força nas pernas, ou seja, uma paraparesia. Essa fraqueza vai subindo para a musculatura proximal dos membros inferiores e podem surgir quedas e dificuldade de andar. Quando você examina observa diminuição dos tônus muscular e dos reflexos. Tudo é bilateral. Esses achados revelam o que chamamos de paparesia flácida arreflexa! FRAQUEZA MUSCULAR FLÁCIDA, ARREFLEXA, SIMÉTRICA. INICIO DISTAL, PROGRESSIVA E ASCENDENTE. A instalação dos sintomas pode ocorrer de forma aguda ou hiperaguda (horas ou dias). Contudo a fraqueza pode se estender, subindo até se transformar numa tetraparesia. Em alguns casos podemos encontrar disfagia, disartria, disfonia e paralisia faial periférica. Em 10 a 30% dos casos pode haver comprometimento da musculatura diafragmática, com risco de insuficiência respiratória. Lembre-se que como é uma doença autolimitada, o paciente pode estar muito bem e em horas evoluir para fraqueza da musculatura respiratória. A doença também atinge o sistema nervoso autônomo. E até 70% dos pacientes pode manifestar uma disautonomia, como taquicardia ou outra arritmia cardíaca, variações de pressão arterial, hipotensão ortostática, retenção urinaria, íleo adinamico ou distúrbio de transpiração. Achados do exame físico: Paralisia ou paresia. Arreflexia. Flacidez. Acometimento de evolução simétrica e ascendente. Parestesia e disestesia em extremidades, porém sensibilidade geralmente preservada. Ausência de atrofia muscular significativa. A variante mais comum (cerca de 90% dos casos) é denominada polineuropatia inflamatória desmielinizante aguda conhecida pela sigla AIDP. Na prática os termos AIDP e Guillain-Barré acabam sendo utilizados como sinônimos. Outra variante comum é a Síndrome de Miller Fisher: DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito basicamente pelo exame clínico + exames complementares. 1. EXAME DO LÍQUOR: a partir da primeira semana de doença mostra dissociação proteinocitológica ou albuminocitológica, ou seja, aumento da proteína sem aumentar a celularidade, em 80-90% dos casos (isto cai todos os anos nas provas!!!!). O aumento máximo de proteínas no líquor acontece quatro a seis semanas após o início dos sintomas da doença. Obs: Liquor normal na primeira semana de doença não exclui o diagnóstico. Obs: em pacientes HIV+, pode haver hiperproteinorraquia com aumento de celularidade. Obs: Caso a citometria do liquor apresente mais de 50cel/mm3 devem ser pesquisadas causas infecciosas. 2. ELETRONEUROMIOGRAFIA: mostra uma polirradiculoneuropatia motora com padrão desmielinizante (também pode ser normal no início da doença). TRATAMENTO Como o paciente é potencialmente instável, e a qualquer momento ele pode evoluir com uma Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 insuficiência respiratória ou arritmia cardíaca, devemos internar de preferência na UTI e monitoriza-lo. Considerando que é uma agressão autoimune de caráter agudo devemos usar um tratamento de ação rápida. NÃO ADIANTA FAZER CORTICOIDE! As opções de efeito rápido para a doença são: Plasmaférese; Imunoglobulina intravenosa (altas doses - 2g/kg/dia - dividir em cinco doses). Ambas possuem eficácia semelhantes. O tratamento deve ser iniciado precocemente, principalmente até a segunda semana. EVOLUÇÃO E PROGNÓSTICO Lembre-se que é uma doença autolimitada. Início dos sintomas » piora da fraqueza por duas semanas. » A doença atinge um plateau e se mantém estável por duas a quatro semanas. » Inicia-se então uma fase de melhora que pode durar desde alguns meses até mais de um ano. Após seis meses, a maioria dos pacientes é capaz de andar. A maior parte dos pacientes tem recuperação completa ou mantém pequenos déficit que não interferem na vida cotidiana, como a arreflexia. ESCLEROSE MÚLTIPLA É uma doença crônica, INFLAMATÓRIA, autoimune que provoca uma desmielinização, em forma de placas nos neurônios da substância branca do cérebro (SNC), tronco encefálico, cerebelo, medula espinhal e TIPICAMENTE, o nervo óptico. EPIDEMIOLOGIA Mais comum em mulheres brancas na faixa etária de 35-50 anos. Lembre-se que as doenças autoimunes caminham juntas. Isto é, sempre que você encontrar um paciente com uma doença autoimune procure outras. As principais associações com a esclerose múltipla são tireoidite autoimune e DM tipo I. ETIOLOGIA 1. GENÉTICA: Acredita-se que EM ocorra em pessoas geneticamente susceptíveis. A associação clássica é com HLA-DRB1; 2. VÍRUS: Evidencias apontam para uma associação com infecção pelo vírus Epstein-Barr, particularmente adquirido após a infância. 3. FATOR GEOGRÁFICO: Incide em populações de zonas temperadas e frias. Canada, norte dos EUA e europas são áreas de alta prevalência. Parece que a exposição solar na infância e adolescência exerce um efeito protetor e baixos níveis de vitamina D estão associados a doença. Várias associações entre fatores ambientais e esclerose múltipla foram feitas. O tabagismo, a obesidade na infância e adolescência, e a dieta rica em sódio são considerados, atualmente, fatores de risco FISIOPATOLOGIA A esclerosemúltipla é uma condição inflamatória autoimune; Até pouco tempo pensava-se que havia um puro e simples ataque de linfócitos T contra a bainha de mielina dos axônios nos neurônios do SNC. Porem nos últimos anos, tem sido estudada a participação de linfócitos B na inflamação, produzindo anticorpos (diferenciados como plasmocitos) ou apresentando antígenos aos linfócitos T; As lesões serão da substancia branca e em forma de placas, podendo acometer o cérebro, tronco encefálico, cerebelo, nervo optico e medula espinhal. Pode acometer uma dessas estruturas ou mais de uma delas, ou até todas elas ao mesmo tempo. Acometendo mais de uma estrutura, o paciente terá vários sintomas neurológicos. Ou seja, a apresentação clinica será bastante variável. Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 QUADRO CLÍNICO Apareceu uma pessoa jovem com sintomas neurológicos que acometem o SNC de forma desorganizada (isto é, o exame físico não te permite localizar a doença) e que depois de um tempo regridem pelo menos parcialmente » você vai pensar em esclerose múltipla. Sua hipótese ficará ainda mais forte se ocorrerem novas exacerbações seguidas de melhoras. Apesar de toda essa lesão confusa, lembre-se sempre desta doença quando houver neurite óptica + síndrome piramidal + alteração sensitiva. LESÃO DA BAINHA DO NERVO ÓPTICO (NEURITE ÓPTICA): Diminuição da acuidade visual, papilite, dor à movimentação ocular. Imagine-se diante de um paciente com dor ocular de início agudo ou subagudo que piora com a movimentação e se associa à diminuição visual.... Nesta situação, você deve pensar nessa doença! Em geral, o paciente se recupera totalmente em meses podendo restar dificuldade para enxergar cores brilhantes como o vermelho. LESÃO DA VIA SENSITIVA: Parestesias, hipoestesia, dor, redução da propriocepção, alteração de sensibilidade vibratória, dormência, sensação de aperto... Estas manifestações são frequentes no início da doença e acabam acometendo todos os pacientes em alguma fase da evolução. A NEURALGIA DO TRIGÊMEO, caracterizada por dor muito intensa nas áreas inervadas pelas raízes sensitivas maxilar e mandibular do V par craniano, tem a EM como uma de suas principais causas; LESÃO DA VIA DO PRIMEIRO NEURÔNIO MOTOR (LESÃO PIRAMIDAL) Paresia, plegia, hiper-reflexia, sinal de Babinski presente (cutâneo-plantar em extensão), clônus, espasticidade (em qualquer região do corpo). LESÃO DE TRONCO Diplopia, disartria, disfonia. LESÃO CEREBELAR Incoordenação, tremor, desequilíbrio, dismetria, decomposição de movimentos complexos, hipotonia. MIELITE Sintomas piramidais, sensitivos, incontinência urinária. OUTROS Vertigem, fadiga, depressão, nistagmo pendular, disfunção sexual, constipação intestinal, urgência e incontinência urinárias, distúrbios cognitivos (conceitualização abstrata, memória recente, atenção), epilepsia. Fenômeno de Lhermitte: É uma sensação transitória de choque elétrico que se irradia pela coluna em direção aos membros após a flexão do pescoço. A disfunção vesical está presente em mais de 90% dos casos de EM e provoca episódios frequentes de incontinência. Obs.: a esclerose múltipla não gosta do calor!!! Com o aumento da temperatura corporal (febre e exercícios) os sintomas pioram (fenômeno de Uhthoff), diminuindo a temperatura os sintomas melhoram. APRESENTAÇÃO RECIDIVANTE-REMITENTE OU SURTO- REMISSÃO (EMRR): é forma mais comum (85% dos casos no início), caracterizada por surtos que duram dias ou semanas e, em seguida, desaparecem ou deixam pequenas sequelas. PROGRESSIVA-SECUNDÁRIA (EMPS): sempre começa como a EMRR e, em algum momento evolui para declínio funcional constante, sem novos episódios agudos. Para um paciente com EMRR, o risco de evolução para EMPS é de cerca de 2,5% ao ano, ou seja, a maioria dos casos evolui para EMPS. PROGRESSIVA-PRIMÁRIA (EMPP): apresenta uma progressão constante de sintomas e sequelas desde o seu aparecimento. Estes pacientes não têm surtos. Corresponde a 15% dos casos. PROGRESSIVA-RECORRENTE (EMPR): é a forma progressiva com surtos. Desde o início há progressão das incapacidades geradas a cada crise. Algumas referências mais recentes advogam que esta forma não deve mais ser usada e que esses pacientes devem ser CLASSIFICADOS como "EMPP com ataques agudos", uma nova subclassificação proposta. Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Como caracterizar um surto? É o aparecimento de um sintoma neurológico novo ou piora de um já existente com duração mínima de 24h. Cuidado com os falsos surtos como infecções, calor excessivo, febre e outras que podem piorar o doente sem ser um novo surto. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é feito pela clínica, completado ou não com alguns exames laboratoriais. EXAME DO LÍQUOR: não há alterações grosseiras neste exame. Na maioria dos pacientes, pressão liquórica e contagem de leucócitos e proteínas totais são normais. Porém é possível notar aumento de imunoglobulinas com predomínio de IgG. POTENCIAIS EVOCADOS: avaliam as vias aferentes e eferentes do SNC. Após estimulação nervosa repetida é possível medir os Potenciais Elétricos (PE) no SNC. Estão alterados em 80- 90% dos pacientes. O achado que sugere desmielinização é o atraso acentuado na latência de um componente especifico dos PE. Mas observem que, novamente, as anormalidades não são especificas da esclerose múltipla. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA DE CRÂNIO: Está alterada em 95% dos casos. O gadolínio ajuda na detecção de doença precoce, pois, o aumento da permeabilidade vascular por quebra da Barreira Hematoencefálica (BHE) é detectado pelo extravasamento do gadolínio intravenoso para o parênquima. As lesões hiperintensas em T2 são orientadas perpendicularmente à superfície ventricular correspondendo a um padrão de desmielinização perivenosa que na prova pode aparecer com o nome de "dedos de Dawson". O diagnóstico é dado pela soma de critérios, sendo os principais: 1. Critério clínico: presença de surtos de lesão neurológica focal (duração maior que 24h separados por um mês), em pelo menos dois territórios diferentes do SNC; 2. Exclusão de outras causas, como doença cerebrovascular, meningoencefalites, trauma etc.; 3. Exame do liquor, demonstrando bandas oligoclonais de IgG, com ausência de pleocitose; 4. RM, demonstrando múltiplas placas desmielinizantes no SNC, acometendo pelo menos duas das seguintes áreas: periventricular, justacortical, infratentorial e medula espinhal TRATAMENTO Infelizmente, o tratamento desta doença está longe de promover a cura. Vários agentes são usados com o objetivo de retardar a progressão da doença nas formas progressivas da EM Surtos – devem ser tratados com metilprednisolona em pulsoterapia 1 g IV por três a cinco dias, seguida de prednisona VO (geralmente por mais quatro ou oito semanas). Esta forma de tratamento controla bem o quadro agudo, mas não tem nenhum efeito sobre a progressão da doença... Terapia crônica (modificadores de doença) – envolve o uso de interferon beta-1ª (Avonex® ou Rebif®), interferon beta-1b (Betaseron®) ou acetato de glatirâmer (Copaxone®). De uma forma geral, essas drogas reduzem as recidivas da doença em 1/3. O natalizumabe (Tysabri®) é um anticorpo monoclonal contra o VLA-4, uma molécula de adesão leucocitária que facilita a entrada de leucócitos autorreativos no SNC. Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 É a droga mais eficaz para o controle da doença (66% de redução nas recidivas), porém, devido a dois relatos de infecção fulminante (leucoencefalopatia multifocal progressiva) por reativação do vírus JC (presente em estado latente na maioria da população), recomenda-se que o natalizumabe seja reservado aos casos refratáriosà terapia convencional... A mitoxantrona (Novantrone®) é um quimioterápico com propriedades Imunossupressoras, utilizado como primeira escolha no tratamento da forma progressiva da EM NEUROMIELITE ÓPTICA A Neuromielite óptica (NMO), também conhecida como doença de Devic, é uma doença inflamatória, autoimune do sistema nervoso central - que atinge principalmente os nervos ópticos e a medula espinhal, causando a perda da visão; dificuldade para andar; dormência nos braços e pernas; e alterações no controle da urina e do intestino. Os ataques repetidos levam ao acúmulo de deficiência neurológica e incapacidade. Por muito tempo a doença foi considerada uma variante da esclerose múltipla, porém, hoje se sabe que a NMO e a NMOSD (doenças do espectro da Neuromielite óptica) são doenças distintas e com tratamentos diferentes. A NMO apresenta-se com surtos mais graves, atinge mais mulheres e negros. No distúrbio do espectro da neuromielite óptica, o alvo do sistema imunitário é a aquaporina 4 (uma proteína que está presente nos astrócitos no encéfalo e, sobretudo, na medula espinal e nervos ópticos) e, possivelmente, outros alvos. Os astrócitos são danificados pela inflamação mediada por autoimunidade, bem como pela desmielinização. QUADRO CLÍNICO Os sintomas do distúrbio do espectro da neuromielite óptica são perda de visão, espasmos musculares, paraparesia ou quadriparesia e incontinência. Apresentações características específicas incluem Neurite óptica bilateral grave que envolve o quiasma óptico, causando perda de visão na metade horizontal do campo visual (defeito do campo visual altitudinal) ou perda da acuidade visual (20/200 ou pior) Síndrome medular completa, especialmente com espasmos tônicos paroxísticos Síndrome da área postrema, causando soluços intratáveis ou náuseas e vômitos (a área postrema é uma estrutura que controla os vômitos e está localizada no assoalho do 4º ventrículo) Mielite transversa aguda que se estende por ≥ 3 segmentos contínuos da medula espinal. DIAGNÓSTICO 1. RM cerebral e da medula espinal As características a seguir ajudam a diferenciar a neuromielite óptica da esclerose múltipla (EM): Neuromielite óptica atinge vários (tipicamente ≥ 3) segmentos vertebrais contíguos da medula, enquanto a esclerose múltipla tipicamente acomete um único segmento. Na RM, as lesões da substância branca cerebral são incomuns na neuromielite óptica, diferentemente da esclerose múltipla. Na RM, a morfologia e a distribuição das lesões diferem das lesões da esclerose múltipla. 2. Potencial evocado visual Os potenciais visuais evocados podem ajudar a diferenciar a neuromielite óptica das outras neuropatias ópticas. Os achados no distúrbio do espectro da neuromielite óptica incluem redução da amplitude ou latência prolongada. Pode-se realizar exames de sangue para medir anticorpos anti-IgG específicos do distúrbio do espectro da neuromielite óptica [anticorpos anti- aquaporina-4 (também conhecidos como NMO- IgG)] a fim de diferenciá-lo da esclerose múltipla. TRATAMENTO Embora a neuromielite não tenha cura, a doença pode ser tratada, geralmente com o uso de corticoides. E em casos mais graves e com crises frequentes a plasmaférese, técnica que retira os anticorpos que causam a doença do sangue periférico, pode ser aplicada. Além disso, outros medicamentos como imunusupressores e anti- inflamatórios também são utilizados. O paciente ainda conta com o acompanhamento de fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos, que auxiliam na redução de duração e intensidade das crises. MIELITE TRANSVERSA O termo "Mielite Transversa" descreve um grupo heterogêneo de doenças inflamatórias que são caracterizadas por déficit motor, sensorial e Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 autonômico (bexiga, intestino e sexual) agudo ou subagudo por disfunção da medula espinhal. As suas manifestações são causadas por uma interrupção de forma ascendente e descendente das vias neuroanatômicas no plano transversal da medula espinal, e a presença de um nível sensorial resultante é característica da síndrome. A Síndrome Mielite Transversa pode surgir por diversas causas, mas na maioria das vezes ocorre como um fenômeno autoimune depois de uma infecção ou vacinação (correspondendo a 60% dos casos em crianças) ou como um resultado de uma infecção, uma doença autoimune sistêmica subjacente, ou uma doença desmielinizante adquirida, tal como a esclerose múltipla ou parte do espectro de doenças relacionadas à neuromielite óptica (doença de Devic, uma doença desmielinizante que é definida por Mielite Transversa e Neurite óptica). QUADRO CLÍNICO Uma história de fraqueza motora, disfunção sensorial asociada a anormalidades na medula espinhal, além de disfunção da bexiga ou do intestino sugerem o diagnóstico de síndrome medular. Os sintomas e sinais da Mielite Transversa tipicamente evoluem ao longo de horas a dias (na maioria dos casos em dois dias) e são geralmente bilaterais; entretanto, déficits unilaterais ou assimétricos podem ocorrer. Ocasionalmente, a Mielite Transversa apresenta- se com início rápido de paraparesia grave ou tetraparesia com arreflexia, o que pode levar à confusão diagnóstica com outras causas de fraqueza motora, como a Síndrome de Guillain- Barré; mas ao contrário das neuropatias periféricas, os pacientes apresentam hiperreflexia e Babinski confirmando causa central e não periférica da fraqueza muscular. A incontinência ou retenção urinária, constipação ou dificuldade de evacuar, e disfunção sexual são comuns, mas variam em gravidade entre os pacientes. DIAGNÓSTICO Como primeiro passo na investigação, a Ressonância Magnética (RM) é realizada para descartar a presença de lesões estruturais, especialmente as com indicação de intervenção neurocirúrgica urgente como compressão medular. São critérios para o diagnóstico de Mielite Transversa: Alterações sensoriais, motoras e autonômicas condizentes com síndrome medular; Sinais e sintomas bilaterais; Nível sensorial claramente definido; Ausência de evidência de compressão medular, causas vasculares e lesão pós- radiação; Inflamação definida por pleocitose liquórica, aumento do índice de IgG ou realce de medula na RM com gadolíneo; -Velocidade de progressão variando de 4 horas a 21 dias. TRATAMENTO Pacientes com MT devem ser oferecidos um tratamento imunomodulatório, como esteróides e plasmaférese, apesar de não haver ainda um consenso da estratégia mais apropriada. Para pacientes com MT idiopática aguda, indica- se o tratamento com altas doses de glicocorticoide intravenoso. Os regimes preferidos são metilprednisolona (30 mg / kg até 1000 mg por dia) ou dexametasona (até 200 mg por dia para adultos) por três a cinco dias. Para pacientes com MT aguda complicada por deficiência motora, sugerimos tratamento adicional com plasmaférese 3. COMPREENDER A ABORDAGEM DA PARALISIA ASCENDENTE.
Compartilhar