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Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 1 Introdução • Método filosófico que se propõe a absorver aquilo que está acontecendo na vivência imediata do ser humano, sem explicações que afastem o homem dessa vivência; • Do grego “Phainesthai”; • Não há uma regra para interpretar o homem e o mundo, mas tem como proposta a compreensão de como o ser humano, de forma vivencial percebe a trama e o percurso da sua vida. Influência Filosófica: Existencialismo • Sören Kierkegaard: 1813 – 1855; • Jean paul Sartre: 1905 – 1980; • Martin Heidegger: 1889 – 1976; • Friedrich Nietzsche: 1844 – 1900. Contribuições Da Filosofia De Husserl Para Construção Do Método Psicológico Fenomenológico 1. A objetivação do sujeito humano e o falso paralelismo experiência externa-experiência interna: ▪ A crítica ao conceito de experiência na lógica cartesiana; ▪ O eu do mundo-da-vida, o eu encarnado no próprio corpo é assim, eliminado, dicotomizando subjetividade e corporeidade; ▪ (A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental); 2. Naturalismo e experiência psíquica: ▪ Os conceitos de “experiência psicológica” e “experiência psíquica”; ▪ Nessa experiência apreendemos um sujeito pessoal no sentido lato; ▪ (Fenomenologia e Teoria do Conhecimento); 3. Experiência como atividade do eu: ▪ Retorno à origem do mudo-da- vida, significa voltar ao fator subjetivo por cuja ação intencional o mundo assumiu sua forma atual: ▪ O subjetivo aqui, não é o da psicologia, mas o subjetivo transcendental refere-se a volta às fontes últimas das formações cognitivas pelas quais o sujeito do conhecimento reflete acerca de si mesmo e da própria vida cognitiva; ▪ (Experiência e Juízo): 4. A experiência na psicologia como ciência da pessoa: ▪ Diferente das ciências naturais – para quem o espírito é algo que se soma ao corpo – a ciência da pessoa volta-se ao ser pessoal que tem o corpo próprio como objeto privilegiado de seu mundo- da-vida; ▪ (A crise das ciências europeias e a fenomenologia transcendental). Psicologia Fenomenológica • Abordagem Existencial Fenomenológica (AEF) tem como proposta a compreensão de como o ser humano percebe, de forma vivencial, desenvolvendo uma trama significativas de acontecimentos, o percurso de sua vida; • A descrição do fenômeno como ele aparece para o sujeito é de extrema importância para o compreensão desse fenômeno na vida do paciente; • A revelação do homem está ́nos pequenos dizeres, que trazem toda sua essência; • Suspender pré-juízos e pré- julgamentos é fundamental para AEF; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 2 • Intencionalidade – a consciência é consciência de alguma coisa; • Redução Fenomenológica – tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiência de consciência. Posição Do Psicólogo Fenomenológico-Existencial • A função do psicólogo existencial é entender o outro da forma como ele entende as coisas, os seres, o mundo, por isso o paciente é visto de forma ativa nessa relação terapêutica, uma vez que se apropria de sua vida e utiliza seus recursos para desenvolver seu potencial, bem como cuidar de sua existência; • Diferentemente de outras abordagens psicológicas, a abordagem fenomenológico- existencial não concorda com a ideia de cisão entre mente e corpo, o homem, através do seu corpo (sentidos abertos), existe, por estar com ele nesse mundo; • Somos o que parecemos ser, não o que queremos parecer ser; • O homem, dentro dessa abordagem, é sempre um vir a ser, estando, portanto, em constante mudança, sendo afetado pelas relações estabelecidas em seu meio; • O psicólogo existencial pode ajudar o paciente a perceber que a partir das experiências vividas pode se formar a sua história, bem como, ressignificar acontecimentos, voltar atrás, mudar, se assim lhe convém, o seu modo de ser pode ser “alterado” conforme suas novas vivências, que por sua vez, produzirão novas consciências de sua existência. Husserl Vida e Trabalhos • Nasceu em 1859 em Prossnitz (atual república Tcheca); • Estudou em Leipzig (Concentração em Matemática); • Interesse filosófico em 1880; • Contato com Franz Brentano: estudo sobre intencionalidade na medievalidade; • Produções matemáticas: sobre o conceito de número (1887), filosofia da aritmética (1891); • Investigações lógicas: virada do século XX, ataque ao empirismo e a psicologia lógica; • Em 1905 Husserl classifica a fenomenologia como disciplina pura e transcendental; • A concepção revisada de Husserl da fenomenologia é evidente em suas conferências de 1907, publicadas como A ideia da fenomenologia, assim como em seu manifesto de 1911, “Filosofia como Ciência Rigorosa”, que contém outro ataque ao naturalismo na filosofia. Em 1913 Husserl publicou o primeiro volume de Ideias relativas à Fenomenologia Pura e à Filosofia Fenomenológica; • “Husserl morreu em 1938. Seus anos finais, logo após se aposentar de uma cátedra de filosofia em Friburgo, foram bastante infelizes. O surgimento dos nazistas na Alemanha significava que Husserl, devido à sua ascendência judia, estava excluído de qualquer tipo de atividade acadêmica oficial”. Do antinaturalismo à fenomenologia • Ao longo da sua vida teve um grande interesse em explicar a natureza da lógica e da matemática; • Final do século XIX começa o despertar pelo interesse ao antinaturalismo; • “Uma rejeição da ideia de que as ciências naturais podem fornecer uma descrição completa ou exaustiva da realidade”; • “Um aspecto do antinaturalismo de Husserl, portanto, é sua rejeição da ideia de que a lógica pode ser entendida psicologicamente”; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 3 • Pensamento: Platão foi mestre de Aristóteles; • “Para Husserl, seguindo Brentano, a intencionalidade é “a marca do mental”, e assim podemos considerá-lo como generalizando essas observações sobre o pensamento para a noção da experiência consciente em sua totalidade. Toda experiência consciente, à medida que exibe intencionalidade, tem uma estrutura essencial que é independente dos particulares empíricos de qualquer ente ao qual pertença a experiência. Dada essa independência, a estrutura essencial da experiência não pode ser entendida naturalisticamente, ou seja, em termos dos estados e processos psicológicos empíricos que podem ser causalmente responsáveis por entes tendo essa experiência”; • “Questões transcendentais estão, em princípio, para além do alcance das ciências naturais, e assim o naturalismo, que vê as ciências naturais como a quintessência da investigação, equivale a pouco mais do que uma cegueira deliberada com respeito à ideia de investigação transcendental”; • A diferença que Husserl faz e relação a experiência perceptual e a percepção fenomenológica, o exemplo da pedra que pode ter várias perspectivas de experimentação. A experiência muda conforme as possibilidades; • “Uma experiência cujo “objeto” é um fenômeno, em vez de um objeto físico, é aquela que admite a possibilidade da “adequação”: o fenômeno pode estar completamente presente como o objeto dessa experiência”; • “Nenhuma teoria concebível pode nos fazer errar com respeito ao princípio de todos os princípios: que toda intuição nocional originária é uma fonte legítima de cognição, que tudo originalmente (por assim dizer, em sua realidade “pessoal”) oferecido para nós na “intuição” deve ser aceito simplesmente como se apresenta, mas também somente dentro dos limites nos quais se apresenta”. Redução fenomenológica • Nosso exame do antinaturalismo de Husserl revelou vários interesses e aspiraçõesorientadores de sua fenomenologia, a saber: o Discernir e descrever a estrutura essencial da experiência; o Perguntar e responder questões transcendentais sobre a experiência; o Atingir a certeza epistemológica; • Experiência entre os fenômenos conscientes e os objetos estudados pelas ciências naturais; • As limitações de princípios de ciências naturais, quando se trata de questões transcendentais do tipo “como é possível”, ou seja, se necessita de uma explicação filosófica. Para Husserl é a fenomenologia que fornece essas explicações; • A diferença entre a estrutura essencial da experiência de ser diferente da experiência causal; • Para Husserl é possível que duas criaturas façam a mesma experiência em termos de conteúdo ideal, mesmo que o maquinário que produz a experiência sejam diferentes; • Deve-se suspender tudo o que se tem de preconcepções sobre a experiência para que se possa responder as questões transcendentais sobre a possibilidade da experiência; • “A fim de nos envolvermos na filosofia transcendental, não devemos assumir que objetos são de fato dados na experiência; em vez disso, devemos consentir que é ao menos concebível que nossa experiência nunca, em absoluto, atinja coisa alguma para além dela mesma”; • Epoché: exclusão; • Começar pelo processo de exclusão é executar o que Husserl chama de redução fenomenológica existencial; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 4 • A redução para Husserl é um tipo de purificação; • “Quando executo a redução, não atento mais aos objetos mundanos de minha experiência, nem me pergunto sobre os fundamentos causais dessa experiência, em vez disso, foco minha atenção na experiência desses objetos mundanos. Presto atenção à apresentação do mundo ao meu redor (e de mim mesmo), em vez do que é apresentado”. A redução é, assim, um tipo de reflexão: para Husserl, o domínio da reflexão é “o campo fundamental da fenomenologia”; • Mas existe alguma coisa da qual não se possa duvidar e que não se deixa por entre parênteses? Se existe, o que é isso que pode resistir a epoché? Pois bem, para Husserl, o que resiste aos ataques da epoché, ou seja, o que não se pode por entre parênteses, é a consciência ou subjetividade. Aquilo cuja existência é absolutamente evidente é o cogito com seus cogitata, a consciência a qual se manifesta tudo aquilo que aparece; • A consciência, portanto, é o resíduo fenomenológico que resiste aos continuados assaltos da epoché; • Mas a consciência, prossegue Husserl, não é apenas a realidade mais evidente, e sim também realidade absoluta, é o fundamento de toda realidade, é aquela realidade que nulla re indiget ad existendum. 0 mundo, diz Husserl, é "constituído" pela consciência. Descrição fenomenológica • Quando se realiza a redução então o pesquisador consegue responder questões que fazem parte da própria fenomenologia; • “Que estrutura deve ter a experiência a fim de ser experiência? Como é possível para a experiência consciente “alcançar” ou “contatar” um objeto? Como, em outras palavras, é possível a intencionalidade?”; • Suponhamos: o Que tipo de estrutura a experiência deve ter a fim de ser de ou sobre uma melodia? o Que tipo de estrutura a experiência deve ter a fim de ter o conteúdo ouvir uma melodia? o Como é possível para a experiência consciente ser de ou sobre uma melodia?” • Melodia da 5 sinfonia de Beethoven: o Retenção; o Protensão; o Horizonte; o Síntese; • “De acordo com Husserl, a experiência deve ao menos ter uma estrutura retencional- protensional, sintético- horizontal”. Noesis e noema • O noema de um processo mental (o que Husserl também chama o “sentido” ou “significado” do processo mental) é aquilo em virtude do que o processo é dirigido a um objeto, independentemente de se objetos existem ou não; • Noesis: o processo de sintetizar os vários momentos da experiência; • O recurso à noesis e ao noema indica a complexidade estrutural da experiência, envolvendo o processo de experienciar (noesis) e o conteúdo experienciado (noema); • Noese então é o ter consciência e noema aquilo de que se tem consciência. Intencionalidade da consciência • Fenomenologia é a ciência das essências; dos modos típicos do aparecer e do manifestar-se dos fenômenos à consciência, cuja característica fundamental é a da intencionalidade; • A consciência é sempre consciência de algo; • Por isso se pode ver a distinção entre sujeito e objeto. Sujeito é capaz de atos de consciência, o Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 5 objeto é o que se manifesta nestes atos; • A consciência, portanto, é intencional. Como escreve Husserl, a intencionalidade é o que caracteriza a consciência de modo significativo. Nossos atos psíquicos têm a característica de se referirem sempre a um objeto, pois sempre fazem aparecer objetos; • O que importa, no entanto, é descrever o que efetivamente se dá à consciência, o que nela se manifesta e nos limites em que se manifesta. E o que se manifesta e aparece é o fenômeno, em que por “fenômeno” não devemos entender a "aparência" contraposta a “coisa em si”: o Eu não ouço a aparência de uma música, eu escuto a música; o Eu não sinto a aparência de um perfume, eu sinto o perfume; o Nem tenho a aparência de uma recordação, eu tenho uma recordação. Introdução • Rogers acreditava que estava escrevendo para psicoterapeutas, mas só depois percebeu que seu escrito atingiu pessoas: enfermeiras, professoras, médicos, donas de casa; • Ficou muito conhecido pós anos 60, do século passado, era conhecido como o Psicólogo das Américas; • Era chamado a falar de questões relacionadas criatividade até autoconhecimento; • Psicanálise (o impulso humanos) - sexo e agressão -tornava o ser humano doente e o paciente era forçado a aceitar as interpretações do analista para o modelos; • O terapeuta freudiano ele interpreta o que o terapeuta trás para a sessão por meio da associação livre; • A transferência é um mecanismo de defesa do ego importante; • Rogers afirmava que as pessoas precisava ser aceitas; • As habilidades utilizadas pelo terapeuta rogeriano são a empatia e aceitação incondicional; • A transferência pode até existir mais um método improdutivo: contra terapêutica; • De Rogers é que nos vem a ideia contemporânea de autoestima; e o poder de mobilizar outras forças na pessoa; • A noção de Rogers de aceitação como força libertadora última, implica que as pessoas que não estão doentes podem se beneficiar da terapia e que não profissionais podem agir como terapeutas; • O grupo de autoajuda moderno provém quase que diretamente do movimento rogeriano de potencial humano; • A obra “Tornar-se pessoa” não necessita de introdução, pois Rogers começa falando de um ensaio intitulado: “ Esse sou Eu”; • Rogers localiza sua herança cultural na filosofia existencial, mais frequentemente em Kierkegaard (“ser o eu que verdadeiramente se é”), a frase de Kierkegaard é a resposta para a questão rogeriano: “Qual é meta da vida?”; • Rogers, em outras palavras, dirigiu um esforço intelectual substancial a serviço de uma simples crença: “seres humanos necessitam de aceitação, e quando esta lhes é dada movem-se em direção à autorrealização”; • Se a aceitação, a empatia e a consideração positiva constituem as condições necessárias e suficientes para o crescimento humano, então elas devem da mesma forma esta presentes nas relações de ensino-aprendizagem, amizade e da vida familiar; • Rogers foi atacado numa série de campos determinados. Revisões da literatura de pesquisa mostravamque a necessidade e a suficiência de suas teorias/condições era difíceis de provar (aceitação incondicional, abertura e Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 6 empatia); embora a evidência favorecendo uma postura presente e empática por parte do terapeuta permanecesse forte; • Martin Buber critica a posição de que paciente e terapeuta estivessem na mesma altura; • Embora Rogers rejeite a premissa puritana do pecado original (porque ele confia no potencial positivo presente em cada homem) ele cria uma visão terapêutica do homem que se conforma a aspectos importantes do espírito e das crenças. Para Rogers as pessoas são inerentemente plenas de recursos; • Para Rogers o pecado cardeal em terapia ou no ensino, ou na família ou em qualquer relação, é a imposição da autoridade; • Acreditava que as pessoas são capazes de autodireção, sem precisar de instituições. Capítulo 1: Este Sou Eu • Este é um livro sobre o sofrimento e a esperança, a angústia e a satisfação presentes na sala de todos os terapeutas. É sobre o caráter único da relação que o terapeuta estabelece com cada cliente, e, igualmente, sobre os elementos comuns que descobrimos em todas essas relações. Este livro é sobre as experiências profundamente pessoais de cada um de nós. É sobre um cliente no meu consultório, sentado perto da escrivaninha, lutando para ser ele mesmo e, no entanto, com um medo mortal de ser ele mesmo — esforçando-se para ver a sua experiência tal como ela é, querendo ser essa experiência, e, no entanto, cheio de medo diante da perspectiva; • É um livro sobre mim, sentado diante do cliente, olhando para ele, participando da luta com toda a profundidade e sensibilidade de que sou capaz. É um livro sobre mim, tentando perceber a sua experiência e o significado, a sensação, o sabor que esta tem para ele; • É sobre mim, lamentando a minha falibilidade humana para compreender o cliente e os ocasionais fracassos em ver a vida tal como ela se mostra diante dele, fracassos que caem como objetos pesados sobre a intricada e delicada teia do desenvolvimento que está ocorrendo; • É um livro sobre mim, alegre com o privilégio de ser o responsável pelo parto de uma nova personalidade — maravilhado diante do surgimento de um self uma pessoa, de um processo de nascimento no qual tive um papel importante e facilitador. É sobre mim e o cliente, que contemplamos com admiração as forças ordenadas e vigorosas que se evidenciam em toda a experiência, forças que parecem profundamente arraigadas no universo como um todo. É um livro, creio eu, sobre a vida, a vida que se revela no processo terapêutico — com a sua força cega e a sua tremenda capacidade de destruição, mas com um ímpeto primordial voltado para o desenvolvimento, se lhe for oferecida a possibilidade de desenvolvimento; • “Sentia que provavelmente sempre me interessaria por questões tais como o sentido da vida e a possibilidade de uma melhoria construtiva da vida do indivíduo, mas não poderia trabalhar no campo determinado por uma doutrina religiosa específica em que devia acreditar”; • Quando estava no Teacher’s College pedi e consegui uma bolsa ou um lugar como interno no novo Instituto para Orientação da Crianças patrocinado pelo Commonwealth Fund; • Trabalhou em Rochester em contato com crianças e adolescentes infratores; • Desilusões desse período: o Durante os meus anos de formação, tinha sido atraído pelas obras do Dr. William Healy, segundo o qual a delinquência se baseava muitas vezes num conflito sexual e que, uma vez Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 7 descoberto esse conflito, a delinquência cessava; o Descoberta de um artigo no qual se orientava fazer uma entrevista clínica, palavra a palavra soava muito mais como um interrogatório; o O incidente com o menino, no qual o tratamento não avançava; ao comunicar o fracasso para a mãe, a própria então solicita para ser atendida: “é o próprio cliente que sabe daquilo que sofre”; • Depois da publicação de “Conselhos e Psicoterapia” favoreceu sua contratação em Ohio; • “Desejaria ainda acentuar a importância cada vez maior que a investigação passou a ter para mim. A pesquisa é a experiência na qual posso me distanciar e tentar ver essa rica experiência subjetiva com objetividade, aplicando todos os elegantes métodos científicos para determinar se não estou iludindo a mim mesmo. Estou cada vez mais convencido de que descobriremos leis da personalidade e do comportamento que serão tão importantes para o progresso humano ou para a compreensão do homem como a lei da gravidade ou as da termodinâmica”. Coisas fundamentais que aprendi sobre as relações • Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu fosse o que não sou; • Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e posso ser eu mesmo: tenho a impressão de que, com os anos, aprendi a tomar-me mais capaz de ouvir a mim mesmo; • Atribuo um enorme valor ao fato de poder me permitir compreender uma outra pessoa; • Verifiquei ser enriquecedor abrir canais através dos quais os outros possam me comunicar os seus sentimentos, seus mundos perceptivos particulares; • É sempre altamente enriquecedor poder aceitar outra pessoa; • Quanto mais aberto estou às realidades em mim e nos outros, menos me vejo procurando, a todo custo, remediar as coisas. Coisas fundamentais que aprendi sobre as minhas próprias ações e valores • Posso confiar na minha experiência; • A avaliação dos outros não me serve de guia; • A experiência é, para mim, a suprema autoridade; • Gosto de descobrir ordem na experiência; • Os fatos são amigos; • Aquilo que é mais pessoal é o que é de mais geral; • A experiência mostrou-me que as pessoas têm fundamentalmente uma orientação positiva; • A vida, no que tem de melhor, é um processo que flui, que se altera, e onde nada está fixo. O Que Sabemos da Psicoterapia: Objetiva e Subjetivamente • “A terapia, no entanto, desempenha um papel extremamente importante na libertação e no processo de facilitação da tendência do organismo para um desenvolvimento psicológico ou para a sua maturidade, quando essa tendência se viu bloqueada”. Conhecimento objetivo 1. Psicoterapia: favorece um crescimento no ser humano e abre novas perspectivas para novas pesquisas cientificas; 2. Congruência: descobriu-se que a transformação pessoal é facilitada quando o psicoterapeuta é aquilo que é, quando as suas relações com o cliente são autênticas e sem máscara nem fachada, exprimindo abertamente os sentimentos e as Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 8 atitudes que nesse momento fluem nele; • Quanto mais autêntico e congruente o terapeuta for, maior as chances de ocorrer modificações na personalidade do cliente; 3. Consideração positiva incondicional: quando o terapeuta está vivenciando uma atitude calorosa, positiva e de aceitação para com aquilo que está no seu cliente, isso facilita a mudança; 4. Compreensão empática: quando o terapeuta é sensível aos sentimentos e às significações pessoais que o cliente vivencia a cada momento, quando pode apreendê-los “de dentro” tal como o paciente os vê, e quando consegue comunicar com êxito alguma coisa dessa compreensão ao paciente, então está cumprida essa terceira condição; • Quando alguém me compreende do jeito que sou, sem me julgar, então poderei desabrochar e crescer. A dinâmica da mudança • Em primeiro lugar, como encontra alguém que ouve e aceita os seus sentimentos, ele começa, pouco a pouco,a tomar-se capaz de ouvir a si mesmo; • Enquanto vai aprendendo a ouvir a si mesmo, começa igualmente a aceitar-se mais, e percebe que o terapeuta tem para com ele e para com os seus sentimentos uma atitude congruente e uma consideração positiva incondicional; • Ouvir com maior atenção os sentimentos interiores, com menos espírito de avaliação e mais de aceitação de si, encaminha-se também para uma maior congruência. Descobre que é possível abandonar a fachada atrás da qual se escondia, que é possível pôr de lado os comportamentos de defesa e ser de uma maneira mais aberta o que realmente é; O processo 1. Maleabilidade: partindo de um ponto em que a experiência é construída em quadros rígidos, captados como fatos exteriores, o cliente caminha para uma mudança no desenvolvimento em que as significações da experiência são construídas de forma maleável, construções estas modificáveis a cada nova experiência; 2. Fluidez: a possibilidade de mudanças, para o imediatismo dos sentimentos e da experiência, para a aceitação desses sentimentos e dessa experiência, para tentativas de construção, para a descoberta de um eu que se transforma numa experiência mutável, para a realidade e proximidade das relações, para uma unidade e integração do funcionamento. Os resultados da terapia 1. O cliente modifica-se e reorganiza a concepção que faz de si mesmo; 2. Conquista progressivamente uma concepção de si mesmo como uma pessoa de valor, autônoma, capaz de fundamentar os próprios valores e normas na sua própria experiência; 3. O cliente torna-se menos defensivo, e, por isso, mais aberto à sua própria experiência e à dos outros; 4. A distância inicial entre o eu que ele é e o eu que ele desejaria ser diminui consideravelmente. Dá-se uma redução da tensão em todas as suas formas — tensão fisiológica, mal-estar psicológico, ansiedade; • “Quanto mais o cliente percebe o terapeuta como uma pessoa verdadeira ou autêntica, capaz de empatia, tendo para com ele uma consideração incondicional, mas ele se afastará de um modo de funcionamento estático, fixo, insensível e impessoal, e se encaminhará no sentido de um funcionamento marcado por uma experiência fluida, em mudança e plenamente receptiva dos sentimentos pessoais diferenciados. A consequência desse movimento é uma alteração na personalidade e no comportamento no sentido da saúde e da Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 9 maturidade psíquicas e de relações mais realistas para com o eu, os outros e o mundo circundante”(Rogers). Imagem Subjetiva: A Experiência do Terapeuta • Para o terapeuta, é uma nova aventura que começa; • No entanto, ao ouvi-lo, começo a sentir um certo respeito por ele, a sentir que somos próximos; • Gostaria de apreender os seus sentimentos e que ele soubesse que eu os compreendo; • Gostaria que os meus sentimentos nessa relação fossem para ele tão evidentes e claros quanto possível, a fim de que ele os captasse como uma realidade discutível a que pode regressar sempre. Gostaria de acompanhá-lo nessa temerosa viagem ao interior de si mesmo, ao medo nele escondido, ao ódio, ao amor que ele nunca foi capaz de deixar aflorar em si. Reconheço que é uma viagem muito humana e imprevisível tanto para mim como para ele e que eu me arrisco, sem mesmo saber que tenho medo, a retrair-me em mim mesmo perante certos sentimentos que ele revela; • Mas, sobretudo, pretendo que veja em mim uma pessoa real. A Imagem Subjetiva: A Experiencia do Cliente • Tenho medo dele. Preciso de ajuda, mas não sei se posso confiar nele. Talvez ele veja em mim coisas de que não tenho consciência — elementos terríveis e maus. Ele não parece estar me julgando, mas tenho a certeza de que o faz. Não posso dizer-lhe o que realmente me preocupa, mas posso falar-lhe de algumas experiências passadas em relação com essas minhas preocupações. Ele parece que compreende essas experiências, logo, posso abrir-me um pouco mais com ele. Algumas Direções do Processo Terapêutico • Conhecemos pelo menos algumas atitudes necessárias para desencadear o processo; • Sabemos que, se o terapeuta adotar interiormente em relação ao seu cliente uma atitude de profundo respeito, de aceitação total do cliente tal como ele é e de confiança nas suas potencialidades para resolver seus próprios problemas; se essas atitudes estiverem impregnadas de suficiente calor para se transformarem numa simpatia ou numa afeição profundas pela pessoa; se se atingir um nível de comunicação onde o cliente pode começar a perceber que o terapeuta compreende os sentimentos que está experienciando e que os aceita a um profundo nível de compreensão, nesse momento podemos estar certos de que iniciou o processo terapêutico. Características Pertinentes da Terapia Centrada no Cliente • Aumento do discernimento quanto ao mundo interno da maturidade dos comportamentos relatados, de atitudes mais positivas, à medida que a psicoterapia progride; • Alterações da percepção e da aceitação de si; • Incorporação de experiências previamente negadas na estrutura do eu; • Mudança de orientação da fonte de avaliação, passando do exterior para o interior; • Transformações na relação terapêutica; • Alterações características na estrutura da personalidade, no comportamento e nas condições fisiológicas. A Vivência Do eu potencial • Seguem então muitas vezes o seguinte esquema: Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 10 o “Eu sou isso e aquilo, mas experimento esse sentimento que não tem qualquer relação com aquilo que sou”; o “Gosto dos meus pais, mas sinto um surpreendente rancor em relação a eles, de tempos em tempos”; o “Realmente não valho nada, mas às vezes tenho a impressão de ser melhor do que qualquer um’; • Assim, de início, a expressão é: o “Sou um eu que é diferente de uma parte da minha experiência”; • Mais tarde, isso se transforma num esquema provisório: o “Talvez eu seja alguns eus muito diferentes, ou talvez o meu eu encerre mais contradições do que aquelas que eu imaginava”; • Mais tarde ainda, o esquema é: o “Tinha certeza de que eu não podia ser a minha experiência — era demasiado contraditória — mas agora começo a acreditar que posso ser o todo da minha experiência”; • Podemos, portanto, concluir esta seção dizendo que uma das direções fundamentais que o processo terapêutico toma é o vivenciar livremente as reações sensoriais e viscerais reais do organismo, sem demasiado esforço para relacionar essas experiências com o eu; • Isto é geralmente acompanhado da convicção de que esses dados não pertencem ao eu nem podem ser integrados nele; • O ponto final do processo é o momento em que o cliente descobre que pode ser a sua experiência, com toda a sua variedade e contradição superficial; que ele pode se definir a partir da sua própria experiência, em vez de tentar impor uma definição do seu eu à sua experiência negando-se a tomar consciência dos elementos que não entram nessa definição. Integral de uma relação afetiva • A terapia é para o cliente, a aprendizagem de uma aceitação plena e livre, sem receio, dos sentimentos positivos de outra pessoa; • Essa aceitação do terapeuta e do seu interesse caloroso foi sem dúvida um dos traços mais profundos da terapia; • Certamente não se trata de um fenômeno de transferência e contratransferência. Alguns psicólogos experientes foram os primeiros a levantar objeções contra o emprego dos termos transferência e contratransferência para descrever esse fenômeno; • O essencial das suas afirmações consistia em que se tratava dealgo de recíproco e apropriado, ao passo que a transferência e a contratransferência são fenômenos cuja característica é realizarem- se unicamente num sentido e serem inadequados às realidades da situação; • Durante a terapia, o sentimento de aceitação e de respeito do terapeuta em relação ao cliente tende a transformar-se em alguma coisa que se aproxima da admiração, à medida que vamos assistindo à luta profunda e corajosa que a pessoa trava para ser ela própria; • Por conseguinte, ele sente em relação ao cliente uma reação afetiva, calorosa e positiva; • Isso coloca um problema ao cliente que, muitas vezes, acha difícil aceitar o sentimento positivo de outra pessoa; • Mas, uma vez que o aceitou, a reação inevitável por parte do cliente é a de se descontrair, de permitir que o calor e a afeição do outro reduzam a tensão e o medo que o rode iam para olhar a vida de frente; • A construção de sentimentos de fraternidade do terapeuta, permite superar toda e qualquer forma de desejo egoísta, como os desejos sexuais. A Afeição em Relação a Si Mesmo Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 11 • “Nos vários artigos e pesquisas publicados sobre a terapia centrada no cliente, insistiu-se na aceitação de si como sendo uma das direções e um dos resultados da terapia. Estabelecemos o fato de que, numa psicoterapia bem- sucedida, as atitudes negativas em relação ao eu diminuem e as atitudes positivas aumentam”. A Descoberta de que O Centro da Personalidade é Positivo • “Um dos conceitos mais revolucionários que se destacaram da nossa experiência clínica foi o reconhecimento progressivo de que o centro mais íntimo da natureza humana, as camadas mais profundas da sua personalidade, a base da sua “natureza animal”, tudo isso é naturalmente positivo — fundamentalmente socializado, dirigido para diante, racional e realista”; • O trecho acima, se aproxima, se é que não podemos comparar com o método fenomenológico. Ser O Seu Próprio Organismo, A Sua Própria Experiência • A terapia parece ser um regresso às percepções sensoriais de base e à experiência visceral; • Antes da terapia, o indivíduo é levado a perguntar a si mesmo, muitas vezes sem qualquer intenção: ‘O que é que os outros pensam que eu devia fazer nessa situação?”, “O que é que os meus pais ou a minha cultura pretendem que eu faça?”, “O que é que eu penso que é necessário fazer?”; • O indivíduo age assim constantemente segundo as formas que seriam impostas ao seu comportamento; • Isso não significa necessariamente que ele atue sempre de acordo com as opiniões dos outros; • Pelo contrário, o indivíduo pode procurar agir de forma a contradizer o que os outros esperam dele; • Ele age, todavia, sempre em função do que os outros esperam (muitas vezes reage a expectativas introjetadas dos outros); • Durante o processo terapêutico, o indivíduo acaba por perguntar a si mesmo, a propósito de áreas cada vez mais vastas da sua experiência: “Como é que eu vivencio isso?”, “O que é que isso significa para mim?”, “Se eu me comporto de determinada maneira, como é que eu simbolizo a significação que isso terá ́para mim?”; • Ele acaba por chegar a uma maneira de agir em função do que se poderia chamar um realismo — um realismo que oscila entre as satisfações e as insatisfações que a sua ação lhe trouxer. O Processo de Tornar-Se Pessoa • O indivíduo deseja, no mais profundo do seu íntimo, tornar-se ele mesmo; • Compreender a maneira como se sente em seu próprio mundo interior, aceitá-lo como ele é, criar uma atmosfera de liberdade na qual ele possa se mover, ao pensar, sentir e ser, em qualquer direção que desejar; • Pode-se, neste excerto anterior, vê-la examinando a máscara que vinha utilizando, reconhecendo sua insatisfação com ela, e procurando saber como chegar ao verdadeiro eu que se encontra embaixo, se tal eu existe; • O próprio Kierkegaard dizia que o maior desespero humano é ser outra pessoa que não ele mesmo; • Por outro lado, ser aquele eu que se deseja ser, é o oposto ao desespero humano, e esta escolha constitui a mais profunda responsabilidade do homem; • Remover uma máscara é doloroso, porém libertador; • É na verdade, ser quem na verdade se é. A experiencia do sentir • Dificuldade do sentir; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 12 • A psicoterapia como espaço seguro para viver tais sentimentos; • O medo de ter sentimento deve ser vencido ao vivenciar os sentimentos dentro do setting terapêutico. A descoberta do eu na experiência • Parece que gradualmente, dolorosamente, o indivíduo explora o que está ́por detrás das máscaras que apresenta ao mundo, e mesmo atrás das máscaras com as quais vem se enganando. A pessoa que aflora: que tipo de pessoa se tornar • Estar apto a assimilar a evidência em uma nova situação, como ela é, ao invés de distorcê-la para se ajustar ao padrão que ele já ́ sustém; • Uma segunda característica das pessoas que emergem da terapia é difícil de ser descrita. Parece que a pessoa descobre cada vez mais que seu próprio organismo é digno de confiança, que constitui um instrumento adequado para descobrir o comportamento mais satisfatório em cada situação imediata. Um foco interno de avaliação • O indivíduo passa a perceber cada vez mais que esse foco de avaliação se encontra dentro de si mesmo; • Cada vez menos olha para os outros em busca de aprovação ou desaprovação, de padrões a seguir, de decisões e escolhas; • Ele reconhece que cabe a ele mesmo escolher, que a única questão que importa é: viverei de uma maneira que é profundamente satisfatória para mim, e que me expressa verdadeiramente? • Esta talvez seja a pergunta mais importante para o indivíduo criativo. A Psicoterapia Considerada Como um Processo • Primeiro estágio: o O indivíduo que se encontra neste estágio de fixidez e de distanciamento da sua experiência não virá seguramente de boa vontade à terapia; o No entanto, posso ilustrar, em certa medida, as características desse estágio: ▪ Etapas: Recusa de comunicação pessoal; Comunicação apenas sobre assuntos exteriores; • Segundo estágio: o Quando a pessoa no primeiro estágio podem vivenciar a si mesma como é totalmente aceita, segue-se então o segundo estágio; o Parecemos saber muito pouco sobre como proporcionar a experiência de ser aceito para a pessoa no primeiro estágio, mas por vezes isso se consegue pela terapia lúdica ou em grupo; o Nessas circunstâncias, a pessoa se beneficia de um clima de aceitação, sem ser obrigada a tomar qualquer iniciativa pessoal, durante um tempo suficientemente longo para se sentir aceito; o Em cada situação em que vivencia isso, nota-se que a expressão simbólica se torna um pouco mais maleável e fluida, o que se caracteriza por: a expressão em relação aos tópicos referentes ao não-eu começa a ser mais fluente; • Terceiro estágio: o Se a leve maleabilidade e o início do fluxo no segundo estágio não forem bloqueados e o cliente se sentir sob esses aspectos totalmente Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 13 aceito tal qual é, dá-se uma maior maleabilidade e fluência da expressão simbólica; o Eis algumas das características que parecem acompanhar aproximadamente esse ponto do contínuo: ▪ Há um fluir mais livre da expressão do eu como um objeto; ▪ Há também uma expressão das experiências pessoais como se tratasse de objetos; ▪ Há igualmente expressão sobre o eu como um objeto refletido, que existe primariamente nos outros; ▪ O cliente exprime e descreve sentimentose significados pessoais que não estão presentes; • Quarto estágio: o Quando o cliente se sente compreendido, bem-vindo, aceito tal como é nos vários aspectos da sua experiência, no nível do terceiro estágio, dá-se então uma maleabilidade gradual de seus construtos e uma fluência mais livre dos sentimentos, características de movimento no contínuo. Podemos tentar captar algumas características dessa descontração e designá-las como o quarto estágio do processo: ▪ O cliente descreve sentimentos mais intensos do tipo “não- presentes-agora; ▪ Os sentimentos são descritos como objetos no presente; ▪ Os sentimentos são por vezes expressos no presente, outras vezes surgem como que contra os desejos do cliente; • Quinto estágio: o Se o cliente se sente aceito nas suas expressões, comportamentos e experiências no quarto estágio, isso irá ́favorecer uma maleabilidade ainda maior e uma renovada liberdade no fluxo organísmico. Creio que podemos novamente delinear aproximadamente as características desse estágio do processo: ▪ Os sentimentos são expressos livremente como se fossem experimentados no presente; ▪ Os sentimentos estão prestes a ser plenamente experimentados. Começam a “vir à tona “, “brotar “, apesar do receio e da desconfiança que o cliente experimenta em vivê-los de um modo pleno e imediato; • Sexto estágio: o Supondo que o cliente continua a ser plenamente aceito na relação terapêutica, os aspectos característicos do quinto estágio tendem a ser seguidos por um estágio muito distinto e frequentemente dramático. Caracteriza-se do seguinte modo: ▪ Um sentimento que antes estava “bloqueado “, inibido na sua evolução, é experimentado agora de um modo imediato; ▪ Um sentimento flui para o seu fim pleno; ▪ Um sentimento presente é diretamente experimentado com toda a sua riqueza num plano imediato da experiência e o sentimento com toda a sua riqueza num plano imediato; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 14 ▪ Esse caráter imediato da experiência e o sentimento que constitui seu conteúdo só aceitos. Isto é algo real e não uma coisa para ser negada, temida ou combatida; • Sétimo estágio: o Nas áreas em que se atingiu o sexto estágio, já não é tão necessário que o cliente se sinta plenamente aceito pelo terapeuta, embora isso ainda parecia ser de grande ajuda; o No entanto, devido à tendência do sexto estágio para ser irreversível, o cliente parece alcançar muitas vezes o sétimo e último estágios sem ter uma grande necessidade da ajuda do terapeuta. Esse estágio ocorre tanto fora da relação terapêutica como dentro dela, é muitas vezes relatada mais do que vivenciada no decurso da sessão terapêutica. Vou procurar descrever algumas das suas características como as julgo ter observado: ▪ São experimentados novos sentimentos de modo imediato e com uma riqueza de detalhes, tanto na relação terapêutica como fora a ela; ▪ A experiência de tais sentimentos é utilizada como um claro ponto de referência. A gênese • Voltar as próprias coisas; • O fenomenólogo quer construir uma filosofia onde a sua fundamentação se dê em dados indubitáveis; • O caminho para se construir tal filosofia é a (epoché): procedimento que consiste em pôr entre parênteses nossas persuasões filosóficas e científicas e as próprias convicções embutidas em nossa atitude natural que nos faz crer na existência nas coisas do mundo ou do próprio mundo; • Aquilo que se sobra do processo de (epoché), Husserl chamará de resíduo fenomenológico, este se encontrará na consciência: a existência da consciência é imediatamente evidente; • Sobre a base desta evidência a fenomenologia se exerce na descrição dos modos típicos em que as coisas e os fatos se apresentam à consciência: e esses modos típicos são as essências eidéticas; o Exemplo: a essência do pudor, da simpatia, da santidade, do amor, etc; • Em poucas palavras a consciência é sempre intencional, sempre consciência de algumas coisa; • A questão que se põe é se o modos típico que as coisas de apresentam à consciência, se essas essências eidéticas são constituídas pela própria consciência (direção idealista) ou ao contrário se são realidades que se impõe (direção realista) a consciência (como a luz aos olhos, o som aos ouvidos); • A Fenomenologia nasce com Husserl nasce como polêmica antipsicologista, e sobre a base da ideia da intencionalidade da consciência; • Pelo antipsicologismo Husserl atingiu o pensamento do matemático Bernhard Bolzano e pela intencionalidade da consciência as teses de seu mestre Franz Brentano; • Bolzano falou da proposição em si, da verdade em si; • Brentano sustenta que a intencionalidade é a característica que tipifica os fenômenos psíquicos: estes se referem sempre ao outro. Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 15 A fenomenologia: um método para “voltar às próprias coisas” • Heidegger em ser e tempo: a expressão “fenomenologia” significa, antes de mais nada, um conceito de método; • O pensamento de Heidegger expressa um lema que poderia ser assim postulado: voltemos as próprias coisas; • Como sustentar tal filosofia? • Para cumprir essa tarefa, é preciso partir de dados indubitáveis para com base neles construir depois o edifício filosófico; • Procura-se as evidências estáveis para se colocar na própria filosofia: sem evidência não há ciência; • Assim é preciso buscar fenômenos tão evidentes que não podem ser negados; • É preciso suspender o juízo sobre tudo o que não é apodítico nem objeto de controvérsia até se conseguir encontrar aqueles "dados" que resistem aos reiterados assaltos da epoché; • Os resíduos estão na consciência. A fenomenologia é descrição das essências eidéticas • Os fenomenólogos querem descrever como os modos típicos, como as coisas, os fatos se apresentam à consciência; • A Fenomenologia não é ciência de fatos, mas das essências; • Para o fenomenólogo não interessa a análise desta ou daquela norma moral, porém compreender por que esta ou aquela norma são normas morais e não, por exemplo, normas jurídicas ou regras de comportamento. Da mesma forma, o fenomenólogo não se interessará (ou, pelo menos, não se interessará principalmente) em examinar os ritos e os hinos desta ou daquela religião, ao contrário, ele se interessará por compreender o que é a religiosidade, ou seja, o que transforma ritos e hinos tão diferentes em ritos e hinos "religiosos”; • Como podemos dizer que este é um ato de simpatia, aquele um gesto de ira, este outro um comportamento desesperado ou aquele outro ainda um comportamento de santidade, se não houvesse precisamente essências, ou seja, ideias essenciais, de simpatia, de ira, de desespero ou de santidade? • Eis, portanto, o que a fenomenologia pretende ser: ciência fundamentada estavelmente, voltada a análise e a descrição das essências. Direção idealista e direção realista da fenomenologia • A consciência sempre é intencional, ou seja, consciência de algo; • A função do fenomenólogo é de questionar sobre a consciência transcendental: o que se entende por amor, religiosidade, justiça, percepção, simpatia, etc; • Há uma questão posta: o significa das essências dos objetos eles são postos pela consciência ou o olhar do teórico desinteressado e postos pela consciência ou o olhar do teórico desinteressado os intui enquanto dados objetos? • Daí nasce as duas correntes da fenomenologia: o Idealista: movida pelo primeiro aspecto que tem Husserl como principal expoente; o Realista: partindoda segunda premissa da questão movido sendo representada por Scheler. As origens da fenomenologia: Bolzano e o valor logico objetivo das proposições • Ideias fundamentais para Husserl é a intencionalidade da consciência; • Ele se inspira em Bolzano em suas obras “Os paradoxos do infinito” Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 16 (1847-48) e a “Doutrina da ciência” (1837); • Em 1874, que Brentano escreve “A psicologia do ponto de vista empírico”. Nesta obra ele afirma o caráter intencional da consciência; • Na escolástica, “intentio” significava o conceito enquanto indica algo diferente de si. Segundo Brentano, precisamente, a intencionalidade é o que tipifica os fenômenos psíquicos, que sempre se referem a algo diferente de si próprio. Eles se distinguem em três classes fundamentais, que são a representação, o juízo e o sentimento: o Representação: o objeto é puramente presente; o Juízo: ele é afirmado ou negado; o Sentimento: ele é amado ou odiado; • Enfim, Bolzano traz uma nova imagem ou compreensão da lógica aristotélica. • O movimento foi algo sem precedentes na história da filosofia. Prova disso a imensa multidão no funeral de Jean Paul Sartre em 1980 (variam entre 50 a 100 mil pessoas); • O segundo sexo (Simone de Beauvoir): um dos livros mais amplamente lidos no sec. XX; • Peças de teatro como a Náusea, de Sartre e O estrangeiro de Camus tem sido lido e criticado e aclamados; • Les Temps Modernes: revista onde trabalhou Sartre e Merleau Ponty; • Na poesia, Martin Heidegger exerceu grande influência, seu trabalho ajudou a engendrar dois movimentos importante a Hermenêutica e a desconstrução; • A Segunda Guerra mundial contribuiu para que existencialistas pensassem temas como a liberdade, responsabilidade e morte; • O termo existencialismo foi cunhado por Marcel: “descrevendo Sartre e outros, e somente veio a ser aceito por Sartre e de Beauvoir alguns anos mais tarde em 1945. Merleau-Ponty nunca aceitou o rótulo incondicionalmente, ao passo que Heidegger rejeitou-o veementemente. Por isso é difícil argumentar que o existencialismo representa um movimento filosófico único, unificado. O famoso comentário de Sartre de que a “existência precede a essência” talvez seja um bom ponto de partida, ainda que essa afirmação tenha sido também usada por muitos outros filósofos”. TEMAS EXISTENCIAIS Existência Autenticidade Liberdade Angústia Solidão Amor Essência Tedio existencial O ser-no-mundo Culpa Morte Felicidade O sentido da vida Transcendência Existência • Não houve preocupação dos pensadores existencialistas com uma definição formal do termo existência que pudesse diferenciá- lo de outras correntes filosóficas. Etimologicamente o termo existência significa "estar fora de", e, numa tentativa de manter o sentido etimológico da palavra, os existencialistas, a separaram com um hífen, usando "ex-istência" em vez de "existência"; • Tanto Heidegger como Sartre se colocam sobre a disparidade radical entre o humano e o não humano, que ambos os autores exprimem' reservando o termo "existência" para o homem apenas; • O existencialista contrapõe essa posição trazendo à tona das discussões o fato de não ser possível esse tipo de idealização na medida em que determinadas Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 17 agruras existenciais -angústia, solidão, tédio etc’, fazem parte da existência e condição humana. Liberdade • Não é livre aquele que não tem condição para tal; • Do ponto de vista político: quando temos condições de expressar nossas vontades e opiniões; • A existência precede a essência, toda liberdade se explica como fundamento de todas as essências; • O homem é um ser livre e decide sobre suas escolhas assim como arca com suas responsabilidades; • A liberdade é o que me estrutura como homem; • Sartre x invasão alemã. Solidão • Passou a ser vista como inerente a condição humana; como inerente a existência humana; • A solidão é uma condição imanente ao homem, faz parte da vida, só que em determinados momentos a percebemos mais agudamente; • Entender o que é um ser ajuda a entender o que é solidão; • As vezes associada com sofrimento e desejo de suicídio; • Entrar em contato com a solidão não é algo fácil. Mas, ao compreendê-la, ao constatar que cada um é único com sua própria história seu próprio percurso, sua própria biografia, sua maneira própria de buscar sentido para a vida também se percebe que ela demonstra a grandeza e a beleza da condição humana. Essência • A essência humana, ao contrário, tem condições de desenvolver-se e transformar-se segundo projetos de vida previamente estabelecidos pelo próprio homem; • A essência, ao ser determinada pela existência, torna-se a própria dimensão da vida em sua forma mais exuberante; • A essência humana, dessa forma, jamais é estática ou a mera repetição de fenômenos a partir de fatos ocorridos no passado. Essa condição assegura ao homem à peculiaridade de poder se transformar e se necessário recomeçar e reconstruir a cada instante uma vida que dada diante do sofrimento e das agruras da existência. O ser-no-mundo • O homem existe em sua condição de ser no mundo. Do ponto de vista do existencialismo, o homem não está ́ sob influência daquilo que é externo a ele, na verdade, ele se compõe juntamente a esse extremo, misturando-se com ele; • O fato de estar-no-mundo constitui um fato por si só ́determinante de muito sofrimento e desespero; • O ser-no-mundo implica uma luta constante do homem consigo próprio para não perder a sua dignidade existencial e suas características individuais; • O homem é o ser que existe ao contrário dos outros objetos que apenas são; • O ser-no-mundo traz a questão de que o homem é o único ser que constrói seu ambiente de vida. Morte • A decisão resoluta de assumir a finitude não apenas alivia o terror original que a perspectiva da morte inspira; serve também de ato de encerramento de nossa vida e sua constituição numa espécie de totalidade, modificando, assim, a profunda brecha em nosso ser, causada pela necessidade ontológica de perpétua autotranscendência; • Na morte, somos a totalidade que não pudemos ser em vida; mas, mesmo em vida, podemos em certo sentido antecipar-nos a nós mesmos em direção à morte e, assumindo a morte, adotar um ponto de vista sobre nós como totalidade; • “É perfeitamente gratuito dizer que morrer é a única coisa que Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 18 ninguém pode fazer por mim... Se a morte for considerada como possibilidade última e subjetiva, evento que só concerne ao para-si, é evidente que ninguém pode morrer por mim. Mas segue-se disso que nenhuma de minhas possibilidades tomada desse ponto de vista pode ser projetada por um outro eu que não eu” (Sartre). O sentido da vida • A vida enquanto existência única e isolada não tem sentido. O homem existe a partir de suas realizações, não existindo pela sua própria vida isolado do contexto de suas realizações; • A consciência de que a vida é um emaranhado de sofrimentos e agruras existenciais faz com que assumamos a dimensão da nossa responsabilidade enquanto seres livres e responsáveis pela construção dos próprios ideais de vida; • O sentido da vida é a propulsão capaz de levar o homem a horizontes sequer atingíveis pela razão; • A resposta ao sentido da vida é mobilizadora de forças vitais; • O homem existe a partir de suas realizações, não pela sua própria vida, isolado do contexto de suas realizações. Se se permitisse à existência o desenvolvimento plenode suas realizações, o homem teria possibilidades de crescimento pessoal muito mais amplas. Transcendência • Pelo conceito de transcendência é que se pode perceber a extensão de que o homem não é um ser estático, mas sim um ser em contínuo desenvolvimento. E nesse sentido a famosa frase de Sartre: "o homem é ao ser que não á o que á e que é o que não é". É a transcendência à questão que nos permite definir a condição humana da introspecção e meditação. Também é pela hanscendência que o homem descobre a totalidade de suas possibilidades existenciais, possibilidades que não se esgotam ainda que a existência esteja quedada, inerte diante das vicissitudes existenciais. Autenticidade • "O ser que existe é o homem. Só ́o homem existe. As pedras são, mas não existem. Os cavalos são, mas não existem. Os anjos são, mas não existem. Deus é, mas não existe" (Heidegger); • Sartre ensina que o homem autêntico é aquele que se submete à conversão radical através da angústia e assume sua liberdade; • Tanto para Sartre como para Heidegger, o homem autêntico é o que reconhece a dualidade radical entre o humano e o não humano, que reconhece que estar-no-mundo não implica estar-no-meio-do-mundo. Angústia • o pensamento existencialista a coloca como um dos determinantes que trazem a condição humana à nossa presença e nos direciona à categoria de seres livres e únicos; • Para os existencialistas, a angústia não é um sentimento negativo, e sim uma experiência valiosa que emerge quando tomamos consciência da nossa condição humana; é um sentimento que nos amedronta diante do "nada" existencial; • A angústia é mais do que algo transitório e esporádico, é a totalidade da existência humana. Assim, a angústia é deslocada daquelas situações em que uma mãe vê seu filho ameaçado por uma doença ou a possível iminência de uma guerra para situações que nos remetem à condição humana como tal em seu nível mais profundo de sofrimento existencial; • A angústia seria, assim, o objeto primário de sofrimento da própria existência, ou ainda a particularidade ou individualidade da condição humana. Amor Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 19 • Os humanistas estão certos ao dizerem que o amor universal dependeria de algum tipo de identificação com os outros. E seguramente aceitar o outro como semelhante é algo muito difícil de ser vivido e até ́mesmo dimensionado; • Ao reconhecermos o outro como nosso semelhante, práticas como tortura, espoliação mercantilista de mão-de-obra, a miséria, a fome e tantas outras atrocidades provocadas ao homem pelo próprio homem tornam-se inconcebíveis. Afinal, aquilo que acontece a um semelhante igualmente ocorre comigo mesmo na projeção do outro como Pessoa. Como semelhante, não posso aceitar esses desatinos silenciosamente. Tédio existencial • O tédio existencial é uma temática bastante pertinente à reflexão do homem contemporâneo. sem dúvida, e isso é inegável, o tédio existencial é um dos determinantes que mais sofrimento têm legado à existência, estando sempre presente, embora não necessariamente com essa definição, na prática psicoterápica. Sua inclusão no rol e temáticas existenciais visa tornar constrita a reflexão sobre a realidade contemporânea da existência; • O tédio existencial basicamente pode ser definido como aquela situação em que o homem sofre a dor de ver o tempo passar e não estar realizando o desdobramento de suas possibilidades existenciais. Culpa • A culpa se apresenta quando o homem questiona a realização de suas possibilidades existenciais, quando renúncia à sua liberdade humana; • A culpa também se faz presente quando enfrentamos outros homens sem respeito à sua condição humana; quando coisificamos nosso semelhante, aniquilando suas possibilidades existenciais. A culpa ainda é presente quando dimensionamos nossa responsabilidade social; • Diferentemente do uso corrente da palavra culpa, que tende a responsabilizar uma pessoa por um ato determinado e específico numa relação de causa e efeito, entende-se a culpa ontológica, em termos existenciais, como o sentimento de "estar em dívida". Pensando dessa maneira, vê-se que se trata de um fenômeno pertinente a todas as existências, seja em termos pessoais (em dívida comigo mesmo), interpessoais (em dívida com o outro) e até ́mesmo sociais (em dívida com a realidade social). Felicidade • Felicidade é a ausência do desprazer. Ser feliz é o que todo ser existente deseja; • A felicidade é uma forma de ser indelével que, embora buscada de forma incessante, não tem modelos estanques de estruturação. A essência da felicidade pode ser definida como aquela exuberância capaz de prover esperança e ilusão à existência humana. A própria forma automatizada a como vivem os habitantes das grandes cidades e, por assim dizer, a quase totalidade dos seres existentes é quebrada pela ilusão que a busca da felicidade acena. Principais Pensadores Existencialistas • Sören Kierkegaard: dinamarquês, 1813 -1855 (primeiro a se denominar existencialista); • Friedrich Nietzsche: alemão, 1844- 1900; • Heidegger: alemão, 1889-1976; • Paul Sartre: francês, 1905-1980; • Husserl: guia de Heidegger, Sartre, Merleau-Ponty, especialmente no que se refere no método; Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 20 • Pensamento existencialista aproxima-se da fenomenologia e compõe uma visão diferenciada, mas não distanciada a fenomenologia. Alguns Pensadores e Temas Existenciais Centrais • Kierkegaard e a religião: o Kierkegaard adota uma explicação altamente subjetiva do significado, que rejeita o cristianismo doutrinário e ortodoxo que busca pregar a verdade para as pessoas; o Como ele eloquentemente sugere, a tradição cristã requer que o devoto “dance na ponta do paradoxo” de que Deus, através de Cristo, caminhou entre os entes humanos; o Embora tentativas ontológicas, cosmológicas e teleológicas de provar a existência de Deus possam ser consideradas equivocadas, deveríamos observar que, para Kierkegaard, Deus é simplesmente o desconhecido, e por isso ele evita a armadilha que pensa afligir muito a teologia: presumir que o discurso racional possa tornar a experiência religiosa compreensível; o A religião como experiência única do ser humano, traduzida na obra “Temor e tremor”; o Os três estágios da vida, segundo Kierkegaard: ▪ Estágio estético: abarca o momento sensível, prazer e beleza, mas é considerado trivial; ▪ Estágio ético: tenta legitimar os padrões morais absolutos baseados nos costumes sociais, ou racionalidade, mas é considerado meramente transitório; ▪ Estágio religioso: pressupõe a pessoa por si própria, destituída de sua confiança nos hábitos sociais, e sem autoconfiança e dogmatismo do estágio ético; • Nietzsche, ressentimento e a morte de Deus: o Ele repete a declaração de Ludwig Feuerbach de que Deus está morto e castiga o cristianismo por encorajar uma forma do que ele chama “moralidade escrava”; o Questiona a existência de Deus; o Nós construímos a ideia de Deus; o Nós mesmos matamos Deus; o Não fala de ter fé em Deus; o Emoções, sentimentos e razão; o A utilização de razão em excesso nos levou ao caos; o Somos mais Apolo que Dionísio e isso destrói nossa sociedade; • Jean Paul Sartre: o Em 1945, em Paris, palestra: O existencialismo é um humanismo; o Nascemos antes de viver, agir, sentir, atuar; o Controle da própria vida; o Não existe ideia pré- concebida de ser humano não é Deus, nem o mundo das ideias de Platão que definem sua essência;o O ser humano existe primeiro, se encontra e se define depois; o Será posteriormente aquilo que se tornar; o Primeiro existe depois gera sua essência; se define; o Porque é livre e define sua essência deve tomar cuidado porque algumas escolhas podem ser irreversíveis; o Foi extremamente engajado na política e muito considerado nos anos 60. Para ele os intelectuais deveriam contribuir com a sociedade Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 21 para ajudar as pessoas fazerem as escolhas certas. A Prática Psicoterapêutica: Espaço para a Vivência do Ser • A psicoterapia será um encontro, um ser-com; • A psicoterapia existencial investiga a história de vida de um paciente, como em qualquer outro método terapêutico; • No entanto não busca explicar a história de vida e suas idiossincrasias patológicas, ao contrário, compreende esta história de vida como modificações da estrutura total do ser-no-mundo dos pacientes; • Essa modalidade de terapia não mostra apenas onde, quando e até que ponto o paciente falhou em realizar a totalidade de sua humanidade, mas tenta fazê-lo experienciar isso o mais radicalmente possível; O método • As técnicas existenciais devem ser versáteis e flexíveis, variando de paciente para paciente e de uma fase a outra no tratamento com o mesmo paciente, porque o dinamismo psicológico (exercício da liberdade) pelo sujeito deve assumir sempre um sentido a partir da situação existencial imediata de um sujeito; • O uso dos métodos deve permitir, em última instância, o exercício da liberdade para que o sujeito utilize suas próprias capacidades existenciais; • Seis implicações terapêuticas consequentes de uma visão existencial na prática clínica (May, 1958): 1. A compreensão que se orienta pela técnica, mas a técnica que acompanha a compreensão existencial do terapeuta. As técnicas existenciais devem ser versáteis e flexíveis, variando de paciente para paciente e de uma fase a outra no tratamento com o mesmo paciente; 2. Dinamismo psicológico interpretável deve assumir sempre um sentido a partir da situação existencial imediata de um paciente. O centro desse dinamismo psíquico deve ser a possibilidade inimputável de exercício da liberdade; 3. O indica que a ênfase de uma terapia existencial reside na presença; 4. Às formas de comportamento que destroem a presença. A confrontação entre duas pessoas pode ser profundamente criadora de ansiedade. Nesse sentido, a visão técnica de outra pessoa pode ser a forma terapêutica mais utilizada para a redução de ansiedade. Contudo, a técnica não deve ser uma forma para bloquear a presença; 5. Remete-se ao objetivo do processo terapêutico. O foco de uma terapia existencial é de que o paciente experimente sua existência como real, o que significa tornar-se consciente de suas potencialidades e estar apto para agir com base nelas; 6. Refere-se à importância do compromisso existencial do paciente. O psicólogo afirma que a decisão pela mudança precede o conhecimento, o que implica afirmar que conhecer-se e aumentar o número de insights sobre si não possui valor sem que se tome uma orientação prévia decisiva para a vida; • Processo temporal terapêutico (Moss, 1989): o Fase de abertura: o terapeuta tem o desafio de sintonizar, de se unir e de acompanhar o fluxo de experiência do paciente; o Fase intermediária: o terapeuta e paciente seguem unidos para um desafio duplo, qual seja aceitar a vida e o mundo de cada um Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 22 enquanto se apresentam e se aprofundam na relação. Nesse momento, importa o entendimento da realidade alheia como o produto das escolhas de cada um, mais do que todos os fatos contingenciais e acidentais; o Última fase: da temporalidade terapêutica, paciente e terapeuta enfrentam as limitações do tempo e da situação existencial, considerados por Moss como centrais na psicoterapia e na vida. Ao aceitar tais limitações, atribui-se ao tempo terapêutico grande seriedade e valor, impulsionando a criatividade dos parceiros terapêuticos para lidar com as contingências existenciais; • Objetivos do processo terapêutico existencial (Deurzen, 2007): 1. Que as pessoas tomem posse de sua situação, de seus valores e de suas crenças; 2. Negociem o arranjo entre crises do passado, presente e futuro; 3. Busquem maior autoconfiança; 4. Ampliem suas perspectivas em si mesmo e no mundo à sua volta; 5. Encontrem clareza sobre o seu sentido de vida e como podem aprender do passado para criar algo no presente; 6. Valorizem um sentido pelo que viver; 7. Entendam a si mesmos e aos outros da melhor forma e achem meios para com eficiência se comunicar e estar com os outros; 8. Produzam sentido a partir dos paradoxos, conflitos e dilemas de sua existência. Noções introdutórias • O termo clínica fenomenológica abrange várias modalidades de diagnósticos e descrições; • Embora tem sido usado na prática médica tem sua origem na filosofia alemã; • Basicamente preocupados em responder sobre o Nômeno ou numeno (real) e o fenômeno (percebido); • O termo foi cunhado por Edmund Husserl para estudar a experiência consciente, e depois usado por outros como Heidegger e Jaspers; • Neste material falaremos sobre a Fenomenologia como terceira frente no campo da Psicologia. Fenomenologia • Phainómenon – que quer dizer aquilo que é possível ser posto à luz, tudo aquilo que resplandece, iluminando-se; • “Fato é de algum modo um fenômeno parado, preciso, determinado, com contornos que se podem apreender e desenhar: implica uma espécie de fixidez e de estabilidade relativas. O fenômeno é o fato em movimento, é a passagem de um fato a outro, é o fato que se transforma em instante a instante”. (Janet, 1823-1899); • A definição de fenomenologia se aplica a essa passagem do movimento do tempo da experiência para a consciência; • O interesse é o fenômeno, que é apreendido pelos sentidos e pelo conjunto desses fenômenos que compõem as fenomenalidades. Considerações históricas e metodológicas • As forças teóricas da Psicologia no século XX: Psicanálise, Behaviorismo e o Humanismo (A fenomenologia foi incorporada ao humanismo); • O método fenomenológico foi proposto como um recurso epistemológico para todas as ciências. Deveria ser a ciência das ciências por focalizar a Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 23 tomada de conhecimento, seja ele noético, referente ao processo de conhecer, seja ele noemático, referente ao objeto conhecido; • Parecido com a lógica aristotélica que se tornou uma propedêutica para todas as ciências; • Lembremos que Husserl foi leitor assíduo de Aristóteles; • O movimento humanista do meado do século XX tomou o existencialismo como tema central e a fenomenologia como método; • Abordagens terapêuticas preocupadas com as questões da existência foram denominadas de fenomenológico-existenciais, sendo seus terapeutas simpáticos ao método fenomenológico; • Obra clássica: Phenomenology in Psychology and Psychiatry, de Spielberg (1972). No Brasil é Existential-Phenomenological Perspectives in Psychology, organizada por Valle e Halling (1989); • Contudo, a obra de referência brasileira por excelência é o texto sobre psicologia fenomenológica de Forghieri (1993); • Poucas obras do Husserl traduzidas, pouco mais de 25, o que não chega a 50% de toda produção husserliana; • Talvez umas das dificuldades para traduções esteja no fato de que a ciência dominante não apoia a quem a contradiz; • Conflito com o positivismo científico;• A importância da figura do religioso holandês van Breda. Nascimento da clínica psicológica • A clínica psicológica é historicamente associada à psicoterapia. Psicoterapia pode ser definida como a arte e a ciência que se dedica ao alívio do sofrimento humano, decorrente de conflitos e desordens emocionais; • A psicoterapia é um processo comunicacional no qual uma pessoa (o profissional) compreende e intervém em outra pessoa (paciente/cliente) que busca ser ouvida ou tratada; • Lembremos da prática psicoterápica de Freud e o médico Josef Breuer que descobrem que instabilidades emocionais, acompanhadas de impedimentos físicos, poderiam ser tratadas por indução hipnótica; • A clínica fenomenológica vai nascer nas cercanias dessa influência; • Os grandes praticantes da clínica fenomenológica foram treinados em psicanálise e entendiam que a prática exercida era também uma psicanálise; • Ainda hoje é comum psicoterapeutas fenomenológico-existenciais se apresentarem como psicanalistas; • Spinelli, por exemplo, critica reconhecidos representantes da análise existencial, por atuarem muito próximos do enquadre psicanalítico. Perspectiva fenomenológica na clínica psicológica • Ludwig Binswanger (1881-1966), em um texto sobre os progressos da psicoterapia (Binswanger, 1958), apresentou a análise existencial (Daseinanalise) como um método de pesquisa fenomenológico psiquiátrico; • Essa breve referência aponta de imediato para as conexões entre análise existencial e método fenomenológico; • Esclarece-se, assim, a origem da vertente psicoterápica que viria a ser conhecida, entre outras denominações, como fenomenológico- existencial, psicoterapia existencial ou mesmo psicoterapia humanístico-existencial; • Os dois conceitos, identificados como novos recursos ao tratamento, procediam de tradições distintas, embora não tão distantes uma da outra: o problema da relação entre sofrimento e existência, e da relação entre psicoterapia e método. Filosofia existencial Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 24 • A história do pensamento filosófico debate-se, desde os seus primórdios, com dois polos opostos: o a proposição objetiva de um sistema metafísico a partir das ideias de homem (alma), de mundo e de Deus; o a busca de uma compreensão para o homem, para o mundo e para Deus que viesse da interioridade, do sentimento, da experiência vivida, da subjetividade. Método fenomenológico • Husserl (1929/1968) definiu a fenomenologia como um método filosófico descritivo: o capaz de circunscrever uma psicologia a priori que fundamentaria a psicologia empírica; o capaz de, como filosofia universal, proceder à revisão metodológica de todas as ciências; • O problema do método fenomenológico não seria, portanto, a clarificação da subjetividade, mas a depuração da racionalidade na busca do conhecimento; • O método fenomenológico (Husserl, 1901/2007) aplica-se à relação entre consciência e experiência. A consciência é definida como uma estrutura apta para tomar conhecimento do que se apresenta na experiência. Características da clínica fenomenológico-existencial • A psicoterapia existencial investiga a história de vida de um paciente, como em qualquer outro método terapêutico; • Contudo, não busca explicar a história de vida e suas idiossincrasias patológicas. Ao contrário, compreende está história de vida como modificações da estrutura total do ser-no-mundo dos pacientes; • Essa modalidade de terapia não mostra apenas onde, quando e até que ponto o paciente falhou em realizar a totalidade de sua humanidade, mas tenta fazê-lo experienciar isso o mais radicalmente possível; • O lugar do terapeuta no setting é o plano de uma existência em comum, sendo o paciente um parceiro existencial. A psicoterapia será ́um encontro, um ser-com; • Nos sonhos, o que se observa é o homem total, portanto, a função da terapia deve ser abrir novas possibilidades estruturais para esses processos existenciais alterados; • O uso dos métodos deve permitir, em última instância, o exercício da liberdade para que o indivíduo utilize suas próprias capacidades existenciais; • Rollo May – Implicações Terapêuticas: o Não é a compreensão que se orienta pela técnica, mas a técnica que acompanha a compreensão existencial do terapeuta. As técnicas existenciais devem ser versáteis e flexíveis, variando de paciente para paciente e de uma fase a outra no tratamento com o mesmo paciente; o O dinamismo psicológico interpretável deve assumir sempre um sentido a partir da situação existencial imediata de um paciente. O centro desse dinamismo psíquico deve ser a possibilidade inimputável de exercício da liberdade; o Ênfase de uma terapia existencial reside na presença. Isso é, que a relação entre paciente e terapeuta contemple a compreensão e experiência do terapeuta o mais próximo possível do ser do paciente; o Refere-se às formas de comportamento que destroem a presença. A confrontação entre duas pessoas pode ser Perspectivas Fenomenológicas Existenciais e Humanistas 25 profundamente criadora de ansiedade. Nesse sentido, a visão técnica de outra pessoa pode ser a forma terapêutica mais utilizada para a redução de ansiedade. Contudo, a técnica não deve ser uma forma para bloquear a presença; o Remete-se ao objetivo do processo terapêutico. O foco de uma terapia existencial é de que o paciente experimente sua existência como real, o que significa tornar-se consciente de suas potencialidades e estar apto para agir com base nelas; o Refere-se à importância do compromisso existencial do paciente. O psicólogo afirma que a decisão pela mudança precede o conhecimento, o que implica afirmar que conhecer-se e aumentar o número de insights sobre si não possui valor sem que se tome uma orientação previa decisiva para a vida; • Para Moss e as 3 fases do processo terapêutico existencial: o Abertura, o terapeuta tem o desafio de sintonizar, de se unir e de acompanhar o fluxo de experiência do paciente; o Fase intermediária, terapeuta e paciente seguem unidos para um desafio duplo, qual seja aceitar a vida e o mundo de cada um enquanto se apresentam e se aprofundam na relação. Nesse momento, importa o entendimento da realidade alheia como o produto das escolhas de cada um, mais do que todos os fatos contingenciais e acidentais; o Fase da temporalidade terapêutica, paciente e terapeuta enfrentam as limitações do tempo e da situação existencial; • Deurzen entende que: o Que as pessoas tomem posse de sua situação, de seus valores e de suas crenças; o Negociem o arranjo entre crises do passado, presente e futuro; o Busquem maior autoconfiança; o Ampliem suas perspectivas em si mesmo e no mundo à sua volta; o Encontrem clareza sobre o seu sentido de vida e como podem aprender do passado para criar algo no presente; o Valorizem um sentido pelo que viver; o Entendam a si mesmos e aos outros da melhor forma e achem meios para com eficiência se comunicar e estar com os outros; o Produzam sentido a partir dos paradoxos, conflitos e dilemas de sua existência. Clínica fenomenológica- existencial no brasil • Chegada nos anos 1930; • Waclav Radecki (1887-1953) e Nilton Campos (1889-1963) receberam influências dos textos de Husserl; • Nilton Campos publicou Psicologia da Vida afetiva em 1930; em 1951, lança o Método Fenomenológico em Psicologia; • Em meados da década de 1950, deu- se a associação entre fenomenologia e existencialismo nos círculos acadêmicos brasileiros; • Enzo Azzi (1921-1985), em 1954, sobre o tema da atitude
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