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A Importância da Sexualidade na Constituição do Psiquismo

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A Importância da Sexualidade na Constituição do Psiquismo – um Olhar Psicanalítico 
Autor: Iagor Brum Leitão | Publicado na Edição de: Abril de 2015 
Categoria: Psicanálise 
Resumo: A Sexualidade é considerada um tema complexo, controverso e de conceituação difícil. Continua sendo alvo de tabus, repressões, distorções e reduções, acabando usualmente por se tornar sinônimo de genitalidade.  Dessa forma, o presente artigo tem como proposta investigar e refletir, sob um viés psicanalítico, acerca do que é sexualidade, qual sua importância na constituição do psiquismo e o porquê de “tudo é sexo para psicanálise”.
Palavras-chave: Sexualidade, Psicanálise, Constituição do Psiquismo.
1. Introdução
Ainda hoje, é impossível discutir sexualidade sem esbarrar em barreiras morais, sociais, religiosas e até mesmo teóricas. Mesmo dentro da Psicologia, o tema sexualidade continua causando fortes polêmicas. A Psicanálise, por exemplo, torna-se alvo de duras críticas por “dar ênfase demais à sexualidade”, ou por, senso comum, “tudo ser sexo”. Mas, de fato para a Psicanálise, a sexualidade é a chave para a compreensão do comportamento e da mente humana. No entanto, essa é considerada como muito mais abrangente, não necessariamente uma sexualidade baseada nos órgãos genitais, de caráter instintivo ou com fins reprodutórios, por exemplo, mas muito pelo contrário, trata-se de uma sexualidade pulsional.
Na Psicologia, Sigmund Freud foi de fato um dos primeiros pensadores a investigar a sexualidade e sua importância na formação psíquica dos seres humanos. As descobertas de Freud a respeito da sexualidade acabaram, no final das contas, causando uma grande ruptura com as ideias concebidas na época, principalmente no que diz respeito à sexualidade infantil. Fazia parte da opinião popular, e ainda se faz, a ideia de uma infância “inocente”, o qual o bebê e a criança eram considerados assexuados.
Freud (2006) desenvolveu a teoria da sexualidade infantil, durante tratamentos clínicos em seu consultório, nos quais observou transtornos psicológicos apresentados por seus pacientes já adultos. Ele buscava tratar os distúrbios de histeria. Neste sentido, pode-se perceber que a criança não foi o ponto de partida, nem tão pouco o desejo de estudo de Freud, mas a busca por solucionar os problemas emocionais apresentados por seus pacientes.
Freud apresentou dificuldades em definir o que seria sexual, talvez por causa da época em que vivia, a qual tudo que se referia ao tema era considerado como impróprio e não deveria ser debatido ou investigado. Na XX Conferência de Viena, a respeito da sexualidade Freud vem afirmar:
[...] Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que abrange o conceito de ‘sexual’. Talvez a única definição acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a distinção entre os dois sexos’. [...] Se tomarem o fato do ato sexual como ponto central, talvez definissem como sexual tudo aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união dos genitais e à realização do ato sexual. [...] Se, por outro lado, tomarem a função de reprodução como núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda uma série de coisas que não visam à reprodução, mas certamente são sexuais, como a masturbação, e até mesmo o beijo (FREUD, 2006, p. 309).
A fim de se entender sobre tema, é importante compreender a diferença entre “sexo” e “sexualidade”. O Sexo é entendido a partir do biológico, submetido a uma finalidade, em última instância a procriação, portanto, a reprodução. Nesse sentido, o Sexo é anatômico, ou seja, associados aos genitais, dessa forma, remete-se a ideia de gênero, feminino e masculino. A Sexualidade vai além das partes do corpo, constituindo-se como uma característica que está estabelecida e está presente na cultura e história do homem (COSTA e OLIVEIRA, 2011). Segundo Nunes e Silva (2006, p. 73) a sexualidade transcende à consideração meramente biológica, centrada na reprodução e nas capacidades instintivas.
Para a Sexologia, tudo que fugisse da junção entre o macho e a fêmea, e que não estivesse, portanto, submetido ao ato reprodutivo ou um fim biológico, era tido como uma espécie de desvio, sendo pequeno ou grande desvio. Freud fala sobre esses desvios ao apresentar-nos a ideia de perversão polimorfa. Ele vai dizer que aquelas práticas que estão presentes nos chamados perversos, por exemplo, uma prática que vai enfatizar muito o olhar, um cheiro, um tom de voz, podem serem estranhas, mas elas têm muito a dizer sobre o que se passa no sujeito.
Freud ao escutar seus pacientes – ele vai construindo a Psicanálise a partir do que esses pacientes têm a dizer sobre eles próprios – vê um cenário totalmente diferente, o qual será sustentado não pelo biológico, ou instinto, mas por um conceito fundamental para a Psicanálise, o conceito de Pulsão [Trieb].
Pulsão é um conceito totalmente diferente de instinto, funciona em uma outra lógica, até mesmo na contramão do instinto. Vilanova e Neto (2009) Freud faz uma distinção entre Trieb e Instinkt, o primeiro como manifestação da sexualidade no ser humano, caracterizada como um comportamento não pré-formado e sem objeto específico ou predeterminado, enquanto, o segundo mostrará a presença do comportamento padrão dos animais, determinado hereditariamente e com objeto específico.
2. Sexualidade em Libido, Instinto e Pulsão Sexual
Para entender mais sobre o conceito de sexualidade dentro de Psicanálise é necessário especificar o conceito que Freud tinha sobre a Libido. De fato, a palavra libidojá era utilizada por Sexólogos do final do século XIX para designar uma energia própria do instinto sexual. Freud retomou para designar a manifestação da pulsão sexual e por extensão, a sexualidade humana em geral. A teoria da libido apresentada por Freud no livro, “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, resume-se nesta apertada síntese:
Combinam bem com essas hipóteses sobre a base química da excitação sexual as noções de que nos valemos para procurar dominar as manifestações psíquicas da vida sexual. Estabelecemos o conceito da libido como uma força quantitativamente variável que poderia medir os processos e transformações ocorrentes no âmbito da excitação sexual. Diferenciamos essa libido, no tocante a sua origem particular, da energia que se supõe subjacente aos processos anímicos em geral, e assim lhe conferimos também um caráter qualitativo. Ao separar a energia libidinosa de outras formas de energia psíquica, damos expressão à premissa de que os processos sexuais do organismo diferenciam-se dos processos de nutrição por uma química especial. A análise das perversões e das psiconeuroses levou-nos à compreensão de que essa excitação sexual é fornecida não só pelas chamadas partes sexuais, mas por todos os órgãos do corpo (FREUD, 2006, p 205).
O conceito de libido corre paralelo ao conceito de pulsão. Lacan vai dizer que a pulsão não tem dia nem noite, não tem primavera nem outono, ela não tem subida nem descida, ou seja, diferentemente do Instinto, que tem picos e declínio, a pulsão é uma força constante, um impacto constante. Se considerarmos que a pulsão sexual exerce uma Pressão [Drang] permanente, a libido seria, portanto, a energia que sustentaria essa pressão da pulsão. Ou seja, a libido seria a energia das pulsões sexuais.
Freud toma a teoria das pulsões e a teoria da libido como teorias quase sinônimas (Leopoldo, 2002). A libido está vinculada com os tipos de investimentos que o indivíduo realiza com seu mundo, seja ele interno ou externo. Segundo Carvalhaes e Leopoldo (2008) “esta distinção entre a sexualidade, como um fato, e, a libido como uma suposta energia, também caracteriza dois modos de teorização feitos por Freud na construção da teoria psicanalítica”.
3. A Sexualidade Vivida Desde o Nascimento
Freud vem nos mostrar que a pulsão, a sexualidade pulsional, está também presente nas crianças. Sexualidadeesta, que não necessariamente baseada na genitalidade, na biologia do corpo, mas uma sexualidade pulsional que pode ser observada, por exemplo, no olhar da criança, nos gestos da criança e até mesmo na boca. É aquilo que entra e sai da boca, o que ela escuta, o que ela vê, ou seja, é uma sexualidade que diz respeito as trocas que esse corpo realiza com o mundo, ao que entra, ao que sai, são todos esses elementos sensoriais que escorrem pelo corpo, que penetra por todos os furos e buracos. Neste sentido, a criança vai ser o tempo todo impactada e habitada pela sexualidade. Freud (2006) irá dizer que para entender a sexualidade nos adultos basta olhar a sexualidade nas crianças. Essa sexualidade que composta por inúmeros ingredientes, e não necessariamente só os órgãos genitais e muitos menos só a junção do macho com a fêmea.
Segundo Nunes e Silva (2000, p. 52), “a criança vive sua sexualidade desde que nasce, no contato sexual com a mãe, com o mundo exterior e estabelecendo sua percepção corporal em diferentes fases de sua vida”. Ou seja, o corpo da criança é seu universo sexual, assim, a noção de corpo é essencial para a sexualidade.
A criança nasce em um corpo despedaçado e desprovido, ainda de uma vida mental, consequentemente de um Psiquismo. Ela não passa de um corpo manipulável, onde a mãe se torna a dona deste corpo. Há de fato uma fusão entre o corpo da criança com o corpo da mãe, e essa fusão nada mais é do que sexual. Esse ‘sexual’ traduz-se na relação entre a mãe e a criança, nos cuidados que essa mãe tem com a criança, na ternura. Freud vai muito mais longe, pois não diz que o sexual jaz na ternura, por exemplo, mas que a própria ternura é em si uma excitação sexual.
 J.D. Nasio, em seu livro “Édipo: O Complexo do qual Nenhuma Criança Escapa” traz uma citação de Sigmund Freud que elucida bem essa sexualidade entre mãe e filho, Freud diz:
As relações do filho com sua mãe são para ele uma fonte contínua de excitação e satisfação sexual, a qual se intensifica quanto mais ela lhe der provas de sentimentos que derivem de sua própria vida sexual, beijá-lo, niná-lo, considerá-lo substituto de um objeto sexual completo. Seria provável que uma mãe ficasse bastante surpresa se lhe dissessem que assim ela desperta, com suas ternuras, a pulsão sexual do filho. Ela acha que seus gestos demonstram um amor assexual e puro, em que a sexualidade não desempenha papel algum, uma vez que ela evita excitar os órgãos sexuais do filho mais que o exigido pelos cuidados corporais. Mas a pulsão sexual, como sabemos, não é despertada apenas pela excitação da zona genital; a ternura também pode ser muito excitante (FREUD apud NASIO, 2007, p.9).
4. A Sexualidade na Constituição do Psiquismo
Como foi dito acima, a sexualidade está presente desde o momento do nascimento e nos acompanha até a morte. Sabemos que para Psicologia, a infância é o momento crucial que definirá a personalidade, identidade, comportamentos típicos e a estrutura psíquica do indivíduo.
Em Psicanálise, o período da infância se torna ainda mais crucial, já que é neste período em que o indivíduo – neste caso a criança, que ainda é uma coisa – entra em contato com o mundo, experimenta, saboreia, toca, e sente o mundo.  O ser humano nasce sexuado, e desde bebê tem início ao seu autoconhecimento, de forma natural e espontaneamente.  Nota-se que esse contato com o mundo se dá de forma sensorial. Dito isso, todas essas experiências sensoriais serão tomadas como prazerosas ou desprazerosas, portanto é aí que entra a Sexualidade.
A primeira experiência prazerosa que a criança tem com o mundo é na amamentação. Os lábios e a língua do bebê tornam-se uma zona erógena pela qual, ao sugar o leite, a criança sente prazer em se alimentar e desta forma, a sensação prazerosa fica associada à necessidade de alimento (Costa & Oliveira, 2011). Freud descreve a presença desse prazer, “quem já viu uma criança saciada recuar do peito e cair no sono, com as faces coradas e um sorriso beatifico, há de dizer a si mesmo que essa imagem persiste também como norma da expressão da satisfação sexual em épocas posteriores da vida” (Freud, 2006, p. 171). Neste sentido, a sexualidade torna-se uma ferramenta de contato e de experiências com o mundo. Ora, mas por enquanto estamos falando de experiências sensoriais, e o que isto tem a ver com a constituição de um Psiquismo?
De início, essas experiências são de fatos sensoriais, e são primordiais para o bebê, ainda coisa, experimentar o mundo. No entanto, a criança vai assimilando e internalizando essas experiências como prazerosa ou desprazerosa, criando assim significados para elas. A partir daí, em uma ligação estritamente relacional, entre o indivíduo e mundo, a sexualidade torna-se uma porta de entrada para os significantes produzidos nesta relação.
5. Considerações Finais
Vimos o quão extenso e abrangente pode ser o conceito de sexualidade, e como facilmente podemos esbarrar em barreiras morais e ideológicas, no entanto, é a partir da Psicanálise, especificamente a partir das ideias de Freud, o tema foi-se ganhando destaque e discussão. Deve-se ficar claro que ao elucidar a ideia de que, para a Psicanálise, a sexualidade é a porta de entrada pela qual o indivíduo, especialmente a criança, experimenta o mundo, o sente e internaliza, é a utilização do corpo, por seus furos e buracos em contato com o mundo, sendo cortado pela linguagem. E é a partir deste contato, sexual, entre indivíduo/mundo, desperta o psiquismo, e especificamente para a Psicanálise, desperta a criança seu maior Desejo, que é o Desejo de Desejo, por isso pode-se dizer sem medo algum que, para a psicanálise, tudo é sexual.
Sobre o Autor:
Iagor Brum Leitão - Graduando em Psicologia pela Faculdade MULTIVIX - Campus Nova Venécia - ES. Iniciando a formação Psicanalítica.
Referências:
CARVALHAES, Binchi Diane. LEOPOLDO, Fulgencio. (2008) O Conceito da Sexualidade Infantil em Freud: Aspectos Empíricos e Metapsicológicos. Anais do XII Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas. Campinas, SP.
COSTA, Elis. OLIEIRA, Kênia. A Sexualidade Segundo a Teoria Psicanalítica Freudiana e o Papel dos Pais Neste Processo. Itinerarius Reflectionis, Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus Jataí - UFG, vol. 2 n.11, 2011. <https://revistas.ufg.br/index.php/ritref/article/viewFile/20332/11823>. Acesso em 04/11/2014.
_______Conferências Introdutórias sobre Psicanálise (Parte III) 1915-1916. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Volume XVI. Imago Editora. 2006. Rio de Janeiro
FREUD, Sigmund. Um caso de histeria, Três ensaios sobre sexualidade e outros Trabalhos. 1901-1905. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud Volume VII. Imago Editora. 2006. Rio de Janeiro.
LEOPOLDO, Fulgencio. (2002). A Teoria da Libido em Freud como uma Hipótese Especulativa. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 5(1), 101-111. Retrieved November 04, 2014, from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-14982002000100008&lng=en&tlng=pt. 10.1590/S1516-14982002000100008.
NASIO, J.D. (2007). Édipo: O Complexo do Qual Nenhuma Criança Escapa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
NUNES, César. SILVA, Edna. A Educação Sexual da Criança: Subsídios Teóricos e Propostas Práticas para uma Abordagem da Sexualidade para além da Transversalidade. Campinas, SP. Autores Associados. 2006. (coleção polêmicas do nosso tempo).
VILANOVA, Isaac. NETO, Silva. A Teria das Pulsões em Freud e Lacan: Pontos de Convergência e de Divergência. (Tese de Mestrado, Fortaleza, UFC). Retirado em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/2250/1/2009_dis_IVESNeto.PDF
Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/a-importancia-da-sexualidade-na-constituicao-do-psiquismo-um-olhar-psicanalitico?utm_source=boletim&utm_medium=e-mail&utm_content=titulo_artigo&utm_campaign=psicologado_artigos&email=edilkas@gmail.com © Psicologado.com

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