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OLIVEIRA A greve na Leopoldina Railway (março de 1920)

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A greve na Leopoldina Railway (março de 1920): 
lutas operárias entre negociações, conflitos sociais 
e repressão estatal 
Luís Eduardo de Oliveira 
São operários, andrajosa gente 
que a enfermidade inexorável mina 
e a miséria acorrenta, impenitente, 
aos horrores da vida na oficina. 
Na luta desigual que os extermina, 
cada um, reconhecendo-se impotente, 
une-se ao irmão, na ânsia supina, 
em solidariedade comovente. 
E unida, estuante, ao fulvo do sol da praça, 
Direito à vida! - exora a populaça. 
Pede mais pão a turba sofredora. 
E tem como resposta, nesse abalo, 
o argumento da pata de cavalo 
e as eloquências da metralhadora! 
Sylvio Figueiredo, Os grevistas, 1920. 
Jos primeiros meses de 1920, pressionados pelo agravamento da carestia e 
jnimados pela possibilidade de conquistarem direitos trabalhistas e sociais 
á muito demandados, os assalariados das mais diversas categorias profis- 
lonais do Rio de Janeiro, assim como de outros centros, retomaram rapi- 
jamente o caminho da organização e reivindicação. Foi exatamente o que 
torreu com os empregados da The Leopoldina Railway Company Ltd., que 
ksse contexto formaram associações classistas em pontos estratégicos dessa 
irrovia e articularam uma consistente pauta de reivindicações, fixando uma 
ita para o início de um movimento paredista, no caso de não serem aten- 
idos em suas solicitações. 
Em face da intransigência dos diretores da companhia britânica, uma 
eve vigorosa na Leopoldina Railway acabou eclodindo no dia 15 de março de 
Voz do Povo. Rio de Janeiro, 1º de março de 1920, p. 1. 
135
 
 
 
1920, ocupando de forma surpreendente, a
o longo de cerca de duas semanas, O 
centro das atenções do noticiário de 
importantes periódicos da então Capit
al 
Eederal, como a Gazeta de Notícias, O Paiz
 e A Razão. Esse foi também o pri 
meiro movimento paredista de grande rep
ercussão social que o recém-lançado 
Voz do Povo, órgão oficial da Federação do
s Trabalhadores do Rio de Janeiro 
(E'VR]), retratou e apoiou em suas págin
as durante todo o seu transcurso. 
A surpreendente movimentação classista 
na Leopoldina Railway, Cori 
procurarei demostrar ao longo deste capít
ulo, pode ser considerada analitica 
mente como um evento-chave não apenas
 em razão de ter desaguado numa 
greve geral que paralisou a cidade do Rio 
de Janeiro entre 24 e 27 de março de 
1920, dias em que a então capital do país 
foi transformada numa verdadeira 
“praça de guerra”. Em função da intensa c
obertura jornalística que recebeu, 
essa parede ferroviária contribuiu ta
mbém para expor ao grande público 
o 
quão comprometido estava O recém-iniciad
o governo Epitácio Pessoa com à 
manutenção dos privilégios concedidos à
s empresas estrangeiras que explo 
ravam então serviços estratégicos no 
Brasil. 
A UNIÃO DOS EMPREGADOS DA LE
OPOLDINA E 
O CENÁRIO ASSOCIATIVO CARIOCA N
O INÍCIO DE 1920 
Os operários brasileiros estão atualmente 
em uma obra de organização deci 
siva. Como no passado, seus esforços são, po
rém, perturbados ou anulados pelas 
intervenções violentas da ignorância ou da
 má fé política, (...) pela pressão poli 
cial. (...) Em tais condições, O trabalho
 de organização, além de arriscado, é
 de 
resultado imperfeito. (...) Todos os con
selhos ao operariado devem se resum
it 
nesta singela mas formidável expressão: “O
rganizar. Organizar para destruir ou 
para reconstruir, mas organizar para ser u
ma força e ser uma força para poder 
. 
A ” 
viver na sociedade contemporânea!”. 
Mauricio de Lacerda, O congresso operário.” 
No limiar de 1920, os trabalhadores carioca
s e suas lideranças sindicais expe: 
rimentaram um novo momento de luta
s classistas, revivendo, em muitos 
aspectos, as grandes jornadas reivind
icatórias de 1917, 1918 e 1919, triênio 
em 
que não apenas no Rio de Janeiro como també
m em São Paulo se processou 
o mais vigoroso conjunto de greves operárias
 já visto na Primeira República." 
Segundo Angela de Castro Gomes, a conjunt
ura socioeconômica desses anos 
 
2 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 14
 de fevereiro de 1920, p. 1. 
as greves, ver: VARGAS, João T. O trabalho na 
ordem 
3 Sobre os significados políticos e sociais
 dess rab
 
ção do Estado na Primeira República. Ca
mpina 
liberal: o movimento operário e a const
ru 
UNICGAMP/CMU, 2004. 
116 
 
| finais da década de 1910 configurou-se como extremamente difícil para os 
assalariados urbanos, que se viram então imersos num cenário de crise social, 
* que combinou “progresso econômico e tecnológico com aumento de pobreza 
e rebaixamento dos níveis de vida de grande parte da população”. De fato, a 
prosperidade e a bonança, nesses tempos de severa ortodoxia liberal, foram 
* desfrutadas apenas pelas tradicionais oligarquias, por empresas estrangeiras 
aqui instaladas e pela restrita elite industrial que se consolidava nos centros 
populacionais de maior relevo. 
Mas, a despeito de não terem sido suficientes para atenuar a grave rea- 
lidade vivenciada nos meios proletários, as intensas e ruidosas movimenta- 
ções classistas do período foram fundamentais tanto por acentuar a tendên- 
cia do operariado nacional em lutar por uma legislação trabalhista e social 
quanto para forçar a Câmara dos Deputados a discutir o projeto de Código 
'de Trabalho formulado pelo deputado federal Maurício de Lacerda. Em fun- 
'ção ainda da participação oficial do Brasil na conferência de instalação da 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizada em outubro de 1919, 
sm Washington, os temas vinculados ao problema operário suscitaram, então, 
debates públicos importantes, ocupando espaços crescentes nas páginas dos 
grandes jornais e renovando as expectativas por mudanças há muito deman- 
dadas pelos trabalhadores brasileiros. 
| As ações repressivas do Estado sobre os setores mais combativos do 
movimento operário, especialmente sobre aqueles vinculados ao sindica- 
ismo revolucionário, entretanto, prosseguiam com a mesma intensidade e 
irulência de antes. Everardo Dias, ao descrever a ofensiva policial pelo país 
os últimos meses de 1919, estabeleceu um quadro bastante eloquente sobre 
às dificuldades enfrentadas, então, pelos líderes do proletariado organizado: 
Foi esse um dos períodos cruciantes e verdadeiramente angustiosos passados 
pelos militantes em nosso país. As sedes das associações fechadas, móveis e 
utensílios removidos para os depósitos policiais, os livros de tendência socia- 
A significativa expansão das atividades industriais em todo o país durante a Grande Guerr
a, 
segundo Angela de Castro Gomes, impôs aos mais pobres uma realidade marcada ainda ma
is 
pela intensificação da exploração do trabalho, pelos baixos salários e pelo agravamento da car
es- 
tia. GOMES, Angela de Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil (19
17- 
1937). Rio de Janeiro: 7Letras, 2014. p. 78-79. 
Tal projeto do Código de Trabalho englobava, dentre outras medidas, o estabeleci
mento da 
* jornada de 8 horas, a criação de Juntas de Arbitragem, a fixação das condições de 
trabalho 
das mulheres e menores nas fábricas e oficinas. No entanto, a ação regulatória 
do Estado sobre 
o mercado de trabalho restringiu-se então à sanção dos decretos n. 3.550/1918, 
que 
Departamento Nacional do Trabalho, e n. 3.724/1919, regulando as obrigações patrone 
tantes de “acidentes de trabalho” Ver MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindic
ato único 
no Brasil (seus fundamentos sociológicos). São Paulo: Alfa-Ômega, 1978
. p. 197209. 
 
” 
147
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
 
 
 
1920, ocupando de forma surpreendente, a
o longo de cerca de duas semanas, O 
centro das atenções do noticiário de 
importantes periódicos da então Capit
al 
Eederal, como a Gazeta de Notícias, O Paiz
 e A Razão. Esse foi também o pri 
meiro movimento paredista de grande repercussão social que o recém-lançado 
Voz do Povo, órgão oficial da Federação do
s Trabalhadores do Rio de Janeiro 
(E'VR]), retratou e apoiou em suas págin
as durante todo o seu transcurso. 
A surpreendente movimentação classista 
na Leopoldina Railway, Cori 
procurarei demostrar ao longo deste capít
ulo, pode ser considerada analitica 
mente como um evento-chave não apenas
 em razão de ter desaguado numa 
greve geral que paralisou a cidade do Rio 
de Janeiro entre 24 e 27 de março de 
1920, dias em que a então capital do país 
foi transformada numa verdadeira 
“praça de guerra”. Em função da intensa c
obertura jornalística que recebeu, 
essa parede ferroviária contribuiu ta
mbém para expor ao grande público 
o 
quão comprometido estava O recém-iniciad
o governo Epitácio Pessoa com à 
manutenção dos privilégios concedidos à
s empresas estrangeiras que explo 
ravam então serviços estratégicos no 
Brasil. 
A UNIÃO DOS EMPREGADOS DA LE
OPOLDINA E 
O CENÁRIO ASSOCIATIVO CARIOCA N
O INÍCIO DE 1920 
Os operários brasileiros estão atualmente 
em uma obra de organização deci 
siva. Como no passado, seus esforços são, po
rém, perturbados ou anulados pelas 
intervenções violentas da ignorância ou da
 má fé política, (...) pela pressão poli 
cial. (...) Em tais condições, O trabalho
 de organização, além de arriscado, é
 de 
resultado imperfeito. (...) Todos os con
selhos ao operariado devem se resum
it 
nesta singela mas formidável expressão: “O
rganizar. Organizar para destruir ou 
para reconstruir, mas organizar para ser u
ma força e ser uma força para poder 
. 
A ” 
viver na sociedade contemporânea!”. 
Mauricio de Lacerda, O congresso operário.” 
No limiar de 1920, os trabalhadores carioca
s e suas lideranças sindicais expe: 
rimentaram um novo momento de luta
s classistas, revivendo, em muitos 
aspectos, as grandes jornadas reivind
icatórias de 1917, 1918 e 1919, triênio 
em 
que não apenas no Rio de Janeiro como també
m em São Paulo se processou 
o mais vigoroso conjunto de greves operárias
 já visto na Primeira República." 
Segundo Angela de Castro Gomes, a conjunt
ura socioeconômica desses anos 
 
2 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 14
 de fevereiro de 1920, p. 1. 
as greves, ver: VARGAS, João T. O trabalho na 
ordem 
3 Sobre os significados políticos e sociais
 dess rab
 
ção do Estado na Primeira República. Ca
mpina 
liberal: o movimento operário e a const
ru 
UNICGAMP/CMU, 2004. 
116 
 
| finais da década de 1910 configurou-se como extremamente difícil para os 
assalariados urbanos, que se viram então imersos num cenário de crise social, 
* que combinou “progresso econômico e tecnológico com aumento de pobreza 
e rebaixamento dos níveis de vida de grande parte da população”. De fato, a 
prosperidade e a bonança, nesses tempos de severa ortodoxia liberal, foram 
* desfrutadas apenas pelas tradicionais oligarquias, por empresas estrangeiras 
aqui instaladas e pela restrita elite industrial que se consolidava nos centros 
populacionais de maior relevo. 
Mas, a despeito de não terem sido suficientes para atenuar a grave rea- 
lidade vivenciada nos meios proletários, as intensas e ruidosas movimenta- 
ções classistas do período foram fundamentais tanto por acentuar a tendên- 
cia do operariado nacional em lutar por uma legislação trabalhista e social 
quanto para forçar a Câmara dos Deputados a discutir o projeto de Código 
'de Trabalho formulado pelo deputado federal Maurício de Lacerda. Em fun- 
'ção ainda da participação oficial do Brasil na conferência de instalação da 
Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizada em outubro de 1919, 
sm Washington, os temas vinculados ao problema operário suscitaram, então, 
debates públicos importantes, ocupando espaços crescentes nas páginas dos 
grandes jornais e renovando as expectativas por mudanças há muito deman- 
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| As ações repressivas do Estado sobre os setores mais combativos do 
movimento operário, especialmente sobre aqueles vinculados ao sindica- 
ismo revolucionário, entretanto, prosseguiam com a mesma intensidade e 
irulência de antes. Everardo Dias, ao descrever a ofensiva policial pelo país 
os últimos meses de 1919, estabeleceu um quadro bastante eloquente sobre 
às dificuldades enfrentadas, então, pelos líderes do proletariado organizado: 
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pelos militantes em nosso país. As sedes das associações fechadas, móveis e 
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segundo Angela de Castro Gomes, impôs aos mais pobres uma realidade marcada ainda ma
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es- 
tia. GOMES, Angela de Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil (19
17- 
1937). Rio de Janeiro: 7Letras, 2014. p. 78-79. 
Tal projeto do Código de Trabalho englobava, dentre outras medidas, o estabeleci
mento da 
* jornada de 8 horas, a criação de Juntas de Arbitragem, a fixação das condições de 
trabalho 
das mulheres e menores nas fábricas e oficinas. No entanto, a ação regulatória 
do Estado sobre 
o mercado de trabalho restringiu-se então à sanção dos decretos n. 3.550/1918, 
que 
Departamento Nacional do Trabalho, e n. 3.724/1919, regulando as obrigações patrone 
tantes de “acidentes de trabalho” Ver MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindic
ato único 
no Brasil (seus fundamentos sociológicos). São Paulo: Alfa-Ômega, 1978
. p. 197209. 
 
” 
147
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
 
eram apreendidos nas sedes, 
mas 
lista ou anarquistas incinerado
s, não só os que 
as constantes nas residênci
as dos 
igualmente os que eram ap
reendidos nas busc 
suspeitos. Os argos da polícia 
em tudo viam propaganda per
igosa. (...) Essa caça 
ao homem e às ideias es
tendeu-se por todo o te
rritório nacional, (...) co
m rigor 
e brutalidade inauditas.
” 
Nos primeiros dois meses de 19
20, entretanto, essa onda repres
siva arre 
os o suficiente para que as sede
s das associações ope 
feceu um pouco, ao men 
jal, voltassem a ser movi
mentados 
Rio de Janeiro, de modo espec
 
lhadores, que iam participar de 
reuniões e assem 
s ou debater suas reivindica
ções 
políticas e sociais.” Justamente
 a direção d
a Federação dos 
Trabalhadores do Rio de Janei
ro e O sindicatos a ela coligad
os desenvolvem 
um trabalho conjunto e sistem
ático para tentar ampliar e co
nsolidar as bases 
do sindicalismo revolucionário
 junto às principais categorias 
profissionais da 
Capital Federal. Unidos em t
orno da FTRJ, nesse momento, 
antigas lideran 
ças identificadas com as tes
es anarquistas, simpatizante
s da experiência bol 
chevique em curso na Russia e
 reconhecidos militantes socia
listas desempe 
nharam um papel fundamental
 para a organização das oficin
as gráficas, com 
máquinas próprias, € formaçã
o de um corpo de redação pa
ra o lançamento 
e manutenção do órgão oficial
 daquela federação, O diário 
matutino Voz do 
ão veio à luz em 5 de fevereir
o de 1920.º 
rárias no 
por grande número de traba 
bleias para dar posse à novas d
iretorias eleita 
nesse contexto, 
Povo, cuja primeira ediç 
e 
6 Preso em outubro de 1919
, com 22 outros líderes operá
rios de nacionalidade portug
uesa e espa 
nhola, Evaristo Dias chegou 
a ser deportado para a Europa
, mas O éxito de uma campa
nha pot 
sua libertação permitiu que 
ele fosse recebido com home
nagens em Recife em 20/01
/1920 € 
quinze dias depois no Rio de 
Janeiro. Ver DIAS, Everardo. H
istória das lutas sociais no Bra
sil, São 
Paulo: Alfa-Omega, 1977.
 P- 95: € DULLES, John W
. F. Anarquistas € comun
istas no Brasil, 1900 
1935. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 1977. p- 101-106. 
Em o1/01/1920,por exemplo,
 após realizar uma assemble
ia com 2 mil de seus sócios,
 a Unido 
dos Empregados em Padarias
 do Rio de Janeiro publicou 
um manifesto conclamando 
a clase 
a aderir ao descanso dominica
l que entraria em vigor no 
domingo seguinte. A Razão. 
Rio de 
Janeiro, 1º de janeiro de 19
20, p. 5-6. 
s de 1919 para suceder a Uniã
o Geral dos 
Vem 8 Sediada na rua Acre, a FTR
J foi fundada em meado 
Trabalhadores, fechada pela 
polícia em 1918. Entre as 25 e
ntidades sindicais filiadas à 
março de 1920, destacavam-se 
à União dos Operários em Fá
bricas de Tecidos, a Associaçi 
Resistência dos Cocheiros, Ca
rroceiros e Classes Anexas, O
 Centro dos Operários Marmo
rista, 
a União dos Operários em Co
nstrução Civil, a Aliança dos
 Operários em Calçados e 
Anexas, à União Geral dos Met
alúrgicos e à União dos Empre
gados em Padarias. Ver “Fede
ração 
dos Trabalhadores do Ri
o de Janeiro (ETRJ)” em 
BATALHA, Claudio H. de
 Moraes (Op ) 
Dicionário do movimento 
operário: Rio de Janeiro d
o século XIX aos anos 192
0 — mi 
organizações. São Paulo: Edito
ra da Fundação Perseu Abram
o, 2009. p. 222. 
 
 
tores e articulistas do Vo
z do Povo, 
9 Entre os reda 
Astrojildo Pereira, 
Álvaro Palmeira, José Oiticica
, 
128 
 
destacam-se Carlos Dias, 
Afonso Schin, 
Octavio Brandão, Fábio 
Luz, Mauricio lê 
 
Entretanto, a orientação combativa da Federação dos Trabalhadores do 
Rio de Janeiro, com sua defesa de uma perspectiva associativa centrsda 
sindicato de resistência e na ação direta, estava longe de ser consensual entre 
os dirigentes proletários do Rio de Janeiro. Reunidos em torno de entidad S 
tradicionais e que possuíam também um número significativo de sim 
ento o Centro União dos Empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil 
a Sociedade União dos Foguistas, a Associação de Marinheiros e Remadores, 
o Grêmio dos Ajustadores e Torneiros Mecânicos, a União dos Catraieiros 
Centro União dos Calafates e o Centro dos Carapinas de Mar e Terra -— so 
como dispondo de amplo espaço de divulgação no jornal A Razão, lídere 
| sindicais bem mais moderados pregavam e praticavam um outro modelo de 
| lndisálisino. Nesse caso, um modelo que priorizava a reivindicação e nego- 
ciação de medidas trabalhistas junto ao governo e ao parlamento, conside. 
rando a greve um recurso extremo que somente em último caso os assalaria- 
dos deveriam lançar mão, mas sempre respeitando os estreitos limites da lei 
da ordem - sem buscar a ruptura, mas, sim, um acordo, em geral mediad 
por alguma autoridade pública. . 
, A princípio distantes das disputas político-ideológicas que lideranças 
Ê mi dois campos organizatórios travavam pela hegemonia do afeto 
i dical carioca, representantes de trabalhadores da The Leopoldina Railwa 
Company Ltd. - cujos três mil quilômetros de trilhos se estendiam então dos 
jopulosos subúrbios da Zona Norte da Capital Federal e por vastas nd 
os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo" — iniciaram a 
É de janeiro de 1920, o processo de formação de duas importantes asso- 
ações de classes, a União dos Empregados da Leopoldina (UEL) e a Liga 
Pp eraria de Além Paraíba. Sediada na atual cidade mineira de Além raia 
a divisa com o estado do Rio de Janeiro, em fins de fevereiro daquele aa 
 
Lacerda e Evaristo de Moraes. 3S . GOMES, Angela de Castro. A i ã i i ico liga ER LE g invenção do trabalhismo. Rio de 
, Fundado rLi 
, 
v em 1916 po As José de Matos, negociante luso adept
o da doutrina espiar ita, A Razão 
publica a noticias diárias sobre a vida associativa e as aç tas 
s categorias 
à E F 
0es classistas de diferentes 
cate 
profissionais da Capital Federal no sentido 
d r I vi Pp p 
- 
p > 
e cont ibuir pa a vero povo livre dos ex lo
r ado 
res, conhecedor de sua for: 
, , ça e do seu valor quando esclarecidos. AR á azão. Rio de Janeiro. 15 de 
janeiro de 1918, P. 6e1º de janeiro de 1920, P. 5. 
ap A ae ingleses adquiriram a Cia. E. F. Leopoldina (1872), que possuía 2.130 
[ e linhas e ramais férreos. A nova firma, a The Leopoldi j K ; Railway Com Ltd 
ajuda financeira do Governo Federal, ampli ra q mate , ampliou sua malha para 3.000 Km e, i 
| cortavam importantes zonas cafeeiras e agrií i o | grícolas de Minas Gerais, Rio d i tri 
! Santo e servia à Zona Norte da Capi ra do io do dica pital Federal. PAULA, Dilma Andrade de. Fi i 
| extinção de ramais da Estrada de Ferro Le i eso Ei inção s opoldina, 1955-1974. Tes istóri 
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. p. d de (Doutorado em História) - 
139
Positivo
Realce
Positivo
Realce
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eram apreendidos nas sedes, 
mas 
lista ou anarquistas incinerado
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igosa. (...) Essa caça 
ao homem e às ideias es
tendeu-se por todo o te
rritório nacional, (...) co
m rigor 
e brutalidade inauditas.
” 
Nos primeiros dois meses de 19
20, entretanto, essa onda repres
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os o suficiente para que as sede
s das associações ope 
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mentados 
Rio de Janeiro, de modo espec
 
lhadores, que iam participar de 
reuniões e assem 
s ou debater suas reivindica
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políticas e sociais.” Justamente
 a direção d
a Federação dos 
Trabalhadores do Rio de Janei
ro e O sindicatos a ela coligad
os desenvolvem 
um trabalho conjunto e sistem
ático para tentar ampliar e co
nsolidar as bases 
do sindicalismo revolucionário
 junto às principais categorias 
profissionais da 
Capital Federal. Unidos em t
orno da FTRJ, nesse momento, 
antigas lideran 
ças identificadas com as tes
es anarquistas, simpatizante
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chevique em curso na Russia e
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nharam um papel fundamental
 para a organização das oficin
as gráficas, com 
máquinas próprias, € formaçã
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e manutenção do órgão oficial
 daquela federação, O diário 
matutino Voz do 
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por grande número de traba 
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nesse contexto, 
Povo, cuja primeira ediç 
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sua libertação permitiu que 
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nagens em Recife em 20/01
/1920 € 
quinze dias depois no Rio de 
Janeiro. Ver DIAS, Everardo. H
istória das lutas sociais no Bra
sil, São 
Paulo: Alfa-Omega, 1977.
 P- 95: € DULLES, John W
. F. Anarquistas € comun
istas no Brasil, 1900 
1935. Rio de Janeiro: Nova 
Fronteira, 1977. p- 101-106. 
Em o1/01/1920, por exemplo,
 após realizar uma assemble
ia com 2 mil de seus sócios,
 a Unido 
dos Empregados em Padarias
 do Rio de Janeiro publicou 
um manifesto conclamando 
a clase 
a aderir ao descanso dominica
l que entraria em vigor no 
domingo seguinte. A Razão. 
Rio de 
Janeiro, 1º de janeiro de 19
20, p. 5-6. 
s de 1919 para suceder a Uniã
o Geral dos 
Vem 8 Sediada na rua Acre, a FTR
J foi fundada em meado 
Trabalhadores, fechada pela 
polícia em 1918. Entre as 25 e
ntidades sindicais filiadas à 
março de 1920, destacavam-se 
à União dos Operários em Fá
bricas de Tecidos, a Associaçi 
Resistência dos Cocheiros, Ca
rroceiros e Classes Anexas, O
 Centro dos Operários Marmo
rista, 
a União dos Operários em Co
nstrução Civil, a Aliança dos
 Operários em Calçados e 
Anexas, à União Geral dos Met
alúrgicos e à União dos Empre
gados em Padarias. Ver “Fede
ração 
dos Trabalhadores do Ri
o de Janeiro (ETRJ)” em 
BATALHA, Claudio H. de
 Moraes (Op ) 
Dicionário do movimento 
operário: Rio de Janeiro d
o século XIX aos anos 1920 — mi 
organizações. São Paulo: Edito
ra da Fundação Perseu Abram
o, 2009. p. 222. 
 
 
tores e articulistas do Vo
z do Povo, 
9 Entre os reda 
Astrojildo Pereira, 
Álvaro Palmeira, José Oiticica
, 
128 
 
destacam-se Carlos Dias, 
Afonso Schin, 
Octavio Brandão, Fábio 
Luz, Mauricio lê 
 
Entretanto, a orientação combativa da Federação dos Trabalhadores do 
Rio de Janeiro, com sua defesa de uma perspectiva associativa centrsda 
sindicato de resistência e na ação direta, estava longe de ser consensual entre 
os dirigentes proletários do Rio de Janeiro. Reunidos em torno de entidad S 
tradicionais e que possuíam também um número significativo de sim 
ento o Centro União dos Empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil 
a Sociedade União dos Foguistas, a Associação de Marinheiros e Remadores, 
o Grêmio dos Ajustadores e Torneiros Mecânicos, a União dos Catraieiros 
Centro União dos Calafates e o Centro dos Carapinas de Mar e Terra -— so 
como dispondo de amplo espaço de divulgação no jornal A Razão, lídere 
| sindicais bem mais moderados pregavam e praticavam um outro modelo de 
| lndisálisino. Nesse caso, um modelo que priorizava a reivindicação e nego- 
ciação de medidas trabalhistas junto ao governo e ao parlamento, conside. 
rando a greve um recurso extremo que somente em último caso os assalaria- 
dos deveriam lançar mão, mas sempre respeitando os estreitos limites da lei 
da ordem - sem buscar a ruptura, mas, sim, um acordo, em geral mediad 
por alguma autoridade pública. . 
, A princípio distantes das disputas político-ideológicas que lideranças 
Ê mi dois campos organizatórios travavam pela hegemonia do afeto 
i dical carioca, representantes de trabalhadores da The Leopoldina Railwa 
Company Ltd. - cujos três mil quilômetros de trilhos se estendiam então dos 
jopulosos subúrbios da Zona Norte da Capital Federal e por vastas nd 
os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo" — iniciaram a 
É de janeiro de 1920, o processo de formação de duas importantes asso- 
ações de classes, a União dos Empregados da Leopoldina (UEL) e a Liga 
Pp eraria de Além Paraíba. Sediada na atual cidade mineira de Além raia 
a divisa com o estado do Rio de Janeiro, em fins de fevereiro daquele aa 
 
Lacerda e Evaristo de Moraes. 3S . GOMES, Angela de Castro. A i ã i i ico liga ER LE g invenção do trabalhismo. Rio de 
, Fundado rLi 
, 
v em 1916 po As José de Matos, negociante luso adept
o da doutrina espiar ita, A Razão 
publica a noticias diárias sobre a vida associativa e as aç tas 
s categorias 
à E F 
0es classistas de diferentes 
cate 
profissionais da Capital Federal no sentido 
d r I vi Pp p 
- 
p > 
e cont ibuir pa a vero povo livre dos ex lo
r ado 
res, conhecedor de sua for: 
, , ça e do seu valor quando esclarecidos. AR á azão. Rio de Janeiro. 15 de 
janeiro de 1918, P. 6e1º de janeiro de 1920, P. 5. 
ap A ae ingleses adquiriram a Cia. E. F. Leopoldina (1872), que possuía 2.130 
[ e linhas e ramais férreos. A nova firma, a The Leopoldi j K ; Railway Com Ltd 
ajuda financeira do Governo Federal, ampli ra q mate , ampliou sua malha para 3.000 Km e, i 
| cortavam importantes zonas cafeeiras e agrií i o | grícolas de Minas Gerais, Rio d i tri 
! Santo e servia à Zona Norte da Capi ra do io do dica pital Federal. PAULA, Dilma Andrade de. Fi i 
| extinção de ramais da Estrada de Ferro Le i eso Ei inção s opoldina, 1955-1974. Tes istóri 
Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. p. d de (Doutorado em História) - 
139
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Nota
sindicalismo reformista
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
 
e demonstrando estar inteiramente consolidada, a Liga Operár
ia publicou 
um manifesto “aos seus numerosos associados, a todos 
os operários e empre 
gados ferroviários e ao proletariado em geral”, em 
que expunha da seguinte 
forma os princípios classistas que a orientavam: 
Proletários! Não esmorecer nem um só momento 
na grande pugna pela con 
quista do pão e do direito, o momento não 
admite fraqueza nem vacilações 
Uni-vos, associai-vos! (...) Si sois operário r
ural ou industrial, ferroviário, do 
comércio, funcionário, ou enfim de qualquer classe 
dos desprotegidos que nao 
têm outros meios de vida senão a migalha mesquinha q
ue a título de venci 
mento vos atiram os felizes depositários da fortuna univer
sal, não podeis vaci 
lar, repetimos. (...) Camaradas: não somos revoluci
onários nem aconselhamos 
a violência, conhecemos bem o terreno em que pisamos e s
abemos (...) também 
que a destruição a ninguém aproveita, assim 
portanto, a nossa ação deve esti 
sempre dentro dos limites da lei e da ordem afim de 
evitar represálias, aprovci 
tando todos os recursos possíveis em proveito da nossa causa.
” 
Na perspectiva organizativa dos dirigentes da Liga
 Operária de Além 
Paraíba, portanto, a atuação sindical incisiva 
em defesa dos interesses da 
classe era pensada e praticada “dentro dos limites
 da lei e da ordem”, certa 
mente como forma de tentar preservar ao máximo os s
eus associados, no 
curso movimento reivindicatório que estavam inic
iando, das “represálias” 
e da “destruição” que o patronato, especialment
e a diretoria da Leopoldina 
Railway, e os agentes da polícia impunham sem pi
edade contra aqueles que 
ousavam organizar seus companheiros de trabalho 
para lutar “pela conquista 
do pão e do direito”. Orientada por princípios 
semelhantes, a União dos 
Empregados da Leopoldina realizou, no dia 5 d
e março de 1920, no subúrbio 
carioca de Olaria, a assembleia de sua instalação def
initiva.” Nessa reunião 
proletária, que contou, inclusive, com a presença d
e Maurício de Lacerda e de 
representantes da Liga Operária, trezentos sócios da 
UEL, em meio a discur 
sos e aplausos em prol da união da classe contra a expl
oração inglesa, referen 
daram a 1º diretoria da União e os seus estat
utos, bem como deram o seu aval 
a uma pauta de reivindicações bastante abrangente 
e consistente.* De acordo 
 
 
12 A Liga Operária de Além Paraíba, contava já co
m 1.600 associados, a maior parte ferroviá 
e dizia que aceitava “sócios em todas as localidades servidas pela 
Leopoldina Railway, pode 
constituir filial em todo lugar onde tiver mais de 2
5 associados”, como ocorreu em Cataguusen 
(MG), Cachoeira (RJ) e Macaé (RJ). Voz do Povo. R
io de Janeiro, 28 de fevereiro de 1920, p. 2. 
13 A UEL foi fundada em 2 de janeiro de 1920, com 
o objetivo de “tratar de tudo que diz respeito à 
vida dos empregados, quer em suas relações com a 
sociedade, quer com a companhia, a quem 
dedicam o melhor de seus esforços”, “União dos E
mpregados da Leopoldina” em BATALHA, 
2009, p. 267; Voz do Povo. Rio de Janeiro, 6 de março de 192
0, p. 2. 
14 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 19
20, p. 2. 
140 
 
 
com Glaucia Fraccaro, tal pauta representava um verdadeiro e 
inédito “pro- 
grama de reivindicações dos ferroviários” à The Leopoldina Railway 
Company 
Ltd., no qual esses trabalhadores afirmavam que: 
Os vencimentos recebidos não eram equitativos nem suficie
ntes para a existência; 
as jornadas de trabalho eram exaustivas; (...) a Companhia despreza
va toda sorte 
de reclamações, não havia nenhum tipo de garantia e os funcioná
rios sempre 
estiveram à mercê das decisões da Companhia; (...) as oficinas não
 apresentavam 
a menor condição de higiene. (...) Solicitavam, então, aume
nto dos vencimentos, 
mudanças no pagamento dos aprendizes, fim dos trabalhos aos d
omingos, paga- 
mento dobrado para as horas extraordinárias e efetivação depois 
de seis meses de 
trabalho. Ainda reivindicavam que a Companhia justificasse à L
iga a demissão 
dos funcionários e o fim da suspensão por tempo indeterminado,
 além de um 
fiscal de higiene em cada oficina e a contratação de mais trabalhad
ores.” 
A diretoria da Leopoldina Railway, menosprezandocomple
tamente a 
necessidade de estabelecer o diálogo com seus funcionários, 
preferiu apos- 
“tar no confrontou e direcionou seus esforços muito ma
is para obter junto 
ao governo Epitácio Pessoa, segundo O Paiz, “as providências
 que tomará a 
nossa polícia para garantir as linhas e mais instalações da Leop
oldina dentro 
do Distrito Federal, caso a greve se verifique” Os líderes da L
iga Operária e 
da União dos Empregados da Leopoldina, por sua vez, intensif
icaram a mobi- 
lização junto às suas bases sindicais, tanto em função do silênci
o completo da 
empresa em face da pauta de reivindicações apresentada quanto
 por conta da 
tentativa das autoridades federais em fazer com que os ferroviá
rios adiassem 
por pelo menos mais trinta dias a data que marcaram para a 
deflagração de 
uma greve geral na ferrovia — o dia 15 de março de 1920.” Nas 
assembleias rea- 
izadas em Além Paraíba e Olaria nos três dias que antecederam
 tal data, por 
nseguinte, esses trabalhadores reforçaram a sua unidade de 
classe e deci- 
diram coletivamente fazer frente às “explorações torpes a q
ue à Leopoldina 
FRACCARO, Gláucia Cristina C. Morigerados e revoltados: 
trabalho e organização de Ferroviários 
da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-192
0). Dissertação (Mestrado em História) - 
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. p. 106-
107. 
Em 1920, na Capital Federal, a companhia inglesa operava
 o transporte de cargas € passageiros, 
servindo regiões então conhecidas como “os subúrbios da
 Leopoldina”, por meio da “Linha do 
Norte”, cujos trilhos e estações correspondem hoje, aprox
imadamente, ao “Ramal Saracuruna” 
da SuperVia, especialmente entre as atuais estações de Tr
iagem e Vigário Geral. O Paiz. Rio de 
Janeiro, 14 de março de 1920, p. 4. 
Ao jornal Gazeta de Notícias, José Cavalcante, presidente d
a UEL, foi enfático em relação à dispo- 
sição de seus companheiros: “A União não aceitará acordo
 de nenhuma espécie. A companhia, 
antes de tudo, terá que atender as reclamações tanto da 
União como da Liga, (...) e, só depois 
de satisfeitas as reclamações, estaremos prontos a entrar 
em qualquer combinação” Gazeta de 
Notícias. Rio de Janeiro, 15 de março de 1920, p. 1
. 
141 
 
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
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Positivo
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e demonstrando estar inteiramente consolidada, a Liga Operár
ia publicou 
um manifesto “aos seus numerosos associados, a todos 
os operários e empre 
gados ferroviários e ao proletariado em geral”, em 
que expunha da seguinte 
forma os princípios classistas que a orientavam: 
Proletários! Não esmorecer nem um só momento 
na grande pugna pela con 
quista do pão e do direito, o momento não 
admite fraqueza nem vacilações 
Uni-vos, associai-vos! (...) Si sois operário r
ural ou industrial, ferroviário, do 
comércio, funcionário, ou enfim de qualquer classe 
dos desprotegidos que nao 
têm outros meios de vida senão a migalha mesquinha q
ue a título de venci 
mento vos atiram os felizes depositários da fortuna univer
sal, não podeis vaci 
lar, repetimos. (...) Camaradas: não somos revoluci
onários nem aconselhamos 
a violência, conhecemos bem o terreno em que pisamos e s
abemos (...) também 
que a destruição a ninguém aproveita, assim 
portanto, a nossa ação deve esti 
sempre dentro dos limites da lei e da ordem afim de 
evitar represálias, aprovci 
tando todos os recursos possíveis em proveito da nossa causa.
” 
Na perspectiva organizativa dos dirigentes da Liga
 Operária de Além 
Paraíba, portanto, a atuação sindical incisiva 
em defesa dos interesses da 
classe era pensada e praticada “dentro dos limites
 da lei e da ordem”, certa 
mente como forma de tentar preservar ao máximo os s
eus associados, no 
curso movimento reivindicatório que estavam inic
iando, das “represálias” 
e da “destruição” que o patronato, especialment
e a diretoria da Leopoldina 
Railway, e os agentes da polícia impunham sem pi
edade contra aqueles que 
ousavam organizar seus companheiros de trabalho 
para lutar “pela conquista 
do pão e do direito”. Orientada por princípios 
semelhantes, a União dos 
Empregados da Leopoldina realizou, no dia 5 d
e março de 1920, no subúrbio 
carioca de Olaria, a assembleia de sua instalação def
initiva.” Nessa reunião 
proletária, que contou, inclusive, com a presença d
e Maurício de Lacerda e de 
representantes da Liga Operária, trezentos sócios da 
UEL, em meio a discur 
sos e aplausos em prol da união da classe contra a expl
oração inglesa, referen 
daram a 1º diretoria da União e os seus estat
utos, bem como deram o seu aval 
a uma pauta de reivindicações bastante abrangente 
e consistente.* De acordo 
 
 
12 A Liga Operária de Além Paraíba, contava já co
m 1.600 associados, a maior parte ferroviá 
e dizia que aceitava “sócios em todas as localidades servidas pela 
Leopoldina Railway, pode 
constituir filial em todo lugar onde tiver mais de 2
5 associados”, como ocorreu em Cataguusen 
(MG), Cachoeira (RJ) e Macaé (RJ). Voz do Povo. R
io de Janeiro, 28 de fevereiro de 1920, p. 2. 
13 A UEL foi fundada em 2 de janeiro de 1920, com 
o objetivo de “tratar de tudo que diz respeito à 
vida dos empregados, quer em suas relações com a 
sociedade, quer com a companhia, a quem 
dedicam o melhor de seus esforços”, “União dos E
mpregados da Leopoldina” em BATALHA, 
2009, p. 267; Voz do Povo. Rio de Janeiro, 6 de março de 192
0, p. 2. 
14 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 19
20, p. 2. 
140 
 
 
com Glaucia Fraccaro, tal pauta representava um verdadeiro e 
inédito “pro- 
grama de reivindicações dos ferroviários” à The Leopoldina Railway 
Company 
Ltd., no qual esses trabalhadores afirmavam que: 
Os vencimentos recebidos não eram equitativos nem suficie
ntes para a existência; 
as jornadas de trabalho eram exaustivas; (...) a Companhia despreza
va toda sorte 
de reclamações, não havia nenhum tipo de garantia e os funcioná
rios sempre 
estiveram à mercê das decisões da Companhia; (...) as oficinas não
 apresentavam 
a menor condição de higiene. (...) Solicitavam, então, aume
nto dos vencimentos, 
mudanças no pagamento dos aprendizes, fim dos trabalhos aos d
omingos, paga- 
mento dobrado para as horas extraordinárias e efetivação depois 
de seis meses de 
trabalho. Ainda reivindicavam que a Companhia justificasse à L
iga a demissão 
dos funcionários e o fim da suspensão por tempo indeterminado,
 além de um 
fiscal de higiene em cada oficina e a contratação de mais trabalhad
ores.” 
A diretoria da Leopoldina Railway, menosprezando comple
tamente a 
necessidade de estabelecer o diálogo com seus funcionários, 
preferiu apos- 
“tar no confrontou e direcionou seus esforços muito ma
is para obter junto 
ao governo Epitácio Pessoa, segundo O Paiz, “as providências
 que tomará a 
nossa polícia para garantir as linhas e mais instalações da Leop
oldina dentro 
do Distrito Federal, caso a greve se verifique” Os líderes da L
iga Operária e 
da União dos Empregados da Leopoldina, por sua vez, intensif
icaram a mobi- 
lização junto às suas bases sindicais, tanto em função do silênci
o completo da 
empresa em face da pauta de reivindicações apresentada quanto
 por conta da 
tentativa das autoridades federais em fazer com que os ferroviá
rios adiassem 
por pelo menos mais trinta dias a data que marcaram para a 
deflagração de 
uma greve geral na ferrovia — o dia 15 de março de 1920.” Nas 
assembleias rea- 
izadas em Além Paraíba e Olaria nos três dias que antecederam
 tal data, por 
nseguinte, esses trabalhadores reforçaram a sua unidade de 
classe e deci- 
diram coletivamente fazer frente às “explorações torpes a q
ue à Leopoldina 
FRACCARO, Gláucia Cristina C. Morigerados e revoltados: 
trabalho e organização de Ferroviários 
da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-192
0). Dissertação (Mestrado em História) - 
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. p. 106-
107. 
Em 1920, na Capital Federal, a companhiainglesa operava
 o transporte de cargas € passageiros, 
servindo regiões então conhecidas como “os subúrbios da
 Leopoldina”, por meio da “Linha do 
Norte”, cujos trilhos e estações correspondem hoje, aprox
imadamente, ao “Ramal Saracuruna” 
da SuperVia, especialmente entre as atuais estações de Tr
iagem e Vigário Geral. O Paiz. Rio de 
Janeiro, 14 de março de 1920, p. 4. 
Ao jornal Gazeta de Notícias, José Cavalcante, presidente d
a UEL, foi enfático em relação à dispo- 
sição de seus companheiros: “A União não aceitará acordo
 de nenhuma espécie. A companhia, 
antes de tudo, terá que atender as reclamações tanto da 
União como da Liga, (...) e, só depois 
de satisfeitas as reclamações, estaremos prontos a entrar 
em qualquer combinação” Gazeta de 
Notícias. Rio de Janeiro, 15 de março de 1920, p. 1
. 
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Positivo
Realce
Positivo
Realce
 
 
sujeita seus empregados”, anunciando que
 iriam abandonar “o serviço ime- 
diatamente, conservando-se em atitude pa
cífica, desde que nenhuma injus- 
» 8 
tiça seja feita aos empregados . 
ECLODE A GREVE NA LEOPOLDINA RAILWAY:
 
O APOIO DA IMPRENSA E DA POPULAÇÃO DOS
 SUBÚRBIOS 
Os empregados da Leopoldina, convencido
s do direito que lhes assiste, decla 
raram-se ontem em greve, ficando, assim, 
na sua quase totalidade, suspenso o 
tráfego daquela via-férrea. Ninguém pode de
ixar de reconhecer que esses movi 
mentos paredistas causam sempre prej
uízo enorme à coletividade. Mas, que 
se 
há de fazer? Os empregados da Leopoldina
 não exigem nenhum absurdo; eles 
não reclamam para si vantagens excepc
ionais. (...) Eles se contentam com um
 
pequeno aumento de salários, o que não rep
resenta nada quando se atenta em 
que os empregados das vias-férreas da Uni
ão têm montepio, trabalham oito 
horas por dia, gozam folga semanal e podem
 entrar em uso de licença. (...) A 
verdade é que (...) não podem continuar à 
viver como vivem, com ordenados 
parcos e mesquinhos. E essa greve é a afir
mação de que eles estão dispostos à 
fazer valer os seus direitos, atitude essa que m
erece OS nossos aplausos.” 
Deflagrada no dia 15 de março de 1920, uma
 segunda-feira, a greve dos 
operários da Leopoldina Railway desenvolveu-
se no transcurso dos treze dias 
seguintes enfrentando toda sorte de dificul
dades, tendo em vista a férrea 
determinação da empresa e do governo 
em quebrantar o movimento sem 
ao menos estabelecer uma negociação concre
ta com às associações represen 
tativas dos grevistas. Por mais justas e mesmo
 modestas que fossem as rei 
vindicações desses trabalhadores, como suge
re O trecho em epígrafe de um 
editorial da Gazeta de Notícias, os seus reco
rrentes clamores não foram, de 
modo algum, ouvidos e respondidos por se
us superiores hierárquicos, que 
se mantinham confiantes na eficácia dos tra
dicionais métodos de controle 
sobre o grande número de assalariados que ex
ploravam. Por conseguinte, foi 
sobretudo para a surpresa dos diretores dessa 
companhia que uma vigorosa 
parede operária se instalou, quase que si
multaneamente, em todas as esta 
ções, armazéns e oficinas espalhadas ao longo
 da extensa e intricada malha 
ferroviária da Leopoldina. 
A julgar pelas manchetes, fotografias e notícias 
estampadas em parte dos 
jornais cariocas no dia seguinte à sua deflagraç
ão, esse movimento paredista 
mostrou-se impressionante tanto por sua forç
a e extensão quanto pelo scu 
elevado grau de organização, disciplina e coesã
o, certamente como resultado 
——————————— 
18 A Razão. Rio de Janeiro, 13 de março de 
1920, p. 5. 
19 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 
16 de março de 1920, p. 1. 
142 
 
da irrupção de uma forte consciência classista no interior de uma categoria 
de trabalhadores submetida a explorações crescentes, mas que era, ao mesmo 
tempo, portadora de uma dinâmica profissional bastante complexa, com 
larga experiência em relação ao controle do tempo e a execução constante 
de operações articuladas em distintos pontos de umas das mais importantes 
ferrovias da América do Sul. Refletindo sobre como aspectos centrais da dis- 
ciplinarização do trabalho em tal ramo capitalista desempenharam um papel 
ativo na formação de uma identidade de classe e de uma cultura de direitos 
no seio do operariado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, Andréa Casa Nova 
' Maia argumenta que, entre os anos 1930 e 1950, esses ferroviários mine
iros, 
viveram a experiência da transformação da percepção do tempo em seu co
n- 
dicionamento tecnológico, viveram a experiência da medição do tempo de seu 
trabalho como meio de exploração de sua mão de obra. Mas, com certeza
, não 
passaram por essa experiência passivamente. À disciplina do trabalho, rígida, 
severa, meticulosa, responderam lutando por seus direitos, responderam com 
resistência. (...) Os ferroviários começaram a lutar, não contra o tempo,
 mas 
acerca dele. Reivindicaram a redução das horas de trabalho, a melhoria das con- 
dições de trabalho e o próprio direito de receber seu pagamento em dia.” 
Numa perspectiva comparativa, parece-me que uma experiência trans- 
formadora semelhante se processou entre os operários da Leopoldina Railway 
naquele final de verão de 1920, em que esses homens que operavam diuturna- 
mente o tráfego nas extensas linhas da companhia britânica resolveram que já 
era tempo de suas reivindicações receberem a devida atenção. À esse respeito, 
o trecho a seguir dA Razão não poderia ser mais esclarecedor: 
Os senhores da Leopoldina ensinaram praticamente aos seus empregados que 
tempo é dinheiro, obrigando-os a trabalhar dentro de um horário superior 
às 
suas forças humanas, nunca lhes pagando os serviços extraordinários e red
u- 
zindo todos os meses a trinta dias para os diaristas. Agora eles lhes res
pondem ao 
pé da letra, suspendendo o trabalho por toda a parte e à data precisamente fixa
da, 
para não continuarem perdendo o seu tempo com os esforços não retribuídos.” 
A força de trabalho dessa empresa, segundo dados desencontrados dos 
ornais, seria composta então por oito a dez mil operários, que, na avaliação 
o Voz do Povo, pela primeira vez desde que a Leopoldina passou para o con- 
ole acionário de ingleses, “resolveram sair da passividade e da apatia em que 
achavam e proclamar bem alto o seu incontestável direito a um vi
ver digno 
MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas: história de ferro
vias e ferroviários de Minas. 
Belo Horizonte: Argumentum, 2009. p. 112. 
1 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p.1.
Positivo
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sujeita seus empregados”, anunciando que
 iriam abandonar “o serviço ime- 
diatamente, conservando-se em atitude pa
cífica, desde que nenhuma injus- 
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tiça seja feita aos empregados . 
ECLODE A GREVE NA LEOPOLDINA RAILWAY:
 
O APOIO DA IMPRENSA E DA POPULAÇÃO DOS
 SUBÚRBIOS 
Os empregados da Leopoldina, convencido
s do direito que lhes assiste, decla 
raram-se ontem em greve, ficando, assim, 
na sua quase totalidade, suspenso o 
tráfego daquela via-férrea. Ninguém pode de
ixar de reconhecer que esses movi 
mentos paredistas causam sempre prej
uízo enorme à coletividade. Mas, que 
se 
há de fazer? Os empregados da Leopoldina
 não exigem nenhum absurdo; eles 
não reclamam para si vantagens excepc
ionais. (...) Eles se contentam com um
 
pequeno aumento de salários, o que não rep
resenta nada quando se atenta em 
que os empregados das vias-férreas da Uni
ão têm montepio, trabalham oito 
horas por dia, gozam folga semanal e podem
 entrar em uso de licença. (...) A 
verdade é que (...) não podem continuar à 
viver como vivem, com ordenados 
parcos e mesquinhos. E essa greve é a afir
mação de que eles estão dispostos à 
fazer valer os seus direitos, atitude essa que m
erece OS nossos aplausos.” 
Deflagrada no dia 15 de março de 1920, uma
 segunda-feira, agreve dos 
operários da Leopoldina Railway desenvolveu-
se no transcurso dos treze dias 
seguintes enfrentando toda sorte de dificul
dades, tendo em vista a férrea 
determinação da empresa e do governo 
em quebrantar o movimento sem 
ao menos estabelecer uma negociação concre
ta com às associações represen 
tativas dos grevistas. Por mais justas e mesmo
 modestas que fossem as rei 
vindicações desses trabalhadores, como suge
re O trecho em epígrafe de um 
editorial da Gazeta de Notícias, os seus reco
rrentes clamores não foram, de 
modo algum, ouvidos e respondidos por se
us superiores hierárquicos, que 
se mantinham confiantes na eficácia dos tra
dicionais métodos de controle 
sobre o grande número de assalariados que ex
ploravam. Por conseguinte, foi 
sobretudo para a surpresa dos diretores dessa 
companhia que uma vigorosa 
parede operária se instalou, quase que si
multaneamente, em todas as esta 
ções, armazéns e oficinas espalhadas ao longo
 da extensa e intricada malha 
ferroviária da Leopoldina. 
A julgar pelas manchetes, fotografias e notícias 
estampadas em parte dos 
jornais cariocas no dia seguinte à sua deflagraç
ão, esse movimento paredista 
mostrou-se impressionante tanto por sua forç
a e extensão quanto pelo scu 
elevado grau de organização, disciplina e coesã
o, certamente como resultado 
——————————— 
18 A Razão. Rio de Janeiro, 13 de março de 
1920, p. 5. 
19 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 
16 de março de 1920, p. 1. 
142 
 
da irrupção de uma forte consciência classista no interior de uma categoria 
de trabalhadores submetida a explorações crescentes, mas que era, ao mesmo 
tempo, portadora de uma dinâmica profissional bastante complexa, com 
larga experiência em relação ao controle do tempo e a execução constante 
de operações articuladas em distintos pontos de umas das mais importantes 
ferrovias da América do Sul. Refletindo sobre como aspectos centrais da dis- 
ciplinarização do trabalho em tal ramo capitalista desempenharam um papel 
ativo na formação de uma identidade de classe e de uma cultura de direitos 
no seio do operariado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, Andréa Casa Nova 
' Maia argumenta que, entre os anos 1930 e 1950, esses ferroviários mine
iros, 
viveram a experiência da transformação da percepção do tempo em seu co
n- 
dicionamento tecnológico, viveram a experiência da medição do tempo de seu 
trabalho como meio de exploração de sua mão de obra. Mas, com certeza
, não 
passaram por essa experiência passivamente. À disciplina do trabalho, rígida, 
severa, meticulosa, responderam lutando por seus direitos, responderam com 
resistência. (...) Os ferroviários começaram a lutar, não contra o tempo,
 mas 
acerca dele. Reivindicaram a redução das horas de trabalho, a melhoria das con- 
dições de trabalho e o próprio direito de receber seu pagamento em dia.” 
Numa perspectiva comparativa, parece-me que uma experiência trans- 
formadora semelhante se processou entre os operários da Leopoldina Railway 
naquele final de verão de 1920, em que esses homens que operavam diuturna- 
mente o tráfego nas extensas linhas da companhia britânica resolveram que já 
era tempo de suas reivindicações receberem a devida atenção. À esse respeito, 
o trecho a seguir dA Razão não poderia ser mais esclarecedor: 
Os senhores da Leopoldina ensinaram praticamente aos seus empregados que 
tempo é dinheiro, obrigando-os a trabalhar dentro de um horário superior 
às 
suas forças humanas, nunca lhes pagando os serviços extraordinários e red
u- 
zindo todos os meses a trinta dias para os diaristas. Agora eles lhes res
pondem ao 
pé da letra, suspendendo o trabalho por toda a parte e à data precisamente fixa
da, 
para não continuarem perdendo o seu tempo com os esforços não retribuídos.” 
A força de trabalho dessa empresa, segundo dados desencontrados dos 
ornais, seria composta então por oito a dez mil operários, que, na avaliação 
o Voz do Povo, pela primeira vez desde que a Leopoldina passou para o con- 
ole acionário de ingleses, “resolveram sair da passividade e da apatia em que 
achavam e proclamar bem alto o seu incontestável direito a um vi
ver digno 
MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas: história de ferro
vias e ferroviários de Minas. 
Belo Horizonte: Argumentum, 2009. p. 112. 
1 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p.1.
Positivo
Realce
Positivo
Realce
Positivo
Realce
 
e feliz”, lunçando-se “galhardamente em greve”, Cabe destaque 
que, embora 
fossem muitos os rumores de eclosão de uma greve na Leopold
ina, nas pri 
meiras horas daquela segunda-feira, 15 de março, como de cost
ume, milha- 
res de trabalhadores embarcaram nas estações suburbanas rumo 
à garé da 
Praia Formosa, onde, por volta das seis horas, segundo ainda o ór
gão oficial 
da EERJ, “os trens procedentes de Petrópolis e subúrbios despejava
m verda 
deiras ondas de povo”. O burburinho acerca da possibilidade da ecl
osão de 
uma greve no começo da tarde, que cedo tomou conta dos vag
ões repletos 
de passageiros, se tornava uma quase certeza no mome
nto do desembarque 
na zona portuária, onde, a despeito do forte policiamento instalado 
desde a 
madrugada, “boletins manuscritos passavam de mão em mão an
imando o 
pessoal da Leopoldina” ao movimento grevista.*” 
As 14 horas em ponto, finalmente, de acordo com a Gazeta de Notícias, 
a anunciada greve na Leopoldina Railway foi deflagrada e “os trens 
que cir 
culavam nos subúrbios começaram a parar, tendo os agentes
 das estações 
abandonado o serviço” e entregado suas respectivas estações “as autori
dades 
policiais, que as guarneceram com forças embaladas”? A partir de co
mandos 
enviados por telégrafo de Além Paraíba e de Olaria, processou-se o f
echa: 
mento simultâneo de todas as estações de cidades interioranas e também
 das 
localizadas na Capital Federal - a saber, Praia Formosa, Triagem, A
morim, 
Bonsucesso, Ramos, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas, 
Vigário 
Geral e Meriti - e a paralisação imediata de todos os comboios ferr
oviários 
em tráfego, que acabaram bloqueando as vias férreas em pontos estr
atégicos 
no horário marcado.” Desse modo, sob a liderança das recém-formada
s Liga 
Operária de Além Paraíba e União dos Empregados da Leopoldina, esse
s tra 
balhadores desencadearam um movimento de fato muito concatena
do, cuja 
força e rapidez de instalação foi também realçada pelos experie
ntes redatores 
do Voz do Povo, se referindo de modo especial ao que ocorreu nas 
estações 
suburbanas dessa ferrovia na cidade do Rio de Janeiro: 
 
 
»2 Localizada numa área hoje próxima ao Terminal Rodoviário No
vo Rio, a estação da 
Formosa foi inaugurada em 1909, e até fins de 1926, quando a es
tação Barão de Mauá entrou 
em operação, era o principal ponto de embarque e desembarque 
de passageiros e cargas du 
Leopoldina Railway na Capital Federal. Na manhã de 15/03/1920, segu
ndo o Voz do Povo, aquela 
parecia uma “praça de guerra”, pois encontrava-se guarnecida 
por 80 praças de infantaria e qo 
de cavalaria. Ver Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 
1920, p. 1; A Razão. Rio de Janeiro, 
16 de março de 1920, p. 7; e “Praia Formosa”. Estações ferroviárias 
do Brasil. Disponíve 
<http:// www.estacoesferroviarias.com.br/
efl rj petropolis/praiaformosa.htm>. Acesso em: 14 
de março de 2017. 
 
23 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920,
 p. 1. 
24 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1 e 17 de m
arço de 1920, p.1€ 7. 
144 
 
Excedeu a nossa expectativa o procedimento decid
ido dos agentes e emprega: 
dos de estações da Linha do Norte: às duas horas 
em ponto suspendeu-se o 
serviço, expediram-se os telegramas € lacraram-se os
 cofres, armários e arma- 
zéns, entregando-se as chaves à polícia. Logo q
ue isso sucedeu, tiveram os trens 
em marcha ordem terminante de paralisação. Mu
ito comboios ficaramem meio 
caminho, abandonados, enquanto alguns outros
 lograram alcançar as estações 
mais próximas, onde se imobilizaram.” 
Esse relato do Voz do Povo sobre a forma rápida e or
ganizada de deflagra- 
ção do movimento, cumpre realçar, coincide com 
todas as informações a res- 
peito publicadas pela Gazeta de Notícias e A Ra
zão, periódicos que dedicaram 
também ao primeiro dia dessa greve uma cobertu
ra relevante - com man- 
chetes de capa, editoriais contundentes, textos ext
ensos € muitas fotografias, 
incluindo flagrantes de grupos de grevistas, popular
es e policiais nas estações, 
além de locomotivas e comboios ferroviários parad
os em pontos distintos da 
Linha do Norte. Atestando a enorme reperc
ussão social alcançada por esse 
movimento paredista desde o seu início, em frent
e a todas as redações dos 
principais órgãos de imprensa da Capital Federal
 foram afixados placares 
com notícias sobre o “movimento dos há tanto tempo
 espoliados e humilha- 
dos”, como o colocado diante do jornal A Razão, 
na rua da Quitanda, onde 
naquele incomum 15 de março, segundo seu red
atores, “sempre foi enorme 
a massa de povo que se agrupava comentando 
com apaixonado interesse a 
226 
causa dos grevistas . 
Nos demais dias daquela semana, todas as estaçõe
s da Linha do Norte e 
suas respectivas dependências (escritórios,
 oficinas e armazéns) permanece- 
ram praticamente inoperantes, desprovidas 
da quase totalidade de seus habi- 
tuais funcionários, como atestam às rondas diá
rias que os jornais aqui men- 
cionados fizeram nas garés central e suburbanas 
da Leopoldina no Distrito 
Federal. A greve estava instalada e assentada em bas
es sólidas, preservando-se 
me, coesa e sem registro algum de que seus líderes 
e participantes tenham 
»romovido atos de violência ou depredações de
 patrimônio de qualquer 
natureza, tanto nos seus primeiros dias q
uanto em seus instantes finais, entre 
27 e 28 de março de 1920. 
No entanto, desde os momentos iniciais desse mov
imento paredista, um 
clima de expectativa, tensão e insegurança se
 estabeleceu não apenas entre 
os ferroviários como também entre os habitantes
 das extensas áreas subur- 
banas atendidas pelos trilhos e estações da Leopo
ldina Railway. Esse cenário 
'25 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de
 março de 1920, p. 1. 
26 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de ma
rço de 1920, p. 1. 
TO
Positivo
Realce
 
e feliz”, lunçando-se “galhardamente em greve”, Cabe destaque 
que, embora 
fossem muitos os rumores de eclosão de uma greve na Leopold
ina, nas pri 
meiras horas daquela segunda-feira, 15 de março, como de cost
ume, milha- 
res de trabalhadores embarcaram nas estações suburbanas rumo 
à garé da 
Praia Formosa, onde, por volta das seis horas, segundo ainda o ór
gão oficial 
da EERJ, “os trens procedentes de Petrópolis e subúrbios despejava
m verda 
deiras ondas de povo”. O burburinho acerca da possibilidade da ecl
osão de 
uma greve no começo da tarde, que cedo tomou conta dos vag
ões repletos 
de passageiros, se tornava uma quase certeza no mome
nto do desembarque 
na zona portuária, onde, a despeito do forte policiamento instalado 
desde a 
madrugada, “boletins manuscritos passavam de mão em mão an
imando o 
pessoal da Leopoldina” ao movimento grevista.*” 
As 14 horas em ponto, finalmente, de acordo com a Gazeta de Notícias, 
a anunciada greve na Leopoldina Railway foi deflagrada e “os trens 
que cir 
culavam nos subúrbios começaram a parar, tendo os agentes
 das estações 
abandonado o serviço” e entregado suas respectivas estações “as autori
dades 
policiais, que as guarneceram com forças embaladas”? A partir de co
mandos 
enviados por telégrafo de Além Paraíba e de Olaria, processou-se o f
echa: 
mento simultâneo de todas as estações de cidades interioranas e também
 das 
localizadas na Capital Federal - a saber, Praia Formosa, Triagem, A
morim, 
Bonsucesso, Ramos, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas, 
Vigário 
Geral e Meriti - e a paralisação imediata de todos os comboios ferr
oviários 
em tráfego, que acabaram bloqueando as vias férreas em pontos estr
atégicos 
no horário marcado.” Desse modo, sob a liderança das recém-formada
s Liga 
Operária de Além Paraíba e União dos Empregados da Leopoldina, esse
s tra 
balhadores desencadearam um movimento de fato muito concatena
do, cuja 
força e rapidez de instalação foi também realçada pelos experie
ntes redatores 
do Voz do Povo, se referindo de modo especial ao que ocorreu nas 
estações 
suburbanas dessa ferrovia na cidade do Rio de Janeiro: 
 
 
»2 Localizada numa área hoje próxima ao Terminal Rodoviário No
vo Rio, a estação da 
Formosa foi inaugurada em 1909, e até fins de 1926, quando a es
tação Barão de Mauá entrou 
em operação, era o principal ponto de embarque e desembarque 
de passageiros e cargas du 
Leopoldina Railway na Capital Federal. Na manhã de 15/03/1920, segu
ndo o Voz do Povo, aquela 
parecia uma “praça de guerra”, pois encontrava-se guarnecida 
por 80 praças de infantaria e qo 
de cavalaria. Ver Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 
1920, p. 1; A Razão. Rio de Janeiro, 
16 de março de 1920, p. 7; e “Praia Formosa”. Estações ferroviárias 
do Brasil. Disponíve 
<http:// www.estacoesferroviarias.com.br/
efl rj petropolis/praiaformosa.htm>. Acesso em: 14 
de março de 2017. 
 
23 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920,
 p. 1. 
24 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1 e 17 de m
arço de 1920, p.1€ 7. 
144 
 
Excedeu a nossa expectativa o procedimento decid
ido dos agentes e emprega: 
dos de estações da Linha do Norte: às duas horas 
em ponto suspendeu-se o 
serviço, expediram-se os telegramas € lacraram-se os
 cofres, armários e arma- 
zéns, entregando-se as chaves à polícia. Logo q
ue isso sucedeu, tiveram os trens 
em marcha ordem terminante de paralisação. Mu
ito comboios ficaram em meio 
caminho, abandonados, enquanto alguns outros
 lograram alcançar as estações 
mais próximas, onde se imobilizaram.” 
Esse relato do Voz do Povo sobre a forma rápida e or
ganizada de deflagra- 
ção do movimento, cumpre realçar, coincide com 
todas as informações a res- 
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também ao primeiro dia dessa greve uma cobertu
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incluindo flagrantes de grupos de grevistas, popular
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além de locomotivas e comboios ferroviários parad
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Linha do Norte. Atestando a enorme reperc
ussão social alcançada por esse 
movimento paredista desde o seu início, em frent
e a todas as redações dos 
principais órgãos de imprensa da Capital Federal
 foram afixados placares 
com notícias sobre o “movimento dos há tanto tempo
 espoliados e humilha- 
dos”, como o colocado diante do jornal A Razão, 
na rua da Quitanda, onde 
naquele incomum 15 de março, segundo seu red
atores, “sempre foi enorme 
a massa de povo que se agrupava comentando 
com apaixonado interesse a 
226 
causa dos grevistas . 
Nos demais dias daquela semana, todas as estaçõe
s da Linha do Norte e 
suas respectivas dependências (escritórios,
 oficinas e armazéns) permanece- 
ram praticamente inoperantes, desprovidas 
da quase totalidade de seus habi- 
tuais funcionários, como atestam às rondas diá
rias que os jornais aqui men- 
cionados fizeram nas garés central e suburbanas 
da Leopoldina no Distrito 
Federal. A greve estava instalada e assentada em bas
es sólidas, preservando-se 
me, coesa e sem registro algum de que seus líderes 
e participantes tenham 
»romovido atos de violência ou depredações de
 patrimônio de qualquer 
natureza, tanto nos seus primeiros dias q
uanto em seus instantes finais, entre 
27 e 28 de março de 1920. 
No entanto, desde os momentos iniciais desse mov
imento paredista, um 
clima de expectativa, tensão e insegurançase
 estabeleceu não apenas entre 
os ferroviários como também entre os habitantes
 das extensas áreas subur- 
banas atendidas pelos trilhos e estações da Leopo
ldina Railway. Esse cenário 
'25 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de
 março de 1920, p. 1. 
26 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de ma
rço de 1920, p. 1. 
TO
Positivo
Realce
 
 
 
 
de intranquilidade pode ser atribuído, em grand
e medida, às ações adotadas 
pelas autoridades governamentais e os diretores da f
errovia em tal contexto. A 
análise do noticiário sobre essas ações, como 
demonstrarei a seguir, revela que 
a enorme preocupação do governo com à prese
rvação da “ordem pública” e 
dos “bens da companhia” esteve inteiramente art
iculada com a determinação 
férrea da empresa inglesa em restabelecer o tráf
ego na Linha do Norte como 
forma de desacreditar, sufocar e pôr termo à pared
e em curso sem estabelecer 
qualquer negociação com os seus empregados e
m greve. 
A ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO DOS FERROVIÁRIOS
, 
A INTRANSIGÊNCIA PATRONAL E A REPRESSÃO PO
LICIAL 
Ao Povo - Avisa-se ao público, principalmente
 às famílias residentes nos 
subúrbios, que não se devem aventurar nos trens 
que, de quando em quando, a 
Leopoldina faz trafegar nas suas linhas. Esses trens 
são guiados por graxeiros que 
a ganância dos ingleses arvorou em maquinistas, sob 
a proteção da polícia que, 
como sempre, está a serviço dos capitalistas con
tra o proletariado e o público 
em geral. Não há sinais, nem luzes, nem agulha
s; os trens correm em uma só 
linha; os pontilhões não são examinados; viajar
 na Leopoldina é o maior dos 
perigos! Os desastres se sucedem! Felizmente at
é agora sem consequências. No 
entanto, a desorganização dos trabalhos, quase a
nulados completamente, trará 
com certeza encontros, descarrilamentos e desas
tres pavorosos. Previna-se às 
famílias para que se precavenham contra essa ar
madilha arranjada pelos ingle 
ses ladravazes, sob a proteção de uma polícia coloc
ada pelo governo a serviço de 
estrangeiros exploradores. — À Comissão.” 
As linhas gerais dessa articulação entre O Estad
o e a The Leopoldina 
Railway Company Ltd. denunciada com vigor 
na nota pública da comis 
são dos ferroviários em greve transcrita acima, 
ao que parece, foram traça 
das numa reunião realizada entre os ministro
s da Viação, Pires do Rio, e da 
Justiça, Alfredo Pinto, e Oscar Weinschenc
k, diretor da empresa inglesa, na 
mesma tarde em que o movimento paredista eclo
diu. Nesse encontro, ficou 
estabelecido que caberia à companhia, utilizando 
os empregados que não se 
encontrassem em greve, garantir o tráfego dos tre
ns “que servem ao opera 
riado dos subúrbios” e ligam o Rio de Janeiro à ci
dade de Petrópolis, onde se 
encontrava então, em vilegiatura, o presidente da Rep
ública, Epitácio Pessoa, 
Por sua vez, O titular do Ministério da Justiça as
severou aos jornalistas que 
“no caso de serem praticadas depredações no
s bens da companhia ou se por 
ventura houver qualquer perturbação da ordem 
pública”, o governo agiriu 
com prontidão e firmeza, pois O efetivo policial 
mobilizado estava “conve 
 
27 A Razão. Rio de Janeiro, 18 de março d
e 1920, p. 5. 
146 
 
nientemente aparelhado para jugular de pronto qu
alquer tentativa” de pro- 
moção de violências e desordens na Capital Fe
deral.” 
No que se refere à manutenção da “ordem pública” 
e vigilância da movi- 
mentação popular nas regiões cortadas pelos trilh
os da Leopoldina, a ação 
do Estado durante a primeira semana da greve foi 
de fato bastante enérgica 
e ostensiva. Agindo sob as ordens diretas do m
inistro da Justiça e em estreita 
sintonia com a diretoria da Leopoldina Railway, o c
hefe da Polícia do Rio de 
Janeiro e os delegados do 10º e 22º distritos policia
is coordenaram pessoal- 
mente o emprego diário de um grande contingent
e de praças de cavalaria 
e infantaria, agentes do Corpo de Segurança e guar
das municipais — efetivo 
| policial este estimado em cerca de quinhentos hom
ens, que tiveram, inclu- 
sive, ajuda de custo para alimentação paga pela 
companhia britânica, após 
'uma solicitação do governo nesse sentido.” 
Mas o chefe da polícia, Geminiano França, e seus aux
iliares não se limi- 
am a colocar a força pública de prontidão e a acompan
har a guarda armada 
das estações, armazéns, oficinas e das várias c
omposições ferroviárias aban- 
tiveram também um papel ativo e determinante n
as diversas iniciativas da 
mpresa britânica para tentar quebrar a unidade dos 
grevistas e fazer com que 
b tráfego de trens na Linha do Norte não ficasse com
pletamente paralisado — 
eja prendendo de imediato qualquer um que fosse 
suspeito de fazer piquete 
bu discursar em favor da greve, seja forçando grax
eiros e foguistas a atuarem 
tomo maquinistas em comboios improvisados que part
iam de tempos em 
gmpos da estação da Praia Formosa ou ainda dest
acando grupos de solda- 
los fortemente armados para guarnecer tais combo
ios e escalando guardas 
municipais para cuidar da sinalização de linhas e do
 acionamento de chaves. 
Lançando mão dos recursos administrativos 
e mecanismos coercitivos 
ue dispunham, bem como valendo-se do providenci
al apoio das autoridades 
mblicas e da Ligth and Power, os diretores da Le
opoldina Railway continua- 
am apostando no confronto para manter, a todo 
transe, algum tráfego na 
“inha do Norte, mesmo sob riscos enormes de qu
e acidentes com vítimas 
icorressem.:º Ao mesmo tempo que deixaram tra
nsparecer para à imprensa 
A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 
O Paiz. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, 
p. 4 € 19 de março de 1920, p. 5. 
Nos primeiros dias da greve, além de utilizar fo
guistas e graxeiros que não aderiram à greve e 
deslocar auxiliares de seu escritório central para 
as estações, a Leopoldina recebeu o apoio tanto 
- da Light and Power, que enviou 40 funcionári
os para as garés suburbanas, quanto de guarda
 
-fios da Repartição dos Telégrafos e mecânico
s do Arsenal de Guerra da Marinha, cedido
s pelo 
Estado à ferrovia britânica para restabelecer os
 serviços de telégrafo e telefone e reparar loco 
147
Positivo
Realce
 
 
 
 
de intranquilidade pode ser atribuído, em grand
e medida, às ações adotadas 
pelas autoridades governamentais e os diretores da f
errovia em tal contexto. A 
análise do noticiário sobre essas ações, como 
demonstrarei a seguir, revela que 
a enorme preocupação do governo com à prese
rvação da “ordem pública” e 
dos “bens da companhia” esteve inteiramente art
iculada com a determinação 
férrea da empresa inglesa em restabelecer o tráf
ego na Linha do Norte como 
forma de desacreditar, sufocar e pôr termo à pared
e em curso sem estabelecer 
qualquer negociação com os seus empregados e
m greve. 
A ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO DOS FERROVIÁRIOS
, 
A INTRANSIGÊNCIA PATRONAL E A REPRESSÃO PO
LICIAL 
Ao Povo - Avisa-se ao público, principalmente
 às famílias residentes nos 
subúrbios, que não se devem aventurar nos trens 
que, de quando em quando, a 
Leopoldina faz trafegar nas suas linhas. Esses trens 
são guiados por graxeiros que 
a ganância dos ingleses arvorou em maquinistas, sob 
a proteção da polícia que, 
como sempre, está a serviço dos capitalistas con
tra o proletariado e o público 
em geral. Não há sinais, nem luzes, nem agulha
s; os trens correm em uma só 
linha; os pontilhões não são examinados; viajar
 na Leopoldina é o maior dos 
perigos! Os desastres se sucedem! Felizmente at
é agora sem consequências. No 
entanto, a desorganização dos trabalhos, quase a
nulados completamente, trará 
com certeza encontros, descarrilamentos e desas
tres pavorosos. Previna-se às 
famílias para que se precavenham contra essa ar
madilha arranjada pelos ingle 
ses ladravazes, sob a proteção de uma polícia coloc
ada pelo governo a serviço de 
estrangeiros exploradores. — À Comissão.” 
As linhas gerais dessa articulação entre O Estad
o e a TheLeopoldina 
Railway Company Ltd. denunciada com vigor 
na nota pública da comis 
são dos ferroviários em greve transcrita acima, 
ao que parece, foram traça 
das numa reunião realizada entre os ministro
s da Viação, Pires do Rio, e da 
Justiça, Alfredo Pinto, e Oscar Weinschenc
k, diretor da empresa inglesa, na 
mesma tarde em que o movimento paredista eclo
diu. Nesse encontro, ficou 
estabelecido que caberia à companhia, utilizando 
os empregados que não se 
encontrassem em greve, garantir o tráfego dos tre
ns “que servem ao opera 
riado dos subúrbios” e ligam o Rio de Janeiro à ci
dade de Petrópolis, onde se 
encontrava então, em vilegiatura, o presidente da Rep
ública, Epitácio Pessoa, 
Por sua vez, O titular do Ministério da Justiça as
severou aos jornalistas que 
“no caso de serem praticadas depredações no
s bens da companhia ou se por 
ventura houver qualquer perturbação da ordem 
pública”, o governo agiriu 
com prontidão e firmeza, pois O efetivo policial 
mobilizado estava “conve 
 
27 A Razão. Rio de Janeiro, 18 de março d
e 1920, p. 5. 
146 
 
nientemente aparelhado para jugular de pronto qu
alquer tentativa” de pro- 
moção de violências e desordens na Capital Fe
deral.” 
No que se refere à manutenção da “ordem pública” 
e vigilância da movi- 
mentação popular nas regiões cortadas pelos trilh
os da Leopoldina, a ação 
do Estado durante a primeira semana da greve foi 
de fato bastante enérgica 
e ostensiva. Agindo sob as ordens diretas do m
inistro da Justiça e em estreita 
sintonia com a diretoria da Leopoldina Railway, o c
hefe da Polícia do Rio de 
Janeiro e os delegados do 10º e 22º distritos policia
is coordenaram pessoal- 
mente o emprego diário de um grande contingent
e de praças de cavalaria 
e infantaria, agentes do Corpo de Segurança e guar
das municipais — efetivo 
| policial este estimado em cerca de quinhentos hom
ens, que tiveram, inclu- 
sive, ajuda de custo para alimentação paga pela 
companhia britânica, após 
'uma solicitação do governo nesse sentido.” 
Mas o chefe da polícia, Geminiano França, e seus aux
iliares não se limi- 
am a colocar a força pública de prontidão e a acompan
har a guarda armada 
das estações, armazéns, oficinas e das várias c
omposições ferroviárias aban- 
tiveram também um papel ativo e determinante n
as diversas iniciativas da 
mpresa britânica para tentar quebrar a unidade dos 
grevistas e fazer com que 
b tráfego de trens na Linha do Norte não ficasse com
pletamente paralisado — 
eja prendendo de imediato qualquer um que fosse 
suspeito de fazer piquete 
bu discursar em favor da greve, seja forçando grax
eiros e foguistas a atuarem 
tomo maquinistas em comboios improvisados que part
iam de tempos em 
gmpos da estação da Praia Formosa ou ainda dest
acando grupos de solda- 
los fortemente armados para guarnecer tais combo
ios e escalando guardas 
municipais para cuidar da sinalização de linhas e do
 acionamento de chaves. 
Lançando mão dos recursos administrativos 
e mecanismos coercitivos 
ue dispunham, bem como valendo-se do providenci
al apoio das autoridades 
mblicas e da Ligth and Power, os diretores da Le
opoldina Railway continua- 
am apostando no confronto para manter, a todo 
transe, algum tráfego na 
“inha do Norte, mesmo sob riscos enormes de qu
e acidentes com vítimas 
icorressem.:º Ao mesmo tempo que deixaram tra
nsparecer para à imprensa 
A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 
O Paiz. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, 
p. 4 € 19 de março de 1920, p. 5. 
Nos primeiros dias da greve, além de utilizar fo
guistas e graxeiros que não aderiram à greve e 
deslocar auxiliares de seu escritório central para 
as estações, a Leopoldina recebeu o apoio tanto 
- da Light and Power, que enviou 40 funcionári
os para as garés suburbanas, quanto de guarda
 
-fios da Repartição dos Telégrafos e mecânico
s do Arsenal de Guerra da Marinha, cedido
s pelo 
Estado à ferrovia britânica para restabelecer os
 serviços de telégrafo e telefone e reparar loco 
147
 
que muitos dos operários em greve não seriam mais readmitidos 
em seus 
postos na estrada de ferro, implementaram uma contratação em massa de 
novos trabalhadores, incorporando-os de imediato nos serviços de oper
ação 
de linha e nas estações dos subúrbios. A esse respeito, o Voz do Povo afirmou
 
que a Leopoldina contratou, entre os dias 16 a 19 de março de 1920, “quatro
- 
centas pessoas famintas e maltrapilhas”, desempregados de todo tipo, par
a 
ocupar “os lugares que até há seis dias eram dados depois de uma série de 
exigências descabidas, entre as quais não podiam faltar o atestado de conduta 
e o empenho político”” 
No entanto, os trens permaneciam parados em sua quase totalidade, 
tendo em vista a extraordinária coesão dos grevistas e a forte adesão alcançada 
por seu movimento pacífico entre os maquinistas da Leopoldina. De acordo 
com os relatos jornalísticos, as raras composições que circularam pela Linh
a 
do Norte durante a primeira semana dessa parede ferroviária partiam com 
muito atraso e com lotação irregular.” “Poucos passageiros, muitos soldados e 
pouca carga”, assim um repórter 'A Razão resumiu a situação que encontrou 
na manhã do dia 16 de março de 1920 na garé da Praia Formosa, onde altos 
funcionários da empresa britânica, visivelmente contrariados, tentavam, sem 
muito sucesso, organizar comboios para os subúrbios e para Petrópolis.” O 
quadro de paralisia geral dessa importante ferrovia, cumpre assinalar, não 
se alterou nem mesmo com a intensa mobilização oficial registrada em tal 
estação no dia seguinte, 17 de março, quando ali se reuniram os ministros 
de Epitácio Pessoa para embarcarem em trem especial com três carros de 
1º classe, conduzido por suboficiais da Marinha e sob forte escolta policial, 
rumo àquela cidade serrana.* 
 
motivas descarriladas na Penha e em Meriti. Ver A Razão. Rio de 
Janeiro, 17 de março de 1920, 
p. 7; Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 1; V
oz do Povo. Rio de Janeiro, 1/ 
de março de 1920, p. 1e O Paiz. Rio de Janeiro, 18 de março de 1920, p. 5. 
31 Jáa Gazeta de Notícias realçou que muitos dos desempregados que afluíam
 até a Praia Formou 
para tentar uma vaga “levavam até “pistolões de políticos que se interessa
vam por colocá-los” 
Voz do Povo. Rio de Janeiro, 20 de março de 1920, p. 1 e Gazeta de Notícias. Rio 
de Janeiro, 20 «dv 
março de 1920, p. 3. 
32 Cerca de 96 comboios circulavam por dia pela Linha do Norte, média 
que com a greve se redu 
ziu para 23 trens de passageiros, “dirigidos por quatro ou cinco foguistas elev
ados à qualidade de 
maquinistas” ou por suboficiais da Marinha. Voz do Povo. Rio de Janeiro, 17 de març
o de 1920. p 
1e 20 de março de 1920, p. 1. 
33 A Razão. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 7. 
 
34 Para viabilizar a viagem de trem dos ministros até Petrópolis e reforçar o pesso
al que a Leopol 
mantinha operando o tráfego da Linha do Norte, o governo cedeu à ferrovia 
foguistas e mecinl 
cos da Marinha, suboficiais do cruzador encouraçado Minas Gerais. Gazeta de 
Notícias. Rio de 
Janeiro,18 de março de 1920, p. 2. 
148 
 
A greve na Leopoldina Railway acabou 
se tornando um dos principais 
temas de uma reunião ministerial realiza
da então no Palácio Rio Negro, não 
s da companhia ferroviária estiveram p
resentes 
apenas porque dois diretore 
orrente dos acontecimentos” como 
para colocar “o dr. Epitácio Pessoa ao 
c 
também devido ao fato de que, no pe
rcurso até Petrópolis, como sugeriu 
a Gazeta de Notícias, os ministros acab
aram adquirindo “a noção exata da 
a naquela via férrea.” Ao final de tal e
ncon- 
tro, o ministro da Viação anunciou 
que seria criada uma comissão espe
cial 
para “estudar as pretensões dos grevista
s e propor os meios de atendê-los no 
sentantes do governo federal, dos estad
os de Minas 
britânica. Desse modo, mesmo mant
en- 
extensão

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