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A greve na Leopoldina Railway (março de 1920): lutas operárias entre negociações, conflitos sociais e repressão estatal Luís Eduardo de Oliveira São operários, andrajosa gente que a enfermidade inexorável mina e a miséria acorrenta, impenitente, aos horrores da vida na oficina. Na luta desigual que os extermina, cada um, reconhecendo-se impotente, une-se ao irmão, na ânsia supina, em solidariedade comovente. E unida, estuante, ao fulvo do sol da praça, Direito à vida! - exora a populaça. Pede mais pão a turba sofredora. E tem como resposta, nesse abalo, o argumento da pata de cavalo e as eloquências da metralhadora! Sylvio Figueiredo, Os grevistas, 1920. Jos primeiros meses de 1920, pressionados pelo agravamento da carestia e jnimados pela possibilidade de conquistarem direitos trabalhistas e sociais á muito demandados, os assalariados das mais diversas categorias profis- lonais do Rio de Janeiro, assim como de outros centros, retomaram rapi- jamente o caminho da organização e reivindicação. Foi exatamente o que torreu com os empregados da The Leopoldina Railway Company Ltd., que ksse contexto formaram associações classistas em pontos estratégicos dessa irrovia e articularam uma consistente pauta de reivindicações, fixando uma ita para o início de um movimento paredista, no caso de não serem aten- idos em suas solicitações. Em face da intransigência dos diretores da companhia britânica, uma eve vigorosa na Leopoldina Railway acabou eclodindo no dia 15 de março de Voz do Povo. Rio de Janeiro, 1º de março de 1920, p. 1. 135 1920, ocupando de forma surpreendente, a o longo de cerca de duas semanas, O centro das atenções do noticiário de importantes periódicos da então Capit al Eederal, como a Gazeta de Notícias, O Paiz e A Razão. Esse foi também o pri meiro movimento paredista de grande rep ercussão social que o recém-lançado Voz do Povo, órgão oficial da Federação do s Trabalhadores do Rio de Janeiro (E'VR]), retratou e apoiou em suas págin as durante todo o seu transcurso. A surpreendente movimentação classista na Leopoldina Railway, Cori procurarei demostrar ao longo deste capít ulo, pode ser considerada analitica mente como um evento-chave não apenas em razão de ter desaguado numa greve geral que paralisou a cidade do Rio de Janeiro entre 24 e 27 de março de 1920, dias em que a então capital do país foi transformada numa verdadeira “praça de guerra”. Em função da intensa c obertura jornalística que recebeu, essa parede ferroviária contribuiu ta mbém para expor ao grande público o quão comprometido estava O recém-iniciad o governo Epitácio Pessoa com à manutenção dos privilégios concedidos à s empresas estrangeiras que explo ravam então serviços estratégicos no Brasil. A UNIÃO DOS EMPREGADOS DA LE OPOLDINA E O CENÁRIO ASSOCIATIVO CARIOCA N O INÍCIO DE 1920 Os operários brasileiros estão atualmente em uma obra de organização deci siva. Como no passado, seus esforços são, po rém, perturbados ou anulados pelas intervenções violentas da ignorância ou da má fé política, (...) pela pressão poli cial. (...) Em tais condições, O trabalho de organização, além de arriscado, é de resultado imperfeito. (...) Todos os con selhos ao operariado devem se resum it nesta singela mas formidável expressão: “O rganizar. Organizar para destruir ou para reconstruir, mas organizar para ser u ma força e ser uma força para poder . A ” viver na sociedade contemporânea!”. Mauricio de Lacerda, O congresso operário.” No limiar de 1920, os trabalhadores carioca s e suas lideranças sindicais expe: rimentaram um novo momento de luta s classistas, revivendo, em muitos aspectos, as grandes jornadas reivind icatórias de 1917, 1918 e 1919, triênio em que não apenas no Rio de Janeiro como també m em São Paulo se processou o mais vigoroso conjunto de greves operárias já visto na Primeira República." Segundo Angela de Castro Gomes, a conjunt ura socioeconômica desses anos 2 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1920, p. 1. as greves, ver: VARGAS, João T. O trabalho na ordem 3 Sobre os significados políticos e sociais dess rab ção do Estado na Primeira República. Ca mpina liberal: o movimento operário e a const ru UNICGAMP/CMU, 2004. 116 | finais da década de 1910 configurou-se como extremamente difícil para os assalariados urbanos, que se viram então imersos num cenário de crise social, * que combinou “progresso econômico e tecnológico com aumento de pobreza e rebaixamento dos níveis de vida de grande parte da população”. De fato, a prosperidade e a bonança, nesses tempos de severa ortodoxia liberal, foram * desfrutadas apenas pelas tradicionais oligarquias, por empresas estrangeiras aqui instaladas e pela restrita elite industrial que se consolidava nos centros populacionais de maior relevo. Mas, a despeito de não terem sido suficientes para atenuar a grave rea- lidade vivenciada nos meios proletários, as intensas e ruidosas movimenta- ções classistas do período foram fundamentais tanto por acentuar a tendên- cia do operariado nacional em lutar por uma legislação trabalhista e social quanto para forçar a Câmara dos Deputados a discutir o projeto de Código 'de Trabalho formulado pelo deputado federal Maurício de Lacerda. Em fun- 'ção ainda da participação oficial do Brasil na conferência de instalação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizada em outubro de 1919, sm Washington, os temas vinculados ao problema operário suscitaram, então, debates públicos importantes, ocupando espaços crescentes nas páginas dos grandes jornais e renovando as expectativas por mudanças há muito deman- dadas pelos trabalhadores brasileiros. | As ações repressivas do Estado sobre os setores mais combativos do movimento operário, especialmente sobre aqueles vinculados ao sindica- ismo revolucionário, entretanto, prosseguiam com a mesma intensidade e irulência de antes. Everardo Dias, ao descrever a ofensiva policial pelo país os últimos meses de 1919, estabeleceu um quadro bastante eloquente sobre às dificuldades enfrentadas, então, pelos líderes do proletariado organizado: Foi esse um dos períodos cruciantes e verdadeiramente angustiosos passados pelos militantes em nosso país. As sedes das associações fechadas, móveis e utensílios removidos para os depósitos policiais, os livros de tendência socia- A significativa expansão das atividades industriais em todo o país durante a Grande Guerr a, segundo Angela de Castro Gomes, impôs aos mais pobres uma realidade marcada ainda ma is pela intensificação da exploração do trabalho, pelos baixos salários e pelo agravamento da car es- tia. GOMES, Angela de Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil (19 17- 1937). Rio de Janeiro: 7Letras, 2014. p. 78-79. Tal projeto do Código de Trabalho englobava, dentre outras medidas, o estabeleci mento da * jornada de 8 horas, a criação de Juntas de Arbitragem, a fixação das condições de trabalho das mulheres e menores nas fábricas e oficinas. No entanto, a ação regulatória do Estado sobre o mercado de trabalho restringiu-se então à sanção dos decretos n. 3.550/1918, que Departamento Nacional do Trabalho, e n. 3.724/1919, regulando as obrigações patrone tantes de “acidentes de trabalho” Ver MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindic ato único no Brasil (seus fundamentos sociológicos). São Paulo: Alfa-Ômega, 1978 . p. 197209. ” 147 Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce 1920, ocupando de forma surpreendente, a o longo de cerca de duas semanas, O centro das atenções do noticiário de importantes periódicos da então Capit al Eederal, como a Gazeta de Notícias, O Paiz e A Razão. Esse foi também o pri meiro movimento paredista de grande repercussão social que o recém-lançado Voz do Povo, órgão oficial da Federação do s Trabalhadores do Rio de Janeiro (E'VR]), retratou e apoiou em suas págin as durante todo o seu transcurso. A surpreendente movimentação classista na Leopoldina Railway, Cori procurarei demostrar ao longo deste capít ulo, pode ser considerada analitica mente como um evento-chave não apenas em razão de ter desaguado numa greve geral que paralisou a cidade do Rio de Janeiro entre 24 e 27 de março de 1920, dias em que a então capital do país foi transformada numa verdadeira “praça de guerra”. Em função da intensa c obertura jornalística que recebeu, essa parede ferroviária contribuiu ta mbém para expor ao grande público o quão comprometido estava O recém-iniciad o governo Epitácio Pessoa com à manutenção dos privilégios concedidos à s empresas estrangeiras que explo ravam então serviços estratégicos no Brasil. A UNIÃO DOS EMPREGADOS DA LE OPOLDINA E O CENÁRIO ASSOCIATIVO CARIOCA N O INÍCIO DE 1920 Os operários brasileiros estão atualmente em uma obra de organização deci siva. Como no passado, seus esforços são, po rém, perturbados ou anulados pelas intervenções violentas da ignorância ou da má fé política, (...) pela pressão poli cial. (...) Em tais condições, O trabalho de organização, além de arriscado, é de resultado imperfeito. (...) Todos os con selhos ao operariado devem se resum it nesta singela mas formidável expressão: “O rganizar. Organizar para destruir ou para reconstruir, mas organizar para ser u ma força e ser uma força para poder . A ” viver na sociedade contemporânea!”. Mauricio de Lacerda, O congresso operário.” No limiar de 1920, os trabalhadores carioca s e suas lideranças sindicais expe: rimentaram um novo momento de luta s classistas, revivendo, em muitos aspectos, as grandes jornadas reivind icatórias de 1917, 1918 e 1919, triênio em que não apenas no Rio de Janeiro como també m em São Paulo se processou o mais vigoroso conjunto de greves operárias já visto na Primeira República." Segundo Angela de Castro Gomes, a conjunt ura socioeconômica desses anos 2 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1920, p. 1. as greves, ver: VARGAS, João T. O trabalho na ordem 3 Sobre os significados políticos e sociais dess rab ção do Estado na Primeira República. Ca mpina liberal: o movimento operário e a const ru UNICGAMP/CMU, 2004. 116 | finais da década de 1910 configurou-se como extremamente difícil para os assalariados urbanos, que se viram então imersos num cenário de crise social, * que combinou “progresso econômico e tecnológico com aumento de pobreza e rebaixamento dos níveis de vida de grande parte da população”. De fato, a prosperidade e a bonança, nesses tempos de severa ortodoxia liberal, foram * desfrutadas apenas pelas tradicionais oligarquias, por empresas estrangeiras aqui instaladas e pela restrita elite industrial que se consolidava nos centros populacionais de maior relevo. Mas, a despeito de não terem sido suficientes para atenuar a grave rea- lidade vivenciada nos meios proletários, as intensas e ruidosas movimenta- ções classistas do período foram fundamentais tanto por acentuar a tendên- cia do operariado nacional em lutar por uma legislação trabalhista e social quanto para forçar a Câmara dos Deputados a discutir o projeto de Código 'de Trabalho formulado pelo deputado federal Maurício de Lacerda. Em fun- 'ção ainda da participação oficial do Brasil na conferência de instalação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), realizada em outubro de 1919, sm Washington, os temas vinculados ao problema operário suscitaram, então, debates públicos importantes, ocupando espaços crescentes nas páginas dos grandes jornais e renovando as expectativas por mudanças há muito deman- dadas pelos trabalhadores brasileiros. | As ações repressivas do Estado sobre os setores mais combativos do movimento operário, especialmente sobre aqueles vinculados ao sindica- ismo revolucionário, entretanto, prosseguiam com a mesma intensidade e irulência de antes. Everardo Dias, ao descrever a ofensiva policial pelo país os últimos meses de 1919, estabeleceu um quadro bastante eloquente sobre às dificuldades enfrentadas, então, pelos líderes do proletariado organizado: Foi esse um dos períodos cruciantes e verdadeiramente angustiosos passados pelos militantes em nosso país. As sedes das associações fechadas, móveis e utensílios removidos para os depósitos policiais, os livros de tendência socia- A significativa expansão das atividades industriais em todo o país durante a Grande Guerr a, segundo Angela de Castro Gomes, impôs aos mais pobres uma realidade marcada ainda ma is pela intensificação da exploração do trabalho, pelos baixos salários e pelo agravamento da car es- tia. GOMES, Angela de Castro. Burguesia e trabalho: política e legislação social no Brasil (19 17- 1937). Rio de Janeiro: 7Letras, 2014. p. 78-79. Tal projeto do Código de Trabalho englobava, dentre outras medidas, o estabeleci mento da * jornada de 8 horas, a criação de Juntas de Arbitragem, a fixação das condições de trabalho das mulheres e menores nas fábricas e oficinas. No entanto, a ação regulatória do Estado sobre o mercado de trabalho restringiu-se então à sanção dos decretos n. 3.550/1918, que Departamento Nacional do Trabalho, e n. 3.724/1919, regulando as obrigações patrone tantes de “acidentes de trabalho” Ver MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindic ato único no Brasil (seus fundamentos sociológicos). São Paulo: Alfa-Ômega, 1978 . p. 197209. ” 147 Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce eram apreendidos nas sedes, mas lista ou anarquistas incinerado s, não só os que as constantes nas residênci as dos igualmente os que eram ap reendidos nas busc suspeitos. Os argos da polícia em tudo viam propaganda per igosa. (...) Essa caça ao homem e às ideias es tendeu-se por todo o te rritório nacional, (...) co m rigor e brutalidade inauditas. ” Nos primeiros dois meses de 19 20, entretanto, essa onda repres siva arre os o suficiente para que as sede s das associações ope feceu um pouco, ao men jal, voltassem a ser movi mentados Rio de Janeiro, de modo espec lhadores, que iam participar de reuniões e assem s ou debater suas reivindica ções políticas e sociais.” Justamente a direção d a Federação dos Trabalhadores do Rio de Janei ro e O sindicatos a ela coligad os desenvolvem um trabalho conjunto e sistem ático para tentar ampliar e co nsolidar as bases do sindicalismo revolucionário junto às principais categorias profissionais da Capital Federal. Unidos em t orno da FTRJ, nesse momento, antigas lideran ças identificadas com as tes es anarquistas, simpatizante s da experiência bol chevique em curso na Russia e reconhecidos militantes socia listas desempe nharam um papel fundamental para a organização das oficin as gráficas, com máquinas próprias, € formaçã o de um corpo de redação pa ra o lançamento e manutenção do órgão oficial daquela federação, O diário matutino Voz do ão veio à luz em 5 de fevereir o de 1920.º rárias no por grande número de traba bleias para dar posse à novas d iretorias eleita nesse contexto, Povo, cuja primeira ediç e 6 Preso em outubro de 1919 , com 22 outros líderes operá rios de nacionalidade portug uesa e espa nhola, Evaristo Dias chegou a ser deportado para a Europa , mas O éxito de uma campa nha pot sua libertação permitiu que ele fosse recebido com home nagens em Recife em 20/01 /1920 € quinze dias depois no Rio de Janeiro. Ver DIAS, Everardo. H istória das lutas sociais no Bra sil, São Paulo: Alfa-Omega, 1977. P- 95: € DULLES, John W . F. Anarquistas € comun istas no Brasil, 1900 1935. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p- 101-106. Em o1/01/1920,por exemplo, após realizar uma assemble ia com 2 mil de seus sócios, a Unido dos Empregados em Padarias do Rio de Janeiro publicou um manifesto conclamando a clase a aderir ao descanso dominica l que entraria em vigor no domingo seguinte. A Razão. Rio de Janeiro, 1º de janeiro de 19 20, p. 5-6. s de 1919 para suceder a Uniã o Geral dos Vem 8 Sediada na rua Acre, a FTR J foi fundada em meado Trabalhadores, fechada pela polícia em 1918. Entre as 25 e ntidades sindicais filiadas à março de 1920, destacavam-se à União dos Operários em Fá bricas de Tecidos, a Associaçi Resistência dos Cocheiros, Ca rroceiros e Classes Anexas, O Centro dos Operários Marmo rista, a União dos Operários em Co nstrução Civil, a Aliança dos Operários em Calçados e Anexas, à União Geral dos Met alúrgicos e à União dos Empre gados em Padarias. Ver “Fede ração dos Trabalhadores do Ri o de Janeiro (ETRJ)” em BATALHA, Claudio H. de Moraes (Op ) Dicionário do movimento operário: Rio de Janeiro d o século XIX aos anos 192 0 — mi organizações. São Paulo: Edito ra da Fundação Perseu Abram o, 2009. p. 222. tores e articulistas do Vo z do Povo, 9 Entre os reda Astrojildo Pereira, Álvaro Palmeira, José Oiticica , 128 destacam-se Carlos Dias, Afonso Schin, Octavio Brandão, Fábio Luz, Mauricio lê Entretanto, a orientação combativa da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, com sua defesa de uma perspectiva associativa centrsda sindicato de resistência e na ação direta, estava longe de ser consensual entre os dirigentes proletários do Rio de Janeiro. Reunidos em torno de entidad S tradicionais e que possuíam também um número significativo de sim ento o Centro União dos Empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil a Sociedade União dos Foguistas, a Associação de Marinheiros e Remadores, o Grêmio dos Ajustadores e Torneiros Mecânicos, a União dos Catraieiros Centro União dos Calafates e o Centro dos Carapinas de Mar e Terra -— so como dispondo de amplo espaço de divulgação no jornal A Razão, lídere | sindicais bem mais moderados pregavam e praticavam um outro modelo de | lndisálisino. Nesse caso, um modelo que priorizava a reivindicação e nego- ciação de medidas trabalhistas junto ao governo e ao parlamento, conside. rando a greve um recurso extremo que somente em último caso os assalaria- dos deveriam lançar mão, mas sempre respeitando os estreitos limites da lei da ordem - sem buscar a ruptura, mas, sim, um acordo, em geral mediad por alguma autoridade pública. . , A princípio distantes das disputas político-ideológicas que lideranças Ê mi dois campos organizatórios travavam pela hegemonia do afeto i dical carioca, representantes de trabalhadores da The Leopoldina Railwa Company Ltd. - cujos três mil quilômetros de trilhos se estendiam então dos jopulosos subúrbios da Zona Norte da Capital Federal e por vastas nd os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo" — iniciaram a É de janeiro de 1920, o processo de formação de duas importantes asso- ações de classes, a União dos Empregados da Leopoldina (UEL) e a Liga Pp eraria de Além Paraíba. Sediada na atual cidade mineira de Além raia a divisa com o estado do Rio de Janeiro, em fins de fevereiro daquele aa Lacerda e Evaristo de Moraes. 3S . GOMES, Angela de Castro. A i ã i i ico liga ER LE g invenção do trabalhismo. Rio de , Fundado rLi , v em 1916 po As José de Matos, negociante luso adept o da doutrina espiar ita, A Razão publica a noticias diárias sobre a vida associativa e as aç tas s categorias à E F 0es classistas de diferentes cate profissionais da Capital Federal no sentido d r I vi Pp p - p > e cont ibuir pa a vero povo livre dos ex lo r ado res, conhecedor de sua for: , , ça e do seu valor quando esclarecidos. AR á azão. Rio de Janeiro. 15 de janeiro de 1918, P. 6e1º de janeiro de 1920, P. 5. ap A ae ingleses adquiriram a Cia. E. F. Leopoldina (1872), que possuía 2.130 [ e linhas e ramais férreos. A nova firma, a The Leopoldi j K ; Railway Com Ltd ajuda financeira do Governo Federal, ampli ra q mate , ampliou sua malha para 3.000 Km e, i | cortavam importantes zonas cafeeiras e agrií i o | grícolas de Minas Gerais, Rio d i tri ! Santo e servia à Zona Norte da Capi ra do io do dica pital Federal. PAULA, Dilma Andrade de. Fi i | extinção de ramais da Estrada de Ferro Le i eso Ei inção s opoldina, 1955-1974. Tes istóri Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. p. d de (Doutorado em História) - 139 Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce eram apreendidos nas sedes, mas lista ou anarquistas incinerado s, não só os que as constantes nas residênci as dos igualmente os que eram ap reendidos nas busc suspeitos. Os argos da polícia em tudo viam propaganda per igosa. (...) Essa caça ao homem e às ideias es tendeu-se por todo o te rritório nacional, (...) co m rigor e brutalidade inauditas. ” Nos primeiros dois meses de 19 20, entretanto, essa onda repres siva arre os o suficiente para que as sede s das associações ope feceu um pouco, ao men jal, voltassem a ser movi mentados Rio de Janeiro, de modo espec lhadores, que iam participar de reuniões e assem s ou debater suas reivindica ções políticas e sociais.” Justamente a direção d a Federação dos Trabalhadores do Rio de Janei ro e O sindicatos a ela coligad os desenvolvem um trabalho conjunto e sistem ático para tentar ampliar e co nsolidar as bases do sindicalismo revolucionário junto às principais categorias profissionais da Capital Federal. Unidos em t orno da FTRJ, nesse momento, antigas lideran ças identificadas com as tes es anarquistas, simpatizante s da experiência bol chevique em curso na Russia e reconhecidos militantes socia listas desempe nharam um papel fundamental para a organização das oficin as gráficas, com máquinas próprias, € formaçã o de um corpo de redação pa ra o lançamento e manutenção do órgão oficial daquela federação, O diário matutino Voz do ão veio à luz em 5 de fevereir o de 1920.º rárias no por grande número de traba bleias para dar posse à novas d iretorias eleita nesse contexto, Povo, cuja primeira ediç e 6 Preso em outubro de 1919 , com 22 outros líderes operá rios de nacionalidade portug uesa e espa nhola, Evaristo Dias chegou a ser deportado para a Europa , mas O éxito de uma campa nha pot sua libertação permitiu que ele fosse recebido com home nagens em Recife em 20/01 /1920 € quinze dias depois no Rio de Janeiro. Ver DIAS, Everardo. H istória das lutas sociais no Bra sil, São Paulo: Alfa-Omega, 1977. P- 95: € DULLES, John W . F. Anarquistas € comun istas no Brasil, 1900 1935. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1977. p- 101-106. Em o1/01/1920, por exemplo, após realizar uma assemble ia com 2 mil de seus sócios, a Unido dos Empregados em Padarias do Rio de Janeiro publicou um manifesto conclamando a clase a aderir ao descanso dominica l que entraria em vigor no domingo seguinte. A Razão. Rio de Janeiro, 1º de janeiro de 19 20, p. 5-6. s de 1919 para suceder a Uniã o Geral dos Vem 8 Sediada na rua Acre, a FTR J foi fundada em meado Trabalhadores, fechada pela polícia em 1918. Entre as 25 e ntidades sindicais filiadas à março de 1920, destacavam-se à União dos Operários em Fá bricas de Tecidos, a Associaçi Resistência dos Cocheiros, Ca rroceiros e Classes Anexas, O Centro dos Operários Marmo rista, a União dos Operários em Co nstrução Civil, a Aliança dos Operários em Calçados e Anexas, à União Geral dos Met alúrgicos e à União dos Empre gados em Padarias. Ver “Fede ração dos Trabalhadores do Ri o de Janeiro (ETRJ)” em BATALHA, Claudio H. de Moraes (Op ) Dicionário do movimento operário: Rio de Janeiro d o século XIX aos anos 1920 — mi organizações. São Paulo: Edito ra da Fundação Perseu Abram o, 2009. p. 222. tores e articulistas do Vo z do Povo, 9 Entre os reda Astrojildo Pereira, Álvaro Palmeira, José Oiticica , 128 destacam-se Carlos Dias, Afonso Schin, Octavio Brandão, Fábio Luz, Mauricio lê Entretanto, a orientação combativa da Federação dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, com sua defesa de uma perspectiva associativa centrsda sindicato de resistência e na ação direta, estava longe de ser consensual entre os dirigentes proletários do Rio de Janeiro. Reunidos em torno de entidad S tradicionais e que possuíam também um número significativo de sim ento o Centro União dos Empregados da Estrada de Ferro Central do Brasil a Sociedade União dos Foguistas, a Associação de Marinheiros e Remadores, o Grêmio dos Ajustadores e Torneiros Mecânicos, a União dos Catraieiros Centro União dos Calafates e o Centro dos Carapinas de Mar e Terra -— so como dispondo de amplo espaço de divulgação no jornal A Razão, lídere | sindicais bem mais moderados pregavam e praticavam um outro modelo de | lndisálisino. Nesse caso, um modelo que priorizava a reivindicação e nego- ciação de medidas trabalhistas junto ao governo e ao parlamento, conside. rando a greve um recurso extremo que somente em último caso os assalaria- dos deveriam lançar mão, mas sempre respeitando os estreitos limites da lei da ordem - sem buscar a ruptura, mas, sim, um acordo, em geral mediad por alguma autoridade pública. . , A princípio distantes das disputas político-ideológicas que lideranças Ê mi dois campos organizatórios travavam pela hegemonia do afeto i dical carioca, representantes de trabalhadores da The Leopoldina Railwa Company Ltd. - cujos três mil quilômetros de trilhos se estendiam então dos jopulosos subúrbios da Zona Norte da Capital Federal e por vastas nd os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo" — iniciaram a É de janeiro de 1920, o processo de formação de duas importantes asso- ações de classes, a União dos Empregados da Leopoldina (UEL) e a Liga Pp eraria de Além Paraíba. Sediada na atual cidade mineira de Além raia a divisa com o estado do Rio de Janeiro, em fins de fevereiro daquele aa Lacerda e Evaristo de Moraes. 3S . GOMES, Angela de Castro. A i ã i i ico liga ER LE g invenção do trabalhismo. Rio de , Fundado rLi , v em 1916 po As José de Matos, negociante luso adept o da doutrina espiar ita, A Razão publica a noticias diárias sobre a vida associativa e as aç tas s categorias à E F 0es classistas de diferentes cate profissionais da Capital Federal no sentido d r I vi Pp p - p > e cont ibuir pa a vero povo livre dos ex lo r ado res, conhecedor de sua for: , , ça e do seu valor quando esclarecidos. AR á azão. Rio de Janeiro. 15 de janeiro de 1918, P. 6e1º de janeiro de 1920, P. 5. ap A ae ingleses adquiriram a Cia. E. F. Leopoldina (1872), que possuía 2.130 [ e linhas e ramais férreos. A nova firma, a The Leopoldi j K ; Railway Com Ltd ajuda financeira do Governo Federal, ampli ra q mate , ampliou sua malha para 3.000 Km e, i | cortavam importantes zonas cafeeiras e agrií i o | grícolas de Minas Gerais, Rio d i tri ! Santo e servia à Zona Norte da Capi ra do io do dica pital Federal. PAULA, Dilma Andrade de. Fi i | extinção de ramais da Estrada de Ferro Le i eso Ei inção s opoldina, 1955-1974. Tes istóri Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2000. p. d de (Doutorado em História) - 139 Positivo Realce Positivo Realce Positivo Nota sindicalismo reformista Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce e demonstrando estar inteiramente consolidada, a Liga Operár ia publicou um manifesto “aos seus numerosos associados, a todos os operários e empre gados ferroviários e ao proletariado em geral”, em que expunha da seguinte forma os princípios classistas que a orientavam: Proletários! Não esmorecer nem um só momento na grande pugna pela con quista do pão e do direito, o momento não admite fraqueza nem vacilações Uni-vos, associai-vos! (...) Si sois operário r ural ou industrial, ferroviário, do comércio, funcionário, ou enfim de qualquer classe dos desprotegidos que nao têm outros meios de vida senão a migalha mesquinha q ue a título de venci mento vos atiram os felizes depositários da fortuna univer sal, não podeis vaci lar, repetimos. (...) Camaradas: não somos revoluci onários nem aconselhamos a violência, conhecemos bem o terreno em que pisamos e s abemos (...) também que a destruição a ninguém aproveita, assim portanto, a nossa ação deve esti sempre dentro dos limites da lei e da ordem afim de evitar represálias, aprovci tando todos os recursos possíveis em proveito da nossa causa. ” Na perspectiva organizativa dos dirigentes da Liga Operária de Além Paraíba, portanto, a atuação sindical incisiva em defesa dos interesses da classe era pensada e praticada “dentro dos limites da lei e da ordem”, certa mente como forma de tentar preservar ao máximo os s eus associados, no curso movimento reivindicatório que estavam inic iando, das “represálias” e da “destruição” que o patronato, especialment e a diretoria da Leopoldina Railway, e os agentes da polícia impunham sem pi edade contra aqueles que ousavam organizar seus companheiros de trabalho para lutar “pela conquista do pão e do direito”. Orientada por princípios semelhantes, a União dos Empregados da Leopoldina realizou, no dia 5 d e março de 1920, no subúrbio carioca de Olaria, a assembleia de sua instalação def initiva.” Nessa reunião proletária, que contou, inclusive, com a presença d e Maurício de Lacerda e de representantes da Liga Operária, trezentos sócios da UEL, em meio a discur sos e aplausos em prol da união da classe contra a expl oração inglesa, referen daram a 1º diretoria da União e os seus estat utos, bem como deram o seu aval a uma pauta de reivindicações bastante abrangente e consistente.* De acordo 12 A Liga Operária de Além Paraíba, contava já co m 1.600 associados, a maior parte ferroviá e dizia que aceitava “sócios em todas as localidades servidas pela Leopoldina Railway, pode constituir filial em todo lugar onde tiver mais de 2 5 associados”, como ocorreu em Cataguusen (MG), Cachoeira (RJ) e Macaé (RJ). Voz do Povo. R io de Janeiro, 28 de fevereiro de 1920, p. 2. 13 A UEL foi fundada em 2 de janeiro de 1920, com o objetivo de “tratar de tudo que diz respeito à vida dos empregados, quer em suas relações com a sociedade, quer com a companhia, a quem dedicam o melhor de seus esforços”, “União dos E mpregados da Leopoldina” em BATALHA, 2009, p. 267; Voz do Povo. Rio de Janeiro, 6 de março de 192 0, p. 2. 14 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 19 20, p. 2. 140 com Glaucia Fraccaro, tal pauta representava um verdadeiro e inédito “pro- grama de reivindicações dos ferroviários” à The Leopoldina Railway Company Ltd., no qual esses trabalhadores afirmavam que: Os vencimentos recebidos não eram equitativos nem suficie ntes para a existência; as jornadas de trabalho eram exaustivas; (...) a Companhia despreza va toda sorte de reclamações, não havia nenhum tipo de garantia e os funcioná rios sempre estiveram à mercê das decisões da Companhia; (...) as oficinas não apresentavam a menor condição de higiene. (...) Solicitavam, então, aume nto dos vencimentos, mudanças no pagamento dos aprendizes, fim dos trabalhos aos d omingos, paga- mento dobrado para as horas extraordinárias e efetivação depois de seis meses de trabalho. Ainda reivindicavam que a Companhia justificasse à L iga a demissão dos funcionários e o fim da suspensão por tempo indeterminado, além de um fiscal de higiene em cada oficina e a contratação de mais trabalhad ores.” A diretoria da Leopoldina Railway, menosprezandocomple tamente a necessidade de estabelecer o diálogo com seus funcionários, preferiu apos- “tar no confrontou e direcionou seus esforços muito ma is para obter junto ao governo Epitácio Pessoa, segundo O Paiz, “as providências que tomará a nossa polícia para garantir as linhas e mais instalações da Leop oldina dentro do Distrito Federal, caso a greve se verifique” Os líderes da L iga Operária e da União dos Empregados da Leopoldina, por sua vez, intensif icaram a mobi- lização junto às suas bases sindicais, tanto em função do silênci o completo da empresa em face da pauta de reivindicações apresentada quanto por conta da tentativa das autoridades federais em fazer com que os ferroviá rios adiassem por pelo menos mais trinta dias a data que marcaram para a deflagração de uma greve geral na ferrovia — o dia 15 de março de 1920.” Nas assembleias rea- izadas em Além Paraíba e Olaria nos três dias que antecederam tal data, por nseguinte, esses trabalhadores reforçaram a sua unidade de classe e deci- diram coletivamente fazer frente às “explorações torpes a q ue à Leopoldina FRACCARO, Gláucia Cristina C. Morigerados e revoltados: trabalho e organização de Ferroviários da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-192 0). Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. p. 106- 107. Em 1920, na Capital Federal, a companhia inglesa operava o transporte de cargas € passageiros, servindo regiões então conhecidas como “os subúrbios da Leopoldina”, por meio da “Linha do Norte”, cujos trilhos e estações correspondem hoje, aprox imadamente, ao “Ramal Saracuruna” da SuperVia, especialmente entre as atuais estações de Tr iagem e Vigário Geral. O Paiz. Rio de Janeiro, 14 de março de 1920, p. 4. Ao jornal Gazeta de Notícias, José Cavalcante, presidente d a UEL, foi enfático em relação à dispo- sição de seus companheiros: “A União não aceitará acordo de nenhuma espécie. A companhia, antes de tudo, terá que atender as reclamações tanto da União como da Liga, (...) e, só depois de satisfeitas as reclamações, estaremos prontos a entrar em qualquer combinação” Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 15 de março de 1920, p. 1 . 141 Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce e demonstrando estar inteiramente consolidada, a Liga Operár ia publicou um manifesto “aos seus numerosos associados, a todos os operários e empre gados ferroviários e ao proletariado em geral”, em que expunha da seguinte forma os princípios classistas que a orientavam: Proletários! Não esmorecer nem um só momento na grande pugna pela con quista do pão e do direito, o momento não admite fraqueza nem vacilações Uni-vos, associai-vos! (...) Si sois operário r ural ou industrial, ferroviário, do comércio, funcionário, ou enfim de qualquer classe dos desprotegidos que nao têm outros meios de vida senão a migalha mesquinha q ue a título de venci mento vos atiram os felizes depositários da fortuna univer sal, não podeis vaci lar, repetimos. (...) Camaradas: não somos revoluci onários nem aconselhamos a violência, conhecemos bem o terreno em que pisamos e s abemos (...) também que a destruição a ninguém aproveita, assim portanto, a nossa ação deve esti sempre dentro dos limites da lei e da ordem afim de evitar represálias, aprovci tando todos os recursos possíveis em proveito da nossa causa. ” Na perspectiva organizativa dos dirigentes da Liga Operária de Além Paraíba, portanto, a atuação sindical incisiva em defesa dos interesses da classe era pensada e praticada “dentro dos limites da lei e da ordem”, certa mente como forma de tentar preservar ao máximo os s eus associados, no curso movimento reivindicatório que estavam inic iando, das “represálias” e da “destruição” que o patronato, especialment e a diretoria da Leopoldina Railway, e os agentes da polícia impunham sem pi edade contra aqueles que ousavam organizar seus companheiros de trabalho para lutar “pela conquista do pão e do direito”. Orientada por princípios semelhantes, a União dos Empregados da Leopoldina realizou, no dia 5 d e março de 1920, no subúrbio carioca de Olaria, a assembleia de sua instalação def initiva.” Nessa reunião proletária, que contou, inclusive, com a presença d e Maurício de Lacerda e de representantes da Liga Operária, trezentos sócios da UEL, em meio a discur sos e aplausos em prol da união da classe contra a expl oração inglesa, referen daram a 1º diretoria da União e os seus estat utos, bem como deram o seu aval a uma pauta de reivindicações bastante abrangente e consistente.* De acordo 12 A Liga Operária de Além Paraíba, contava já co m 1.600 associados, a maior parte ferroviá e dizia que aceitava “sócios em todas as localidades servidas pela Leopoldina Railway, pode constituir filial em todo lugar onde tiver mais de 2 5 associados”, como ocorreu em Cataguusen (MG), Cachoeira (RJ) e Macaé (RJ). Voz do Povo. R io de Janeiro, 28 de fevereiro de 1920, p. 2. 13 A UEL foi fundada em 2 de janeiro de 1920, com o objetivo de “tratar de tudo que diz respeito à vida dos empregados, quer em suas relações com a sociedade, quer com a companhia, a quem dedicam o melhor de seus esforços”, “União dos E mpregados da Leopoldina” em BATALHA, 2009, p. 267; Voz do Povo. Rio de Janeiro, 6 de março de 192 0, p. 2. 14 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 19 20, p. 2. 140 com Glaucia Fraccaro, tal pauta representava um verdadeiro e inédito “pro- grama de reivindicações dos ferroviários” à The Leopoldina Railway Company Ltd., no qual esses trabalhadores afirmavam que: Os vencimentos recebidos não eram equitativos nem suficie ntes para a existência; as jornadas de trabalho eram exaustivas; (...) a Companhia despreza va toda sorte de reclamações, não havia nenhum tipo de garantia e os funcioná rios sempre estiveram à mercê das decisões da Companhia; (...) as oficinas não apresentavam a menor condição de higiene. (...) Solicitavam, então, aume nto dos vencimentos, mudanças no pagamento dos aprendizes, fim dos trabalhos aos d omingos, paga- mento dobrado para as horas extraordinárias e efetivação depois de seis meses de trabalho. Ainda reivindicavam que a Companhia justificasse à L iga a demissão dos funcionários e o fim da suspensão por tempo indeterminado, além de um fiscal de higiene em cada oficina e a contratação de mais trabalhad ores.” A diretoria da Leopoldina Railway, menosprezando comple tamente a necessidade de estabelecer o diálogo com seus funcionários, preferiu apos- “tar no confrontou e direcionou seus esforços muito ma is para obter junto ao governo Epitácio Pessoa, segundo O Paiz, “as providências que tomará a nossa polícia para garantir as linhas e mais instalações da Leop oldina dentro do Distrito Federal, caso a greve se verifique” Os líderes da L iga Operária e da União dos Empregados da Leopoldina, por sua vez, intensif icaram a mobi- lização junto às suas bases sindicais, tanto em função do silênci o completo da empresa em face da pauta de reivindicações apresentada quanto por conta da tentativa das autoridades federais em fazer com que os ferroviá rios adiassem por pelo menos mais trinta dias a data que marcaram para a deflagração de uma greve geral na ferrovia — o dia 15 de março de 1920.” Nas assembleias rea- izadas em Além Paraíba e Olaria nos três dias que antecederam tal data, por nseguinte, esses trabalhadores reforçaram a sua unidade de classe e deci- diram coletivamente fazer frente às “explorações torpes a q ue à Leopoldina FRACCARO, Gláucia Cristina C. Morigerados e revoltados: trabalho e organização de Ferroviários da Central do Brasil e da Leopoldina (1889-192 0). Dissertação (Mestrado em História) - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. p. 106- 107. Em 1920, na Capital Federal, a companhiainglesa operava o transporte de cargas € passageiros, servindo regiões então conhecidas como “os subúrbios da Leopoldina”, por meio da “Linha do Norte”, cujos trilhos e estações correspondem hoje, aprox imadamente, ao “Ramal Saracuruna” da SuperVia, especialmente entre as atuais estações de Tr iagem e Vigário Geral. O Paiz. Rio de Janeiro, 14 de março de 1920, p. 4. Ao jornal Gazeta de Notícias, José Cavalcante, presidente d a UEL, foi enfático em relação à dispo- sição de seus companheiros: “A União não aceitará acordo de nenhuma espécie. A companhia, antes de tudo, terá que atender as reclamações tanto da União como da Liga, (...) e, só depois de satisfeitas as reclamações, estaremos prontos a entrar em qualquer combinação” Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 15 de março de 1920, p. 1 . 141 Positivo Realce Positivo Realce sujeita seus empregados”, anunciando que iriam abandonar “o serviço ime- diatamente, conservando-se em atitude pa cífica, desde que nenhuma injus- » 8 tiça seja feita aos empregados . ECLODE A GREVE NA LEOPOLDINA RAILWAY: O APOIO DA IMPRENSA E DA POPULAÇÃO DOS SUBÚRBIOS Os empregados da Leopoldina, convencido s do direito que lhes assiste, decla raram-se ontem em greve, ficando, assim, na sua quase totalidade, suspenso o tráfego daquela via-férrea. Ninguém pode de ixar de reconhecer que esses movi mentos paredistas causam sempre prej uízo enorme à coletividade. Mas, que se há de fazer? Os empregados da Leopoldina não exigem nenhum absurdo; eles não reclamam para si vantagens excepc ionais. (...) Eles se contentam com um pequeno aumento de salários, o que não rep resenta nada quando se atenta em que os empregados das vias-férreas da Uni ão têm montepio, trabalham oito horas por dia, gozam folga semanal e podem entrar em uso de licença. (...) A verdade é que (...) não podem continuar à viver como vivem, com ordenados parcos e mesquinhos. E essa greve é a afir mação de que eles estão dispostos à fazer valer os seus direitos, atitude essa que m erece OS nossos aplausos.” Deflagrada no dia 15 de março de 1920, uma segunda-feira, a greve dos operários da Leopoldina Railway desenvolveu- se no transcurso dos treze dias seguintes enfrentando toda sorte de dificul dades, tendo em vista a férrea determinação da empresa e do governo em quebrantar o movimento sem ao menos estabelecer uma negociação concre ta com às associações represen tativas dos grevistas. Por mais justas e mesmo modestas que fossem as rei vindicações desses trabalhadores, como suge re O trecho em epígrafe de um editorial da Gazeta de Notícias, os seus reco rrentes clamores não foram, de modo algum, ouvidos e respondidos por se us superiores hierárquicos, que se mantinham confiantes na eficácia dos tra dicionais métodos de controle sobre o grande número de assalariados que ex ploravam. Por conseguinte, foi sobretudo para a surpresa dos diretores dessa companhia que uma vigorosa parede operária se instalou, quase que si multaneamente, em todas as esta ções, armazéns e oficinas espalhadas ao longo da extensa e intricada malha ferroviária da Leopoldina. A julgar pelas manchetes, fotografias e notícias estampadas em parte dos jornais cariocas no dia seguinte à sua deflagraç ão, esse movimento paredista mostrou-se impressionante tanto por sua forç a e extensão quanto pelo scu elevado grau de organização, disciplina e coesã o, certamente como resultado ——————————— 18 A Razão. Rio de Janeiro, 13 de março de 1920, p. 5. 19 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 142 da irrupção de uma forte consciência classista no interior de uma categoria de trabalhadores submetida a explorações crescentes, mas que era, ao mesmo tempo, portadora de uma dinâmica profissional bastante complexa, com larga experiência em relação ao controle do tempo e a execução constante de operações articuladas em distintos pontos de umas das mais importantes ferrovias da América do Sul. Refletindo sobre como aspectos centrais da dis- ciplinarização do trabalho em tal ramo capitalista desempenharam um papel ativo na formação de uma identidade de classe e de uma cultura de direitos no seio do operariado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, Andréa Casa Nova ' Maia argumenta que, entre os anos 1930 e 1950, esses ferroviários mine iros, viveram a experiência da transformação da percepção do tempo em seu co n- dicionamento tecnológico, viveram a experiência da medição do tempo de seu trabalho como meio de exploração de sua mão de obra. Mas, com certeza , não passaram por essa experiência passivamente. À disciplina do trabalho, rígida, severa, meticulosa, responderam lutando por seus direitos, responderam com resistência. (...) Os ferroviários começaram a lutar, não contra o tempo, mas acerca dele. Reivindicaram a redução das horas de trabalho, a melhoria das con- dições de trabalho e o próprio direito de receber seu pagamento em dia.” Numa perspectiva comparativa, parece-me que uma experiência trans- formadora semelhante se processou entre os operários da Leopoldina Railway naquele final de verão de 1920, em que esses homens que operavam diuturna- mente o tráfego nas extensas linhas da companhia britânica resolveram que já era tempo de suas reivindicações receberem a devida atenção. À esse respeito, o trecho a seguir dA Razão não poderia ser mais esclarecedor: Os senhores da Leopoldina ensinaram praticamente aos seus empregados que tempo é dinheiro, obrigando-os a trabalhar dentro de um horário superior às suas forças humanas, nunca lhes pagando os serviços extraordinários e red u- zindo todos os meses a trinta dias para os diaristas. Agora eles lhes res pondem ao pé da letra, suspendendo o trabalho por toda a parte e à data precisamente fixa da, para não continuarem perdendo o seu tempo com os esforços não retribuídos.” A força de trabalho dessa empresa, segundo dados desencontrados dos ornais, seria composta então por oito a dez mil operários, que, na avaliação o Voz do Povo, pela primeira vez desde que a Leopoldina passou para o con- ole acionário de ingleses, “resolveram sair da passividade e da apatia em que achavam e proclamar bem alto o seu incontestável direito a um vi ver digno MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas: história de ferro vias e ferroviários de Minas. Belo Horizonte: Argumentum, 2009. p. 112. 1 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p.1. Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce sujeita seus empregados”, anunciando que iriam abandonar “o serviço ime- diatamente, conservando-se em atitude pa cífica, desde que nenhuma injus- » 8 tiça seja feita aos empregados . ECLODE A GREVE NA LEOPOLDINA RAILWAY: O APOIO DA IMPRENSA E DA POPULAÇÃO DOS SUBÚRBIOS Os empregados da Leopoldina, convencido s do direito que lhes assiste, decla raram-se ontem em greve, ficando, assim, na sua quase totalidade, suspenso o tráfego daquela via-férrea. Ninguém pode de ixar de reconhecer que esses movi mentos paredistas causam sempre prej uízo enorme à coletividade. Mas, que se há de fazer? Os empregados da Leopoldina não exigem nenhum absurdo; eles não reclamam para si vantagens excepc ionais. (...) Eles se contentam com um pequeno aumento de salários, o que não rep resenta nada quando se atenta em que os empregados das vias-férreas da Uni ão têm montepio, trabalham oito horas por dia, gozam folga semanal e podem entrar em uso de licença. (...) A verdade é que (...) não podem continuar à viver como vivem, com ordenados parcos e mesquinhos. E essa greve é a afir mação de que eles estão dispostos à fazer valer os seus direitos, atitude essa que m erece OS nossos aplausos.” Deflagrada no dia 15 de março de 1920, uma segunda-feira, agreve dos operários da Leopoldina Railway desenvolveu- se no transcurso dos treze dias seguintes enfrentando toda sorte de dificul dades, tendo em vista a férrea determinação da empresa e do governo em quebrantar o movimento sem ao menos estabelecer uma negociação concre ta com às associações represen tativas dos grevistas. Por mais justas e mesmo modestas que fossem as rei vindicações desses trabalhadores, como suge re O trecho em epígrafe de um editorial da Gazeta de Notícias, os seus reco rrentes clamores não foram, de modo algum, ouvidos e respondidos por se us superiores hierárquicos, que se mantinham confiantes na eficácia dos tra dicionais métodos de controle sobre o grande número de assalariados que ex ploravam. Por conseguinte, foi sobretudo para a surpresa dos diretores dessa companhia que uma vigorosa parede operária se instalou, quase que si multaneamente, em todas as esta ções, armazéns e oficinas espalhadas ao longo da extensa e intricada malha ferroviária da Leopoldina. A julgar pelas manchetes, fotografias e notícias estampadas em parte dos jornais cariocas no dia seguinte à sua deflagraç ão, esse movimento paredista mostrou-se impressionante tanto por sua forç a e extensão quanto pelo scu elevado grau de organização, disciplina e coesã o, certamente como resultado ——————————— 18 A Razão. Rio de Janeiro, 13 de março de 1920, p. 5. 19 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 142 da irrupção de uma forte consciência classista no interior de uma categoria de trabalhadores submetida a explorações crescentes, mas que era, ao mesmo tempo, portadora de uma dinâmica profissional bastante complexa, com larga experiência em relação ao controle do tempo e a execução constante de operações articuladas em distintos pontos de umas das mais importantes ferrovias da América do Sul. Refletindo sobre como aspectos centrais da dis- ciplinarização do trabalho em tal ramo capitalista desempenharam um papel ativo na formação de uma identidade de classe e de uma cultura de direitos no seio do operariado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, Andréa Casa Nova ' Maia argumenta que, entre os anos 1930 e 1950, esses ferroviários mine iros, viveram a experiência da transformação da percepção do tempo em seu co n- dicionamento tecnológico, viveram a experiência da medição do tempo de seu trabalho como meio de exploração de sua mão de obra. Mas, com certeza , não passaram por essa experiência passivamente. À disciplina do trabalho, rígida, severa, meticulosa, responderam lutando por seus direitos, responderam com resistência. (...) Os ferroviários começaram a lutar, não contra o tempo, mas acerca dele. Reivindicaram a redução das horas de trabalho, a melhoria das con- dições de trabalho e o próprio direito de receber seu pagamento em dia.” Numa perspectiva comparativa, parece-me que uma experiência trans- formadora semelhante se processou entre os operários da Leopoldina Railway naquele final de verão de 1920, em que esses homens que operavam diuturna- mente o tráfego nas extensas linhas da companhia britânica resolveram que já era tempo de suas reivindicações receberem a devida atenção. À esse respeito, o trecho a seguir dA Razão não poderia ser mais esclarecedor: Os senhores da Leopoldina ensinaram praticamente aos seus empregados que tempo é dinheiro, obrigando-os a trabalhar dentro de um horário superior às suas forças humanas, nunca lhes pagando os serviços extraordinários e red u- zindo todos os meses a trinta dias para os diaristas. Agora eles lhes res pondem ao pé da letra, suspendendo o trabalho por toda a parte e à data precisamente fixa da, para não continuarem perdendo o seu tempo com os esforços não retribuídos.” A força de trabalho dessa empresa, segundo dados desencontrados dos ornais, seria composta então por oito a dez mil operários, que, na avaliação o Voz do Povo, pela primeira vez desde que a Leopoldina passou para o con- ole acionário de ingleses, “resolveram sair da passividade e da apatia em que achavam e proclamar bem alto o seu incontestável direito a um vi ver digno MAIA, Andréa Casa Nova. Encontros e despedidas: história de ferro vias e ferroviários de Minas. Belo Horizonte: Argumentum, 2009. p. 112. 1 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p.1. Positivo Realce Positivo Realce Positivo Realce e feliz”, lunçando-se “galhardamente em greve”, Cabe destaque que, embora fossem muitos os rumores de eclosão de uma greve na Leopold ina, nas pri meiras horas daquela segunda-feira, 15 de março, como de cost ume, milha- res de trabalhadores embarcaram nas estações suburbanas rumo à garé da Praia Formosa, onde, por volta das seis horas, segundo ainda o ór gão oficial da EERJ, “os trens procedentes de Petrópolis e subúrbios despejava m verda deiras ondas de povo”. O burburinho acerca da possibilidade da ecl osão de uma greve no começo da tarde, que cedo tomou conta dos vag ões repletos de passageiros, se tornava uma quase certeza no mome nto do desembarque na zona portuária, onde, a despeito do forte policiamento instalado desde a madrugada, “boletins manuscritos passavam de mão em mão an imando o pessoal da Leopoldina” ao movimento grevista.*” As 14 horas em ponto, finalmente, de acordo com a Gazeta de Notícias, a anunciada greve na Leopoldina Railway foi deflagrada e “os trens que cir culavam nos subúrbios começaram a parar, tendo os agentes das estações abandonado o serviço” e entregado suas respectivas estações “as autori dades policiais, que as guarneceram com forças embaladas”? A partir de co mandos enviados por telégrafo de Além Paraíba e de Olaria, processou-se o f echa: mento simultâneo de todas as estações de cidades interioranas e também das localizadas na Capital Federal - a saber, Praia Formosa, Triagem, A morim, Bonsucesso, Ramos, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas, Vigário Geral e Meriti - e a paralisação imediata de todos os comboios ferr oviários em tráfego, que acabaram bloqueando as vias férreas em pontos estr atégicos no horário marcado.” Desse modo, sob a liderança das recém-formada s Liga Operária de Além Paraíba e União dos Empregados da Leopoldina, esse s tra balhadores desencadearam um movimento de fato muito concatena do, cuja força e rapidez de instalação foi também realçada pelos experie ntes redatores do Voz do Povo, se referindo de modo especial ao que ocorreu nas estações suburbanas dessa ferrovia na cidade do Rio de Janeiro: »2 Localizada numa área hoje próxima ao Terminal Rodoviário No vo Rio, a estação da Formosa foi inaugurada em 1909, e até fins de 1926, quando a es tação Barão de Mauá entrou em operação, era o principal ponto de embarque e desembarque de passageiros e cargas du Leopoldina Railway na Capital Federal. Na manhã de 15/03/1920, segu ndo o Voz do Povo, aquela parecia uma “praça de guerra”, pois encontrava-se guarnecida por 80 praças de infantaria e qo de cavalaria. Ver Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1; A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 7; e “Praia Formosa”. Estações ferroviárias do Brasil. Disponíve <http:// www.estacoesferroviarias.com.br/ efl rj petropolis/praiaformosa.htm>. Acesso em: 14 de março de 2017. 23 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 24 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1 e 17 de m arço de 1920, p.1€ 7. 144 Excedeu a nossa expectativa o procedimento decid ido dos agentes e emprega: dos de estações da Linha do Norte: às duas horas em ponto suspendeu-se o serviço, expediram-se os telegramas € lacraram-se os cofres, armários e arma- zéns, entregando-se as chaves à polícia. Logo q ue isso sucedeu, tiveram os trens em marcha ordem terminante de paralisação. Mu ito comboios ficaramem meio caminho, abandonados, enquanto alguns outros lograram alcançar as estações mais próximas, onde se imobilizaram.” Esse relato do Voz do Povo sobre a forma rápida e or ganizada de deflagra- ção do movimento, cumpre realçar, coincide com todas as informações a res- peito publicadas pela Gazeta de Notícias e A Ra zão, periódicos que dedicaram também ao primeiro dia dessa greve uma cobertu ra relevante - com man- chetes de capa, editoriais contundentes, textos ext ensos € muitas fotografias, incluindo flagrantes de grupos de grevistas, popular es e policiais nas estações, além de locomotivas e comboios ferroviários parad os em pontos distintos da Linha do Norte. Atestando a enorme reperc ussão social alcançada por esse movimento paredista desde o seu início, em frent e a todas as redações dos principais órgãos de imprensa da Capital Federal foram afixados placares com notícias sobre o “movimento dos há tanto tempo espoliados e humilha- dos”, como o colocado diante do jornal A Razão, na rua da Quitanda, onde naquele incomum 15 de março, segundo seu red atores, “sempre foi enorme a massa de povo que se agrupava comentando com apaixonado interesse a 226 causa dos grevistas . Nos demais dias daquela semana, todas as estaçõe s da Linha do Norte e suas respectivas dependências (escritórios, oficinas e armazéns) permanece- ram praticamente inoperantes, desprovidas da quase totalidade de seus habi- tuais funcionários, como atestam às rondas diá rias que os jornais aqui men- cionados fizeram nas garés central e suburbanas da Leopoldina no Distrito Federal. A greve estava instalada e assentada em bas es sólidas, preservando-se me, coesa e sem registro algum de que seus líderes e participantes tenham »romovido atos de violência ou depredações de patrimônio de qualquer natureza, tanto nos seus primeiros dias q uanto em seus instantes finais, entre 27 e 28 de março de 1920. No entanto, desde os momentos iniciais desse mov imento paredista, um clima de expectativa, tensão e insegurança se estabeleceu não apenas entre os ferroviários como também entre os habitantes das extensas áreas subur- banas atendidas pelos trilhos e estações da Leopo ldina Railway. Esse cenário '25 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 26 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de ma rço de 1920, p. 1. TO Positivo Realce e feliz”, lunçando-se “galhardamente em greve”, Cabe destaque que, embora fossem muitos os rumores de eclosão de uma greve na Leopold ina, nas pri meiras horas daquela segunda-feira, 15 de março, como de cost ume, milha- res de trabalhadores embarcaram nas estações suburbanas rumo à garé da Praia Formosa, onde, por volta das seis horas, segundo ainda o ór gão oficial da EERJ, “os trens procedentes de Petrópolis e subúrbios despejava m verda deiras ondas de povo”. O burburinho acerca da possibilidade da ecl osão de uma greve no começo da tarde, que cedo tomou conta dos vag ões repletos de passageiros, se tornava uma quase certeza no mome nto do desembarque na zona portuária, onde, a despeito do forte policiamento instalado desde a madrugada, “boletins manuscritos passavam de mão em mão an imando o pessoal da Leopoldina” ao movimento grevista.*” As 14 horas em ponto, finalmente, de acordo com a Gazeta de Notícias, a anunciada greve na Leopoldina Railway foi deflagrada e “os trens que cir culavam nos subúrbios começaram a parar, tendo os agentes das estações abandonado o serviço” e entregado suas respectivas estações “as autori dades policiais, que as guarneceram com forças embaladas”? A partir de co mandos enviados por telégrafo de Além Paraíba e de Olaria, processou-se o f echa: mento simultâneo de todas as estações de cidades interioranas e também das localizadas na Capital Federal - a saber, Praia Formosa, Triagem, A morim, Bonsucesso, Ramos, Penha, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas, Vigário Geral e Meriti - e a paralisação imediata de todos os comboios ferr oviários em tráfego, que acabaram bloqueando as vias férreas em pontos estr atégicos no horário marcado.” Desse modo, sob a liderança das recém-formada s Liga Operária de Além Paraíba e União dos Empregados da Leopoldina, esse s tra balhadores desencadearam um movimento de fato muito concatena do, cuja força e rapidez de instalação foi também realçada pelos experie ntes redatores do Voz do Povo, se referindo de modo especial ao que ocorreu nas estações suburbanas dessa ferrovia na cidade do Rio de Janeiro: »2 Localizada numa área hoje próxima ao Terminal Rodoviário No vo Rio, a estação da Formosa foi inaugurada em 1909, e até fins de 1926, quando a es tação Barão de Mauá entrou em operação, era o principal ponto de embarque e desembarque de passageiros e cargas du Leopoldina Railway na Capital Federal. Na manhã de 15/03/1920, segu ndo o Voz do Povo, aquela parecia uma “praça de guerra”, pois encontrava-se guarnecida por 80 praças de infantaria e qo de cavalaria. Ver Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1; A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 7; e “Praia Formosa”. Estações ferroviárias do Brasil. Disponíve <http:// www.estacoesferroviarias.com.br/ efl rj petropolis/praiaformosa.htm>. Acesso em: 14 de março de 2017. 23 Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 24 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1 e 17 de m arço de 1920, p.1€ 7. 144 Excedeu a nossa expectativa o procedimento decid ido dos agentes e emprega: dos de estações da Linha do Norte: às duas horas em ponto suspendeu-se o serviço, expediram-se os telegramas € lacraram-se os cofres, armários e arma- zéns, entregando-se as chaves à polícia. Logo q ue isso sucedeu, tiveram os trens em marcha ordem terminante de paralisação. Mu ito comboios ficaram em meio caminho, abandonados, enquanto alguns outros lograram alcançar as estações mais próximas, onde se imobilizaram.” Esse relato do Voz do Povo sobre a forma rápida e or ganizada de deflagra- ção do movimento, cumpre realçar, coincide com todas as informações a res- peito publicadas pela Gazeta de Notícias e A Ra zão, periódicos que dedicaram também ao primeiro dia dessa greve uma cobertu ra relevante - com man- chetes de capa, editoriais contundentes, textos ext ensos € muitas fotografias, incluindo flagrantes de grupos de grevistas, popular es e policiais nas estações, além de locomotivas e comboios ferroviários parad os em pontos distintos da Linha do Norte. Atestando a enorme reperc ussão social alcançada por esse movimento paredista desde o seu início, em frent e a todas as redações dos principais órgãos de imprensa da Capital Federal foram afixados placares com notícias sobre o “movimento dos há tanto tempo espoliados e humilha- dos”, como o colocado diante do jornal A Razão, na rua da Quitanda, onde naquele incomum 15 de março, segundo seu red atores, “sempre foi enorme a massa de povo que se agrupava comentando com apaixonado interesse a 226 causa dos grevistas . Nos demais dias daquela semana, todas as estaçõe s da Linha do Norte e suas respectivas dependências (escritórios, oficinas e armazéns) permanece- ram praticamente inoperantes, desprovidas da quase totalidade de seus habi- tuais funcionários, como atestam às rondas diá rias que os jornais aqui men- cionados fizeram nas garés central e suburbanas da Leopoldina no Distrito Federal. A greve estava instalada e assentada em bas es sólidas, preservando-se me, coesa e sem registro algum de que seus líderes e participantes tenham »romovido atos de violência ou depredações de patrimônio de qualquer natureza, tanto nos seus primeiros dias q uanto em seus instantes finais, entre 27 e 28 de março de 1920. No entanto, desde os momentos iniciais desse mov imento paredista, um clima de expectativa, tensão e insegurançase estabeleceu não apenas entre os ferroviários como também entre os habitantes das extensas áreas subur- banas atendidas pelos trilhos e estações da Leopo ldina Railway. Esse cenário '25 Voz do Povo. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. 26 A Razão. Rio de Janeiro, 16 de ma rço de 1920, p. 1. TO Positivo Realce de intranquilidade pode ser atribuído, em grand e medida, às ações adotadas pelas autoridades governamentais e os diretores da f errovia em tal contexto. A análise do noticiário sobre essas ações, como demonstrarei a seguir, revela que a enorme preocupação do governo com à prese rvação da “ordem pública” e dos “bens da companhia” esteve inteiramente art iculada com a determinação férrea da empresa inglesa em restabelecer o tráf ego na Linha do Norte como forma de desacreditar, sufocar e pôr termo à pared e em curso sem estabelecer qualquer negociação com os seus empregados e m greve. A ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO DOS FERROVIÁRIOS , A INTRANSIGÊNCIA PATRONAL E A REPRESSÃO PO LICIAL Ao Povo - Avisa-se ao público, principalmente às famílias residentes nos subúrbios, que não se devem aventurar nos trens que, de quando em quando, a Leopoldina faz trafegar nas suas linhas. Esses trens são guiados por graxeiros que a ganância dos ingleses arvorou em maquinistas, sob a proteção da polícia que, como sempre, está a serviço dos capitalistas con tra o proletariado e o público em geral. Não há sinais, nem luzes, nem agulha s; os trens correm em uma só linha; os pontilhões não são examinados; viajar na Leopoldina é o maior dos perigos! Os desastres se sucedem! Felizmente at é agora sem consequências. No entanto, a desorganização dos trabalhos, quase a nulados completamente, trará com certeza encontros, descarrilamentos e desas tres pavorosos. Previna-se às famílias para que se precavenham contra essa ar madilha arranjada pelos ingle ses ladravazes, sob a proteção de uma polícia coloc ada pelo governo a serviço de estrangeiros exploradores. — À Comissão.” As linhas gerais dessa articulação entre O Estad o e a The Leopoldina Railway Company Ltd. denunciada com vigor na nota pública da comis são dos ferroviários em greve transcrita acima, ao que parece, foram traça das numa reunião realizada entre os ministro s da Viação, Pires do Rio, e da Justiça, Alfredo Pinto, e Oscar Weinschenc k, diretor da empresa inglesa, na mesma tarde em que o movimento paredista eclo diu. Nesse encontro, ficou estabelecido que caberia à companhia, utilizando os empregados que não se encontrassem em greve, garantir o tráfego dos tre ns “que servem ao opera riado dos subúrbios” e ligam o Rio de Janeiro à ci dade de Petrópolis, onde se encontrava então, em vilegiatura, o presidente da Rep ública, Epitácio Pessoa, Por sua vez, O titular do Ministério da Justiça as severou aos jornalistas que “no caso de serem praticadas depredações no s bens da companhia ou se por ventura houver qualquer perturbação da ordem pública”, o governo agiriu com prontidão e firmeza, pois O efetivo policial mobilizado estava “conve 27 A Razão. Rio de Janeiro, 18 de março d e 1920, p. 5. 146 nientemente aparelhado para jugular de pronto qu alquer tentativa” de pro- moção de violências e desordens na Capital Fe deral.” No que se refere à manutenção da “ordem pública” e vigilância da movi- mentação popular nas regiões cortadas pelos trilh os da Leopoldina, a ação do Estado durante a primeira semana da greve foi de fato bastante enérgica e ostensiva. Agindo sob as ordens diretas do m inistro da Justiça e em estreita sintonia com a diretoria da Leopoldina Railway, o c hefe da Polícia do Rio de Janeiro e os delegados do 10º e 22º distritos policia is coordenaram pessoal- mente o emprego diário de um grande contingent e de praças de cavalaria e infantaria, agentes do Corpo de Segurança e guar das municipais — efetivo | policial este estimado em cerca de quinhentos hom ens, que tiveram, inclu- sive, ajuda de custo para alimentação paga pela companhia britânica, após 'uma solicitação do governo nesse sentido.” Mas o chefe da polícia, Geminiano França, e seus aux iliares não se limi- am a colocar a força pública de prontidão e a acompan har a guarda armada das estações, armazéns, oficinas e das várias c omposições ferroviárias aban- tiveram também um papel ativo e determinante n as diversas iniciativas da mpresa britânica para tentar quebrar a unidade dos grevistas e fazer com que b tráfego de trens na Linha do Norte não ficasse com pletamente paralisado — eja prendendo de imediato qualquer um que fosse suspeito de fazer piquete bu discursar em favor da greve, seja forçando grax eiros e foguistas a atuarem tomo maquinistas em comboios improvisados que part iam de tempos em gmpos da estação da Praia Formosa ou ainda dest acando grupos de solda- los fortemente armados para guarnecer tais combo ios e escalando guardas municipais para cuidar da sinalização de linhas e do acionamento de chaves. Lançando mão dos recursos administrativos e mecanismos coercitivos ue dispunham, bem como valendo-se do providenci al apoio das autoridades mblicas e da Ligth and Power, os diretores da Le opoldina Railway continua- am apostando no confronto para manter, a todo transe, algum tráfego na “inha do Norte, mesmo sob riscos enormes de qu e acidentes com vítimas icorressem.:º Ao mesmo tempo que deixaram tra nsparecer para à imprensa A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. O Paiz. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 4 € 19 de março de 1920, p. 5. Nos primeiros dias da greve, além de utilizar fo guistas e graxeiros que não aderiram à greve e deslocar auxiliares de seu escritório central para as estações, a Leopoldina recebeu o apoio tanto - da Light and Power, que enviou 40 funcionári os para as garés suburbanas, quanto de guarda -fios da Repartição dos Telégrafos e mecânico s do Arsenal de Guerra da Marinha, cedido s pelo Estado à ferrovia britânica para restabelecer os serviços de telégrafo e telefone e reparar loco 147 Positivo Realce de intranquilidade pode ser atribuído, em grand e medida, às ações adotadas pelas autoridades governamentais e os diretores da f errovia em tal contexto. A análise do noticiário sobre essas ações, como demonstrarei a seguir, revela que a enorme preocupação do governo com à prese rvação da “ordem pública” e dos “bens da companhia” esteve inteiramente art iculada com a determinação férrea da empresa inglesa em restabelecer o tráf ego na Linha do Norte como forma de desacreditar, sufocar e pôr termo à pared e em curso sem estabelecer qualquer negociação com os seus empregados e m greve. A ESTRATÉGIA DE NEGOCIAÇÃO DOS FERROVIÁRIOS , A INTRANSIGÊNCIA PATRONAL E A REPRESSÃO PO LICIAL Ao Povo - Avisa-se ao público, principalmente às famílias residentes nos subúrbios, que não se devem aventurar nos trens que, de quando em quando, a Leopoldina faz trafegar nas suas linhas. Esses trens são guiados por graxeiros que a ganância dos ingleses arvorou em maquinistas, sob a proteção da polícia que, como sempre, está a serviço dos capitalistas con tra o proletariado e o público em geral. Não há sinais, nem luzes, nem agulha s; os trens correm em uma só linha; os pontilhões não são examinados; viajar na Leopoldina é o maior dos perigos! Os desastres se sucedem! Felizmente at é agora sem consequências. No entanto, a desorganização dos trabalhos, quase a nulados completamente, trará com certeza encontros, descarrilamentos e desas tres pavorosos. Previna-se às famílias para que se precavenham contra essa ar madilha arranjada pelos ingle ses ladravazes, sob a proteção de uma polícia coloc ada pelo governo a serviço de estrangeiros exploradores. — À Comissão.” As linhas gerais dessa articulação entre O Estad o e a TheLeopoldina Railway Company Ltd. denunciada com vigor na nota pública da comis são dos ferroviários em greve transcrita acima, ao que parece, foram traça das numa reunião realizada entre os ministro s da Viação, Pires do Rio, e da Justiça, Alfredo Pinto, e Oscar Weinschenc k, diretor da empresa inglesa, na mesma tarde em que o movimento paredista eclo diu. Nesse encontro, ficou estabelecido que caberia à companhia, utilizando os empregados que não se encontrassem em greve, garantir o tráfego dos tre ns “que servem ao opera riado dos subúrbios” e ligam o Rio de Janeiro à ci dade de Petrópolis, onde se encontrava então, em vilegiatura, o presidente da Rep ública, Epitácio Pessoa, Por sua vez, O titular do Ministério da Justiça as severou aos jornalistas que “no caso de serem praticadas depredações no s bens da companhia ou se por ventura houver qualquer perturbação da ordem pública”, o governo agiriu com prontidão e firmeza, pois O efetivo policial mobilizado estava “conve 27 A Razão. Rio de Janeiro, 18 de março d e 1920, p. 5. 146 nientemente aparelhado para jugular de pronto qu alquer tentativa” de pro- moção de violências e desordens na Capital Fe deral.” No que se refere à manutenção da “ordem pública” e vigilância da movi- mentação popular nas regiões cortadas pelos trilh os da Leopoldina, a ação do Estado durante a primeira semana da greve foi de fato bastante enérgica e ostensiva. Agindo sob as ordens diretas do m inistro da Justiça e em estreita sintonia com a diretoria da Leopoldina Railway, o c hefe da Polícia do Rio de Janeiro e os delegados do 10º e 22º distritos policia is coordenaram pessoal- mente o emprego diário de um grande contingent e de praças de cavalaria e infantaria, agentes do Corpo de Segurança e guar das municipais — efetivo | policial este estimado em cerca de quinhentos hom ens, que tiveram, inclu- sive, ajuda de custo para alimentação paga pela companhia britânica, após 'uma solicitação do governo nesse sentido.” Mas o chefe da polícia, Geminiano França, e seus aux iliares não se limi- am a colocar a força pública de prontidão e a acompan har a guarda armada das estações, armazéns, oficinas e das várias c omposições ferroviárias aban- tiveram também um papel ativo e determinante n as diversas iniciativas da mpresa britânica para tentar quebrar a unidade dos grevistas e fazer com que b tráfego de trens na Linha do Norte não ficasse com pletamente paralisado — eja prendendo de imediato qualquer um que fosse suspeito de fazer piquete bu discursar em favor da greve, seja forçando grax eiros e foguistas a atuarem tomo maquinistas em comboios improvisados que part iam de tempos em gmpos da estação da Praia Formosa ou ainda dest acando grupos de solda- los fortemente armados para guarnecer tais combo ios e escalando guardas municipais para cuidar da sinalização de linhas e do acionamento de chaves. Lançando mão dos recursos administrativos e mecanismos coercitivos ue dispunham, bem como valendo-se do providenci al apoio das autoridades mblicas e da Ligth and Power, os diretores da Le opoldina Railway continua- am apostando no confronto para manter, a todo transe, algum tráfego na “inha do Norte, mesmo sob riscos enormes de qu e acidentes com vítimas icorressem.:º Ao mesmo tempo que deixaram tra nsparecer para à imprensa A Razão. Rio de Janeiro, 16 de março de 1920, p. 1. O Paiz. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 4 € 19 de março de 1920, p. 5. Nos primeiros dias da greve, além de utilizar fo guistas e graxeiros que não aderiram à greve e deslocar auxiliares de seu escritório central para as estações, a Leopoldina recebeu o apoio tanto - da Light and Power, que enviou 40 funcionári os para as garés suburbanas, quanto de guarda -fios da Repartição dos Telégrafos e mecânico s do Arsenal de Guerra da Marinha, cedido s pelo Estado à ferrovia britânica para restabelecer os serviços de telégrafo e telefone e reparar loco 147 que muitos dos operários em greve não seriam mais readmitidos em seus postos na estrada de ferro, implementaram uma contratação em massa de novos trabalhadores, incorporando-os de imediato nos serviços de oper ação de linha e nas estações dos subúrbios. A esse respeito, o Voz do Povo afirmou que a Leopoldina contratou, entre os dias 16 a 19 de março de 1920, “quatro - centas pessoas famintas e maltrapilhas”, desempregados de todo tipo, par a ocupar “os lugares que até há seis dias eram dados depois de uma série de exigências descabidas, entre as quais não podiam faltar o atestado de conduta e o empenho político”” No entanto, os trens permaneciam parados em sua quase totalidade, tendo em vista a extraordinária coesão dos grevistas e a forte adesão alcançada por seu movimento pacífico entre os maquinistas da Leopoldina. De acordo com os relatos jornalísticos, as raras composições que circularam pela Linh a do Norte durante a primeira semana dessa parede ferroviária partiam com muito atraso e com lotação irregular.” “Poucos passageiros, muitos soldados e pouca carga”, assim um repórter 'A Razão resumiu a situação que encontrou na manhã do dia 16 de março de 1920 na garé da Praia Formosa, onde altos funcionários da empresa britânica, visivelmente contrariados, tentavam, sem muito sucesso, organizar comboios para os subúrbios e para Petrópolis.” O quadro de paralisia geral dessa importante ferrovia, cumpre assinalar, não se alterou nem mesmo com a intensa mobilização oficial registrada em tal estação no dia seguinte, 17 de março, quando ali se reuniram os ministros de Epitácio Pessoa para embarcarem em trem especial com três carros de 1º classe, conduzido por suboficiais da Marinha e sob forte escolta policial, rumo àquela cidade serrana.* motivas descarriladas na Penha e em Meriti. Ver A Razão. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 7; Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 1; V oz do Povo. Rio de Janeiro, 1/ de março de 1920, p. 1e O Paiz. Rio de Janeiro, 18 de março de 1920, p. 5. 31 Jáa Gazeta de Notícias realçou que muitos dos desempregados que afluíam até a Praia Formou para tentar uma vaga “levavam até “pistolões de políticos que se interessa vam por colocá-los” Voz do Povo. Rio de Janeiro, 20 de março de 1920, p. 1 e Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro, 20 «dv março de 1920, p. 3. 32 Cerca de 96 comboios circulavam por dia pela Linha do Norte, média que com a greve se redu ziu para 23 trens de passageiros, “dirigidos por quatro ou cinco foguistas elev ados à qualidade de maquinistas” ou por suboficiais da Marinha. Voz do Povo. Rio de Janeiro, 17 de març o de 1920. p 1e 20 de março de 1920, p. 1. 33 A Razão. Rio de Janeiro, 17 de março de 1920, p. 7. 34 Para viabilizar a viagem de trem dos ministros até Petrópolis e reforçar o pesso al que a Leopol mantinha operando o tráfego da Linha do Norte, o governo cedeu à ferrovia foguistas e mecinl cos da Marinha, suboficiais do cruzador encouraçado Minas Gerais. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro,18 de março de 1920, p. 2. 148 A greve na Leopoldina Railway acabou se tornando um dos principais temas de uma reunião ministerial realiza da então no Palácio Rio Negro, não s da companhia ferroviária estiveram p resentes apenas porque dois diretore orrente dos acontecimentos” como para colocar “o dr. Epitácio Pessoa ao c também devido ao fato de que, no pe rcurso até Petrópolis, como sugeriu a Gazeta de Notícias, os ministros acab aram adquirindo “a noção exata da a naquela via férrea.” Ao final de tal e ncon- tro, o ministro da Viação anunciou que seria criada uma comissão espe cial para “estudar as pretensões dos grevista s e propor os meios de atendê-los no sentantes do governo federal, dos estad os de Minas britânica. Desse modo, mesmo mant en- extensão
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