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HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA - HBA • Em algumas definições falam do intestino médio. A hemorragia digestiva baixa vai do íleo terminal até o ânus. • A hemorragia digestiva baixa (enterorragia) é definida pela fonte de sangramento após o ângulo de Treitz. Em cerca de 95% dos casos, o sangue é do cólon. INCIDÊNCIA • 15% das hemorragias do tubo digestivo. • Aumenta com a idade – doenças adquiridas. • 95 – 97% a fonte do sangramento é o cólon. • 3 – 5% têm origem no intestino delgado. • A taxa de mortalidade é de 2 – 4%. • Os principais casos de hemorragia digestiva baixa são compreendidos no reto, cólon sigmoide, cólon descendente, cólon transverso, cólon ascendente, ceco e íleo terminal. SINTOMAS • Sangue oculto (anemia). • Hematoquezia (sangue junto as fezes). • Hemorragia maciça (enterorragia), geralmente cólon esquerdo. • Melena, geralmente cólon direito, mas pode ser de delgado também. • Na maioria das vezes a HDB é de uma hemorragia baixa, sendo inicialmente percebido na atenção primária pela anemia, então pede-se sangue oculto nas fezes, visto que a HDB é uma patologia crônica, na maioria das vezes. • A manifestação clássica é a hematoquezia (eliminação de sangue vivo puro ou misturado as fezes pelo reto). Caso o trânsito esteja lento, o paciente pode apresentar melena. • Na foto acima, exemplifica-se a cinética do ferro. Todo ferro ingerido é absorvido, ele vai para dentro da hemácia sendo estocado, os enterócitos absorvem o ferro, os hepatócitos servindo para a reserva de ferro, e os macrófagos que vão degradar as hemácias velhas e estocam o ferro. FATORES DE MAL PROGNÓSTICO • Instabilidade hemodinâmica (hipotensão, taquicardia, ortostase, síncope). • Sangramento persistente. • Comorbidades significativas. • Idade avançada. • Sangramento que ocorre em um paciente hospitalizado. • História prévia de sangramento de diverticulose ou angiodisplasias. • Uso atual de aspirina. • Tempo de protrombina prolongado. • Hipoalbuminemia. • Sem diarréia. • Anemia. • Nível elevado de ureia no sangue. • Contagem anormal de glóbulos brancos. ETIOLOGIAS • Causas mais comuns: o Divertículos de cólon: 17 – 44%. o Lesões vasculares: 3 – 30%. o Colite isquêmica: 9 – 21%. o Neoplasias: 4 – 14%. o Doenças anorretais: 4 – 11%. QUADRO CLÍNICO • No idoso: o Doença diverticular; o Angiodisplasias; o Neoplasia colorretal; • No adolescente: o Doença hemorroidária; o Doença inflamatória intestinal. DOENÇA DIVERTICULAR • É a principal etiologia da HDB. • 4 – 17% dos portadores de diverticulose. • O mecanismo de sangramento ainda é desconhecido, mas explica-se que ocorre o adelgaçamento da camada média da vasa recta → trauma por fecálito → ruptura intraluminal. • O divertículo é a principal causa de hemorragia digestiva baixa em paciente com mais de 50 anos. Acredita-se que quando o divertículo se forma, ele “carrega” uma das artérias penetrantes (vasos retos consigo). Com isso, o vaso fica aprisionado e tracionado na cúpula da estrutura diverticular, separado do lúmen intestinal por uma fina camada mucosa. O trauma por fecálitos pode provocar erosão da mucosa e fragilidade da parede arterial que se rompe. • Pacientes hipertensos, uso de AINES, têm maior risco de sangramento. Os divertículos do cólon direito têm maior chance de sangrar por serem maiores e terem uma base mais larga, expondo uma extensão maior da artéria penetrante a erosão. Do lado esquerdo é mais comum diverticulite. • O diagnóstico da doença diverticular é feito pela colonoscopia (certeza na vigência do sangramento ou presença do coágulo). 80 a 85% das hemorragias de divertículo cessam o sangramento espontaneamente. • O risco de ressangramento é de 25% após o primeiro episódio e de 50% após o segundo e os demais. • Os locais de sangramento mais frequentes são no cólon direito, visto que no lado direito tem menos divertículos, porém sangram mais e existe associação com angiodisplasia. • As indicações para cirurgia são: o Persistência do sangramento. o Na impossibilidade de tratamento endoscópico ou arteriografia. o Recidiva no mesmo segmento intestinal. o Doente instável com comorbidades. o A cirurgia é a colectomia segmentar com anastomose primária. ANGIODISPLASIA • Malformações AV com dilatações submucosas e erosões mucosas → sangramento. • Podem ser de origem congênitas ou adquiridas. São raras até os 60 anos e surgem com a idade. • É uma malformação vascular caracterizada pela ectasia (dilatação anormal) de pequenos vasos sanguíneos, cuja parede é revestida apenas por endotélio e pouco músculo liso. As angiodisplasias são encontradas em maior parte no cólon (ceco). • Os fatores de risco são: DRC, estenose aórtica, distúrbios de coagulação. • O diagnóstico é feito através do seguintes métodos: o Colonoscopia: blush hemorrágico – aparência de samambaia. o Arteriografia: padrão-ouro fase arterial – enchimento venoso precoce. • O tratamento pode ser feito com: o Embolização ou vasopressina. o Cauterização com plasma argônio, laser, termocautério. o Agentes químicos: adrenalina, álcool absoluto, etanolamina. o Agente mecânico: hemoclip. COLITE ISQUÊMICA • É causada devido um hipofluxo ou oclusão mesentérica da flexura esplênica ou junção retossigmóide. • Os fatores de risco são: o Idade > 60 anos. o Fibrilação atrial. o Insuficiência. o ICC. o Infarto agudo do miocárdio recente. o Dor abdominal pós-prandial. o Perda de peso inexplicada. • Os sintomas são: dor abdominal súbita, diarreia com sangue, sangramento autolimitado. • 20% necessitam de intervenção cirúrgica. NEOPLASIAS • Os sintomas e sinais são: sangue oculto nas fezes, anemia (cólon direito), hematoquezia (cólon distal e reto). • Erosão na superfície da lesão. • Pólipo intestinal são de 5 a 11% (> 1cm). • Deve ser investigada com colonoscopia a partir de 45 anos. Se histórico familiar, 10 anos antes. O sangue oculto é a partir dos 50 anos. DOENÇAS ANORRETAIS • Doença hemorroidária constitui 10% dos casos. O sangramento é autolimitado. • Fissura anal: dor e sangramento. • Varizes retais na hipertensão portal: hemorragia aguda copiosa. • Retite actínica: pós-radioterapia ocorre a perda crônica de sangue. DOENÇAS INFLAMATÓRIAS • Retocolite ulcerativa: 0 – 1%. • Doença de Crohn: 1 – 2%. o Ocorre sangramento com parada espontânea. O ressangramento é frequente, cerca de 35% dos casos. COLITE INFECCIOSA • O quadro de hematoquezia, dor abdominal, diarreia e febre define o quadro de colite. • Etiologia: o CMV: 25%. o Tuberculose: 12%. o Shighelose. o Salmonelose. • A diarreia com sangramento é um dos sinais clínicos. ANAMNESE • O sangramento deve ser investigado os seguintes fatores: o Vivo em gotas ou papel → reto ou canal anal. o Misturado às fezes → cólon ou delgado. o Sangue e coágulos e tonturas → volumoso. o Diarreia sanguinolenta → DII. EXAME FÍSICO • Alteração dos sinais vitais de acordo com o volume perdido. • Exame do abdome: tumores, dor e DB, visceromegalias. • EX: proctológico é de causas anorretais. EXAMES COMPLEMENTARES • Hemograma completo. • Plaquetas. • Coagulograma. • Tipagem sanguínea. • Função hepática. • Função renal. • Eletrólitos. TRANSFUSÕES DE SANGUE • A decisão de iniciar transfusões de sangue deve ser individualizada. • Pacientes jovens sem comorbidades podem não necessitar de transfusão até que a hemoglobina caia abaixo de 7g/dl. • Pacientes idosos e portadores de comorbidades graves, como doença coronariana, necessitam de transfusões de hemácias para manter hemoglobina mais elevada. DIAGNÓSTICO • É feito por exclusão, primeiro devemos excluir HDA (sonda nasogástrica e endoscopia), depois doenças anorretais (toque retal, anuscopia e sigmoidoscopia). • Métodos endoscópicos: o Anuscopia: identifica doenças orificiais. o Retossigmoidoscopia: segmento distal. o Colonoscopia:o principal e maior probabilidade de diagnóstico se realizado nas primeiras 24 horas. Vai até o íleo. o Cápsula endoscópica, usada para intestino médio. • 80 – 85% dos sangramentos cessam espontaneamente e o diagnóstico torna-se presuntivo. • Enteroscopia: quando a EDA e colono falham. Requer anestesia geral. Biópsia e terapia. • Cápsula endoscópica: exame do intestino delgado, pouco invasivo, contraindicada em caso de oclusão ou suboclusão. COLONOSCOPIA • A colonoscopia é o padrão ouro. • As vantagens são: potencial de localizar o local do sangramento, coletar amostras patológicas e de intervenção terapêutica. • As desvantagens são: preparo intestinal, má visualização em um cólon mal preparado e os riscos de sedação em um paciente com sangramento agudo. • As complicações (menos de 2% das colonoscopias realizadas para sangramento gastrointestinal inferior). • Se sangramento contínuo ou características clínicas de alto risco, realizar dentro de 24 horas após preparo adequado. • Prática: realizar a colonoscopia após a estabilização hemodinâmica e um preparo intestinal adequado. • O benefício da realização de colonoscopia de urgência (menos de 12 horas de admissão) não é claro. EXAMES DE IMAGEM • Cintilografia com hemácias marcadas: topografia do sangramento; até 0,1ml/min (sensibilidade alta/especificidade baixa). Na cintilografia, fica um pontinho preto, é o local do sangramento. • Angiografia seletiva – identifica vaso – até 0,5ml/min (sensibilidade baixa, especificidade alta) → permite diagnóstico e tratamento. É realizada após a cintilografia, indicada se sangramento contínuo. • Tomografia multislice – até 0,3ml/min (sensibilidade alta/especificidade alta). ALGORITMO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HDB MENSAGENS PARA CASA • O sangramento gastrointestinal inferior (GI) agudo se refere à perda de sangue de início recente originado no íleo terminal ou cólon. • O paciente relata hematoquezia. O sangue proveniente do cólon esquerdo tende a ter uma cor vermelha brilhante, enquanto o sangramento do cólon direito geralmente aparece de cor escura ou marrom e pode ser misturado com fezes. • A avaliação inicial inclui história, exame físico, exames laboratoriais e, em alguns casos, lavagem nasogástrica ou endoscopia digestiva (HDA X HDB). • O manejo inicial inclui triagem para o ambiente apropriado (ambulatório, paciente internado, unidade de terapia intensiva), medidas gerais de suporte, fluido apropriado e sangue ou agentes protrombóticos. • Uma vez excluída a fonte de sangramento do trato GI superior, a colonoscopia é o exame inicial de escolha para o diagnóstico e tratamento. QUESTÃO DA AULA 1- Um homem de 45 anos refere enterorragia há 1 dia. Diz ter dor abdominal discreta, difusa, em cólica. Nega episódios anteriores de perda de sangue nas fezes. É hipertenso, tabagista e etilista social. Está em regular estado geral, descorado, eupneico, um pouco ansioso. FC: 110bpm; PA: 90x70mmHg. O abdome é flácido e indolor à palpação. Toque retal: sangue vivo, sem massas. Conduta, após a reanimação volêmica: a. Colonoscopia. b. Arteriografia. c. Endoscopia digestiva alta. d. Cintilografia. e. Angiotomografia. RESPOSTA: LETRA C, visto que 85% das causas são de HDA. Então primeiro deve-se descartar HDA, para depois avaliar HDB. 2- Paciente de 62 anos, do sexo masculino, portador de fibrilação atrial, desenvolve dor abdominal intensa, aguda associada a dor à palpação e sinais de irritação peritoneal ao exame físico. A hipótese diagnóstica mais provável para esse quadro é: a. Úlcera duodenal. b. Isquemia mesentérica. c. Pancreatite. d. Apendicite. RESPOSTA: LETRA B, pelo hipofluxo ou oclusão mesentérica. A fibrilação atrial é um fator de risco para formação de trombos. No caso, o trombo se desloca e oclui a artéria mesentérica, promovendo uma colite isquêmica. 3- Paciente de 78 anos, sexo feminino, é internada com quadro de enterorragia volumosa, que cursou com queda de hemoglobina e instabilidade hemodinâmica. Dentre as causas de sangramento colorretal, assinale a causa mais comum de sangramento grave: a. Angiodisplasia colônica. b. Hemorroida interna. c. Colite isquêmica. d. Diverticulose. e. Úlceras retais. RESPOSTA: LETRA D. A causa mais comum de sangramento baixo é a diverticulose. 4- Paciente sexo feminino, 60 anos, refere hematoquezia há 3 meses, sem outros comemorativos. Das opções abaixo, qual a medida inicial mais adequada? a. Solicitar colonoscopia. b. Solicitar retossigmoidoscopia. c. Dosagem de CEA (antígeno carcinoembrionário). d. Realizar toque retal. RESPOSTA: LETRA D, antes de realizar qualquer exame é necessário exame físico.
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