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CON TABILIDADE AVA N ÇA DA Sérgio A. Porciúncula Jr. Código Logístico 59589 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6688-9 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 8 8 9 Contabilidade Avançada Sérgio A. Porciúncula Jr. IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ P871c Porciúncula Jr., Sérgio A. Contabilidade avançada / Sérgio A. Porciúncula Jr. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2020. 162 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6688-9 1. Contabilidade. 2. Investimentos. I. 20-65596 CDD: 657 CDU: 657 Sérgio A. Porciúncula Jr. Mestrando em Governança e Sustentabilidade pelo Instituto Superior de Administração (ISAE). Especialista em Controladoria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Ciências Contábeis pela mesma instituição. Formação em Professional & Self Coach (PSC) pelo Instituto Brasileiro de Coaching (IBC). Foi professor das disciplinas de Perícia Contábil em Ciências Contábeis e Auditoria e Gestão de Risco, além de palestrante em treinamentos de contabilidade para escritórios jurídicos e instituições de ensino superior. Tem experiência nas áreas de consultoria, auditoria interna e externa e gestão administrativa e financeira. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Investimentos em participações societárias 9 1.1 Investimentos: conceitos e classificações 9 1.2 Influência significativa: aquisição e perda 12 1.3 Aplicação do Método da Equivalência Patrimonial 14 2 Redução ao valor recuperável de ativos 37 2.1 Ativos que podem estar desvalorizados 38 2.2 Mensuração do valor recuperável 47 2.3 Desvalorização e sua reversão 55 3 Provisões, passivos contingentes e ativos contingentes 61 3.1 Principais conceitos e critérios de reconhecimento 62 3.2 Mensuração de provisões, passivos e ativos contingentes 72 3.3 Mudanças nas provisões 76 4 Mensuração do valor justo 82 4.1 Principais conceitos do valor justo 82 4.2 Formas de mensuração para ativos e passivos 85 4.3 Técnicas aplicadas à mensuração do valor justo 91 4.4 Hierarquia do valor justo 94 4.5 Identificando transações que são forçadas 102 4.6 Divulgação 102 5 Receita de contratos com clientes 105 5.1 Principais conceitos dos contratos com clientes 105 5.2 Reconhecimento, mensuração e custo do contrato 110 5.3 Julgamentos significativos a serem observados 129 6 Arrendamentos 134 6.1 Principais conceitos de arrendamento 134 6.2 Identificação de arrendamento 137 6.3 Mensuração do arrendamento: inicial e subsequente 143 Gabarito 157 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! APRESENTAÇÃOVídeo Esta obra trata de tópicos selecionados com base nas práticas contábeis adotadas no Brasil por meio dos Pronunciamentos Técnicos (também conhecidos como CPC), que são amplamente discutidos pelos profissionais contábeis e, muitas vezes, classificados como de complexidade média ou avançada devido aos desafios em suas interpretações e adoções. Nesse sentido, o objetivo principal dessa obra é detalhar esses conteúdos buscando torná-los mais acessíveis e de maior compreensão para esses profissionais, bem como para o público em geral, que faz uso da contabilidade como instrumento de tomada de decisão. Nesse viés, no primeiro capítulo discorro sobre os investimentos em participações societárias por meio do Pronunciamento Técnico CPC 18(R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto, passando pelos principais conceitos: influência significativa; controle, alcance, uso e descontinuidade do método de equivalência patrimonial; alocação de ágio nos investimentos em participações; mensuração e reconhecimento. No segundo capítulo, trato do Pronunciamento Técnico CPC 01(R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos e dos procedimentos a serem seguidos pelos profissionais contábeis quanto à identificação dos ativos que podem estar desvalorizados, técnicas de mensuração, reconhecimento da perda por desvalorização e situações em que pode ocorrer a reversão das eventuais perdas apuradas. O terceiro capítulo abrange o Pronunciamento Técnico CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes e as diferenças existentes entre Provisões, Passivos e Ativos Contingentes, Contas a Pagar e Provisões Accruals. Reconhecimento contábil, mensuração de riscos e incertezas, e contrato oneroso também são temas relevantes devido ao grau de julgamento profissional aplicado nessas estimativas contábeis elaboradas. Sobre o Pronunciamento Técnico CPC 46 – Mensuração do Valor Justo, trato, no quarto capítulo, das formas de mensuração do valor justo, como as técnicas de avaliação aplicadas na mensuração, as hierarquias e outros temas correlatos que proporcionam o adequado entendimento do uso do valor justo nas demonstrações contábeis das empresas. No quinto capítulo, abordo o Pronunciamento Técnico CPC 47 – Receita de Contrato com Cliente com base no modelo de cinco etapas para reconhecimento da receita e os julgamentos significativos e necessários para determinadas situações e aspectos de divulgação nas demonstrações contábeis. 8 Contabilidade Avançada No último e sexto capítulo, abordo o Pronunciamento Técnico CPC 06(R2) – Arrendamentos, o qual representa um dos melhores exemplos da observância do princípio da essência sobre a forma que o profissional contábil deve conhecer. Além disso, discorro sobre os principais conceitos, como a identificação de um arrendamento, a mensuração e reconhecimento inicial e subsequente dessas transações, os impactos no ativo, no passivo e no resultado do arrendador e arrendatário e suas respectivas divulgações. Por fim, como forma de agradecimento, dedico esta obra a minha esposa, Simone, companheira e apoiadora incondicional em todos os momentos da minha vida, a minha mãe, Nádia, ao meu pai, Sérgio, aos meus sogros, Paulo e Eva, e in memoriam dos meus avós, Maria e José Carlos, e meu irmão, Piérre. Investimentos em participações societárias 9 1 Investimentos em participações societárias A necessidade de se estudar os investimentos em participações socie- tárias nasce das transações de compras e vendas celebradas no nível da administração das empresas e que migram para o campo contábil. Sob a ótica da formalização dessas compras e vendas, podemos citar como exemplos de eventos motivadores: o desenvolver de um plano estratégico de diversificação dos resultados por meio do lucro obtido com investimentos em outras empresas; a compra de uma empresa concorrente no mercado para “controlar” a concorrência e aumentar o market share; um plano de expansão das operações e da marca da entidade com abrangência internacional. Pela relevância do assunto, o objetivo deste capítulo é levar até você, estudante efuturo profissional contábil, os principais tópicos seleciona- dos, tendo como principal referência o Pronunciamento Técnico CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto, corroborando o relevante papel da contabilida- de no ambiente corporativo e no apoio à tomada de decisão empresarial. Boa leitura! 1.1 Investimentos: conceitos e classificações Vídeo Podem existir várias razões para que a gestão de uma empresa decida investir em outras empresas. Independentemente das motivações, é fato que, para o corre- to prosseguimento desses investimentos, o profissional contábil deve estar atento e preparado para acompanhar o desenrolar das transações e os procedimentos necessários, com o objetivo de viabilizar, concretizar e proceder os registros contá- beis adequados. O estudo, a avaliação e a divulgação dos investimentos em participações societárias são o objeto da contabilidade desde a Lei n. 6.404/1976. Entretanto, foi com o advento da harmonização das práticas contábeis brasileiras, com a Lei n. 11.638/2007, que os pronunciamentos, as orientações e as interpretações técnicas começaram a ser emiti- 10 Contabilidade Avançada dos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Desde a publicação desses do- cumentos técnicos, também pudemos verificar alterações significativas no tratamento contábil de eventos e transações com a inclusão de conceitos, classificações das par- ticipações e movimentações societárias, que passaram a ser exigidas e observadas. No Quadro 1, a seguir, são apresentados os documentos técnicos foco des- te capítulo e as respectivas normas do Conselho Federal de Contabilidade (Normas Brasileiras de Contabilidade – NBC), as quais endossaram a emissão dos Pronunciamentos, e as correspondentes Normas Internacionais (IFRS). Quadro 1 Relação dos correspondentes CPC, NBC e IFRS Documentos emitidos pelo CPC NBC emitidas pelo CFC Normas Internacionais de Relatórios Financeiros (IFRS) Pronunciamento Técnico CPC 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Empreendimento Controlado em Conjunto. NBC TG 18 (R2) – Investimento em Coligada, em Controlada e em Em- preendimento Controlado em Conjunto. IAS 28 – Investments in Associates and Joint Ventures. Interpretação Técnica ICPC 09 (R2) – Demonstrações Contábeis Individuais, Demonstrações Separadas, Demonstrações Consolidadas e Aplicação do Método da Equivalência Patrimonial. ITG 09 (R1) – Demonstrações Contábeis Individuais, Demonstrações Separadas, Demonstrações Consolidadas e Aplicação do Método de Equivalência Patrimonial. Sem correspondente equivalente no IFRS. Fonte: Elaborado com base em CPC, 2012b e 2012c. 1.1.1 Conceitos Antes de avançarmos, destacamos os principais conceitos que lhe auxiliarão no entendimento mais aprofundado dos tópicos à medida que são apresentados. Os termos são indicados no item 3 do CPC 18 (R2) (2012b) e contam com algumas ex- plicações complementares, quando necessário. • Coligada: “entidade sobre a qual a investidora tem influência significativa”, ou seja, detém 20% ou mais do capital votante, sem controlá-la. • Controlada: “entidade que é controlada por outra entidade”, ou investidora. • Controladora (ou investidora): “entidade que controla uma ou mais controladas”. • Influência significativa: poder (ou capacidade) que a investidora tem de to- mar decisões sobre políticas financeiras, operacionais e estratégicas da in- vestida, sem que haja o controle individual ou o conjunto dessas políticas. A influência significativa é presumida quando a investidora detiver 20% ou mais do poder de voto da investida, sem deter o seu controle. • Controle sobre a investida: “quando a investidora controla e tem preponderân- cia em decisões, políticas financeiras e operacionais da investida” (CPC, 2012d). O controle também se relaciona com os direitos da investidora sobre o que cha- mamos de retornos variáveis decorrentes de seu relacionamento com a investi- da e a capacidade da investidora de afetar esses retornos, acessar os benefícios e revertê-los para si. Os retornos variáveis podem ser explicados como sendo A Lei n. 11.638/2007 aprovou os dispositivos para recepcionar os Pronunciamentos Contábeis (CPC), com base nas International Financial Reporting Standard (IFRS), em português, Normas Internacionais de Relatório Financeiro, e concretizou o processo de harmonização das práticas contábeis adotadas no Brasil com as práticas contábeis internacionais. Saiba mais Investimentos em participações societárias 11 as decisões estratégicas tomadas pela investidora que impactam diretamente os resultados operacionais da investida. • Negócios em conjunto 1 : “negócio do qual duas ou mais investidoras têm o controle conjunto sobre a investida”, estando vinculadas por acordo contra- tual que dá controle conjunto. • Controle conjunto sobre a investida 1 : “quando duas ou mais investido- ras compartilham o controle de uma mesma investida”, ou seja, não há uma única parte que tenha o poder de controle individualmente; esse controle é contratual e exige o consentimento unânime das partes que o compartilham. • Método da equivalência patrimonial: “método utilizado para refletir na contabilidade da investidora as mutações do patrimônio líquido ocorridas nas investidas, independentemente se for uma coligada, controlada ou um empreendimento controlado em conjunto”. • Potencial direito de voto: a investidora detém o poder de voto adicional ou a redução do voto de outra parte investidora sobre as políticas financeiras e operacionais da investida, que podem ser concedidos por meio de direitos de subscrição, opções de compras de ações, debêntures, instrumentos de dívida ou semelhantes com potencial de exercício ou conversão. O potencial direito de voto de uma investidora também deve ser considerado no momento de avaliar se a entidade possui ou não influência significativa ou controle. 1.1.2 Classificações O CPC 18 (R2) deve ser aplicado em todas as empresas que tenham investimen- tos em participações societárias, sejam elas investidoras com controle individual, com conjunto de investidas ou com influência significativa sobre as investidas. Você deve estar se perguntando: por que a relação societária entre a investidora e a investida é importante? Qual é o impacto de se classificar ou não um investi- mento de acordo com o CPC 18 (R2)? A melhor maneira de respondermos a esses questionamentos é observarmos na Figura 1 o desdobramento da análise do relacionamento societário entre a in- vestidora e a investida, bem como seus reflexos. Figura 1 Árvore de decisão e classificação de investimentos em participações societárias O investimento é mantido para a venda? 2º CPC 18 (R2) e uso do método da equivalência patrimonial 3ºA investidora possui influência significativa ou acesso aos retornos associados aos interesses de propriedade na investida? 1º CPC 48 – Instrumentos Financeiros (*) CPC 31 – Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada Sim Não Sim Não (*) Quando o CPC 48 é selecionado, o método da equivalência patrimonial não pode ser aplicado. Fonte: Elaborada pelo autor. Os negócios em conjunto e o controle conjunto devem ser analisados com base no CPC 19 (R2) – Negócios em Conjunto. Porém o reconhecimento inicial e as mensurações subsequentes devem ser feitos de acordo com o CPC 18 (R2). Ou seja, a parti- cipação precisa ser avaliada pela equivalência patrimonial. 1 12 Contabilidade Avançada No primeiro quadro da Figura 1 vemos a análise inicial do relacionamento so- cietário entre a investidora e a investida. A existência de pouca ou nenhuma in- fluência significativa (inferior a 20%) ou o não acesso aos retornos variáveis na investida definirão se deve ser aplicado o CPC 18 (R2) ou o CPC 48 – Instrumentos Financeiros 2 . A interpretação errônea desses conceitos levará ao uso do CPC ina- dequado e ao registro contábilincorreto das participações societárias. Passando ao segundo quadro, verificamos que a análise é relacionada com a inten- ção e a capacidade de a investidora vender o investimento em sua condição presente. É importante que o profissional contábil obtenha esses esclarecimentos junto à admi- nistração da investidora, pois as respostas o orientarão a usar ou não o CPC 31 – Ativo Não Circulante Mantido para Venda e Operação Descontinuada 3 . No terceiro quadro, o profissional contábil poderá, por fim, classificar os inves- timentos em participações societárias, de acordo com o CPC 18 (R2). Empresas de capital de risco, fundos mútuos, trustes e entidades similares não devem utilizar o CPC 18 (R2) para investimentos em coligadas e controladas. Estas organizações mantêm aplicações em participações societárias para fins de negociação no mer- cado financeiro e, por isso, devem classificar seus investimentos pelo CPC 48 – Instrumentos Financeiros, bem como avaliá-los ao valor justo. As análises devem ser feitas para cada um dos investimentos que a investidora possui, e sempre que houver alterações nas participações societárias. Importante 1.2 Influência significativa: aquisição e perda Vídeo A influência significativa é um dos principais conceitos que norteiam a obser- vância e a aplicação do CPC 18 (R2), e tem um certo nível de subjetividade. Por essa razão, entender quando ocorre a aquisição e a perda da influência significati- va é fundamental para a adoção adequada desta norma técnica pelo profissional contábil. 1.2.1 Aquisição da influência significativa Antes da harmonização das práticas contábeis entre os CPC e os IFRS, as legisla- ções societária e contábil indicavam que a classificação de coligadas e controladas deveria ser feita com base no percentual de participação societária que a investi- dora possuía sobre as investidas. Certamente, era um critério mais objetivo. Por outro lado, muitas vezes não refletia o relacionamento negocial entre investidora e investida. Mas o que é um relacionamento negocial entre empresas? Um exemplo prático ocorre quando a investidora se beneficia de sinergias operacionais com as investi- das, geralmente de maneira exclusiva, decorrentes de poderes que lhe são conferi- dos por acordos contratuais e instrumentos de capital celebrados entre as partes, os quais acabam potencializando os lucros e a geração de caixa para a investidora. O CPC 48 não será abordado neste livro, contudo, seu objetivo “é apresentar informações per- tinentes e úteis aos usuários de demonstrações contábeis para a avaliação dos valores, época e in- certeza dos fluxos de caixa futuros da entidade” (CPC, 2016). 2 Não trataremos do CPC 31 neste livro, contudo, seu objetivo é “estabelecer a contabilização de ativos não circulantes mantidos para venda (ou colocados à venda) e a apresentação e a divulgação de operações descontinuadas” (CPC, 2009). 3 Investimentos em participações societárias 13 Antes do CPC 18 (R2), os acordos não eram analisados e/ou divulgados. Esse cenário mudou com a introdução do conceito de influência significativa, alinhada à Lei n. 6.404/1976 (art. 243, §1º, alterações introduzidas pela Lei n. 11.638/2007 e pela Lei n. 11.941/2009). Assim, de acordo com a legislação societária, o CPC 18 (R2) (2012b), no item 5, menciona que “se a investidora mantém, direta ou indiretamente (por meio de controladas, por exemplo) vinte por cento ou mais do poder de voto da investida, presume-se que ela tenha influência significativa [sem controlá-la], a menos que possa ser claramente demonstrado o contrário”. Nessa situação, a investida será classificada como uma coligada. Porém, ainda conforme o item 5 do documento, “se a investidora detém, di- reta ou indiretamente, menos de vinte por cento do poder de voto da investida, presume-se que ela não tenha influência significativa, a menos que essa influência possa ser claramente demonstrada” (CPC, 2012b). Nesse cenário, a classificação do investimento será tratada pelo CPC 48 – Instrumentos Financeiros, conforme mencionado no tópico 1.1.2. A análise completa e adequada da influência significativa prevê que a investido- ra “considere a existência e o efeito dos direitos de voto potencial que forem pron- tamente exercíveis ou conversíveis para fins de determinar se possui influência significativa ou controle” (CPC, 2012b). A existência de influência significativa pela investidora é evidenciada por um ou mais dos itens listados a seguir, conforme item 6 do CPC 18 (R2) (2012b): a) representação no conselho de administração ou na diretoria da investida; b) participação nos processos de elaboração de políticas, inclusive em deci- sões sobre dividendos e outras distribuições; c) operações materiais entre a investidora e a investida; d) intercâmbio de diretores ou gerentes; e) fornecimento de informação técnica essencial [Ex.: direitos industriais e tecnológicos da investidora que a investida depende]. O item (a) do CPC 18 (R2) indica que a investidora pode deter o direito de eleger representantes que ocupam cargos relevantes, os quais decidirão a seu favor no estabelecimento e na execução de suas estratégias. Por exemplo, a investidora pode selecionar representantes na investida em número suficien- te de diretores ou conselheiros que decidam a favor dos seus interesses em reuniões. Para o item (b), é possível apontar situação semelhante ao item (a), com a clara defesa dos interesses da investidora no processo de elaboração de políticas relevantes da investida. Já em relação aos itens (c) e (e), a investido- ra poderá exercer sua influência na celebração de operações relevantes com sua investida, até mesmo em caráter de exclusividade, tendo acesso e com- partilhando direitos industriais e tecnológicos, o que geralmente é tratado de modo sigiloso e confidencial pela maioria da administração de empresas, por ser a “alma” do negócio. 14 Contabilidade Avançada Por último, o item (d) revela que a investidora pode promover o intercâmbio de pessoas-chave no nível decisório e mesmo operacional. Além de influenciar nas decisões, ela pode “aprender” com o intercâmbio e “copiar” esses procedimentos e processos para as suas atividades, sem se preocupar com direitos industriais e autorais, o que, sem dúvida, é um grande diferencial negocial e estratégico. Em suma, a influência significativa é verificada em diversos níveis, naturezas e tipos de eventos, mas todos concedendo um benefício diferenciado à investi- dora, se compararmos com outras partes interessadas (de mercado) fora desse relacionamento. 1.2.2. Perda da influência significativa Da mesma maneira que a investidora pode adquirir influência significativa so- bre a sua investida, ela também pode perder essa influência, o que ocorre quando se deixa de ter o poder de participar das decisões sobre as políticas financeiras, operacionais e estratégicas da investida. Isso ocorre com ou sem mudança no nível de participação acionária absoluta ou relativa. Com a perda, a investidora deve suspender o uso do método da equivalência patrimonial a partir da data que o fato foi constatado. Se mesmo assim a investi- dora ainda mantiver participação societária na investida, o investimento passará a ser contabilizado como um instrumento financeiro, de acordo com o CPC 48 (2016). 1.3 Aplicação do Método da Equivalência Patrimonial Vídeo Chegamos ao tema mais relevante desse capítulo: o Método da Equivalência Patrimonial (MEP), que é um dispositivo de avaliação dos investimentos em par- ticipações societárias. Ao todo, existem três métodos: Equivalência Patrimonial, Custo e Valor Justo. No entanto, o escopo deste capítulo é tratar do MEP. O MEP é o método em que o investimento na participação societária da em- presa adquirida (investida) é inicialmente reconhecido pela investidora pelo seu valor de custo (valor pago na aquisição da participação societária). A partir dessa data, a participação societária passa a ser ajustada periodicamentepara refletir as mudanças no Patrimônio Líquido e os eventos econômicos das investidas (lucros, por exemplo). Esse método deve ser aplicado a partir da data em que a investida se tornar uma coligada, uma controlada ou um negócio em conjunto, conforme a previsão do CPC 18 (R2) (2012b) e da Lei n. 6.404/1976, art. 248. Para fins de comparação, no Método do Custo a investidora registra a compra da participação societária pelo valor de custo (valor pago) e não faz novas altera- ções nele, mesmo que ocorram mutações no Patrimônio Líquido das investidas. Os dividendos a receber da investida são registrados como receita na investidora, quando o direito do recebimento for estabelecido. Apesar das vantagens, o MEP apresenta complexidades e peculiaridades que devem ser observadas com atenção pelos profissionais contábeis. Por essa razão, é importante que você conheça os procedimentos para a aplicação adequada. Investimentos em participações societárias 15 1.3.1 MEP: um guia passo a passo Você pode estar pensando: entendo que o assunto é complexo e que terei dificuldades, mas por onde devo começar? Preparamos um passo a passo com orientações e sugestões a serem utilizadas como referência no uso do MEP. Ressal- tamos que os itens a seguir foram fundamentados na premissa de que a investi- dora já possui participação societária em uma investida 4 e que, nesse momento, ela está efetuando os procedimentos contábeis atualizando os saldos do grupo de investimento para a data de um fechamento contábil com base nas mudanças no Patrimônio Líquido e nos eventos econômicos das investidas. 1º passo – Levantando e analisando os documentos societários. Após confirmar a classificação da participação societária no escopo do CPC 18 (R2), conforme os passos comentados, o profissional contábil analisará os documentos societários e os instrumentos patrimoniais que a investidora celebrou com cada uma das investidas. São alguns exemplos: • contrato, estatuto social, atas com o aumento de capital e a emissão de novas ações e/ou diluição de participação das outras investidoras; • atas com deliberação pela distribuição de dividendos intermediários ou aci- ma dos dividendos obrigatórios; • contratos de venda, ou intenção de venda, de participação societária; • contratos de elaboração de parceria com outras empresas. Com os documentos em mãos, o profissional contábil terá condições de avaliar a existência de influência significativa por meio de: a. participação societária da investidora sobre as investidas; b. efeitos de instrumentos de capital e/ou de dívida; c. potenciais direitos de voto. Dentre esses eventos, (b) e (c) exigem mais atenção do profissional devido à sua complexidade, pois, caso se confirmem, assumimos que a investidora teria condi- ções de converter ou exercer seus direitos potenciais de voto, e eles alterarão o percentual de participação a ser aplicado no cálculo do MEP da investidora sobre a investida. Por haver muitos detalhes a serem observados e atendidos, recomendamos que o profissional contábil elabore uma planilha eletrônica para auxiliá-lo no acom- panhamento de todos os eventos societários realizados pela investidora com as investidas. A análise desse passo é aplicável a todas as investidas localizadas no Brasil e/ou no exterior. Os reflexos dos eventos descritos em (b) e (c) podem modificar a classificação de um investimento inicialmente contabilizado pelo CPC 48 para o CPC 18 (R2), como o uso do MEP e, até mesmo, a necessidade de reapresentação das demonstrações con- tábeis, conforme o CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro, o qual não é escopo deste livro. Importante 2º passo – Limite de defasagem entre as datas de demonstrações contábeis da investidora e das investidas. Na próxima seção, 1.3.2, você verá os procedimentos que a investidora deve seguir quando for apurado que passou a deter o controle sobre a investida, da qual já detinha a participação. 4 16 Contabilidade Avançada Em relação à defasagem de datas, o CPC 18 (R2) (2012b) e o art. 248 da Lei n. 6.404/1976 determinam que a investidora deve utilizar a demonstração contá- bil mais recente da investida para a realização do cálculo do MEP. O item 33 do CPC 18 (R2) (2012b, grifo nosso) também indica que “quando o término do exercício social da investida for diferente daquele da investidora, a investida deve elaborar demonstrações contábeis na mesma data das demons- trações da investidora”. Mas como proceder se a investida não puder atender à obrigatoriedade de preparar as suas demonstrações contábeis na mesma data da investidora? Quan- do isso acontecer, serão aceitas demonstrações com uma defasagem máxima não superior a dois meses (60 dias) entre as datas de encerramento das demons- trações contábeis da investida e da investidora. Fique atento: durante o período de defasagem pode ser necessário fazer ajus- tes contábeis que impactam a base do valor do MEP em decorrência de efeitos de transações e eventos relevantes, como: dividendos pagos, aumento de capital, ocorrência de sinistro na empresa e perdas não esperadas. A análise desse passo é aplicável a todas as investidas localizadas no Brasil e/ou no exterior. 3º passo – Investidas localizadas no exterior: atenção aos eventos específicos. O MEP também deve ser adotado para investimentos realizados no exterior. Todavia eles precisam ser tratados com um maior nível de atenção devido a even- tos específicos e reflexos contábeis decorrentes da moeda estrangeira (por exem- plo: dólar, euro) sobre a moeda brasileira (real), conforme tratado a seguir: a. Taxa de câmbio usada na integralização de capital de investida no exterior. A formalização da integralização de capital de uma investida no exterior segue os mesmos passos de uma integralização realizada no Brasil, observando as leis do país em que a investida está localizada. Assim, esse processo se dá por meio dos respectivos documentos societários assinados e vigentes e pela remessa dos recursos financeiros da investidora para o país onde a investida está sediada. Entretanto, você pode ter a seguinte dúvida: qual taxa de câmbio devo utilizar para registrar a integralização de capital nos livros contábeis da investidora no Brasil? Pare e reflita sobre essa situação e os fatos apresentados. Na sua opinião, qual será a taxa de câmbio que melhor reflete a integralização? No Brasil, o valor da integralização da investidora deve ser registrado em moeda nacional (real) pelo valor efetivamente desembolsado, ou seja, o valor em moeda estrangeira da integralização, convertido pela taxa de câmbio corrente na data da remessa dos recursos ao exterior. Considerando que a operação de envio dos recursos financeiros para o ex- terior é celebrada via banco, a taxa de câmbio será aquela que constar no con- trato de câmbio assinado entre a investidora e a instituição financeira, o mesmo raciocínio funciona para os aumentos de capital subsequentes. A análise desse passo é aplicável somente às investidas localizadas no exterior. Para as nacionais, a contabilização ocorrerá conforme os atos societários referentes à integralização de capital sempre na moeda corrente: o real. É importante que o profissional contábil observe o conceito de moeda funcional para avaliar a moeda na qual os registros contábeis das transações poderão ocorrer. Para se aprofun- dar no assunto, recomen- damos o estudo do CPC 02 – Efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstrações contábeis. Disponível em: http://www.cpc. org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamen- to?Id=9. Acesso em: 27 jul. 2020. Leitura http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=9Investimentos em participações societárias 17 Vejamos o Caso Prático 1 da situação indicada: A Companhia ABC Brasil (investidora) efetuou o aumento de capital em sua coligada Construldor, localizada na Itália, no valor (em euro) de 500.000,00. O contrato de câmbio com a remessa das divisas do Brasil para a Itália foi celebrado no dia 02/02/2019 com uma taxa de câmbio de 1 euro: R$ 4,3801. A taxa do câmbio do euro em 28/02/2019 era de 1 euro: R$ 4,4001. a) Qual será o valor do aumento de capital a ser contabilizado pela investidora no saldo contábil do grupo de investimento no fechamento contábil do mês de fevereiro de 2019, em reais? b) Efetue os respectivos lançamentos contábeis na investidora. Caso Prático 1 b. Dividendos recebidos de investidas no exterior e no Brasil. Quando a investidora receber dividendos de investidas no exterior, que são ava- liadas pelo MEP, o montante deve ser registrado como redução na respectiva conta do grupo de investimento, na investidora, em reais, mas observando a conversão da moeda estrangeira pela taxa de câmbio na data do recebimento, ou seja, na data em que o contrato de câmbio foi efetivado pela instituição bancária pela qual os recursos estão sendo recebidos pela investidora. Mas atenção: se o registro do dividendo na investidora ocorrer antes do recebi- mento, isto é, pela declaração de dividendo da investida em favor da investidora, a taxa de câmbio de conversão será, inicialmente, na data do registro da declaração de dividendo pela investidora. As variações cambiais registradas entre a data do registro inicial até a data do recebimento serão reconhecidas pela investidora na conta de dividendos a receber em contrapartida da conta de investimentos, e não serão reconhecidas no resultado ou no Patrimônio Líquido. A análise desse passo é aplicável somente às investidas localizadas no exterior. No caso de dividendos recebidos de investidas nacionais, avaliadas pelo MEP, as distribuições recebidas reduzem o valor contábil do investimento e não influen- ciam as contas de resultado da investidora. Por isso, os dividendos devem ser re- gistrados a crédito da conta de investimentos e a débito da conta de bancos pelo recebimento, ou em dividendos a receber, no caso de o direito ao recebimento ter sido estabelecido, mas não recebido. Para entender melhor as movimentações de dividendos recebidos (tanto de in- vestidas no exterior quanto no Brasil), pense neles como uma “realização parcial do investimento” dos lucros anteriormente reconhecidos pelo MEP. Esse tratamen- to contábil é diferente do que ocorre no caso de um investimento mantido pelo Método de Custo, em que os dividendos são contabilizados pela investidora na conta de Receita de Dividendos (Resultado do Exercício), tendo por contrapartida a conta de Dividendos a Receber ou Bancos, caso o dividendo já tenha sido recebido. Observemos o Caso Prático 2: No dia 18/12/2018, a administração da Construldor (investida localizada na Itália) aprovou a distribuição de dividendos mí- nimos obrigatórios para a sua investidora, a Companhia ABC Brasil, no valor (em euro) de 50.000,00 para o exercício de 2018, com base no pré-fechamento contábil realizado. No dia 18/12/2018, a taxa de câmbio era de 1 euro: R$ 4,4001. O recebimento bancário dos dividendos ocorreu em 27/12/18 pela taxa de câmbio de 1 euro: R$ 4,4502. a) Calcule o valor dos dividendos aprovados em reais, considerando a data de aprovação e a data de recebimento, bem como a variação cambial. b) Efetue a contabilização na investidora na data de recebimento. Considere, também, os lançamentos contábeis do efeito da variação cambial. Caso Prático 2 18 Contabilidade Avançada c. Uniformidade (ou alinhamento) das práticas contábeis. O cálculo do MEP pressupõe que as demonstrações contábeis das investidas seguem as mesmas práticas contábeis da investidora. Caso a investida adote práticas diferentes das usadas pela investidora, será necessário realizar ajustes para uniformizar as demonstrações contábeis das empresas antes de se efetuar o MEP. Esse passo é relevante se pensarmos que práticas contábeis diferentes podem levar a resultados diferentes nas contas patrimoniais e no resultado, o que impactará o patrimônio das investidas e, consequentemente, a apuração do MEP na investidora. Você pode estar se perguntando: mas como fazer essa uniformização? Muitas vezes, o profissional contábil da investidora deve realizar um levanta- mento geral – que podemos chamar de diagnóstico contábil – para conhecer as práticas contábeis das investidas no país onde elas estão sediadas e quais serão os ajustes contábeis necessários para o alinhamento das práticas apli- cadas pela investidora no Brasil. Uma boa recomendação é documentar todos os ajustes efetuados em uma planilha eletrônica com os registros extracontábeis necessários. Essa medida é importante para garantir a uniformização, manter todos os documentos que deram suporte, bem como o histórico desses ajustes contábeis realizados ao longo do tempo em que estiveram vigentes. Vejamos um exemplo: Exemplo A investida CarGoWayUS, localizada nos EUA, tem como prática contábil local efetuar a provisão para estoques de baixo giro considerando um percentual his- tórico de 2% sobre o saldo total dos estoques de produtos acabados. Esse valor foi definido após estudos internos aprovados. A investidora CarGoWay Brasil possui uma prática contábil mais conserva- dora. Sua provisão para estoques de baixo giro é de 3% sobre o saldo total dos estoques de produtos acabados, também definida com base em estudos aprovados. Para fins de aplicação do MEP, a investidora deve fazer o alinhamento da práti- ca contábil local da investida CarGoWayUS com a sua prática brasileira. Para isso, deverá complementar a provisão da investida em 1%, atingindo o total de 3%, con- forme detalhes da Tabela 1 a seguir: Tabela 1 CarGoWayUS (investida) Saldo contábil – estoque de produtos acabados em 31/12/2019 USD 100.000,00 Percentual de provisão p/ estoque de baixo giro 2% Saldo da provisão contabilizada pela CarGoWayUS USD 2.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Investimentos em participações societárias 19 Tabela 2 CarGoWayBrasil (investidora) Percentual de provisão para estoque de baixo giro 3% Taxa cambial em 31/12/2019 1 USD = R$ 3,80 Complemento de provisão Percentual da provisão p/ estoque de baixo giro – CarGoWayUS 1% Valor da provisão p/ estoque de baixo giro – CarGoWayUS USD 1.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 3 Resumo da planilha de ajuste extracontábil em 31/12/2019 Saldo final – CarGoWayUS Ajuste extracontábil realizado pela CarGoWay Brasil Saldo final – CarGoWayUS após ajuste extracontábil realizado – CarGoWay Brasil USD Reais Estoque de produtos acabados USD 100.000,00 0 USD 100.000,00 R$ 380.000,00 ( - ) Provisão para estoque de baixo giro USD 2.000,00 USD 1.000,00 USD 3.000,00 R$ 11.400,00 Percentual de provisão 2% 1% 3% 3% Fonte: Elaborada pelo autor. Na planilha de ajuste extracontábil (Tabela 4), o profissional contábil fará um lançamento de complemento da provisão para estoque de baixo giro da inves- tida CarGoWayUS: Tabela 4 Lançamento do ajuste extracontábil D Despesa com provisões (resultado) R$ 3.800,00 C Provisão para estoque de baixo giro (R$ 3.800,00) Fonte: Elaborada pelo autor. Com o ajuste, o resultado da investida CarGoWayUS será reduzido em R$ 3.800,00 (USD 1.000,00). Isso demonstra o porquê de os ajustes extracontábeis serem feitos antes de a investidora realizar o cálculo do MEP sobre o saldo das investidas. O procedimento será executado todas as vezes que se aplicar o MEP. Exem- plos de alguns ajustes extracontábeis são: critérios de classificação e avaliação de ativos e passivos (estoques, imobilizado, intangível, investimentos, ativos e passivos financeiros etc.); e critérios diferentes de reconhecimento de receitas e despesas. Comumente, a análise desse passo é aplicável somente às investidas localizadasno exterior. Mas caso haja investidas no Brasil, com práticas contá- beis diferentes, esse passo também deve ser efetuado. As planilhas com os ajustes extracontábeis devem ser utilizadas somente para esta finalidade. Caso sejam identificadas mudanças de estimativas e correções de erros contábeis, os ajustes não devem ser incluídos nesses documentos, mas sim acomodados seguindo as orientações do CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro , o qual você encontra no link a seguir. Disponível em: http://www.cpc. org.br/CPC/Documentos-Emitidos/ Pronunciamentos/Pronunciamen- to?Id=54. Acesso em: 27 jul. 2020. Importante http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=54 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=54 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=54 http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=54 20 Contabilidade Avançada d. Conversão das demonstrações contábeis da investida: de moeda estrangeira para moeda local (real). Esse é um dos assuntos mais desafiadores relacionados com o MEP, por isso o seu foco deve ser redobrado. Encontramos os preceitos desse assunto no CPC 02 – Efeitos das Mudanças nas Taxas de Câmbio e Conversão de Demonstrações Contábeis, entre os itens 38 a 47. Apesar de o CPC 02 não ser o foco desta obra, precisamos tangenciar alguns dos seus temas e conceitos. Importante ressaltar que esse assunto deve ser objeto do profissional contábil desde que a moeda funcional da investida seja diferente da moeda funcional da investidora. Se as moedas funcionais foram as mesmas (no caso, o real), não há que se tratar de conversão das demonstrações contábeis. Ao apurar as variações cambiais e a conversão de saldos e transações, é impor- tante saber que há dois métodos: um para as contas de Ativo e Passivo, que usa a taxa cambial de final do exercício (taxa de câmbio oficial), e outro para as contas de Resultado, que usa a taxa média mensal oficial e a taxa cambial oficial de final do exercício social. As variações cambiais dos itens monetários (por exemplo, caixa, aplicações fi- nanceiras, contas a receber, estoques, impostos a recuperar, contas a pagar, em- préstimos e financiamentos) e não monetários (por exemplo, imobilizado), exceto as contas do Patrimônio Líquido, serão registradas em conta específica no Patrimô- nio Líquido da investida: conta de Ajustes Acumulados de Conversão. A conta de Ajustes Acumulados de Conversão não possui a natureza de uma conta de reserva, por isso pode apresentar saldo positivo ou negativo. Os valores contabilizados pela investida, como resultado da conversão da moeda estrangeira para reais, serão contabilizados pela investidora no grupo de investimentos, como parte da participação que esta possui na investida, e a sua contrapartida será no Patrimônio Líquido da investidora, também em uma conta de Ajustes Acumulados de Conversão. Os valores registrados nessa conta, no Pa- trimônio Líquido, serão reconhecidos como receita ou despesa somente quando ocorrer a venda ou a baixa da investida. Portanto devem ser segregados e não compor o resultado de equivalência patrimonial (no resultado da investidora). Isso ocorrerá segundo o que chamamos de contabilização reflexa dos eventos da investi- da na investidora (explicado no 6º passo). A análise desse passo é aplicável somen- te às investidas localizadas no exterior. Vejamos um exemplo detalhando as etapas a seguir: Exemplo A investida TrendUS, localizada nos EUA, iniciou as suas atividades durante o exercício de 2018 com um capital social de USD 20.000,00. Sua moeda funcional é o dólar norte-americano e seu primeiro ano de operações foi 2019. Em 31/12/2019, a empresa preparou as suas demonstrações contábeis, conforme indicado a seguir (observação: demonstrações contábeis reduzidas para fins didáticos). Investimentos em participações societárias 21 Balanço Patrimonial (em USD – 31/12/2019) USD USD Ativo Passivo Caixa 1.000,00 Contas a Pagar 27.000,00 Estoque 50.000,00 Fornecedores 22.000,00 Imobilizado 20.000,00 Patrimônio Líquido (capital) 20.000,00 Lucros Acumulados 2.000,00 Total 71.000,00 Total 71.000,00 Taxa cambial: 1 USD = R$ 3,00 (em 31/12/2018) Taxa cambial: 1 USD = R$ 3,50 (em 31/12/2019) Demonstração do resultado do exercício (em USD) USD Taxa cambial média trimestral 1º trimestre 2019 300 1º trimestre 2019 R$ 3,10 2º trimestre 2019 440 2º trimestre 2019 R$ 3,20 3º trimestre 2019 540 3º trimestre 2019 R$ 3,30 4º trimestre 2019 720 4º trimestre 2019 R$ 3,40 2.000 Etapa 1 – Convertendo o balanço patrimonial da investida (de USD para reais). Para essa conversão, utilizamos a taxa de câmbio da data de fechamento das demonstrações contábeis da investida TrendUS, isto é, 31/12/2019 (R$ 3,50). Porém os lucros acumulados referentes aos resultados do exercício serão convertidos para reais utilizando outro método. Por ora, demonstramos o resultado da conversão. Balanço Patrimonial (31/12/2019) USD Reais USD Reais Ativo Passivo Caixa 1.000,00 3.500,00 Contas a Pagar 27.000,00 94.500,00 Estoque 50.000,00 175.000,00 Fornecedores 22.000,00 77.000,00 Imobilizado 20.000,00 70.000,00 Patrimônio Líquido (capital) 20.000,00 60.000,00 Ajustes Acum. de Conversão 10.432,00 Lucros Acumulados 2.000,00 6.568,00 Total 71.000,00 248.500,00 Total 71.000,00 248.500,00 Etapa 2 – Convertendo o capital social da investida TrendUS. A conversão seguirá os preceitos do CPC 02 (2010b), itens 39, 40 e 41. O capital social é um item não monetário e deve ser convertido pela sua taxa his- 22 Contabilidade Avançada tórica, ou seja, a taxa de câmbio da data original em que ocorreu a transação. A variação cambial calculada a partir da data inicial não deve ser registrada em seu resultado, mas, sim, apresentada em conta específica e separada, no Patrimônio Líquido. O mesmo raciocínio ocorrerá para as reservas, a contar das datas das suas respectivas constituições. No exemplo, o capital social da TrendUS em 2018 era de USD 20.000,00 e não sofreu alterações em 2019. Por isso, na linha de Patrimônio Líquido (capital) foi mantido o seu valor de conversão pela taxa de 2018, equivalen- do a R$ 60.000,00, e não R$ 70.000,00, que seria o cálculo de conversão dos USD 20.000,00 × R$ 3,50 – taxa em 31/12/2019. Essa diferença de R$ 10.000,00 se refere à variação cambial segregada e contabilizada em conta específica no Patrimônio Líquido (Ajustes Acumulados de Conversão). Etapa 3 – Convertendo a demonstração do resultado da investida (de USD para reais). O resultado da investida TrendUS deve ser convertido pela taxa média (no exemplo, foi utilizada a taxa cambial média trimestral). Será apurada a diferença da variação cambial da taxa média trimestral e a variação cambial da taxa cambial de fechamento em 31/12/2019. Essa diferença será segregada e contabilizada em conta específica no Patrimônio Líquido (Ajustes Acumulados de Conversão). Demonstração do resultado do exercício USD Taxa cambial média trimestral Reais 1º trimestre 2019 300,00 R$ 3,10 930,00 2º trimestre 2019 440,00 R$ 3,20 1.408,00 3º trimestre 2019 540,00 R$ 3,30 1.782,00 4º trimestre 2019 720,00 R$ 3,40 2.448,00 Método de conversão do resultado pela taxa cambial média trimestral, do exercício de 2019, apurado tri- mestre a trimestre 2.000,00 R$ 3,28 6.568,00 Método de conversão do resultado pela taxa cambial de fechamento, em 31/12/2019 2.000,00 R$ 3,50 7.000,00 Diferença de variação cambial en- tre os métodos 432,00 Etapa 4 – Compondo as variações cambiais do Patrimônio Líquido e dos Lucros Acumulados a serem lançadas na conta de Ajustes Acumulados de Conversão. Você deve ter observado que, na conversão do Balanço Patrimonial, há a conta Ajustes Acumulados de Conversão no valor de R$ 10.432,00, a qual é apresentada so- mente na coluna de saldo, em reais. Esse montante serefere às variações cambiais de natureza do Patrimônio Líquido e do Lucro Líquido do Exercício, conforme é deta- lhado a seguir, com base nas definições do CPC 02 (R2), itens 39, 40 e 41 (CPC, 2010b): Investimentos em participações societárias 23 Variação cambial do Patrimônio Líquido – Capital Social USD Taxa cambial Reais Patrimônio Líquido em 31/12/2018 20.000,00 R$ 3,00 R$ 60.000,00 Patrimônio Líquido em 31/12/2019 20.000,00 R$ 3,50 R$ 70.000,00 Variação cambial apurada e contabilizada em conta específica (ajustes acumulados de conversão) (A) R$ 10.000,00 Variação cambial dos lucros acumulados – Lucro Líquido do Exercício de 2019 USD Taxa cambial Reais Lucro Líquido pela taxa média trimestral 2.000,00 R$ 3,28 R$ 6.568,00 Lucro Líquido pela taxa de fechamento em 31/12/2019 2.000,00 R$ 3,50 R$ 7.000,00 Variação cambial apurada e contabilizada em conta específica (ajustes acumula- dos de conversão) (B) R$ 432,00 Variação cambial total apurada e contabilizada em conta específica (ajus- tes acumulados de conversão) (A) + (B) R$ 10.432,00 4º passo – Eliminação do resultado não realizado entre investidora e investidas. Precisamos observar o item I do art. 248, da Lei n. 6.404/1976, o qual estabe- lece que, no valor do patrimônio das investidas, “não serão computados os resul- tados não realizados decorrentes de negócios com a companhia, ou com outras sociedades coligadas à companhia, ou por ela controladas” (BRASIL, 1976). Para Gelbcke et al. (2018, p. 198), a origem desse racional da: eliminação de lucros não realizados do patrimônio líquido da investida deriva do conceito de que as vendas entre empresas do mesmo grupo não geram lucro economicamente enquanto não forem vendidos a terceiros (conceito de “grupo ou conglomerado econômico”). Portanto, enquanto os ativos transacio- nados estiverem no Balanço de alguma empresa do grupo, o lucro nele contido não está “realizado” . Os ajustes apurados serão realizados com base no valor do Patrimônio Líquido da investida. Assim, teremos o patrimônio da investida ajustado pela eliminação dos re- sultados não realizados, sobre a qual será aplicado o percentual de participação da investidora para o cálculo do MEP. Por fim, é computado o resultado de equivalência patrimonial. A análise desse passo é aplicável tanto às investidas localizadas no Brasil quanto às no exterior. O item 28 do CPC 18 (R2) (2012b) traz a referência das transações ascenden- tes (upstream) e descendentes (downstream) que contemplam qualquer tipo de bens e direitos, como: estoques (situação comumente encontrada), imobilizado, investimentos e outros ativos. As transações ascendentes são aquelas originadas da investida cujo destino é a investidora. Por outro lado, as descendentes são aquelas originadas da investidora cujo destino é a investida. Para que a investida e a investidora apurem os valores de eliminação do resultado não realizado entre as empresas, devem possuir controles suficientes para identificar, classi- ficar e separar as transações feitas entre elas das demais transações com terceiros, fora do grupo econômico. Importante 24 Contabilidade Avançada Vejamos um exemplo: Exemplo A investida Cia. ABC vende parte dos seus produtos acabados para a sua investidora (controladora) Cia. XYZ (operação do tipo upstream). Pelos con- troles internos da Cia. ABC foi possível identificar que ela apurou um lucro de 10% nessas vendas. Em 31/12/2019, o profissional contábil da Cia. XYZ está se preparando para fazer o cálculo do MEP da participação societária de 100% que detém na Cia. ABC, e inicia pelo cálculo de eliminação dos lucros não realizados nos estoques: Tabela 5 Cia. ABC (demonstração somente das vendas entre investida e investidora) Receita de vendas da Cia. ABC para a Cia. XYZ (investidora) R$ 1.000.000,00 ( – ) Custo dos produtos vendidos da Cia. ABC para a Cia. XYZ (R$ 900.000,00) Lucro Líquido (somente para essas vendas) R$ 100.000,00 Para fins didáticos, não serão incluídas outras despesas nas transações de venda entre a investida e a investidora Lucro Líquido (total) apurado pela Cia. ABC para o exercício de 2019 R$ 300.000,00 A Cia. ABC é tributada pelo IR e CS, em uma alíquota total de 34% Fonte: Elaborada pelo autor. Cia. XYZ Com base nos controles internos da Cia. XYZ, o profissional contábil apu- rou que todos os produtos acabados vendidos pela Cia. ABC permaneciam nos estoques da Cia. XYZ, em 31/12/2019, ou seja, não foram vendidos para terceiros. O lucro líquido das transações de venda entre a Cia. ABC e a Cia. XYZ deve ser eliminado. Antes de efetuar o cálculo do MEP, o profissional contábil precisa eliminar o lucro não realizado, pois o ativo (produtos acabados) ainda permanece nos estoques da investidora Cia. XYZ. É ainda importante lembrar que o lucro não realizado deve ser calculado líquido dos tributos, conforme pode ser demos- trado na Tabela 6. Tabela 6 Cálculo da eliminação dos lucros não realizados (nos estoques) Lucro Líquido (somente as vendas da Cia. ABC para a Cia. XYZ) R$ 100.000,00 IR / CS – Alíquota de 34% (tributação da Cia. ABC) (R$ 34.000,00) Lucro não realizado a ser eliminado na Cia. XYZ (líquido dos tributos) R$ 66.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Investimentos em participações societárias 25 Em seguida, realiza, então, o cálculo do MEP, conforme Tabela 7: Tabela 7 Cálculo do MEP Lucro Líquido da Cia. ABC R$ 300.000,00 ( - ) Eliminação dos lucros não realizados (nos estoques) (66.000,00) Novo lucro líquido ajustado (nova base de cálculo para o MEP) R$ 234.000,00 Percentual de participação societária da Cia. XYZ na Cia. ABC 100% Resultado de equivalência patrimonial apurado para o exercício de 2019 R$ 234.000,00 Lançamentos contábeis do resultado do MEP da Cia. XYZ na Cia. ABC (após a eliminação): D Investimentos na Cia. ABC R$ 234.000,00 C Receita de equivalência patrimonial (R$ 234.000,00) Fonte: Elaborada pelo autor. 5º passo – Outras mutações no patrimônio das investidas e reflexos na investidora. Quando forem verificadas mutações patrimoniais na investida registradas em outros resultados abrangentes e reconhecidas diretamente em seu Patrimônio Líquido, elas também deverão ser reconhecidas no Patrimônio Líquido da inves- tidora, como é explicado no 3º passo (atenção aos eventos específicos), item (d), e no 6º passo. Essas mutações podem ser decorrentes da reavaliação de ativos imobiliza- dos, quando permitida legalmente, e de diferenças de conversão em moeda estrangeira (explicações dessa natureza no 3º passo), quando existirem. A par- ticipação da investidora nessas mutações patrimoniais deverá ser reconhecida em seu Patrimônio Líquido, e não em seu resultado, o que é conhecido como contabilidade reflexa. Essa tratativa é mencionada na Interpretação Técnica ICPC 09 (R2) (CPC, 2014), itens 60 e 61, e no CPC 26 (2011b). 6º passo – Apuração do resultado de equivalência e lançamentos contábeis. Estamos chegando ao final da contabilização do MEP. Após o profissional con- tábil efetuar os passos anteriores, nas situações que forem aplicáveis ao investi- mento que a investidora possui, ele deve apurar o Patrimônio Líquido ajustado da investida, aplicar o percentual de participação societária que a investidora detém sobre a investida e, por fim, encontrar o resultado da equivalência patrimonial, procedendo os respectivos registros contábeis. Como você verificou nos temas apresentados, para alguns dos passos anali- sados há situações específicas em que os lançamentos contábeis necessários vão além do registro do resultado de equivalência patrimonial. Para facilitar esse enten- dimento, dividimos os lançamentos contábeis em dois grupos: • Grupo I – Regra geral: lançamentos contábeis do resultado do MEP apura- dos no resultado da investidora. 26 Contabilidade Avançada A investidora irá calcular o MEP sobre o Patrimônio Líquido da investida e, con- sequentemente, sobre o seu lucro ou prejuízo no período, de acordo com a sua participaçãosocietária. Os lançamentos contábeis realizados serão dispostos do seguinte modo: Quadro 2 Se a investida apurar lucro no exercício D/C Conta Descrição da natureza da conta D – Débito Investimentos em [...] (ou coligada, ou controlada, ou negócio em conjunto) Conta do grupo de investimentos, Ativo não Circulante. Os lançamentos contá- beis devem ser feitos individualmen- te, um para cada investida. C – Crédito Receita de equivalência patrimonial Conta de Resultado. Fonte: Elaborado pelo autor. Quadro 3 Se a investida apurar prejuízo no exercício D/C Conta Descrição da natureza da conta D – Débito Despesa de equivalência patrimonial Conta de Resultado C – Crédito Investimentos em [...] (ou coligada, ou controlada, ou negócio em conjunto) Conta do grupo de investimentos, Ativo não Circulante. Os lançamentos contá- beis devem ser feitos individualmen- te, um para cada investida. Fonte: Elaborada pelo autor • Grupo II – Lançamentos contábeis do 3º passo: investidas localizados no exterior (atenção aos eventos específicos). O lucro ou prejuízo apurado pela investida refletirá no resultado de equivalência patrimonial na investidora, enquanto outras mutações no Patrimônio Líquido da investida refletirão no Patrimônio Líquido da investidora (contabilização re- flexa). Assim, é necessário que o profissional contábil acompanhe a natureza dos fatos econômicos da investida e reflita-os na investidora. Tendo por base as premissas abordadas, retomamos o 3º passo, item (d), em que os valores apurados nas conversões das demonstrações contábeis das investidas serão registrados em uma conta denominada Ajustes Acumulados de Conversão, no Patrimônio Líquido da investida. Essa movimentação será reconhecida de maneira reflexa no Patrimônio Lí- quido da investidora. Por isso, recomendamos que ela utilize uma subconta específica para cada natureza de outros resultados abrangentes das investi- das, por exemplo, Ajustes Acumulados de Conversão na Investida [nome da investida]. Agora, apresentamos a continuação do exemplo do 3º passo, item (d), da investida TrendUS, contemplando a situação da contabilização reflexa: Investimentos em participações societárias 27 Exemplo Nesta parte do exemplo, demonstraremos o cálculo do MEP e a segregação das variações cambiais do Patrimônio Líquido e do Lucro Líquido da investida na inves- tidora (contabilização reflexa). A investidora é a empresa TrendBrasil, localizada no Brasil, que possui 100% da participação societária da TrendUS. Variações cambiais de natureza do Patrimônio Líquido e do lucro líquido apura- das no exercício, seguindo as definições do CPC 02 (R2) (CPC, 2010b), itens 39, 40 e 41: Variação cambial do Patrimônio Líquido – Capital Social USD Taxa cambial Reais Patrimônio Líquido em 31/12/2018 20.000,00 R$ 3,00 R$ 60.000,00 Patrimônio Líquido em 31/12/2019 20.000,00 R$ 3,50 R$ 70.000,00 Variação cambial apurada e contabilizada em conta específica (Ajustes Acumu- lados de Conversão) (A) R$ 10.000,00 Variação cambial dos lucros acumulados – Lucro Líquido no Exercício de 2019 USD Taxa cambial Reais Lucro Líquido pela taxa média trimestral 2.000,00 R$ 3,28 R$ 6.568,00 Lucro Líquido pela taxa de fechamento em 31/12/2019 2.000,00 R$ 3,50 R$ 7.000,00 Variação cambial apurada e contabilizada em conta específica (Ajustes Acumu- lados de Conversão) (B) R$ 432,00 Variação cambial total apurada e contabilizada em conta específica (Ajustes Acumulados de Conversão) (A) + (B) R$ 10.432,00 Tabela 8 TrendBrasil – Cálculo do MEP Patrimônio Líquido TrendUS – Saldo inicial em 31/12/2018 R$ 60.000,00 Variações ocorridas no Patrimônio Líquido da TrendUS Lucro Líquido no exercício R$ 6.568,00 Variação cambial sobre o Lucro Líquido do exercício R$ 432,00 Variação cambial sobre o Patrimônio Líquido R$ 10.000,00 Patrimônio Líquido TrendUS – Saldo inicial em 31/12/2019 R$ 77.000,00 Percentual de participação societária da TrendBrasil na TrendUS 100% Saldo final do grupo de investimento – Investida TrendUS R$ 77.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Segregação das variações cambiais (Patrimônio Líquido) do resultado de equivalência: 28 Contabilidade Avançada Conforme o CPC 02 (R2) (CPC, 2010b) trata nos itens 39, 40 e 41, a investidora deve segregar a natureza das movimentações ocorridas no Patrimônio Líquido da investida localizada no exterior e os efeitos da variação cambial do resultado de equivalência que se referem à atividade operacional (lucro líquido efetivo), sendo que estes devem ser contabilizados no Patrimônio Líquido da investidora, obser- vando a contabilização reflexa, conforme apresentado nas Tabelas 9 e 10, a seguir. Tabela 9 Lançamentos contábeis: contabilização reflexa na investidora Grupo investimentos – Investida TrendUS D Subconta – Investimentos na TrendUS – Variação cambial – Patrimônio Líquido R$ 10.000,00 D Subconta – Investimentos na TrendUS – Variação cambial – Resultado da Operação R$ 432,00 Grupo Patrimônio Líquido – Outros resultados abrangentes C Subconta – Ajuste Acumulado de Conversão – Investimentos na TrendUS (R$ 10.432,00) Fonte: Elaborada pelo autor. Tabela 10 Lançamentos contábeis: resultado do MEP Grupo investimentos – Investida TrendUS D Subconta – Investimentos na TrendUS – Resultado operacional R$ 6.568,00 C Receita de equivalência patrimonial (resultado) (R$ 6.568,00) Fonte: Elaborada pelo autor. A utilização de subcontas permite um melhor controle e acompanhamento do reconhecimento e da segregação das naturezas das movimentações do Patrimônio Líquido da investida na investidora. Lembrando que quando ocorrer a venda (ou baixa) do investimento da TrendUS os valores que foram contabilizados no Patri- mônio Líquido da investidora, em Outros Resultados Abrangentes, Ajuste Acumula- do de Conversão, serão transferidos para o resultado. 1.3.2 Mudança no relacionamento societário de investida: de influência significativa para controle Todas as aquisições de participações celebradas a partir de 1 de janeiro de 2008 (após a Lei n. 11.638/2007) devem ser analisadas sob a ótica do CPC 15 (CPC, 2011a). 1.3.2.1 Apuração de ágios: mais-valia das investidas e/ou expectativa de rentabilidade futura (goodwill) Gelbcke et al. (2018, p. 190) destacam que: quando o preço de aquisição for maior que o valor patrimonial da parti- cipação da investida, podem surgir: (a) um ágio por “mais-valia de ativos líquidos” pela diferença positiva entre a parte da investidora no valor Investimentos em participações societárias 29 justo dos ativos líquidos e o valor patrimonial da participação adquirida (se a diferença for negativa teremos um deságio de uma menos-valia); e/ou (b) um “ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill)” pela diferença positiva entre o preço de aquisição pelo investidor e a parte da investidora no valor justo dos ativos líquidos (se a diferença for negativa, teremos um “ganho por compra vantajosa”, que deve ser reconhecido diretamente no resultado). O Quadro 4 demonstra a composição do valor pago pela aquisição de uma par- ticipação societária e a natureza dos desdobramentos contábeis verificados quan- do a compra é concretizada com base no CPC 15 (2011a). Quadro 4 Composição do valor pago na aquisição de uma participação societária Goodwill Va lo r p ag o pe la a qu isi çã o da pa rti cip aç ão n a in ve st id a Mais-valia dos ativos líquidos Valor patrimonial da investida Fonte: Elaborado pelo autor com base em CPC 15, 2011a. Você pode estar se perguntando: por que esse assunto está sendo tratado ago- ra e por que ele é importante? Primeiramente, os ágios são eventos societários apurados no momento da compra, podendo fazer com que o valor justo de uma participação societária em coligada ou controlada em conjunto seja maior que o valor patrimonial da investida. Vale mencionar que, independentemente do tipo de ágio apurado, ele não altera o valor patrimonial e contábil da investida; os valores são válidossomente sob a ótica da investidora que comprou a participação socie- tária sobre a investida junto a um terceiro. A compra de participação societária de terceiros é o fato gerador da mais-valia de ativos líquidos, goodwill ou ganho por compra vantajosa. Gelbcke et al. (2018, p. 189) apontam que “o valor de aquisição muito provavelmente será diferente do valor pa- trimonial dessa participação, dando origem ao ágio por mais-valia de ativos líquidos, ao ágio por rentabilidade futura (goodwill) ou ao ganho por compra vantajosa”. 1.3.2.2 Alocação do ágio por mais-valia das investidas e/ou do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) e seus respectivos ajustes extracontábeis O nível de complexidade e os detalhes desse tema são grandes. Por isso, reco- mendamos, mais uma vez, que o profissional contábil tenha uma planilha eletrôni- ca detalhada, elaborada com base nos documentos societários. Essa tabulação dos dados será um documento contábil muito importante, pois conterá a memória e o histórico dos cálculos de apuração, de alocação e de realização do ágio por mais-valia de ativos líquidos e do registro do goodwill. O CPC 15 define o ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill) como sendo “um ativo que representa benefícios econômicos futuros resultantes de outros ativos adquiridos em uma combinação de negócios, os quais não são individualmente identificados e separadamente reconhecidos” (CPC, 2011). Saiba mais O ágio por mais-valia de ativos líquidos será baixado nos registros extracontábeis da investidora, com base na fundamentação em que ele foi constituído, seguindo o tempo estimado para a sua realização. Entretanto, não é permitida a amortização do ágio por expectativa de rentabilidade futura (goodwill). Este deverá ser submetido ao teste de recuperabi- lidade, anualmente, e será baixado seguindo os preceitos do CPC 01 - Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Saiba mais 30 Contabilidade Avançada A alocação e o reconhecimento da mais-valia dos ativos líquidos e do goodwill são procedimentos que fazem com que sejam reconhecidos, extra- contabilmente na determinação do Patrimônio Líquido ajustado da investida, como parte do processo de aplicação do MEP, ativos e/ou passivos não regis- trados na investida, cujo controle foi obtido pela investidora, de acordo com o item 20 do ICPC 09 (R2) (CPC, 2014). Por exemplo, ativos intangíveis (marcas e patentes) formados pela investida, mas que não podem ser reconhecidos con- tabilmente por ela, pois não atendem às condições previstas no CPC 04 – Ativo Intangível (CPC, 2012a). A diferença apurada entre o valor justo e o valor contábil do acervo líquido da investida cujo controle foi obtido será um ajuste extracontábil no Patrimô- nio Líquido da investida adquirida para fins do cômputo da aplicação do MEP. Novamente é importante destacar que essa prática é adotada sob a ótica da investidora. Consta no CPC 09 (R2), item 23, que a investidora é responsável: pela identificação de todos os itens que resultem em diferenças entre os valores contábeis e os valores justos dos ativos e passivos da investida para fins de controle de sua realização por amortização, depreciação, exaustão, venda, liquidação, alteração no valor contabilizado, baixa, impairment ou qualquer outra mutação nos registros contábeis desses ativos e passivos. (CPC, 2014) Os critérios contábeis expostos também estão alinhados com a legislação tributária por meio da Lei n. 12.973/2014. Com o advento dessa lei, a ava- liação de investimento pelo Patrimônio Líquido da investida, por ocasião da aquisição da participação, passou a requerer o desdobramento do custo de aquisição em: 1. valor de Patrimônio Líquido na época da aquisição; 2. mais ou menos-valia; 3. ágio por rentabilidade futura (goodwill). O art. 37, § 3º, inciso I, da Lei n. 12.973/2014, ainda complementa: Art. 37. No caso de aquisição de controle de outra empresa na qual se detinha participação societária anterior, o contribuinte deve observar as seguintes disposições: [...] § 3º Deverão ser contabilizadas em subcontas distintas: I - a mais ou menos-valia e o ágio por rentabilidade futura (goodwill) re- lativos à participação societária anterior, existente antes da aquisição do controle. (BRASIL, 2014) 1.3.2.3 Lançamentos contábeis Seguindo as determinações legais e do CPC/IFRS – em especial, o ICPC 09 (R2), item 27 –, é necessário contabilizar esses eventos em subcontas especí- ficas. Por isso, recomendamos que cada investimento tenha as suas próprias contas e subcontas, conforme exemplo no Quadro 4. Investimentos em participações societárias 31 Quadro 5 Lançamentos contábeis D/C Conta Descrição da natureza da conta D – Débito Investimentos em [...] (ou Coligada, ou Controlada, ou Negócio em Con- junto) Subconta do grupo de investimentos, Ativo não Cir- culante. Os lançamentos contábeis devem ser feitos individualmente, um para cada investida. D – Débito Mais-valia no Investimento em [...] Subconta do grupo de investimentos, Ativo não Cir- culante. Os lançamentos contábeis devem ser feitos individualmente, um para cada investida. D – Débito Ágio por Rentabilidade Futura na [...] Subconta do grupo de investimentos, Ativo não Circulante. Os lançamentos contábeis devem ser feitos individualmente, um para cada in- vestida. C – Crédito Bancos Ou qualquer outra conta de onde os recursos financeiros foram pagos pela investidora para realizar a transação da compra da participação societária na investida. Fonte: Elaborado pelo autor. Os ajustes apurados pela realização do ágio por mais-valia de ativos líquidos serão realizados com base no MEP, ou seja, sobre o valor do Patrimônio Líquido da investida. Com isso, teremos a base do patrimônio ajustado pela realização do ágio por mais-valia e o resultado da investida sobre a qual será aplicado o percentual de participação para o cálculo do MEP. Por último, será apurado o valor do resultado de equivalência patrimonial. Observemos um exemplo: Exemplo A investidora InvestCo possuía uma participação societária de 25% da investi- da ModelInc, o que classificava esse investimento como uma coligada (influência significativa), cujo saldo do investimento em 31/12/2018 era de R$ 100.000,00. A compra dos 25% da participação societária inicial ocorreu em 2004 e não apu- rou nenhum valor de ágio. No primeiro trimestre de 2019, a InvestCo efetuou a compra da totalidade da participação societária da ModelInc, passando a deter seu controle a partir dessa data. Para fins de registro da compra adicional da participação de 75%, de atualização do MEP e de segregação/alocação dos ágios apurados, de acordo com o CPC 15 (2011a) e o CPC 18 (R2) (2012b), seguem os detalhamentos dos procedimentos efetuados – para fins didáticos, não foi tra- tado do IR/CS incidente sobre os ágios: a. Adoção do CPC 15 – Apuração do ágio na compra. Primeiramente, o profissional contábil da InvestCo obteve a documentação referente à compra da participação societária adicional adquirida (75%), com o objetivo de avaliar a existência de ágio entre o valor do Patrimônio Líquido da investida, o valor justo dos ativos líquidos e o valor pago pela investidora. 32 Contabilidade Avançada Considere os seguintes dados complementares da operação (Tabela 11): Tabela 11 Dados complementares da operação de compra da participação societária adicional Data da efetivação da compra 31/03/2020 Valor pago pela InvestCo para comprar os 75% adicionais R$ 1.000.000,00 Valor justo dos ativos líquidos da ModelInc (conforme laudo de avaliação preparado por profissionais qualificados e independentes na data-base de 28/02/2019) R$ 800.000,00 Valor do Patrimônio Líquido da ModelInc (conforme seus livros contábeis) em 28/02/2019 R$ 750.000,00 Fonte: Elaborada pelo autor. Com base nesse levantamento, o profissional contábil apurou: i. mais-valia, conforme os ativos líquidos da ModelInc: R$ 50.000,00; ii. ágio por expectativade rentabilidade futura (goodwill): R$ 200.000,00. b. Contabilização da nova participação e alocação dos ágios apurados. Cabe ao profissional contábil fazer os lançamentos contábeis para registro da aquisição adicional de participação societária, de modo a refletir nos saldos contá- beis do grupo de investimentos da investidora, e da nova realidade verificada após a compra da participação na investida ModelInc, fazendo a segregação dos ágios, conforme previsto pelo CPC e por legislações específicas (Tabela 12). Tabela 12 Lançamentos contábeis da aquisição adicional da participação societária da ModelInc Grupo investimentos na InvestCo D Subconta – Investimentos na ModelInc – Novo investimento R$ 750.000,00 D Subconta – Investimentos na ModelInc – Mais-valia R$ 50.000,00 D Subconta – Investimentos na ModelInc – Goodwill R$ 200.000,00 C Banco conta Movimento (R$ 1.000.000,00) Fonte: Elaborada pelo autor. Com os lançamentos contábeis, o saldo de investimentos da InvestCo na inves- tida ModelInc será de R$ 1.100.000,00 (R$ 100.000,00 de participação inicial adqui- rida e R$ 1.000.000,00 de participação adicional adquirida em 2019). Observações: 1. O valor contábil do Patrimônio Líquido da investida ModelInc não sofrerá alterações em relação aos valores justos apurados, ou seja, continuará sendo de R$ 750.000,00 (data-base de 28/02/2019). 2. As apurações dos ágios ocorreram no nível da investidora InvestCo. Portanto, seu profissional contábil é responsável por fazer os ajustes extracontábeis necessários para alinhar a nova situação, com base nos CPC 15, CPC 18 (R2) e ICPC 09 (R2). 3. O profissional contábil da investidora InvestCo deve acompanhar o fundamento econômico da mais-valia contabilizada de modo a realizar (baixar) os seus valores pelo decorrer do tempo e os critérios verificados no referido laudo de avaliação. Investimentos em participações societárias 33 4. O goodwill deve ser testado anualmente para fins de recuperabilidade do seu valor, em conjunto com o valor do investimento principal na investida ModelInc, observando o conceito de Unidade Geradora de Caixa (UGC), previsto no CPC 01 (CPC, 2010a). 1.3.3 Reconhecimento de prejuízos nas investidas pelo resultado do MEP: Patrimônio Líquido negativo e perdas por impairment no goodwill Devemos lembrar que o resultado da equivalência patrimonial apurado pela in- vestidora pode ser tanto uma receita quanto uma despesa, a depender dos valores auferidos pelas investidas. Prejuízos recorrentes apurados pela investida trazem reflexos diretos para a investidora, conforme trataremos a seguir. 1.3.3.1 Patrimônio Líquido negativo No mundo real dos negócios, não é incomum investidas apresentarem pre- juízos frequentes, ao ponto de os patrimônios líquidos se tornarem negativos. O profissional contábil deve estar atento a essas situações. De modo geral, o CPC 18 (R2), item 38 (CPC, 2012b), indica que a “investidora deve reconhecer a par- te que lhe cabe das perdas nos resultados e nas demais mutações ocorridas no Patrimônio Líquido da investida (‘contabilização reflexa’)”. Portanto, se a investida tiver prejuízo, o saldo contábil do investimento será reduzido pelo reconhecimento da parte da investidora nesse prejuízo. Importante estar alerta também ao item 39 do CPC 18 (R2), o qual considera que: o saldo contábil do investimento da investidora foi reduzido a zero pelos pre- juízos frequentes da investida, perdas adicionais devem ser consideradas, e uma provisão no passivo da investidora deve ser reconhecida, somente na extensão em que a investidora tiver incorrido em obrigações legais (respon- sabilidade legal), obrigações construtivas (aquelas que mesmo não formaliza- das estão relacionadas aos usos e costumes ou por questões éticas) ou tiver feito pagamentos em nome da investida. Quando a investida reverter os pre- juízos, apurando novamente lucro e compensando estes prejuízos apurados, a investidora retomará o reconhecimento de sua participação nesses lucros. (CPC, 2012b) Caso a situação indicada no parágrafo anterior não seja constatada, isto é, a investidora não tiver incorrido em obrigações legais ou construtivas, ou não tiver efetuado pagamentos em nome da investida, a investidora ainda deve observar aspectos de divulgação tratados no CPC 45 – Divulgação de Participações em Outras Entidades. O item 22 (c) do CPC 18 (R2) exige que mesmo que a investidora suspenda: o reconhecimento da parte que lhe cabe nos prejuízos da investida quando tiver zerado o saldo contábil líquido das contas que integram seu investimen- to total líquido e caso a investida continue a gerar mais prejuízos, a investi- dora deve divulgar em nota explicativa à parte não reconhecida nos prejuízos que excederem ao investimento total líquido. (CPC, 2012b) 34 Contabilidade Avançada 1.3.3.2 Perdas por impairment no goodwill Outra maneira de reconhecer perdas de uma investida é por meio do reconheci- mento de perdas por impairment do ágio (goodwill). Como já mencionado, os valores do ágio (goodwill) não são identificados em separado (eles integram o saldo do in- vestimento). Assim, todo o saldo contábil do investimento é testado em relação ao seu valor recuperável, em conformidade com as exigências do CPC 01 (CPC, 2010a). É importante você saber que esses testes devem ser realizados anualmente e que as perdas são identificadas por uma combinação de eventos, os quais podem causar a redução no valor recuperável. As perdas apuradas pelo teste de recuperabilidade (teste de impairment) para o ágio (goodwill) não poderão ser revertidas. 1.3.4 Descontinuidade do uso do MEP A investidora deve descontinuar o uso do MEP a partir da data em que o inves- timento deixar de ser classificado como coligada, controlada ou empreendimento controlado em conjunto, ou seja, a investidora não tem mais influência significati- va ou perdeu o controle sobre a investida, não importando o modo como o fato ocorreu (CPC, 2012a). O profissional contábil deverá efetuar a reclassificação para o resultado do período de todos os montantes que estavam anteriormente registrados no Patrimônio Líquido, relacionados com o investimento objeto da mudança de mensuração contábil. Se mesmo após a perda de influência significativa ou de controle a investidora permanecer com uma participação societária da investida, e essa participação for classificada como um ativo financeiro, a investidora passará a mensurá-la ao valor justo, em consonância com o CPC 48 (CPC, 2016). CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pôde ser observado, o conhecimento sobre investimentos em participações societárias é bastante amplo e complexo, e proporciona uma grande oportunidade de desenvolvimento ao profissional contábil que se envolver com o seu estudo, podendo obter um grande destaque técnico em sua área de atuação. O fato incontestável é que a internacionalização e a harmonização das práticas contábeis serviram para apresentar o profissional contábil em um nível de relevância e destaque nunca antes alcançado. Em contrapartida, ele deve estar preparado e atuali- zado tecnicamente, sob a visão global das oportunidades que essas mesmas práticas contábeis podem proporcionar à empresa onde atua. Portanto, a responsabilidade desse profissional ganha relevância, ao mesmo tem- po em que o seu protagonismo na preparação e divulgação de informações contábeis e financeiras em padrões internacionais também aumenta. Todo esse cenário é uma oportunidade sem precedentes àqueles profissionais que querem promover a dife- rença nas empresas em que trabalham ou para quem presta serviços, contribuindo de modo positivo para o sucesso da empresa e para o seu reconhecimento e crescimento profissional na organização. Investimentos em participações societárias 35 ATIVIDADES 1. Qual é a sua opinião sobre a aplicação do método de equivalência patrimonial? Você acredita que ele é um recurso relevante para os investimentos em participações societárias mantidos por investidoras? Fundamente
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