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ANDRÉ DE FARIA THOMAZ CONTABILIDADE E FINANÇAS MBA CONTABILIDADE E FINANÇAS 2023 André de Faria Thomaz PRESIDENTE Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM DIRETOR GERAL Jorge Apóstolos Siarcos REITOR Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM VICE-REITOR Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO Adriel de Moura Cabral PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Dilnei Giseli Lorenzi COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD Franklin Portela Correia GESTOR DO CENTRO DE INOVAÇÃO E SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CISE Franklin Portela Correia REVISÃO TÉCNICA Débora Mendonça Monteiro Machado PROJETO GRÁFICO Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE CAPA Centro de Inovação e Soluções Educacionais - CISE DIAGRAMADORES Andréa Ercília Calegari © 2023 Universidade São Francisco Avenida São Francisco de Assis, 218 CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL – ORDEM DOS FRADES MENORES ANDRÉ DE FARIA THOMAZ Possui Graduação em BACHAREL EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS pela Faculdade de Minas - Faminas (2006). Pós-Graduando em Docência Superior pela Universidade gama Filho (2009), Pós Graduado em MBA Executivo em Administração de Empresas (2009-2012), Mestre pela Pontifícia Universidade Católica 2011 em Administração, pratica nas funções de departamentos Contábil, Financeiro e Pessoal - tendo atuado nestas áreas incluindo as Obrigações Acessórias e Obrigatórias, desempenhando atividades como Professor em Curso Profissionalizante de Contabilidade e Assessoria empresarial com parceira pela Fiemg e Sesi e Curso Omega - BH.(2006-2008) experiencia como Coordenador e Professor no Curso de Ciências Contábeis na Faculdade de Minas. Auditor de Gestão de Pessoas Internas. Tem experiência na área de Contabilidade atuando e lecionando principalmente com Contabilidade Básica, Economia, Planejamento e Contabilidade Tri- butaria, Contabilidade de Custos e Analise de Custos, Gestão Por Processos, Estrutura das Demonstrações Contábeis, Analise das Demonstrações, Contabilidade Gerencial,Te- oria da Contabilidade, Contabilidade Intermediaria, Contabilidade Internacional, Auditoria, Contabilidade Empresarial, Controle Interno, Recursos Humanos, Gestão de Risco. Sou Professor nas modalidades EAD e Presencial, Conteudista e Curador de material didático DÉBORA MENDONÇA MONTEIRO MACHADO Doutoranda em Administração-Gestão de Projetos. Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis. Especialista em Empreendedorismo e Inovação. Pós-graduada em Fi- nanças e Banking. Graduada em Administração de empresas. Certificação profissional: Self Coach Practitioner PNL. CPA10. Scrum Fundamentals Certified. Digital Marketing Fundamentals. Marketing Research Fundamentals. Marketing Strategy Fundamentals. Six Sigma Yellow Belt. Professora atuante nos cursos técnicos, graduação e pós-graduação. Eixo de pesquisa científica com diversos artigos publicados em Empreendorismo, Inovação e Transfor- mação Digital no contexto de projetos. Avaliadora Científica da Revista Gestão e Proje- tos (GeP). Gestora Administrativa/Financeira com foco em operações de planejamento, gestão administrativa, financeira e operacional. Vivência em processos de transforma- ção organizacional, estruturação e reestruturação de negócios. A REVISORA TÉCNICA O AUTOR SUMÁRIO UNIDADE 01: ATIVIDADES E CONTROLES FINANCEIROS .............................6 1. Conceitos e fatos históricos ................................................................................6 2. Introdução à contabilidade societária ..................................................................24 3. Demonstrações financeiras e contábeis .............................................................31 4. Situações nas quais se recomenda que não se faça a análise das demonstrações contábeis: ................................................................................................................40 UNIDADE 02: INDICADORES FINANCEIROS E DESEMPENHO .....................44 1. Sistemas de indicadores financeiros ...................................................................47 2. Avaliações de empresas......................................................................................72 3. Sistema financeiro nacional ................................................................................77 UNIDADE 03: GESTÃO DE RISCOS E CUSTOS EMPRESARIAIS ...................86 1. Estatística aplicada aos riscos ............................................................................86 2. Mercado financeiro ..............................................................................................102 3. Aplicabilidade de custos ......................................................................................112 UNIDADE 04: CONTROLE ORÇAMENTÁRIO E TRIBUTÁRIO ...........................124 1. Orçamento de capital ..........................................................................................124 2. Orçamento sobre o processo de gestão .............................................................140 3. Planejamento tributário .......................................................................................145 6 1 Atividades e controles financeiros UNIDADE 1 ATIVIDADES E CONTROLES FINANCEIROS INTRODUÇÃO A Matemática Financeira tem como objetivo principal analisar o valor do dinheiro no de- correr do tempo, seja em aplicações financeiras, seja em pagamentos de empréstimos e financiamentos. Graças a ela é possível fazer análises de avaliações de investimentos em aplicações financeiras, bem como estudar as melhores condições de pagamento de empréstimos. Sua sistematização foi definida quando se criaram, inicialmente, os conceitos de capital, juros, taxas de juros e montante. Desde então, os cálculos financeiros tornaramse mais justos e exatos, sendo considerada uma ferramenta essencial na tomada de decisões e na gestão financeira das empresas e das pessoas. 1. CONCEITOS E FATOS HISTÓRICOS De acordo com o que nos apresenta Hoji (2004, p. 18), os conceitos fundamentais da Matemática Financeira podem ser definidos como: capital, juros, prazo, taxa de juros e montante, conforme apontamos a seguir. O capital é qualquer valor expresso em moeda, disponível em determinada época. É o valor, normalmente em dinheiro, que se pode aplicar ou emprestar. É também chamado de capital inicial ou principal, representado pela letra “P”. O capital, por ser um bem, pode ser disponibilizado a outros. Com isso, é possível existir uma compensação para quem o possui. Tal compensação é a remuneração desse ca- pital – a qual chamamos de juros. Por outro lado, há quem necessite de uma quantia de capital emprestada ou que necessite adquirir bens de consumo. Para essas pessoas, tal benefício deve ser igualmente compensado e o valor dessa renumeração são os juros pago a quem disponibilizou o bem ou capital. A taxa de juros é o índice que determina a remuneração de um capital em um deter- minado período de tempo. É representada pela letra “i” e está sempre relacionada à unidade de tempo do prazo da operação financeira, por exemplo, ao dia (a.d.), ao mês (a.m.), ao semestre (a.s.), ao ano (a.a.) etc. A matemática financeira tem como objetivo principal estudar o valor do dinheiro em função do tempo. E possui duas visões que são: Prejuízo (ou despesa), quando ocorre o pagamen- 7 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co to de juros, taxas, impostos etc., caracterizandose para alguns como prejuízo e para outros como pagamento de despesas financeiras. E de outro lado, é vista como Lucro (ou receita), quando alguém recebe os juros como a remuneração do capital emprestado. Resumindo, os juros são a remuneração obtida a partir do capital de terceiros. Essa re- muneração pode ocorrer a partir de dois pontos de vista: I) de quem paga: nesse caso,os juros podem ser chamados de despesa financeira, custo, prejuízo etc., e II) de quem recebe: podemos entender como sendo o rendimento, receita financeira, ganho etc. Podemos concluir que os juros só existem se houver um capital empregado, seja este capital próprio ou de terceiros. O sistema de capitalização são os métodos pelos quais os capitais (dinheiro) são remunera- dos. Os regimes utilizados em Matemática Financeira são SIMPLES e COMPOSTOS. Para apresentar a movimentação financeira ao longo do tempo, utilizamos uma representação gráfica chamada Fluxo de Caixa. A geração de um fluxo de caixa se inicia pela construção de um eixo horizontal, no qual é marcado o tempo da operação a partir do momento inicial. As entradas de dinheiro em um determinado momento são indicadas por setas perpendi- culares ao eixo horizontal e orientadas para cima (↑), enquanto as saídas de dinheiro são indicadas com orientação para baixo (↓). É necessário enfatizar que o fluxo de caixa segue o referencial do elemento (pessoa física ou jurídica) que executa a ação financeira. 1.1 CALCULADORA FINANCEIRA A calculadora financeira HP 12C é uma das máquinas mais utilizadas nas resoluções de cálculos da Matemática Financeira. Ela possui até três funções por tecla: brancas (operações normais); laranjas, que aparecem acima da tecla e são acionadas pela tecla (f) antes da operação, e azuis, abaixo da tecla e acionadas pela tecla (g). Apresentaremos, em síntese, as formas de se executar as operações matemáticas mais básicas, assim como as principais funções financeiras (PV, FV, n, i e PMT), juntamente com o conteúdo ministrado. CURIOSIDADE Para utilização online sugerimos esse site: https://epxx.co/ctb/hp12c.html ` Algumas informações relevantes: ` ligar/desligar a calculadora: tecla ON; ` apagar o que se tem no visor: tecla CLX; ` apagar o conteúdo dos registros: (f) (REG); ` apagar o conteúdo das memórias: (f) (FIN); ` inserir um número, por exemplo: 4.256,73. 8 1 Atividades e controles financeiros Devemos digitar 4 2 5 6 tecla “.” (ponto) e, a seguir, 7 e 3. Caso no visor apareça “4,256.73”, devemos trocar a vírgula pelo ponto (no visor) e viceversa. Para isso: ` desligue a máquina (ON); ` aperte, simultaneamente, a tecla ON e a tecla “.” (ponto); ` solte primeiro a tecla “.”(ponto) e, em seguida, a tecla ON; ` insira novamente o número acima e veja se ficou na notação desejada. Definir o número de casas decimais a serem utilizadas: ` (quantidade de casas decimais desejadas). ` Exemplo: arredondar o n.º 4,2867 para duas casas decimais: ` digite o n.º seguido de (f) 2. Aparecerá no visor: 4,29; ` insira um número negativo (por exemplo: – 12); ` devemos digitar 12 tecla CHS. ` Operações elementares: adição/subtração/multiplicação/divisão/potenciação/radiciação. (Na HP, a operação desejada é a última digitação a ser realizada na operação). 1.2 CAPITALIZAÇÃO SIMPLES Desse modo, podemos concluir que o cálculo de juros é feito por meio do seguinte pro- cesso: J = P × i × n Onde: J= Juros P= Valor principal ou valor presente I= Taxa de juros simples N= Prazo ou período da transação. Nas transações financeiras ou comerciais, geralmente, a taxa de juros é expressa no período de tempo em que a operação ocorre. Entretanto, em alguns casos, o período da operação (investimento ou empréstimo) não coincide com o que a taxa de juros expressa, havendo a necessidade de se obter a taxa de juros equivalente ao período da operação financeira. Traduzindo, capital (C), aplicado a uma taxa (i), necessita do período para produzir um montante (M). Neste caso, o período pode ser inteiro ou fracionário, vejamos exemplos: 1 dia; 1 mês comercial (30 dias), 1 ano comercial (360 dias) etc. 9 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Resumimos que (n) é o tempo necessário que um certo capital (C), aplicado a uma taxa (i), necessita para produzir um montante (M). Nesse caso, o período pode ser inteiro ou fracionário, vejamos um exemplo: ` período inteiro: 1 dia; 1 mês comercial (30 dias), 1 ano comercial (360 dias) etc. ` período fracionário: 3,5 meses, 15,8 dias, 5 anos e dois meses etc. Então, sempre que a unidade do tempo (t) for diferente da unidade da taxa (i), devemos converter o tempo. ` 1 mês tem 30 dias; ` 1 ano tem 12 meses; ` 1 ano tem 360 dias. Exemplo: Fonte: Elaborado pelo autor (2020) +30 DIA DIA DIA DIAMÊS MÊS ANO ANO ANO ANO X30 X12 ÷30 ÷360 X360 Podemos também considerar que o Montante (M) ou Valor Futuro (FV) ou Soma (S), é a quantidade monetária acumulada resultante de uma operação comercial ou financeira após um determinado período de tempo, ou seja, é soma do capital (C) com os juros (J). Assim temos: M = C + J Exemplo 1: A empresa Sonhos Ltda. possui capital investido no valor de R$ 5.000,00, aplicado a uma taxa de juros mensal de 3% durante o período 12 meses. Determine o valor dos juros e do montante final dessa aplicação. J = P * i * n J = 5000*0,03*12 J = 1.800 10 1 Atividades e controles financeiros O valor de Juros foi R$1.800,00 M = P + J M= 5000 + 1800 M=6.800 O valor de Montante é R$6.800,00 Exemplo 2: A Sonhos Ltda. emprestou seu capital de R$ 400,00 pelo regime de juros simples para sua filial por uma taxa de 4% ao mês. Obteve como resultado, o montante de R$480,00 após um certo tempo. Qual foi o tempo da aplicação? M = P + J 480 = 400 + J 480 – 400 = J 80 = J J = P * i * n 80 = 400*0,04*t 80 = 16 * t 80 / 16 = t 5 = t Ou seja, O Tempo dessa aplicação foi de 5 meses Exemplo 3: Se um capital de R$ 1.000,00 é aplicado a uma taxa de 10% a.m. durante 3 meses, qual o valor de juros ao final do período pelo regime de capitalização simples? J = P * i * n J = 1000*0,10*3 = 300 Juros pagos serão de R$300,00 Exemplo 4: Aplicação com juros simples a partir de capital no valor de R$ 40.000,00, aplicados à taxa de 0,001% a.d., no período de 125 dias. 11 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co J = P * i * n J = 40000*0,001*125 J = 5.000 Exemplo 5: Aplicação obteve rendimento de R$1.200,00, aplicado a juros simples, com a taxa men- sal de 2%. Qual o valor de Juros ao final de 1 ano e 3 meses? J = P * i * n J = 1.200*0,02*15 J = 360 Observe que nesse exemplo ocorreu a conversão do período de 1 ano e 3 meses para 15 meses, ação necessária devido à taxa, que era mensal. Exemplo 6: Há um crédito de R$ 50.000,00, pelo prazo de cinco meses, à taxa de juros simples de 2% a.m., supondo a inexistência de quaisquer outros encargos (IOF, por exemplo). Qual o montante após esse período? M=50000 + (50000*0,02*5) M=55.000 Agora utilizando a HP12C: Atenção: a calculadora estima os juros simples na base de 360 dias e na base de 365 dias, simultaneamente. Por esse motivo, o período “n” e a taxa “i” devem ser, se neces- sário, convertidos para dia e taxa anual, respectivamente. Podese entrar com os dados conforme os passos da Tabela 01: Tabela 01. Cálculo juros simples HP12C. CÁLCULO DOS JUROS SIMPLES NA HP12C PASSO TECLAS VISOR 01 50.000 [CHS] [PV] 50.000,00 02 5[ENTER] 30 [x] [n] 150,00 03 2[ENTER] 12[x] [i] 24,00 04 [f] [INT] 5.000,00 Juros na base de 360 dias 12 1 Atividades e controles financeiros 05 [R↓][x►◄y] 4.93,51 Juros na base de 365 dias 06 [+] 54.931,51 Montante do período na base de 365 dias 07 [x►◄y] 55.000,00 Montante do período na base de 365 dias Fonte: Elaborado pelo autor(2020) 1.3 DESCONTO COMERCIAL SIMPLES O desconto comercial simples é a forma de atualizar um valor nominal projetado para um momento futuro, pago (ou recebido) antecipadamente. Desconto é a diferença entre o valor nominal do título (valor no futuro) e o valor atual (valor na data da quitação ou do recebimento do solicitante). As operações de desconto representam a antecipação do recebimento ou pagamento de valores futuros apresentados por títulos (duplicatas, notas promissórias, chequesprédatados etc.). A prática, generalizada no Brasil, é a de utilizar o desconto comercial ou bancário (“por fora”) no regime de juros simples. De acordo com Gitman (2004, p. 57), o desconto é classificado tradicionalmente em duas modalidades: desconto racional simples (também chamado “desconto por dentro”) e desconto bancário ou comercial simples (também chamado “desconto por fora”). Assim, ele tem sua aplicabilidade delimitada. A classificação dos descontos se limita a simples – também chamado adequadamente de bancário ou comercial – e composto. O critério conhecido por desconto “por fora” nada mais é do que o próprio desconto sim- ples, com características claramente definidas. Já o desconto chamado “por dentro” (ou racional), não passa de uma aplicação de juros simples, nos casos em que a incógnita é o valor presente. (LEMES, 2002 p. 65). Pela ampla aplicação da modalidade de desconto comercial simples nas operações bancárias ou comerciais de curto prazo, ela será apresentada com detalhamentos e especificações. O desconto simples comercial ou bancário (por fora) é obtido com cálculos lineares. Seu cálculo é feito sobre o valor nominal do título. Ele é análogo ao cálculo dos juros simples, substituindose o capital (P) na fórmula de juros simples pelo valor nominal (N) do título. Temos notações comuns na área de descontos: D = N * id * n Na expressão para cálculo do desconto simples temos: d = valor do desconto N = valor nominal do título i = taxa de desconto n = tempo (antecipação do desconto) 13 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Com base na expressão para o cálculo do desconto, podemos estabelecer outra ex- pressão matemática capaz de determinar o valor atual comercial, que é dado por: A = N – d, lembrando que d = N * i * n, logo podemos dizer que A = N – N * i * n Resumindo, também temos A = N*(1 – i * n). É importante ressaltar que as operações de desconto comercial devem ser efetuadas em períodos de curto prazo, já que em períodos longos o valor do desconto pode ser maior que o valor nominal do título. Exemplo: A empresa ABC possui títulos no valor total de R$ 10 000,00, descontado à taxa de 1,5% ao mês, com 25 dias para o chegar o vencimento. Determine: a. o valor do desconto simples comercial. b. o valor atual comercial do título. Então temos os dados: N = 10.000 n = 25 dias i = 1,5% = 1,5/100 = 0,015 ao mês = 0,0005 ao dia a. d = N * i * n d = 10000 * 0,0005 * 25 d = 125 Desconto comercial é de R$ 125,00. b. A = N – d A = 10000 – 125 A = 9875 Valor atual, o desconto simples comercial será de R$ 9.875, 00. 1.4 CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA Capitalização composta é a forma de remunerar o capital pela qual a taxa de juros in- cide sobre o capital inicial empregado, somado aos juros gerados no período anterior. Assim, os juros incidem sempre sobre os montantes gerados após cada período imedia- tamente anterior ao que está sendo calculado. Ou seja, a capitalização e o rendimento gerados pela aplicação são incorporados ao montante total. Dizse, assim, que os juros são capitalizados. 14 1 Atividades e controles financeiros IMPORTANTE Para gerarmos a fórmula de cálculo que envolve capitalização composta e fazer a cor- reção dos valores monetários ao longo do tempo, mediante um índice (taxa de juros), considerando um capital (P), uma taxa de juros compostos (i), o prazo da operação (n) e o montante obtido (M), podemos concluir que o cálculo do montante em regime de capitalização composta é feito por meio do seguinte processo: Montante após o 1.º período: M1 = P + P × i = P × (1 + i). Montante após o 2.º período: M2 = P + P × i = P × (1 + i)². Montante após o 3.º período: M3 = P × (1 + i)² × (1 + i) = P × (1 + i)³. Assim, generalizando, após n períodos, o montante (M) será obtido por: M = P * (1 + i) n ou também FV = PV * (1+i)n Onde: FV = montante PV = capital Taxa = i Prazo = n As duas fórmulas são iguais, porém escritas de forma diferente. EXEMPLO 1. Francisco Vieira fez uma aplicação em um CDB pelo prazo de dois anos, à taxa de ju- ros compostos de 16% a.a. líquida. O valor da aplicação foi de R$ 3.500,00. Com base nessas informações, pedese: ` O valor resgatado (montante) ` O valor dos juros Resolução: Dados do problema: (a) Valor presente (PV) = R$ 3.500,00; (b) o prazo (n) = 2 anos; (c) taxa de juros compostos = 16% a.a. Essa operação representa um poderoso conhecimento para analisar e comparar valores mo- netários ao longo do tempo. A possibilidade de inflação, por exemplo, acarreta alguns efeitos sobre preços e salários. O resultado é que eles acabam gerando um poder aquisitivo distinto, em função do tempo. Podemos dizer, certamente, que um salário de R$ 3.000,00 terá um po- der de compra diferente daqui a um mês, um semestre ou um ano. Portanto, na capitalização composta, os juros se agregam ao capital para formar o montante do próximo período, sobre o qual incidirá os juros daquele período. 15 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Fórmula: FV = PV * (1 + i)n Agora devemos substituir os dados na fórmula: FV=3500*(1+0,16)2 FV=3500 *(1,16)2 FV=3500 *1,3456 FV=4.709,60 (a) Portanto, o valor resgatado foi R$ 4.709,60 b. J =FVPV (J=MP) J=4709,603500 J=1.209,60 Portanto, os juros correspondem a R$1.209,60 Então no mesmo exemplo com resolução na HP12C temos: 3500 tecla CHS depois tecla PV depois tecla Enter 2 tecla n 16 Teclai Depois tecla FV Visor irá aparecer 4.709,60 Observações: ` Na fórmula, a taxa de juros deve sempre se referir à mesma unidade de tempo do período financeiro. Caso isso não ocorra, o procedimento de se alterar a taxa de juros para que ela sin- tonize com a unidade de tempo da operação será visto em um item específico deste capítulo. ` O fator (1 + i) n é chamado de fator de capitalização ou fator de acumulação de capital para pagamento único. 1.6. EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS E JUROS SIMPLES Dois capitais com datas de vencimento distintas são equivalentes quando tiverem valo- res iguais e forem analisados em uma mesma data referencial determinada, à mesma taxa de juros aplicada na operação. O mesmo ocorrerá para um conjunto de capitais. Nesse caso, será feita a análise dos valores em planos de pagamentos para que se possa fazer a comparação de valores monetários em um momento específico. Geralmente, esse momento específico é o mo- mento inicial da operação financeira (data da realização do financiamento), ou seja, o momento zero. 16 1 Atividades e controles financeiros Exemplo 1: Quero substituir um título de R$5.000,00, vencível em 3 meses, por outro, com venci- mento em 5 meses. Sabendo que esses títulos podem ser descontados à taxa de 3,5% ao mês, qual o valor nominal comercial do novo título? SOLUÇÃO ALGÉBRICA Dados: VN’ = 5.000,00 i’ = i = 3,5% a.m. = 0,035 a.m. n’ = 3 meses n = 5 meses VA = VA’ VA = VN . (1 + i . n) VA = VN . (1+ 0,035 . 5) VA = 0,0825VN VA’ = 5.000,00 . (1+0,035 . 3) VA’ = 4.475 VA = VA’ 0,0825VN = 4.475 VN = R$5.424,24 SOLUÇÃO ALGÉBRICA Dados: VN1 = 3.000,00 n1 = 2 meses VN2 = 3.600,00; N2 = 6 meses i = i1 = i2 = 3% a.m. = 0,03 a.m. n = 4 meses VA = VA1 + VA2 VA = VN . (1 i . n) VA = VN . (1 + 0,03 . 4) VA = 0,88VN VA1 = 3.000,00 . (1 + 0,03 . 2) VA1 2.820 VA2 = 3.600,00 . (1+ 0,03 . 2) VA2 = 2.952 VA = VA1 + VA2 0,88VN = 2.820 + 2.952 VN = 6.559,00 Logo, o valor do novo título é de R$ 5.424,24 Exemplo 2: Uma pessoa deseja trocar dois títulos, um de valor nominal de R$3.000,00 e o outro de R$3.600,00, vencíveis, respectivamente, dentro de 2 e 6 meses, por um único título vencí- vel em 4 meses. Sendo a taxa de juro igual a 3% ao mês, qual será o valor do novo título? Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Podese dizer que R$ 1.000,00, hoje, certamente não corresponderão ao mesmo “valor” de poder aquisitivo de R$ 1.000,00 daqui a um mês ou um ano. Pois, evidentemente, 17 1 Contabilidadee finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co há uma inflação no período, que faz o dinheiro desvalorizar. Diante disso, apresentamos uma situação na qual podemos fazer a análise de duas alternativas de pagamentos de um produto que pode ser financiado em condições distintas de tempo. Para realizar a comparação de valores monetários ao longo de um período, devemos eleger um momento em que todos os valores monetários estariam nas mesmas condi- ções de poder aquisitivo. Assim sendo, de modo padronizado, temos o momento inicial (t = 0). Estipulamos esse referencial porque ele pode corresponder a momentos distin- tos: em um financiamento, ele pode ser o momento da assinatura do contrato e do re- cebimento do dinheiro emprestado ou do bem adquirido, ou pode ser o momento inicial de uma aplicação financeira em um fluxo de valores aplicados. Assim, tomase o valor atual (valor presente) como o referencial comparativo de valores monetários em diferentes períodos de tempo, a fim de analisar o fluxo de valores. 1.7. EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS E JUROS COMPOSTOS Quando estudamos a equivalência de capitais no regime de juros simples, vimos que às vezes temos necessidade de substituir um título (ou mais) por outro (ou outros) com vencimento diferente ou, ainda, por necessidade de obtermos dinheiro em caixa (entre outros diversos motivos). Assim, no regime de capitalização simples, essa data de comparação deve ser a data zero. Em regime de capitalização composta, a data de comparação pode ser qualquer uma, porque nos juros compostos são equivalentes aos descontos compostos. Para que exista equivalência, devemos ter: A=A ou seja, Como A = N.(1 + i) n então A? = N? (1 – i) n? Exemplo: Quero substituir um título de R$ 75.000,00, vencível em 5 meses, por outro com venci- mento em 3 meses. Sabendo que esses títulos podem ser descontados à taxa de juros compostos de 3,0% ao mês, qual o valor nominal do novo título? Dados: N?= 75.000,00 i’ = i = 3% a.m. = 0,03 a.m. n?= 5 meses n = 3 meses 1ª fase, encontrando o valor de A, com base na antecipação do novo título de 3 meses A = N.(1 + i) n A = N. (1 + 0,03) n A = N.0,915142 A = 0,915142N 18 1 Atividades e controles financeiros SOLUÇÃO PELA HP12c 1º fase. Achando A'. Nacalculadora siga estes passos: 1 3 0,03 ÷ ENTER CHS XYX A = 0,915142 SOLUÇÃO PELA HP12c 2º fase. Encontrado o valor de A'. Na calculadora siga estes passos: Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Fonte: Elaborado pelo autor (2020) 2ª fase, achando valor de... A?, encontrando o Valor atual (A?), com base no seu ven- cimento de 5 meses. A’= N’(1 – i)n’ A’ = 75.000,00.(1+0,03) 5 A’ = 75.000,00 x 0,862609 A’ = R$ 64.695,75 75000,00 ENTER 1 ENTER VA' = R$ 64695,75 0,03 ÷ 5 CHS YX X 3ª fase, achando N’ Assim, baseado nos dados anteriores, podemos agora achar o novo Valor Nominal (N) a pagar do título: N = R$ 64 695,75 / 0,915142 N = R$ 70 694,92. Podemos arredondar este valor para: N = R$70 695 19 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co SOLUÇÃO PELA HP12c 3º fase. Achando o valor a pagar Na calculadora siga estes passos: 64695,75 0,915142 ENTER ENTER N = R$70794,92 aprox... N = R$70695,00 N = R$70 695,00 (valor a pagar) Fonte: Elaborado pelo autor (2020) NOTA: Observe nesse problema que usamos a data zero como data de comparação. Porém, como foi dito anteriormente, essa data em juros compostos pode ser qualquer uma. Apenas para comprovarmos, temos: 5 meses – 3 meses = 2 meses (de antecipação), assim, pode- mos simplificar e fazer a seguinte equação financeira: N = 75 000,002 = 75 000,00 x 0,94260 = R$70 695,00, ou ainda N. (1 + 0,03)2 = 75 000,00 Isolando N temos: N = 75 000,00 / 1,06090 = R$ 70 695,00 1.8 SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO Amortizar significa pagar o principal. Portanto, para Ferreira e Teixeira (2004, p. 150), “Amortização é a denominação dada à forma pela qual o principal de um empréstimo ou financiamento é devolvido”. SAC – Sistema de Amortização Constante Este sistema de amortização tem como característica o valor da parcela do principal cons- tante. Variáveis são os juros, que vão diminuindo, pois, do saldo devedor anterior se de- duz o valor da prestação constante, e, consequentemente, o valor da prestação também diminui. Conforme Ferreira e Teixeira (2004, p. 158), “Este sistema foi utilizado no Brasil para financiamento de imóveis, sendo substituído atualmente pelo SACRE (Sistema de Amortização Crescente)”. O seu uso é acordado entre o cliente e a instituição financeira, ou, para algumas cooperativas de empregados, o seu uso é obrigatório, de acordo com o estatuto delas. Vamos exemplificar o uso desse Sistema de Amortização. EXEMPLO 1. Antônio Fulano é funcionário de uma estatal, e é associado à Cooperativa de Crédito dessa estatal. No estatuto dessas cooperativas, os empréstimos feitos aos seus as- sociados usam o Sistema de Amortização Constante. Esse funcionário solicitou um empréstimo de R$ 5.000,00 pelo prazo de dois anos. A taxa de juros dessa associação 20 1 Atividades e controles financeiros é de 2,25% a.m. Com base nessas informações, construa a tabela de desembolso mensal do funcionário. Devemos, primeiro, transformar o prazo de dois anos em meses, ou seja, em 24 meses, visto que a taxa está indicada ao mês, e o desembolso também é mensal. Primeiro va- mos calcular o valor da prestação mensal: Valor do empréstimo = (a) R$ 5.000,00; (b) prazo = 24 meses. Portanto, a amortização mensal será: Prestação = Valor do empréstimo número de meses P = 5.000 24 P = 208,33 DATA JUROS (R$) AMORTIZAÇÃO (R$) PRESTAÇÃO (R$) SALDO DEVEDOR (R$) XXX (a) (b) (c) = (a) + (b) (d) XXX J = C.i.n XXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXX (e) = (d) – (b) 0 0,00 0,00 0,00 5.000,00 1 112,50 208,33 320,83 4.791,67 2 107,81 208,33 215,62 4.583,34 3 103,13 208,33 311,46 4.375,01 ... ... ... ... ... 23 9,38 208,33 217,71 208,33 24 4,69 208,33 213,02 0,00 TOTAL 1.406,27 5.000,00 6.406,27 0,00 Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Veja que, nesse sistema de pagamento, a amortização é constante, enquanto os juros são decrescentes em virtude de diminuição do saldo devedor, que é igual ao saldo de- vedor anterior menos a amortização, que é constante. Sistema de Amortização Francês – SAF (PRICE) No Sistema de Amortização Francês (SAF) todas as prestações são iguais. O cálculo da prestação segue o mesmo critério de pagamentos periódicos, usando o fator do valor presente. Uma forma derivada do Sistema de Amortização Francês é a Tabela Price. Essa forma usa o conceito de juros equivalente nominal, ou seja, a taxa nominal é dada ao ano, e a taxa do período de pagamento é paga de maneira proporcional, no conceito de ju- ros simples. Vamos aplicar um exemplo para o estudo do Sistema de Amortização Francês. 21 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co EXEMPLO 1. Joana Faria fez um empréstimo no valor de R$ 2.000,00, pelo prazo de seis meses. A taxa de juros compostos do banco é 3,5% a.m. Com base nessas informações, pedese para elaborar a tabela de desembolso mensal de Joana. Primeiro vamos calcular o valor da prestação mensal usando o fator do valor presente. Resolução. Dados: (a) valor presente = R$ 2.000,00; (b) prazo = seis meses; (c) taxa = 3,50% a.m. Substituindose os dados na fórmula, termos: Vamos elaborar a planilha de desembolso mensal de Joana. DATA JUROS (R$) AMORTIZAÇÃO (R$) PRESTAÇÃO (R$) SALDO DEVEDOR (R$) XXX J = SDn1 .i.j XXXXXXXXXX XXXXXXXXXX XXXXXXXXXX XXX (a) (b) = c (a) (c) (d)=SDn1 – Amrtzn 0 0,00 0,00 0,00 2.000,00 1 70,00 305,34 375,34 1.694,66 2 59,31 316,03 375,34 1.378,63 3 48,25 327,09 375,34 1.051,54 ... 36,80 338,54 375,34 713,00 23 24,96 350,39 375,34 362,61 24 12,69 362,61 375,34 0,00 TOTAL 252,01 2.0000,00 2252,01 XXXXXXXXX Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Nesse Sistema de Amortização, as prestações são sempre iguais e consecutivas, mas encontradaspelo método do fator do valor atual. Veja que sem a planilha é impossível verificar quanto se desembolsa de juros mensalmente e quanto se amortiza do princi- pal. Pela tabela, percebemos que os juros são decrescentes, enquanto a amortização é crescente, ou seja, pagase mais juros no início dos pagamentos. Agora vamos aplicar, em um exemplo, o uso de uma variante do Sistema de Amortiza- ção Francês: a Tabela Price. Nela, a taxa de juros é dada ao ano, e, para saber a taxa aplicada no prazo constante de desembolso, devemos dividir a taxa anual pelo prazo da operação contida em um ano. 22 1 Atividades e controles financeiros EXEMPLO 2 Carol Siqueira fez um empréstimo no banco ALFA S.A., no valor de R$ 1.500,00, pelo prazo de cinco meses. O banco informou que a taxa nominal de juros é de 44% a.a., com capitalização mensal. Com base nessas informações, elabore a tabela de desem- bolso mensal de Carol. Veja que a taxa dada é anual, por isso temos que transformála em taxa mensal, pelo período de pagamento. Veja também que junto à taxa de juros anual segue a expressão de capitalização men- sal. Portanto, estamos diante de taxa de juros compostos equivalente efetiva. Primeiro, vamos transformar a taxa anual em taxa mensal, proporcional, como se faz em capitalização simples. Transformação da taxa anual em taxa proporcional mensal: Vamos calcular o valor da prestação mensal de desembolso de Carol, usando o fator de valor atual. Resolução: Dados: (a) valor do empréstimo = R$ 1.500,00; (b) prazo = cinco meses; (c) taxa = 3,67% a.m. Substituindose os dados na fórmula, temos: Vamos elaborar a planilha de desembolso mensal de Carol. O processo, em relação ao Sistema de Amortização Francês, é o mesmo. A única diferença ocorre na forma de apresentar a taxa de juros, que na Tabela Price é dada ao ano. A tabela tem o mesmo formato do SAF, conforme segue: DATA JUROS (R$) AMORTIZAÇÃO (R$) PRESTAÇÃO (R$) SALDO DEVEDOR (R$) XXXXX J = SDn1 .i.n XXXXXXXXXX PV = PMT . (1 + i)n . i (1 + i)n – 1 XXXXXXXXXX XXXXX (a) (b) = c (a) (c) (d)=SDn1 – Amrtzn 0 0,00 0,00 0,00 1.500,00 1 55,00 278,77 333,77 1.221,23 23 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co DATA JUROS (R$) AMORTIZAÇÃO (R$) PRESTAÇÃO (R$) SALDO DEVEDOR (R$) 2 44,78 288,99 333,77 932,24 3 34,18 299,59 333,77 632,65 4 23,20 310,57 333,77 322,08 5 11,81 321,96 333,77 0,00 Total 168,97 1.500,00 1.668,85 XXXXXXXXX TOTAL 252,01 2.0000,00 2252,01 XXXXXXXXX Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Portanto, verificamos que a diferença entre o Sistema de Amortização Francês e o Sis- tema de Tabela Price, que é uma variante daquela, se resume na taxa efetiva de juros. No Sistema de Amortização Francês, a taxa mensal é equivalente à taxa anual, enquan- to no Sistema de Tabela Price a taxa de juros equivalente é efetiva, ou seja, a taxa da operação é bem superior à taxa nominal anual. Assim, a taxa equivalente a 44% a.a. seria uma taxa mensal de [(1,44) 1].100, ou seja, 3,09% a.m. No entanto, a taxa efetiva de 44% a.a. corresponde efetivamente a uma taxa de 54,05% a.a. [1,03667)121]. 100. Portanto, o Sistema Price é mais oneroso que o Sistema de Amortização Francês. 1.9 SÉRIES UNIFORMES Quando fazemos qualquer operação de crédito, seja pela compra de um bem durável financiado, seja pela obtenção de empréstimos junto a instituições financeiras, ou quan- do fazemos aplicações financeiras em que os depósitos são iguais e consecutivos, não pagamos de uma única vez como até agora supusemos em nossos exercícios, mas de forma parcelada. Em geral, essas parcelas são iguais e consecutivas. Logo abaixo destacamos a fórmula para o cálculo do montante acumulado em opera- ções em que entram parcelas constantes e iguais. PMT = abreviatura da palavra inglesa payment. Literalmente significa Periodic Payment Amount (ou pagamento periódico). Usamos essa expressão na fórmula para coincidir com a tecla existente na calculadora financeira HP12C. EXEMPLO 1. Franklyn da Silva deseja depositar mensalmente R$ 200,00 pelo prazo de 5 anos para comprar um carro de passeio. O valor à vista desse veículo é R$ 21.000,00. O banco no qual essa poupança é depositada remunera seus clientes à taxa de juros compostos de 1,55% a.m. Quanto Franklyn terá acumulado em cinco anos? Terá o suficiente para adquirir o carro de seus sonhos? 24 1 Atividades e controles financeiros Veja que estamos diante de um problemasituação em que fazemos um depósito regu- larmente, igual e consecutivo para acumular certo capital. Deparamonos com o modelo apresentado, em que temos o depósito, o prazo e a taxa. Substituindo os dados na fórmula, teremos: Portanto, em cinco anos, Franklin da Silva terá acumulado um capital de R$ 19.567,65. Esse capital não é suficiente para realizar o seu sonho de compra de um carro novo no valor de R$ 21.000,00. EXEMPLO 2. No exemplo 1, vimos que o depósito mensal efetuado por Franklyn não é suficiente para adquirir o carro novo no período de cinco anos. Mantidas as demais condições, qual seria o valor da poupança mensal necessário para adquirir o veículo? Resolução. Dados: (a) FV = R$ 21.000,00; (b) prazo = 5 anos ou 60 meses, (c) taxa de juros compostos = 1,55% a.m. Portanto, Franklyn deverá fazer uma poupança mensal de R$ 214,64. 2. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIETÁRIA A Contabilidade Societária, conhecida também como Contabilidade Financeira, utiliza ar- tefatos na elaboração de mensurações de ativos e passivos nos balanços patrimoniais e resultados (receitas, custos e despesas), nos demonstrativos de resultados do exercício. A evolução econômica tem a Contabilidade como sua fiel companheira e, no Direito, os diversos sistemas. A Contabilidade é estabelecida como base no perfeito relacionamento econômico financeiro na sociedade. 25 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Frei Lucca Paciolo consagrou, na metodologia das partidas dobradas, o termo fenômeno patrimonial como o registro de um fato de causa e efeito nas transações econômicas. Nesse conceito iniciase o entendimento da ciência contábil. “Sem contabilidade não se cria nem se acumula [sic] conhecimentos econômicos” (Parisi, 2011, p. 301). Interpretamos como Contabilidade o registro e as escriturações de todos os fatos ocor- ridos nas organizações. Por meio desse conceito, os administradores têm condições de estudar, interpretar, compreender e controlar o patrimônio da empresa, analisando, tam- bém, a situação econômica e financeira da organização. É da mensuração, apresentação e evidenciação contábil que se tem a segurança do conhecimento das transações efetuadas e, por meio da compreensão por parte dos admi- nistradores, de estimativas e projeções de transações futuras. É obrigatório que todas as empresas de capital aberto apresentem suas demonstrações financeiras elaboradas em conformidade com as normas internacionais de contabilidade, segundo a determinação da CVM (Comissão dos Valores Mobiliários), em concordância à Lei 11.638, que alterou a antiga Lei das Sociedades por Ações. A CVM – Comissão dos Valores Mobiliários foi criada pela lei Federal nº 6385, em 7 de dezembro de 1976, por decreto do Congresso Nacional, e tem por finalidade disciplinar, fiscalizar, normatizar, regular e desenvolver o mercado de valores imobiliários e toda in- dústria de fundos de investimentos. A contabilidade no Brasil vivenciou um salto evolutivo a partir dos anos 2000, desde a necessidade do aprimoramento do olhar científico até a forte influência de convergência ao padrão internacional. Eventos como a instituição do BRGAAP (Princípios contábeis geralmente aceitos no Brasil) em 2010, o nascimento do CPC em 2005, a promulgação da Lei n. 11.638/2007 e a institucionalização do exame de suficiência, causaram grandes avanços, que sujeitam a contabilidade brasileira a perseguir a qualidade das práticas e técnicas utilizadas nos países e mercados mais desenvolvidos. Entender a históriada contabilidade no Brasil é fundamental para compreender o con- texto em que se insere a profissão contábil em nosso país. A contabilidade no Brasil é constituída de três momentos históricos demarcadores: ` Anterior a 1964, posterior a 1964 e após 2007, com a consolidação jurídica da convergên- cia ao padrão internacional e o caminho ao BRGAAP. O ponto de início foi o ano de 1808, durante a instalação do reinado de D. João VI, quando foi publicado um alvará que obrigava os contadores gerais da real fazenda a aplicarem o método das partidas dobradas na escrituração mercantil. 2.1 USO DO CPC Entidade autônoma criada pela Resolução CFC nº 1.055/05, o CPC tem como objetivo estudar, preparar e emitir pronunciamentos técnicos sobre procedimentos de contabi- lidade e divulgar informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu proces- so de produção e levando sempre em conta a convergência da contabilidade brasileira aos padrões internacionais. 26 1 Atividades e controles financeiros Então, a criação do CPC (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS) está in- timamente relacionada à convergência do fluxo de empresas transnacionais e o fluxo internacional de capitais e de operações que atravessam as fronteiras, o que já vinha sendo praticado em países de economia forte. Criado pela Resolução n. 1055/2005, seu objetivo é (COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, [20], [s.p.]): “[...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedi- mentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Assim, seu papel é estudar, preparar e emitir pronunciamentos técnicos sobre con- tabilidade, tendo como objetivo a convergência com as normas internacionais. Cabe ressaltar que um pronunciamento contábil não tem o poder de normatizar, mas de emitir pronunciamento que se tornam mandatórios por meio de normas emitidas por órgãos reguladores que emitem atos próprios para normatizar a atividade contábil.” Pronunciamento básico do CPC: estrutura conceitual para elaboração e apresentação das demonstrações contábeis. Por exemplo, o Conselho Federal de Contabilidade se apropria dos pronunciamentos contábeis para emitir as Normas Brasileiras de Contabilidade. Já a Comissão de Valores Mobiliários emite as Instruções Normativas da CVM, por exemplo. Segundo o regimento interno do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, suas ativida- des estão pautadas em reuniões realizadas mensalmente, que têm como convidados: Comissão de Valores Mobiliários – CVM, Banco Central do Brasil – BACEN, Superin- tendência dos Seguros Privados – SUSEP, Secretaria da Receita Federal do Brasil – SRFB, Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN e Confederação Nacional da Indústria – CNI. Tendo em vista que desde 2008 o Brasil conta com o CPC 00 – Estrutura Conceitual – que, apesar de constantemente revisado, permanece seguindo os princípios e diretrizes das IFRS, os caminhos estão consolidados para uma maior aplicação da abordagem comportamental ao exercício da contabilidade brasileira. As informações contábeis são seguras como prescreve o CPC. Por meio de normas, os demonstrativos contábeis são estruturados seguindo padrões para sua certificação e publicação. Tais certificações acarretam credibilidade às informações contábeis, as quais são utilizadas pelos usuários das informações, caracterizados como usuários in- ternos e externos. Entre os usuários das demonstrações contábeis incluemse os investidores, colaborado- res, bancos, fornecedores e governos; eles utilizam as demonstrações para satisfazer algumas das suas diversas necessidades de informações, embora nem toda informa- ção contábil satisfaça a sua necessidade. A função da informação da contabilidade procede como ferramenta útil para tomada de gestão para esses usuários. Um exemplo que podemos citar são os relatórios contábeis 27 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co requeridos pelos investidores que desejam conhecer a empresa (situação econômica financeira) para seus possíveis investimentos. O Balanço Patrimonial é um dos demonstrativos contábeis, também usado tanto por usuários internos quanto externos. Esse relatório contábil demonstra: ` Como o patrimônio de uma determinada empresa está constituído. ` A origem dos recursos da empresa por meio do Ativo e Passivo, sejam eles de curto a longo prazo. ` Situação Líquida Patrimonial. De nada adiantaria compreender a abordagem comportamental sem relacioná-la com a prática na contabilidade, pois esse comportamento interfere diretamente na prática do profissional contador. Desse modo, no tópico a seguir, iremos compreender a relação prática da abordagem comportamental com a contabilidade. 2.2 PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE Assaf Neto (2010, p.58) afirma que na abordagem comportamental “[...] a preocupação re- side na relevância da informação transmitida a responsáveis pela tomada de decisões [...]”. Diante dessa afirmação, é importante compreender como a produção da informação contábil pode ser influenciada pelo olhar do contador sobre os fenômenos patrimoniais. Essas influências podem impactar diretamente na representação da informação contá- bilfinanceira, ameaçando sua fidedignidade. No contexto da abordagem comportamental, o exercício da contabilidade fica sob a responsabilidade dos comitês de pronunciamentos técnicos, pois tem função interpre- tativa da relação dogmática e epistemológica, considerando a diversidade do caráter semântico entre a norma e sua aplicação nas diversas possibilidades comportamentais. Para atender às necessidades dos usuários, portanto, segundo a abordagem comporta- mental, é preciso seguir os fundamentos da Estrutura Conceitual Básica, que enumera os pressupostos das características qualitativas obrigatórias nos demonstrativos: com- preensibilidade, relevância, materialidade e confiabilidade (CPC, 2011). Em suma, a abordagem comportamental ressalta a necessidade de preservar as ca- racterísticas qualitativas da representação adequada, ou seja, a primazia da essência sobre a forma. Como o desenvolvimento das atividades contábeis está ligado ao registro das mutações patrimoniais, é importante compreender a abordagem macroeconômica, que influencia o desenvolvimento de atividades de apuração, registro e controle dos fatos patrimoniais. Para que o resultado final da contabilidade (demonstrativos contábeis) pudesse vir a ser inteligível por todos, foi preciso que ela fosse padronizada. Assim, o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) criou os princípios e as convenções contábeis. Os princípios de contabilidade, instituídos pela Resolução CFC nº 750/1993 (CFC, [s.d.]) e, posterior- mente, alterados pela Resolução CFC nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.], são como grandes 28 1 Atividades e controles financeiros placas que nos guiam na direção correta e nos permitem chegar ao nosso objetivo. I. Princípio da entidade: estabelece que no exercício das atividades contábeis é preciso diferenciar o patrimônio da empresa do patrimônio dos sócios, e até mesmo que, em grupo de empresas, seja feita a segregação dos patrimônios por CNPJ. Segundo a Resolução nº 1.282/2010, existe “a necessidade da diferenciação de um patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes” (CFC, [s.d.]). Ou seja, deve existir a autonomia do patrimônio da entidade, e, portanto, seus ativos, passivos, receitas e despesas não se misturam com os de seus sócios. II. Princípio da continuidade: ao elaborar e apresentar os demonstrativos contábeis, de- vemos levar em consideração o pressuposto de que a entidade não tem data para encerrar as operações e que, assim, continuará as atividadesno futuro. Segundo Resolução nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.]), “a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância [continuidade das ope- rações no futuro]”. Nesse sentido é preciso que tenhamos cuidado ao avaliar nossos ativos, ao fazer a apropriação da depreciação, ao segregar os passivos e ativos no circulante e no não circulante etc. III. Princípio da oportunidade: esse princípio zela pela defesa dos interesses dos usuá- rios, pois estabelece que, uma vez que o objetivo da contabilidade é disponibilizar informa- ções que sirvam de subsídio para a tomada de decisão por parte dessas pessoas, é preciso que tais informações sejam fornecidas em sua totalidade e no tempo hábil. Segundo a Re- solução nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.]), ser oportuno em contabilidade “referese ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas”. IV. Princípio do registro pelo valor original: esse princípio determina que qualquer item que venha a compor o patrimônio da entidade, seja ativo, seja passivo, deve ter o primeiro registro realizado por seu valor original e em moeda nacional, conforme estabelece a Reso- lução nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.]). Assim, é costumeiro ouvirmos que, em obediência a tal princípio, devemos lançar os componentes patrimoniais com base nos valores de face do documento que originou o bem, o direito ou a obrigação para a instituição em análise. V. Princípios da competência: as operações e atividades realizadas em uma empresa cau- sam alterações na composição do patrimônio da entidade. Nesse sentido, o princípio da competência expõe que os efeitos de tais atividades devem ser contabilizados no momento em que ocorrem, independentemente de ter havido a efetivação financeira de tal operação. Segundo a Resolução nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.]), “o princípio da competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento [...]”. VI. Princípio da prudência: esse princípio estabelece que em havendo dois valores igual- mente válidos para um único item patrimonial, este deve ser registrado com o maior valor, caso seja um item do passivo, ou com o menor valor, caso seja um item do ativo. Segundo a Resolução nº 1.282/2010 (CFC, [s.d.]), é preciso que haja precaução ao julgar valores esti- mados, “no sentido de que os ativos e receitas não sejam superestimados e que passivos e 29 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co despesas não sejam subestimados [...]”. Portanto, temos que provisionar valores de maneira prudente para conferir maior confiabilidade aos valores patrimoniais. Então podemos dizer que o objetivo da Contabilidade é estudar, analisar, interpretar, compreender, comparar e controlar o patrimônio de uma empresa ou pessoa física, além de fornecer informações úteis aos usuários (internos e externos) para a tomada de decisões. Seu objeto é o patrimônio formado por um conjunto de bens (carros, pré- dios, estoques), direitos (contas a receber de curto e longo prazo, bancos, aplicações financeiras) e obrigações (contas a pagar a curto e/ou longo prazo), alvo central e mais importante do ponto de vista da mensuração da riqueza. Os usuários da informação contábil são as pessoas que se interessam pela situação da empresa e buscam na Contabilidade as suas respostas. Os usuários das informações contábeis são: ` Sócios; ` Clientes; ` Administradores; ` Setor Governamental; ` Concorrentes; ` ONGs; ` Analistas; ` Sindicatos; ` Consultores; ` Fornecedores; ` Prestadores de serviços; ` Empregados; ` Bancos. A Contabilidade possui “conexões com outras áreas do conhecimento”, sendo assim uma ciência interdisciplinar. Para melhor compreensão acerca da interdisciplinaridade, a seguir seguemse as outras áreas que se relacionam com a contabilidade, tais como: sociologia, direito, psicologia, administração, engenharia de produção, matemático es- tatístico, filosofia, finanças e controladoria. O campo de aplicação da Contabilidade abrange todas as entidades econômicoadmi- nistrativas (pessoas, patrimônio, titular, capital, ação administrativa e fim determinado). Essas entidades classificamse em: entidades com fins econômicos, entidades com fins socioeconômicos e entidades com fins sociais. As entidades com fins econômicos são denominadas empresas públicas, privadas e mistas, visam ao lucro para preservar e/ou aumentar seu patrimônio líquido. Exem- plos: empresas comerciais, industriais, agrícolas, prestadoras de serviços. Por sua vez, 30 1 Atividades e controles financeiros as entidades com fins socioeconômicos são intituladas instituições, visam o superávit, sendo revertido em benefício de seus integrantes. Exemplos: associações de classe, clubes sociais e etc. E por fim as entidades com fins sociais que também são denominadas instituições, visam ao lucro social, ou seja, o bemestar social, tendo por obrigação atender às neces- sidades da coletividade a que pertencem. Exemplos: APM, APAE etc. Após mencionarmos a importância da informação contábil aos seus usuários, afirma Marion (2009, p. 28) que uma “empresa sem uma boa Contabilidade é como um barco em altomar, sem bússola, totalmente à deriva”. 2.3. O ESTUDO DO PATRIMÔNIO Antes de conceituar o que é Patrimônio, podemos relacionálo à nossa vida pessoal. É impossível falarmos do mesmo, sem associálos aos bens e sua materialidade. A empre- sa possui tanto bens materiais (corpóreos ou palpáveis) quanto os bens imateriais (in- corpóreos ou não palpáveis), que também podem ser conhecidos como bens tangíveis ou intangíveis, podendo ser chamados de ATIVO. Portanto, entendese por bens: coisas úteis capazes de satisfazer às necessidades das empresas e pessoas. São classificados da seguinte forma: ` Tangíveis: possuem forma física. Exemplos: móveis, veículos e máquinas; ` Intangíveis: não tem forma física. Exemplos: marcas e patentes; ` Móveis: podem ser removidos pelos proprietários ou por outras pessoas, ou seja, locomo- vemse. Exemplos: equipamentos, cadeiras, carros etc.; ` Imóveis: são aqueles vinculados ao solo, que não podem ser retirados sem destruição ou danos. Exemplos: edifícios, terrenos; Quanto aos direitos de um Patrimônio, podese dizer que são os que a empresa tem o direito de receber de eventos passados e de outrem. Exemplos: vendas realizadas a prazo. A compreensão da expressão direitos em Contabilidade referese ao direito de receber ou de exigir algo que esteja em poder de terceiros. Exemplos: títulos a receber, adiantamentos a receber, adiantamento de salários, empréstimos a receber, todos po- dendo ser classificados no curto e longo prazo, dependendo da negociação. Cabe salientar que as Contas do Grupo do Ativo (Bens e Direitos) (lado esquerdo do Balanço Patrimonial) possuem Natureza Devedora. No que diz respeito às obrigações, são valores de propriedades de terceiros que estão em sua posse ou que se destinam a financiar as atividades empresariais, ou seja, dívidas a serem pagas a terceiros. Exemplos: fornecedores; salários a pagar; tributos a pagar. Portanto, essas obrigações que a empresa possui com terceiros, isto é, dívidas em valores monetários que a pessoa jurídica deve a pessoas físicas ou jurídicas, estão compreendidas no grupo do Passivo, e podem ser classificadas no Curto e Exigível de Longo Prazo. 31 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co O Patrimônio Líquido de uma empresa é formado por: (i) Capital: é a soma dos valores que os proprietários se responsabilizaram e/ou investiram na empresa; (ii) Re- servas: são constituídas a partir do Lucro da Empresa, com finalidades legais e estatu- tárias definidas; (iii) Prejuízos: são resultados negativos obtidos na operacionalidade da empresa; (iv) Lucros: são resultados positivos decorrentes da operação da empresa e devemser redistribuídos. As contas do Grupo do Passivo (Passivo Circulante, Não Circulante e PL) (lado direito do Balanço Patrimonial) possuem Natureza Credora. Com isso, a origem de recursos tem por objetivo evidenciar De Onde vêm os recursos da empresa, ou seja, sua origem, podendo ser do capital de terceiros ou capital próprio. O capital de terceiros é o recurso oriundo das pessoas físicas ou jurídicas que não fazem parte da Estrutura Societária da Empresa, podendo ser instituições financeiras, factoring. O capital próprio é o recurso proveniente da atividade operacional da empresa ou dos sócios. Pode se afirmar que a origem de recursos nada mais é do que a “injeção de dinheiro ou bens” que podem ser efetivados por terceiros ou pelos sócios, cuja finalidade é reinves- tir o mesmo para gerar riqueza à empresa e/ou aos sócios. Quando se fala em Aplicação de Recursos, é para onde estamos enviando e/ou des- tinando o dinheiro, ou seja, onde estamos reinvestindo, aplicando o recurso, visando gerar mais recurso para empresa. O modelo simplificado abaixo, busca elucidar a estrutura de um Patrimônio: DATA JUROS (R$) Bens e direitos (em posse ou recebíveis) Obrigações (a serem pagas, exigíveis) Capital de terceiros (Curto e Longo Prazo) Patrimônio Líquido Capital Próprio (dos sócios) APLICAÇÃO DE RECURSOS ORIGENS DE RECURSOS Fonte: Elaborado pelo autor (2020) O modelo simplificado ilustra de forma sucinta como é o patrimônio de uma pessoa ou uma empresa. Do lado esquerdo, ficam as aplicações de recursos, representadas por bens e direitos da empresa. Do lado direito, todas as obrigações da empresa, sendo elas a curto ou longo prazo, além do dinheiro dos sócios. Podese dizer também que o lado direito é conhecido como origens de recursos. 3. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E CONTÁBEIS A legislação brasileira, desde o antigo Código Comercial, editado em 1850, determina a obrigatoriedade das demonstrações financeiras. Essa obrigatoriedade, historicamente, 32 1 Atividades e controles financeiros está ligada à necessidade de usuários externos (credores, bancos, governo etc.) de conhecer a situação econômicofinanceira das empresas. Atualmente, todas as organizações empresariais que detêm um patrimônio devem ela- borar essas demonstrações financeiras, obedecendo às determinações do Código Civil Brasileiro e da Lei n. 6.404/1976. Ou seja, as demonstrações financeiras e contábeis são obrigatórias para as entidades, sejam elas empresas com ou sem fins lucrativos. 3.1 BALANÇO PATRIMONIAL (BP) O Balanço Patrimonial tem por finalidade apresentar a posição financeira e patrimonial da empresa em determinada data, representando, portanto, uma posição estática. O art. 178 da Lei 6.404/76 menciona que “no balanço, as contas serão classificadas se- gundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia”. O Balanço Patrimonial é composto por ATIVO, PASSIVO E PATRIMÔNIO LÍQUIDO. O Ativo compreende os recursos controlados por uma entidade e dos quais se esperam benefícios econômicos futuros. O Passivo compreende as exigibilidades e obrigações, e o Patrimônio Líquido repre- senta a diferença entre o ativo e passivo, ou seja, o VALOR LÍQUIDO DA EMPRESA. Cabe salientar que as contas devem ser classificadas no Balanço de forma ordenada e uniforme, para permitir aos usuários uma adequada análise e interpretação da situação patrimonial e financeira. Nesse sentido, a Lei 6.404/76, por meios dos arts. 178 a 182, definiu como deve ser a disposição das contas, seguindo para o Ativo a classificação em ordem decrescente de grau de liquidez, e, para o Passivo, em ordem decrescente de prioridade de pagamento das exigibilidades. No Ativo, são apresentadas em primeiro lugar as contas mais rapidamente conversíveis em disponibilidades, iniciando com o disponível (caixa e bancos), contas a receber, estoques e assim sucessivamente. Para as contas do Passivo, classificamse em primeiro lugar as contas cuja exigibilidade ocorre antes. Conforme conceito geral, os parágrafos 1º e 2º do art. 178 determinam a segregação do Ativo e Passivo nos seguintes grupos: DATA JUROS (R$) ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE Realizável a longo prazo Patrimônio líquido Investimentos Capital social Imobilizado Reservas de capital Intangível Ajustes de avaliação patrimonial Reservas de lucros 33 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co DATA JUROS (R$) Ações em tesouraria Prejuízos acumulados Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Como se verifica, os grupos de contas apresentados foram dispostos dentro do critério de grau de liquidez mencionado, sendo que dentro de cada grupo, a ordem de liquidez e exigibilidade deve ser mantida. Veremos nas próximas unidades o detalhamento des- sas demonstrações. Resumindo: O Balanço Patrimonial é a mais importante demonstração contábil. Atualmente, as dis- posições a respeito da sua estrutura e forma de apresentação são reguladas pela Lei n. 6.404/1976, complementada pelos pronunciamentos emitidos pelo CPC. O Balanço Patrimonial é considerado uma demonstração estática, pois apresenta o saldo das contas de natureza patrimonial em uma determinada data. Essas contas são divididas em três grupos bem distintos: ativo, passivo e patrimônio líquido. No ativo são apresentadas as contas que representam os recursos controlados pela en- tidade – oriundos de transações passadas – e dos quais se espera que resultem futuros benefícios econômicos. Anteriormente, o conceito era mais simples: eram os bens e di- reitos de propriedade da empresa. Entretanto, com a evolução dos eventos econômicos, a Ciência Contábil teve que se adaptar, apresentando nas demonstrações não somente aquilo que é de propriedade da organização, mas tudo que esteja sob o controle dela. Já no passivo são representadas todas as obrigações da empresa, ou seja, as dívidas dela com terceiros, como fornecedores de bens e serviços, funcionários da empresa, impostos e instituições financeiras. Já o patrimônio líquido representa a diferença entre o que a empresa tem (seus ativos) e suas dívidas (seu passivo). 3.2 DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO DRE A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é a apresentação, em forma resu- mida, das operações realizadas pela empresa, durante o exercício social, expressa de forma a destacar o resultado líquido do período, incluindo o que se denomina de recei- tas e despesas realizadas. O CPC 26 (R1), em seu item 95, menciona que: “as despesas são reconhecidas na de- monstração do resultado do exercício com base na associação direta entre elas e os correspondentes da receita. Esse processo, usualmente chamado de confrontação entre despesas e receitas (Regime de Competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas e despesas que resultem diretamente das mesmas transações ou outros eventos (...)”. É por decorrência desse pressuposto que, por exemplo: 34 1 Atividades e controles financeiros ` A receita de venda é contabilizada por ocasião da transferência dos riscos e benefícios, e não quando de seu recebimento; ` A despesa de pessoal (salários e encargos) é reconhecida no mês em que se recebeu tal prestação de serviços, mesmo que paga no mês seguinte; ` Uma compra de matériaprima é contabilizada quando do recebimento da mercadoria e não quando do seu pagamento; ` A despesa do Imposto de Renda é registrada no mesmo período dos lucros a que se refe- re e não no exercício seguinte, quando é declarada e paga. Dessa forma, o objetivo da Demonstração do Resultado do Exercício é fornecer aos usu- ários das demonstrações financeiras da empresa os dados essenciais da formação do resultado (lucro ou prejuízo) do exercício. O art. 187 da Lei 6.404/76 e o Pronunciamento Técnico CPC 26 (R1) disciplinam a apresentação dessa demonstração da seguinte forma: (+) RECEITALÍQUIDA DE VENDA () Custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços prestados = LUCRO BRUTO () Despesas com vendas, gerais, administrativas e outras despesas (+) Receitas operacionais (+/) Parcela dos resultados em empresas investidas reconhecidas por meio do método de equi- valência patrimonial (=) RESULTADO ANTES DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS (+/) Despesas e Receitas financeiras = Resultado antes dos tributos sobre o lucro () Despesas com tributos sobre o lucro (+/) Resultado líquido das operações continuadas e descontinuadas (=) RESULTADO LÍQUIDO DO PERÍODO Fonte: Elaborado pelo autor (2020) O referido Pronunciamento Técnico aborda ainda outros aspectos relativos a DRE: 01. A necessidade de divulgação, de forma separada, da natureza e montante dos itens de receita e despesa quando os mesmos são relevantes; 02. A necessidade de subclassificação das despesas pelo método da natureza da despesa ou pelo método da função da despesa. 3.3 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA O objetivo da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC) é prover informações rele- vantes sobre os pagamentos e recebimentos, em dinheiro, de uma empresa, ocorridos durante um determinado período, e com isso ajudar os usuários das demonstrações contábeis na análise da capacidade da entidade gerar caixa e equivalentes de caixa, bem como suas necessidades para utilizar esses fluxos de caixa. 35 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co A Demonstração de Fluxos de Caixa (DFC), embora empregada há algum tempo pelas empresas e compulsória em alguns países desde a década de 1980, tornouse obriga- tória no Brasil apenas a partir do ano de 2008, com a edição da Lei n. 11.638/2007. Da mesma forma, para as sociedades anônimas de capital aberto, foi inserida a obrigato- riedade de divulgação e apresentação da Demonstração do Valor Adicionado (DVA). Em seu item 18, o CPC 3 (R2) estabelece dois métodos, direto e indireto: no método direto as classes de pagamentos e recebimentos brutos são divulgadas e, no indireto, ocorre os ajustes do lucro líquido ou prejuízo por transações que não envolvam o caixa ou pelos pagamentos e recebimentos por competência em caixas operacionais passa- dos e futuros, ou ainda pelos efeitos da despesas e receitas associadas aos fluxos da caixa das atividades de financiamento ou investimento. Para estabelecer regras de como as empresas devem elaborar e divulgar a DFC, o Co- mitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiu o Pronunciamento Técnico CPC 03 Demonstração dos Fluxos de Caixa, aprovado pela Comissão dos Valores Mobiliários (CVM), por meio da Deliberação nº 641/10. O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e o Banco Central do Brasil (Bacen) também regularam a obrigatoriedade da elaboração e divulgação da DFC por meio das resoluções n.ºs 1.296/10 e 3.604/08, respectivamente. As informações da DFC, principalmente quando analisadas em conjunto com as demais demonstrações contábeis (Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercí- cio), podem permitir que investidores, credores e outros usuários avaliem: ` A capacidade de a empresa gerar futuros fluxos líquidos positivos de caixa; ` A capacidade de a empresa honrar seus compromissos, pagar dividendos e retornar em- préstimos obtidos; ` A liquidez, a solvência e a flexibilidade financeira da empresa; ` A performance operacional de diferentes empresas, por eliminar os efeitos de distintos tratamentos contábeis para as mesmas transações e eventos; ` O grau de precisão das estimativas passadas de fluxos futuros de caixa; ` Os efeitos, sobre a posição financeira da empresa, das transações de investimento e de financiamento. O CPC 03 Demonstração do Fluxo de Caixa menciona que o Caixa compreende nu- merário em espécie e depósitos bancários disponíveis. Já os equivalentes de caixa são aplicações financeiras de curto prazo, de alta liquidez, que são prontamente conversí- veis em um momento conhecido de caixa, e que estão sujeitas a um insignificante risco de mudança de valor. As disponibilidades compreendem o caixa puro (dinheiro à mão ou em conta corrente em bancos) e as aplicações em equivalentes de caixa, que em um momento de neces- sidade são transformados em dinheiro. A Demonstração do Fluxo de Caixa pode ser elaborada por meio de dois métodos: o direto e o indireto. 36 1 Atividades e controles financeiros O método direto consiste em mensurar diretamente as entradas e saídas de caixa ou equivalentes de caixa (disponível) derivados das respectivas atividades. O método indireto procura reconciliar o lucro líquido do exercício com o caixa gerado ou consumido pelas atividades, mostrando quanto desse lucro se converteu efetivamente em caixa ou equivalentes de caixa. A estrutura da DFC, elaborada pelo método direto, pode assim ser resumida: (o sinal + (mais) representa as entradas de caixa ou equivalen- tes de caixa e o sinal (menos) representa as saídas de caixa ou equivalentes de caixa). DATA JUROS (R$) (+) Recebimento de Vendas 840.000,00 () Pagamento de fornecedores (440.000,00) () Pagamento de salários (150.000,00) () Pagamento de tributos (70.000,00) () Pagamento de outras despesas operacionais (100.000,00) (=) Caixa Gerado pelas Atividades Operacionais 80.000,00 (b) Fluxo de Caixa das Atividaese Investimento Valor () Aquisição do imobilizado em dinheiro (60.000,00) (=) Caixa Consumido pelas Atividades de Investimento (60.000,00) (c) Fluxo de Caixa das Atividades de Financiamento Valor (+) Aumento de capital em dinheiro 50.000,00 (=) Caixa Gerado pelas Atividades de Financiamento 50.000,00 (=) Variação do Disponível (a+b+c) 70.000,00 (+) Saldo do disponível no início do período extraído do Balanço Patrimonial 80.000,00 (=) Saldo do disponível no final do período extraído do Balanço Patrimonial 150.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Esse método efetua uma reconciliação entre o lucro do exercício e o fluxo de caixa da atividade operacional, efetuando os seguintes ajustes: ` adicionar ao lucro todas as despesas que não representam desembolso (depreciação, resultado negativo da equivalência patrimonial) entre outros; ` excluir do lucro todas as receitas que não representam desembolso (resultado positivo da equivalência patrimonial) entre outros. 3.4 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO A Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) tem por finalidade forne- cer a movimentação ocorrida durante o exercício nas diversas contas componentes do Patrimônio Líquido (PL); faz clara indicação do fluxo de uma conta para outra e indica a origem e o valor de cada acréscimo ou diminuição no (PL) durante o exercício. Tratase, portanto, de informação que complementa os demais dados constantes no Balanço 37 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Patrimonial (BP), Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) e Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC). As contas que formam o Patrimônio Líquido podem sofrer variações por inúmeros moti- vos, além de existirem itens que afetam e não afetam o PL. Cabe salientar que os itens que podem afetar o Patrimônio Líquido são: (+/) Acréscimo pelo lucro ou redução pelo prejuízo do exercício. () Redução por pagamento de dividendos. () Redução por pagamento de juros sobre capital próprio. (+) Acréscimo por doações e subvenções para investimentos recebidos (após transitarem pelo resultado). (+) Acréscimo por subscrição e integralização do capital social. (+) Acréscimo pelo recebimento de valor que exceda o valor nominal das ações. (+) Acréscimo pelo valor de alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição. (+) Acréscimo por prêmio recebido na emissão de debêntures. (/+) Redução por ações próprias adquiridas ou acréscimo por sua venda. (+/) Acréscimo ou redução por ajustes de exercícios anteriores () Redução por gastos na emissão de ações. Fonte: Elaborado pelo autor (2020) No tocanteaos itens elucidados acima, as possibilidades não se encontram esgotadas, podendo haver outras operações que influenciem o saldo do Patrimônio Líquido. Os itens que não afetam o saldo do Patrimônio Líquido podem ser: ` aumento de capital com utilização de lucros e reservas; ` apropriações do lucro líquido do exercício, por meio da conta de Lucros Acumulados, para a formação de reservas, como Reserva Legal, Reserva para Contingência, Reserva Esta- tutária, Reserva de Incentivos Fiscais entre outras; ` Reversões das Reservas Estatutárias, Contingenciais, de Incentivos Fiscais para a conta de Lucros Acumulados; ` Compensações de Prejuízos Acumulados com Reservas. 3.5 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO Desde janeiro de 2008, a Demonstração de Valor Adicionado (DVA) passou a ser uma demonstração contábil obrigatória no Brasil para as sociedades anônimas de capital aberto, de acordo com as alterações da Lei n. 11.638/2007. Essa demonstração eviden- cia o valor das riquezas criadas pela empresa, bem como sua distribuição, constituindo- se em ferramenta útil aos vários grupos de usuários da informação contábil. As informações contidas na DVA foram aprovadas pela Resolução CFC n. 11.348/2008, que legitimou a norma brasileira de contabilidade NBC T 3.7. Esse ato aprovou o pro- nunciamento CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado. A DVA trabalha com o con- 38 1 Atividades e controles financeiros ceito de geração, aquisição, retenção e distribuição de renda, não identificando despe- sas e receitas. Essa é a diferença básica em relação à DFC e à DRE. Para se elaborar a DVA, devese extrair os dados da Contabilidade, sendo que os valores informados precisam ter como base o princípio da competência. A DVA pode ainda compor o Balanço Social, ou seja, um balanço sobre a relação da empresa com o meio em que está inserida. Por isso, esse balanço é constituído não apenas pelo DVA, mas também por um Balanço Ambiental, Balanço de Recursos Hu- manos e Benefícios e Contribuições à Sociedade em Geral. 3.6 NOTAS EXPLICATIVAS As notas explicativas, conforme podemos observar no quadroresumo exposto anteriormen- te, é um item obrigatório para todas as empresas que devem elaborar e divulgar as de- monstrações contábeis. No período anterior à Lei n. 11.638/2007 e aos pronunciamentos emitidos pelo CPC, elas eram elaboradas e divulgadas apenas pelas sociedades anônimas. Atualmente, no entanto, a sua obrigatoriedade se estende a todas as empresas. Qual o motivo de elaborar notas explicativas? As demonstrações financeiras tradicio- nais, como o Balanço Patrimonial e a Demonstração de Resultados do Exercício, apre- sentam, de forma sintética, a situação patrimonial e financeira de uma entidade. Entretanto, para que o usuário tenha conhecimento de como tais valores foram avalia- dos, mensurados ou, ainda, como está composto o saldo de determinado grupo, fazse necessária a elaboração e divulgação de notas explicativas. A Lei n. 6.404/1976, alterada pela Lei n. 11.941/2009, traz em seu artigo 176, parágrafo 4º, que as demonstrações deverão ser complementadas por notas explicativas e outros qua- dros analíticos, ou ainda por demonstrações que sejam necessárias para o esclarecimento da situação patrimonial e dos resultados do exercício. Para a elaboração das notas explica- tivas há necessidade de se apresentar informações sobre a forma como foram preparadas as demonstrações financeiras e quais as práticas contábeis adotadas, além de indicar os critérios de avaliação dos elementos patrimoniais, as dívidas, as opções de compras de ações, os ajustes e os eventos subsequentes à data do encerramento do exercício. Como podemos observar, há uma gama de eventos que devem ser objeto de Notas Explicativas. Os valores contábeis de ativos e passivos reconhecidos que representam itens objetos de hedge (proteção contra os riscos de grandes variações de preço) a valor justo que, alternativamente, seriam contabilizados ao custo amortizado, são ajustados para de- monstrar as variações nos valores justos atribuíveis aos riscos que estão sendo objeto de hedge. A liquidação das transações envolvendo essas estimativas poderá resultar em valores divergentes dos registrados nas demonstrações financeiras devido a possí- veis imprecisões no processo de sua determinação. 39 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co 3.7. NOÇÕES DE AUDITORIA INDEPENDENTE Segundo Assaf Neto (2010), outro processo que objetiva contribuir para a fidedignidade das demonstrações contábeis é conhecido como auditoria. Esta pode ser tanto interna quanto externa. A auditoria interna é realizada por um colaborador da empresa, auxilian- do na implementação de controles internos. Entendese por controles internos todo e qualquer processo cuja finalidade é a melhoria de um procedimento ou tarefa em uma empresa para salvaguardar um ativo, adequar tarefas e dar suporte aos dados contábeis, entre os quais estão os manuais e o aperfei- çoamento de processos e fluxos de informação, propiciando que ocorra menos erros e haja um maior controle de suas atividades. Cabe citar que a auditoria interna atua como um instrumento de suporte aos gestores, subsidiando a geração e monitoramento do fluxo da informação das atividades empresariais (ASSAF NETO, 2010). Auditoria: é a verificação da veracidade das informações contábeis, servindo como orientação de procedimentos e até mesmo para a prevenção de fraudes. Pode ser interna, quando realizada por profissionais da própria empresa, ou externa, quando realizada por auditores independentes. É obrigatória nas sociedades anônimas. O que vem a ser, afinal, uma demonstração contábil e financeira confiável? O que a princípio pode parecer um critério muito subjetivo, na realidade possui alguns indicado- res objetivos, que devem ser observados na recepção de demonstrações financeiras para a realização de um processo de análise. Para avaliar os aspectos de confiabilidade das demonstrações, podemos utilizar, com algumas adaptações, a classificação sugerida por Assaf Neto (2010), que separa as demonstrações para análise em quatro situações, indo da situação ideal para análise até uma totalmente inadequada. O analista deverá estar atento em relação a cada um dos eventos relatados a seguir: 1.Situações ideais para análise das demonstrações contábeis financeiras: a. A empresa pública e divulga suas demonstrações financeiras em jornal de grande circulação, atendendo a todos os requisitos previstos na Lei n. 6.404/1976; b. As demonstrações possuem parecer do conselho fiscal, relatório da diretoria e notas explicativas completas, estando de acordo com o determinado pelas regras do Comitê de Pronunciamentos Contábeis; c. A empresa possui parecer de auditoria independente, cumprindo a norma de rota- tividade de auditores, trocando a empresa de auditoria independente periodicamente. 2. Situações que podem exigir algum cuidado por parte do analista: a. Demonstrações financeiras nas quais o relatório da diretoria se apresenta de forma muito resumida; b. Demonstrações financeiras nas quais as notas explicativas não expõem, de forma clara e relevante, informações consideradas necessárias, tendo em vista o ramo de atividade e o porte da empresa; 40 1 Atividades e controles financeiros c. Empresa com auditoria independente há mais de cinco anos, mas sem rotatividade. 3. Situações que requerem muitos cuidados por parte do analista: a. Demonstrações financeiras que não são publicadas em virtude da não obrigatorieda- de legal. Devese levar em consideração o porte da empresa, uma vez que pequenas e médias empresas, usualmente, são sociedades limitadas, que estão desobrigadas dessa publicação; b. Demonstrações que não contenham parecer de auditoria independente, ou cujo pa- recer seja com ressalva, com abstenção de opinião ou, ainda, adverso. Novamente, devese atentar para o tipo societário da empresa e para a obrigatoriedade legal. Em alguns casos, como na concessãode grandes financiamentos e fornecimento de grandes volumes de produtos, o usuário pode solicitar que as demonstrações, mes- mo desobrigadas legalmente, sejam auditadas; c. Demonstrações que não atendam a quaisquer dos requisitos determinados pela le- gislação contábil vigente; d. Demonstrações que apresentem divergências nos valores entre um exercício e outro. 4. SITUAÇÕES NAS QUAIS SE RECOMENDA QUE NÃO SE FAÇA A ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: a. Quando a empresa, em descumprimento às normas expedidas pelo CFC e demais normas legais, não possui escrita contábil regular, com a justificativa de que por optar por determinado regime tributário (Imposto de Renda pelo Lucro Presumido ou Simples Nacional) está desobrigada de ter escrituração contábil. Essa justificativa não procede, devendo as demonstrações contábeis serem o resultado final do processo contábil, e não preparadas especialmente para fins de análise; b. Quando ocorrerem situações avaliadas pelos analista como “exageradas”, como sal- do de caixa elevadíssimo ou quando houver contradições claras, como uma Receita Operacional Bruta relativamente pequena e uma carta de faturamento anexada, assi- nada pelos administradores, declarando um faturamento do mesmo período em valores muito superiores. 41 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, Alexandre. Matemática Financeira e suas aplicações. 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Contabilidade e finanças para não especialistas. São Paulo: Prentice Hall, 2003. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. IUDÍCIBUS, S; MARION, J. C. Contabilidade comercial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2009. 42 1 Atividades e controles financeiros LEMES JR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MATARAZZO Dante C., Análise Financeira de Balanços. São Paulo, Atlas, 2010 MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2009Martins, Miranda e Diniz. Análise didática das demonstrações contábeis. São Paulo. Editora Atlas 2014. PARISI, Claudio. Contabilidade Gerencial. São Paulo: Atlas, 2011. PWC. Manual de Contabilidade IFRS. São Paulo: Saint Paul, 2011. RIBEIRO, Osni Moura. Contabilidade geral fácil: para cursos de contabilidade e concursos em geral. 5. ed. 2.tiragem. São Paulo: Saraiva, 2009. SANTOS et al. Teoria da contabilidade: introdutória, intermediária e avançada.1. ed. São Paulo: Atlas, 2007 VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Matemática Financeira. São Paulo: Editora Atlas, 2008. 43 1 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co 44 2 Indicadores financeiros e desempenho UNIDADE 2 INDICADORES FINANCEIROS E DESEMPENHO INTRODUÇÃO A gestão de indicadores financeiros é utilizada para medir o desempenho de uma em- presa. Para a análise, utilizamos como insumos básicos a Demonstração de Resultado do Exercício (DRE), o Balanço Patrimonial (BP) e outros relatórios gerenciais, como o fluxo de caixa. Destaca-se aqui a relação entre contas ou grupos de contas contidos nas demonstra- ções financeiras, pelos quais podemos evidenciar o desempenho e a saúde financei- ra e econômica da organização. Aliamos aos indicadores as atividades primordiais da empresa, tais como contas a pagar e contas a receber. Você conhece indicadores de liquidez? E de rentabilidade? Solvência? Não?! Nesta unidade trataremos da aplicação desses indicadores nas análises. Mas para você que conhece, não perca a oportunidade de reforçar e complementar seu conhecimento. As análises financeiras de uma empresa são realizadas por meio de seus demonstrati- vos financeiros, entretanto, os resultados dessas análises são apenas números, como o Balanço Patrimonial, Demonstrativos dos Resultados Financeiros (DRE) e Fluxo de Caixa. Para consolidar e tornar mais fácil e prática a interpretação dos dados é possível agrupar as informações por meio dos indicadores financeiros. A análise de índices envolve conceitos de curto prazo e de longo prazo dos demonstra- tivos financeiros. Veja: ` Os fornecedores de capitais para a empresa, por exemplo os bancos, estão preocupados com a capacidade de pagamento das obrigações das empresas regularmente; ` Um investidor em títulos da dívida da empresa, debêntures, por exemplo, estão interessa- dos em analisar a capacidade da empresa em honrar esses compromissos. Explicando: debêntures são títulos de longo prazo emitidos pelas empresas de capital aberto. Por isso, esses debenturistas estão focados nos indicadores de longo prazo; ` Os fornecedores de recursos de curto prazo (fornecedores de matéria-prima, bancos) centram seus focos nos indicadores de liquidez de curto prazo. Estudaremos nesta unida- de: indicadores de liquidez corrente, indicadores de liquidez. ` Os investidores com horizontes mais longos dão ênfase nos indicadores de solvência de indicadores de liquidez geral. 45 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ` Os fornecedores estão preocupados em verificar, por meio desses indicadores, se a em- presa tem capacidade de honrar seus compromissos; ` E os proprietários, que indicadores os orientarão? Estão interessados nos de rentabilidade. Diante de tantas análises necessárias, é importante compreender a Análise dos De- monstrativos Contábeis, que tem objetivos internos à empresa. Os gestores precisam confrontar dados entre períodos. Por exemplo: a gerência da empresa Sonhos Indústria Unidas deseja avaliar o nível de estoque entre os anos 2018 e 2019, conforme quadro a seguir: Tabela 01. 0 Ativo Circulante 2018 2019 Estoque R$ 10.294 R$ 10.500 Fonte: Elaborado pelo autor (2020) Notamos que houve um aumento do nível de estoque. É uma situação favorável ou uma situação desfavorável? Em princípio, aumento de estoque significa que a empresa não está vendendo. Há vários motivos que devem ser analisados: perda de mercado, economia emdesacele- ração, produto que está sendo substituído. Então, a questão deve ser abordada pela gestão da empresa. Usaremos neste exemplo a análise horizontal. Quando formos apresentados a essa metodologia verificaremos que houve um aumento de 2%. Logo, a primeira preocu- pação dos gestores é fazer uma comparação entre os valores das contas do Balanço Patrimonial, por exemplo, entre dois períodos, a fim de tomada de decisão. A empresa não deve desconhecer a posição de suas concorrentes. Por isso, precisa prestar atenção em itens fundamentais para a sobrevivência da organização no merca- do, por exemplo, rentabilidade de suas operações com a rentabilidade das operações de sua concorrente. Sejam duas empresas Sonhos e Dream, no quadro a seguir. A empresa Sonhos é a principal concorrente da empresa Dream, e ela deseja avaliar como está a sua rentabi- lidade (lucro líquido) em relação a essa concorrente, conforme quadro a seguir. Tabela 02. T EMPRESA VENDA BRUTAS LUCRO LÍQUIDO RENTABILIDADE Sonhos R$13.500 R$1.350 10% Dream R$200.000 R$16.000 8% Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 46 2 Indicadores financeiros e desempenho Ao se comparar com a empresa Dream, uma grande concorrente, a gerência da empre- sa Sonhos constata que está apresentando uma rentabilidade superior à sua principal concorrente. Caso não fizéssemos isso, a análise individual perderia sentido, tendo em vista que estamos lidando com um mercado cada vez mais globalizado. As empresas não podem conhecer sua posição frente às concorrentes se não comparar sua perfor- mance com elas. Muitas vezes, consideramos que o desempenho da empresa que estamos analisando é bom. Mas é bom em relação a quê? Isso só pode ser respondido ao compararmos os indicadores da empresa com o índice médio da indústria (conjunto de empresas do mesmo ramo de atividade). Sejam os indicadores do quadro a seguir da indústria e da empresa que estamos analisando: Tabela 03. T INDICADORES/EMPRESA EMPRESA DREAM MÉDIA DA INDÚSTRIA Liquidez Corrente 1,45 1,50 Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Conforme o conceito que estudaremos mais adiante nesta unidade, caso o índice de liquidez seja maior que 1,0, isso significa que a situação da empresa é favorável, ou ainda, significa que ela tem capacidade de honrar seus compromissos em curto prazo. Porém, ser maior que 1,0 é suficiente para que um analista de mercado conclua que a situação dessa empresa é realmente satisfatória? A nossa resposta é: Não! No nosso exemplo acima, a empresa Dream tem um índice de liquidez igual a 1,45. Do ponto de vista conceitual, a situação da empresa é boa, mas o ana- lista consulta qual é a média de liquidez da indústria (grupo de empresas do mesmo setor) e verifica que é maior do que a nossa empresa estudada. Que conclusão ele deve extrair? Que a empresa Dream tem um índice de liquidez abaixo da liquidez da indústria, e isso pode ser um sinal de alguma deficiência na administração de financiamento versus aplica- ção dos recursos dessa empresa dentro do conceito de prazo (curto prazo ou longo prazo). Por outro lado, uma empresa pode apresentar um índice de liquidez 0,95 (concluiríamos que a situação da mesma é desfavorável). No entanto, ao consultar a média de liquidez da indústria, encontraríamos o índice de 0,90. Portanto, os indicadores são relativos, isto é, depende da média do setor. Se você ficou curioso para responder todas essas perguntas, nesta unidade apresenta- mos conceitos fundamentais da Análise dos Demonstrativos Contábeis. Para uma correta análise desses demonstrativos, é necessário levar em conta a análise interna, a análise com a concorrência, e, finalmente, comparar os indicadores da empresa com a média dos indicadores da indústria. 47 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co 1. SISTEMAS DE INDICADORES FINANCEIROS Vamos iniciar fazendo uma breve síntese histórica do surgimento da análise dos demons- trativos contábeis. Você estudou, na disciplina Contabilidade, o surgimento da preocupação com os registros dos eventos que acontecem nas empresas. O país onde apareceu essa preocupação foi na Itália, nas cidades que formam hoje essa nação. Por que surgiu nelas? Sabemos que o fim da Idade Média coincide com um intenso comércio no Mar Mediterrâ- neo. Foi nessa época que o Frei Luca Pacioli teve a ideia de compilar todas as informações de conhecimento a respeito dos registros de comércio. Esse registro é sempre lembrado como Partidas Dobradas. O raciocínio do frei é que, para haver um devedor, tem que ter um credor. O credor é aquele que empresta o dinheiro; o devedor é aquele que toma emprestado. Por isso que o lado direito do balanço patrimonial é relacionado com lançamento a crédito, pois é desse lado que estão os credores da empresa: capital de terceiros (fornecedores, empréstimos) e de capital próprio (o dono da empresa colocou dinheiro na empresa). Com esses recursos a empresa (pessoa jurídica) aplica-os na compra de estoque e imobi- lizados, por exemplo, mas quem forneceu esses recursos forma seus credores: terceiros e proprietários. Por isso, diz que o ativo é devedor. Tabela 04. Estrutura de dos lançamentos. ATIVO PASSIVO A empresa adquiri bens(máquinas) e têm direitos (duplicatas a receber) com os recursos que tomou emprestado de investidores e de seus proprietários. O ativo é devedor de seus credores. Por isso, diz-se que as contas do ATIVO têm natureza DEVEDORA (lançamento a débito). Investidores (mercadoria, empréstimo) e proprie- tários (capital próprio) emprestam recursos à em- presa. Eles são credores da empresa. Por isso, di- z-se que as contas do PASSIVO E DO Patrimônio LÍQUIDO têm natureza CREDORA (lançamento a crédito). Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Mas o grande salto dado pelo uso da contabilidade (relatórios) foi na Revolução Indus- trial. Nesse período, a quantidade de informações a ser registrada era enorme. Começa, então, o estudo da contabilidade e sua estruturação, que melhor servissem aos novos tempos. No entanto, com o desenvolvimento do capitalismo americano, verificou-se a necessidade de extrair informações dos relatórios contábeis imaginados e desenvolvi- dos pelo Frei Luca Pacioli. Conforme Perez Junior; Begalli (2009, pp.241-242), com a importância do capital financeiro no sistema capitalista, os banqueiros necessitavam de informações mais acuradas para poder conceder crédito às empresas. Foi lá pelos anos de 1895 que esses relatórios e indicadores começaram a ser exigidos pelas instituições financeiras; inclusive, mais tarde, desenvolveu-se um modelo próprio de elaboração desses relatórios. No Brasil, existem algumas organizações que produzem esses indicadores, entre elas está a Serasa. Mas no nosso país temos dificuldades de encontrar esses indicadores com acesso público, pois as empresas que os produzem cobram para permitir o acesso a eles. 48 2 Indicadores financeiros e desempenho A análise dos demonstrativos contábeis envolvem dois grupos: (a) Análise Vertical e Análise Horizontal dos relatórios financeiros, que são o Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE). Fixe essas siglas: BP e DRE, pois algu- mas vezes iremos nos referir a esses relatórios financeiros apenas citando as suas siglas. O que é a análise vertical? A análise vertical trata de indicar o peso de determinada con- ta no conjunto analisado. Por exemplo, se temos candidatos a presidente de um país e foi feita uma pesquisa de intenção de voto, suponha que o candidato 1 tenha obtido 400 in- tenções de votos; o candidato 2, 350 intenções de voto; e o candidato 3, 1.250 intenções de votos. O primeiro passo é organizar uma tabela para que tenhamos uma ideia mais clara de como está a posição de cada candidato. Numericamente podemos dizer como está a classificação. Mas, caso tenhamos uma população de 500 mil habitantes, quantos votos terá cada candidato? Então, entra a análise vertical veja a tabelaa seguir. Tabela 05. T CANDIDATO INTENÇÃO DE VOTOS PORCENTAGEM 1 400 20,00% 2 350 17,50% 3 1.250 62,50% Total 2.000 100,00% Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Transformando a quantidade de intenção de voto em valor percentual, usando a análise vertical (você aprenderá no momento adequado como fazer esse cálculo), verificamos que o candidato 1 tem 20% da intenção de votos, que, transformando em votos da população, encontraremos 100 mil votos (população vezes porcentagem de intenção de voto do candidato: = 100); o candidato 2 obteve 17,50% da intenção de votos do eleitorado, que, transformando em votos da população, encontramos 87,50 mil votos; e, finalmente, o candidato que tem a maior intenção de votos, 62,50%, em números de eleitores da população, encontramos 313,50 mil votos. Você percebeu a grande vantagem de se usar a análise vertical para resolver rapida- mente um problema de pesquisa eleitoral e saber quantos votos teriam cada candidato se a eleição se realizasse naquele momento? Usaremos esse conceito para proceder a análise vertical das contas do BP e da DRE. A análise horizontal nos ajuda a averiguar a evolução de certa informação, cuja base será denominada de 100. Vamos utilizar a mesma situação da pesquisa eleitoral de in- tenção de voto acima. Foi realizada uma segunda rodada de pesquisa e foram obtidas as seguintes intenções de votos: candidato 1: 450 votos; candidato 2: 400 votos; e o candidato 3: 1.150 votos. Fazendo a análise vertical dessa pesquisa, chegaremos aos seguintes percentuais: can- didato 1: 22,50% da intenção de votos; candidato 2: 20% da intenção de votos; e o candi- dato 3, 57,50% de intenção de votos. Tabulando essas informações nas duas pesquisas: 49 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Tabela 06. T CANDIDATO PESQUISA 1 PESQUISA 2 1 20,00% 22,50% 2 17,50% 20,00% 3 62,50% 57,50% Total 100% 100,00% Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Notamos que os candidatos 1 e 2 ganharam em intenção de votos na segunda rodada de pesquisa, mas o candidato 3 perdeu em intenção de votos. Como mediremos essa evolução de ganhos e perdas em intenção de votos dos candidatos? É nesse momento que entra a análise horizontal. Esses exemplos são para ilustrar quão importante é o estudo das análises vertical e ho- rizontal na disciplina Análise dos Demonstrativos Contábeis. Enquanto a análise vertical nos mostrar qual o peso de um elemento na composição total, a análise horizontal nos diz se, em um estudo de série histórica, esses elementos aumentaram ou diminuíram em relação à base de comparação. Antes de entrarmos nas técnicas de análises das demonstrações contábeis, vamos re- portar o conjunto de demonstrações contábeis, objeto da aplicação das técnicas de análise. ` Balanço Patrimonial (BP) ` Demonstração do Resultado do Exercício (DRE ` Demonstração dos Resultados Abrangentes (DRA) ` Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) ` Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) ` Demonstração do Valor Adicionado (DVA) Segundo o IBRACON (NPC 27), as Demonstrações Contábeis, também usualmente de- nominadas “Demonstrações Financeiras”, são uma representação monetária estruturada da posição patrimonial e financeira em determinada data e das transações realizadas por uma entidade no período findo nessa data. O objetivo das demonstrações contábeis de uso geral é fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o resultado e o fluxo financeiro de uma entidade, que são úteis para uma ampla variedade de usuários na tomada de decisões. As demonstrações contábeis também apontam os resultados do gerenciamento, pela Administração, dos recursos que lhe são confiados. O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro de propósito geral constitui o pilar da Estrutura Conceitual. Outros aspectos da Estrutura Conceitual – como o conceito de entidade que reporta a informação, as características qualitativas da informação contábil-finan- ceira útil e suas restrições, os elementos das demonstrações contábeis, o reconhecimento, a mensuração, a apresentação e a evidenciação – fluem logicamente desse objetivo. 50 2 Indicadores financeiros e desempenho As Demonstrações Contábeis são preparadas, portanto, com a finalidade de satisfazer as necessidades comuns da maioria dos seus usuários, uma vez que quase todos eles utili- zam essas demonstrações contábeis para a tomada de decisões econômicas, tais como: ` Decidir quando comprar, manter ou vender um investimento em ações; ` Avaliar a administração quanto à responsabilidade que lhe tenha sido conferida, qualidade de seu desempenho e prestação de contas; ` Avaliar a capacidade da entidade de pagar seus empregados e proporcionar-lhes outros benefícios; ` Avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros emprestados à entidade; ` Determinar políticas tributárias; ` Determinar a distribuição de lucros e dividendos; ` Preparar e usar estatísticas da renda nacional; ou ` Regulamentar as atividades das entidades. Os indicadores extraídos dos relatórios financeiros são elaborados com o objetivo de in- formar usuários internos e usuários externos. Os usuários internos (gestores) necessitam das informações com objetivo de verificar se a empresa alcançou as metas projetadas; por exemplo, se a empresa aumentou a margem de lucro; ou se está alcançando as ven- das previstas. O indicador que você aprenderá para essa análise será o giro de estoque. No entanto, os maiores interessados na análise desses indicadores serão os usuários externos, comumente denominados na linguagem de finanças de stakeholders. A informação contábil deve ser em geral e antes de tudo, veraz e equitativa, de forma a sa- tisfazer as necessidades comuns a um grande número de diferentes usuários, não poden- do privilegiar deliberadamente a nenhum deles, considerando o fato de que os interesses destes nem sempre são coincidentes. A informação contábil, em especial aquela contida nas demonstrações contábeis, notadamente as previstas em legislação, deve propiciar re- velação suficiente sobre a Entidade, de modo a facilitar a concretização dos propósitos do usuário, revestindo-se de atributos entre os quais são indispensáveis os seguintes: ` Confiabilidade· ` Tempestividade· ` Compreensibilidade· ` Comparabilidade Quando trata da confiabilidade, é o atributo que faz com que o usuário aceite a infor- mação contábil e a utilize como base de decisões, configurando, pois, elemento es- sencial na relação entre aquele e a própria informação. A confiabilidade da informação fundamenta-se na veracidade, completeza e pertinência do seu conteúdo. A veracidade exige que as informações contábeis não contenham erros ou vieses, e sejam elaboradas em rigorosa consonância com os Princípios 51 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Fundamentais de Contabilidade e as Normas Brasileiras de Contabilidade, e, na ausência de norma específica, com as técnicas e procedimentos res- paldados na ciência da Contabilidade, nos limites de certeza e previsão por ela possibilitados. A completeza diz respeito ao fato de a informação compreender todos os elementos relevantes e significativos sobre o que pretende revelar ou divul- gar, como transações, previsões, análises, demonstrações, juízos ou outros elementos. A pertinência requer que seu conteúdo esteja de acordo com a respectiva denominação ou título. A tempestividade refere-se ao fato de a informação contábil chegar ao conhecimento do usuário em tempo hábil, a fim de que ele possa utilizá-la para seus fins. Nas informa- ções preparadas e divulgadas sistematicamente, como as demonstrações contábeis, a periodicidade deve ser mantida. Parágrafo único. Quando por qualquer motivo, in- clusive de natureza legal, a periodicidade for alterada, o fato e suas razões devem ser divulgados junto com a própria informação. A informaçãocontábil deve ser exposta na forma mais compreensível ao usuário a que se destine. A compreensibilidade presume que o usuário disponha de conhecimentos de Contabilidade e dos negócios e atividades da empresa, em nível que o habilite ao entendimento das informações colocadas à sua disposição, desde que se proponha a analisá-las pelo tempo e com a profundidade necessários. A eventual dificuldade ou mesmo impossibilidade de entendimento suficiente das infor- mações contábeis por algum usuário, jamais será motivo para a sua não-divulgação. A compreensibilidade concerne à clareza e objetividade com que a informação contábil é divulgada, abrangendo desde elementos de natureza formal, como a organização es- pacial e recursos gráficos empregados, até a redação e técnica de exposição utilizada. A comparabilidade deve possibilitar ao usuário o conhecimento da evolução entre determinada informação ao longo do tempo, numa mesma entidade ou em diversas entidades, ou a situação destas num momento dado, com a finalidade de permitir o conhecimento das suas posições relativas. 1.1. INDICADORES DE VIABILIDADE Como o próprio nome já diz, são importantes para a viabilidade da empresa, seja para um negócio que irá começar, seja para as empresas que já estão inseridas no mercado. São quatro indicadores que iremos demonstrar conforme abaixo: ` Lucratividade ` Rentabilidade ` Prazo de Retorno ` Ponto de Equilíbrio 52 2 Indicadores financeiros e desempenho Lucratividade Lucratividade é o indicador de eficiência operacional da empresa, calculado sob a forma de percentual, e mostra o ganho que a empresa obteve com os negócios desenvolvidos por meio da força de trabalho aplicada. Fórmula: Lucratividade = Resultado líquido/Faturamento Lucro Bruto = Faturamento – Estoque inicial + compras Resultado Líquido = Lucro Bruto – Despesas Exemplo: Se a lucratividade da sua empresa for de 10%, significa que a cada R$ 100,00 em vendas, R$ 10,00 são ganhos líquidos. Na prática isso indica que a empresa agregou R$ 10,00 sobre o trabalho de produção e comercialização do seu produto ou serviço avaliado em R$ 100,00. Rentabilidade É o percentual de retorno do investimento realizado pela empresa ao longo do tempo. Fórmula: Rentabilidade = Resultado Líquido / Total do Ativo Exemplo: Se o lucro da empresa for de R$ 1.000,00 e o total de ativo for R$ 10.000,00, a rentabilidade será de 10% ao ano. A cada R$ 100,00 investidos em ativos, a empresa obtém um retorno de R$ 10,00. Prazo do retorno O prazo de retorno é calculado de maneira inversa à da rentabilidade. Esse indicador mede a atratividade do negócio, apontando o tempo necessário para recuperação do capital investido. Fórmula: Prazo do retorno = Total de Ativo / Resultado Líquido Exemplo: Se o lucro for de R$ 1.000,00 e o total do ativo R$ 10.000,00, o prazo de retor- no será de 10 anos. Isso significa que no prazo de um ano após o início das atividades, o investidor terá o seu valor investido recuperado. Observação: Não existe um prazo ideal para o retorno do investimento, o tempo ideal é avaliado pelo investidor e dependerá de suas possibilidades financeiras. Ponto de Equilíbrio É o ponto onde o resultado da empresa é igual a zero, pois o valor das receitas é exa- tamente igual à soma dos custos e das despesas. Quando a empresa estiver com nível de atividade abaixo do ponto de equilíbrio, seus custos e despesas serão maiores do que as receitas, ela estará em prejuízo. E quando o nível de atividade estiver acima do ponto de equilíbrio, entrará na faixa de lucro. 53 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Figura 01. Ponto de equilíbrio. Fonte: http://www.treasy.com.br/blog/ponto-de-equilibrio-economico Acesso em 19/03/2020. Fórmulas: Margem de Contribuição = Receita Total – Custo Variável / Receita Total Ponto de Equilíbrio = Custo Fixo / Margem de Contribuição Exemplo: Receita Total = R$ 100.000,00 Custo Variável = R$ 70.000,00 Custo Fixo = R$ 19.500,00 Margem de Contribuição = 30% Ponto de Equilíbrio = R$ 65.000,00 Análise de Desempenho A importância de se calcular a margem de lucro, que pode ser bruta ou líquida, é para saber como está a situação financeira da empresa que está em análise. Uma das tare- fas de um empresário é saber calcular a sua margem de contribuição. Margem de lucro bruta: é uma das formas mais usuais de mensurar como está a eficiên- cia do processo de produção de uma empresa. Para ser mais preciso, o conceito pode 54 2 Indicadores financeiros e desempenho ser entendido como o lucro da empresa depois de pagar os custos de produção (diretos e indiretos). Porém, para serviços esse lucro refere-se ao recebimento do serviço pres- tado, já descontado os custos direto para sua realização. Fórmula: Margem de lucro bruta: RT – CPV RT = Receita Total CPV = Custos dos produtos vendidos Receita: É todo valor recebido pela empresa, proveniente de suas operações diretas, como a venda de produtos ou serviços, ou ainda juros, ou até mesmo a venda de um ativo. Despesa: São todos os desembolsos realizados pela empresa, como pagamento de fun- cionários, fornecedores, compra de matérias-primas, equipamentos e serviços a terceiros. As empresas buscam constantemente pelo equilíbrio de suas contas, e, para isso, as receitas e despesas funcionam como uma balança, sendo continuamente analisadas, atentando para não ocorrer um desequilíbrio. Quando queremos calcular o percentual de margem de lucro bruta utilizamos a fórmula. Fórmula: Margem de lucro bruta % = LB / RT x 100 LB = Lucro Bruto RT = Receita Total Exemplo: Uma empresa de móveis faturou 50.000,00 na semana RT = 50.000,00 Custo dos produtos vendidos: 4 vendedores comissão (R$ 2.000,00 cada) + frete (R$ 3.000,00) + Despesas com materiais (R$ 5000,00) + Impostos (5.000,00) Margem de lucro bruta: RT – CPV (50.000,00 – 10.000,00) = 40.000,00 Margem de lucro bruta % = LB / RT x 100 (40.000,00 / 50.000,00 x 100) = 80%Logo, a margem de lucro bruto semanal é 80% Margem de lucro líquida: é a margem de lucro que uma empresa recebe para cada real de receita conquistado depois de efetuar o pagamento de suas despesas e impostos. Fórmula: Margem de lucro líquida = Lucro líquido após os impostos / RT x 100. Margem de lucro líquida % = Lucro bruto menos despesas e impostos / receita total x 100. Para o mesmo exemplo anterior, vamos calcular a margem de lucro líquida: 55 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co IMPORTANTE Margem de lucro líquida = 50.000,00 – 10.000,00 – 5.000,000 = 35.000,00 Margem de lucro líquida % = 35.000,00 / 50.000,00 x 100 = 70% Logo, a margem de lucro líquido semanal é 70% a cada 100,00 reais a empresa lucra 70,00. O Balanço Patrimonial (BP) é considerado a principal demonstração contábil. Quando fa- lamos em balanço, lembramos de balança, de equilíbrio, de dois pratos de uma balança alinhados, e o termo balanço, de Balanço Patrimonial, trata justamente disso, da igualdade entre os valores de ativos e passivos de uma empresa, e o processo de análise do BP auxilia a tomada de decisão. A decisão financeira significa conciliar as contas do Balanço Patrimonial e assim decidir a melhor forma de gerar novos investimentos. É onde os ativos são os bens e direitos que uma entidade possui. Já os passivos correspon- dem às obrigações, às dívidas dessa mesma empresa. Bens: são os itens que uma pessoa ou empresa possui para suprir algum tipo de necessi- dade dela ou de terceiros, como máquinas, estoques de mercadorias, dinheiro, estoque de matéria-prima, terrenos, imóveis, veículos etc. Direitos: são os valores que a empresa tem para receber de terceiros, valores que ela tem o direito de cobrar de alguém com quem se relaciona. Normalmente, esses direitos se originam das vendas dos produtos e/ou serviços oferecidos pela entidade. Porém, podem ter origem também em transações, como aluguéis, e até mesmo na ne- gociação de outros itens,como imóveis e veículos de sua propriedade. Obrigações: são os valores que a empresa deve a alguém, que tem a obrigação de pa- gar a terceiros. Normalmente, essas obrigações se referem às compras de mercadorias e matéria-prima. A partir dessa estrutura de Balanço e dos conceitos da Unidade 1, temos à equação patri- monial na qual a composição do patrimônio é apresentada como A = PE + PL, ou ainda PL = A – PE, em que: A = Ativo, PL = Patrimônio Líquido e PE = Passivo Exigível (GITMAN, 2004). Tabela 07. T BALANÇO PATRIMONIAL EM 31/12/X3 ATIVO PASSIVO Ativo circulante Passivo circulante Ativo não circulante Passivo não circulante Patrimônio líquido Total do ativo Total do passivo Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 56 2 Indicadores financeiros e desempenho Quando falamos em resultado das operações de uma empresa, devemos ter em mente o saldo final obtido por ela, ou seja, o lucro ou prejuízo alcançado após a realização de suas atividades principais e acessórias em um período, normalmente um exercício social (um ano). Para que cheguemos a esse resultado é preciso realizar uma série de adições e subtrações, operações que são apresentadas verticalmente por esse demonstrativo. Tabela 08. T RECEITA BRUTA DE VENDAS (-) Dedução da receita bruta. Devolução e cancelamento. Abatimentos. Impostos incidentes sobre vendas. RECEITA LÍQUIDA DE VENDAS (-) Custo dos produtos e/ou serviços vendidos. Contabilidade e Finanças LUCRO BRUTO (+/-) Despesas e receitas operacionais. Despesas comerciais, administrativas, tributárias. Outras receitas operacionais. Outras despesas operacionais. Resultado de investimento em coligados e controlados. = RESULTADO ANTES DESPESAS E RECEITAS FINANCEIRAS (+/-) Resultado financeiro líquido. Despesas financeiras. Receitas financeiras. = RESULTADO ANTES DOS TRIBUTOS SOBRE O LUCRO (-) Provisão para imposto de renda e contribuição social. = RESULTADO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO Fonte: Elaborado pelo autor (2020). 57 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co A DRE é um relatório contábil das vendas, dos custos e despesas operacionais e dos encargos financeiros, que fornece informações sobre a lucratividade ou sobre o prejuízo da empresa, sob a perspectiva econômica (GITMAN, 2004). A análise dos dados registrados na DRE é fundamental na gestão dos recursos da em- presa, pois serve para realizar medidas de ajustes, por exemplo: se o lucro da empresa em um determinado período for muito baixo, pode-se pensar em corte nos custos ou aumento nos preços em períodos futuros. Com essas contas, o BP fornece as informações sobre a situação patrimonial da empresa. A liquidez de uma empresa significa sua capacidade de pagar as obrigações no ven- cimento. Assim, o índice de liquidez mostra a capacidade de pagamento da empresa. Quanto maior esse índice, melhor, pois indica uma melhor situação financeira diante das obrigações. O índice também é utilizado para medir a necessidade de financia- mento do capital de giro da empresa. Existem três índices de liquidez que podem ser facilmente identificados: Tabela 09. T ÍNDICE DESCRIÇÃO FÓRMULA PARÂMETRO Índice de liquidez geral (IL) Mostra os recursos exis- tentes para cobrir cada R$ 1,00 de obrigação da empresa Quanto maior, melhor Índice de liquidez corrente (ILC) Mostra os recursos exis- tentes no ativo circulan- te, para cada R$ 1,00 de obrigações do passivo circulante Quanto maior, melhor Índice de liquidez seca (ILS) Mostra quanto a empre- sa pode saldar de suas dívidas de curto prazo, sem dependência de seus estoques Quanto maior, melhor IL = PC + PNC AC + ARLP ILC = PC AC ILS = PC AC - E Fonte: Adaptado de GITMAN (2004, p. 74); ASSAF NETO (2005, p. 86-87). No quadro, as siglas significam: AC = ativo circulante ARLP = ativo realizável de longo prazo PC = passivo circulante PNC = passivo não circulante E = estoques 58 2 Indicadores financeiros e desempenho IMPORTANTE A liquidez de uma empresa corresponde à sua capacidade de pagar suas dívidas de curto e longo prazos. “A liquidez diz respeito à solvência da posição financeira geral da empresa – a facilidade com que pode pagar suas contas em dia. Como um precursor comum de dificuldades financeiras é uma liquidez baixa ou em declínio, esses índices podem fornecer sinais antecipados de problemas de fluxo de caixa e insolvência imi- nente do negócio.” (GITMAN 2010 p. 51). De acordo com o conceito de Gitman, além de demonstrar a capacidade de saldar as dívidas, esses índices também atuam como identificadores de aspectos negativos de fluxo de caixa e destacam alguns elementos intrinsecamente ligados à insolvência, caso a empresa apresente situação que configure isso. Marion (2010 p. 72) conceitua a liquidez como “uma apreciação sobre se a empresas tem capacidade para saldar seus compromissos”. Percebe-se, nos dois conceitos, a preocupa- ção em demonstrar a capacidade de honrar compromissos nos quais a entidade incorreu. Entretanto, não são todos os índices que apresentam de forma consistente a capacidade de a entidade liquidar tais compromissos. Por exemplo, o índice de liquidez corrente, que contempla as disponibilidades em caixa e equivalentes e os estoques que ainda não foram negociados, assim como pode conter títulos a receber com prazos superiores ao das obri- gações de curto prazo. A sua composição pode induzir o analista a interpretá-lo de forma incompleta e tomar de- cisões equivocadas. Sendo assim, é necessário destacar a importância de se analisar os índices em conjunto, de forma a ampliar as fontes de informação do usuário. Dar-se-á início à análise da liquidez da empresa pela liquidez corrente por meio da seguinte fórmula: (Ativo Circulante dividido pelo Passivo Circulante). O Índice de Liquidez Corrente, segundo Iudícibus (2007, p. 91), é um quociente que rela- ciona quantos reais dispomos, imediatamente, disponíveis e conversíveis, em curto prazo em dinheiro, com relação às dívidas de curto prazo. É um índice muito divulgado e frequen- temente reputado como o melhor indicador da situação de liquidez da empresa. É preciso considerar que no numerador (AC) estão incluídos itens tão diversos como disponibilidade, valores a receber a curto prazo, estoques e certas despesas pagas antecipadamente. No denominador (PC), estão incluídas as dívidas e obrigações vencíveis a curto prazo. Com tal afirmação, pode-se concluir que a liquidez corrente relaciona o quanto a empresa tem disponível e o quanto ela pode converter para pagar suas dívidas a curto prazo. Se o índice de Liquidez Corrente apresentar o resultado menor do que 1, indica que indis- ponibilidade para quitar as obrigações a curto prazo, caso fosse preciso. Se o índice de Liquidez Corrente apresentar o resultado igual a 1, os valores dos direitos e obrigações a curto prazo são equivalentes às obrigações de curto prazo. Se o índice de Liquidez Corrente apresentar o resultado maior que 1, demonstra que há folga no AC (caixa, bancos, duplicatas a receber estoques etc.) para uma possível liquidação das obrigações, também de curto prazo. 59 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co A aceitabilidade de um índice de liquidez corrente depende muito da previsibilidade dos fluxos de caixa da empresa. Quanto mais previsíveis forem os fluxos de caixa, menor será o índice de liquidez corrente exigido. Além do mais, os índices financeiros devem ser analisados em conjunto e considerando o ramo de atividade e estrutura de capitais da empresa. Determina a boa política financeira que o índice de LC seja maior que 1. O índice de liquidez seca objetiva calcular a capacidade de pagamento empresarial desconsiderando os seus estoques. Para Gitman e Madura (2003, p. 195): “O índice seco (quociente ácido) é parecido com o índice de liquidez de curto prazo, exceto por excluir o estoque, em geral é o ativo circulante de menor liquidez.” Entende-se que o índicede liquidez seca serve para verificar a tendência financeira da empresa em cumprir, ou não, com as suas obrigações a curto prazo, mas desconside- rando os seus estoques, pois estes podem ser obsoletos e não representar a realidade dos saldos apresentados no balanço contábil. É importante também observar que, caso a empresa possua um estoque muito elevado, os analistas ou investidores vão conside- rar que não existem políticas adequadas de compras e vendas. O Índice de Liquidez Seca é semelhante ao Índice de Liquidez Corrente, exceto pelo fato de excluir os Estoque do Ativo Circulante, é que os estoques constituem o ativo circu- lante menos líquido. O resultado desse índice será invariavelmente menor ao de liquidez corrente, sendo cauteloso com relação ao estoque para a liquidação de obrigações. O Índice de Liquidez Imediata corresponde à capacidade financeira instantânea que a empresa possui para fazer frente aos pagamentos de curto prazo. Para compreender melhor esses índices, vamos ver um exemplo: Exemplo: ATIVOS TOTAL (R$) PASSIVOS TOTAL (R$) Ativos Circulantes (AC) - Passivos Circulantes (PC) - Caixa 250,00 Contas a pagar 250,00 Contas a receber (Cr) 350,00 Títulos a pagar 150,00 Estoque (E) 400,00 Despesas a pagar 100,00 Total de ativos circulantes 1.000,00 Total dos passivos circulantes 500,00 Tabela 10. T Assim, considerando o exemplo, a empresa dispõe de R$ 1.000,00 em ativos circulan- tes e R$ 500,00 em passivos circulantes, seu ILC será igual a 2, pois: AC 1.000,00 ILC = 2 PC 500,00 60 2 Indicadores financeiros e desempenho Isto significa que, a cada R$ 1,00 de obrigações, a empresa tem R$ 2,00 em direitos, ou seja, a empresa apresenta liquidez. Gitman (2006) salienta que, quanto mais previsível for a entrada de caixa, menor a exigência do valor para esse índice. Ainda no mesmo exemplo, seu ILS é: AC – E 1.000,00 – 400,00 ILS = 2 PC 500,00 A liquidez medida pelo ILS é menor do que a encontrada pelo ILC, pois o ILS descon- sidera os estoques. Isso ocorre porque os estoques precisam ser vendidos para gerar caixa, o que pode demorar. No exemplo anterior, não há ativo realizável de longo prazo, nem passivo não circulante. No entanto, considerando, respectivamente, R$ 1.000,00 e R$ 1.100,00, o IL para o exemplo anterior é: AC + ARLP 1.000,00 + 1.000,00 IL = = = 1,25 PC + PNC 500,00 + 1.100,00 Assim, o índice de liquidez é 1,25 e representa a capacidade de pagamento da empre- sa. Esse número traduz que, para cada R$ 1,00 em obrigações de curto e longo prazo, há R$ 1,25 em direitos para pagá-los. Dessa forma, é indicado que a empresa tem mais direitos que obrigações com terceiros. Indicadores de Atividades Durante as atividades empresariais ocorrem os ciclos operacional, econômico e finan- ceiro. Cada um tem suas especificidades, mas, em determinados momentos, dividem as mesmas operações, ou seja, ainda que mensurem prazos de ciclo distintos, ocorrem com base em transações que podem ser comuns entre eles. Os indicadores de atividade objetivam a mensuração das diversas durações de um “ci- clo operacional”, o qual envolve todas as fases operacionais típicas de uma empresa, que vão desde a aquisição de insumos básicos ou mercadorias até o recebimento das vendas realizadas. Para a redução desse período e, consequentemente, das necessi- dades de investimentos, as empresas utilizam-se normalmente de prazos para paga- mentos de estoques e de operações bancárias de desconto de duplicatas representa- tivas das vendas a crédito. Neste item são desenvolvidos os cálculos e interpretações das principais medidas de atividade (operacionais), que propiciam uma análise mais dinâmica do desempenho de uma empresa. Dessa maneira, é determinada a liquidez dos estoques, dos valores a receber de clientes e devidos a fornecedores, assim como suas respectivas rotações (giros). 61 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Prazo médio de renovação dos estoques (PMRE) - Esse indicador evidencia o tempo médio necessário para a completa renovação dos estoques. É obtido pela seguinte fórmula: PMRE = (Estoques / CMV) *360 Quanto maior for esse índice, maior será o prazo que os diversos produtos permanecerão estoca- dos e, consequentemente, mais elevadas serão as necessidades de investimentos em estoques. Esse indicador afere, na realidade, a eficiência com que os estoques são administrados e a influência que exercem sobre o retorno global da empresa. Em outras palavras, um prazo maior de estocagem acarreta a necessidade de maiores investimentos no ativo, constituindo-se, em consequência, num fator redutor de seu retorno. Prazo Médio de Recebimento de Vendas: Esse índice também aparece como “prazo médio de cobrança” (PMC), e ele nos mostra o tempo médio, em dias, que os clientes levam para pagar a empresa. PMRV= (Clientes/Receita Bruta de Vendas) *360 Prazo Médio de Pagamento a Fornecedores: Revela o tempo médio que a empresa tarda em pagar suas dívidas (compras a prazo) de fornecedores. É assim calculado: PMPF = (Fornecedores /Compras) *360 O ciclo financeiro inicia com o pagamento de outros custos, que corresponde aos pri- meiros desembolsos do ciclo. Ele segue com o recebimento das vendas. O ciclo operacional, por sua vez, corresponde aos quatro meses de atividades, desde a compra da matéria-prima até o recebimento das vendas. Esse ciclo abrange também o econômico e o financeiro, ou seja, envolve a totalidade das operações da empresa. O ciclo econômico inicia, com a compra da matéria-prima, e se encerra com a venda no mês. Esse ciclo está relacionado ao período durante o qual os produtos ficam no estoque, impactando na rentabilidade econômica. Os ciclos de caixa são indicadores extremamente importantes para avaliar e con-trolar a eficiência da gestão do capital de giro. Prazo Médio de Estocagem (PME) e Giro de Estoque (GE); Prazo Médio de Recebimento (PMR) e Giro de Duplicatas a Receber (GDR); Prazo Médio de Pagamento (PMP) e Giro de Duplicatas a Pagar (GDP). 62 2 Indicadores financeiros e desempenho Figura 02. F O índice de atividades mostra as durações de um ciclo operacional, desde a aquisição de insumos até a realização das receitas. Com base em Gitman (2004) e Assaf Neto (2005), apresentamos quatro indicadores básicos que auxiliam nas análises das ativi- dades operacionais da empresa: O ativo operacional é o conjunto de bens e direitos utilizados nas operações da em- presa, do quais são exemplos os estoques e as contas a receber, que são registros encontrados no balanço patrimonial (GITMAN, 2004). ` Ciclo Operacional (CO): período que transcorre desde que a empresa encomenda as matérias-primas até o recebimento de suas vendas. ` Ciclo Financeiro (CF): período que transcorre desde o pagamento aos fornecedores até o recebimento após a venda do produto final. Quanto maior esse período, maior o investi- mento da empresa em capital de giro. FÓRMULAS: O ciclo de caixa ou financeiro corresponde CO menos o prazo médio de pagamento de fornecedores, isto é: CF = CO – PMPF ou CF = PMRE + PMRV – PMPF Esse Ciclo é o período em que a empresa provavelmente precisará de recursos de curto prazo para fazer frente às suas necessidades do dia a dia, pois ele começa com a empresa desembolsando recursos para pagamento de fornecedores sem que tenha recebido de seus clientes. Esses recursos de que a empresa precisa nesse período é chamado de Capital de Giro. Logo, quanto maior for o ciclo financeiro da empresa, maior será sua necessidade de capital de giro. Portanto, o gestor financeiro precisa, não só cuidar das fontes desses recursos, mas, principalmente, trabalhar para reduzir o tempo do ciclo financeiro, diminuindo assim a necessidade desse recurso ou seu ônus (taxa de juros de empréstimos de curto prazo). Além disso, em análises financeiras, se o PMR for maior que o prazo concedido pela em- presa, significa que estão ocorrendo inadimplências por parte dos clientes. OPMR pode 63 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ser comparado ao Período Médio de Pagamento (PMP), que se refere ao pagamento efetuado aos fornecedores da empresa. É importante frisar que o PMP primeiro tem que comportar o PMR para não prejudicar o capital de giro da empresa (GITMAN, 2004). Figura 03. F Exemplo: Indicadores de Endividamento O índice de endividamento, como o próprio nome diz, mede o grau de endividamento da empresa. O índice de endividamento evidencia quanto a empresa tem de dívidas com terceiros (passivo circulante + passivo não circulante) para cada real de recursos próprios (patrimônio líquido), ou seja, indica a dependência que a entidade apresenta com relação a terceiros e, nesse sentido, o risco a que se sujeita. Com base em Gitman (2004) e Assaf Neto (2005), apresentamos três indicadores bási- cos que auxiliam nas análises do endividamento da empresa: Tabela 11. Índices de Endividamento. ÍNDICE DESCRIÇÃO FÓRMULA PARÂMETRO Grau de endividamento (GE) Mostra quanto represen- ta o capital próprio da empresa, em relação ao capital de terceiros Quanto menor, melhor Participação de capitais de terceiros no passivo total (PCT) Mostra a participação de capitais de terceiros no endividamento total da empresa Quanto menor, melhor Composição do endivi- damento (CE) Mostra as obrigações de longo prazo em relação às obrigações totais da empresa Quanto menor, melhor GE = PL Et PCT = PT Et CE = PC + PNC PC Fonte: GITMAN, 2004, p. 74; ASSAF NETO, 2005, p. 86-87. (Adaptado). 64 2 Indicadores financeiros e desempenho As siglas significam: Et = exigível total, representado por passivo circulante + passivo não circulante PT = passivo total, representado por exigível total + patrimônio líquido PNC = passivo não circulante (ou ELP = exigível de longo prazo) Para se analisar a solvência de uma entidade, é importante conhecer os prazos de vencimento de suas dívidas. Nesse sentido, o índice de composição do endividamento revela quanto da dívida total (passivo circulante + passivo não circulante) com terceiros é exigível no curto prazo (passivo circulante). Do ponto de vista financeiro, é comum que a empresa busque recursos de longo prazo para financiamento do Ativo Não Circulante e recursos de curto prazo para financia- mento do Ativo Circulante. Embora não existam regras fixas, pois cada entidade possui uma estrutura de capitais que otimiza seus resultados, uma empresa com níveis mais elevados de endividamento no longo prazo terá melhores condições de gerar recursos para fazer frente aos compromissos num momento de crise, por exemplo. Ao passo que a empresa que tenha grande parte de suas dívidas vencíveis no curto prazo, se surpreendida por uma crise, terá que tomar decisões desfavoráveis do ponto de vista econômico para conseguir cumprir suas obrigações de curto prazo (exemplo: queima de estoques a preços baixos, grandes descontos para recebimentos de clientes), ou seja, uma empresa com menores níveis de endividamento no curto prazo, via de regra, oferece menor risco. O capital próprio é aplicado pelos sócios na empresa e está registrado no patrimônio líquido no balanço patrimonial. O capital de terceiros é obtido por meio de empréstimos e financiamentos e é registrado nas contas do exigível total no balanço patrimonial. 1.2. RISCOS EMPRESARIAIS A incerteza relativa aos resultados da empresa, tendo em vista possíveis oscilações nas atividades econômicas, pode culminar no cenário de riscos operacionais e financeiros vinculados à formação dos ativos da empresa. O administrador financeiro pode embasar as decisões de investimento na empresa, considerando os riscos a partir da análise de sensibilidade e da avaliação de cenários. O que são, de fato, riscos operacionais e financeiros? O que é análise de sensibilidade? Como avaliar cenários? Para responder a essas questões, vamos ao estudo dos riscos operacionais e finan- ceiros, da restrição de capital, da análise de sensibilidade e da avaliação de cenários. Risco é a probabilidade da ocorrência de um evento não esperado e que resulte, de forma direta ou indireta, em prejuízos financeiros. As empresas estão em iminente risco financeiro e devem gerenciá-los para evitar perdas financeiras, minimizar esses riscos é necessário a uma gestão ativa e bem estruturada. 65 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co No atual mercado financeiro existe muita volatilidade (altos e baixos). Quanto mais o preço de uma ação varia em um curto espaço de tempo, maior é o risco de se investir nessa empresa. Assim, existem regulamentações, normas e condutas recomendadas com o objetivo de garantir o retorno dos seus acionistas e ainda uma gestão eficiente, evitando favorecimentos a grupos ou escolhas pessoais de quem realiza a gestão. Mas isso veremos em nossa próxima unidade de estudos! Agora é só para compreensão de risco quando tratamos de análise. 1.3. GESTÃO DE CUSTOS A decisão de financiamento de curto e de longo prazo auxilia na estruturação das fontes de capital da empresa, que, para viabilizar suas operações, necessita captar recursos, seja exclusivamente com capital próprio, seja pela composição com capital de terceiros. Cada um desses capitais tem um custo específico, e o administrador financeiro precisa calcular o custo médio ponderado para fins de análise de rentabilidade. Ainda na decisão de financiamento, a empresa pode analisar a utilização dos custos financei- ros fixos, oriundos dos contratos realizados com terceiros, para alavancar sua lucratividade. Será que existe uma estrutura ótima de capital para as empresas? Como calcular o custo médio ponderado de capital? Como os custos financeiros fixos podem ser utilizados para alavancar os lucros? Como calcular o grau de alavancagem financeira? Ao responder a essas perguntas, você compreenderá os elementos básicos relacionados ao custo de capital, à alavancagem financeira, à alavancagem total e à captação de recursos. Custo de Capital O objetivo das empresas é obter com seus investimentos um retorno que possa cobrir, pelo menos, a expectativa mínima de ganhos almejada pelo proprietário. Nas análises financeiras, o custo de capital é uma ferramenta de planejamento financeiro determinada pela combina- ção dos custos de oportunidade do capital próprio e do capital de terceiros. Na economia, há também o conceito de custo de oportunidade, em que o retorno mínimo desejado pelos proprietários é também considerado um custo do período. Finalmente, em administração/finanças, é considerada como custo apenas a parcela do custo desembolsado pela empresa. Para que o gestor não seja induzido ao erro, o método do custeio variável criou um indicador, denominado margem de contribuição, que, matematicamente, é calculado como a diferença entre a receita menos os custos e as despesas variáveis de determinado período. Para a margem de contribuição, a empresa não separa os gastos em custos e despesas, mas sim em fixos e variáveis. Finalmente, em seu aspecto mais conceitual, margem de contribui- ção é a contribuição dada pelos produtos individualmente para que sejam pagos os custos e as despesas fixas, e para que haja também geração de lucros. Mas quais capitais podem ser empregados em uma empresa? Quais fontes de capital podem ser utilizadas? Como medir os custos desses capitais? 66 2 Indicadores financeiros e desempenho Para responder as questões, vamos aos estudos da estrutura e do custo do capital próprio, do custo de capital de terceiros, bem como do custo médio ponderado de capital. Estrutura de Capital A literatura financeira ainda não apresentou um método de determinação da estrutura ótima de capital para as empresas. Por isso, nas análises financeiras da melhor estrutura de capital, as empresas buscam o equilíbrio entre os benefícios e os custos do financiamento com recur- sos próprios e com capital de terceiros. Acomposição final da estrutura de capital depende das decisões dos administradores finan- ceiros da empresa. Hoji (2004), entretanto, argumenta que a estrutura de capital mais próxima da ideal é aquela em que a relação entre o exigível de longo prazo e o patrimônio líquido produza o menor custo de capital para a empresa. O custo de capital de uma empresa representa a remuneração exigida pelos proprietá- rios dos recursos financeiros por ela utilizados, ou seja, acionistas e credores diversos (ASSAF NETO, 2005). Gitman (2004) salienta que existem diferenças básicas entre as duas fontes de recur- sos (próprio e de terceiros), quando os recursos próprios estão ligados diretamente aos compromissos com os acionistas e sócios, e os de terceiros, com fornecedores e prestadores de serviços. Entre elas o fato de que a despesa financeira originada no uso de capital de terceiros é dedutível da base de cálculo do Imposto de Renda (IR). Além disso, o pagamento do capital de terceiros tem prioridade no caso de falências e quanto mais elevada a participação de capital de terceiros maior o risco. Assim, para definir a estrutura de capital da empresa, o administrador financeiro precisa entender as especificidades dos custos de capital próprio e de terceiros. Custo de Capital Próprio O capital próprio são os fundos de longo prazo proporcionados pelos proprietários da empresa. No caso das empresas de sociedade limitada, a origem do capital próprio é o aporte de capital social realizado pelos sócios-proprietários da empresa. Para esse caso, o custo do capital próprio é calculado a partir do custo de oportunidade do sócio-proprietário, ou seja, pelo custo da melhor alternativa de investimento que ele deixa de realizar ao investir seu capital na empresa. Por isso, Gitman (2004) e Assaf Neto (2005) afirmam que o custo do capital próprio nesse caso considera a expectativa de retorno do empresário sobre seu patrimônio líquido. A taxa tradicionalmente utilizada para fins de custo de oportunidade é a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia), que é a taxa básica de juros na economia, estabelecida pelo Banco Central do Brasil. No caso das empresas de capital aberto, o capital próprio tem origem em duas fontes básicas: ações preferenciais e capital de acionistas ordinários, o que inclui ações ordi- nárias e lucros retidos. 67 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Salientamos que uma ação é uma cotaparte do capital social de empresas de capital aberto, assim, quem compra uma ação se torna sócio da empresa. Existem dois tipos de ações: preferenciais e ordinárias. As ações preferenciais se caracterizam, como o próprio nome diz, pela preferência no recebimento dos dividendos, porém, não dão di- reito a voto nas assembleias da empresa. As ações ordinárias dão direito de voto e de participação nos lucros aos acionistas (GITMAN, 2004). O custo do uso do capital próprio, de forma geral, é a taxa de retorno dos investimentos realizados pela empresa, que permite manter o valor de mercado de sua ação. O capital obtido com a emissão de ações ordinárias é, geralmente, a forma mais cara de capital próprio, seguida dos lucros retidos e das ações preferenciais (GITMAN, 2004). Modelo de Precificação de Ativo_CAPM Para medir o custo do capital próprio, podemos utilizar a taxa obtida no modelo de pre- cificação de ativos, também conhecido como Capital Asset Pricing Model (CAPM, ou Modelo de Precificação de Ativos Financeiros), segundo o qual o custo de capital pró- prio é retorno exigido pelos investidores como recompensa pelo risco não diversificável da empresa, também denominado risco sistemático, atribuído a fatores de mercado que afetam todas as empresas (ASSAF NETO, 2005). Ou seja, necessidade de estabelecer objetivos e processos de forma clara, acompanhamento sistemático e contínuo, além de revisão e atualização constantes. São algumas formas de mitigar os riscos operacionais. O desvio padrão é amplamente utilizado nos estudos de estatística, porque ajuda a enxergar distorções que podem ocorrer ao calcular uma média simples. Acompanhe o seguinte exemplo: um professor fez uma competição entre alunos e o vencedor ganharia ingressos para o cinema. O critério principal para avaliação era a média das notas dos estudantes em quatro atividades e as melhores foram dos alunos André e Mariana. André tirou as notas 10, 9, 8 e 6 e Mariana, notas 9, 8, 8 e 8. Ao observar as médias de forma simples, é possível constatar que André, apesar de ter um 10, possui grande variação em suas notas, enquanto Mariana foi mais constante. O desvio padrão analisa a informação, demonstra quem ficou mais perto da média e apresenta maior regularidade, conforme os quadros a seguir: Tabela 12. T ALUNOS NOTAS DOS ALUNOS 1ª NOTA 2ª NOTA 3ª NOTA 4ª NOTA Mariana 9 8 8 8 André 10 9 8 6 Cálculo das médias: fórmula (soma das notas ÷ quantidade de notas). 68 2 Indicadores financeiros e desempenho Tabela 13. T ALUNOS MÉDIA SIMPLES (NOTA DAS PROVAS DIVIDIDA PELA QUANTIDADE DE NOTAS Mariana Média = 8,25 André Média = 8,25 Média = 4 9+8+8+8 Média = 4 10+9+8+6 Para auxiliar nesse cálculo, também é possível utilizar outra medida de dispersão: a variância, que identifica qual a distância entre os valores e a média. Assim, o cálculo da variância é obtido por meio da soma dos quadrados da diferença entre cada valor e a média simples, dividida pela quantidade de elementos observados. A variância servirá de base para o cálculo do desvio padrão. Fórmula da variância: ((nota – média)² ÷ quantidade de notas). Observe o quadro a seguir: Variância Mariana = Variância André = 4 4 (9 - 8,25)2 + (8 - 8,25)2 + (8 - 8,25)2 + + (8 - 8,25)2 = 0,1875 = 2,1875 (10 - 8,25)2 + (9 - 8,25)2 + (8 - 8,25)2 + + (6 - 8,25)2 É importante considerar que a variância demostra a distância em relação à média. Sendo assim, quanto menor a distância, ou seja, quanto mais próximo da média, me- lhor. Aquilo que, na observação dos dados pareceu uma regularidade maior nas notas de Mariana, se confirmou no cálculo da variância. A média representa a tendência central e, em alguns casos, valores muito distantes da média podem influenciar e distorcer a análise. O fato de a variância ser calculada “ao quadrado”, ao seu modo, adultera os valores, e também dificulta a análise. O desvio padrão é a raiz quadrada da variância e reduz essa distorção em relação à média. Ve- jamos a sequência de cálculos dos alunos Mariana e André: Fórmula → Desvio Padrão = √ Variância Desvio Padrão → Mariana √ 0,1875 = 0,4330 Desvio Padrão → André √ 2,1875 = 1,4790 No CAPM, o retorno exigido, para todos os ativos, é formado por duas partes: a taxa livre de risco e um prêmio por risco. A taxa livre de risco ou Risk Free (RF) geralmente é estimada a partir do retorno das aplicações mais seguras do País, como a poupança. 69 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Conforme Gitman (2006), o prêmio por risco, por sua vez, depende das condições do mercado e do próprio ativo e pode ser dividido em: O prêmio por risco do mercado, ou seja, o retorno exigido ao se aplicar em qualquer ativo com risco (exemplo: ações das empresas), em lugar de aplicar à taxa livre de risco; um coeficiente de risco beta (β), que mede a sensibilidade do retorno da ação específica a variações das condições do mercado. Salientamos que, de acordo com Gitman (2004), o coeficiente beta (β) pode ser estimado por meio da covariância (Cov) entre os retornos das ações da empresa (Ri) e os retornos do índice de mercado (Rm) divididos pela variância (σ2) dos retornos desse mesmo índice. A equação específica para o cálculo é: β = Cov (Ri , Rm) σ2 (Rm) Uma vez estimado o beta de um ativo, é possível calcular o retorno exigido para esse ativo, aplicando a equação do modelo precificador de ativos de capital, CAPM. Conside- rando o ativo X, já usado anteriormente para calcular o beta eM, o retorno do mercado, a equação será expressa da seguinte maneira: Sendo KX o retorno exigido do ativo “X”, RF é a taxa de retorno para ativos livres de ris- co, como títulos públicos (no nosso caso, a taxa SELIC pode ser considerada). Em que bX é o beta calculado para o ativo “X” e KM é o retorno proporcionado por uma carteira de ativos de mercado, como é o caso do índice IBOVESPA. Vamos ilustrar o uso da equação CAPM com o exemplo seguinte. Considere o beta já calculado para o ativo “X”, que o retorno médio de uma carteira de ativos de mercado é de 10% ao ano e que a taxa SELIC esteja em 8% ao ano. Qual se- ria o retorno exigido para o ativo “X”? Substituindo os dados na equação CAPM temos: Perceba que o retorno exigido é próximo ao retorno dado por ativos considerados livres de risco, como a taxa SELIC. Isso ocorre porque o papel é pouco sensível às variações de mercado. É possível observar intuitivamente pela equação que, quanto maior for o beta, maior será o retorno exigido para o ativo em análise por ter um perfil de risco maior. Essa análise é bastante coerente, afinal, como nos ensinou Gitman (2004), quan- to maior for o risco, maior será o retorno exigido para um ativo e vice-versa. 70 2 Indicadores financeiros e desempenho Custo Médio Ponderado O cálculo do custo do capital da empresa deve levar em conta a composição do capital. No caso da empresa utilizar capital de terceiros, então, deve-se calcular o custo médio ponderado do capital (em inglês Weighted Average Cost of Capital, WACC). De acordo com Gitman (2010), a equação do WACC é: Ka = (ki × wi) + (Kp × wp) + (kr × wr) Em que: Ka = custo médio ponderado de capital ki = custo do capital de terceiros (dívidas) wi = participação do capital de terceiros na estrutura de capital Kp = custo das ações preferenciais wp = participação das ações preferenciais kr = custo do capital próprio (patrimônio líquido) wr = participação do capital próprio Os valores de wi, wp e wr representam pesos, que são as metas percentuais de capital próprio, de ações preferenciais e de capital de terceiros, que minimizarão o custo geral de levantamento de fundos da empresa, sendo a soma deles três igual a 1. Dividindo-se cada componente pelo total de R$ 100 milhões, têm-se os pesos do valor de mercado de 40% de capital de terceiros, 10% de ações preferenciais e 50% de ca- pital próprio. Ainda, se o custo de capital de terceiros é de 6%, o custo de ações preferenciais é de 9%, e o custo de capital próprio é de 16%. O custo médio ponderado do custo de capital da empresa é calculado conforme a tabela a seguir: Tabela 14. T FONTE DE CAPITAL PESO CUSTO CUSTO PONDERA- DO [(1) X (2)] 1 2 3 Capital de terceiros de longo prazo 0,4 6% 2,4% Ações preferenciais 0,1 9% 0,9% Capital próprio 0,5 16% 8% 71 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Totais 1,0 - 11,3% Custo médio ponderado de capital WACC 11,3% Legenda: Peso do capital de terceiros: 40%, que corresponde à fração decimal de 0,4 Peso das ações preferenciais: 10%, que corresponde à fração decimal de 0,1 Peso do capital próprio: 50%, que corresponde à fração decimal de 0,5 Alavancagem Alavancagem é a utilização dos custos fixos com a finalidade de ampliar a lucratividade da empresa. No caso do uso dos custos financeiros fixos, estamos diante da alavan- cagem financeira. Como também podem ser utilizados os custos fixos operacionais para produzir a alavancagem operacional, e, então, podemos chegar ao conceito de alavancagem total. Como medir o grau de alavancagem financeira, operacional e total da empresa? Como interpretar os resultados do cálculo do grau de alavancagem? Para responder a essas questões, vamos aos estudos dos conceitos básicos do grau de alavancagem financeira e da alavancagem total da empresa. As empresas podem utilizar os custos fixos operacionais para obter a alavancagem no nível operacional e utilizar os custos fixos financeiros (custo do financiamento) para ob- ter a alavancagem financeira. No fim, obtém-se a alavancagem total. Como sabemos, a alavancagem é o resultado do uso de ativos ou fundos a custo fixo para aumentar os retornos de um investimento. Nesta unidade, veremos os conceitos básicos referentes à alavancagem financeira, que é o resultado do uso dos custos fixos financeiros para potencializar a lucratividade da em- presa. Os dois custos fixos financeiros mais comumente encontrados na demonstração do resultado da empresa são os juros de dívidas e os dividendos de ações preferenciais. A alavancagem financeira é possível por meio do uso dos custos fixos financeiros oriun- dos dos capitais de terceiros na estrutura de capital da empresa. Podemos, ainda, cal- cular o grau de alavancagem financeira produzida pela empresa. a. Grau de Alavancagem Financeira A alavancagem financeira é a utilização de custos financeiros fixos para ampliar os efeitos de variações do LAJIR Lucro Antes de Juros e Imposto de Renda), sobre a lu- cratividade da empresa, tanto do Lucro Líquido (LL) como do LPA. Trata-se, portanto, do uso potencial dos custos financeiros fixos da empresa para ampliar o lucro, sendo esses custos geralmente os juros de dívida e os dividendos preferenciais. 72 2 Indicadores financeiros e desempenho É necessário à alavancagem financeira, aumenta-se o risco da empresa, uma vez que ela precisa gerar mais excedentes de capital para conseguir honrar os compromissos com seus credores. O Grau de Alavancagem Financeira (GAF) mede a sensibilidade de variações do lucro empresarial a variações de LAJIR (Lucro Antes de Juros e Imposto de Renda), ou seja, representa o quanto varia o retorno sobre o capital próprio em função da variação no retorno sobre os ativos. O GAF pode ser calculado pela seguinte equação: GAF = % Variação de LPA % Variação de Laji b. Alavancagem Total O uso da alavancagem operacional não exclui o uso da alavancagem financeira. Ao contrário, é comum a combinação das duas estratégias como forma de impulsionar os resultados finais da empresa. A essa combinação se dá o nome de alavancagem total. Segundo Gitman (2004, p. 442), a alavancagem total “[...] reflete o impacto combinado das alavancagens operacional e financeira na empresa”. A análise é realizada a partir dos registros contábeis contidos na Demonstração de Resultado do Exercício (DRE). 2. AVALIAÇÕES DE EMPRESAS Segundo Hoji (2004), os primeiros registros contábeis podem ser encontrados na Bíblia, quando Jacó e Labão faziam o inventário (contagem) de seus rebanhos. O avanço des- sa ciência perpassa importantes fatos históricos, entre os quais pode-se citar: as tran- sações comerciais entre egípcios e babilônicos; a expansão do comércio e do mercanti- lismo entre os séculos XIII e XVI d.C.; e a depressão de 1929, nos Estados Unidos, que até impulsionou a acentuação de pesquisas na área contábil e gerou o crescimento da atividade de auditoria. Mais recentemente, conforme acrescenta o mesmo autor, o pro- cesso de globalização dos mercados nos trouxe a convergência das Normas Brasileiras de Contabilidade ao padrão internacional pelas Leis n. 11.638/2007 e n. 11.941/2009 (HOJI, 2004). 2.1 AUDITORIA Um bom entendimento de auditoria e da capacidade de elaborar cenários econômicos é fundamental para os negócios, pois é no ambiente econômico que se decide o sucesso dos empreendimentos privados e repercute a maioria das políticas públicas. A auditoria é importante para todos os indivíduos de uma sociedade, pois define a ca- pacidade de renda das famílias, de vendas das empresas e de prestação de serviços públicos do governo. As questões econômicas estão no nosso cotidiano, nos jornais, na televisão, nos rádios, nas relações de trabalho, entre empresários e governo, entre governo e famílias, e também nas relações internacionais. 73 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Ampliar a visão para fora da empresa e compreender o comportamento dasvariáveis econômicas, para ter uma visão clara sobre os cenários que podem afetar o comporta- mento das partes interessadas, são grandes desafios aos novos gestores. Além disso, é de suma importância para a criação de diferenciais competitivos, pessoal e empresarial, pois não é possível tornar-se um bom tomador de decisões, gestor ou auditor de uma empresa sem um sólido conhecimento da dinâmica econômica. Um gestor deve conhecer o funcionamento de sua empresa, ter domínio sobre as vari- áveis que a afetam, utilizar a melhor forma de otimizar a produção, minimizar custos e maximizar lucro. Além disso, precisa saber como a economia comporta-se e quais serão os impactos de diferentes movimentos econômicos sobre os objetivos de sua gestão. Após a descoberta da fraude, foi constatado que a empresa omitia passivos e, com isso, aumentava artificialmente seu lucro líquido. Como consequência, havia o aumento no valor da ação da empresa, uma vez que muitos analistas recomendam a compra de ações da bolsa de valores com base nesse indicador. Ocorreram diversas mudanças na legislação norte-americana após esse escândalo contábil, que culminaram com a edição de uma lei conhecida como Sarbanes-Oxley, com o objetivo de melhorar o controle sobre a contabilidade e a governança das organizações. Auditor: para Hoji (2004), auditor é o profissional que se dedica a examinar e verificar a exatidão dos procedimentos contábeis. Pode atuar como: (a) auditor independente (ex- terno), sem vínculo empregatício com a empresa que está auditando, podendo, porém, manter vínculo com uma empresa de auditoria; e (b) auditor interno, que é empregado da empresa na qual realiza a tarefa. A contabilidade é uma ciência social cujo objeto é o controle do patrimônio - que aconte- ce por meio de coleta, processamento e armazenamento de informações sobre os fatos que geraram a mutação patrimonial e financeira das organizações. Como resultado do processamento dos fatos, a contabilidade gera informações sobre a posição patrimonial e financeira, o desempenho e as mutações patrimoniais e finan- ceiras das organizações, ou seja, algumas mudanças realizadas no patrimônio líquido com relação a valores do mesmo. Para que essas informações possam ser disponibilizadas com fidedignidade e acurácia aos seus usuários, a contabilidade utiliza técnicas de escrituração, demonstração, análise e auditoria, empregadas de acordo com seus pressupostos científicos, combinadas com os pronunciamentos técnicos, legislações e práticas de mercado amplamente difundidas. 2.2 LEI SARBENES-OXLEY E SEUS REFLEXOS O conceito de governança corporativa é muito discutido no universo empresarial atual. As constantes transformações econômicas, políticas e sociais observadas no cenário mundial provocam impactos financeiros em empresas espalhadas por todo o mundo. Somente as organizações bem estruturadas em seus controles financeiros apresentam condições de se manterem competitivas e responderem prontamente às mudanças. Na opinião de Hong (2003, p. 89), a partir desse movimento mercadológico, a Governança 74 2 Indicadores financeiros e desempenho Corporativa (GC) passa a ser vista como um elemento fundamental da construção do novo arcabouço financeiro internacional, por exemplo. Ou seja, um ambiente transparente e bem fiscalizado no mercado de capitais proporcio- na maior estabilidade dos fluxos de recursos e serve como um sistema de alarme contra as turbulências empresariais e financeiras. A organização financeira empresarial é fundamental na constatação de resultados efeti- vos, que servem para defender respostas subsidiadas aos diretores-executivos e proprie- tários das organizações. Uma das formas de gerenciamento de informações financeiras surgiu com o advento da Lei Sarbanes-Oxley. Ela foi sancionada em julho de 2002 pelo então presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush, e propõe medidas que afetam a divulgação financeira de empresas com ações negociadas na bolsa. A Lei Sarbanes-Oxley, também referenciada pela sigla SOX, é monitorada e aplicada parcial- mente na abrangência do mercado de capitais norte-americano, fiscalizado pela Securities and Exchange Comission (SEC). Seu enfoque principal está relacionado aos padrões de informações disponibilizados nos relatórios financeiros, na ampliação da divulgação desses informes financeiros para assegurar a transparência de processos e detectar fraude ou erros por parte da empresa e sua contabilidade. Hoji (2004, p. 59) apresenta um dos aspectos de exigência da lei: Em relação ao controle interno e à responsabilidade pelas qualidades de informações públicas, a SOX exige que os principais executivos da empresa confiram os relatórios periódicos entregues à SEC, garantindo assim que os mesmos não contenham infor- mações falsas ou omissas, representando a real situação financeira da empresa, sendo impostas penalidades no caso de divulgação de informações errôneas ou inexatas. A preocupação da lei remete a questões de segurança de informações empresariais. Em um primeiro momento, ela representa interesses governamentais, por ser uma al- ternativa de inibir possíveis sonegações. Existe a criação de responsabilidades formais internas no tratamento dos dados financeiros. Desse modo, a descoberta e fraudes, a espionagem industrial e os erros propositais causados pelos agentes de recursos são punidos rigorosamente. Diante desse cenário, a contabilidade é integrada automaticamente ao controle e à apresentação de relatórios correntes com a real condição financeira das empresas. É atribuição do contador o registro dos fatos ocorridos mediante procedimentos opera- cionais, mensurados financeiramente, que provoquem alterações no patrimônio empre- sarial por documentação pertinente. O trabalho desenvolvido no gerenciamento financeiro e administrativo do ambiente in- terno empresarial também é ponto de análise e faz parte dos critérios estabelecidos na SOX. Questões de responsabilidade ética na condução dos negócios e na apresenta- ção de informações são aspectos pertinentes ao grupo de trabalho que elabora estraté- gias e projeta cenários com o objetivo de conseguir lucro. 75 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Gitman (2004, p. 44) especifica em cinco itens os objetivos da Lei Sarbanes-Oxley: ` Proporcionar mecanismos que aumentam a responsabilidade da alta administração de uma empresa sobre a confiabilidade da informação por ela fornecida; ` Restringir o alto grau de vulnerabilidade das informações contábeis; ` Promover uma ampla reforma nos relatórios financeiros; ` Exigir boas práticas de governança corporativa e práticas éticas na condução dos negócios; ` Privilegiar o controle interno e as formas mais adequadas de divulgação e emissão de relatórios financeiros, contribuindo para o aumento da transparência e confiança no mer- cado de capitais. Relacionado ao cenário brasileiro, segundo Hoji (2004, p. 61), “Atualmente, existem mais de 30 empresas brasileiras com registro na Securities and Exchange Commission (SEC), com suas ações cotadas em bolsa norte-americana, e várias outras planejam o registro para os próximos anos”. Para as atividades administrativas e contábeis brasileiras, esse é um sinal de adapta- ção e adequação aos padrões de controles exigidos e práticas internas executadas. O ponto em destaque da regulação da lei em empresas brasileiras está na criação de um Comitê de Auditoria para minimizar a ocorrência de informações conflitantes. Ele seria um órgão independente de fiscalização empresarial. Hoji (2004) expõem que os procedimentos relacionados ao SOX podem ser divididos em quatro esferas principais: controles internos, controles administrativos, controles de auditoria e controles de riscos. Acredita-se que o conjunto dessas esferas resulta no “retrato” fidedigno da estrutura e da realidade empresarial. Diante do antagonismo da econômica mundial, que ora retrata muita riqueza, oraretrata extrema pobreza, é impossível não atribuir responsabilidade social às empresas. Elas precisam assumir o papel de colaboradoras diretas para gerarem melhores condi- ções econômicas para a sociedade. Tratando-se de controles administrativos, eles podem perfeitamente ser enquadrados nos controles internos, uma vez que se referem a relatórios gerenciais e de planejamen- to estratégico, utilizados para o acompanhamento e a projeção de práticas empresariais atuais e futuras. Fazem parte desse grupo os relatórios de vendas, produção, despe- sas, caixa, contas a pagar, contas a receber, resultados, investimentos, financiamentos e de estrutura patrimonial. Os controles de auditoria são o conjunto das informações e análises realizadas durante a auditoria, projetadas no plano de trabalho do auditor. Sua função é suprir dúvidas e esclarecer dados registrados nas demonstrações contábeis para a constatação de pos- síveis erros ou fraudes. No tratamento dos controles de riscos, a empresa tem a preocupação de retratar e acompanhar as incertezas de mercado, que podem ser de ordem financeira ou opera- 76 2 Indicadores financeiros e desempenho cional e impactar negativamente nos resultados ou nas ações futuras que venham a ser implementadas. Como medidas práticas, de fácil aplicação na organização, são sugeridas as propostas de mapeamento de riscos, visando à criação de formas de controles. No conteúdo desse mapeamento, devem estar registrados os eventos que possam afe- tar os procedimentos empresariais. Destacam-se os itens de avaliação, as medidas de gerenciamento, as ações a serem realizadas para evitar ou reduzir o impacto e a resposta ao risco, com a indicação da decisão gerencial para a aceitação, eliminação ou compartilhamento em outras áreas empresariais. Apesar de tantas exigências, no cenário brasileiro, a Lei Sarbanes-Oxley provocou a constatação de benefícios no modo de organização das informações empresariais. Na tentativa de evitar novas fraudes, a SOX passou a obrigar que as companhias descre- vam detalhadamente e claramente cada um de seus processos administrativos e contá- beis – assim fica fácil atribuir responsabilidade no caso de eventuais deslizes. Os novos processos tornaram-se um pesadelo gerencial para as milhares de corporações obriga- das a seguir a lei – cada um dos incontáveis procedimentos internos tem de ser padroni- zado e detalhadamente descrito e auditado. No entanto, esse esforço vem mostrando um inesperado lado positivo às empresas. No decorrer do processo, as companhias brasi- leiras que se adaptaram á SOX perceberam que os procedimentos da nova lei ajudam a melhorar controles, a facilitar gestão e até a cortar custos (Hong, 2003, p. 63). Os títulos vinculados aos capítulos da lei remetem ao rigor no controle de informações empresariais e à atribuição de responsabilidades aos agentes da administração. 2.3 COSO E CONTROLE DE RISCOS Pode se pensar o risco como algo incerto, um futuro que não se tem controle e que pode ser positivo ou negativo. Analisando esses conceitos de risco e seus impactos, é possível deparar-se com situações nas quais a pressão e falta de conhecimento podem trazer sérias consequências, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. O foco dessa reflexão é explorar alguns aspectos como risco × retorno, fatores de risco e aspectos internos e externos do ambiente empresarial. A essência é conhecer os ris- cos, montar estratégias, acompanhar e adaptar o planejamento a novos desafios que podem estar relacionados a objetivos pessoais e profissionais. Assim definimos que o COSO (The Comitee of Sponsoring Organizations) trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, dedicada ao aperfeiçoamento dos relatórios financei- ros por meio da ética, efetividade dos controles internos e governança corporativa para melhorias nas rotinas empresariais. Apesar do perigo que as situações de mudanças e incertezas traziam, os seres huma- nos perceberam que os frutos colhidos, ou os benefícios obtidos por essa exposição ao risco, poderiam ser interessantes e apresentar resultados compensatórios. Ou seja, as incertezas, ou perigos, são inerentes aos riscos, e os resultados materializam a possi- bilidade de retorno. 77 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Além disso, observaram também que em determinadas ocasiões alguns comportamen- tos se replicavam quando submetidos a situações semelhantes. Dessa forma, a proba- bilidade de um fato se repetir era real e mensurável. Quando se pensa em risco, a proteção é uma questão que parece óbvia e simples, porém, normalmente ele é futuro e incerto. Isolar os riscos significa estabelecer alternativas para se proteger, minimizar e afastar os riscos e seus fatores. Essas alternativas precisam ser muito bem estudadas (base- ada nas ocorrências passadas) e estimadas (projetando o futuro com suas possíveis variações). Por exemplo, se uma empresa X tem sua produção totalmente dependente de um único cliente, caso esse cliente passe por dificuldade financeira ou troque o for- necedor, a empresa X poderá ter sua operação totalmente comprometida. Para essa empresa, isolar o risco significa conquistar novos clientes, firmar contratos que lhe per- mitam alguma previsibilidade quanto ao término, entre outras ações. 3. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL O sistema financeiro serve para estruturar as relações econômicas que envolvem di- nheiro, desde, por exemplo, a compra de um automóvel por uma pessoa física até a aquisição de uma máquina por uma empresa. No Brasil, o Sistema Financeiro Nacional (SFN) desenvolve mecanismos (leis) e cria órgãos reguladores, como o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Banco Central do Brasil (Ba- cen) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para sistematizar o funcionamento das instituições financeiras públicas e privadas que intermedeiam a captação, a distribuição e as transferências de recursos financeiros da sociedade como um todo (ASSAF NETO, 2005). As decisões desses órgãos impactam a economia e, consequentemente, toda a sociedade. Além disso, o SFN tem o papel de harmonizar os interesses para que as necessidades individuais não se sobreponham às demandas coletivas. Neste capítulo, entenderemos o funcionamento dessas instituições e por que elas são tão importantes para a movimentação das finanças de um país. Iniciaremos estudando a estrutura do SFN e sua legislação para depois detalhar as instituições do sistema normativo e as de intermediação/operacionais. 3.1 ATRIBUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO O SFN representa um grupo de agentes executivos, normativos e instituições financeiras públicas e privadas, que atua na captação de recursos e distribuição e transferências de valores entre os agentes econômicos. Seu objetivo é o de garantir que as transferências de recursos entre quem tem de sobra (investidores ou credores) seja equilibrada em relação a quem necessita de recursos (tomadores ou credores) (ASSAF NETO, 20105). Para facilitar o entendimento do conceito, devemos compreender que as atividades hu- manas em grupo requerem regras. Isso também ocorre no SFN, cujas entidades criam ou supervisionam normas que precisam ser seguidas pelas instituições financeiras. Isso permite que as estruturas, desde as mais simples até as mais complexas, funcio- nem adequadamente. 78 2 Indicadores financeiros e desempenho Assim, o SFN possui órgãos normativos, que criam as normas que regem todas as instituições financeiras. Também há as entidades supervisoras, que orientam e acom- panham as atividades das instituições, monitorando-as. Os operadores são as próprias instituições financeiras. Caso haja falhas, os operadores serão responsabilizados pelas entidades supervisoras, que, por sua vez, serão interpeladas pelos órgãos normativos. Assim, é possível entender que, embora infinitamente mais complexo, o funcionamento dos diversos órgãos que compõem o SFN é idêntico. Diante disso, podemos passar a conceituar eentender como cada um funciona. 3.2 INSTITUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO O adequado funcionamento do mercado de capitais depende de vários agentes que, inte- grados, possibilitam o gerenciamento de recursos entre empresas e investidores e alimen- tam a economia como um todo. Especificamente no Brasil, existem os participantes norma- tizadores, compreendidos pela CVM e Bolsa de Valores. Além deles, há os participantes operacionais que atuam a fim de viabilizar as transações efetuadas, como companhias de capital aberto, sociedades corretoras de títulos e valores mobiliários, agentes autônomos de investimento, investidores pessoas físicas e jurídicas e investidores institucionais. As transações realizadas no mercado de capitais são efetivadas por meio de títulos mobiliários. Estes, por sua vez, representam o capital social das empresas e podem ser negociados em diversas formas como ações, bônus, debêntures e outros títulos. No Brasil, esse mercado é executado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e pelas sociedades corretoras. Em 2008, houve a integração da BM&F e da Bolsa de Valores de São Paulo, o que deu origem a BM&F Bovespa SA. As características das bolsas de valores são definidas com o objetivo de atender aos interesses públicos. Elas são formadas por sociedades e ações e constituídas como entidades jurídicas. Já as sociedades corretoras trabalham na forma de pregões deter- minados por seus clientes e negociam títulos e valores mobiliários. O termo bolsa começou a ser utilizado com o sentido comercial e financeiro na cidade belga de Brujas. Sua origem vem do nome Van der Burse, proprietário da casa onde eram realizadas as assembleias de comerciantes. A primeira Bolsa internacional foi criada em Amberes, em 1531. A Bolsa de Valores trabalha com a lei econômica da oferta e da procura, e prioriza a liquidez dos títulos ali negociados, buscando a melhor precificação de acordo com as oscilações do mercado financeiro. As instituições do SFN estabelecem as funções normativas e harmonizam os direitos e os deveres dos clientes, apresentando as soluções mais adequadas. Esse sistema é composto de três tipos de instituições: ` Órgãos normativos: que determinam regras gerais para o bom funcionamento do SFN. São eles: CMN, Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC); 79 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ` Entidades supervisoras: que estão subordinadas aos órgãos normativos e atuam de modo que os cidadãos e os integrantes do sistema financeiro sigam as regras definidas pelos órgãos normativos. São elas: Bacen, CVM, Superintendência de Seguros Privados (Susep) e Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc); ` Operadores: que estão subordinados às entidades supervisoras e lidam com o público, no papel de intermediário financeiro. São eles: bancos e caixas econômicas, cooperati- vas de crédito, instituições de pagamento, administradoras de consórcios, corretoras e distribuidoras, demais instituições não bancárias, bolsa de valores, bolsa de mercadorias e futuros, seguradoras e resseguradoras, entidades abertas de previdência, sociedades de capitalização e entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). A Caixa Econômica Federal (CEF) é uma instituição financeira, mas não pode ser clas- sificada como banco. Ela é uma caixa econômica, ou seja, uma empresa totalmente pública. Na prática, a CEF funciona como um banco comercial por autorização do Con- selho Monetário Nacional (CMN). Essas instituições existem para organizar as mais variadas possibilidades de transa- ções financeiras, como a aquisição de um empréstimo bancário ou a contratação de um seguro de vida, de um plano de previdência ou de um consórcio. 3.3 FUNÇÕES O SFN desenvolveu uma relação de hierarquia bem estruturada e importante para gerar credibilidade aos agentes econômicos, de modo a interligar o mercado financeiro, que é composto de famílias, empresas e governo. Além disso, satisfaz as necessidades desses agentes, seja para investir sobras de recursos, seja para emprestá-las a quem não os possui. Nesse cenário, cada um dos órgãos que compõe o SFN possui funções específicas. O órgão máximo do SFN é o CMN, que tem o papel de criar normas e diretrizes de con- trole de moeda e de crédito, a fim de harmonizar as relações na sociedade. Por isso, o CMN não desempenha funções executivas. Diretrizes e normas são regras definidas pelo CMN relativas ao controle da moeda, do crédito, da política cambial etc. Já as funções executivas têm a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir essas normas e diretrizes aprovadas pelo CMN. Entre as funções do CMN, além das já citadas, estão a de autorizar emissões de pa- pel-moeda; determinar as taxas do recolhimento compulsório que as instituições finan- ceiras devem fazer (parte dos depósitos dos bancos ficam retidos no Bacen); regular a constituição, o funcionamento e a fiscalização das instituições financeiras no País; e regulamentar as operações de redesconto de liquidez (operações que os bancos even- tualmente fazem para receber aportes do Bacen em caso de dificuldades de liquidez). Ligados diretamente ao CMN estão o Bacen, que é o órgão executivo e fiscalizador res- ponsável por colocar em prática a política monetária do governo, e a CVM, que atua no controle e no desenvolvimento do mercado de valores mobiliários (títulos emitidos que estão sujeitos às regras e à fiscalização da CVM; por exemplo, ações, debêntures, contra- tos futuros de opções etc.). São exemplos de ações de competência exclusiva do Bacen 80 2 Indicadores financeiros e desempenho a emissão de papel-moeda e moeda metálica nas condições e limites autorizados pelo CMN; o recebimento dos recolhimentos dos depósitos compulsórios dos bancos comer- ciais e dos depósitos voluntários das instituições financeiras bancárias no País; a realiza- ção de operações de redesconto aos bancos com problemas momentâneos de liquidez; a regulação do serviço de compensação de cheques, entre outros. Em contra-partida, algumas ações da CVM são estimular aplicações no mercado de ações; assegurar o fun- cionamento eficiente das bolsas de valores e instituições auxiliares; fiscalizar a emissão, o registro, a distribuição e a negociação de títulos emitidos pelas sociedades anônimas de capital aberto (que negociam suas ações em bolsas de valores) etc. As principais instituições financeiras ligadas ao Bacen são os bancos comerciais e múl- tiplos (operam como bancos comerciais, mas também fazem operações de bancos de investimentos, leasing etc.) e os bancos de investimentos, ou seja, instituições finan- ceiras privadas que ajudam a controlar o sistema financeiro nacional. Já as principais entidades relacionadas à CVM são as bolsas de valores (mercado organizado, no qual são negociadas as ações e as opções de empresas de capital aberto) e as bolsas de mercadorias e futuros (local onde se negociam contratos futuros de produtos agropecu- ários, taxas de juros, taxas de câmbio, índices de ações etc.). Outra instituição do SFN é o CNSP, cuja responsabilidade é determinar normas da po- lítica de seguros privados. Relativa ao CNSP, pode-se citar a Susep, que controla e fis- caliza os mercados de seguros, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. Já o CNPC é o órgão responsável pela regulação das entidades fechadas de previdên- cia complementar, também conhecidas como fundos de pensão. Está ligado à Previc, que fiscaliza e supervisiona as atividades das entidades fechadas de previdên- cia complementar. A previdência complementar, também chamada de privada, é aquela cuja escolha pela contratação é totalmente do cliente, ou seja, facultativa. Ela é diferente da previdência social, que é obrigatória aos funcionários registrados em carteira e regidos pela Conso- lidação das Leis do Trabalho (CLT). 3.4 OPERAÇÕES DE MERCADO MONETÁRIO As operações no mercadomonetário têm o objetivo de captar recursos excedentes no mercado monetário e alocá-los para os agentes que necessitam de financiamentos. Estão divididas em dois grandes grupos: títulos públicos e títulos privados. Os títulos públicos destinam-se ao financiamento do orçamento público. Os principais títulos pú- blicos federais são (HOJI, 2004): ` Letras do Tesouro Nacional (LTN): juros pré-fixados; ` Letras Financeiras do Tesouro (LFT): juros pós-fixados; ` Nota do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B): variação do Índice de Preços ao Consumi- dor Amplo (IPCA) mais juros; 81 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ` Nota do Tesouro Nacional – Série C (NTN-C): variação do Índice Geral de Preços do Mer- cado (IGPM) mais juros; ` Nota do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F): rentabilidade prefixada mais juros; ` Nota do Tesouro Nacional – Série D (NTN-D): variação cambial (dólar) mais juros. Já os títulos privados destinam-se à captação de recursos, em especial pelas empresas privadas e pelos bancos. Os principais são: ` Certificado de Depósito Bancário (CDB): Juros pré ou pós-fixados (emissão pelas ins- tituições financeiras para captação de recursos dos clientes). Um exemplo do CDB é quando uma pessoa, uma empresa ou uma instituição, faz uma aplicação financeira em um banco, ou seja, empresta seu dinheiro ao banco por um prazo determinado; ` Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI): Juros pré ou pós-fixados (emissão pelas instituições financeiras para captação de recursos de outros bancos). Assim, quando um banco empresta dinheiro para outro banco pelo prazo de um dia, as instituições estão emitindo um CDI; ` Letras Financeiras (LF): Juros pré ou pós-fixados (recursos aplicados direcionados para o financiamento das instituições financeiras). É parecido com o CDB, mas possui algumas particularidades, como valor e prazo mínimos, inclusive para o pagamento de juros; ` Letra de Crédito Imobiliário (LCI): Juros pré ou pós-fixados (recursos aplicados direcio- nados para financiamentos habitacionais). É aplicada, por exemplo, quando o cliente em- presta seu dinheiro ao banco para ser direcionado ao crédito imobiliário, ou seja, o banco usa o dinheiro para fazer um empréstimo imobiliário a outro cliente; ` Debêntures: Juros prefixados (recursos aplicados, representativos de dívida de médio e longo prazos de uma empresa). As debêntures são um título de crédito emitido por uma sociedade anônima não financeira (isto é, a empresa não pode ser uma instituição finan- ceira). É de longo prazo e paga juros em prazo determinado para os compradores desses títulos. As empresas usam os recursos normalmente para projetos de investimento ou reestruturação de dívidas; ` Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): Juros pré ou pós-fixados (recursos aplicados vinculados a direitos creditórios dos produtores rurais). Funciona como a LCI, com a dife- rença de que é voltada ao empréstimo agrícola; ` Commercial paper ou nota comercial: Juros pré-fixados (recursos aplicados, represen- tativos de dívidas de curto prazo, utilizados por empresas que buscam recursos para fi- nanciar o capital de giro). O commercial paper é utilizado nos casos em que uma empresa toma empréstimo em um banco de curto prazo e sem garantia real; porém esse emprésti- mo é normalmente garantido por aval ou fiança. As operações do mercado financeiro geram na economia uma dinâmica muito interes- sante, pois aproximam empresas e governos – que emitem os títulos e precisam de recursos para financiar projetos e atividades – de outras pessoas e empresas que têm sobra de recursos e compram esses títulos com a perspectiva de obter a rentabilidade oferecida pelo emissor. Essas operações são importantes para a movimentação de todo o sistema econômico. 82 2 Indicadores financeiros e desempenho IMPORTANTE ÓRGÃOS NORMATIVOS ` CNPC - CONSELHO NACIONAL DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR: Órgão colegia- do integrante da estrutura do Ministério da Previdência Social, com a responsabilidade de regular o regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). ` CMN - CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL: Criado em dezembro de 1964, composto pelo ministro da Fazenda no cargo de presidente, ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e pelo presidente do Banco Central. ` Possui as atribuições de fixar as diretrizes da política cambial, publica normas para re- gulação do câmbio, concede ao Banco Central do Brasil o monopólio das operações de câmbio em situações de grave desequilíbrio no balanço de pagamentos, e regulamenta o exercício da atividade de corretor de câmbio. ` CNSP - CONSELHO NACIONAL DE SEGUROS PRIVADOS: Órgão composto pelo ministro da Fazenda (presidente), representante do Ministério da Justiça, representante do Ministério da Previdência Social, superintendente da Superintendência de Seguros Privados, represen- tante do Banco Central do Brasil e representante da Comissão de Valores Mobiliários. Sua principal atribuição é a fixação das diretrizes e normas da política de seguros privados. ENTIDADES SUPERVISORAS Bacen - Banco Central do Brasil: Autarquia federal criada em 1964, vin- culada ao Ministério da Fazenda. Possui atividades relacionadas à política cambial brasileira, como controle do capital estrangeiro e autorização às ins- tituições financeiras para a prática de operações de câmbio. É responsável pelas reservas nacionais, atuando no mercado cambial, com o objetivo de estabilizar as taxas de câmbio e o balanço de pagamento; autoriza e fiscaliza o exercício das atividades dos corretores de câmbio. CVM - Comissão de Valores Mobiliários: Autarquia vinculada ao Ministé- rio da Fazenda, criada em 1976, com a responsabilidade de regulamentar, desenvolver, controlar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários do País. SUSEP - Superintendência de Seguros Privados: Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguro, previdência privada aberta e capitalização. PREVIC - Superintendência Nacional de Previdência Complementar: Autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social, responsável por fis- calizar as atividades das empresas fechadas de previdência complementar (fundos de pensão). 3.5 MERCADO DE CRÉDITO Para compreender o mercado de crédito, podemos pensar no exemplo do Brasil, que, desde a década de 1990, tem vivido momentos de profundas mudanças sociais, políti- cas e econômicas. Ao longo dos anos, o consumo da população veio crescendo e boa parte desse aumento foi financiado. 83 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co O conceito de crédito, entretanto, é mais amplo do que a simples operação de emprésti- mo ou financiamento contratada em um banco, como compreenderemos ao longo desta seção. Sempre que uma empresa vender a prazo, de alguma forma, estará financiando seu cliente. Por mais que apresente um preço à vista e o mesmo valor parcelado, existe sempre a questão do valor do dinheiro no tempo, pois fatores como inflação, juros e custo de oportunidade fazem com que o poder de compra do dinheiro altere-se dia a dia. Por exemplo, várias lojas anunciam a venda de mercadorias em dez vezes sem juros. Se o consumidor comprar no cartão de crédito ou pagar à vista, o preço é o mesmo. No entanto, não existe venda a prazo (crédito) sem juros. Nesse caso, o parcelamento em dez vezes é permitido por uma instituição financeira, que está, na realidade, fazendo uma operação de crédito. Assim, a loja recebe à vista o valor, que já tem juros embutidos. Por isso, sempre que se prorroga algum tipo de pagamento, o valor do dinheiro se altera. 3.6 ESTRUTURA DO CRÉDITO O mercado de crédito atua, principalmente nos financiamentos realizados por famílias, empresas e governo, com o objetivo de organizar os fluxos financeiros, transferindo recursos de que tem sobrando para quem tem necessidade ou proporcionandoliquidez ao mercado financeiro. Essas transações financeiras entre as partes interessadas têm nos juros seu elemento principal de remuneração. Conforme Hoji (2004), o mercado de crédito reúne os agentes interessados - que pos- suem necessidades financeiras de curto e médio prazos, além de prazos aleatórios (pontuais com vencimentos e condições diferentes das convencionais) -, sendo destina- do ao consumo das famílias e para atender às necessidades das empresas. No Brasil, e em muitos outros países, as instituições financeiras são as principais fontes para a obtenção de crédito. O Governo também dispõe de recursos de seu orçamento para crédito e financiamento. Como exemplo, podemos citar parte dos impostos cobra- dos pelo Governo, que é direcionada para linhas de crédito do Banco Nacional de De senvolvimento Econômico e Social (BNDES), que, por sua vez, pertence ao Governo. O BNDES, muitas vezes, repassa esses recursos aos demais bancos conveniados, que, ao fazerem as operações de crédito com seus clientes, assumem o risco das operações e recebem uma remuneração por isso. Assim, o crédito pode ser público ou privado. Essa categorização não é feita apenas em relação ao crédito estar sendo ofertado por um agente público ou privado, mas também por conta da origem dos recursos emprestados. Por exemplo, se a origem do recurso for o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), a ser utilizado pela Caixa Eco- nômica Federal (CEF) para financiar habitações do programa “Minha Casa Minha Vida”, esse será um recurso público, tanto em relação à origem quanto à destinação. Por outro lado, se a origem for um Certificado de Depósito Bancário (CDB) captado pelo Banco do Brasil e direcionado a um empréstimo de crédito ao consumidor, é um recurso privado. Em sentido mais amplo, também podemos incluir as empresas como fornecedoras de crédito, uma vez que concedem prazos de pagamento aos clientes. 84 2 Indicadores financeiros e desempenho REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano Guasti. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Editora Atlas, 2009. ASSAF NETO, Alexandre, Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. São Paulo: Editora Atlas, 2014. COSTA, Liliane C. Momento de Decisão: Como empresas e profissionais enfrentaram os riscos e decidiram seu futuro. São Paulo: Pearson, 2006. BRASIL. Lei n. 556, de 25 de junho de 1850. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 25 jun. 1850. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L0556-1850.htm>. Acesso em: 18/12/2019. _____. Lei n. 6.099, de 12 de setembro de 1974. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 12 set. 1974. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6099.htm>. Acesso em: 18/12/2019. _____. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 dez. 1976. Disponível em: <www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L6404compilada.htm>. Acesso em: 18/12/2019. ______. Lei n. 11.638 de 28 de dezembro de 2007. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 28 dez. 2007. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/ l11638.htm>. Acesso em: 18/12/2019. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC n. 1.282/10. Disponível em:<www. cfc.org.br/ sisweb/sre/docs/RES_1282.doc>. Acesso em: 18/12/2019. CPC 03 (R2) – Demonstração de fluxo de caixa. Pronunciamento. Comitê de Pronunciamentos Con tábeis. 07 out. 2010. p. 19 Disponível em: <www.cpc. org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronun- ciamento?Id=34>. Acesso em: 18/12/2019. CPC 26 (R1) – Apresentação das demonstrações contábeis. Pronunciamento. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. 15 dez. 2011. Disponível em: www.cpc. org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pro- nunciamento?Id=57 Acesso: em 18/12/2019. DEMONSTRAÇÃO do valor adicionado. Pronunciamento Técnico CPC 09. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <static.cpc. mediagroup.com.br/Documentos/175_CPC_09.pdf>. Acesso em 18/12/2019. GITMAN, L. J. Princípios da Administração Financeira. Tradução por Antonio Zoratto Sanvicente. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2004. 85 2 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co HONG, Y. C. Contabilidade e finanças para não especialistas. São Paulo: Prentice Hall, 2003. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Análise de balanços. 8ª ed. São Paulo: Atlas, 2007. LEMES JR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MELLAGI FILHO, Armando; ISHIKAWA, Sérgio. Mercado financeiro e de capitais. 2 ed. São Paulo: Atlas, 2010. OLIVEIRA, V. I.; GALVÃO, A.; RIBEIRO, É. Mercado financeiro: uma abordagem prática dos principais produ- tos e serviços. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2006. SÁ, Carlos Alexandre, Fluxo de Caixa, A visão da Tesouraria e da controladoria. 2ªed. São Paulo.2008. 86 3 Gestão de riscos e Custos empresariais UNIDADE 3 GESTÃO DE RISCOS E CUSTOS EMPRESARIAIS INTRODUÇÃO O risco está em todas as partes. Desde a decisão sobre a hora em que se deve acordar para não perder um compromisso até um projeto complexo que envolva a construção de um túnel sem afetar a infraestrutura de casas e edifícios em uma grande cidade. Pode-se pensar o risco como algo incerto, um futuro do qual não se tem controle e que pode ser positivo ou negativo. Analisando esses conceitos de risco e seus impactos, é possível deparar-se com situações em que a pressão e falta de conhecimento podem trazer sérias consequências, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. O foco desta reflexão é explorar alguns aspectos como risco × retorno, fatores de risco e aspectos internos e externos do ambiente empresarial. A essência é conhecer os riscos, montar estratégias, acompanhar e adaptar o planejamento a novos desafios que podem estar relacionados a objetivos pessoais e profissionais. Quando falamos em Custos não estamos tratando, necessariamente, de uma nova Contabilidade, mas sim de uma ramificação da Ciência Contábil que teve como ponto de partida as novas necessidades empresariais ou as causadas pelas mudanças nos modos de produção. Essas transformações decorreram da utilização de máquinas nos processos produtivos, permitindo a redução do trabalho manual, a produção em larga escala e a padronização de produtos. A civilização deixa de lado, então, os processos de manufatura e, junto com ela, a Era Mercantilista, passando a viver uma Revolução Industrial. Foi essa Revolução que causou impactos na Contabilidade, gerando questionamentos que vieram, primariamente, voltados à definição do valor do estoque de mercadorias. Sendo assim, diante dos novos meios de produção, a Contabilidade se viu obrigada a responder: como definir o custo de um produto se um único gasto se refere à produção de vários produtos ao mesmo tempo? 1. ESTATÍSTICA APLICADA AOS RISCOS A origem do risco reporta a um passado muito distante e acompanha os seres humanos desde o início dos tempos. A definição da palavra “risco” significa, entre outras coisas, perigo, inconveniente, expor-se a algo, estar exposto a perigo, arriscar-se etc. 87 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Desde a pré-história, a humanidade percebeu que se arriscar em um mundo desconhe- cido e misterioso era a única forma de sobreviver. Este conceito se expande ao longo do tempo, desde as batalhas e conflitos da Idade Média, passando pelas conquistas de novas terras nos séculos XV e XVI (período das navegações), pela Revolução Industrial e pela redução das fronteiras com o processo de globalização. Desde muito cedo, percebeu-se que as escolhas das pessoas e das corporações se- riam influenciadas pelos riscos envolvidos, e suas consequênciasseriam inevitáveis no processo de tomada de decisão. Ao longo do tempo, a incerteza do risco destruiu mitos e ofereceu oportunidades. Seu conceito foi influenciado pelas grandes conquistas, jogos de azar, e até mesmo pela evolução dos cálculos de matemática. As decisões deixaram de ser tomadas baseadas em superstições e tradições e passaram a ser fundamentadas na racionalidade (HONG, 2003). A racionalidade, as probabilidades estatísticas e as tendências tornaram-se base funda- mental para avaliação dos riscos. A seguir veremos aspectos importantes que motivam as pessoas ao risco, como a possibilidade de retorno. Uma característica comum para a estatística recebe o nome de variável. Na prática, a variável é uma função que associa valores a níveis de uma característica específica, segundo uma escala de medida. Os dados são fatos e números coletados, analisados e sintetizados para apresentação e interpretação. Juntos, os dados coletados em um estudo particular são denominados conjunto de dados para o estudo. Especificamente na estatística, a unidade em que é medida a variável de interesse é chamada de unidade de observação. Assim, a análise nada mais é que o conjunto de valores referentes às variáveis medidas para uma unidade de observação. Atualmente, a estatística pode ser encarada como um ramo da Matemática Aplicada. Sua preocu- pação reside na variabilidade e no impacto dos dados na tomada de decisão gerencial com confiabilidade. Em outras palavras, a estatística é uma ferramenta utilizada nas to- madas de decisão que permite analisar a presença de variabilidade, que ocorre quando duas ou mais observações sucessivas de um mesmo fato geram resultados diferentes. Os fenômenos naturais (encontrados na natureza) podem ser classificados em dois: de- terminísticos e aleatórios. Os primeiros são aqueles em que os resultados são sempre os mesmos, independentemente da quantidade de ocorrências; por exemplo, o tempo de queda livre no vácuo. Já os fenômenos aleatórios são aqueles que não produzem os mesmos resultados se forem repetidos. Portanto, a estatística é uma forma de lidar com fenômenos aleatórios. De acordo com Gitman (2004), em termos práticos, a estatística trabalha com o uso de dados para a tomada de decisão. Esses dados podem ser usados para resolver pro- blemas gerenciais, planejar processos industriais e mensurar o grau de satisfação dos clientes e a aceitação de novos produtos. Resumidamente, a estatística é um conjunto de técnicas e métodos que auxiliam a tomada de decisão sob a presença de incerteza. 88 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Quando os bancos surgiram na Europa medieval, seu serviço era somente de guarda de depósitos. Em determinado momento, seus administradores perceberam que os de- pósitos lá permaneciam por um tempo, às vezes longo, e resolveram emprestar partes desses depósitos enquanto seus reais proprietários não o solicitassem. Criava-se então o conceito de empréstimo, que, em geral, era dirigido aos próprios depositantes. Surgiu também o risco de crédito, que é a possibilidade de o devedor não cumprir com a pro- messa de pagamento do empréstimo solicitado. Atualmente, com a globalização dos mercados financeiros, com avanços na tecnologia da informação e a baixa regulamentação econômica, a moeda assume diversas faces, além da tradicional forma metálica ou papel. Transferem-se valores vultosos de um país para outro, via ordem eletrônica, sem a ocorrência de transferência física. Esses fatos aumentaram as incertezas nas operações financeiras; qualquer desatenção na sua ad- ministração pode ocasionar, dependendo do grau, perdas sérias à instituição em si ou à sociedade como um todo. O risco é uma condição permanente na atividade financeira. Exige controle efetivo e eficiente, tanto na avaliação como na assunção do risco. Dada a natureza do produto, moeda, serviço e intermediação financeira, as instituições finan- ceiras, como observado, estão expostas a diversos tipos de riscos. 1.1. CLASSIFICAÇÃO DE TIPOS DE RISCO As instituições financeiras, particularmente as bancárias, estão sujeitas a diversos tipos de riscos, tantos os específicos às suas operações como aqueles relacionados com sua atuação no mercado. Tradicionalmente, os riscos dividem-se em: risco operacional, risco de mercado, risco de crédito e risco legal. Gitman (2004) considera dois tipos de risco associados à realização de um investimen- to: o chamado risco não sistemático e o risco sistemático. O risco não sistemático é aquele que pode ser eliminado pela formação de um portfólio diversificado de ativos. Ele pode ser considerado como específico de uma determinada empresa, como greves, ações judiciais, decisões de agências reguladoras ou mesmo a perda de um cliente importante. As ocorrências afetarão o resultado somente dessa empresa ou setor, se for o caso, não exercendo influência no mercado como um todo. O risco sistemático, por outro lado, não pode ser eliminado pela diversificação, por ser atri- buído a fontes de risco que afetam o mercado, como a inflação, o aumento do desemprego, guerras, incidentes internacionais, entre outros. O risco não sistemático, por não poder ser controlado, é então a principal preocupação dos investidores de maneira geral, e, conforme Gitman, “sua mensuração é de importância fundamental para a seleção de ativos com as características mais desejáveis em termos de risco e retorno” (2004, p. 200). Os principais riscos financeiros que uma organização pode enfrentar estão descritos a seguir: Risco de crédito: é analisado pela probabilidade de não pagamento do tomador, ou seja, não receber o valor de clientes (inadimplência). Esse risco pode ser evitado to- mando medidas preventivas antecipadas, como redução da facilitação de compras par- celadas e incentivos para pagamentos à vista. 89 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Uma forma de avaliar a capacidade de pagamentos dos clientes seria elaborar um pa- recer de crédito. No parecer de crédito deve constar as seguintes informações: ` Histórico do cliente: demonstra a capacidade de pagamento dos clientes, através de seus pagamentos realizados ao longo do tempo. ` Faturamento: verifica a capacidade do cliente em administrar o seu negócio. ` Balanço Patrimonial: informações da saúde financeira da empresa e sua capacidade de honrar compromissos. ` Garantia: para diminuir os riscos de não pagamento do tomador a melhor maneira é ter uma garantia atrelada ao contrato. ` Contexto econômico atual: oscilações econômicas aumentam ou diminuem os riscos. O risco de crédito, segundo Mellagi Filho e Ishikawa (2010, p. 209), pode ser dividido em: ` Risco-país: ocorre quando um país, por motivos políticos ou por insuficiência de reser- vas, impõe condições restritivas ou mesmo proíbe que os agentes domésticos honrem contratos no exterior, o que faz com que a instituição detentora dos títulos do país sofra uma possível perda financeira pela falta de pagamento dos compromissos acordados pelo país emissor dos títulos. ` Risco de concentração: diz respeito à concessão de volumes elevados de crédito a uma úni- ca empresa, ou grupo de empresas, ou setores da economia. Se por algum motivo os tomado- res de recursos não cumprirem com contrato de crédito, a perda pode ser elevada e danosa. ` Risco do tomador: é relativo a informações ou dados incorretos ou falsos fornecido pelo solicitante de crédito. ` Risco operacional: é definido como a probabilidade de perdas resultantes de falha, con- troles inadequados, erros humanos, gerenciamento ineficiente ou impróprio. Esse risco pode ser dividido em três outros: � risco organizacional; � risco de operação; � risco de pessoal. As empresas devem possuir uma administração que satisfaça e atenda às necessi- dades de seus acionistas e todos os interessados, a fim de gerar lucro e atingir seus objetivos propostos. Quando isso não acontece, a credibilidade da organizaçãofica comprometida, o que é muito ruim para atrair novos investimentos. Este é o risco or- ganizacional, e hoje as organizações possuem a governança corporativa, como é um mecanismo utilizado com regras e normas estabelecidas e indicadas para garantir que este objetivo seja alcançado. A comunicação assertiva é outro fator crítico, pois a falta ou excesso, ou até mesmo o vazamento de informações podem comprometer os negócios e gerar distorções sobre a solidez da organização. 90 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Então, o risco de operação acontece quando ocorre falta de um gerenciamento adequa- do dos sistemas de informação da empresa. A ausência do controle correto do sistema de informação acarreta problemas de sobrecarga do sistema, que não comporta um número maior de processamento. No Brasil grande parte dos sistemas de informação são realizados sem a formalização de contratos, sem o acompanhamento de especialistas e, assim, não são levados em consideração períodos onde podem existir contingências (situações que fogem do fluxo normal, o que passa a ser atípico). Além do que foi dito acima, também é importante a segurança desse sistema de infor- mação com políticas e normas de uso, para não ocorrer vazamentos dessas informa- ções, que muitas vezes prejudicam os negócios e podem gerar dano à imagem da orga- nização. Treinamentos e capacitação são fundamentais para equalizar o conhecimento de todos os envolvidos com o fluxo de informação. ` Risco de pessoal: é aquele vinculado aos colaboradores que devem ser treinados e qualificados para exercer suas funções; o despreparo aumenta os riscos de falhas e pode gerar a insatisfação dos clientes por orientações incorretas, além de não favorecer um ambiente de trabalho motivador e adequado para funcionamento da organização. ` Risco de mercado: está associado à probabilidade de perda pela oscilação dos preços dos ativos em relação às condições de mercado. O risco de mercado está relacionado com operações da variação das taxas de juros, mercado de ações, alterações no câmbio e no preço das commodities. O risco de mercado pode levar ao risco de liquidez, que nada mais é do que a possibilidade de o investidor não ter recursos para honrar os compromis- sos assumidos a curto prazo, o descasamento dos valores que tem a pagar com os que tem a receber. ` Risco legal: pode ser definido como o não cumprimento da legislação vigente, ocasionan- do multas, penalidades ou indenizações, ou ainda ações judiciais. Gitman (2006) destaca que os riscos operacionais e financeiros devem ser tratados de forma conjunta, uma vez que afetam o risco total da empresa e, consequentemente, seu valor de mercado. O aumento do custo financeiro, ao ser repassado aos preços, pode reduzir as vendas, o que reflete no resultado financeiro para a próxima etapa operacional, ou seja, o desempenho do risco financeiro impacta no resultado do risco operacional, e vice-versa. 1.2. AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCOS Rating significa avaliação, nota, grau, classificação. Empresas, investidores e até mesmo governos, em algum momento, desejam aplicar seu capital em um determina- do ativo financeiro, podendo ser ações de uma companhia, títulos de dívida privados ou governamentais. Com o objetivo de conhecer o risco de que o agente emissor do ativo financeiro não cumpra com o acordado no contrato, os aplicadores buscam in- formações junto a empresas especializadas em avaliar a capacidade de um devedor quitar sua dívida no futuro. Essas empresas especializadas são conhecidas como agências de rating. 91 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Segundo Caouette et al. (2000, p. 75), “agências de rating especializam-se na avaliação da capacidade creditícia de emitentes de títulos corporativos, municipais e nacionais”. Essas empresas são privadas e atuam de forma independente. Elas trabalham para fornecer uma opinião técnica a investidores quanto à capacidade de não receberem os pagamentos previstos em um dado ativo financeiro. Observa-se que a classificação do denominado rating não reflete outros riscos, como de taxa de juros, e no parecer técnico não há recomendações quanto a comprar ou vender títulos em particular (SECURATO, 2007, p. 392). Temos como exemplos de empresas de rating a Standard & Poor’s (S&P), a Moody’s, a Fitch Ratings, a Duff and Phelps, e outras mais. Elas são consideradas as maiores agências de rating nos Estados Unidos, e todas têm representação aqui no Brasil. A mais antiga agência atuando aqui no país é a SR Rating, que, segundo Securato (2007, p. 392), iniciou suas atividades em 1993. Embora possa se pensar que quem paga pelo serviço das agências são aqueles que dese- jam uma opinião sobre o emitente dos ativos financeiros, na realidade, é o contrário: o pa- gamento é feito, principalmente, pelo próprio emitente do ativo. Os emitentes precisam ter a confiança dos investidores quanto a sua solidez no crédito. Por sua vez, a sobrevivência de uma agência de rating está exatamente na sua credibilidade, daí a busca por reputação ba- seada na precisão e na alta qualidade de seus pareceres (CAOUETTE et al., 2000, p. 80). O argumento principal do mercado sobre as agências de ratings é de que elas vão refletir sobre a realidade financeira da empresa. Logo, as agências não têm incentivos em maquiar a situação financeira futura da empresa tomadora de recursos, pois se a indicação for errada o mercado não irá demandar mais os seus serviços, levando-a à falência. Em outras palavras, o rating vale apenas quando é crível. Assim, uma agência de rating se financia cobrando o custo de elaboração do rating (BONE, 2006). Critérios para classificar Os principais tipos de ratings definidos pelas agências internacionais referem-se ao risco soberano, de emissões de títulos de curto e longo prazo e à capacidade financeira. A agência, ao classificar o emissor de um ativo, leva em conta critérios qualitativos e quantitativos. Os primeiros referem-se às estratégias adotadas pelo emissor do título, tais como controle acionário, qualidade da administração, análise do setor em que atua, seus pontos fortes e fracos. Quanto ao critério quantitativo, estes se baseiam nos fundamentos financeiros, ou seja, na atuação do emissor, tais como a qualidade de seus ativos, a estru- tura de capital, a rentabilidade e liquidez do negócio e as operações envolvidas. Os critérios aqui citados referem-se a fatores internos da empresa, pois há ainda os fatores externos a ela, os quais se destacam na análise das agências de rating, o risco- país. Esse risco é a incapacidade de um país em honrar compromissos assumidos junto ao mercado internacional. Esse evento pode fazer com que o país proíba a remessa de moedas para o exterior com objetivo de preservar suas reservas. Nesse contexto, uma empresa situada nesse país, tendo compromissos financeiros com o mercado interna- cional e com condições de honrá-los, fica impedida de fazê-lo. 92 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Agências de rating fornecem o rating soberano, e pergunta-se: este rating é o mesmo do que o risco do país? Resposta: não. Segundo Bone (2006), o rating soberano considera a qualidade do cré- dito do governo nacional de honrar as suas dívidas em moeda doméstica e estrangeira. É um risco geral, enfrentado pelas instituições domiciliadas no país. Contudo, o rating soberano não capta os riscos que se aplicam ao setor privado. Conforme comentado anteriormente, as agências de rating incorporam o risco-país no processo de avaliação do rating da empresa, pois isso pode interferir na qualidade de crédito da empresa emi- tente. Logo, o risco-país, ao ser incorporado ao rating da empresa, mede o impacto de políticas econômicas implementadas pelo governo nacional sobre o ambiente financeiro e comercial da empresa emitente do ativo financeiro. A classificação Quanto à metodologia de classificação, cada agência de rating tem a sua especificida-de; o fator comum é empregar um sistema de letras para identificar a qualidade do cré- dito do emissor. Tecnicamente, as notas são arranjadas em um ranking, simbolizadas por meio de letras e sinais. A melhor qualificação que um emissor pode receber é AAA (para a Moody’s) ou AAA (para a Standard & Poor’s e a Fitch, que usam os mesmos símbolos). Por outro lado, a pior é C (Moody’s) ou D (Standard & Poor’s e Fitch). No quadro a seguir, apresenta-se um resumo de crédito de longo prazo de agências de rating. Observe que as notas são agrupadas segundo o grau para investimento. Em- presas ou país classificados com grau para investimento, independentemente de sua nota no grupo, apresentam baixo risco de inadimplência, e quanto mais alta é sua nota, maior será sua capacidade de quitar suas dívidas. Em oposto, há o grau especulativo, indicando um risco alto de inadimplência. Já o Default revela que a empresa ou país já está com pagamentos em atraso. Cada nota contém subdivisões indicadas por sinais numéricos. Por exemplo, a nota mais baixa do grau de investimento da Moody’s é Baa3. Assim, da menor à maior clas- sificação dentro dessa nota, um país ou empresa recebe Baa3, Baa2 e Baa1. No caso da Standard & Poor’s e da Fitch, que utilizam os mesmos símbolos, a menor nota do grau de investimento é BBB-. Assim, da menor à maior colocação dentro dessa categoria, um país ou empresa pode receber BBB-, BBB e BBB+. Baa3 e BBB- indicam risco de rebaixamento à nota ante- rior. Baa1 e BBB+ indicam grande probabilidade de elevação à próxima nota. O rating mais alto de cada agência não recebe essa subdivisão. Há de se observar que uma em- presa ou governo pode ter sua classificação alterada para melhor ou pior, dependendo da avaliação da agência de rating. 93 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Tabela 01. Classificação de Risco GRUPO MOODY’S STANDART & POOR’S FITCH RATINGS GRAU ELEVADO PARA INVESTIMENTO Aaa Aa1 Aa2 Aa3 A1 A2 A3 AAA AA+ AA AA- A+ A A- AAA AA+ AA AA- A+ A A- GRAU MÉDIO PARA INVESTIMENTO GRAU BAIXO PARA INVESTIMENTO GRAU DE TÍTULOS ESPECULATIVOS Baa1 Baa2 Baa3 Ba1 Ba2 Ba3 B1 B2 B3 Caa1 Caa2 Caa3 Ca C BBB+ BBB BBB- BB+ BB BB- B+ B B- CCC+ CCC CCC- CC C BBB+ BBB BBB- BB+ BB BB- B+ B B- CCC+ CCC CCC- CC C DEFAULT (INADIMPLÊNCIA) - SD D DDD D Fonte: Adaptado de Oliveira & Ribeiro (2006). As agências de classificação acabam dessa maneira contribuindo para que os inves- tidores possam dosar o nível de risco de seus investimentos, sempre buscando um equilíbrio entre o risco e o retorno. Quanto mais arriscado for um investimento, maior será o retorno exigido e vice-versa. É sempre importante ter em mente que é necessário assumir certo nível de risco para obter um retorno minimamente razoável. 94 3 Gestão de riscos e Custos empresariais 1.3. RELAÇÃO RISCO × RETORNO Apesar do perigo que as situações de mudanças e incertezas traziam, os seres huma- nos perceberam que os frutos colhidos, ou os benefícios obtidos por essa exposição ao risco, poderiam ser interessantes e apresentar resultados compensatórios. Ou seja, as incertezas ou perigos são inerentes aos riscos, e os resultados materializam a possibi- lidade de retorno. Além disso, observaram também que, em determinadas ocasiões, alguns comporta- mentos se replicavam quando submetidos a situações semelhantes. Dessa forma, a probabilidade de um fato se repetir era real e mensurável. Hong (2003) trata o risco × retorno de forma sistemática e desenvolve um modelo di- nâmico em que destaca: a) experiência com perdas internas; b) ambiente de controle interno estruturado; c) avaliação do risco inerente aos segmentos/business e estratégia; d) controles financeiros oportunos; e) avaliação dos impactos internos causados pelos eventos externos. Além desses aspectos, é importante que se perceba que a relação risco × retorno deve levar em conta as variáveis que influenciam o ambiente, e que muitas vezes as incerte- zas dos riscos podem ser mitigadas. Mitigadas – termo habitualmente utilizado quando se trata sobre gestão de risco. Tem o sentido de diminuir, moderar, reduzir. No dicionário Michaelis a definição para mitigar é: amansar, tornar brando, adoçar, aliviar, suavizar, acalmar, atenuar, diminuir (MICHA- ELIS, 2016). A abordagem sobre risco × retorno vem sendo aprimorada ao longo do tempo. Os con- teúdos envolvendo probabilidade ganharam destaque nas décadas de 1970 e 1980, com os estudos de modelos como Black & Scholes, avaliando risco × retorno no merca- do de ações a partir de intervalos confiáveis (HONG, 2003). Com relação a incerteza e risco, segundo Assaf Neto (2001), em se tratando de deci- sões financeiras, não há certeza quanto aos resultados da ação, uma vez que essas decisões se fundamentam no futuro, o que evidentemente é incerto por natureza. Exis- tindo incerteza quanto aos resultados de uma ação (evento) que se deseja tomar, bus- cam-se então formas de reduzi-la. Podemos, por meio de métodos estatísticos, atribuir probabilidades aos diversos resultados previstos para o evento. Nessas condições, a decisão a ser tomada deixa de ser incerta para estar sob uma situação de risco. Assim, segundo o autor, “risco pode ser entendido pela capacidade de se mensurar o estado de incerteza de uma decisão mediante o conhecimento das probabilidades associadas à ocorrência de determinados resultados” (ASSAF NETO, 2001, p. 254). Ou seja, quando se há incerteza plena, não há condições de emprego de conceitos de probabilidade para avaliação do evento. A rentabilidade é uma variável em que o investidor presta uma especial atenção quando está decidindo no que investir, isto é, haverá ganho ou perda na sua aplicação. Pode- mos, dessa forma, medir a rentabilidade pela taxa de retorno, que, segundo Gitman 95 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co EXEMPLO (2006, p. 184), “é o ganho ou a perda total sofrida por um investimento em certo perí- odo”. Assim sendo, o cálculo da taxa de retorno Rt, de qualquer ativo no período t, é definido como: Em que: Rt = taxa observada, esperada ou exigida de retorno durante o período t; Ct = fluxo de caixa recebido com investimento no ativo no período de t-1 a t; Pt = preço (valor) do ativo na data t; Pt-1= preço (valor) do ativo na data t-1. Uma indústria de alimentos deseja determinar a taxa de retorno de duas máquinas para em- balagens, X e Y. A máquina X foi comprada há um ano por $ 22.000 e tem atualmente valor de mercado de $ 23.500; durante o ano, gerou receitas de $ 1.100 após o imposto de renda. A máquina Y foi adquirida quatro anos atrás por $ 14.000, e seu valor, no ano que acaba de terminar, é de $ 13.800; durante o ano, gerou $ 2.000 de receitas após o imposto de renda. Qual a taxa de retorno anual para cada uma das máquinas? Máquina X: Máquina Y: Rt = 1.100 + 23.500 - 22.000 x100 = 11,82% a.a 22.000 Rt = 2.000 + 13.800 - 14.000 x100 = 12,86% a.a 14.000 Nesse exemplo, o fluxo de caixa gerado fez toda a diferença, pois mesmo havendo perda por conta da depreciação na máquina Y, esta forneceu um fluxo de caixa superior à máquina X, mais nova. Portanto, por haver condições, é importante medir o impacto conjunto do fluxo de caixa e das variações de valor, para obter a taxa de retorno. Resumindo: O que é risco? É a probabilidade da ocorrência de um evento não esperado e que resulte, de forma direta ou indireta, em prejuízos financeiros. 96 3 Gestão de riscos e Custos empresariais EXEMPLO FIQUE ATENTO: O risco tem que ser proporcional ao seu retorno. 1.4. GESTÃO DE RISCO Gestão de risco envolve muitas perspectivas. O ambiente no qual se está inserido tem um peso relevante nessa análise. As dimensões internas e externas são essenciais nesse processo, pois a relaçãocom o meio ao mesmo tempo influencia e é influenciada, e direciona as decisões a serem tomadas. Uma vez identificados os riscos do ambiente, é necessária uma adaptação para a re- alidade empresarial. A partir dessa adequação, estabelece-se a base para determinar caminhos e estratégias e analisar ameaças e oportunidades. As decisões acontecem no mundo real, sujeito às regulamentações e demais condições de um cenário complexo e exigente (ASSAF NETO; 2005). A gestão de risco é um campo relativamente recente nos estudos sobre planejamento empresarial. Do lado da gestão, guarda relação com as estratégias emergentes men- cionadas por Mintzberg (1979), tanto pela percepção de risco por parte do estrategista, que envolve o aspecto cognitivo, quanto o planejamento – se é possível dizer desta forma – para atender situações contingenciais. Medidas de posição central São medidas que revelam o centro de uma distribuição de valores, tanto os relativos aos dados de uma população como os extraídos de uma amostra. Média aritmética Média aritmética é a razão entre a soma dos dados assumidos pela variável e o núme- ro de dados considerados. Dessa forma, uma variável X que assume valores X1, X2, X3,..., XN terá a média aritmética dos dados extraídos de uma população simbolizada por ?x: Qual o valor médio dos seguintes títulos? $ 125,00, $ 150,00, $ 135,00, $ 120,00, $ 140,00, $ 110,00, $ 1.000,00, $ 100,00, $ 100,00. Note que todos os dados, menos um, estão no intervalo [$ 100,00-$ 150,00], e o valor obtido para a média está “bem afastado” desse intervalo. Ocorre que a média, apesar de levar em conta todos os elementos da amostra, é bastante sensível a valores muito grandes ou muito pequenos. No caso do exemplo, o valor $ 1.000,00 inflacionou a média. Quando os dados são extraídos de uma amostra, a fórmula da média aritmética é represen- tada por: Isto é, os valores são divididos por n, o número de elementos extraídos de uma amostra. X é a letra representativa da variável em estudo, podendo ser outra qualquer, por exemplo, Y, W, Z etc. Fórmula: 97 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Mediana A mediana representa o valor que divide a distribuição em dois conjuntos com o mesmo número de elementos. Vamos conhecer o processo para o cálculo da mediana de dados não agrupados. Con- sidere a série de valores 4, 12, 10, 3, 15, 5, 14, 8, 7. A mediana será facilmente identi- ficada após organizarmos os dados em ordem crescente: 3, 4, 5, 7, 8, 10, 12, 14, 15. Observe então os dados. Você consegue ver o valor que está na posição central e que há o mesmo número de elementos à esquerda e à direita dele? O valor é o número 8, logo a mediana é oito (Md = 8), pois temos quatros valores abaixo e quatro valores acima dele. Observe que no exemplo havia nove valores, em número ímpar, portanto, estando os dados em ordem crescente, a mediana será o termo central da distribuição dos valores. Então, podemos afirmar que 50% dos valores encontram-se abaixo e acima de oito. Estando os dados ordenados e havendo um número ímpar de dados, a mediana será justamente o termo central. E se tivermos um número par de dados? Se houver um número par de dados, teremos dois termos centrais e a mediana será, por convenção, a média aritmética entre os valores correspondentes aos termos centrais. Exemplo: Considere a série de valores 6, 4, 10, 5, 12, 3, 20, 7. Vamos calcular a mediana: Existem oito dados e como há um número par de deles, temos dois termos centrais. Observe, após a ordenação: Os termos centrais são 6 e 7, logo a mediana será Md = 6,5. Então podemos dizer que, se a série possui n elementos, teremos: ` Se n for ímpar, existe um termo central no conjunto de dados ordenados. Esse termo cen- tral será justamente a mediana, que será calculada como o termo de ordem: 98 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Na série 3, 4, 5, 7, 8, 10, 12, 14, 15, temos n = 9 (impar), então, o termo central é: Portanto, o 5o termo dos dados é a mediana Md = 8 ` Se n for par, existe dois termos centrais no conjunto de dados ordenados. Os termos centrais são: Na série 3, 4, 5, 6, 7, 10, 12, 20 temos n = 8 (par), logo os termos centrais são: Se o 4o termo é igual a 6 e o 5o termo igual a 7, a mediana é: Moda Moda é o valor mais frequente na distribuição dos dados. Considere a série 4, 2, 6, 4, 3, 5, 7, 9, 4, 10, 8, 4, 3, 2, 4. A moda, no caso, é Mo = 4, pois esse é o valor mais frequente, ou seja, o que mais aparece na série. Medidas de dispersão A média aritmética é uma medida útil para definir um conjunto de dados, pois a série toda se resume em um único número. Porém, por conta desse resumo, encontramos uma questão: a média calculada representa bem os valores dos quais ela foi obtida? Em outras palavras, os dados estão concentrados em torno da média ou dispersos em torno dela? Vejamos um exemplo: três turmas de alunos fazem uma prova: 99 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Tabela 02. T TURMA NOTAS ALUNOS A 4 5 5 6 6 7 7 8 B 1 2 4 6 6 9 10 10 C 0 6 7 7 7 7,5 7,5 0 Os alunos das três obtêm nota média igual a seis (verifique!). Pergunta-se: qual turma teve o melhor desempenho? Para responder, surgiram as medidas de dispersão: variância, o desvio padrão e o coe- ficiente de variação. Veremos a seguir. Variância A variância é uma medida de dispersão que considera o quadrado dos desvios em torno da média aritmética. Fórmula: Como exemplo de cálculo, vamos usar os dados da turma A, apresentado anteriormen- te, e vamos construir uma tabela auxiliar: Tabela 03. T NOTAS (XI) (XI-X) (XI-X)2 4 -2 4 5 -1 1 5 -1 1 6 0 0 6 0 0 7 1 1 7 1 1 8 2 4 TOTAL 48 0 12 MÉDIA SIMPLES (X) 6 - - 100 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Assim, temos: N = quantidade de itens (quantidade de notas da turma) Temos, então, de decidir com o valor 1,50 o grau de dispersão da média seis em relação às notas dos alunos da turma A, ou seja, existe uma variação nas notas de 1,5 pontos. Surge, porém, um problema com a variância. Sua unidade de medida não é a mesma que a da média. Por exemplo, se a unidade de medida da média é Kg, então na vari- ância seria Kg2, o que não significa absolutamente nada. Então, surge o desvio padrão para corrigir esse problema. Desvio padrão O desvio padrão é amplamente utilizado nos estudos de estatística, porque ajuda a enxergar distorções que podem existir ao calcular uma média simples. O desvio padrão mede a variação (grau de dispersão) de um conjunto de valores em relação a sua média (ASSAF NETO, 2008). O desvio padrão nada mais é do que a raiz quadrada da variância: Fórmula: No exemplo teríamos: Esse valor revela a dispersão da média seis em relação as notas dos alunos da turma A. As turmas B e C apresentam, respectivamente, os seguintes desvios padrão: O desvio padrão, então, é uma medida indicadora da dispersão dos valores em torno da média; assim, considera-se como medida de risco a variabilidade dos retornos em torno do valor esperado. Essa variabilidade é conhecida no mercado financeiro como volatilidade e é medida pelo desvio padrão. Um desvio padrão alto significa maior risco (maior volatilidade) e, consequentemente, menor a confiança nos possíveis resultados associados a um investimento. 101 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Probabilidades × riscos Desde muito cedo, aprende-se que existe um preço pelas decisões tomadas. Em todos os momentos temos escolhas a fazer, caminhos a optar e decisões a tomar. Riscos estratégicos se referem aos direcionamentos que uma empresa estabelece quando elabora seu planejamento, considerando os investimentos a serem realizados, o ambiente empresarial e a expectativa de retorno ao longo do tempo. A análise do risco estratégico considera as probabilidades de erros possíveis, baseadas no planejamento escolhido e métodos adotados. Por isso, ao elaborar um projeto,é fundamental avaliar as mais diversas condições, conjecturar diferentes cenários, consi- derar a dinâmica dos clientes, fornecedores, concorrentes, governo, classe política, leis e regulamentações. O Hong (2014) declara porque as micro e pequenas empresas fecham. As principais causas são: a) falta de planejamento prévio; b) má gestão empresarial; c) ausência de comportamento empreendedor. Todos esses motivos revelam que tanto a concepção como a gestão de uma empresa (neste estudo, pequenas e médias, mas pode ser projetado também para as grandes) são decisivas. Prever e controlar esses riscos estratégicos são condições primordiais para o sucesso de qualquer negócio. Com certeza você já deve ter realizado o lançamento de uma moeda que pode resultar em cara ou coroa. Então, qual seria a chance de obtermos a face cara? Qual a probabilidade de tirar cara duas vezes consecutivas? Poderiam surgir dúvidas a respeito de como calcular as possibilidades de determinados resultados ocorrerem. De outra forma, será que diferentes tipos de eventos exigem ma- neiras distintas para calcular a probabilidade? Primeiramente, podemos dizer que probabilidade significa a chance de ocorrência de determinado evento, isto é, sinônimo de chance. Logo, ela pode ser encarada como uma medida de incerteza para fenômenos aleatórios. Assim sendo, a probabilidade se traduz por um número real, compreendido entre 0 e 1 ou entre 0% e 100%. No entanto, a noção de probabilidade vai muito além e pode ser utilizada para a previsão de produção de milho para o próximo ano, a constatação de falha mecânica em um sistema de prevenção contra vazamento em uma usina nuclear, a avaliação do impacto de uma redução no número de funcionários de determinado setor de uma empresa, entre outros diversos fins. Na ciência, independentemente da área do conhecimento, existem relações que não são apenas de causa e efeito (determinísticas). Especificamente falando, na Física, por exemplo, inicialmente acreditava-se que fosse possível predizer o futuro do universo a partir da velocidade e da direção de cada átomo. No entanto, a incerteza dos movimen- tos dos elétrons foi observada pelo físico Heisenberg, que refutou essa hipótese. Já em uma linha de produção, qual seria a probabilidade de encontrarmos determinado item produzido com defeito? 102 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Probabilidade, segundo Assaf Neto (2005) é a possibilidade (chance), normalmente expressa em porcentagem, de ocorrer um evento. O autor destaca duas formas para definir estas incertezas: ` Probabilidade objetiva – possibilidade baseada em um histórico passado, como a ocor- rência de peças com falhas em uma linha de produção levando em conta o histórico de defeitos passados. ` Probabilidade subjetiva – possibilidade de ocorrer eventos novos, sem nenhum registro anterior, como a chance de o lançamento de um produto novo agradar o público. Mesmo com pesquisas de hábitos e testes, o resultado pode ser diferente do esperado. 2. MERCADO FINANCEIRO O mercado financeiro permite o encontro entre credores e devedores ao alocar os recur- sos existentes na economia, isto é, possibilita que investidores com recursos financeiros excedentes os transfiram para aqueles que precisam, em troca de uma remuneração. Um dos papéis do mercado financeiro é estimular a formação de poupança, que possi- bilita o crescimento de longo prazo dos países, pois os recursos aplicados pelos investi- dores individuais, bancos e demais instituições são destinados, em certa proporção, ao financiamento das atividades produtivas. Desse modo, segundo Hong (2003), empre- sas que desejam ampliar sua estrutura ou adquirir novas companhias podem recorrer ao mercado financeiro para angariar fontes de recursos para tais investimentos. Em economia, longo prazo é o período de tempo no qual os fatores de produção não são fixos, ou seja, é o tempo necessário para que, por exemplo, as empresas possam adquirir subsidiárias ou aumentar a produção por meio de uma nova linha. Para tanto, as organizações podem buscar, por exemplo, o mercado de capitais, que consiste em um sistema de distribuição de valores mobiliários emitidos por empresas e é formado por diversos participantes, como as corretoras de investimento, bolsas de valores, empresas emissoras e investidores físicos e institucionais. Nesse mercado, as companhias distribuem títulos cuja remuneração é predeterminada ou vendem uma parcela de participação em si mesmas, também chamada de ação. O fluxo de recursos monetários é denominado mercado financeiro. Conforme Oliveira, Galvão e Ribeiro (2007, p.14), “mercado financeiro pode ser entendido como o conjunto de intermediários e demais prestadores de serviços financeiros (auxiliares financeiros) que possibilitam a transferência de recursos dos agentes superavitários para os agentes deficitários) ”. Dessa forma, o mercado financeiro é constituído não somente dos agen- tes superavitários, deficitários, instituições intermediárias, mas também de instrumentos financeiros que possibilitam a transferência de recursos (SECURATO, 2007, p. 26). Assim, o mercado financeiro permite operações de captação e aplicação de recursos em prazos, volumes e moedas diversos, negociados direta e indiretamente pelo parâ- metro da taxa de juros, que funciona praticamente como moeda de negociação. Nesse contexto, é importante entender sobre a segmentação do mercado financeiro, pois esses segmentos se confundem, uma vez que inúmeras operações financeiras in- 103 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co teragem (ASSAF NETO, 2001, p. 95). No estudo sobre mercado financeiro, com relação ao fluxo de recurso monetário que depende do interesse dos agentes, conforme a ótica da natureza das operações, podemos visualizar os seguintes segmentos: ` Mercado monetário: contempla as operações de curto e curtíssimo prazo, proporcio- nando agilidade e controle rápido da liquidez da economia e das taxas básicas de juros desejadas pela política econômica das autoridades monetárias. Os papéis mais negociados nesse mercado são os emitidos pelo Banco Central do Brasil, com objetivo de promover a política monetária do Governo Federal e pelo Te- souro Nacional. Tem como objetivo o financiamento do déficit público. Nesse ambiente também se negocia os certificados de depósitos interfinanceiros (CDI), exclusivos das instituições financeiras, e também os certificados de depósito bancário (CDB) e as de- bêntures. Os títulos negociados no mercado monetário são parâmetros para a formação da taxa de juros básica da economia. ` Mercado de crédito: atuam nesse mercado diversas instituições financeiras e não fi- nanceiras, prestando serviços de intermediação de recursos de curto e médio prazo para agentes deficitários que necessitam de recursos para consumo ou capital de giro. ` Mercado cambial: relativo às operações de conversão da moeda de um país pela de outro, em função, principalmente, do comércio internacional. ` Mercado de capitais: tem como objetivo canalizar recursos de médio e longo prazos para agentes deficitários, por meio das operações de compra e de venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre empresas, investidores e intermediários. As operações nor- malmente realizadas nesse mercado são ações e debêntures. Nesse sentido, o mercado de ações, que é um segmento do mercado de capitais, é um dos mais importantes para o crescimento do país, pois nele as empresas podem buscar recursos por meio da estrutura societária, ou seja, é possível captar recursos no aporte de novos sócios. 2.1. MERCADO DE CAPITAIS O mercado de capitais se caracteriza por ser um ambiente em que se negociam opera- ções financeiras de médio e longo prazos, sendo que os recursos da natureza podem ser obtidos por empresas com o capital aberto, isto é, sociedades por ações. Para iniciar a explicação de mercado de capitais, é necessário relembrar o Sistema Financeiro Nacionalque já vimos na Unidade 2, composto por órgãos normativos, entidades supervisoras e entidades operadoras do sistema. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) se destaca como o órgão regulador e fiscalizador desse mercado e entre suas diversas atribuições lembramos: a) estimular a aplicação de poupança no mercado acionário; b) garantir o fun- cionamento eficiente e regular das bolsas de valores e instituições auxiliares que operam nesse mercado; c) proteger os titulares de valores mobiliários contra emissões irregulares e outros tipos de atos ilegais que manipulem os preços de valores mobiliários nos merca- dos primários e secundários; d) fiscalizar a emissão, registro, distribuição e negociação de títulos emitidos pelas sociedades anônimas de capital aberto. Do exposto, distinguimos nos itens 3 e 4 os seguintes agentes: investidores e as em- presas emitentes de ações. Quanto às entidades e agentes operadores de que trata o 104 3 Gestão de riscos e Custos empresariais item 2, destacamos as bolsas de valores e as instituições auxiliares, identificadas como: sociedades corretoras, sociedades distribuidoras, bancos de investimentos e agentes autônomos, que veremos nos tópicos a seguir. ` Bolsa de valores: segundo a Resolução CMN 2.690/2000, bolsas de valores são asso- ciações civis, sem fins lucrativos ou sociedades anônimas e com funções de interesse pú- blico, que possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa. Elas estão sujeitas à supervisão da CVM e obedecem às diretrizes e políticas emanadas do CMN. Essas instituições devem manter um local adequado ao encontro de seus membros e têm como principais atribuições: a) oferecer um mercado para a cotação dos títulos e valores mobiliários neles registrados; b) orientar e fiscalizar os serviços prestados por seus membros; c) facilitar a divulgação constante de informações sobre as empresas e sobre os negócios que se realizam sob seu controle; d) propiciar liquidez às aplicações de curto e longo prazos, por intermédio de um mercado contínuo, representado por pregões diários. A atual legislação confere às bolsas de valores o poder de autorregulação, o que per- mite criar normas e procedimentos para os agentes que nelas atuam, além de fiscalizar o cumprimento dessas normas. As bolsas podem, inclusive, aplicar penalidades como: advertência, multa, suspensão e exclusão e inabilitação para o exercício de certas fun- ções na bolsa ou em corretoras (CAVALCANTE, MISUMI, RUDGE, 2009). As bolsas de valores atuam com diversos tipos de mercados. No mercado à vista são realizadas operações com liquidação financeira imediata, ou em um prazo bastante curto (três dias). No mercado a termo, opções e futuros, cada um possui características próprias de funcionamento e tem liquidação processada em um prazo maior. Em resumo, bolsas de valores dão liquidez e transparência aos negócios, permitindo que mesmo pequenos investidores tenham acesso a informações importantes para a tomada de decisão. ` Bolsas de mercadorias e de futuros: são instituições voltadas para organizar e ope- racionalizar um mercado livre e transparente que proporcione aos agentes econômicos negociações com mercadorias. Sua função é criar condições de proteção (hedge) contra flutuações de preços das mais variadas mercadorias (commodities), tais como: produtos agropecuários, taxas de juros, taxas de câmbio, metais, índices de ações e de conjuntura, ou seja, qualquer variável macroeconômica cuja incerteza quanto ao preço futuro possa influenciar negativamente a atividade econômica. Esse mercado é conhecido generica- mente como mercado de derivativos, que significa ativos que derivam de outro ativo. No Brasil temos como representante a Bolsa de Mercadoria e Futuro (BM&F), que, em 2007, se associou à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), criando assim a sigla BM&F Bovespa. Estatutariamente são sócias, mas operacionalmente cada uma mantém suas características de origem. As operações no mercado futuro apresentam as seguin- tes características: i) padronização dos critérios dos contratos, ou seja, não é possível negociar condições específicas fora do padrão; ii) grande liquidez, sendo possível mudar de posição comprada para vendida, e vice-versa, com flexibilidade; iii) caráter público das informações das negociações, como preço e quantidade histórica, preservando os dados dos negociantes; iv) exigência de uma margem de valor depositada, para que os 105 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ajustes em caixa sejam realizados; v) o preço de ajuste corre diariamente, não no final do contrato. A BM&F Bovespa é atualmente a única bolsa de valores em operação no Brasil. Embora importante, pois o país tem representatividade econômica mundial, e seja a maior da América Latina, não está entre as principais bolsas do mundo. ` Mercado de balcão: existe a possibilidade de negociar títulos sem a obrigação de estar re- gistrado na bolsa de valores. Neste caso essas operações ocorrem no mercado de balcão, denominação que caracteriza ausência de um lugar físico para realizar suas atividades, pois os negócios são geralmente feitos mediante contatos telefônicos. Enquanto as negociações efetivadas em bolsas de valores são consideradas operações no mercado organizado, as realizadas no mercado de balcão são tidas como mercado não organizado. ` Sociedades corretoras: são instituições financeiras constituídas como sociedades anô- nimas ou sociedades por quotas de responsabilidade limitada. São devidamente creden- ciadas pelo Banco Central do Brasil, pela CVM e pelas próprias bolsas de valores, e estão habilitadas a negociar valores mobiliários em pregão. Sua principal função é promover a aproximação entre compradores e vendedores de títulos e valores mobiliários. As corretoras podem ser definidas como intermediárias especializadas na execução de ordens e opera- ções por conta própria e determinadas por seus clientes, além da prestação de uma série de serviços a investidores e empresas, tais como: a) diretrizes para seleção de investimen- tos; b) intermediação de operações de câmbio; c) assessoria a empresas na abertura de capital, emissão de debêntures e debêntures conversíveis em ações, renovação do registro de capital etc.; d) as sociedades corretoras contribuem para um fundo de garantia, mantido pelas bolsas de valores, com o propósito de assegurar a seus clientes eventual reposição de títulos e valores negociados em pregão, e atender a outros casos previstos pela legislação. ` Sociedades distribuidoras: são firmas constituídas como sociedades anônimas ou por quotas de responsabilidade limitada. São devidamente credenciadas pelo Banco Central do Brasil. Suas atribuições básicas, segundo Cavalcante, Misumi e Rudge (2009) são: a) subscrever, isolada ou por consórcio, emissões de títulos ou valores mobiliários para revenda. Intermediar a colocação de emissões no mercado. Contratar com o emitente, a formação de preços de títulos no mercado no período de lançamento e colocação de emissão; b) encarregar-se da venda à vista, a prazo, de títulos e valores mobiliários por terceiros; c) operar no open market (mercado aberto), desde que autorizado pelo Banco Central do Brasil; d) instituir, organizar e administrar fundos e clubes de investimentos. ` Agentes autônomos: são pessoas físicas devidamente credenciadas pelas instituições financeiras intermediárias (corretoras, distribuidoras, bancos e financeiras) para atuar na colocação de títulos, valores mobiliários e serviços financeiros junto ao público. São pro- fissionais fiscalizados pelo Banco Central do Brasil e pela CVM. ` Bancos de investimentos: são os grandes provedores de crédito de médio e longo pra- zos para as empresas. Eles atuam tanto no mercado primário quanto no secundário, com operações de maior escala, por meio de repasses de recursos oficiais captados no exte- rior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e debêntures)e outras operações, além de serem agentes de custódia de títulos, administração de carteiras, avais, fianças etc. 2.2. MERCADO PRIMÁRIO E MERCADO SECUNDÁRIO O mercado primário é aquele que organiza a emissão de valores mobiliários, isto é, a emissão de ações ou outros valores mobiliários nesse mercado serve para a empresa 106 3 Gestão de riscos e Custos empresariais captar recursos dos investidores, de modo a financiar seus projetos, fazer investimentos, entre outras coisas. Esses recursos obtidos entram para o caixa da empresa. Segundo Oliveira, Galvão e Ribeiro (2007, p. 214), “mercado primário é onde o governo (obriga- ções da dívida) e as empresas (ações, debêntures) fazem a venda de títulos novos”. Após a venda, com as ações já sob a posse de investidores, estes podem negociá-las no mercado secundário durante o tempo que desejarem. Mercado secundário é, portanto, um ambiente no qual os investidores ou acionistas transacionam ações de sua titularidade, ou seja, é o mercado em que é possível comprar e vender ações já emitidas e em circulação. Essa é a forma mais conhecida e utilizada para se comprar ações no mercado financeiro. Apesar de as negociações das ações no mercado secundário serem, em sua maioria, realizadas na bolsa de valores, seu conceito é mais amplo e abrange toda e qualquer operação envolvendo ações já existentes, já emitidas e detidas por um determinado acio- nista. Assim, além das bolsas, o termo “mercado secundário” engloba também qualquer compra ou venda realizada em pregão eletrônico, bancos, corretoras de valores ou em negociação direta entre acionistas, celebrada por meio de um contrato de compra e venda (BM&F Bovespa, 2020). Para reforçar o entendimento sobre mercado primário e secundário, tomemos como exemplo a compra de um imóvel que acabou de ser construído. Quando um comprador o adquire diretamente da construtora, ele está fazendo uma aquisição no mercado primário, isto é, ele se torna o primeiro proprietário e o dinheiro dessa venda vai para a construtora. Quando, algum tempo depois, o imóvel é vendido, a venda ocorre no mercado secundário e o dinheiro da operação vai para o atual proprietário do imóvel. O mercado primário tem, na verdade, uma vida útil que inicia com a decisão de emissão das ações e que encerra quando elas são efetivamente vendidas. A empresa, ao abrir seu capital, recebe permissão para negociar suas ações na bolsa e o faz no mercado primário. Depois disso, há um mercado secundário que possibilita negociá-las durante um tempo indeterminado, criando liquidez e valor para as ações da organização. Um problema para uma companhia na emissão de novas ações é quanto à definição do preço adequado de emissão, pois não há histórico de preço, uma vez que nunca foram negociadas. Segundo Oliveira, Galvão e Ribeiro (2007, p. 215), o mercado secundário facilita a solução desse problema por meio da cotação de preços. Nesse ambiente, a cada minuto é apurado o preço de ações e, dessa forma, o mercado secundário é um parâme- tro de valor para sua emissão em função das cotações daquelas lá negociadas. Existem duas formas de determinar o preço de oferta: ` Preço predeterminado, no qual a oferta da ação é feita sobre preço fixo para certa quan- tidade de ações, o que pode desequilibrar o mercado se não for bem avaliada. É um procedimento muito comum na Europa. ` Realização de um leilão em que o preço é ajustado entre a oferta e a demanda. Esse mé- todo é conhecido como bookbuilding, um processo de formação de preços, normalmente através de um leilão de oferta, que auxilia na definição da remuneração e outras carac- terísticas de títulos e valores mobiliários, de forma a refletir as condições de mercado por ocasião de sua efetiva colocação à venda. Trata-se de um procedimento muito comum nas Bolsas no mundo. 107 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Em resumo, o mercado primário permite a capitalização para o emissor de valores mobiliários. É o mercado no qual é feita a primeira colocação de títulos, tanto públicos (governo) como privados (companhias abertas), que com os recursos obtidos capitali- za os emissores, permitindo financiar seus projetos de expansão para capital de giro ou outras formas. Por exemplo: a) subscrição de ações: venda de ações de qualquer banco; b) oferta de títulos do governo por meio de leilões, para financiamento de suas despesas correntes (LFT, LTN, NTN). O mercado secundário, por sua vez, possibilita a transferência de títulos entre os inves- tidores e/ou instituições participantes. Ele proporciona liquidez aos títulos emitidos no mercado primário, pois permite que investidores decidam se desejam manter a posse ou vender os títulos adquiridos. Segundo Kerr (2011, p. 94), “não se pode minimizar a importância do mercado secundário, pois qualquer potencial investidor pensaria duas vezes antes de investir em uma empresa, se não pudesse se livrar do investimento depois”. O mercado secundário, em suma, é o termômetro do valor dos ativos lá nego- ciados em função da dinâmica de compra (demanda) e venda (oferta) lá presente. 2.3. AÇÕES Ações são títulos de renda variável, emitidos por empresas de sociedade anônima que representam a menor fração do capital da empresa emitente. O detentor da ação é um acionista, e não um credor da empresa emitente, e, portanto, é proprietário com direito a participação nos resultados da empresa proporcionalmente à quantidade de ações que possui. Ações em geral não possuem prazo de resgate e normalmente são negocia- das em mercados organizados de balcão e bolsas de valores. Para adquirir ou vender ações, é necessária a intermediação dos agentes financeiros devidamente autorizados, sendo comum o emprego das corretoras de valores. Os preços das ações são divulgados diariamente na mídia impressa, em revistas espe- cializadas e hoje com a internet é possível acompanhar suas cotações praticamente em tempo real. As ações se dividem em: ` Ordinárias: ações que conferem ao detentor participação nos resultados da companhia e direito ao voto na Assembleia Geral Ordinária (AGO), isto é, reunião na qual participam to- dos os acionistas ordinários e indicam os membros do Conselho de Administração. Cada ação ordinária corresponde a um voto nas deliberações da Assembleia; dessa forma, o detentor das ações pode influenciar o destino da empresa. A AGO é a maior autoridade em uma empresa S/A, pois ela decide o destino dos lucros, as contas patrimoniais, elege os diretores e faz alterações estatutárias. ` Preferenciais: são ações que dão ao proprietário a preferência e prioridade na parti- cipação na distribuição de resultados e reembolso de capital no caso de dissolução da sociedade. O acionista preferencial não tem, entretanto, direito a voto na AGO. Para ele, o lucro é mais importante que o controle. Segundo Oliveira, Galvão e Ribeiro (2006), se no estatuto da empresa não foram defi- nidos dividendos fixos ou mínimos, a Lei n. 9.457/97 garante ao acionista preferencial o mínimo de 10% maior do que o pago às ações ordinárias. Empresas brasileiras, se- gundo os autores, pagam o dividendo mínimo previsto em lei de 25% do lucro líquido. 108 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Salienta-se que, em caso de não distribuição de resultados por três exercícios consecu- tivos, as ações preferenciais adquirem direito de voto. Segundo Assaf Neto (2001, p. 211), sendo uma ação um título de renda variável, seu resultado tanto pode fornecer ganho para o investidor como perda. O resultado é em função de diversas variáveis: desempenho da empresa emitente, condições do merca- do e conjuntura econômica. Uma ação oferece três formas de rendimento aos acionistas: ` Dividendos: que representam a parcela da distribuição de lucros obtidos pela empresa, sendo, em geral, pagos em dinheiro. ` Valorização: representa a diferença maior entre o preço de venda e o de compra da ação. A medida para mensurar valorização (ounão) de ação é a taxa de retorno, descrita em nossa primeira aula. ` Direito de subscrição: é o direito que todo acionista tem em adquirir novas ações emi- tidas pela empresa com a finalidade de obter recursos para elevar seu capital social. O acionista tem direito na quantidade proporcional às já possuídas. Ele também poderá transferir o direito de subscrição a terceiros, por venda desse direito em pregão via emis- são do chamado bônus de subscrição. A decisão da empresa em distribuir dividendos trata-se de, nas palavras de Assaf Neto (2001), uma “decisão sobre o lucro líquido da empresa”: tanto pode ser retê-lo, com objetivo de reinvesti-lo na própria empresa, quanto distribuí-lo em forma de dinheiro aos acionistas. O índice de payout mede a porcentagem de lucro líquido distribuída aos acionistas da empresa: Quanto maior for seu valor, menor será a parcela de lucro a ser retida pela empresa, e, ao contrário, sendo baixo o índice de payout, maior é a parcela de lucro retida pela empresa. 2.4. ÍNDICES DE BOLSA DE VALORES Um índice de bolsa de valores mede o desempenho médio dos preços de uma carteira de ações e tem como função principal refletir o comportamento do mercado em determi- nado período. Além disso, serve como parâmetro para avaliar desempenho de carteiras de ações e como instrumento para negociação no mercado futuro. A construção de um índice de ações é personalizada, isto é, podem-se ter diferentes índices atendendo a diversos objetivos. O que caracteriza isso é a metodologia empre- gada para construí-lo. Sua construção considera a seleção das ações que farão parte da carteira, o método de cálculo que combine as oscilações das diferentes ações que integram o índice e o critério de ponderação utilizado para gerar o índice. 109 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co O Ibovespa é o mais importante e conhecido indicador do desempenho médio das cota- ções do mercado de ações brasileiro. Ele retrata o comportamento dos principais papéis negociados na Bovespa. É bastante confiável e tradicional, pois mantém a integridade de sua série histórica e não sofreu modificações metodológicas desde sua implementa- ção, em 2 de janeiro de 1968. Sua finalidade básica é servir como indicador médio do comportamento do mercado. Para tanto, sua composição procura aproximar-se da real configuração das negocia- ções à vista (lote-padrão) na Bovespa. As ações integrantes da carteira teórica do Ibovespa respondem por mais de 80% do número de negócios e do volume financeiro verificados no mercado à vista (lote-padrão) da Bovespa. O Ibovespa apresenta uma metodologia de cálculo simples, e dados à disposição do público investidor asseguram grande confiabilidade. Isso é constatado pela aprovação do mercado, traduzida pelo fato de o Ibovespa ser o único dos indicadores de desem- penho de ações brasileiras a ter um mercado futuro extremamente líquido. 2.5. MÉTODO DE ANÁLISE FUNDAMENTALISTA A análise fundamentalista busca, basicamente, avaliar a saúde financeira das empre- sas, projetar seus resultados futuros e determinar o preço justo para as suas ações. Segundo Kerr (2011), ela tem como fundamento as ações e títulos que representam a menor fração em que se subdivide o capital de uma empresa; dessa forma, nada mais correto do que analisar a empresa emitente da ação. Para isso, os analistas levam em consideração os chamados fundamentos da empresa, isto é, todos os fatores macro e microeconômicos que influenciam no seu desempenho. A partir de uma minuciosa análise de todos eles, é possível projetar os resultados da companhia no longo prazo. A análise fundamentalista leva em consideração eventos internos e externos à empre- sa. Como fonte principal de consulta para identificar os efeitos de eventos internos à empresa estão os demonstrativos contábeis, que, obrigatoriamente, as empresas lista- das na BM&F Bovespa são obrigadas a divulgar. Já os eventos externos à empresa dizem respeito a variáveis econômicas (PIB, câmbio, inflação etc.) e governamentais (política, legislação, imposto etc.) que podem afetar o desempenho da empresa. Em verdade há uma quantidade enorme de dados que po- dem ser empregados pelos analistas adeptos dessa técnica; assim, é comum analistas fundamentalistas se especializarem em uma empresa ou no máximo em um setor eco- nômico (KERR, 2011). Essa metodologia busca determinar o preço justo de uma ação. Mas o que é preço justo? Preço justo de uma ação não é o preço da ação na bolsa; este é o preço de mercado. Ele reflete a expectativa entre compradores e vendedores, tratando-se de uma avalia- ção individual. Por exemplo: 110 3 Gestão de riscos e Custos empresariais ` Investidor A acha que o seu terreno vale $ 1.000. ` Investidor B avalia o terreno de A em $ 800. ` Investidor C avalia o terreno de A em $ 1.200. ` Investidor B não se interessa pelo terreno de A. ` Investidor C se interessa pelo terreno de A. Similarmente, na de bolsa de valores, o mesmo ocorre com as ações. Suponha que a ação esteja cotada em $ 100. ` Ela não será opção de investimento se a cotação estiver acima do preço justo. ` Ela será opção de investimento se a cotação estiver abaixo do preço justo. Nesse contexto os seguintes fatores que determinam o preço justo de uma ação são: a) cus- to de oportunidade da renda fixa; b) prêmio de risco inerente ao investimento na empresa; c) liquidez da ação no mercado secundário; d) geração de resultados e taxa de crescimento. Avaliação por índices Avaliação por múltiplos, segundo Cavalcanti et al. (2009, p. 199), tem a seguinte lógica: calculam-se os múltiplos de várias empresas (preço da ação na bolsa de valores por um parâmetro de avaliação); as ações que apresentarem os menores múltiplos estão su- bavaliadas, o que proporciona retorno em menor tempo. São opções de investimentos. As ações que apresentarem os maiores múltiplos estão superavaliadas, o que leva a ter maior tempo para retorno. São opções de venda. Para isso, empregam inúmeros indicadores, com mais difusão no preço/lucro (P/L), como, por exemplo: ` Valor de empresa sobre Ebitda (VE/Ebitda): relaciona o valor de empresa com sua ca- pacidade de geração de caixa, aferida pelo Ebitda. O valor de empresa equivale ao valor de mercado acrescido de sua dívida líquida, ou seja, o valor pertencente aos acionistas e aquele pertencente aos credores. O valor de mercado, por sua vez, é expresso pela cotação da ação multiplicada pela quantidade total de ações. ` Dividend Yield (DY): indica o quanto a empresa distribui de dividendos a seus acionistas, em percentual sobre o valor de mercado da ação. Fórmula: DY = (valor total dos dividen- dos / cotação da ação) x 100. Ou seja, se uma ação vale 100 reais e a empresa distribuiu, no último exercício, 8 reais em dividendos, o valor do DY será de 8%. Empresas que mantêm um elevado DY possuem papéis de menor volatilidade, já que a maior parte dos retornos ao acionista vem na forma de dividendos, e não pelo aumento no valor da ação. DYs elevados são característicos de empresas em estágio mais maduro de negócios, que não investem pesadamente em expansões no médio prazo. ` Preço por valor patrimonial da ação (P/VPA): indica a relação entre o preço da ação (sua cotação no mercado) e seu valor patrimonial. Fórmula: preço da ação /VPA. Se o resultado for acima de 1, significa que a ação está sobreavaliada pelo mercado. Se for abaixo de 1, indica que está subavaliada. 111 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ` Preço/lucro (P/L): é um dos múltiplos mais importantes da análise fundamentalista. In- dica ao acionista o tempo de retorno do seu investimento, isto é, o número de anos ne- cessários para que o investidor lucre a partir de sua aplicação. Fórmula: preço da ação / Lucro por ação. O Lucro por ação é obtido dividindo-se o Lucro Líquido pela quantidade de ações. Esse múltiplo é um bom indicador de “preço” da ação, pois,simplificadamen- te, quanto menor o P/L, menor o preço. Não se deve, no entanto, comprar uma ação só porque seu preço está “baixo”. Quando se comparam papéis de empresas de um mesmo setor, por exemplo, um P/L mais elevado em relação a uma das companhias indica o oti- mismo do mercado em relação ao seu desempenho. ` Índice de liquidez: mede a capacidade de pagamento da empresa. Dentre vários índices dessa categoria, o principal é o de liquidez corrente, que mede a capacidade de pagamen- to de dívidas de curto prazo. Ele é calculado dividindo-se o Ativo Circulante pelo Passivo Circulante. Em geral, se estiver acima de 1, significa que a empresa tem dinheiro em caixa para saldar suas dívidas. É claro que isso depende da capacidade de os recebíveis se converterem realmente em dinheiro antes da quitação das dívidas. E também do ramo da empresa: uma companhia de transporte público não vende a prazo, não possuindo, portan- to, recebíveis. Nesse caso, um índice ligeiramente menor que 1 pode não ser problemático. ` Índice de endividamento: mensura o endividamento da empresa, sua capacidade de gerar caixa para pagar suas dívidas e para garantir o crescimento sustentado de suas atividades. São três indicadores de endividamento: 1) a percentagem de capital de tercei- ros no capital total (que não deve exceder muito a metade); 2) o quanto de capital próprio existe em relação ao capital de terceiros (que, em geral, deve ser, no mínimo, de 1 para 1); 3) o percentual de dívidas de curto prazo no total do endividamento (que, se for muito elevado, pode comprometer o caixa da empresa). ` Índice de atividade: empregado para medir a rapidez com que a empresa recebe pelas vendas para pagar suas compras e renovar seu estoque. Nesse grupo está incluso o giro de caixa, que, se for alto e possuir uma liquidez corrente baixa, mostra que o dinheiro que entra é logo desembolsado. 2.6. MÉTODO DE ANÁLISE GRÁFICA A análise gráfica avalia os preços passados para prever o comportamento futuro dos preços. Nessa metodologia de análise não há preocupação com as causas de variação de preços, pois a análise interessa-se somente pelo comportamento dos preços. Os analistas observam gráficos (daí a origem do nome análise gráfica) de preço de ação (ou carteira de ação) durante um período passado e tentam criar métodos para prever o comportamento futuro do preço desse mesmo título (ou carteira de títulos). A análise técnica originou-se no Ocidente entre 1900 e 1902, quando Charles H. Dow (1851-1902), fundador e editor do Wall Street Journal, escreveu uma série de editoriais sobre métodos de especulação com ações. Suas publicações foram a base da teoria que leva o seu nome: Teoria Dow. Conforme prognósticos de tendências de preços com base em gráficos de preços pas- sados, Charles Dow identificou quatro fases que se repetem na formação dos preços de ações: ` Acumulação: investidores bem informados se abastecem da ação, com um provável pe- queno aumento de preços. 112 3 Gestão de riscos e Custos empresariais PESQUISE ` Mark up: compradores bem informados aderem ao mercado, comprando a ação e ele- vando o seu preço. ` Distribuição: a um preço que permite ganhos, a ação desperta a atenção de grande número de investidores não tão bem informados, denominados por Dow como massa. O mercado fica ativo, e os acumuladores abastecem a massa. ` Liquidação: com pânico ou não, a massa descobre que pagou caro e procura vender a ação que não compensou seu investimento. Charles Dow enumerou os seguintes princípios básicos da análise gráfica: a) primária: tendência de longo prazo; b) secundária: reversão da primária; c) terciária: tendência de curto prazo; sendo os demais princípios: a) volume: segue oscilação das cotações; b) na alta: acumulação, mark up, alta acelerada; c) na baixa: distribuição, pânico, baixa, acelerada; d) médias: identificam comportamentos; têm de ser confirmadas; são calcu- ladas pelo preço de fechamento; e) mercado: pode oscilar em frentes estreitas; f) nova tendência: tem de confirmar antes. Principais tipos de gráficos Os gráficos identificam áreas e linhas denominadas suporte e resistência. ` Suporte: área ou linha de preços mínimos. ` Resistência: área ou linha de preços máximos. Um aumento na quantidade de negócios nessas áreas ou linhas aumenta sua confiabi- lidade. Os preços buscam romper essas áreas e, quando o fazem, a mudança de ten- dência no preço da ação é quase certa. Instituições financeiras dispõem de softwares que desenvolvem on-line análises gráficas. BM&F Bovespa. Disponível em: https://educacional.bmfbovespa.com.br/. 3. APLICABILIDADE DE CUSTOS Em custos, mesmo tendo surgido da necessidade de empresas industriais, é facilmente aplicada, também, no controle, mensuração e avaliação de custos em entidades presta- doras de serviços. A utilidade de custos, primariamente, era ajudar na definição do valor dos estoques, pois, como explicado por Hong (2003), a valoração de estoques era muito simples na era mercantilista, sendo sua finalidade a de auxiliar na definição do valor dos estoques. De forma secundária, ao longo do tempo, foi percebida a utilidade ainda maior para a informação de custos: o auxílio ao planejamento e tomada de decisão. Os custos de uma empresa devem refletir a combinação de diversos fatores, como a ca- pacitação tecnológica e produtiva da empresa, relativa a processos, produtos, estrutura operacional, gestão, incluindo a qualificação da mão de obra. 113 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co A necessidade de apuração de custos numa empresa surgiu após a Revolução Indus- trial. Com o surgimento das primeiras indústrias, notou-se que, além da matéria-prima, outros insumos básicos, como mão de obra, equipamentos e instalações, precisavam ser considerados no processo de transformação da matéria-prima em produto acabado. Assim sendo, constatou-se que, além do valor da matéria-prima, novos valores decor- rentes do processo de produção deveriam ser agregados a esse valor e levados em consideração para a apuração dos custos de fabricar um produto ou serviço. Existe uma terminologia própria utilizada em custos para evitar qualquer erro de interpre- tação, ou utilização de forma inadequada ou equivocada dos conceitos apresentados. As definições apresentadas a seguir são adotadas pela maioria dos estudiosos do assunto: ` Desembolsos: correspondem às saídas de dinheiro do caixa ou do banco. Os desem- bolsos ocorrem devido ao pagamento de uma compra à vista ou de uma obrigação ou compromisso assumidos anteriormente. Exemplos: pagamento de duplicata; compra de matéria-prima à vista; pagamento de empréstimo bancário; recolhimento de impostos; pagamento de salários. ` Gastos: compromissos assumidos por uma empresa na aquisição de bens e serviços, po- dendo o gasto ser definido como gasto de investimento, quando o bem ou serviço forem utilizados em vários processos produtivos, e como gasto de consumo, quando o bem ou serviço forem consumidos no momento da produção ou do serviço que a empresa realiza. Dependendo da destinação do gasto de consumo, ele poderá ser convertido em custo ou despesa. É muito importante não confundir gasto com desembolso, pois gasto é o consumo genérico de bens e serviços e desembolso é o pagamento para obter tais bens e serviços. Dessa forma, é muito comum ouvir de forma incorreta as pessoas dizerem “gastou muito dinheiro”, quando na realidade, o dinheiro não é gasto, ele é desembolsado. O que é gasto, ou seja, consumido, são os bens e serviços obtidos por meio do desembolso imediato ou futuro. Exemplos: matéria-prima consumida no processo produtivo; energia elétrica consu- mida na área industrial; material de escritório consumido. ` Custos: são os gastos, não investimentos, necessários para fabricar os produtos da em- presa. Portanto, são os custos relacionados aos produtos ligados ao processo produti- vo de fabricação. Exemplos: matéria-prima consumida;mão de obra produtiva (área de produção); mão de obra executiva (gerência e supervisão da fábrica); custos gerais de fabricação (depreciação, energia elétrica, água etc.); serviços de apoio à produção (ma- nutenção, almoxarifado, engenharia do produto). ` Despesas: são os gastos com bens ou serviços consumidos direta ou indiretamente para a obtenção de receitas e manutenção dos negócios da empresa. Exemplos: aluguéis de imóveis; depreciações de imóveis, móveis e utensílios; despesas gerais de vendas; pro- paganda e publicidade. ` Investimentos: São os gastos com todos os bens e direitos registrados no ativo das empresas, os quais terão baixas em função da venda, amortização, consumo, desapare- cimento, perecimento ou desvalorização. Exemplos: estoque de matéria-prima; aquisição de máquinas e equipamentos; desenvolvimento de protótipos. ` Perdas: são gastos anormais ou involuntários que não geram novos bens ou serviços, nem receitas, e são apropriados diretamente no resultado do período em que ocorreram. Exemplos: greves, enchentes, inundações, sinistros etc.; material com prazo de validade vencido; paralisação de produção em razão da falta de insumos; obsoletismo por causa 114 3 Gestão de riscos e Custos empresariais da rápida transformação tecnológica nos equipamentos eletroeletrônicos e mecânicos de uma empresa; corte equivocado de peças e materiais, tornando-os inúteis para sua apli- cação. ` Desperdícios: são gastos incorridos nos processos produtivos ou de geração de receitas e que possam ser eliminados sem prejuízo da qualidade ou quantidade dos bens, serviços ou receitas geradas. Exemplos: retrabalho em consequência de defeitos de fabricação; cargos intermediários de chefia e supervisão desnecessários; duplicidade de atividade; trabalhos sem qualquer utilidade. 3.1. CLASSIFICAÇÃO ` Custos fixos: são aqueles que decorrem da manutenção da estrutura produtiva da em- presa e permanecem constantes dentro do limite de determinada capacidade instalada, independentemente do volume de produção, ou seja, a variação do volume de produção para mais ou para menos não altera o valor total do custo fixo no período. Exemplos: alu- guel da fábrica, salários das chefias da fábrica (área de produção), seguros da fábrica etc. ` Despesas fixas: são aquelas despesas cujos valores se mantêm constantes num determi- nado volume de atividades geradoras de receitas, independentemente da variação no vo- lume de vendas ou de prestação de serviço para mais ou para menos. O valor total dessas despesas no período não se altera. Exemplos: salários dos funcionários da administração, despesas financeiras, despesas com aluguéis das instalações administrativas de apoios. ` Custos variáveis: são os custos que variam de acordo com a variação do volume de produção. Na maioria das vezes, essa variação é diretamente proporcional à variação da produção, ou seja, o aumento ou diminuição dos custos variáveis são efeitos diretos e pro- porcionais do aumento ou diminuição do volume de produção. Exemplos: matéria-prima direta e mão de obra direta. ` Despesas variáveis: comportam-se da mesma forma que os custos variáveis, ou seja, as despesas variáveis de vendas se alteram (variam) proporcionalmente às variações no volume da receita. Exemplos: as comissões sobre vendas ou serviços, os impostos sobre o faturamento da empresa etc. ` Custos diretos: são aqueles que podem ser identificados e quantificados de forma direta ao produto, não necessitando de outros recursos como rateios para atribuir seus valores aos produtos fabricados. Exemplos: materiais e equipamentos diretos utilizados na fabri- cação dos produtos e a mão de obra direta empregada no processo de produção. ` Despesas diretas: da mesma forma que os custos diretos, as despesas diretas são aque- las que podem ser identificadas, quantificadas e apropriadas diretamente para serem con- frontadas com as receitas de vendas ou da prestação de serviços. Exemplos: os impostos incidentes sobre o faturamento, as despesas com fretes, seguros e transporte etc. ` Custos indiretos: são aqueles de difícil identificação e quantificação diretamente aos produtos ou serviços, não podendo, assim, serem apropriados de forma direta aos produ- tos e serviços, necessitando para tanto da utilização de algum critério de rateio para a sua alocação de forma indireta ao produto. Exemplos: mão de obra indireta representada pelo trabalho realizado nos departamentos auxiliares nas indústrias ou empresas prestadoras de serviços; materiais indiretos representados pelos materiais empregados nas atividades auxiliares de produção, ou sua relação com o produto é pequeno ou irrelevante; outros custos indiretos referentes a valor de materiais consumidos nas manutenções, transporte e refeições da mão de obra da fábrica. 115 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co ` Despesas indiretas: são aquelas em que não dá para identificar sua relação direta na confrontação com as receitas geradas. Exemplos: despesas administrativas, despesas financeiras e despesas com imposto de renda e contribuição social. 3.2. MÉTODOS DE CUSTEIO Os métodos de custeio determinam a forma de valoração dos objetos de custeio, que podem ser: uma operação, uma atividade, um conjunto de atividades, um produto, um departamento etc. Existem diferentes métodos de custeio adotados pelas empresas: custeio por absorção, custeio pleno, custeio variável e custeio ABC; por exemplo: se o objetivo é conhecer uma margem de contribuição, deve-se utilizar o custeio variável; se é atender a usuários externos, deve-se utilizar o custeio por absorção; se é rastrear os custos, identificando fontes de desperdícios e a realização de atividades desnecessárias, deve-se optar pelo custeio ABC – em algumas situações, pode ser necessário empregar, concomitante- mente, mais de um método. Classificam-se os métodos de custeio em tradicionais e contemporâneos. Os métodos de custeio tradicionais são aqueles que têm como foco principal a apura- ção do custo dos produtos, considerando que os produtos sejam geradores de custos. Esses métodos são adequados a ambientes de produção em que predominam custos com materiais e mão de obra diretos. Dentre os métodos de custeio tradicionais, destacam-se o custeio por absorção, o cus- teio pleno e o custeio variável; todos apresentam relação com o conceito de que o comportamento dos custos varia de acordo com a quantidade fabricada, sendo consi- derados, portanto, métodos de custeio baseados em volume. A rápida evolução tecnológica que vem ocorrendo desde o final do século XX, em res- posta a um ambiente competitivo mais intenso, tem obrigado as empresas a reformula- rem continuamente suas estratégias e a se preocuparem cada vez mais com a gestão de custos. A mensuração da receita dos produtos e serviços, dos recursos e das atividades da empresa tem como fundamento o preço de venda. Como é necessário apurar o resulta- do, o ponto crucial é o método de mensuração dos custos dos recursos e produtos ou método de custeio. O método de mensuração do custo está fundamentalmente ligado a três questões: ` Os gastos (custos e despesas) que devem fazer parte da apuração dos custos, dos recur- sos, produtos, serviços, atividades ou departamentos; ` Os custos de um recurso, bem, produto ou serviço final que devem ser ativados enquanto esses bens estão em estoque; ` A definição da metodologia do cálculo e a apuração do custo unitário dos produtos e serviços. A questão dos custos que devem fazer parte da apuração do custo dos bens, produtos, serviços ou atividades está relacionada à questão dos custos diretos e variáveis e indiretos e fixos. 116 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Desse modo, é possível classificar duas opções gerais de método de custeio: métodos de custeio direto e variável e métodos de custeio por absorção. O custeio direto ou variável é baseado na margem de contribuição, conceituada comoa diferença entre o total da receita e a soma dos custos e despesas variáveis, e possui a capacidade de tornar bem mais fácil e visível a potencialidade de cada produto para absorver os custos e despesas fixas até proporcionar lucro. A margem de contribuição mostra como cada um desses produtos contribui, para primei- ramente amortizar os custos e despesas fixos e, depois, formar propriamente o lucro. Portanto, a margem de contribuição é obtida da seguinte forma: receita menos a soma- tória dos custos variáveis e despesas variáveis. A margem de contribuição unitária é o valor que cada unidade de determinado produto proporciona à empresa e resulta da diferença entre o seu preço unitário e os recursos necessários para a sua produção e venda, sejam eles custos ou despesas variáveis. A fim de exemplificar numericamente a margem de contribuição unitária, imagine uma empresa que comercializa três tipos diferentes de produto (X, Y e Z), como a seguir: Tabela 04. T ITENS CUSTOS/DESPESAS VARIÁVEIS PREÇO DE VENDAS MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO PRODUTO Diretos Indiretos Soma (R$) (R$) X 2.400,00 460,00 2.860,00 5.200,00 2.340,00 Y 3.000,00 600,00 3.600,00 6.000,00 2.400,00 Z 3.200,00 2.000,00 5.200,00 8.000,00 2.000,00 As margens de contribuição unitárias, multiplicadas pelas quantidades vendidas de cada um dos produtos, constituem as margens de contribuição totais de cada um deles, e o somatório dessas resulta na margem de contribuição total da empresa. Dessa forma, o método do custeio direto ou variável responde à administração as per- guntas mais frequentes sobre os preços de vendas, volumes de produção, de vendas, bem como a decisão de continuidade ou descontinuidade de fabricação de produtos. Referente ao custeio por absorção (também chamado de “custeio integral”) é o método derivado da aplicação dos princípios fundamentais da Contabilidade, ou seja, no custeio por absorção todos os gastos incorridos na área de produção, sejam eles diretos ou indiretos, fixos ou variáveis, de estrutura ou operacionais, são debitados ao custo dos produtos. Tendo em vista a definição acima, podemos afirmar que todos os gastos incorridos na fábrica serão alocados aos produtos manufaturados. Esses gastos recebem o nome de custos e deverão permanecer nos estoques até a venda dos produtos aos quais se relacionam, quando então serão transferidos para o resultado como custo dos produtos vendidos. 117 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Os gastos incorridos nas áreas não relacionadas à fabricação são chamadas de des- pesas operacionais e são transferidos para o resultado no mesmo período em que ocorreram, ou seja, não transitam pelos estoques. Exatamente por isso são chamados de custos do período. O custo industrial é composto por três componentes: ` Material direto (MAT): é o material que pode ser fisicamente localizado no produto aca- bado. Os produtos que foram consumidos no processo produtivo, que consequentemen- te não estão presentes no produto acabado, são classificados como materiais indiretos (MAI) e adicionados aos custos indiretos de fabricação. Os materiais presentes fisicamen- te no produto acabado que, por qualquer motivo, não puderem ser mensurados, ou não for prático ou econômico mensurá-los, também serão considerados como material indireto. ` Mão de obra direta (MOD): de maneira semelhante ao material direto, é aquela mão de obra que pode ser fisicamente localizada no produto acabado. A supervisão e os cargos administrativos e de suporte da fábrica – e somente da fábrica – são classificados como mão de obra indireta (MOI) e também agregados aos custos indiretos de fabricação. ` Custos indiretos de fabricação (CIF): consideramos custos indiretos de fabricação to- dos os gastos realizados na fábrica que não sejam classificados como material direto ou mão de obra direta. ` Custo primário ou custo direto: é a soma do material direto e da mão de obra direta. Custos diretos de um produto são os custos diretamente relacionados a esse produto, isto é, podem ser fácil e economicamente identificados ao produto, sendo custeado sem qualquer rateio – entende-se por rateio a distribuição arbitrária dos custos que não são diretamente identificados e apropriados aos objetos de custeio. ` Valor contribuído: fabricar um produto consiste basicamente em adicionar valor à maté- ria-prima, para transformá-la em produto acabado. O valor contribuído (também chamado de valor adicionado ou valor agregado) é a soma da mão de obra direta e dos custos indiretos de fabricação, que são adicionados ao material direto (matéria -prima). O valor contribuído pode também ser chamado de custo de transformação, ou seja, o custo em transformar a matéria-prima em produto acabado. ` Despesas operacionais: os gastos incorridos nas áreas administrativa, comercial e de marketing constituem as despesas operacionais – soma das despesas gerais, adminis- trativas e comerciais – e não fazem parte do custo industrial, sendo classificadas como custo do período, o que significa dizer que não são estocadas, pois são transferidas para o resultado no período em que são incorridas sem transitarem pelos estoques. 3.3. PONTO DE EQUILÍBRIO Ponto de equilíbrio ocorre quando a empresa não tem lucro ou prejuízo. Nesse ponto, as Receitas Totais são iguais aos Custos e Despesas Totais, ou seja, corresponde à quantidade produzida / volume de operações para a qual a receita iguala o custo e des- pesa total. É, pois, o ponto em que o lucro líquido iguala a zero, podendo ser expresso em unidades físicas ou monetárias. 118 3 Gestão de riscos e Custos empresariais O modelo do ponto de equilíbrio tem por objetivo determinar o nível de produção em termos de quantidade e/ou de valor, que se traduz pelo equilíbrio entre a totalidade dos custos e das receitas. Para um nível abaixo desse ponto, a empresa estará na zona de prejuízo e, acima dele, na zona de lucratividade. Nesse ponto, o nível de operação é tal que absorve a totalidade dos custos/despesas fixas, e acima dele somente incidem os custos/despesas variáveis. ` Ponto de equilíbrio ou ponto de equilíbrio contábil (PEC): é obtido quando há volume (monetário ou físico) suficiente para cobrir todos os custos e despesas fixas, ou seja, o ponto em que não há lucro ou prejuízo contábil. É o ponto de igualdade entre a Receita Total e o Custo e Despesa Total. Fórmula: CDF = custos e despesas fixos MC = margem de contribuição ` Ponto de equilíbrio econômico (PEE): ocorre quando existe lucro na empresa e ela busca comparar e demonstrar esse lucro em relação à taxa de atratividade (custo de oportunidade) que o mercado financeiro oferece ao capital investido. Fórmula: CDF = custos e despesas fixos MC = margem de contribuição LO = lucro operacional ` Ponto de equilíbrio financeiro (PEF): é representado pelo volume de vendas necessá- rias para que a empresa possa cumprir com seus compromissos financeiros. Nem todos os custos de produção representam desembolsos. Dessa forma, os resultados contábeis e econômicos não são iguais aos financeiros. Fórmula: CDF = custos e despesas fixos MC = margem de contribuição 119 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co LO = lucro operacional CDFNF = custos e despesas fixos não desembolsáveis 3.4. GESTÃO DE ESTOQUES Ao falarmos de critérios de avaliação de estoques, é importante compreender que esse tema não tem relação com a data de vencimento dos produtos. É relevante destacar isso, pois, aqui, você vai entender o controle de estoques por meio da utilização de métodos apresentados a seguir: ` Primeiro que entra, primeiro que sai: (PEPS) ou first in first out (FIFO); ` Custo médio ponderado móvel; ` Custo médio ponderado fixo; ` Último que entra, primeiro que sai: (UEPS) ou last in firts out (LIFO), este que é proibido para fins fiscais. A apuração de estoques segue o determinado pela IAS 2 (IASB), que no Brasilestá relacionada no CPC 16 (R1) – Estoques (2009). Já vimos como realizar a definição do valor de um estoque, mas ainda é preciso ajustarmos como realizar o controle dessas informações para definir o valor do custo com materiais diretos que são requisitados pela produção, para, consequentemente, definirmos o valor dos estoques. O CPC 16 (2009) define que os estoques devem ser valorados de acordo com critérios de avaliação uniformes, garantindo assim a comparabilidade das informações. Esses critérios obedecem também à Legislação Fiscal, que permite a utilização dos critérios PEPS (primeiro que entra primeiro que sai) e custo médio, tanto o móvel quanto o fixo, este último com limitações. Vejamos o primeiro método, o PEPS. Pelo critério PEPS, devemos reconhecer cada lote de materiais comprados separadamente, permitindo a identificação da data de aquisição de cada lote. Essa forma de realizar a apuração dos custos com materiais é muito semelhante ao utilizado na contabilidade comercial para apuração do custo da mercadoria vendida (CMV), em que: Custo de materiais = estoque inicial de materiais + compras – devoluções de compras – estoque final. Esse formato, simplificado, permite a determinação do custo com materiais emprega- dos na produção em um período. Entretanto, quando feito considerando intervalos de tempo distintos (semanal e mensal, por exemplo), pode distorcer a estimativa de custos do período. Portanto, para garantir uniformidade e comparabilidade entre as informa- ções, faz-se necessária a utilização de critérios uniformes ao longo dos períodos. 120 3 Gestão de riscos e Custos empresariais Aplicabilidade na formação de preço A formação de preço de venda, essencialmente, é definida sob dois aspectos. O primei- ro aspecto é qualitativo, que leva em conta preços de concorrentes, estratégias de mer- cado, qualidade e tempo de vida do produto, reconhecimento da marca, entre outros. O segundo aspecto é quantitativo, que leva em conta o custo do produto, a margem de lucro desejada e os impostos sobre venda, por exemplo. A taxa de marcação é uma taxa que pode ser aplicada sobre o custo de produção mark up, para determinar o preço de venda ideal. Pense, por exemplo, em uma empresa comercial que adquire um produto qualquer por R$ 2,00 cada unidade e o vende por R$ 2,50. A definição desse preço de venda pode ser feita por uma taxa de marcação. Muitas vezes, uma entidade tem capacidade ociosa que continua gerando custos fixos e não é utilizada por questões ligadas, principalmente, à baixa demanda ou por sazo- nalidade dos seus produtos. Assim, torna-se comum, nessas situações, o surgimento de ofertas de compra, que têm um valor menor do que aquele praticado normalmente pela entidade. A formação de preço ao consumidor observa vários aspectos que muitas vezes estão distantes do mark up. Por exemplo, temos uma abordagem denominada Price Sensitive Measurement (Mensuração da Sensibilidade de Preço), que considera que o consumi- dor é sensível aos preços dos produtos. O preço de venda calculado via mark up é o idealizado pela empresa. Entretanto, não há impedimento para que o preço praticado seja diferente, já que o mercado é quem dá a palavra final em preços de venda (HONG, 2003). Esse é um ponto de atenção, pois está ligado a aspectos econômicos. Tome como exemplo o preço da carne bovina. Quando há um aumento exagerado de preços desse tipo de pro- duto, há uma tendência natural que se torne caro para alguns consumidores que o deixam de consumir para consumir outras opções mais baratas de produtos. Esse é considerado um bem elástico, e o consumidor busca alternativas quando percebe um aumento de preço. Por outro lado, quando há um aumento de preço de energia elétrica, há uma tendência do consumidor de continuar consumindo, pois é um gasto essencial e inelástico. É importante então considerar que o Preço de Venda nem sempre mantém uma relação estreita com o preço de venda dos produtos. Essa é uma decisão que talvez seja a mais difícil para a gestão de uma empresa. 3.5. CONCEITO E CÁLCULO DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL Como o próprio nome revela, alavancagem é alavancar o lucro de uma empresa. Mas deve-se considerar, para o cálculo da alavancagem, alavancar o lucro de uma empresa, levando em conta a mesma estrutura de custos variáveis e despesas variáveis (pois sabemos que não haverá alteração nos custos fixos e nem nas despesas fixas). A alavancagem operacional tem a função de responder a questões como: se uma em- presa aumentar sua produção, que antes era de 700 peças, para uma produção de 770 121 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co peças, qual seria o novo lucro operacional dessa empresa? E se depois optasse em diminuir para 630 peças, qual o impacto no lucro operacional? Considerando os dados a seguir, vamos exemplificar para ficar fácil de você visualizar: ` Preço de Venda praticado: $ 100,00 por unidade; ` Custos e Despesas variáveis: $ 20,00 por unidade; ` Custos e Despesas fixos: $ 10.000,00. Tabela 05. T UNIDADES VENDIDAS 630 700 770 Receita de vendas 63.000,00 70.000,00 77.000,00 (-) Custos e despesas variáveis 12.600,00 14.000,00 15.400,00 (=) Margem de contribuição 50.400,00 56.000,00 61.600,00 (-) Custos e despesas fixos 10.000,00 10.000,00 10.000,00 (=) Lucro operacional 40.400,00 46.000,00 51.600,00 Variação percentual da quantidade ou receita -10% 10% Variação percentual no lucro -12% 12% Observe que o aumento ou redução de 10% nas vendas tem um impacto de 12% no lucro operacional. Ocorre isso porque os custos e despesas variáveis acompanham o aumento da venda, mas os custos e despesas fixos permanecem com o mesmo valor. Esse cálculo também é conhecido pelas iniciais de seu nome: GAO. Realizamos os cál- culos com base nas mudanças ocorridas nos lucros, mudanças essas que foram oca- sionadas pelas alterações ocorridas nas vendas, com o objetivo de demonstrar quantas vezes o lucro operacional aumentará (ou diminuirá) a mais (ou a menos) que o aumento da quantidade ou receita. Com base no exercício anterior, podemos calcular o GAO da seguinte forma: No exemplo acima, há a intenção de a empresa aumentar a produção de 700 para 770 unidades. Com base nisso, podemos calcular: O GAO é de 1,20. Significa que o lucro operacional aumentou 1,2 vezes mais que o aumento na quantidade ou na receita, a ponto de gerar um lucro nessa proporção. 122 3 Gestão de riscos e Custos empresariais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2001. –––––. Finanças corporativas e valor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. –––––. Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. São Paulo: Atlas, 2014. –––––; LIMA, F. G. Curso de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2009. CAVALCANTE, F.; MISUMI, J. Y.; RUDGE, L. F. Mercado de capitais: o que é, como funciona. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2005. COSTA, L. C. Momento de decisão: como empresas e profissionais enfrentaram os riscos e decidiram seu futuro. São Paulo: Pearson, 2006. DUTRA, R. G. Custos: uma abordagem prática. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2009. FORTUNA, E. Mercado financeiro: produtos e serviços. 15. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2004. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. HONG, Y. C. Contabilidade e finanças para não especialistas. São Paulo: Prentice Hall, 2003. KERR, R. B. Mercado financeiro e de capitais. São Paulo: Pearson, 2011. LEMES JR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. MEGLIORINI, E. Custos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. MELLAGI FILHO, A.; ISHIKAWA, S. Mercado financeiro e de capitais. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010. OLIVEIRA, V. I.; GALVÃO, A.; RIBEIRO, É. Mercado financeiro: uma abordagemprática dos principais produ- tos e serviços. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2006. PEREZ JUNIOR, J. H.; OLIVEIRA, L. M.; COSTA, R. G. Gestão estratégica de custos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003. SECURATO, J. R. (coord.). Cálculo financeiro das tesourarias: bancos e empresas. 3. ed. São Paulo: Saint Paul, 2005. ––––– (coord.). Mercado financeiro: conceitos, cálculos e análise de investimento. 2. ed. São Paulo: Saint Paul, 2007. 123 3 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co 124 4 Controle orçamentário e tributário UNIDADE 4 CONTROLE ORÇAMENTÁRIO E TRIBUTÁRIO INTRODUÇÃO Atualmente as empresas também recorrem a instituições financeiras para obter capital de giro, para fazer frente a descompassos entre recebimentos e pagamentos (déficit de caixa) e também para financiar investimentos. A existência de um sistema financeiro apenas facilita o processo, pois cabe aos bancos reunir as poupanças e encontrar os emprestadores, permitindo que os fundos disponíveis para empréstimo sejam canali- zados para fomentar o consumo, a produção e o investimento, em que a definição de planejamento e orçamento são de grande valia. Quando tratamos de investimento em finanças, significa toda aplicação de recursos em algum ativo, tangível ou não, para obter determinado retorno no futuro. Existem várias possibilidades de investimento, que na maioria das vezes, em nosso caso, resultarão em ativos permanentes. Uma empresa pode estar pensando neste exato momento em renovar sua frota de veículos, ou introduzir um processo de linha de montagem mais avançado, capaz de fazê-la economizar milhões de reais em apenas um exercício. Por outro lado, a mesma empresa pode optar pela compra, anexação ou fusão com alguma concorrente. Ao chamarmos tais processos de investimento, estamos tentando dizer que o futuro deverá nos reservar algum retorno. Esses dilemas devem ser resolvidos da me- lhor maneira possível, já um investimento representa gastos consideráveis que podem comprometer a saúde financeira da empresa. Daí a importância do orçamento de capital. 1. ORÇAMENTO DE CAPITAL O orçamento de capital “é o processo de avaliação e seleção de investimentos de longo prazo” (GITMAN, 2008, p. 304). Essas técnicas de orçamento de capital fazem parte do que costumamos chamar de Engenharia Econômica. Entende-se por Engenharia Econômica as técnicas e os métodos necessários para a tomada de decisões relativas às alternativas de investimento. A Engenharia Econômica costuma ser amparada pela Matemática Financeira e baseia-se no valor do dinheiro no tempo. Com um gasto de capital a empresa espera obter benefícios no longo prazo, sempre maior que um ano, para sermos mais específicos. O orçamento desse gasto passa por várias eta- pas, desde o desenvolvimento das propostas até a implantação propriamente dita. Esse gasto é realizado, na maioria das vezes, para o aumento do Ativo imobilizado, que podemos con- siderar bens tangíveis, como máquinas, equipamentos, galpões, edifícios, ou o conjunto de bens e direitos que são necessários para a manutenção das atividades da empresa. 125 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co O orçamento de capital tem como direcionamento: ` A geração de propostas de investimento a longo prazo; ` Avaliação, análise e seleção das propostas de investimento; ` A tomada de decisão de dispêndio de capital; ` A implementação das propostas selecionadas; ` O acompanhamento das propostas implementadas. Como diz Gitman (2008, p. 35), “... é o processo de avaliação e seleção de investimento de longo prazo compatível com o objetivo de maximização da riqueza do proprietário da empresa”, pois a decisão a respeito de um gasto de capital pode envolver projetos independentes ou mutuamente exclusivos. ` Quando falamos de dispêndios de capital, referimo-nos a: ` Expansão: aquisição de novos ativos imobilizados. ` Substituição: substituir ou renovar ativos obsoletos ou gastos. ` Modernização: reconstrução, recondicionamento ou adaptação de uma máquina ou das instalações existentes. ` Outras finalidades: comprometimento de recursos a longo prazo, na expectativa de um retorno futuro (propaganda, pesquisa e desenvolvimento, serviços de consultoria). Essa análise de investimento permite: ` Realizar uma análise prévia dos indicadores econômicos e financeiros; ` Amenizar riscos e incertezas; ` Minimizar perdas diante dos riscos inerentes do negócio; ` Uma tomada de decisão mais assertiva diante dos resultados previstos; ` A aplicação das técnicas da Engenharia Econômica (relação de tempo e dinheiro). Com- preende métodos, técnicas e princípios necessários para tomada de decisão entre al- ternativas de investimentos, relativos à aquisição e à disposição de bens de capital. As principais funções são: ` Avaliar quantitativamente vantagens e desvantagens; ` Determinar o investimento necessário; ` Estimar custos (manutenção, mão de obra, energia elétrica, impostos, refugos); ` Avaliar receitas (vendas, mercado); ` Obter conhecimento técnico do processo em estudo; ` Avaliar o risco do investimento; ` Considerar critérios econômicos, ou seja, a rentabilidade do investimento. 126 4 Controle orçamentário e tributário EXEMPLO Para a decisão de escolha entre projetos de investimento, um dos elementos de maior importância são os fluxos de caixa. Definimos fluxo de caixa de um projeto de investi- mento como as entradas e saídas realmente efetivas de dinheiro no tempo, o que nos permite medir finalmente a viabilidade ou não desse projeto (SAMANEZ, 2009, p. 83). O fluxo de caixa é uma ferramenta básica e indispensável para o controle financeiro; são as entradas e saídas efetivas de dinheiro no tempo, representando as disponibili- dades que a empresa possui em determinado momento. Dessa forma, permite medir a viabilidade ou não do projeto. ` Função: demonstrar os valores de recebimentos, pagamentos e saldos de recursos finan- ceiros da empresa em determinado período. ` Entradas: vendas, recebimentos de clientes, dinheiro pago pelos clientes por serviços ou bens fornecidos pela empresa; atividades de investimento: ganhos nos fundos investidos, por exemplo. ` Saídas: gastos necessários para manter o negócio funcionando, como folha de paga- mento, custo das mercadorias vendidas, aluguel, taxas, salários, compra de mercadorias entre outros. ` Atividades financeiras: pagamentos de juros, emissão de dividendos. ` Atividades de investimento: compra de ativos fixos, por exemplo. ` Finalidade: verificar a situação real das finanças da empresa; verificar a composição dos recursos para cumprir as obrigações; visualizar desperdícios e com isso realizar ações para redução de custos; auxílio na tomada de decisão. Figura 01. A linha do tempo a seguir demonstra os períodos de fluxo de caixa. Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Se uma empresa decidisse adquirir uma nova máquina injetora no valor de R$ 200.000,00 e a vendesse, no final de 10 anos, por R$ 20.000,00, teríamos então o o investimento inicial (R$ 200.000,00) e o valor residual (20.000,00). Nesses 10 anos a nova injetora proporcionaria à empresa as entradas operacionais de caixa, o que também costumamos chamar de fluxos de caixa incrementais, por resulta rem da nossa decisão de investir. 127 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co IMPORTANTE Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Fonte: Elaborado pelo autor (2020). Fluxo de caixa convencional: consiste em uma saída inicial (investimento inicial) se- guida por uma série de entradas. Figura 02. Fluxo de Caixa Convencional. Fluxo de caixa não convencional: ocorre quando possui uma saída inicial (investi- mento inicial), porém possui entradas e saídas alternadas e não uniformes. Figura 03. Fluxo de Caixa não Convencional Investimento é toda a aplicação de recursos em algum ativo, tangível ou não, para obter determinado retorno no futuro.Geralmente, em um projeto de investimento em ativos permanentes, por exemplo, ob- servamos fluxos de caixa convencionais, com suas três principais características: 128 4 Controle orçamentário e tributário 01. Um investimento inicial: essa saída de caixa no momento zero pode representar o gasto com a compra e instalação de uma nova máquina, a troca de uma frota ou a aquisição de uma empresa concorrente. É o gasto de capital para que o projeto entre em funcionamento. 02. As chamadas entradas operacionais de caixa: como o próprio nome diz, essas entradas representam o dinheiro que o projeto agrega no decorrer de seu funcionamento, não importando a medida de tempo, como dias, meses ou anos. 03. Um valor residual, também chamado de fluxo de caixa terminal: esse valor representa a finalização do projeto ou investimento. Poder ser uma máquina depreciada, que já não tenha mais valia, vendida ao final de seu prazo de vida, o que também representaria uma entrada. O investimento inicial é a primeira saída de caixa relevante na execução de um projeto de investimento. É o gasto de capital propriamente dito, para colocar o projeto de inves- timento em funcionamento. Também sabemos que ele ocorre hoje, no momento zero. Mas se engana quem pensa que, no caso de uma máquina, por exemplo, o investimen- to inicial se baseia apenas no gasto para a aquisição dessa máquina. Gitman (2008, p. 311) demonstra a versão mais simples e utilizada do cálculo de investimento inicial. Vamos observar sua estrutura abaixo: Custo do ativo novo instalado = custo do ativo novo + custos de instalação Recebimentos com a venda do ativo antigo (se for o caso) após Imposto de Renda = - recebimento com a venda do ativo antigo + ou – IR sobre venda do antigo ativo + ou – variação de capital de giro líquido = investimento inicial Para calcular o valor do novo ativo instalado, devemos somar o valor desse ativo mais qualquer custo de instalação. Feito isso, se o ativo antigo for vendido, entrará como abatimento em nosso gasto (desde que prestemos atenção ao Imposto de Renda). O último fator importante em nosso cálculo é a variação do capital de giro líquido. O capital de giro líquido é a diferença entre o ativo circulante e o passivo circulante. O ativo circulante representa o investimento da empresa no exercício, como estoques, contas a receber, matéria-prima e caixa. Já o passivo circulante representa o financia mento a curto prazo da empresa referente ao exercício: contas a pagar, fornecedores e empréstimos de curto prazo. Se o ativo circulante for maior que o passivo circulante, podemos dizer que ocorreu uma variação positiva do capital de giro líquido, como é o que geralmente ocorre. Se o passivo circulante for maior que o ativo circulante, ocorre uma variação negativa do capital de giro líquido. 129 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co EXEMPLO 01. A máquina injetora nova foi comprada por R$ 300.000,00. 02. Foram gastos R$ 15.000,00 para a instalação dessa nova máquina. 03. A máquina antiga foi vendida por R$ 150.000,00. Seu valor contábil, na data da venda – já contando a depreciação (destruição do capital) –, era de R$ 100.000,00. Daí podemos dizer que a empresa obteve um ganho de capital de R$ 50.000,00 (R$ 150.000,00 – R$ 100.000,00) com a venda da máquina antiga. Esses R$ 50.000,00 serão tributados a uma alíquota de 30% de Imposto de Renda. 04. Assim que a nova máquina iniciar o seu funcionamento, haverá um aumento de R$ 30.000,00 no ativo circulante (estoque, contas a receber e matéria-prima). O passivo circulante (contas a pagar, fornecedores, e empréstimos de curto prazo) aumentará em R$ 10.000,00. Nesse caso a variação do capital de giro líquido foi positiva em R$ 20.000,00. Esses R$ 20.000,00 indicam uma saída de caixa maior do que entrada, já que, como a máquina vai produzir mais, ocorre a necessidade de mais gastos em estoques e matéria-prima, por exemplo, do que com contas a pagar e empréstimos (que são tratados como entradas de caixa). Nosso cálculo ficaria disposto da seguinte maneira: R$ 315.000,00 (custo do ativo novo instalado) = R$ 300.000,00 (custo do ativo novo) + R$ 15.000,00 (custos de instalação) - R$ 135.000,00 (recebimentos com a venda do ativo antigo após IR) = - R$ 150.000,00 (recebimento com a venda do ativo antigo) + 15.000,00 (30% de IR sobre os R$ 50.000,00 de ganho de capital obtido pela venda do antigo ativo) + 20.000,00 (variação de capital de giro líquido, já que o ativo circulante aumentou em R$ 30.000,00 e o passivo circulante aumentou em apenas R$ 10.000) = investimento inicial = 200.000 Às vésperas da Copa do Mundo de 2018, uma fábrica de brindes decidiu comprar uma nova máquina para fazer cornetas. Essa nova máquina plástica custaria R$ 150.000,00 e faria com que o ativo circulante se elevasse em R$ 35.000,00, enquanto o passivo circulante au- mentaria em apenas R$ 17.000,00, imediatamente. A máquina antiga seria vendida por R$ 70.000,00, com valor contábil de R$ 50.000,00. A empresa é tributada a uma alíquota de 35% de Imposto de Renda. As fabricantes de máquinas plásticas não costumam instalar suas máquinas vendidas, o que incorreria em custos de, mais ou menos, R$ 5.000,00. Calcular o valor do investimento inicial. 130 4 Controle orçamentário e tributário Tabela 01. Cálculo de Investimento. CÁLCULO DO INVESTIMENTO INICIAL TOTAL Custo instalado da máquina nova -155.000,00 (-) Custo da máquina proposta (SAÍDA) 150.000,00 (-) Custo de instalação da máquina proposta (SAÍDA) 5.000,00 Recebimento, depois do IR, com a venda da Máquina Antiga +63.000,00 (+) Receita com a venda a máquina antiga (ENTRADA) 70.000,00 (-) Imposto sobre a venda de máquinas atuais (35% sobre o ganho de R$20.000,00 sobre a máquina antiga) (SAÍDA) 7.000,00 Variação do Capital de giro líquido -18.000,00 (-) Aumento dos ativos circulantes (estoques, duplicatas a receber) (SAÍDA) 35.000,00 (+) Aumento dos passivos circulantes (duplicatas a pagar, financiamentos) (ENTRADA) 17.000,00 Investimento inicial (Saída de caixa no instante zero) -110.000,00 Fonte: Elaborado pelo autor. Cálculo do IR Ganho = valor da venda do equipamento antigo $ 70.000 – custo contábil $ 50.000 = 20.000 Aplica-se IR somente sobre Ganho, então: $ 20.000 x 35% = 7.000 1.1. VPL (VALOR PRESENTE LÍQUIDO) O VPL (valor presente líquido) tem como objetivo calcular o valor presente de uma sucessão de pagamentos futuros, deduzindo uma taxa de custo de capital. O VPL con- siste em trazer para o presente todos os fluxos de caixa de um projeto de investimento, somando-o ao montante inicial. É o cálculo de quanto os futuros pagamentos somados a um custo inicial estariam valendo hoje. O VPL é importante, pois visa à análise do poder do dinheiro no tempo. Dessa forma, o investidor terá certeza de que o seu investimento trará rentabilidade real, ou seja, de que apresentará valorização diante das oscilações do mercado e da economia. Existem três resultados possíveis: o VPL pode ser positivo, negativo ou neutro. ` Negativo = não viável (pode-se dizer que o investimento ocasionará perdas e prejuízos); ` Positivo = viável (isso é um sinal de que o investimento terá ganhos financeiros) ` Neutro = indiferente (significa que o investimento a ser realizado será equilibrado, ou seja, ele não trará nenhum prejuízo e nenhum benefício). 131 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co O VPL é a diferença entre o valor presente dos fluxos líquidos de caixa e o valor presen- te do investimento inicial. Uma das vantagens de aplicação do VPL é que ele considera o valor do dinheiro no tempo, por meio da utilização da taxa mínima de atratividade. A taxa mínima de atratividade (TMA) é a taxa que usamos como referência ao analisar um projeto. Ela representa o quanto obtemos como rentabilidade em um investimento alternativo, caso decidamos não investir o dinheiro no projeto que está sendo analisado. Esta,por sinal, é a razão de seu nome: se temos como alternativa obter determinada taxa em um investimento alternativo, não aceitaríamos receber menos que isso pelo projeto que analisamos, sendo, assim, a taxa mínima que aceitamos. Equação do valor presente líquido: em que: I = investimento inicial FC = fluxos de caixa ao longo dos períodos de vida útil do projeto i = taxa mínima de atratividade n = número de períodos O fluxo de caixa é projetado a partir de um investimento inicial e da estimativa de retor- no líquido em determinado período (geralmente anos). Tendo em vista que o valor do dinheiro muda ao longo do tempo em função dos juros, a comparação do valor de um investimento atual de R$ 100.000,00, com receita de R$ 500.000,00, com o valor que terá daqui a três anos só é possível se trouxermos o valor da receita para o tempo pre- sente, descontando-se dessa receita uma taxa de juros aceitável pelo investidor. Nesse caso, estamos trazendo a receita (valor futuro) para um valor presente. Para realizar essa operação, é necessário definir uma taxa de juros ou uma taxa de descon- to da operação, que é chamada de taxa mínima de atratividade (TMA). A TMA representa o custo de oportunidade do capital investido, ou seja, o valor da taxa que o investidor obteria em outros investimentos, por exemplo, a taxa de uma aplicação básica do mercado finan- ceiro, como em um fundo de investimento. A TMA varia para cada empresa e indivíduo, pois depende das alternativas de investimento aceitáveis e do risco que o investidor está dispos- to a correr, já que ela é a soma entre a rentabilidade financeira mínima e o fator de risco. Vamos calcular na HP12C: Não esqueça! Padronizar 4 casas decimais f 4 e depois zerar a memória de cálculo f REG. 132 4 Controle orçamentário e tributário Valor investimento inicial CHS (valor negativo) g CFo Valor entrada g CFj Valor entrada g CFj Valor entrada g CFj Valor entrada g CFj Valor de entrada g CFj Valor da taxa i (taxa de desconto considerada) Para exibir o VPL clicar no botão f NPV Exemplo: Suponha que tenhamos o mesmo exemplo anterior, com um investimento inicial de R$ 10.000,00 e fluxos anuais de R$ 4.500 por ano ao longo de 5 anos. A taxa de desconto que a empresa utiliza para avaliar os seus projetos de investimento é de 20% ao ano. Teríamos então o seguinte fluxo de caixa: Figura 04. Fluxo de Caixa. Fonte: Elaborado pelo autor. Calculando o VPL na HP12C: ` 10.000 CHS para trocar o sinal. ` Tecle g CF0 para entrar o investimento inicial. ` Tecle 4500 e depois em g CFj para entrar o fluxo do primeiro ano. ` Tecle 4500 novamente e depois em g CFj para entrar o fluxo do segundo ano. ` Tecle 4500 novamente e depois em g CFj para entrar o fluxo do terceiro ano. ` Tecle 4500 novamente e depois em g CFj para entrar o fluxo do quarto ano. 133 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Fonte: Elaborado pelo autor. ` Tecle 4500 novamente e depois em g CFj para entrar o fluxo do quinto ano. ` Tecle o número 20 e depois em i para entrar com a taxa de desconto. ` Tecle f e depois em NPV para encontrar o valor presente líquido. ` A calculadora irá retornar o valor de R$ 3.457,75, que será o valor do VPL desse projeto 1.2. TIR (TAXA INTERNA DE RETORNO) A taxa interna de retorno (TIR) ou internal rate of return (IRR) é a taxa de juros (ou de desconto) que iguala o valor presente de entradas (recebimentos) ao valor presente das saídas (pagamentos) do fluxo de caixa. É a taxa em que o VPL se iguala a zero, representando a taxa de retorno do investimento no período considerado. Em outras pa- lavras, a soma do fluxo de caixa positivo projetado e descontado pela TIR é exatamente igual ao valor do investimento. TIR é a taxa de retorno que anula o VPL do projeto, ou seja, nulo. A TIR representa o retor- no referente ao investimento. Para interpretar os resultados da TIR veja o quadro abaixo: Tabela 02. Resultados da TIR. TIR maior que Taxa mínima de atratividade Valor presente líquido é positivo Investimento é viável TIR menor que a Taxa Mínima de atratividade Valor presente líquido é negativo Investimento não é viável Calculando TIR na HP 12c: ` Digitar o investimento inicial → CHS → g → CFo. ` Digitar cada valor do fluxo de caixa → g → CFj. ` Se algum fluxo de caixa se repete, basta selecionar a quantidade dessa repetição → g → Nj. ` Ao final descobrimos o valor da TIR pressionando f → IRR. Exemplo em HP 12c: Em um investimento de R$ 70.000,00 com um fluxo de caixa, com 1a entrada de R$ 12.000,00 e outras 10 entradas de R$ 10.000,00, sabendo que a taxa do investimento é de 10%, digi- tamos na calculadora: ` 70.000 → CHS → g → CFo; ` 12.000 → g → CFj; 134 4 Controle orçamentário e tributário EXEMPLO ` 10.000 → g → CFj, e como este fluxo de caixa se repete mais 10 vezes, fazemos ainda: 10 → g → Nj; Descobrimos a TIR: f → IRR. 1.3. PAYBACK O método do payback identifica o tempo necessário para a recuperação do investimen- to, ou seja, em quanto tempo o valor presente dos fluxos de caixa previstos se iguala ao investimento inicial. Nesse caso, o investidor analisará se o tempo identificado é adequado ou não. Para tanto, é necessário fazer uma soma do valor presente de cada fluxo existente por etapa, criando um fluxo de caixa a valor presente acumulado. Existem dois tipos de payback: a) simples: não considera o valor do dinheiro no tempo e também se limita ao momento em que o lucro cobre o investimento; b) descontado: utiliza uma taxa de desconto que pode ser anual ou mensal, de acordo com o interesse do investidor. Geralmente a taxa utilizada é a TMA, ou seja, taxa mínima de atratividade. O tempo de retorno de um investimento varia de setor para setor e entre projetos. Considera-se payback: a) o momento de inversão do fluxo de caixa de negativo para positivo; b) o tempo necessário para recuperar o investimento inicial. Um investimento é aceitável quando seu período de payback é inferior ao período predeterminado. O método de payback possui como vantagens: a) fornece uma ideia do grau de liquidez e de risco do projeto; b) aumenta o nível de segurança dos investimentos. E como des- vantagens: a) não considera o fluxo de caixa após o ano de recuperação, ou seja, em projetos longos não é muito recomendado; b) não apresenta uma análise muito clara; c) não considera o dinheiro no tempo. A empresa Sonhos Ltda. realizou uma análise para redução de custo na montadora de veí- culos Pesadelos Automóveis S.A. quanto aos custos na fabricação de air-bags, item de segu- rança instalado sob o motor para proteger os usuários de possíveis impactos. A Sonhos Ltda. encontrou um dispositivo que pode reduzir o custo de produção em 12% com um investimen- to de R$ 1,7 milhão. Sabendo que cada peça tem custo de R$ 123,00, e que são produzidas 21.000 peças no mês, e que a Pesadelos Automóveis S.A. quer retorno em 3 meses, decida se o projeto deve ser aceito ou não. Então: Investimento inicial = $ 1,7 milhão Custo atual da fabricação = $ 123,00 Custo com a redução de custo = $ 123,00 – 12% = $ 108,24 $ da redução = $123,00 – 108,24 = $ 14,76 135 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co IMPORTANTE P = investimento inicial $ redução x produção P = 1.700.000 = 5,48 meses 14,76 x 21.000 Inviável, pois a empresa quer o retorno em 3 meses. Técnicas de Análises: ` VPL (valor presente líquido) = indica se o projeto de investimento é viável ou não, porém não considera a linha do tempo para que isso ocorra. ` Payback (retorno) = indica em que momento (período) o investimento “se paga”, ou seja, obtém valor de VPL nulo. ` TIR (taxa interna de retorno) = indica qual a taxa no projeto de investimento. 1.4. AVALIAÇÃO DE EMPRESA Ao avaliar um investimento, surgem as seguintes variáveis: o risco, o retorno e a liquidez do negócio. Simplificadamente, é possível definir o risco como a probabilidade de que os resultados previstosnão sejam atingidos, ou seja, o risco representa a probabilidade de perda ou ganho do investimento. Assaf Neto (2009, p. 220) afirma que a avaliação de uma empresa se delimita aos componentes de seu risco total: econômico e financeiro. As principais causas determinantes do risco econômico são de natureza conjuntural (alterações na economia, tecnologia etc.), de mercado (crescimento da concorrência, por exemplo) e do próprio planejamento e gestão da empresa (vendas, custos, preços, investimentos etc.). O risco financeiro, de outro modo, está mais diretamente relaciona- do com o endividamento (passivos) da empresa, sua capacidade de pagamento, e não com as decisões de ativos, conforme definidas para o risco econômico. Por definição, um negócio ou investimento sempre tem algum grau de risco. O investi- dor, ao avaliar as opções, espera obter retornos maiores para riscos maiores, ou seja, quanto maior o risco de um investimento, maior a rentabilidade esperada. Gitman (2004, p. 71) destaca o trade-off (escolha entre opções conflitantes) entre risco e retorno, explicando: “o fato de que para aceitar maiores riscos os investidores devem ser compensados com a expectativa de um retorno maior”. Outra variável importante a ser considerada é a liquidez do investimento, definida como a facilidade de se converter um investimento em dinheiro sem que haja grande perda de valor (GITMAN, 2004). Ou seja, o investidor pode recuperar o valor investido a qual- quer momento, ou deve esperar algum tempo para resgatá-lo? Em uma caderneta de 136 4 Controle orçamentário e tributário poupança, por exemplo, o depósito pode ser sacado a qualquer momento, embora o rendimento só seja depositado na data de aniversário do depósito. Uma ação também pode ser vendida a qualquer momento, mas, se o mercado estiver em baixa, o inves- tidor pode perder parte do que investiu na sua compra. Sendo assim, a caderneta de poupança tem liquidez maior do que a ação. Os investidores sempre esperam que a falta de liquidez de um investimento seja com- pensada por um retorno maior. Ou seja, há uma relação inversa entre liquidez e retorno, pois quanto menor a liquidez do investimento, maior é o retorno esperado. A relação entre liquidez e risco também é inversa: quanto maior a liquidez (mais facili- dade de resgate), menor tende a ser o risco, pois é mais fácil vislumbrar um cenário de curto do que de longo prazo. Índices de rentabilidade A rentabilidade indica o nível de retorno para os investidores em relação aos valores in- vestidos na empresa; também mede a rentabilidade dos negócios em razão do volume de ativos que a empresa possui. A lucratividade é a relação do lucro líquido do exercício proporcionalmente ao volume de vendas que uma empresa teve em dado momento, identificando a contribuição de cada venda para o resultado. Se uma empresa não apresenta lucratividade nem rentabilidade, dificilmente consegui- rá atrair capital externo, motivo pelo qual os proprietários, credores e administradores dedicam especial atenção a esses indicadores. O índice de lucratividade ou índice de rentabilidade mede o benefício gerado por cada R$ 1,00 empregado no projeto. Sua fórmula: Vejamos o projeto do tópico anterior, quando tratamos da TIR, dado um custo de capital de 10% ao ano: ` Investimento inicial: R$ 100.000,00; ` Ano 1: fluxo de R$ 40.000,00; ` Ano 2: fluxo de R$ 50.000,00; ` Ano 3: fluxo de R$ 50.000,00. O cálculo simples de VPL a 10% anuais nos dará R$ 15.251,70. Ou seja, os R$ 100.000,00 foram remunerados em 10% e ainda tivemos uma rentabilidade extra de R$ 15.251,70. 137 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Calculando o índice de lucratividade, teríamos: Isso nos diz que, a cada R$ 1,00 investido, tivemos um benefício de R$ 1,1525. Claro que estes R$ 0,1525 que estamos recebendo a mais estão além dos 10% anuais que exigiríamos receber. Obviamente, um índice de lucratividade só poderá ser aceito caso apresente quociente maior que 1,00 (ROSS, WESTERFIELD & JAFFE, 2011, p. 149). Assim, se o VPL trata de dinheiro e a TIR, de taxa de juros, o índice de lucratividade ou Rentabilidade nos trata do benefício de um R$ investido. Vamos utilizar o exemplo a seguir, das máquinas A e B, calculando o VPL e o índice de lucratividade a uma taxa de 10% ao ano: Tabela 03. T MÁQUINA A MÁQUINA B INVESTIMENTO INICIAL: R$ 1.000.000,00 FLUXOS DE CAIXA: INVESTIMENTO INICIAL: R$ 1.000.000,00 FLUXOS DE CAIXA: Ano 1: R$ 200.000,00 Ano 1: R$ 240.000,00 Ano 2: R$ 240.000,00 Ano 2: R$ 200.000,00 Ano 3: R$ 300.000,00 Ano 3: R$ 330.000,00 Ano 4: R$ 330.000.00 Ano 4: R$ 300.000.00 Ano 5: R$ 350.000,00 Ano 5: R$ 350.000,00 Ano 6: R$ 350.000,00 Ano 6: R$ 350.000,00 VPL da máquina A = R$ 245.842,51 138 4 Controle orçamentário e tributário VPL da máquina B = R$ 251.197,33 O índice de rentabilidade da máquina B é de 1,2512, enquanto o da máquina A é de 1,2458. A cada R$ 1,00 investido pela empresa na máquina B a 10% ao ano, haverá um retorno de R$ 1,2512, ligeiramente maior que a máquina A. Dessa forma, a máquina B deveria ser escolhida. Índice de margem de lucro líquido Esse indicador mede a porcentagem de cada valor de venda que sobra após a cober- tura de todos os custos e despesas, inclusive juros, Imposto de Renda e dividendos preferenciais. É calculado pela expressão: Quanto maior o resultado, mais satisfatório ele será, pois é uma medida frequentemente associada ao sucesso de uma empresa em relação ao lucro obtido com as vendas. Índice de lucro por ação O índice de lucro por ação é bastante apreciado pelos acionistas, pois representa o número de unidades monetárias ganhas durante determinado período para cada ação em circulação. É obtido a partir da seguinte fórmula: Os investidores costumam observar esse índice com especial atenção, pois ele é um importante indicador de sucesso empresarial. 139 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Índice de retorno sobre o ativo total Esse índice mede a eficácia geral da administração na geração de lucros a partir dos ativos disponíveis. Quanto mais elevado esse indicador, melhor é a situação da empresa. Ele é calculado pela fórmula: Também podemos encontrar a sigla ROA (do inglês, return on total assets) ou ROI (do inglês, return on investments) para se referir a esse índice. Índice de retorno sobre o capital próprio O índice de retorno sobre o capital próprio mede a eficiência dos investimentos dos acionistas na empresa para cada unidade monetária aplicada. Quanto maior o retorno, melhor a avaliação externa da empresa. Esse índice também costuma ser expresso pela sigla ROE (do inglês, return on com- mon equity). A maioria dos índices serve de base para a escolha das 500 maiores empresas do Brasil. Os cálculos são realizados com base nas demonstrações financeiras publicadas. 1.5. SELEÇÃO DE PROJETO X EFICIÊNCIA E PRODUTIVIDADE Ao analisarmos um investimento, estamos comparando-o a outra alternativa de aloca- ção do capital que rende a uma taxa mínima de atratividade (TMA) e cujo VPL é igual a zero. Sendo assim, sabemos que o investimento é interessante se esses dois indicado- res são superiores ao da base de comparação para alocação do capital. No entanto, qual a decisão a ser tomada quando nos deparamos com mais de uma alternativa de alocação do capital? Que tipo de comparação precisamos realizar? Temos, assim, uma decisão com projetos mutuamente excludentes, o que significa que a aceitação de um projeto depende da rejeição do outro. Uma operação de empréstimo pode ter resultados diferentes de acordo com o regime de capitalização, isto é, depen- dendo de como a taxa de juros incide sobre a operação. A capitalização pode ser definida como a maneira como os juros são incorporados ao capital. Há dois regimes de capitalização: a capitalização simples e a capitalização com- posta. 140 4 Controle orçamentário e tributário Enquanto noregime de capitalização simples a taxa de juros incide sempre sobre o valor original da operação, no regime de capitalização composta ela incide sobre o valor original e sobre os juros acumulados. A tomada de decisão sobre um projeto deve ser precedida de uma avaliação que men- sure a quantia que poderá ser obtida com a venda dos ativos, que perderão utilidade com a descontinuidade do projeto. Deve-se também avaliar a eventual utilização des- ses ativos em outras áreas da empresa. Para abandonar determinado projeto, o valor presente dos incrementos esperados nos anos seguintes deve ser inferior ao valor do abandono. Caso contrário, a empresa deve optar pela continuidade do projeto já que ele se mantém atrativo. Você viu que uma eventual decisão por abandonar o projeto pode ser adotada, mas deve ser precedida por uma avaliação dos valores envolvidos e da atratividade do projeto. O reconhecimento quanto à importância do planejamento estratégico é ampliado à me- dida que o mercado entra em desaceleração. Quando o cenário é outro, ou seja, quando o mercado está aquecido, há grande pro- babilidade de que faltem produtos e as empresas, portanto, focam seus investimentos na ampliação da produção. Dessa forma, o processo de formulação da estratégia e, consequentemente, a elaboração do plano estratégico ficam em segundo plano. Em uma situação de aquecimento do mercado, por mais relevante que seja a formula- ção da estratégia, perceba que as empresas têm uma única preocupação – produzirem mais –, já que existe uma demanda potencial elevada. Em situação contrária, com o mercado em recessão, com as margens de receita decrescentes e com o acirramento da concorrência, é fundamental que a empresa avalie o ambiente competitivo em seus diversos aspectos e que formule a estratégia que sustente a sua operação. 2. ORÇAMENTO SOBRE O PROCESSO DE GESTÃO O processo de gestão é uma sequência de atividades administrativas de planejamen- to, organização, direção e controle que devem ser coerentes com a visão, missão e valores da empresa. O orçamento, por sua vez, é uma ferramenta fundamental para a gestão do proces- so operacional da empresa, pois envolve todos os setores da companhia e tem como característica a continuidade, o intuito de avançar e de praticar ações com objetivo de alcançar um propósito ou uma meta definida. É um roteiro financeiro para se chegar aos objetivos da empresa e, para isso, determina um esforço de todos os seus participantes. Entende-se por planejamento a “criação e estabelecimento de planos gerais e específi- cos para períodos de um, dois, quatro, cinco anos ou mais”. (HOJI, 2004, p. 16). A partir das definições, é possível concluir que tanto o planejamento quanto o orça- mento são processos que estabelecem futuras expectativas de caráter operacional, administrativo e financeiro, com a finalidade de nortear os gestores na execução dos objetivos propostos pelos acionistas no planejamento estratégico. 141 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Portanto, o orçamento é considerado um instrumento de planejamento, o qual defi- ne, quantitativamente e num horizonte menor de tempo, um plano de ação focado na implantação dos objetivos estabelecidos no planejamento estratégico. Vale ressaltar ainda que o orçamento é também considerado um instrumento de controle, haja vista que permite o acompanhamento dos resultados por meio da comparação dos valores planejados com os resultados obtidos. A falta de planejamento, incluída a inexistência de orçamentos, é uma das causas da falência de muitas empresas. Um orçamento é a expressão de um plano de ação futuro da administração para de- terminado período. Ele pode abranger aspectos financeiros e não financeiros desses planos e funciona como um projeto para a empresa seguir no período vindouro. Os orçamentos referentes a aspectos financeiros quantificam as expectativas da adminis- tração em relação a receitas futuras, fluxo de caixa e posição financeira. O objetivo principal do orçamento está atrelado a duas funções administrativas: o plane- jamento e o controle. Nesse sentido, como instrumento de planejamento, ele tem como objetivo estabelecer, quantitativamente, as ações a serem executadas e os resultados dos objetivos a serem alcançados. Por exemplo, o orçamento definirá o volume de ven- das e, com base nele, serão estabelecidas as quantidades a serem produzidas, mão de obra necessária e assim sucessivamente. E como instrumento de controle, o orçamento permitirá o acompanhamento dos resultados obtidos, comparando-os ao planejado, ve- rificando se houveram desvios e se são necessárias ações corretivas. Outro aspecto fundamental do orçamento é que não se restringe a determinar planos de forma quantitativa, mas preocupa-se em também estabelecer e coordenar os objetivos entre todas as áreas da organização, fazendo com que haja sinergia entre todos na realização dos objetivos. Ao se estabelecer um processo orçamentário, inevitavelmente, as ações a serem re- alizadas em determinado período passam a ser formalizadas, não se restringindo à execução de metas imprecisas e definidas de um dia para o outro. Dessa forma, o processo de planejamento orçamentário obriga os gestores a analisar antecipadamente os recursos que serão empregados tendo em vista os objetivos que deverão ser alcançados. Nesse sentido, essa análise antecipada faz com que o empre- go dos recursos seja mais bem analisado, otimizando assim a utilização dos recursos disponíveis. Ademais, todo esse processo forçará os gestores a estabelecerem as atividades a serem realizadas de forma quantitativa, concedendo maior clareza e objetividade na gestão. Quando se têm objetivos quantitativamente estabelecidos, o desempenho pode ser avaliado de forma mais precisa e detalhada, permitindo a identificação dos pontos defi- citários na execução das tarefas. E, mesmo que não haja deficiências, pode-se identifi- car aspectos a serem aprimorados. A forma como as organizações conduzem seu processo orçamentário e as etapas que o compõem variam de empresa para empresa devido a variáveis como porte, estrutura, natureza etc. Existem tipos diferenciados de orçamento que utilizam técnicas e princí- 142 4 Controle orçamentário e tributário IMPORTANTE pios diferentes para elaborá-los. Essa diferenciação surge por necessidades específi- cas que as empresas possam ter. Abaixo segue uma definição dos tipos de orçamento. ` Orçamento de tendência: uma prática orçamentária muito comum tem sido utilizar dados passados para projeções de situações futuras. Tal prática tem dado bons resultados, pois, de modo geral, os eventos passados são decorrentes de estruturas organizacionais já existentes e, por consequência, há forte tendência de tais eventos se reproduzirem, con- siderando a introdução dos novos elementos componentes do planejamento operacional da empresa. ` Orçamento base zero: é uma proposta conceitual de elaboração de orçamento que apa- receu em contraposição ao orçamento de tendências. A filosofia do orçamento base zero está em romper com o passado, em dizer que ele nunca deve partir de observação dos dados anteriores, pois eles podem conter ineficiências que o orçamento de tendências acaba por perpetuar. A questão fundamental para o orçamento base zero é a seguinte: não é porque aconteceu que deverá acontecer. ` Orçamento estático: é o mais comum. Elaboram-se todas as peças orçamentárias a partir da fixação de determinado volume de produção ou vendas. Esses volumes, por sua vez, também determinarão o volume das demais atividades e setores das empresas. O orçamento é considerado estático quando a administração do sistema não permite nenhu- ma alteração nas peças orçamentárias. ` Orçamento flexível: foi desenvolvido para solucionar o problema do orçamento estático; daí surgiu o conceito de orçamento flexível. Neste caso, em vez de um único número determinado de volume de produção ou de vendas, ou volume deatividade setorial, a empresa admite uma faixa de nível de atividades, onde tendencialmente se situarão tais volumes de produção ou vendas. Basicamente, “o orçamento flexível é um conjunto de orçamentos que podem ser ajustados a qualquer nível de atividades”. ` Orçamento corrigido: é aquele em que existe o ajuste automático do orçamento em função das variações dos níveis inflacionários. Nem todos gestores aprovam esse tipo de orçamento, tendo em vista que a responsabilidade na manutenção dos números e informações que compõem o orçamento deve estar sob sua tutela. A automatização pura e simples no repasse dos índices inflacionários aos preços de venda, por exemplo, pode comprometer a competitividade da organização de forma global. ` Orçamento contínuo: é o orçamento que passa a vigorar quando existe alguma varia- ção no volume de atividades de uma organização. Trata-se da adequação dos níveis de atividade inicialmente propostos pelo orçamento estático. Vale lembrar que poderão ser feitos ajustes quantos forem necessários para atender a mudança de rumos da empresa. Um orçamento não precisará necessariamente se enquadrar em apenas um dos tipos de orçamento citados anteriormente. Ele poderá seguir mais de um dos princípios. Ele poderá, por exemplo, ser um orçamento de tendências, pois seus dados são obtidos através de pro- jeções de dados passados, mas também poderá ser um orçamento estático se tal projeção for determinada como fixa e que limitará toda a peça orçamentária 143 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co 2.1. ORÇAMENTO X INVESTIMENTOS O orçamento de investimentos, também denominado orçamento de capital, envolve to- dos os valores alocados no ativo imobilizado e intangível, e os valores decorrentes dos cálculos de depreciação, amortização e exaustão. Já o orçamento de aplicações financeiras e empréstimos tem como objetivo mensurar as sobras e as faltas de caixa envolvidas nas operações da empresa e, a partir da ne- cessidade, orçar custos de financiamento e, das sobras, apurar as receitas financeiras. Ao final de determinado período, que pode ser mensal, trimestral ou anual, dependen- do do porte da empresa, ela elabora e publica demonstrações contábeis. Os dados e informações dessas demonstrações, porém, são de fatos já ocorridos, tendo caracte- rística de retrospecção. O orçamento, por sua vez, tem a característica de prospecção e, além dessa, apresenta a de antevisão. Isso significa que informações e dados devem ser os previstos, e não os realizados. Estes servem de base para as previsões. Os resultados, o fluxo de caixa e os componentes do Balanço Patrimonial para fins orçamentários correspondem, em decorrência, ao que se prevê que aconteça. O orçamento de resultado, que é elaborado a partir dos orçamentos anteriores, é reali- zado com o objetivo de apurar o resultado da entidade em determinado período. O orçamento de caixa tem por finalidade antever o valor das entradas de caixa, prove- niente das vendas e de outras receitas, e das saídas de caixa, resultante para paga- mento de todos os gastos incorridos na entidade. O orçamento do Balanço Patrimonial projetado tem por objetivo reunir todos os elemen- tos patrimoniais (bens, direitos e obrigações) que serão necessários para o processo operacional da entidade. Na revisão de literatura é possível destacar algumas datas que, segundo diversos auto- res, se referem à origem do orçamento no âmbito da administração pública: ` Em 1188, período de unificação da Espanha e Portugal, decide-se que os impostos deve- riam ser votados por delegados dos cidadãos. ` Em 1215, quando foi assinada e divulgada a Magna Charta Baronorum (Magna Carta) pelo Rei João Sem Terra, determina-se que nenhum tributo ou auxílio seria instituído no Reino, senão pelo Conselho Comum. ` Na França, o controle parlamentar sobre o orçamento ocorreu somente a partir de 1831. Com a edição da lei que determinava o princípio da anualidade do orçamento, houve a obrigação de ele conter as previsões de receitas financeiras, de acordo com o princípio da universalidade. ` As práticas orçamentárias contemporâneas, porém, desenvolveram-se a partir da Cons- tituição Inglesa promulgada em 1869, que determinava que o rei e o primeiro-ministro só pudessem instituir tributos com a autorização do Parlamento, ficando obrigados a entregar a este os planos relativos às despesas. 144 4 Controle orçamentário e tributário Ainda na Inglaterra, em 1866, foram criadas as unidades administrativas de Controla- doria e Auditoria Geral. Nos Estados Unidos, em 1907, a cidade de Nova York implantou o orçamento público que compreendia todas as receitas e despesas que ocorreriam no ano seguinte. A Lei de 1921 (Lei de Orçamento e Contabilidade – Budget and Accounting Act), aprovada pela Câmara dos Representantes, determinou a adoção obrigatória do orçamento, que seria elaborado pelo Poder Executivo e aprovado pela Câmara. No Brasil, uma lei editada em 1827, de acordo com Chaves (2008), é considerada por muitos como a primeira lei de orçamento do Brasil; outros consideram que o primeiro orçamento brasileiro data de 1830 por Decreto Legislativo de 15-12-1830 (CHAVES, 2008), que orçou despesas e receitas das antigas províncias. Há os que consideram que o orçamento começou no Brasil somente com a Constituição Federal de 1891, que determinou que a elaboração do orçamento fosse privativa do Congresso Nacional. A Constituição Federal outorgada em 1934 instituiu uma seção própria para o orçamento, mantida pela Constituição Federal de 1937. Na iniciativa privada, “a técnica orçamental foi utilizada na empresa, pela primeira vez, por Donaldson Brown, gerente financeiro da Du Pont De Memours, nos Estados Unidos, em 1919” (HOJI, 2004, p 25). 2.2 ORÇAMENTO AJUSTADO O orçamento ajustado (forecast) é assim denominado porque realiza ajustes quando se modificam o volume ou nível de atividade inicialmente planejado, indo para outro nível de volume ou de atividade, isto é, o orçamento é ajustado nos volumes planeja- dos dentro do orçamento inicial, podendo se fazer ajustamentos, tantos quantos forem necessários. Trata-se da primeira derivação do orçamento estático, oferecen-do a este uma alternativa de flexibilização. O orçamento base zero (zero-base budgeting – OBZ) foi introduzido pelo governo dos Estados Unidos por volta de 1961 e, na sequência, passou a ser utilizado por empresas privadas. O OBZ segue a vertente 1 que, por conceito, procura manter um orçamento rígido, sendo utilizado como ferramenta de controle e de avaliação. Como filosofia, po- rém, diferentemente do orçamento estático, o OBZ não parte de fatos anteriores, sob a argumentação de que o que aconteceu no passado pode não acontecer no futuro. Con- trapõe-se, por isso, ao conceito de tendências que partem da premissa de que eventos e dados do passado, por serem decorrentes das estruturas organizais em operação, tendem a se repetir no futuro. Para elaborar o OBZ, parte-se das justificativas das despesas e, para cada item inseri- do, devem ser consideradas somente as despesas que se presume ocorreriam no ano seguinte, com a exclusão do histórico das despesas passadas. O ABC (activity-based costing – custeio à base das atividades), também da vertente 1, atende à demanda das empresas e do mundo acadêmico que buscam cada vez mais um sistema dinâmico de informação que atenda às exigências do mercado atual. 145 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Ultimamente têm surgido diversos modelos para a tomada de decisões, daí o surgimento do ABC, um sistema de contabilidade gerencial que atribui os custos com base nas atividades. Para a aplicação do ABC há necessidade de examinar quais atividades são realizadas em cada centro e eleger um direcionador quantitativo para cada uma delas. 3. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO O Sistema Tributário Nacional se expressa por meio de dispositivos constitucionais, das leise de atos normativos infralegais, como normativas, portarias, pareceres, instruções, entre outros. O objetivo e a importância do Sistema Tributário Nacional é orientar a com- petência e a capacidade tributária, dois conceitos centrais do Direito Tributário. Definir e diferenciar competência de capacidade tributária é importante para compre- ender a teoria geral do Direito Tributário e a estrutura do Sistema Tributário Nacional. Competência tributária diz respeito ao poder de instituir e criar tributos. Já a noção de capacidade tributária diz respeito à atividade arrecadatória em si, ou seja, é a qualidade que as entidades do poder público possuem para se tornarem sujeito ativo em uma relação tributária e cobrar o tributo do sujeito passivo/devedor. O Sistema Tributário Nacional encerra um complexo normativo pautado pela proteção dos agentes econômicos contra possíveis abusos do Estado no exercício do poder de tributar. Sob tal perspectiva, compreender os princípios constitucionais do Sistema Tributário Nacional é fundamental para o cidadão, para os agentes econômicos e – so- bretudo – para os profissionais que atuam na área fiscal. Vamos, agora, aprofundar a análise dos temas de Direito Tributário, compreendendo sua razão de ser, sua impor- tância e seus conceitos básicos. A Constituição de 1988 (CF) é a principal lei do Brasil. Nela estão escritos os princípios e as regras fundamentais que constituem o Estado brasileiro. Seu texto é organizado como um livro, dividido em títulos que, por sua vez, são divididos em capítulos. Estes se dividem em seções. Assim, se quisermos localizar determinado assunto, o índice apresenta-se dividido em dez títulos. Além do texto principal, ainda existe o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que é uma espécie de adendo à CF para regular a transição democrática. O Código Tributário Nacional (CTN) estabelece uma relação hierárquica e funcional em relação ao texto constitucional. Hierárquica porque, enquanto dispositivo legal, sua validade está sujeita à conformidade com a interpretação constitucional. Assim, é possível que seus dispositivos sejam declarados inconstitucionais, destacan- do-se do ordenamento jurídico (sobretudo porque, vale lembrar, a redação do CTN é anterior à Constituição de 1988, uma vez que foi instituído pela Lei n. 5.172/66). E fun- cional porque, observando as utilizações da CF e do CTN dentro do discurso jurídico, é possível observar que estes apresentam funções bem distintas. Portanto, o CTN é o documento legal mais importante na doutrina tributária após o texto constitucional. 146 4 Controle orçamentário e tributário Ao se falar em Sistema Tributário Nacional, admite-se a existência de princípios tri- butários próprios. No Direito Tributário Constitucional, destacam-se os princípios da legalidade, isonomia, anterioridade geral e nonagesimal, irretroatividade, capacidade tributária, uniformidade e vedação do confisco. O princípio da legalidade implica que nenhum tributo pode ser exigido ou aumentado sem lei anterior que o estabeleça. Assim, não basta que o tributo esteja previsto pela CF ou pelo CTN, é preciso que haja uma lei específica instituindo sua cobrança. Sendo assim, um tributo não pode ser criado ou majorado por decreto, regulamento, portaria ou qualquer outro ato diferente de uma lei. Outra observação necessária e que decorre da legalidade é a tipicidade do tributo, conforme aponta Amaro (2006). Isso significa que a lei que institui o tributo deve ser taxativa, fechada e clara nas definições do fato gerador do tributo, não admitindo al- terações ou ampliação não prevista na própria lei, o que significa dizer que é uma lei incontestável e bem delimitada. Os princípios da anterioridade geral e nonagesimal e da irretroatividade complemen- tam o princípio de legalidade. Desses princípios, decorrem garantias de que o cidadão não seja surpreendido pela atividade fiscal. Dessa forma, o princípio da irretroatividade impede que sejam criados tributos visando atingir fatos passados. Já o princípio de an- terioridade garante às pessoas e aos agentes econômicos segurança jurídica em suas atividades e um prazo para se adaptarem ao tributo. O princípio da isonomia ou da igualdade tributária veda ao ente estatal instituir trata- mento desigual entre contribuintes que estejam em situação equivalente e proíbe trata- mento desigual em razão de ocupação profissional. O princípio da vedação ao confisco estabelece que não é permitido ao Estado utilizar o tributo como instrumento de apro- priação do patrimônio do contribuinte. 3.2 APLICABILIDADE DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO A carga tributária é, em uma definição simples, o produto da divisão entre os tributos e o valor do produto interno bruto (PIB), ou seja, corresponde à comparação que se estabe- lece entre toda a riqueza produzida no Brasil e o montante arrecadado pelo governo a título de tributação. É comum ver manchetes nos jornais e demais mídias classificando a carga tributária brasileira como uma das maiores do mundo. PIB é um indicador que serve para medir a atividade econômica de uma região, no qual é demonstrado o valor de toda a riqueza auferida em uma região, de acordo com os bens e serviços. Planejamento tributário é um conjunto de estratégias lícitas com a finalidade de alcan- çar uma menor carga tributária. O planejamento é feito com base em técnicas elisivas, ou seja, procedimentos para evitar ou atrasar a incidência de fatos geradores. Técnicas elisivas acontecem quando o contribuinte se antecipa ao fato gerador de um tributo e, antes que ele ocorra, usa atos lícitos para diminuir ou até mesmo impedir o nascimento da obrigação tributária. Quando há a importação de um produto pela Zona 147 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Franca de Manaus, ocorre a redução de até 88% do Imposto de Importação e isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), sendo essa uma forma de elisão fiscal. O fato gerador é o evento que marca o nascimento do tributo, e é nele que um planejamen- to estratégico deve se focar. O planejamento envolve a escolha correta de procedimentos administrativos fiscais e a interpretação adequada das normas fiscais, para que, por meio dos mecanismos corretos, as empresas possam resguardar seus direitos de contribuinte. O planejamento tributário é uma atividade empresarial; sendo assim, deve fazer parte das atividades corriqueiras de uma empresa e tem como maior resultado a prevenção do excesso de carga tributária, buscando a economia tributária e, ainda, o aumento da rentabilidade da empresa. Com o planejamento tributário, a intenção é evitar que o tri- buto seja gerado, inibindo a ocorrência de seu fato gerador, reduzir o valor dos tributos a serem pagos e postergar de maneira legal o pagamento do tributo. É importante que o planejamento seja lícito, do contrário pratica-se a sonegação fiscal. 3.2. OBJETIVOS E LIMITES DO PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Como vimos, o objetivo do planejamento tributário é levar para uma empresa a oportunidade da economia tributária, conforme a legislação própria de cada tributo, garantindo eficiência na análise tributária e impactando positivamente na reorganização de seus custos fiscais. O benefício tributário acontece quando o fato gerador pode ser protelado ou evitado. Um exemplo é a importação ou exportação de produto acabado: se for possível expor- tar com valor equivalente ao que seria comercializado internamente, é mais vantajoso exportar porque não incidirão os tributos Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e IPI. Outro exemplo está na opção de tributação por lucro presumido, lucro real ou Simples Nacional. Antes da escolha, deve-se simular e descobrir qual é o regime mais vantajoso para a pessoa jurídica, no caso, os tributos Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). O benefício financeiro, por sua vez, ocorre quando o planejadortributário consegue adiar o fato gerador, simular a melhor condição de tributação ou a inexistência do fato gerador para os tributos. No caso do exemplo apresentado, deixar de recolher aos co- fres públicos o valor total, recolher apenas o valor reduzido ou ainda a inexistência de pagamento de tributo (se possível) são fatores que aumentam o saldo de caixa, o que é uma verdadeira consequência positiva para o caixa da organização. Para que o planejamento tributário seja eficiente, é necessário que os conceitos de eli- são e evasão fiscal estejam claros. Elisão fiscal é fazer economia dentro dos conceitos legais, na observância de lacunas da legislação. É aproveitar-se da própria legislação e de oportunidades que ela dá quando deixou de abordar algum tema ou ainda fazer a escolha menos onerosa dentro das formas tributárias existentes. Sendo assim, a elisão pode ocorrer quando se impede que a obrigação tributária seja gerada, seja reduzindo o montante da obrigação ou optando por um negócio menos oneroso. A elisão fiscal pode ser de duas espécies: induzida pela lei ou pelas lacunas da lei. 148 4 Controle orçamentário e tributário Um exemplo de elisão prevista em lei ocorre quando são oferecidos incentivos fiscais, bem como isenções tributárias a empresas que se instalarem em determinados locais, visando ao desenvolvimento de regiões ainda pouco evoluídas. No caso de elisão de- corrente de lacunas na lei, temos o exemplo de empresas que instalam propositalmente sua sede em munícipio que apresente alíquotas mais baixas de impostos. Evasão fiscal, por outro lado, não se confunde com a elisão fiscal. Apesar de parecerem conceitos próximos, o fato de a evasão ocorrer da ilegalidade as diferencia totalmente. A evasão é um ato ilegal voluntário, ocorrido após o fato gerador do tributo, com a fina- lidade de evitar o pagamento da obrigação tributária. Esses atos ilícitos envolvem notas fiscais falsas, registros contábeis fraudulentos etc. 3.3. TIPOS DE PLANEJAMENTO O planejamento tributário operacional é a forma normativa, ou seja, engloba todos os procedimentos de registros contábeis das operações e transações da organização sem que haja qualquer alteração de sua característica básica. O planejamento tributário es- tratégico, por outro lado, se comporta como uma ferramenta de gestão da empresa e estuda a melhor maneira de alcançar as metas determinadas, também dentro das normas, mas alterando algumas características para optar pelo que lhe é mais conve- niente. Isso gera impacto desde o plano de negócios até o tipo de financiamento que a empresa escolhe para desenvolver suas atividades. Trazendo para a realidade empresarial, o planejamento preventivo ocorre quando a em- presa se dispõe a fazer um estudo prévio de suas atividades e de suas transações mer- cantis, sejam de indústria, comércio ou prestação de serviço. No planejamento corretivo, sua aplicação somente será válida se a organização não utilizou os estudos tributários prévios que pudessem detectar falhas, e, portanto, após a aplicação errônea de uma clas- sificação do produto, mercadoria ou serviço ou de um adiamento incorreto do fato gera- dor, cabe a correção em órgãos competentes para que não haja aplicação do rigor da lei. Já o planejamento especial é aplicado quando existe reorganização societária em que surgiram fatos geradores distintos à atividade da empresa, como é o caso de cisão, incorporação, fusão, associação, entre outros. 3.4. OPÇÕES DE TRIBUTAÇÃO E FORMAS EMPRESARIAIS A Receita Federal do Brasil determina que as empresas precisam fazer sua opção de tributação sempre no primeiro trimestre do ano. Esse é um papel importante do plane- jamento tributário, haja vista que, para obter o melhor aproveitamento fiscal, deve-se observar o seguinte caminho: ` Identificar o objeto fim das atividades da empresa de acordo com o Código de Nacional de Atividade Econômica (CNAE); ` Verificar o registro das mercadorias ou produtos, na Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM); 149 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Os regimes tributários adotados no Brasil são lucro real, lucro presumido e Simples Nacional. Quando a empresa faz sua opção, não poderá alterá-la no ano corrente, mas somente no início do ano subsequente. Quando optante pelo lucro real, a apuração do montante que deve ser pago a título de tributação é feita sobre a base de cálculo do lucro líquido da empresa, após cálculo de adições, exclusões e compensações. As empresas que apresentem rendimento anual superior a R$ 48.000.000,00 ao ano ou R$ 4.000.000,00 ao mês são obrigadas a serem tributadas por esse regime. O lucro real apresenta duas possibilidades de tributação, de acordo com a periocidade: anual ou trimestral. Se optante pelo lucro real anual, o contribuinte deverá calcular e recolher todos os meses o tributo referente ao Imposto de Renda e CSLL, mediante estimativa. Caso opte pelo lucro real trimestral, a base de cálculo é feita tendo por base o período de três meses. No caso do lucro presumido, a empresa prevê o lucro que obterá por meio de projeções de resultados de seus negócios, razão pela qual, ao optar por esse regime, é impor- tante que apresente resultados financeiros equilibrados. Pela determinação da Receita Federal, dependendo da atividade de cada empresa, existe um percentual sobre o fa- turamento bruto que resultará na base de cálculo para apuração do IRPJ e da CSLL. A opção pelo Simples Nacional, por sua vez, só pode ocorrer combinando a atividade da empresa com o valor de seu faturamento anual, devendo a entidade enquadrar-se nas regras de microempreendedor ou empresa de pequeno porte. A alíquota no Simples Na- cional é identificada por meio de cinco tabelas disponíveis em norma legal específica e é composta por vários tributos, que são identificados nas próprias tabelas. Essas tabelas são divididas conforme a atividade desempenhada pela pessoa jurídica: comércio, indústria, serviços e locações de bens móveis e demais serviços apontados na norma específica. 3.5. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DO ICMS O ICMS incide imposto sobre operações (negócios jurídicos) que gerem a circulação de mercadorias e a prestação de serviços. O ICMS é um imposto não cumulativo, que gera crédito em todas as suas cadeias de incidência, evitando, assim, uma carga tributária insuportável para o consumidor final. Dessa forma, cada vez que ocorre uma operação com uma mercadoria ou prestação de serviços, é gerada a obrigação tributária do ICMS, que será revertido em crédito para o próximo contribuinte e, assim, até chegar ao consumidor final. ` Identificar a alíquota referente ao produto descrita na Tabela de Imposto de Produtos Industrializado (Tipi); ` Simular situações que possam ocorrer dentro dos três regimes de tributação para identifi- car qual é o mais vantajoso. 150 4 Controle orçamentário e tributário As alíquotas desse imposto diferem, no entanto, de um estado para outro, o que pode motivar a mudança do local da empresa, mas, se suas atividades não são exercidas no local em que se estabelece, ocorre a fraude fiscal. A sugestão para se aproveitar dessa forma de planejamento tributário é usar as filiais para isso e, assim, não ferir os norma- tivos legais, mas valer-se das vantagens de ICMS que ocorrem de estado para estado. 3.6. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO DO PIS E COFINS O Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Se- guridade Social (Cofins) são tributos com teor de contribuição social e estão sob dois regimes: cumulativos e não cumulativos, de acordo com o regime tributário escolhido pela empresa. Se a empresa é optante pelo lucro real, sua tributação de PIS e Cofins será não cumulativa, dando ao contribuinte direito no abatimento de créditos. Contudo, caso seja optante pelo lucro presumido, o regime de tributação de PIS e Cofins será cumulativo e não gerará direito a créditos. Além disso, as empresas exportadoras e contribuintesdo PIS não cumulativo, conforme a Medida Provisória n. 2.158/2001, art. 14, $ 1o, são isentas. Destaca-se que a Lei n. 10.637/2002 dá direito aos contribuintes do PIS não cumulativo ao crédito fixado por essa. A lei enfatiza que esse tributo também tem isenção sobre as operações de exportações realizadas por meio de cooperativas, consórcios ou entidades semelhantes ou aquelas empresas exportadoras que se enquadram nos termos do Decreto-Lei n. 1.248/72. O planejamento tributário, nesse âmbito, consiste em escolher o regime de tributação mais adequado, simulando as operações que a empresa executa e como os tributos incidirão, de acordo com a realidade negocial da empresa. 3.7. REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA Reorganização societária ocorre quando uma ou mais empresas se fundem ou se incor- poram para que se tornem mais competitivas em seus campos organizacionais. Sendo assim, a forma original da empresa muda e isso impacta em diversos aspectos do negócio. Sua composição habitual é modificada por operações regulamentadas na Lei n. 6.404/76 ou Lei das Sociedades Anônimas e suas diretrizes. A reorganização se dá, muitas vezes, com a intenção de redução na carga tributária, e não apenas buscan- do a reorganização estrutural da empresa, conferindo-lhe verdadeiro caráter de instru- mento de planejamento tributário. A reorganização societária por meio de cisão, fusão ou incorporação exige levantamen- to de balanço próprio, na data do evento ou até 30 dias antes do evento de reorganiza- ção. Vejamos agora as seguintes hipóteses de reorganização societária: cisão, fusão e incorporação. A cisão é uma modalidade que ocorre quando sócios ou empresas rompem relações de sociedade total ou parcial. Quando a cisão é total, a personalidade jurídica é extinta; quando parcial, transfere-se o total do patrimônio da sociedade para uma ou mais em- presas existentes e a pessoa jurídica original deixa de existir. 151 4 Contabilidade e finanças U ni ve rs id ad e S ão F ra nc is co Quando ocorre a cisão e as outras modalidades de reorganização societária, se o regi- me de tributação adotado pela empresa for lucro presumido, caso ela opte pela avalia- ção de seu acervo pelo valor de mercado, no momento da transferência de patrimônio, a diferença entre o valor de mercado e o custo da operação será encarada como ganho de capital e comporá a base de cálculo do Imposto de Renda e da CSLL. Os prejuízos fiscais que porventura tenham ocorrido antes da cisão não podem ser compensados com o lucro real da empresa que se extinguiu na cisão. Caso ocorra a cisão parcial, o prejuízo fiscal a ser compensado só alcançará a parte do patrimônio proporcional que tenha permanecido da empresa anterior. Na cisão, a sociedade que absorve as outras será responsável por todos os direitos e obrigações daquelas que se extinguiram, mas não a respeito de tributos. No caso dos tributos, a responsabilidade é de todos os envolvidos. A cisão muitas vezes se dá apenas em relação a uma parte do patrimônio para outra empresa, mas as atividades continuam sendo desempenhadas como antes. Dessa maneira, os tributos incidentes sobre o patrimônio são aliviados se uma fração dele já não integra mais a empresa que os originou. A fusão acontece quando duas ou mais empresas se unem para o surgimento de outra pessoa jurídica, podendo ou não ser do mesmo tipo de negócio, com todos os diretos e obrigações sendo transferidos para nova sociedade. No caso dos tributos, ocorre o seguinte: até o momento da fusão, todos os fatos geradores ocorridos serão herdados pela nova sociedade, mas ela não é o contribuinte deles. Após a fusão, a nova socieda- de é contribuinte de todos os fatos geradores que vierem a ocorrer. Da mesma forma que nas demais operações, deve-se pagar o Imposto de Renda refe- rente ao período anterior à fusão até 30 dias antes da reorganização. Já os prejuízos fiscais não são transferidos à nova empresa. Por fim, a incorporação é uma operação em que uma ou mais empresas se incorporam a outra e elas deixam de existir, porém não nasce outra: apenas são transferidos todos os bens, direitos e obrigações àquela que incorporou as demais. Ocorre um aumento de capital social da incorporadora, uma vez que a incorporada se extingue. O Imposto de Renda também deve ser apurado de acordo com o período de atividade anterior à incorporação e pago até o último dia do mês seguinte à reorganização. Na apuração do imposto, qualquer prejuízo fiscal que exista referente à empresa incorporada será extinto e, se referente à incorporadora, seguirá seu fluxo normal. 152 4 Controle orçamentário e tributário REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSAF NETO, A. Finanças corporativas e valor. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2005. BARBIERI, J. C.; Álvares, A. C. T.; Machline, C. Taxa interna de retorno: controvérsias e interpretações. Ges- tão da Produção, Operações e Sistemas. Ano 2, v. 5, out/dez 2007. GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. Trad. Antonio Zoratto Sanvicente. 10. ed. São Paulo: Pearson, 2004. HONG, Y. C. Contabilidade e finanças para não especialistas. São Paulo: Prentice Hall, 2003. HOJI, M. Administração financeira: uma abordagem prática. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2004. LEMES JR., A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. S. Administração financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. Rio de Janeiro: Campus, 2002. ROSS, S; WESTERFIELD, R; JAFFE, J. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2011. ATIVIDADES E CONTROLES FINANCEIROS 1. CONCEITOS E FATOS HISTÓRICOS 2. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIETÁRIA 3. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E CONTÁBEIS 4. Situações nas quais se recomenda que não se faça a análise das demonstrações contábeis: INDICADORES FINANCEIROS E DESEMPENHO 1. SISTEMAS DE INDICADORES FINANCEIROS 2. AVALIAÇÕES DE EMPRESAS 3. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL GESTÃO DE RISCOS E CUSTOS EMPRESARIAIS 1. ESTATÍSTICA APLICADA AOS RISCOS 2. MERCADO FINANCEIRO 3. APLICABILIDADE DE CUSTOS CONTROLE ORÇAMENTÁRIO E TRIBUTÁRIO 1. ORÇAMENTO DE CAPITAL 2. ORÇAMENTO SOBRE O PROCESSO DE GESTÃO 3. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO CAPA_UNIDADES.pdf ATIVIDADES E CONTROLES FINANCEIROS 1. CONCEITOS E FATOS HISTÓRICOS 2. INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE SOCIETÁRIA 3. DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS E CONTÁBEIS 4. Situações nas quais se recomenda que não se faça a análise das demonstrações contábeis: INDICADORES FINANCEIROS E DESEMPENHO 1. SISTEMAS DE INDICADORES FINANCEIROS 2. AVALIAÇÕES DE EMPRESAS 3. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL GESTÃO DE RISCOS E CUSTOS EMPRESARIAIS 1. ESTATÍSTICA APLICADA AOS RISCOS 2. MERCADO FINANCEIRO 3. APLICABILIDADE DE CUSTOS CONTROLE ORÇAMENTÁRIO E TRIBUTÁRIO 1. ORÇAMENTO DE CAPITAL 2. ORÇAMENTO SOBRE O PROCESSO DE GESTÃO 3. PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO