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Rafael Venâncio de Souza ➢ Farmacologia da Dipirona 1. Introdução - a dipirona é também chamada de metamizol sódico (metamizole sodium) - a tabela abaixo mostra dados acerca da venda de dipirona em 2018, mostrando que foi o segundo fármaco mais vendido no Brasil nesse ano - a molécula da dipirona foi sintetizada em 1920, não tendo sido pensada inicialmente como medicamento, mas sim como corante - após mais investigações, foi-se verificado que a dipirona possui ALTO POTENCIAL ANALGÉSICO - 30 anos após o emprego da dipirona como analgésico foi descoberto o paracetamol (acetaminofeno) - a dipirona é uma molécula totalmente sintética de rota de síntese relativamente simples, o que permite o medicamento ser mais barato 2. Epidemiologia - a dipirona é banida de países como EUA, Canadá, Austrália, dentre outros - não há um motivo cientificamente forte para o banimento da dipirona nos EUA - mais ao sul dos EUA, a dipirona é denominada de “aspirina mexicana”, sendo contrabandeada para os EUA - a dipirona foi reintroduzida na União Europeia há uma década, pois os estudos epidemiológicos sugeriram que o risco de efeitos adversos era similar ao do paracetamol e menor do que o do ácido salicílico → Brasil - há 125 medicamentos com dipirona, sendo 71 desses associados a outras substâncias, sendo todos vendidos SEM PRESCRIÇÃO MÉDICA Rafael Venâncio de Souza 3. Classe Medicamentosa - a pirazolona é um composto heterocíclico, pentagonal, contendo dois átomos de nitrogênio (N) adjacentes - os compostos de pirazolona geralmente agem como ANALGÉSICOS e tem como exemplo o metamizol, aminopirina, ampirona, famprofazona, morazona, nifenazona, piperilona e propifenazona; desses compostos, o metamizol é talvez o mais amplamente usado - além disso, corantes também podem apresentar a pirazolona, tais como o amarelo tartrazina, laranja B, mordente vermelho 19 e amarelo 2G - atualmente, a dipirona é inserida na classe dos medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais pelo fato de apresentar o ação de inibição da COX-3, bem como o paracetamol - a dipirona apresenta pobre ação anti-inflamatória, porém apresenta ótima ação analgésica e antitérmica 4. Farmacocinética - a dipirona é um pró-fármaco que é ativado a partir da microbiota intestinal, bem como por outras duas rotas de ativação presentes no fígado – lembrar que o fígado não é o único sítio de ação para que um medicamento pró-fármaco seja transformado em molécula ativa (o metronidazol, por exemplo, é um pró-fármaco que só é ativado após penetrar a célula procarionte) - o metamizol se transforma em 3 metabólitos, sendo que o 4-MAA e 4-AA são os principais metabólitos responsáveis pela ação analgésica da dipirona - a transformação de metamizol em 4-MAA é via microbiota intestinal, considerada uma transformação não-enzimática com retirada do grupo sulfônico - o 4-MAA é formado por qualquer apresentação via oral da dipirona, enquanto que o 4-AA é formado via IV - parte do 4-MAA é transformada em 4-AA por processo de demetilação que ocorre no fígado - a dipirona em si é muito pouco detectada no sangue do paciente, porém os metabólitos da dipirona via IV são detectados em até 1 hora após da administração do medicamento 1º CASO: criança com alergia à dipirona gotas, porém não tem alergia à IV, comprimido, pó etc 2º CASO: criança com alergia à qualquer forma via oral da dipirona, porém não tem alergia à via IV - a explicação para a alergia à dipirona gotas, e não tem a outras formas farmacêuticas, é a presença de um componente na formulação da dipirona gotas além da dipirona em si (p.ex. o corante utilizado na dipirona gotas) - a explicação para a alergia à qualquer forma via oral da dipirona se dá pelo fato de que qualquer via oral passa pelo TGI e é transformada em 4-MAA, e esse metabólito é considerado alergênico Rafael Venâncio de Souza 5. Farmacodinâmica - a dipirona é uma molécula hidrossolúvel, com peso molecular de 311,4g/mol e apresenta boa distribuição no SNC (apesar de apresentar hidrossolubilidade, é uma molécula de baixo peso molecular, o que permite a passagem pela barreira hematoencefálica) - a dipirona apresenta tempo de meia vida de 14min via IV e de 2 a 4 horas via oral - apresenta excreção urinária - o tempo de wash out da dipirona é de cerca de 1 hora (14x5 = 70min) e considera-se que depois de 97% eliminado, o fármaco não tem mais efeito 6. Mecanismo de Ação - o mecanismo de ação da dipirona NÃO é totalmente elucidado, porém a hipótese mais conhecida é a inibição de COX-3, enzima presente no SNC - além disso, outros dois possíveis mecanismos foram descobertos acerca da ação analgésica da dipirona: ativação do sistema canabinoide e do sistema opioidérgico → Hipótese do COX-3 - a COX-3 é responsável pela liberação de prostaglandinas que aumentam a temperatura corporal no processo de FEBRE, logo isso explica o porquê da dipirona ser um excelente antipirético e ter seu uso liberado na dengue - IC50 é medida quantitativa que indica o nível de uma substância inibidora (por exemplo, droga) que é suficiente para inibir, in vitro, determinado processo ou componente biológico em 50% da quantidade inicial https://pt.wikipedia.org/wiki/Inibi%C3%A7%C3%A3o_enzim%C3%A1tica https://pt.wikipedia.org/wiki/In_vitro Rafael Venâncio de Souza → Hipótese do Receptor Canabinoide - a capsaicina é um componente presente na pimenta, responsável pela sensação de ardência - a capsaicina promove ativação de receptores presentes na língua chamados receptores TRPV1 - o receptor TRPV1 é ativado a partir da sua ligação com a capsaicina, e irá transmitir sinais através da medula até o SNC, o qual irá interpretar a sensação de ardência e queimação da pimenta - o receptor TRPV1 tem sua sinalização para o SNC BLOQUEADA quando o sistema canabinoide está ATIVADO - dessa forma, foi-se comprovado que a dipirona bloqueia a sinalização do receptor TRPV1, o que sugere a hipótese de que a dipirona atua no sistema canabinoide Rafael Venâncio de Souza 7. Problemas Relacionados à Medicação - náuseas e vômitos - queda da pressão arterial - hipersensibilidade (grupo sulfônico) – NÃO É RECOMENDADO O USO DE DIPIRONA EM CRIANÇAS MENORES QUE 3 MESES, CARDIOPATAS, NEFROPATAS, E GESTANTES - alergia à solução oral (dipirona em gotas) – pode estar relacionada ao corante amarelo de tartrazina - rash cutâneo - discrasias sanguíneas (agranulocitose e pancitopenia) – 50% dos pacientes apresentam discrasia sanguínea nas primeiras doses de uso e os outros 50% dos pacientes podem apresentar discrasias após meses ou anos de uso da dipirona; pacientes com aplasia de medula não devem utilizar dipirona → Síndrome de Stevens-Johnson - reação adversa grave da pele a medicamentos ou infeções - é uma reação de hipersensibilidade tardia causada com produção de IgG e liberação de LTCD8 causando destruição da pele - a SSJ e a necrólise epidérmica tóxica (NET) são duas formas da mesma doença, sendo a SSJ a menos grave; para o diagnóstico de SSJ é necessário que a área de pele afetada seja inferior a 10% da superfície do corpo e quando mais de 30% da pele é afetada considera-se NET - no Brasil, a dipirona é responsável por 33% dos casos 8. Dipirona no Brasil - foi realizado o Painel de Avaliação da Dipirona no Brasil em 2001 - não oferece mais riscos para discrasias comparado com outros medicamentos como o diclofenaco - oferece mecanismos múltiplos para controle da dor - é um dos medicamentos mais baratos no mercado 9. Exercício Solução oral: 500 mg/mL Recomendação na Pediatria = 10 a 20 mg/Kg Pode indicar 1 gota por quilograma do peso da criança? https://pt.wikipedia.org/wiki/Rea%C3%A7%C3%B5es_adversas_cut%C3%A2neas_graves https://pt.wikipedia.org/wiki/Necr%C3%B3lise_epid%C3%A9rmica_t%C3%B3xica