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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL Cabe, incialmente, destacar que, segundo Marcos Vinicius Rios Gonçalves, princípios fundamentais são aquelas premissas sobre as quais se apoiam o Direito. Desde que o Processo Civil conquistou status de ciência autônoma, tornou- se necessária a formulação de seus princípios fundamentais. Eles servem de diretrizes gerais, que orientam a ciência. Ademais, segundo Humberto Dalla, assim como as demais ciências, o direito e, particularmente, o ramo do direito processual, é regido por princípios próprios que o informam e orientam a interpretação dos seus institutos a fim de garantir o acesso à justiça. 1. PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL O artigo 5º, inciso LIV, da Constituição Federal prevê que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". Tal princípio confere a todo sujeito de direito, no Brasil, o direito fundamental a um processo devido justo, equitativo etc.). O devido processo legal é uma garantia contra o exercício abusivo do poder, qualquer poder. É preciso observar o contraditório e a ampla defesa (art. 5º, LV, CF/1988) e dar tratamento paritário às partes do processo (art. 5º, I, CF/1988); proíbem-se provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF/1988); o processo há de ser público (art. 5º, LX, CF/1988); garante-se o juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII, CF/1988); as decisões hão de ser motivadas (art. 93, IX, CF/1988); o processo deve ter uma duração razoável (art. 5º, LXXVIII, CF/1988); o acesso à justiça é garantido (art. S o , XXXV, CF/1988) etc. Todas essas normas (princípios e regras) são concretizações do devido processo legal e compõem o seu conteúdo mínimo. Como se vê, o devido processo legal é um direito fundamental de conteúdo complexo. 2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE O art. 8º do CPC impõe ao juiz o dever de observar o princípio da legalidade. O princípio da legalidade pode funcionar como uma norma processual ou como uma norma de decisão. Como norma processual, observá-lo nada mais é do que aplicar o devido processo legal, em sua dimensão formal. O Direito não é apenas o legal, uma vez que a Constituição, os atos administrativos, os precedentes judiciais e a própria jurisprudência são fontes do Direito. Direito, também, não é apenas o escrito, pois há normas implícitas, que não decorrem de textos normativos, assim como há o costume. E Direito nem é apenas o estatal, uma vez que o negócio jurídico também é fonte do Direito. O dever de observância de precedentes judiciais e da jurisprudência dos tribunais, previsto em diversos dispositivos do CPC (arts. 926- 927, p. ex.), corrobora a necessidade de ressignificação do princípio da legalidade - precedentes também compõem o Direito e devem ser observados. O dever de observar o princípio da legalidade também não significa que a interpretação dos textos normativos deva ser literal. A interpretação literal é o primeiro passo na tarefa hermenêutica, mas muitas vezes é insuficiente. O próprio art. 8º impõe a interpretação teleológica e a observância da proporcionalidade e da razoabilidade. Observar o princípio da legalidade não é decidir com base em texto de lei interpretado literalmente; observar a legalidade é decidir em conformidade com o Direito, compreendido como conjunto de normas jurídicas positivadas em um dado ordenamento. 3. PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA Esse princípio é conhecido, também, como princípio da inafastabilidade da jurisdição, decorrente do art. 5º, XXXV, da Constituição Federal: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, e vem repetido no art. 3º, caput, do CPC. O texto assegura o direito à proteção judicial efetiva. Ele se traduz no direito de ação em sentido amplo, isto é, o de obter do Poder Judiciário uma resposta aos requerimentos a ele dirigidos. Esse direito é amplo e incondicional: o Judiciário não pode se recusar a examinar e a responder os pedidos que lhe foram formulados. Pode ser que a resposta se limite a informar ao autor que a pretensão não pode ser examinada, porque faltam as condições essenciais para isso. Mas tal informação provirá de um juiz, que terá examinado o processo e apresentado fundamentação adequada para a sua decisão. 4. PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO Trata-se de um princípio derivado do devido processo legal e amplo, uma vez que se insere nos âmbitos jurisdicional, administrativo e negocial. A Constituição Federal prevê o contraditório no inciso LV do art. 5º: "aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". O princípio do contraditório é reflexo do princípio democrático na estruturação do processo. Democracia é participação, e a participação no processo opera-se pela efetivação da garantia do contraditório. Nesse sentido, o princípio do contraditório deve ser observado sob duas vertentes: a vertente da participação (audiência, comunicação, ciência) e possibilidade de influência na decisão, e a vertente que trata do poder de influência nas decisões judiciais. 5. PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA A ampla defesa é direito fundamental de ambas as partes, consistindo no conjunto de meios adequados para o exercício do adequado contraditório. Atualmente, tendo em vista o desenvolvimento da dimensão substancial do princípio do contraditório, pode-se dizer que eles se fundiram, formando um único direito fundamental. 6. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE O direito fundamental à publicidade dos atos processuais está garantido pelo art. 5º, LX, CF/1988. Os arts. 8º e 11 do CPC reafirmam essa exigência. Os atos processuais hão de ser públicos. O princípio da publicidade gera o direito fundamental à publicidade. Trata-se de direito fundamental que tem, basicamente, duas funções: a) proteger as partes contra juízos arbitrários e secretos (e, nesse sentido, é conteúdo do devido processo legal, como instrumento a favor da imparcialidade e independência do órgão jurisdicional); b) permitir o controle da opinião pública sobre os serviços da justiça, principalmente sobre o exercício da atividade jurisdicional. 7. PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO A EC n. 45/2004, que reformou constitucionalmente o Poder Judiciário, incluiu o inciso LXXVIII no art. 5º da CF/1988: "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação". O CPC ratificou esse princípio no art. 4º, esclarecendo que ele se aplica inclusive à fase executiva: ''As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa". O inciso II do art. 139 reforça o princípio: ''Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) II - velar pela duração razoável do processo. 8. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ PROCESSUAL Os sujeitos processuais devem comportar-se de acordo com a boa-fé, que, nesse caso, deve ser entendida como uma norma de conduta (boa-fé objetiva). Esse é o princípio da boa-fé processual, que se extrai do art. 5º do CPC: ''Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé".
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