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Matéria: Educação Aplicada aos Cuidados da Criança. Assunto: Resumo dos Temas 1 ao 6. Curso de Pedagogia Licenciatura – 5º Período Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 2 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Tema 1 A Educação de Bebês e Crianças: Princípios e Práticas Os estudos sobre a construção social da infância demonstram ser essa uma categoria muito recente decorrente das transformações ocorridas no contexto social, que foram impulsionadas pela constituição do modelo burguês de produção. Um teórico muito citado e considerado como uma referência é Philippe Ariès, que, por meio de seus estudos da iconografia, demonstra que a infância é resultante da sociedade moderna decorrente das modificações das condições materiais e alteração na estrutura social. Com certeza vivemos numa sociedade na qual ser criança é visto como uma fase em que se tem necessidades diferentes daquelas de um adulto. Você pode se lembrar de situações e coisas que vivenciou quando criança e que foram bem particulares desse momento. Contudo, não foi assim sempre, ou seja, aceitar a infância como um tempo com características específicas é algo recente na história humana. Só para ilustrar, até a Idade Média, as crianças eram educadas realizando tarefas iguais às realizadas pelos adultos. É somente com o desenvolvimento da sociedade moderna que houve uma mudança na concepção da infância e o desenvolvimento da ciência favoreceu a melhor compreensão das características dessa fase. Não se questiona a presença de crianças ao longo da história humana, contudo, o “sentimento” de infância como característica de uma sociedade cujos adultos cuidam e se preocupam com as crianças é algo moderno, de tal forma que, no âmbito da sociologia, o entendimento de que a infância é uma categoria social é algo recente. Com o surgimento da família burguesa, a forma de tratar a criança também muda, uma vez que, se antes havia uma vida coletiva na qual os cuidados e a educação das crianças ficavam a cargo do grupo, agora a família é a responsável, sendo isso profundamente vinculado a questões tais como: herança, direito à propriedade, proteção do patrimônio, entre outros. Andrade (2010, p.51) afirma que “[...] as mudanças no interior das famílias e a necessidade de educação das crianças são fatores determinantes para o desenvolvimento do sentimento de infância”. Outro aspecto importante em relação a isso é que ao se reconhecer a infância como uma etapa do desenvolvimento humano, após o século XIX, surgem diversos campos científicos que passam a estudar esse período, produzindo um conjunto de teorias e práticas para melhor orientar como fazê-lo. Você pode observar que a forma como a criança é vista e tratada está diretamente relacionada às condições da sociedade, assim, cada tipo de sociedade corresponde uma forma de conceber a infância e a criança. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 3 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. A questão da escolaridade se intensifica em muitos países europeus entre os séculos XVIII e XIX, uma vez que a escola se torna um instrumento fundamental de preparação para o ingresso no mundo adulto. As transformações que ocorriam no mundo do trabalho afetaram profundamente a organização social e atingem até hoje as crianças. A inserção dos adultos nos trabalhos fabris evidenciou a situação de abandono na qual muitas crianças se encontravam, uma vez que ficavam sem cuidados durante o período em que seus pais estavam trabalhando. Além disso, muitas já eram vítimas de pobreza e maus tratos. Essa situação leva à criação de instituições de caráter filantrópico destinadas ao acolhimento dos pequenos, cujo objetivo principal era o de combater as péssimas condições de saúde, não havendo uma preocupação com a instrução, uma vez que, para os filhos dos operários, o principal era ensinar a obediência, a valorização do trabalho e as práticas religiosas. É importante observar que essas práticas tinham como objetivo o desenvolvimento dos “bons costumes”, pois a concepção presente era a de que as crianças advindas das classes mais pobres não tinham esse comportamento. No Brasil, até o século XIX, não existiam instituições destinadas ao atendimento da criança pequena, como na Europa. Como a maior parte da população residia em zonas rurais, as crianças abandonadas ou órfãs ficavam sob os cuidados das famílias dos grandes proprietários de terras. Já nos meios urbanos, as crianças nessas condições eram recolhidas nas chamadas casa de expostos. No Brasil, a primeira foi criada em 1726, na Bahia, sendo uma alternativa para abrigar as crianças abandonadas. Para que você tenha uma ideia da gravidade do problema do abandono de crianças no Brasil, Torres (2006, p.105) explica que “Em alguns centros urbanos, no século XVIII, até 25% dos bebês eram abandonados e cerca de 70-80% faleciam antes de completar sete anos”. Outro aspecto importante em relação à casa dos expostos, também conhecida como roda dos expostos, é que representava uma opção para as mulheres brancas e solteiras que ficassem grávidas, uma vez que era aceito que os pais ou irmãos tirassem a vida da mulher e a de seu filho. Porém, esse não era o único fator do alto índice de abandono de crianças, principalmente no Brasil, pois a morte repentina dos pais, a morte no parto, o fator econômico e a chamada “bastardia” eram muito recorrentes, uma vez que o reconhecimento público da paternidade de um filho bastardo era considerado extremamente constrangedor. Nesse período, estabeleceram-se algumas posições que historicamente acompanharam o debate em torno da Educação Infantil, que é o assistencialismo e a educação compensatória, especificamente para as crianças oriundas de classes menos favorecidas. Você poderá observar que na História da Educação Infantil no Brasil, esse caráter assistencialista foi algo muito forte e que exerceu muita influência na definição de práticas e procedimentos. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 4 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Com a industrialização e a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, criaram-se as creches, que passaram a abrigar os filhos das mães trabalhadoras, tendo caráter assistencialista. Vale destacar a explicação de Andrade (2010, p.136) a respeito: “A concessão patronal das creches tinha um caráter de favor e não de dever social, em resposta às reivindicações da classe operária por melhores condições de vida”. É importante que você atente para o seguinte: a criação dessas instituições visava minimizar os conflitos de classes, uma vez que, para muitos patrões, era uma forma de atenuar os conflitos com as mães trabalhadoras. Nessa época, o atendimento realizado na creche tinha um caráter higienista, como explica Oliveira (2011, p.100): O higienismo, a filantropia e a puericultura dominaram, na época, a perspectiva de educação das crianças pequenas. O atendimento fora da família aos filhos que ainda não frequentassem o ensino primário era vinculado a questões de saúde. Veja que, mesmo após a década de 1970, o atendimento realizado pelas creches e jardins de infância continuava a ter caráter assistencialista, no entanto, o aumento dos movimentos reivindicatórios a partir da década de 1980 levou ao reconhecimento de que a educação em creches e pré-escolas é um direito da criança e, portanto, um dever do Estado. Isso representou, também, uma mudança na concepção do trabalho realizado nessas instituições, pois, ao reconhecer o seu caráter educativo, rompeu-se com a visão assistencialista, levando à definição de propostaspedagógicas que consideram as particularidades dessa faixa etária. A Constituição de 1988 assegura como direito da criança de zero a seis anos, o atendimento em creches e pré-escola e, na LDB 9394/1996, é estabelecido que a Educação Infantil se constitui como a primeira etapa da Educação Básica. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil estabelecem a Educação Infantil como: Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção (BRASIL, 2010, p.12). Você já deve ter pensado sobre os aspectos que compõem a dimensão pedagógica do trabalho na Educação Infantil e como o professor deve definir as práticas mais adequadas. Isso realmente é fundamental no trabalho na Educação Infantil, daí a importância de se ter clareza em relação a essa dimensão. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 5 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Vale destacar que a Lei nº 11.274/2006 alterou a LDB e ampliou o Ensino Fundamental para o período de nove anos, estabelecendo a matrícula da criança a partir dos seis anos. A dimensão pedagógica do trabalho desenvolvido com as crianças tem como cerne o reconhecimento de que a criança é um sujeito cultural, com potencialidades que precisam ser desenvolvidas, que agem num determinado contexto, sendo por ele também determinadas. São, portanto, seres que pensam, vibram e não apenas pessoas que virão a ser alguém algum dia. Essa é a concepção presente não apenas nas orientações teóricas em relação ao trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, mas, também, nos textos oficiais. Assim, o educar e cuidar são aspectos indissociáveis no trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças da Educação Infantil. Agora vamos refletir: quais as consequências desse tipo de concepção? Isso exige que os professores compreendam como as crianças se desenvolvem e aprendem e possam, a partir disso, propor atividades exploratórias aproveitando a curiosidade e a motivação inerente a essa faixa etária. Isso inclui, também, os bebês, uma vez que durante muito tempo se acreditou que bastava mantê-los seguros e com suas necessidades básicas atendidas, deixando-os de fora de atividades de exploração e brincadeiras. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que um programa de cuidados que seja também educativo precisa ter um currículo. As autoras afirmam que: O currículo apropriado deve consistir num plano de aprendizado e desenvolvimento totalmente inclusivo e que foque nas conexões e relações de cada bebê ou criança de um programa de educação e cuidados primários, seja ele institucional ou doméstico (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p.26) Para a melhor definição sobre o currículo, os cuidadores devem estabelecer o que as crianças precisam e no que estão interessadas, além de criar formas de avaliar o alcance desses objetivos. A forma mais adequada de viabilizar esse processo é por meio da observação, que, ao ser incorporada como prática pelo professor, leva ao aperfeiçoamento, possibilitando identificar detalhes e pormenores que muitas vezes escapam numa observação mais aligeirada e sem clareza de objetivos. Você pode constatar por essas informações que a proposta curricular se mostra mais flexível, no entanto, exige mais conhecimento sobre quem é essa criança. Ao lado disso, é preciso que o professor estabeleça formas de registro que podem ser fichas, quadros, tabelas, esquemas, relatórios individuais e coletivos, os quais se constituam em fontes cujo conteúdo permitirá a composição do perfil de desenvolvimento da criança. A importância disso será distinguir os interesses e dificuldades que a criança apresenta, para poder estabelecer propostas de desenvolvimento que irão se materializar nas atividades e práticas cotidianas. A forma de sistematizar essas informações dependerá do professor, porém, é fundamental que o instrumento forneça uma visão sobre as necessidades mais gerais e específicas das crianças, de maneira individual e coletiva. Você já pensou em como poderia propor esse tipo de registro? Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 6 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Nesse processo, um dos aspectos que merecem destaque é observar a forma como os bebês e crianças resolvem problemas, uma vez que essa se constitui na abordagem curricular mais adequada para o desenvolvimento de suas capacidades. Quanto mais os bebês e crianças desenvolvem suas capacidades de lidar e criar formas de solucionar os problemas, melhor será o seu processo de aprendizagem. Parece um paradoxo que um bebê possa resolver problemas, contudo, o cotidiano das crianças é repleto de situações-problema, como: fome, desconforto, desejo (e impossibilidade) de alcançar um brinquedo, quando se separam de seus pais, entre outras. O adulto desempenha papel fundamental mediando a aprendizagem das crianças, e a qualidade de suas interferências é fator preponderante para o melhor desenvolvimento das suas capacidades. Aqui você constata como se revelam o educar e o cuidar, de forma que o professor possa atender às necessidades de cuidado da criança e apresentar os problemas para que ela resolva, analisando a forma como propõe as soluções, identificando o tempo necessário para que ela alcance suas metas e, também, observando o momento em que demonstra seu desinteresse em dar continuidade à atividade. Para isso, o professor deve estar apto a fazer as interferências necessárias. O quadro a seguir destaca as principais atitudes do adulto nesse processo de mediação: Determinar os níveis de estresse ideais Observar e decidir qual nível de estresse é excessivo, muito, pouco ou suficiente. Dar atenção Atender às necessidades de atenção das crianças sem usar meios manipulados. Dar retorno Dar um claro retorno sempre, de modo que bebês e crianças aprendam as consequências de suas ações. Ser um modelo de comportamento Dar um bom exemplo para bebês e crianças. Quadro 1 – Papéis do Adulto na Educação de Bebês e Crianças A organização das práticas e procedimentos a serem adotados pelos professores, especialmente nas instituições de Educação Infantil precisa estar alicerçada em princípios que representem concepções fundamentadas no respeito e na crença nas possibilidades da criança. Para isso, todos os espaços e situações estarão focados no desenvolvimento da criança a partir de suas próprias indicações. Os espaços físicos são vistos como próprios para que o contato entre os bebês, as crianças maiores, os professores e demais envolvidos nos cuidados com elas se constituam em possibilidades de interações culturais. São também locais de exploração, criação compartilhada, ampliação das possibilidades corporais e de investigação e conhecimento. Nesse sentido, o papel do professor muda, não mais assumindo o direcionamento das atividades, mas observando atentamente as indicações feitas pelas crianças, fazendo as intervenções com vistas ao incentivo, à Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 7 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. disponibilização de materiais e discernindo o que caracteriza a individualidade de cada criança. Pense em como você poderia conceber práticas diferenciadas na EducaçãoInfantil, tendo esses aspectos como referência. Pasqualini (2010), parafraseando Leontiev (2001), afirma que o desenvolvimento das funções psicológicas da criança depende das situações concretas nas quais estão envolvidas, de forma que isso se efetiva na e por meio da atividade. Isso não deve ser confundido com treinamento, daí a necessidade de que a atividade seja organizada e intencional. Para isso, o professor precisa analisar o conteúdo da atividade desenvolvida pela criança, a fim de estabelecer formas de mediação que facilitem a exploração, sem deixar de interferir conforme as necessidades que ela apresente. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que o trabalho com bebês e crianças deve estar assentado em princípios que objetivam sustentar práticas mais adequadas quando se trabalha com base na filosofia do respeito. As autoras sintetizam dez princípios, que se consubstanciam em diretrizes indispensáveis para o trabalho com bebês e crianças, sendo que o primeiro deles é buscar envolver os bebês e as crianças nas coisas que lhes dizem respeito, de maneira que até uma troca de fraldas pode ter a participação, atenção e cooperação da criança. Em geral, o que o adulto faz é distrair a criança com um objeto e, assim, realiza a higiene da criança sem que ela, de fato, esteja interagindo. Você já viu esse tipo de atitude? Alguma vez pensou sobre ela numa perspectiva diferente? O segundo princípio apontado pelas autoras é investir no tempo de qualidade, momento em que o professor estará completamente disponível para uma criança. O resultado disso é a atenção total dirigida para a atividade realizada com a criança, com vontade e interesse. Isso pode acontecer tanto em situações dirigidas – quando se alimenta a criança, por exemplo – quanto naquelas sem um direcionamento específico – quando se senta ao lado da criança enquanto ela brinca sem fazer interferências. Sobre isso, é importante esclarecer que não há como manter a disponibilidade constantemente, nem durante todo o tempo que se está com a criança. O professor, seja quem for, precisa dosar a quantidade desse tempo, uma vez que até as crianças precisam ficar sozinhas de vez em quando e desejam isso. Você pode observar que esse tempo de qualidade será construído nas práticas cotidianas que envolvem atividades simples, tais como a troca de fralda, o banho, a brincadeira; momentos em que a interação íntima será vivenciada pela criança e pelo professor com total atenção e envolvimento. O terceiro princípio é o professor aprender os meios pelos quais a criança se comunica e ensinar a ela sua forma própria de se comunicar. Você já pensou sobre isso? As crianças constroem formas de expressar seus desejos, interesses, necessidades por meio da linguagem corporal, do choro, das expressões faciais e isso precisa ser aprendido, uma vez que não se constituem da mesma forma para todas as crianças. A referência para a construção do processo de comunicação da criança Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 8 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. são os adultos com os quais se relacionam. Aprender a utilizar a linguagem verbal está relacionado à reação dos adultos, daí a importância de o adulto ter uma linguagem clara sem dúbias interpretações. O quarto princípio está relacionado à busca de proporcionar condições ao pleno desenvolvimento da personalidade em todos os seus aspectos e não somente no cognitivo. Você já deve ter visto que muitas famílias constroem expectativas em relação à vida acadêmica da criança e buscam propiciar situações de estímulo às atividades cognitivas, contudo, a personalidade é composta de vários aspectos que devem ser considerados para que o ser tenha a oportunidade de desenvolver todas as suas capacidades. O quinto princípio está em, efetivamente, assumir uma postura respeitosa em relação à criança, no sentido de realizar uma autoanálise constante sobre a forma como as atividades e práticas estão sendo realizadas, visando corrigi-las e tendo a convicção de que as crianças se servem muito mais dos exemplos que observam naqueles que as cuidam do que nas palavras. Muitas vezes as ações se tornam tão automáticas que o professor nem percebe que sua atitude pode ser profundamente desrespeitosa com a criança. Por exemplo, quando está na hora de alimentar a criança e o adulto simplesmente a retira de onde ela se encontra e a coloca na cadeirinha sem lhe dirigir uma palavra e nem explicar o que fará em seguida. O sexto princípio requer honestidade da parte do professor, de forma que ele tenha clareza sobre os seus sentimentos em relação à criança e a maneira como está os expressando frente a uma atitude dela. Quando a criança faz alguma coisa errada, o professor irá expressar seus sentimentos em relação a essa atitude de maneira verdadeira, para que ela compreenda as consequências de tal ato. É importante que você se atente para isso, pois se a reação do professor for “mascarada”, utilizando, por exemplo, sorrisos, a criança ficará confusa frente à mensagem. O sétimo princípio apontado pelas autoras está na importância de o professor ser um modelo para a criança. Assim, muito mais do que defender atitudes de cooperação, gentileza, respeito, comunicação, dentre outras, cabe a este profissional adotar efetivamente esse tipo de postura, expressando-as em suas atitudes tanto com as crianças quanto com os demais. O oitavo princípio está relacionado à capacidade de o professor acreditar na capacidade que os bebês e crianças têm de resolver problemas. Você já pensou em como é que as crianças fazem para resolver suas situações-problema? Isso implica em permitir que ela lide com os problemas até o ponto em que tenha condições para isso. Muitas vezes o professor age em função da ansiedade em resolver a situação rapidamente, sem respeitar a capacidade e o tempo da criança na busca de seus próprios caminhos. Cabe ao professor dar o tempo que for preciso e liberdade para que ela possa analisar e buscar soluções, trabalhando em seus problemas. O nono princípio é levar a criança a construir uma relação de confiança com os adultos. Para isso, ela precisa confiar que suas necessidades serão satisfeitas e, quando se expressar, serão atendidas. O professor precisa ser confiável, de tal modo que a criança saiba que se precisar de alimento, de descanso, de ajuda, terá um Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 9 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. professor atento que lhe proporcionará isso. A confiança também deve estar pautada na demonstração de apoio, quando, por exemplo, os pais precisam deixar a criança. A melhor alternativa é que ela seja informada e não enganada, pois tem o direito de se sentir triste e, também, de aprender que os acontecimentos se modificam, para poder lidar com a situação de que se os pais saíram por um tempo, mas logo estarão de volta. Com certeza você já deve ter presenciado situações nas quais as crianças choram desesperadamente quando separadas de seus pais. Finalmente, o décimo princípio que deve orientar o currículo com base no respeito à criança é o conhecimento das etapas de desenvolvimento do ser humano e o que caracteriza cada uma delas, evitando pressionar a criança para que apresente resultados para os quais ainda não está preparada. É evidente que as crianças apresentam diferenças entre si ocasionadas pelo ambiente no qual vivem, características individuais, influências culturais, porém, apressar as respostas das crianças não é recomendável, uma vez que elas precisam estar prontas para o aprendizado, e isso não é o adulto quem decide. Facilitar o aprendizado significa apressar o processo de desenvolvimento da criança, impedindo que ela o viva na sua plenitude.Quando uma instituição de Educação Infantil assume um currículo fundamentado na filosofia do respeito à criança, precisa ter claro que isso implica conhecimento sobre as características das crianças e adoção de práticas de constante reflexão sobre o que está sendo proposto e desenvolvido. Não existem receitas prontas, uma vez que a criança participa da construção do currículo, como um sujeito que age frente ao que lhe é proposto e oferece respostas sobre o que lhe acontece. Você já presenciou situações nas quais as crianças realizam atividades que não se sentem envolvidas? Já se deparou com rotinas que são planejadas a partir do que o adulto pensa ser melhor, sem considerar o que a criança deseja? Esses são exemplos de como se pode construir um currículo sem a participação da criança. As práticas mais adequadas devem estar assentadas nas pesquisas sobre as etapas do desenvolvimento infantil, o conhecimento das diferenças individuais e, também, das influências culturais. Esses aspectos precisam ser equacionados na definição do que é mais adequado para o desenvolvimento do currículo, uma vez que não se pode considerar adequada uma prática, mesmo que decorrente, de estudos e pesquisas, sem considerar o contexto cultural como elemento importante. As experiências vivenciadas na Educação Infantil devem favorecer à criança a compreensão de quem ela é, como se sente frente às coisas que ocorrem e como buscar formas de solucionar os problemas que enfrenta. Oliveira (2010, p.5) explica que essas experiências devem: [...] possibilitar o encontro de explicações pela criança sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto desenvolvem formas de sentir, pensar e solucionar problemas. Nesse processo, é preciso considerar que as crianças necessitam envolver-se com diferentes linguagens e valorizar o lúdico, as brincadeiras, as culturas infantis. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 10 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Não se trata assim de transmitir à criança uma cultura considerada pronta, mas de oferecer condições para ela se apropriar de determinadas aprendizagens que lhe promovem o desenvolvimento de formas de agir, sentir e pensar que são marcantes em um momento histórico. Quanto melhor for o início da vivência dos bebês e crianças na escola, melhor será o seu desenvolvimento e isso precisa ser visto como um investimento com grande impacto, uma vez que se constitui nas bases para o sucesso da criança na escola. Neste tema, você teve a oportunidade de conhecer mais sobre a construção do conceito de infância, aprendendo que isso é determinado historicamente. Você verificou que a Educação Infantil é resultante de um processo de lutas pelo reconhecimento dos direitos da criança e que, atualmente, a perspectiva do trabalho com elas deve estar pautada na associação entre educar e cuidar. Também foi objeto a compreensão sobre os fundamentos que devem orientar a construção de um currículo que leve em consideração o respeito pela criança, compreendendo-a como um ser que pensa e age e não pode ser simplesmente submetida à vontade dos adultos sem ter seus desejos considerados. Discutiu-se a construção de práticas mais adequadas por meio de um currículo que leve em consideração o relacionamento, resultado de interações respeitosas, positivamente reativas e recíprocas. Por fim, outro aspecto discutido foi a aprendizagem por meio da resolução de problemas, que é considerada uma proposta totalmente possível de ser desenvolvida mesmo com bebês, pois, ao conhecer melhor o universo infantil, você percebeu que os bebês e crianças pequenas estão constantemente envolvidas em situações- problema que, evidentemente, diferem das questões que envolvem os adultos; elas são concretas e representam oportunidades de aprendizagem. Philippe Ariès: Historiador e medievalista francês, destacou-se no estudo sobre a história da família e da criança. Produziu, em 1978, a “História Social da Criança e da Família”, uma iconografia pioneira na análise e concepção da infância, que deixa clara a fragilidade e desvalorização da criança através dos tempos. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 11 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Os seus estudos foram realizados a partir da iconografia, uma vez que não existiam textos escritos sobre a criança, e demonstraram que desde antiguidade tanto crianças quanto as mulheres eram considerados como seres inferiores e até a Idade Média as crianças eram educadas realizando tarefas iguais as realizadas pelos adultos. O autor foi um dos primeiros identificar que o sentimento para com a criança tornou-se mais significativo durante o século XVII e a afirmar que a infância é uma construção socialmente determinada. Filantrópico: Decorre do termo “filantropia”, que significa “amor à humanidade”. Tem o sentido de solidariedade, caridade, benfeitoria. Está relacionado com fazer ou dar algo a alguém por meio de uma ação social, desvinculada de políticas públicas, mas que, em muitos casos, ocupa espaços deixados pelo Estado, atendendo e suprimindo sua ausência. As entidades filantrópicas desenvolvem ações que visam beneficiar os menos providos, sem distribuir lucros. Casa de expostos (roda de expostos): Instituições destinadas a abrigar crianças abandonadas, geralmente administradas pela Igreja. Historicamente, essas instituições tiveram origem na Europa, no século XIII, e tinham como objetivo levar as crianças “enjeitadas” ao sacramento, impedindo que suas almas permanecessem no limbo. Para a Igreja Católica, as almas que faleciam sem receber o batismo ou assistência espiritual permaneceriam no “purgatório” e, ao recolher as crianças “enjeitadas”, a Igreja providenciaria um meio para que sua alma pudesse ser salva. Portanto, inicialmente, o objetivo dessas instituições foi de caráter religioso. Jardins de infância: A origem do termo é atribuída ao alemão Friedrich Froebel, que não apenas teorizou, mas, também, concretizou seus ideais em relação à educação de crianças em 1837, quando criou o primeiro jardim de infância. O nome “jardim” vem do entendimento de Froebel de que a criança é como uma plantinha, que precisa ser bem tratada para crescer e florescer em toda a sua capacidade. O método defendido pelo teórico reforçava as atividades práticas como aspecto central para o conhecimento, uma vez que o ensino abstrato seria prejudicial à criança, pois respeita a sua natureza. O autor, em um dos seus livros, “Pedagogia dos jardins de infância”, de 1917, explica que o papel da educação é favorecer o desenvolvimento livre e espontâneo da criança. No Brasil, os primeiros jardins de infância foram criados por volta de 1875, em São Paulo, tanto pela iniciativa particular quanto pelo setor público, mas ainda assim para atendimento dos filhos da burguesia. Educação Infantil: É considerada a primeira etapa da Educação Básica e está prevista no Brasil, legalmente, desde 1996, com a nova LDB no 9394. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 12 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Até a década de 1970, pouco aconteceu em termos legais para garantir a oferta de creches e pré-escolas, porém, a partir da década de 1980, vários grupos organizados de estudiosos da infância se uniram para reivindicar o direito da criança à educação desde os primeiros anos de vida. A Educação Infantil compreende o atendimento de crianças entre zero e três anos, em creches, e entre quatro e cinco anos, em pré- escolas. A matrícula na Educação Infantil é obrigatória às crianças que completam 4 ou 5 anos até 31 de março do anoem que ocorrer a matrícula, porém, a frequência não é pré-requisito para matrícula no Ensino Fundamental. Cuidador: Pessoa responsável pelo cuidado destinado à outra que esteja em condições de dependência. O cuidado nesse caso é compreendido como a atitude de atenção e zelo, que requer responsabilidade e envolvimento afetivo. No Brasil, estudos sobre a função de cuidador são muito recentes e este pode ser entendido como uma pessoa que atende as necessidades de outra que esteja em condições vulneráveis, podendo ser, inclusive, um familiar. O cuidador pode ter um caráter formal ou informal. Aqueles contratados para prestar um determinado serviço, cujo objetivo central seja o cuidado àquelas pessoas em situação de dependência, são os cuidadores formais, estando nesta categoria os enfermeiros, acompanhantes, empregadas domésticas, entre outros. Já os informais são as pessoas que, de forma voluntária, se dispõem a essa função. Interação: Ações que se efetivam entre os indivíduos de um grupo social. A interação de um indivíduo com outro ocorre a partir da assimilação da cultura do grupo social ao qual o indivíduo pertence. Para Vygotsky, desde o nascimento, o ser humano é um ser social, uma vez que, mesmo quando ainda não utiliza a linguagem oral, está interagindo e se familiarizando com o ambiente no qual vive. Por meio da interação que se estabelece entre os indivíduos é que ocorre os processos de aprendizagem e o aprimoramento das estruturas mentais. Tema 2 O currículo para a educação de crianças: o cuidado como aspecto central e o papel da brincadeira Definir o que é o currículo não é tarefa simples, uma vez que isso varia conforme a concepção de educação predominante e as influências epistemológicas que orientam as diferentes teorias sobre o tema. Alguns teóricos concebem o currículo como a relação de conteúdos a serem desenvolvidos durante um período letivo, também como as experiências de aprendizagem vivenciadas pelos alunos ou, também, como os objetivos propostos para serem alcançados no processo de ensino e aprendizagem. Forquin (1993 apud LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2010, p. 362) define currículo como: Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 13 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. [...] o conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, valores) transmitidos (de modo explícito ou implícito) nas práticas pedagógicas e nas situações de escolarização, isto é, tudo aquilo a que poderíamos chamar de dimensão cognitiva e cultural da educação escolar. Quando se trata da educação infantil, é preciso considerar que, na etapa inicial da vida do ser humano, não é possível separar as necessidades intelectuais das demais necessidades, daí ser fundamental a concepção de currículo centrado em atividades. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o currículo é compreendido como: Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010, p. 5). Para que o pleno desenvolvimento da criança ocorra, o planejamento curricular deve totalizar elementos que estejam relacionados, sem rupturas ou fragmentação. Por isso não é possível pensá-lo como algo estático, mas sim como algo dinâmico, relacionado a toda e qualquer ação que envolve a criança no seu cotidiano na escola, e isso não se limita a situações nas quais ela realiza atividades direcionadas pelo professor. A relação entre educar e cuidar é um dos aspectos centrais na organização do trabalho com a criança e por meio do qual se expressam as práticas pedagógicas. Cuidado e educação são inerentes ao trabalho da educação infantil, uma vez que o cuidar encontra-se implícito no ato de educar, ressaltando que isso não se aplica somente à educação infantil. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que o currículo se concretiza nas atividades e o componente central desse processo é o apego, uma vez que é desse sentimento que nascem a confiança e a segurança. As atividades rotineiras, realizadas pelos professores e crianças, oferecem várias experiências que servem de base para o desenvolvimento cognitivo. As autoras acrescentam que o apego contribui para que a criança compreenda que, além de cuidada, ela é considerada como um ser humano, um indivíduo. Nesse sentido, os professores desempenham papel fundamental, uma vez que deles depende a consistência do trabalho desenvolvido com as crianças, a qualidade do cuidado e a continuidade do processo. O apego se caracteriza como o comportamento por meio do qual a criança busca o adulto que a protege. O relacionamento que ela estabelece com a figura de apego desenvolve uma representação sobre si mesma, percebendo-se digna ou não de afeto e a disponibilidade, ou não, do outro. O apego está relacionado ao desenvolvimento socioafetivo e, também, ao desenvolvimento cognitivo. Vale dizer que a autoestima e a autoconfiança têm sido consideradas como aspectos fundamentais para o bom desempenho acadêmico, uma vez que decorrem de uma relação de confiança, que leva o indivíduo a explorar e aprender de uma forma livre e independente. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 14 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Conforme Silveira e Ferreira explicam (2005, p.11): As condições que contribuem para o desenvolvimento ou não do apego a uma figura incluem: primeiro, a sensibilidade dessa figura para responder aos sinais do bebê, e, segundo, a quantidade e natureza da interação entre os componentes do par. As autoras ainda acrescentam que não é pela quantidade de tempo que se define a intensidade da interação estabelecida com a criança, atendendo suas necessidades, mas a interação recíproca que ocorre entre criança e professor. O papel que aqueles que cuidam da criança desempenham é de fundamental importância para um desenvolvimento equilibrado e estável. A formação inicial e continuada desses profissionais deve garantir as condições para que seja possível desenvolver uma visão integrada, superando ações mecanizadas. O trabalho não pode ser individual, uma vez que é no conjunto que a equipe poderá refletir sobre suas ações, visando proposições mais adequadas. Esses profissionais, em constante relacionamento com a criança, estabelecerão relações de apego por meio das rotinas que são as formas pelas quais as práticas curriculares são desenvolvidas. Com relação a essas rotinas de cuidados com bebês e crianças, aquelas consideradas como essenciais são: alimentação, troca de fraldas, banho, vestir-se e descanso. Vejamos cada uma delas detalhadamente. A alimentação é um momento muito rico na relação entre o professor e a criança, momento em que o apego se desenvolve, devendo, por isso mesmo, ser um tempo de qualidade. Gonzales-Mena e Eyer (2014) sugerem que o mesmo professor alimente os mesmos bebês e crianças para, assim, construir a relação de apego. Quando a criança passa a ter condições de se alimentar sozinha, deve ser incentivada a tal ato, mesmo com a bagunça e sujeira que isso possa acarretar. As autoras explicam a importância de se observar atentamente a criança: Entender os sinais de cada criança, dar a elas algumas escolhas, Definir limites claramente, reagir honestamente e interagir com responsabilidade são todos postos-chave para experiências de alimentação agradáveis (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p. 54). Outro momento que favorece o desenvolvimento do apego é o da troca de fraldas. Muitas vezes o desafio do professor/cuidador é manter a criança calma para que possarealizar o procedimento. O que geralmente ocorre é realizar essa troca de maneira mecânica, sem estar atento ao que se realiza, e, quando a criança está um pouco maior, o professor costuma oferecer um objeto ou brinquedo para que ela se distraia. Observe que esse é um momento excelente para aprofundar a relação e desenvolver o apego, contudo, quando torna-se mecânica, ela deixa de ser elemento do planejamento curricular. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 56) explicam que Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 15 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. “[...] quando a troca de fraldas se processa sem a total consciência e participação do bebê, ela deixa de ser uma experiência humana íntima que dá prosseguimento às relações”. Ida ao banheiro é um assunto que provoca discussões e representa um desafio para os professores. Atualmente, a abordagem utilizada é de aprendizado da ida ao banheiro e não treinamento, como até há alguns anos era tratado, uma vez que a criança precisa estar pronta para isso. Na convivência entre as crianças em instituições de Educação Infantil, a imitação é muito utilizada e, dessa forma, é bastante comum verificar que muitas crianças passam a utilizar o banheiro naturalmente, imitando aquelas que não usam mais as fraldas. Aprender a controlar os esfíncteres é um processo que pode favorecer a criança a estabelecer uma boa relação com seu corpo, desenvolver sua autonomia e ter consciência de suas necessidades físicas. Cada criança terá um desenvolvimento próprio, sendo difícil definir, a priori, quando esse start para a autonomia ocorrerá. Para isso a família é parte fundamental, uma vez que as suas decisões precisam ser respeitadas pela escola. Estudos comprovam que quanto maior for a pressão para a criança deixar a fralda, mais resistência ela desenvolve, uma vez que é uma forma de lidar com o controle externo. Dias, Correia e Marcelino (1982) explicam que, em relação ao início do controle dos esfíncteres, não há um consenso por parte dos estudiosos, uma vez que, se para alguns isso pode ocorrer por volta dos 16 e 18 meses, para outros, isso ocorre mais eficazmente por volta dos 18 e 24 meses. Contudo, há concordância de que isso depende da maturidade do sistema nervoso e que há uma predisposição de antecipação nas meninas. Dentre outras, vale destacar três orientações feitas por Gonzales-Mena e Eyer (2014). A primeira é auxiliar as crianças a se sentirem seguras, providenciando penicos e vasos sanitários bem baixos para que elas os alcancem com independência; a segunda é ser gentil e compreensível com os acidentes, uma vez que eles acontecerão. A terceira é solicitar aos pais que providenciem roupas confortáveis para que as crianças possam retirá-las sozinhas. O banho e a limpeza são práticas de cuidado que compõem o planejamento curricular e se configuram em momentos ricos para o desenvolvimento do apego. Lavar as mãos, ajudar a criança na escovação dos dentes, a pentear o cabelo, entre outras práticas são oportunidades para levá-la a experimentar outras texturas, outras sensações, como, por exemplo, a da mão ensaboada e isso pode favorecer o autoconhecimento da criança. Sobre os cuidados que a escola precisa adotar, recomenda-se utilizar sabão líquido e que tenha próximo algum papel descartável para a secagem das mãos. Em geral, as famílias preferem que a tarefa do banho não seja realizada na escola e, em relação à limpeza da criança, é importante que haja um consenso entre as opiniões. Muitos pais reclamam que a criança não volta para casa tão limpa e Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 16 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. arrumada quanto gostariam, alguns até criticam a escola se a roupa da criança está muito suja e se os cabelos estão despenteados. Essas situações precisam ser previstas no projeto pedagógico da escola e os pais devem ser ouvidos e respeitados em suas opiniões, sem, porém, interferir nas situações consideradas como essenciais para a criança, que eventualmente poderá terminar o dia com a roupa suja e o cabelo despenteado, como resultado das atividades realizadas. A tarefa de vestir-se é uma oportunidade de incentivar o desenvolvimento da autonomia da criança. As crianças, em geral, gostam de ajudar e até os bebês têm prazer em fazer isso. Mas como esse tipo de atividade pode ajudar a desenvolver o apego? Por ser um momento em que o professor ensina a criança que ela pode realizar algumas coisas sozinha, conforme for se sentindo mais segura, ele poderá deixar que ela realize de maneira independente. Os laços se estreitam, a confiança se estabelece e, com isso, o apego é construído. Quanto mais a criança perceber que pode contar com o professor, caso não consiga realizar uma tarefa, melhor ela se sentirá em tentar desenvolvê-la com autonomia. Vestir-se pode ser um problema que ela precisa resolver e isso se tornará uma oportunidade para permitir que busque formas de solução, sendo uma prática constituinte do planejamento curricular. O descanso é uma parte da rotina bastante importante no planejamento curricular. No caso dos bebês, alguns cuidados são muito importantes em função de situações como a Síndrome da Morte Súbita Infantil, que requer conhecimento por parte dos professores. Os padrões de sono da criança devem ser fornecidos pelos pais, pois não há uma orientação única que atenda a todas as crianças. Essas informações ajudarão a oportunizar que a criança descanse de forma que lhe seja mais confortável e familiar. Para conhecer melhor os seus hábitos, é preciso persistência e atenção, sendo recomendável que cada bebê tenha o berço que utilizará todos os dias posicionado no mesmo local. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 63) indicam algumas orientações para ajudar esse momento: 1. Ofereça privacidade visual para as crianças que precisam. [...] 2. Ofereça uma atmosfera pacífica e silenciosa. [...] Comece a reduzir a atividade antes da hora do cochilo. 3. Certifique-se de que todas as crianças disponham de ar puro e possam fazer exercícios. O cansaço é o maior estímulo para o cochilo. 4. Não deixe que as crianças fiquem excessivamente cansadas. Algumas crianças têm dificuldades de se acalmar para dormir quando estão exaustas. A paciência e a atenção dos professores são fundamentais para determinar a qualidade das interações que são feitas com as crianças e quanto melhor for o proveito dos momentos em que são personalizadas e individualizadas, menos elas Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 17 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. precisarão de atenção em outros períodos do dia, uma vez que desenvolverão habilidades de autoajuda. A constituição de um planejamento curricular para a Educação Infantil não pode prescindir da brincadeira, uma vez que se constitui num processo psicológico de grande importância, envolvendo articulações muito particulares de relação com o mundo. Conforme Rodrigues (2009, p.19) explica: A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. O brincar não só requer muitas aprendizagens como também constitui um espaço de aprendizagem. No que se refere a bebês e crianças pequenas, a brincadeira envolve a movimentação. Assim, se elas não puderem se movimentar com liberdade, não poderão estar completamente envolvidas. Isso se explica por que nessa fase o desenvolvimento físico tem relação com o desenvolvimento cerebral. Disso decorre que quanto mais movimentação e exploração a criança puder realizar, melhor será seu desenvolvimentocomo totalidade. Nesse sentido, a proposta curricular deve prever as brincadeiras livres e a exploração com a monitoria do adulto, porém, sem seu controle. No planejamento curricular, é necessário que as práticas prevejam a liberdade aos bebês e crianças, apoio na consecução dos seus objetivos dentro da brincadeira e disponibilização de recursos para que ela possa brincar de forma autônoma. Isso retira o foco do professor e passa para a criança, que, a rigor, deve ser o sujeito desse processo. Ao fazer isso, o professor não terá mais o comando, mas estará mediando e observando caso haja necessidade da sua intervenção em conformidade com as demandas da criança. Nessa perspectiva de currículo, as situações vivenciadas pela criança serão desafios que ela terá de enfrentar e as situações-problema que encontrarem serão oportunidades de desenvolvimento. Contudo, é preciso que o professor desenvolva a habilidade de saber o momento apropriado de fazer as interferências. Em geral, os professores – ou mesmo os pais ou outros cuidadores – pensam que auxiliar é interferir e fazer pela criança, sem dar a ela a oportunidade de testar suas hipóteses ou descobrir sua abordagem própria. Daí a importância de observar de uma forma sensível e perspicaz, identificando os momentos em que a criança demonstre que efetivamente não está mais conseguindo lidar com a situação, para que faça a interferência e de uma forma adequada. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 73) destacam os principais fatores para que os professores possam apoiar positivamente as crianças no seu processo de brincadeiras e exploração: 1. Participação ativa na rotina das crianças. 2. Observação sensível e entendimento das necessidades da criança. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 18 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. 3. Consistência, o que inclui limites claramente definidos. 4. Confiança básica no bebê como alguém que inicia atividades, explora e aprende por si mesmo. 5. Ambientes seguros, cognitivamente desafiadores e emocionalmente nutritivos. 6. Não interromper a brincadeira quando os bebês estão brincando sozinhos. 7. Liberdade para explorar e interagir com objetos e outros bebês. O ambiente para favorecer a brincadeira deve ter como aspecto central a segurança e, também, a previsão de objetos que atendam todas as crianças, inclusive aquelas com alguma necessidade educativa especial. É claro que não basta colocar os pequenos numa sala sem ter organizado o tamanho do local, os objetos que ali estarão dispostos, os materiais e brinquedos, entre outros itens. Muitos programas não permitem que bebês e crianças um pouco maiores brinquem juntos, temendo que os maiores possam machucar os menores. É importante que as crianças de diferentes idades se relacionem; a depender da atividade, será necessário um número maior de adultos mediando, porém, mesclar diversas formas de organização dos grupos são oportunidades para que as crianças possam desenvolver suas potencialidades. O quadro a seguir destaca alguns fatores ambientais que podem influenciar as brincadeiras. Tamanho do grupo e faixa etária Grupos grandes tendem a tornar a participação da criança mais difícil, havendo, ainda, aquelas crianças mais tranquilas que acabam sendo ignoradas. Quando houver mistura dos grupos etários, o cuidado é com a segurança dos menores. Nesse caso, haverá necessidade de maior interferência do adulto. Configurando o ambiente para favorecer a brincadeira A criança deve poder tocar em tudo que está no ambiente, daí a necessidade de selecionar o que nele estará disponível, além dos claros limites nos quais a criança deve permanecer para evitar algum acidente, como, por exemplo, o uso de portões. Higienizar os brinquedos, disponibilizar objetos que sirvam para rolar, empurrar, escalar, usar materiais mais duros ou mais suaves e prover brinquedos que possam ser utilizados de diferentes maneiras são algumas das orientações que devem ser seguidas. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 19 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Acontecimentos1 Os acontecimentos devem ser compreendidos como as experiências vivenciadas pelas crianças, mesmo aquelas mais simples e nem sempre consideradas como importantes, a depender do olhar do adulto. Eles envolvem, desde aqueles previstos, como colagem, pintura com esponjas, desenhos com diferentes materiais, até os imprevistos, tais como observar o que acontece no pátio após a chuva. Liberdade de escolha A sala deve estar organizada de tal modo a estimular a brincadeira livre e com muitas escolhas à disposição. O problema da combinação O ambiente precisa oferecer experiências familiares e, também, novas, para que desperte o interesse da criança. A combinação entre o conhecido e o novo representa o desafio ao professor, uma vez que isso deve estar adequado a cada criança e as suas condições individuais. Quanto mais ele conhecer sobre o desenvolvimento da criança e aprender a observar o que acontece com ela, melhores serão suas condições de mediar esse processo. Quadro 1 – Fatores que Influenciam as Brincadeiras As autoras preferem utilizar o termo “acontecimentos” a “atividades”, uma vez que fundamentam suas orientações em teorias que se distanciam dos modelos dominantes. Ao utilizarem o termo “acontecimentos”, buscam situar o foco na experiência da criança, o que não significa ausência de intencionalidade. Com relação ao problema da combinação, existe um importante desafio para o professor, no sentido de perceber se a brincadeira está interessante o suficiente para continuar despertando a atenção da criança. Você já deve ter tido a oportunidade de observar crianças brincando e como conseguem modificar o rumo de uma brincadeira caso não estejam mais gostando dela, ou mesmo mudando para outra brincadeira quando começam a se desinteressar por aquela que estão desenvolvendo. É uma combinação de elementos que são novos o suficiente para servir de estímulo, mas que são, também, familiares, para que a criança possa utilizar os recursos mentais já adquiridos. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 20 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 84) explicam que o aprendizado acontece “[...] quando existe uma incongruência ideal entre o que se conhece e o que é novo em determinada situação”. Uma situação extremamente nova provoca o recuo da criança e uma situação muito conhecida causa o desinteresse. Portanto, equilibrar a incongruência é o desafio do professor. A escolha das situações que prevejam uma combinação ideal de incongruência dentro de um ambiente depende de dois fatores. O primeiro se refere ao conhecimento sobre os estágios de desenvolvimento infantil e o segundo se refere aos dados obtidos por meio da observação das crianças. É importante ter sempre em mente que não se deve pressionar a criança, mas incentivar para que ela realize o que estiver fazendo com dedicação. A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil, uma vez que a criança pode transformar o que apreende das situações e produzir novos significados. Além disso, elas podem representar as coisas de maneira diferente do que realmente são, ressignificando o convencionalmente estabelecido. Vygotsky (1998) afirma que não é possível ignorar que a criança satisfaz algumas necessidades por meio da atividade do brincar. As pequenas tendem a satisfazer seus desejos imediatamente, e o intervalo entre desejar e realizar, de fato, é bem curto. Já as crianças entre dois e seis anos de idade são capazes de inúmerosdesejos, e muitos não podem ser realizados naquele momento, mas posteriormente por meio de brincadeira (QUEIROZ; MACIEL; BRANCO, 2006, p. 173). Somente por meio da observação é que o professor poderá conhecer melhor as opções da criança, compreender como brinca e seus motivos e, assim, determinar melhores formas de interagir com ela. O planejamento curricular acarreta a necessidade de que a instituição de Educação Infantil programe as atividades com vistas à participação de todas as crianças, inclusive aquelas com necessidades educativas especiais. A legislação vigente prevê que as crianças com deficiência deverão ser matriculadas em escolas de ensino regular que, por sua vez, deverão organizar as ações a serem desenvolvidas com elas, visando seu desenvolvimento. A cada ano aumenta o número de crianças com algum tipo de deficiência na rede regular de ensino e isso exige uma formação específica para os professores, além de adaptações no currículo. Quando se trata de crianças pequenas a preocupação aumenta, uma vez que há necessidade de adequar os processos de educação e cuidados que precisam considerar as características da necessidade apresentada. Com certeza são novos desafios a serem enfrentados pelas instituições, contudo, estudos apontam que a inclusão de crianças com necessidades especiais transforma muitas práticas estabelecidas na escola. O planejamento curricular visando uma educação inclusiva favorece a todas as crianças e não apenas aquelas que possuem alguma deficiência. As práticas flexíveis e criativas atendem as necessidades individuais e oportunizam diferentes formas de aprendizagem a todos os alunos, levando a um ambiente democrático. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 21 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. É preciso adaptar as rotinas às necessidades apresentadas e, ao professor, cabe buscar as melhores formas para criar uma relação de apego com as crianças. O tempo e a disponibilidade são condições para que as interações ocorram, favorecendo construir na criança uma autoimagem positiva. Todas as crianças merecem o respeito e precisam ser aceitas com suas características, cabendo ao adulto criar um ambiente no qual elas possam se sentir seguras, protegidas, e, assim, explorem o mundo a seu redor e se desenvolvam. Neste tema, você pôde acompanhar os aspectos que envolvem práticas de cuidado e que também se configuram como educativas. O apego foi compreendido como aspecto central na organização do currículo, uma vez que por meio dele é que se estabelecem as relações que favorecerão as práticas de educar e cuidar numa perspectiva de respeito à criança. As rotinas de cuidados foram abordadas nas suas especificidades, visando esclarecer as práticas mais adequadas para que a criança possa ter seu desenvolvimento garantido com qualidade e segurança. Tratou-se das rotinas mais comuns realizadas nas instituições de Educação Infantil e desenvolvidas tanto com bebês quanto com as crianças maiores. Outro aspecto também tratado aqui foi o ato de brincar como fundamental para o desenvolvimento da criança. Foram abordadas as maneiras mais adequadas para a interferência dos adultos nas brincadeiras das crianças, a forma de organização dos espaços, as maneiras mais adequadas de estimular as interações, bem como as atitudes diante das situações-problema enfrentadas pelas crianças no momento das brincadeiras. Por fim, reforçou-se a importância de o professor conhecer os estágios de desenvolvimento da criança para saber dosar de maneira equilibrada para que ela não tenha desafios além de sua capacidade, o que levaria a desistir de tentar resolvê- los, ou muito fáceis, que a levem a se sentirem desestimuladas. Epistemológicas: Relacionado à epistemologia. Etimologicamente, é o discurso racional (logos) da ciência (episteme). Pode ser conceituada como o estudo científico do conhecimento ou teoria do conhecimento. É o ramo da Filosofa cujo interesse principal é a natureza, fontes e validade do conhecimento. Num sentido amplo, a epistemologia pode ser compreendida como o estudo dos métodos, história, critérios, funcionamento e organização do conhecimento sistemático, seja ele teológico, filosófico ou científico. Num sentido Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 22 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. restrito, pode ser conceituada como Filosofa da Ciência ou o estudo sistemático dos métodos e critérios do conhecimento científico. “Estudar epistemologia é estudar as diferenças entre vários tipos de conhecimento, como o prático, o filosófico, o religioso e o científico”. (CASTAÑON, 2007, p.7). Apego: Pode ser definido como um sentimento que une uma pessoa à outra, tratando-se de uma ligação forte entre as pessoas. A construção dessa relação é tema dos estudos desenvolvidos por John Bowlby, médico e psicanalista inglês, por meio da Teoria do Apego. Nessa teoria, o aspecto fundamental são as bases biológicas do sistema comportamental de apego, pois, para o teórico, ele é organizado no sistema nervoso central, além de ser regulado pelo ambiente externo. A figura de apego é fundamental na teoria de Bowlby, uma vez que a criança se dirige para ela quando precisar de proteção e suporte, além de servir como base segura caso precise de proximidade e segurança. Conforme Bastard (2013, p. 18) explica: A ideia central da teoria do apego envolve a relação entre as experiências do indivíduo com seus pais e sua capacidade de, mais tarde, formar laços afetivos. Isso porque os problemas encontrados a partir dessa capacidade, como problemas entre casais ou com crianças, podem ser atribuídos à capacidade do cuidador de realizar seu papel. É necessário que esse cuidador proporcione uma base segura e encoraje a criança a explorar seu ambiente, reconhecendo e respeitando as necessidades de uma base segura e também moldando os comportamentos. A forma como a relação de apego se configura depende da experiência da criança com sua figura de apego, pois, quanto mais ela ‘experienciar’ a interação, mais forte será o apego. Esfíncteres: Trata-se da estrutura composta de fibras circulares dispostas de maneira concêntricas, sendo três considerados como importantes: o esfíncter cárdico, o esfíncter anal e o pilórico. Esse controle ocorre normalmente entre o 2º e 4º anos de vida, no contexto de grandes transformações da criança, que se tornam mais capazes de utilizar seus sentidos para se conhecer. Ao redor de um a dois anos, a criança começa a ter consciência das sensações que acompanham o enchimento da bexiga. Aos três anos de idade, a criança é capaz de reter a urina por um controle voluntário consciente da musculatura. Aos quatro anos, a micção pode, de um modo geral, ser iniciada voluntariamente, e aos seis ou sete anos a criança pode urinar segundo seu desejo, com qualquer quantidade de distensão da bexiga. Este processo evolutivo é encontrado em todas as crianças, mas com variabilidade individual na velocidade de maturação (MOTA, 2008, p. 27). A idade ideal para educar o controle dos esfíncteres depende de muitos fatores, tais como raça, sexo e fatores culturais. Síndrome da Morte Súbita Infantil: É a designação dada para a morte súbita e inesperada da criança com menos de um ano de idade, durante o sono, e a história Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 23 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. clínica, o exame físico, a necropsia e o exame do local da morte não mostram a causa específica do fenômeno. O desespero dos cuidadores ocorre porque a morte acontece no local em que o bebê está dormindo, seja na camaou no carrinho, não havendo sinais prévios que indiquem algum risco de vida da criança. Estudos indicam que muitos pacientes, vítimas dessa síndrome apresentam previamente algum tipo de infecção, sem que exista nos estudos relação direta entre isso e a morte. Brincadeira: termo de difícil definição, uma vez que o aceito em uma cultura ou contexto pode não o ser em outra. Sendo considerada como a principal atividade infantil, a brincadeira é compreendida como o ato de brincar no qual a criança tem a possibilidade de interagir, comunicar-se e relacionar-se com o ambiente no qual está inserida. O brinquedo serve de suporte para a brincadeira, sendo um objeto cultural que carrega significados e representações. Brincar é a atividade social por excelência na infância e permanece como importante veículo de interações sociais, à medida que a criança cresce. É fundamental para o crescimento e desenvolvimento do cérebro e as crianças que brincam com liberdade desenvolvem melhores condições físicas, redes sociais mais fortes e estão mais bem adaptadas a seus grupos (KOLSTELNICK et al., 2012). Ao brincar sem a interferência do adulto, a criança organiza-se em função da ação que desenvolve, concentra e se engaja de forma séria, de forma que o desenvolvimento alcança níveis mais complexos. Vygotsky: Lev Semionovitch Vygotsky nasceu na Bielo-Rússia, em 1896, e morreu de tuberculose, em 1934, antes de completar 38 anos. A perspectiva construída por ele compreende o homem como ser biológico, histórico e cultural. Ele explica em sua teoria que a criança nasce com algumas funções psicológicas elementares e, por meio do aprendizado da cultura, elas se transformam em funções psicológicas superiores. Para o autor, a aprendizagem ocorre por meio da apropriação e internalização dos signos socialmente construídos num contexto de interação. O brinquedo e a brincadeira têm relação profunda com o desenvolvimento infantil. Embora não seja o único elemento preponderante, a brincadeira é a atividade que proporciona maior desenvolvimento na capacidade cognitiva da criança. Na teoria desenvolvida por Vygotsky, a brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil, uma vez que a criança produz novos significados aos objetos, o que demonstra seu caráter ativo no decurso do seu próprio desenvolvimento. O teórico trouxe grandes contribuições para a compreensão do desenvolvimento, explicando-o por meio das trocas sociais e, também, dos processos de interação e mediação. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 24 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. Tema 3 Compreendendo as características da criança: o apego, a percepção e as habilidades motoras A organização do trabalho com bebês e crianças a partir da relação integrada entre educar e cuidar exige que a organização curricular se dê pautada numa filosofia do respeito pela criança, o que requer o conhecimento sobre suas características e sobre o desenvolvimento infantil nos seus diferentes aspectos – cognitivo, físico, psicológico, social. Isso decorre do entendimento de que a criança se desenvolve numa totalidade, na qual os aspectos se relacionam e se influenciam, de forma que as ações propostas e previstas no planejamento das instituições de Educação Infantil não podem ser aleatórias, mas conduzidas pelo entendimento integral da criança. Como você viu nas aulas anteriores discutiu-se a importância de um currículo no qual os cuidados são compreendidos como meios excelentes para se proporcionar um processo educativo. Nesse sentido, foram feitas análises das práticas que se constituem em situações corriqueiras no trabalho com as crianças nas quais se deve aliar o educar e cuidar. Você também pôde compreender o papel da brincadeira como processo central no desenvolvimento da criança, constituindo-se em campo fértil para as situações-problema, que por meio da mediação adequada do professor e da constituição de um ambiente propício podem potencializar o desenvolvimento da criança. O entendimento sobre as características da criança são fatores essenciais para uma melhor coordenação das ações que serão desenvolvidas com elas e a propositura de um currículo mais adequado em conformidade com os pressupostos e a filosofia aqui presentes. Nesse sentido alguns elementos são centrais e trataremos deles nesta aula: o apego, a percepção e as habilidades motoras. As situações de cuidados vivenciadas pelo indivíduo na infância estimulam de forma profunda o cérebro. Estudos demonstram que experiências positivamente reativas atuam sobre o seu funcionamento sendo extremamente importantes para o desenvolvimento das crianças. Nos primeiros anos de vida, o cérebro humano produz o dobro de sinapses necessárias e, ao chegar à adolescência, o cérebro passa a eliminar aquelas consideradas desnecessárias de tal forma que os estudos apontam que em torno da metade delas são descartadas. No que se refere ao desenvolvimento neural do cérebro humano, uma de suas características é a de manter aquelas conexões decorrentes de experiências realizadas repetidas vezes. Assim, as experiências repetidas formam padrões neurais estáveis e esse conhecimento é de extrema importância para o professor e todos aqueles que lidam com as crianças, pois quanto melhor for a qualidade das experiências iniciais, melhores as condições de o cérebro manter as conexões delas Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 25 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. originárias. A perda das sinapses decorre de um processo por meio do qual somente se mantêm aquelas que são estimuladas. O cérebro – estudos da neurociência já o demonstram – é altamente plástico e sua modificação é profundamente influenciada pelo ambiente. Por plasticidade neural se compreende: “[...] a capacidade do organismo em adaptar-se às mudanças ambientais externas e internas, mediadas pela ação sinérgica de diferentes órgãos, coordenados pelo SNC”. (DUARTE; BARBOSA, 2010, p. 49) Assim um ambiente rico, que oferece condições para o pleno desenvolvimento do indivíduo e oportunidades de convívio social, é capaz de modificar a progressão do desenvolvimento neurológico. Com isso você observa o valor das experiências vivenciadas nos primeiros anos de vida da criança, o que reforça o papel das instituições de educação infantil. As experiências dos primeiros anos de vida têm efeito organizador, pois nessa fase o sistema nervoso está mais receptivo aos processos de aprendizagem que irão produzir transformações em algumas estruturas neurais. GonzalesMena e Eyer (2014, p. 95) explicam que: “Se os padrões neurais forem sólidos, os sinais viajarão rápido e a criança conseguirá resolver os problemas com facilidade”. Disso decorre que o apego se constitui numa experiência que favorece a formação cerebral saudável, principalmente por se constituir em meios para reações positivamente reativas. Estudiosos da Teoria do Apego afirmam que o apego começa a adquirir força com os meses após o nascimento da criança, o que leva a concluir que o apego está ausente no nascimento. “O comportamento de apego manifesta-se pelos três meses, tornando-se nitidamente presente por volta dos seis meses de idade da criança e, em regra, prossegue até a puberdade” (BRUM; SCHERMANN, 2004, p. 459). A construção da confiança é um aspecto essencial nas relações de apego. A partir dos cuidados que são dispensados à criança, vão se formando padrões cerebrais que reforçam a confiança, uma vez que a criança, sendo extremamente dependente do retorno do adulto, precisa construir a certeza de que terá suas necessidades satisfeitas. Quando o bebê chora por se separar da mãe, tem uma reação de medo de perdê- la, pois não conseguecompreender que é uma separação temporária. Com o tempo, com o desenvolvimento de suas capacidades mentais e as vivências experimentadas, ele passa a confiar que a mãe retornará, sendo essa uma experiência que caracteriza o desenvolvimento da confiança a partir do apego. A ansiedade da separação atinge seu pico ao final do primeiro ano de vida, sendo recomendável que a criança seja matriculada na creche antes desse período. Mesmo que a criança esteja vivendo a ansiedade da separação, é importante que os Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 26 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. pais se despeçam ao deixá-la na escola; o professor, por sua vez, deverá ajudar a criança a expressar seus sentimentos, aceitando-os e não fugindo ou distraindo a criança. Você já deve ter vivenciado situações nas quais as crianças são separadas temporariamente de seus pais e nem sempre o adulto tem uma resposta adequada para a situação. Com as atitudes certas, pode-se desenvolver uma base segura do ponto de vista emocional. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que os pais precisam assumir atitudes mais assertivas nesse momento como, por exemplo, partir tão logo se despeçam da criança, pois é muito comum observar os pais mais inseguros com a separação do que a criança. Nessas situações cabe à escola criar ambientes estimulantes visando demonstrar à criança que ela pode se envolver em algumas atividades, caso esteja pronta. No que se refere ao desenvolvimento do cérebro, estudos demonstram que nas crianças que têm a oportunidade de experimentar o apego e situações de conforto e segurança, são produzidos neurotransmissores que levam a sensações de bem-estar. Entretanto essas interações precisam ter continuidade e consistência uma vez que a criança precisa confiar na relação, que depende principalmente da condução do adulto. O desenvolvimento da criança também está muito relacionado com a integração sensorial, que pode ser compreendida como um processo neurológico que objetiva interpretar e organizar as informações obtidas por meio dos sentidos. Na medida em que os bebês e crianças vivenciam experiências reiteradas vezes, passam a estabelecer relações significativas diferenciando as pessoas ao seu redor e assim estabelecendo o apego. As informações obtidas por meio dos sentidos fazem uma ligação importante com outras áreas do desenvolvimento. A experiência sensorial tem profunda relação com a experiência motora e, por sua vez, propicia o desenvolvimento cognitivo. As crianças pequenas precisam vivenciar repetidas vezes experiências sensoriais para criar redes de aprendizagem no cérebro conforme exposto anteriormente. Elas não nascem com conhecimentos prontos para perceberem os estímulos do ambiente, assim a percepção depende do aprendizado uma vez que possuir os sentidos não significa que a criança compreenda os estímulos deles decorrentes, somente com o tempo e as vivências é que os bebês aprendem a conferir significado às sensações obtidas. Existem diferentes tipos de modalidades sensoriais, que se referem aos sentidos os quais operam por meio dos órgãos que captam os estímulos sensoriais externos e os transmitem ao cérebro para que sejam processados e organizados. O quadro a seguir apresenta um resumo das modalidades sensoriais. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 27 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. MODALIDADE SENSORIAL ESTÍMULO (ENERGIA DO AMBIENTE) SUBMODALIDADE SENSORIAL VISÃO Luz (espectro visível) Visão de cores, percepção de formas, percepção de movimentos etc. AUDIÇÃO Som (espectro audível) Tons, timbres, localização espacial dos sons etc. GUSTAÇÃO Químicos Doce, amargo, salgado, azedo, "umami" (glutamato) OLFAÇÃO Químicos Não há submodalidades básicas, podemos perceber milhares de cheiros diferentes SOMESTESIA Mecânicos, térmicos, químicos Tato, sensação térmica, dor, propriocepção (orientação espacial) Quadro 1 – Resumo das modalidades sensoriais, seus estímulos específicos e submodalidades. Vejamos mais especificamente cada uma das modalidades. A audição permite reconhecer os sons do ambiente sendo este um aspecto importante, porém ela também é fundamental para o processo de comunicação entre as pessoas, de tal forma que a perda auditiva interfere profundamente no aprendizado da língua falada. Caso a criança não tenha problemas auditivos, ao nascer já consegue identificar o local de onde o som vem, reconhece a voz da mãe com um pouco mais de tempo, já reconhece a diferença entre o som de alguém cantando e alguém falando, e até o que distingue uma língua da outra. As crianças pequenas possuem capacidade para tolerar o barulho, porém cabe observar o comportamento delas uma vez que o excesso de som pode tirar o seu foco. Quanto ao olfato e o paladar estão presentes desde o nascimento; estudos demonstram que os bebês conseguem distinguir o cheiro de sua mãe dentre o de outras pessoas. O olfato e o paladar são sentidos químicos. Os sistemas neurais que intermedeiam estas sensações, os sistemas gustatório e olfatório, estão entre aqueles filogeneticamente mais antigos do encéfalo e ao perceberem substâncias químicas na cavidade oral e nasal trabalham conjuntamente. (PALHETA NETO et al., 2009, p. 351). Ao se trabalhar com bebês e crianças, é importante que atividades que envolvam o cheiro sejam introduzidas sistematicamente, como o uso de itens que tenham cheiro e que as crianças possam experienciar. Por exemplo, se na instituição existe uma horta de temperos, as crianças podem sentir o cheiro e o gosto de alguns deles. Deve ser evitado, principalmente com os menores, o uso de massinhas com cheiro, pois a criança pode querer comer. Mesmo em se tratando de comidas, é necessário ter o cuidado com aquelas que podem levar ao engasgamento. Anhanguera - Pedagogia – Educação Aplicada aos Cuidados da Criança.......................................................... Página 28 de 71 Gostou do material? Então não se esqueça de curtir. A percepção tátil está profundamente relacionada às habilidades motoras, uma vez que com o aumento da capacidade de movimento e de exploração, as crianças vão obtendo maiores informações sobre o que está ao seu redor. Por isso os ambientes destinados a elas devem possibilitar que possam tocar, colocar na boca, mexer de forma a identificarem diferenças e similaridades. O ideal é proporcionar experiências nas quais a criança possa perceber os toques com o corpo todo. Por exemplo, tecidos com diferentes texturas, sedosos, peludos, ásperos; experiências com areia, com bolas de plástico, com água – morna, fria – com objetos mais duros ou moles. Existem atividades que envolvem predominantemente as mãos, como utilizar o sabão, tintas para desenhar, massinhas de modelar, o preparo de comidas. Vale destacar que a realização das atividades não é fazer algo para mostrar aos pais, mas para que a criança possa experimentar e vivenciar com liberdade, tendo o professor como mediador, cuidando para que ela não se machuque, mas favorecendo que possa explorar as possibilidades dos objetos e do ambiente. Você pode pensar em outras atividades que serão muito prazerosas para as crianças. A visão é um dos sentidos mais importantes, porém enxergar não é uma habilidade inata de forma que os bebês a aprendem. Desde que a criança não tenha alguma deficiência visual, ao nascer consegue distinguir o claro do escuro e com o tempo passa a distinguir mais coisas e com mais clareza de forma, até que, aos quatro meses, já possui a habilidade da visão bastante diferenciada. Quando se trabalha com bebês, é interessante dosar a quantidade de estímulos visuais, pois algo que lhes interessa ao olhar é também algo
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