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RESUMO DA MATERIA EDUCAÇÃO APLICADA AOS CUIDADOS DA CRIANÇA. TEMAS DE 1 A 6 EM UM SÓ ARQUIVO.

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Tema1: A Educação de Bebês e Crianças: Princípios e Práticas
Os estudos sobre a construção social da infância demonstram ser essa uma categoria muito recente decorrente das transformações ocorridas no contexto social, que foram impulsionadas pela constituição do modelo burguês de produção. Um teórico muito citado e considerado como uma referência é Philippe Ariès, que, por meio de seus estudos da iconografia, demonstra que a infância é resultante da sociedade moderna decorrente das modificações das condições materiais e alteração na estrutura social. 
Com certeza vivemos numa sociedade na qual ser criança é visto como uma fase em que se tem necessidades diferentes daquelas de um adulto. Você pode se lembrar de situações e coisas que vivenciou quando criança e que foram bem particulares desse momento. Contudo, não foi assim sempre, ou seja, aceitar a infância como um tempo com características específicas é algo recente na história humana. Só para ilustrar, até a Idade Média, as crianças eram educadas realizando tarefas iguais às realizadas pelos adultos. É somente com o desenvolvimento da sociedade moderna que houve uma mudança na concepção da infância e o desenvolvimento da ciência favoreceu a melhor compreensão das características dessa fase. 
Não se questiona a presença de crianças ao longo da história humana, contudo, o “sentimento” de infância como característica de uma sociedade cujos adultos cuidam e se preocupam com as crianças é algo moderno, de tal forma que, no âmbito da sociologia, o entendimento de que a infância é uma categoria social é algo recente. 
Com o surgimento da família burguesa, a forma de tratar a criança também muda, uma vez que, se antes havia uma vida coletiva na qual os cuidados e a educação das crianças ficavam a cargo do grupo, agora a família é a responsável, sendo isso profundamente vinculado a questões tais como: herança, direito à propriedade, proteção do patrimônio, entre outros. Andrade (2010, p.51) afirma que “[...] as mudanças no interior das famílias e a necessidade de educação das crianças são fatores determinantes para o desenvolvimento do sentimento de infância”. Outro aspecto importante em relação a isso é que ao se reconhecer a infância como uma etapa do desenvolvimento humano, após o século XIX, surgem diversos campos científicos que passam a estudar esse período, produzindo um conjunto de teorias e práticas para melhor orientar como fazê-lo. Você pode observar que a forma como a criança é vista e tratada está diretamente relacionada às condições da sociedade, assim, cada tipo de sociedade corresponde uma forma de conceber a infância e a criança.
A questão da escolaridade se intensifica em muitos países europeus entre os séculos XVIII e XIX, uma vez que a escola se torna um instrumento fundamental de preparação para o ingresso no mundo adulto. As transformações que ocorriam no mundo do trabalho afetaram profundamente a organização social e atingem até hoje as crianças. A inserção dos adultos nos trabalhos fabris evidenciou a situação de abandono na qual muitas crianças se encontravam, uma vez que ficavam sem cuidados durante o período em que seus pais estavam trabalhando. Além disso, muitas já eram vítimas de pobreza e maus tratos. 
Essa situação leva à criação de instituições de caráter filantrópico destinadas ao acolhimento dos pequenos, cujo objetivo principal era o de combater as péssimas condições de saúde, não havendo uma preocupação com a instrução, uma vez que, para os filhos dos operários, o principal era ensinar a obediência, a valorização do trabalho e as práticas religiosas. É importante observar que essas práticas tinham como objetivo o desenvolvimento dos “bons costumes”, pois a concepção presente era a de que as crianças advindas das classes mais pobres não tinham esse comportamento. 
No Brasil, até o século XIX, não existiam instituições destinadas ao atendimento da criança pequena, como na Europa. Como a maior parte da população residia em zonas rurais, as crianças abandonadas ou órfãs ficavam sob os cuidados das famílias dos grandes proprietários de terras. Já nos meios urbanos, as crianças nessas condições eram recolhidas nas chamadas casa de expostos. No Brasil, a primeira foi criada em 1726, na Bahia, sendo uma alternativa para abrigar as crianças abandonadas. Para que você tenha uma ideia da gravidade do problema do abandono de crianças no Brasil, Torres (2006, p.105) explica que “Em alguns centros urbanos, no século XVIII, até 25% dos bebês eram abandonados e cerca de 70-80% faleciam antes de completar sete anos”. 
Outro aspecto importante em relação à casa dos expostos, também conhecida como roda dos expostos, é que representava uma opção para as mulheres brancas e solteiras que ficassem grávidas, uma vez que era aceito que os pais ou irmãos tirassem a vida da mulher e a de seu filho. Porém, esse não era o único fator do alto índice de abandono de crianças, principalmente no Brasil, pois a morte repentina dos pais, a morte no parto, o fator econômico e a chamada “bastardia” eram muito recorrentes, uma vez que o reconhecimento público da paternidade de um filho bastardo era considerado extremamente constrangedor. 
Nesse período, estabeleceram-se algumas posições que historicamente acompanharam o debate em torno da Educação Infantil, que é o assistencialismo e a educação compensatória, especificamente para as crianças oriundas de classes menos favorecidas. Você poderá observar que na História da Educação Infantil no Brasil, esse caráter assistencialista foi algo muito forte e que exerceu muita influência na definição de práticas e procedimentos. 6 
Com a industrialização e a crescente inserção da mulher no mercado de trabalho, criaram-se as creches, que passaram a abrigar os filhos das mães trabalhadoras, tendo caráter assistencialista. Vale destacar a explicação de Andrade (2010, p.136) a respeito: ”A concessão patronal das creches tinha um caráter de favor e não de dever social, em resposta às reivindicações da classe operária por melhores condições de vida”. É importante que você atente para o seguinte: a criação dessas instituições visava minimizar os conflitos de classes, uma vez que, para muitos patrões, era uma forma de atenuar os conflitos com as mães trabalhadoras. Nessa época, o atendimento realizado na creche tinha um caráter higienista, como explica Oliveira (2011, p.100): 
O higienismo, a filantropia e a puericultura dominaram, na época, a perspectiva de educação das crianças pequenas. O atendimento fora da família aos filhos que ainda não frequentassem o ensino primário era vinculado a questões de saúde. 
Veja que, mesmo após a década de 1970, o atendimento realizado pelas creches e jardins de infância continuava a ter caráter assistencialista, no entanto, o aumento dos movimentos reivindicatórios a partir da década de 1980 levou ao reconhecimento de que a educação em creches e pré-escolas é um direito da criança e, portanto, um dever do Estado. Isso representou, também, uma mudança na concepção do trabalho realizado nessas instituições, pois, ao reconhecer o seu caráter educativo, rompeu-se com a visão assistencialista, levando à definição de propostas pedagógicas que consideram as particularidades dessa faixa etária. 
A Constituição de 1988 assegura como direito da criança de zero a seis anos1, o atendimento em creches e pré-escola e, na LDB 9394/1996, é estabelecido que a Educação Infantil se constitui como a primeira etapa da Educação Básica. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil estabelecem a Educação Infantil como: 
Primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantilpública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção (BRASIL, 2010, p.12). 
Você já deve ter pensado sobre os aspectos que compõem a dimensão pedagógica do trabalho na Educação Infantil e como o professor deve definir as práticas mais adequadas. Isso realmente é fundamental no trabalho na Educação Infantil, daí a importância de se ter clareza em relação a essa dimensão. 
1 Vale destacar que a Lei nº 11.274/2006 alterou a LDB e ampliou o Ensino Fundamental para o período. 
A dimensão pedagógica do trabalho desenvolvido com as crianças tem como cerne o reconhecimento de que a criança é um sujeito cultural, com potencialidades que precisam ser desenvolvidas, que agem num determinado contexto, sendo por ele também determinadas. São, portanto, seres que pensam, vibram e não apenas pessoas que virão a ser alguém algum dia. Essa é a concepção presente não apenas nas orientações teóricas em relação ao trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças, mas, também, nos textos oficiais. Assim, o educar e cuidar são aspectos indissociáveis no trabalho pedagógico desenvolvido com as crianças da Educação Infantil. Agora vamos refletir: quais as consequências desse tipo de concepção? 
Isso exige que os professores compreendam como as crianças se desenvolvem e aprendem e possam, a partir disso, propor atividades exploratórias aproveitando a curiosidade e a motivação inerente a essa faixa etária. Isso inclui, também, os bebês, uma vez que durante muito tempo se acreditou que bastava mantê-los seguros e com suas necessidades básicas atendidas, deixando-os de fora de atividades de exploração e brincadeiras. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que um programa de cuidados que seja também educativo precisa ter um currículo. As autoras afirmam que: O currículo apropriado deve consistir num plano de aprendizado e desenvolvimento totalmente inclusivo e que foque nas conexões e relações de cada bebê ou criança de um programa de educação e cuidados primários, seja ele institucional ou doméstico (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p.26). Para a melhor definição sobre o currículo, os cuidadores devem estabelecer o que as crianças precisam e no que estão interessadas, além de criar formas de avaliar o alcance desses objetivos. A forma mais adequada de viabilizar esse processo é por meio da observação, que, ao ser incorporada como prática pelo professor, leva ao aperfeiçoamento, possibilitando identificar detalhes e pormenores que muitas vezes escapam numa observação mais aligeirada e sem clareza de objetivos. Você pode constatar por essas informações que a proposta curricular se mostra mais flexível, no entanto, exige mais conhecimento sobre quem é essa criança. Ao lado disso, é preciso que o professor estabeleça formas de registro que podem ser fichas, quadros, tabelas, esquemas, relatórios individuais e coletivos, os quais se constituam em fontes cujo conteúdo permitirá a composição do perfil de desenvolvimento da criança. A importância disso será distinguir os interesses e dificuldades que a criança apresenta, para poder estabelecer propostas de desenvolvimento que irão se materializar nas atividades e práticas cotidianas. A forma de sistematizar essas informações dependerá do professor, porém, é fundamental que o instrumento forneça uma visão sobre as necessidades mais gerais e específicas das crianças, de maneira individual e coletiva. Você já pensou em como poderia propor esse tipo de registro? Nesse processo, um dos aspectos que merecem destaque é observar a forma como os bebês e crianças resolvem problemas, uma vez que essa se constitui na abordagem curricular mais adequada para o desenvolvimento de suas capacidades. Quanto mais os bebês e crianças desenvolvem suas capacidades de lidar e criar formas de solucionar os problemas, melhor será o seu processo de aprendizagem. Parece um paradoxo que um bebê possa resolver problemas, contudo, o cotidiano das crianças é repleto de situações-problema, como: fome, desconforto, desejo (e impossibilidade) de alcançar um brinquedo, quando se separam de seus pais, entre outras. 
O adulto desempenha papel fundamental mediando a aprendizagem das crianças, e a qualidade de suas interferências é fator preponderante para o melhor desenvolvimento das suas capacidades. Aqui você constata como se revelam o educar e o cuidar, de forma que o professor possa atender às necessidades de cuidado da criança e apresentar os problemas para que ela resolva, analisando a forma como propõe as soluções, identificando o tempo necessário para que ela alcance suas metas e, também, observando o momento em que demonstra seu desinteresse em dar continuidade à atividade. Para isso, o professor deve estar apto a fazer as interferências necessárias. 
O quadro a seguir destaca as principais atitudes do adulto nesse processo de mediação: 
Quadro 1 – Papéis do Adulto na Educação de Bebês e Crianças 
	Determinar os níveis de estresse ideais 
	Observar e decidir qual nível de estresse é excessivo, muito, pouco ou suficiente. 
	Dar atenção 
	Atender às necessidades de atenção das crianças sem usar meios manipulados. 
	Dar retorno
	Dar um claro retorno sempre, de modo que bebês e crianças aprendam as consequências de suas ações. 
	Ser um modelo de comportamento 
	Dar um bom exemplo para bebês e crianças. 
A organização das práticas e procedimentos a serem adotados pelos professores, especialmente nas instituições de Educação Infantil precisa estar alicerçada em princípios que representem concepções fundamentadas no respeito e na crença nas possibilidades da criança. Para isso, todos os espaços e situações estarão focados no desenvolvimento da criança a partir de suas próprias indicações. Os espaços físicos são vistos como próprios para que o contato entre os bebês, as crianças maiores, os professores e demais envolvidos nos cuidados com elas se constituam em possibilidades de interações culturais. São também locais de exploração, criação compartilhada, ampliação das possibilidades corporais e de investigação e conhecimento. Nesse sentido, o papel do professor muda, não mais assumindo o direcionamento das atividades, mas observando atentamente as indicações feitas pelas crianças, fazendo as intervenções com vistas ao incentivo, à disponibilização de materiais e discernindo o que caracteriza a individualidade de cada criança. Pense em como você poderia conceber práticas diferenciadas na Educação Infantil, tendo esses aspectos como referência. 
Pasqualini (2010), parafraseando Leontiev (2001), afirma que o desenvolvimento das funções psicológicas da criança depende das situações concretas nas quais estão envolvidas, de forma que isso se efetiva na e por meio da atividade. Isso não deve ser confundido com treinamento, daí a necessidade de que a atividade seja organizada e intencional. Para isso, o professor precisa analisar o conteúdo da atividade desenvolvida pela criança, a fim de estabelecer formas de mediação que facilitem a exploração, sem deixar de interferir conforme as necessidades que ela apresente. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que o trabalho com bebês e crianças deve estar assentado em princípios que objetivam sustentar práticas mais adequadas quando se trabalha com base na filosofia do respeito. As autoras sintetizam dez princípios, que se consubstanciam em diretrizes indispensáveis para o trabalho com bebês e crianças, sendo que o primeiro deles é buscar envolver os bebês e as crianças nas coisas que lhes dizem respeito, de maneira que até uma troca de fraldas pode ter a participação, atenção e cooperação da criança. Em geral, o que o adulto faz é distrair a criança com um objeto e, assim, realiza a higiene da criança sem que ela, de fato, esteja interagindo. Você já viu esse tipo de atitude? Alguma vez pensou sobre ela numa perspectiva diferente? 
O segundo princípio apontado pelas autoras é investir no tempo de qualidade, momento em que o professor estará completamente disponível para uma criança. O resultado disso é a atenção total dirigida para a atividade realizada coma criança, com vontade e interesse. Isso pode acontecer tanto em situações dirigidas – quando se alimenta a criança, por exemplo – quanto naquelas sem um direcionamento específico – quando se senta ao lado da criança enquanto ela brinca sem fazer interferências. Sobre isso, é importante esclarecer que não há como manter a disponibilidade constantemente, nem durante todo o tempo que se está com a criança. O professor, seja quem for, precisa dosar a quantidade desse tempo, uma vez que até as crianças precisam ficar sozinhas de vez em quando e desejam isso. 
Você pode observar que esse tempo de qualidade será construído nas práticas cotidianas que envolvem atividades simples, tais como a troca de fralda, o banho, a brincadeira; momentos em que a interação íntima será vivenciada pela criança e pelo professor com total atenção e envolvimento. 
O terceiro princípio é o professor aprender os meios pelos quais a criança se comunica e ensinar a ela sua forma própria de se comunicar. Você já pensou sobre isso? As crianças constroem formas de expressar seus desejos, interesses, necessidades por meio da linguagem corporal, do choro, das expressões faciais e isso precisa ser aprendido, uma vez que não se constituem da mesma forma para todas as crianças. A referência para a construção do processo de comunicação da criança são os adultos com os quais se relacionam. Aprender a utilizar a linguagem verbal está relacionado à reação dos adultos, daí a importância de o adulto ter uma linguagem clara sem dúbias interpretações. 
O quarto princípio está relacionado à busca de proporcionar condições ao pleno desenvolvimento da personalidade em todos os seus aspectos e não somente no cognitivo. Você já deve ter visto que muitas famílias constroem expectativas em relação à vida acadêmica da criança e buscam propiciar situações de estímulo às atividades cognitivas, contudo, a personalidade é composta de vários aspectos que devem ser considerados para que o ser tenha a oportunidade de desenvolver todas as suas capacidades. 
O quinto princípio está em, efetivamente, assumir uma postura respeitosa em relação à criança, no sentido de realizar uma autoanálise constante sobre a forma como as atividades e práticas estão sendo realizadas, visando corrigi-las e tendo a convicção de que as crianças se servem muito mais dos exemplos que observam naqueles que as cuidam do que nas palavras. Muitas vezes as ações se tornam tão automáticas que o professor nem percebe que sua atitude pode ser profundamente desrespeitosa com a criança. Por exemplo, quando está na hora de alimentar a criança e o adulto simplesmente a retira de onde ela se encontra e a coloca na cadeirinha sem lhe dirigir uma palavra e nem explicar o que fará em seguida. 
O sexto princípio requer honestidade da parte do professor, de forma que ele tenha clareza sobre os seus sentimentos em relação à criança e a maneira como está os expressando frente a uma atitude dela. Quando a criança faz alguma coisa errada, o professor irá expressar seus sentimentos em relação a essa atitude de maneira verdadeira, para que ela compreenda as consequências de tal ato. É importante que você se atente para isso, pois se a reação do professor for “mascarada”, utilizando, por exemplo, sorrisos, a criança ficará confusa frente à mensagem. 
O sétimo princípio apontado pelas autoras está na importância de o professor ser um modelo para a criança. Assim, muito mais do que defender atitudes de cooperação, gentileza, respeito, comunicação, dentre outras, cabe a este profissional adotar efetivamente esse tipo de postura, expressando-as em suas atitudes tanto com as crianças quanto com os demais. 
O oitavo princípio está relacionado à capacidade de o professor acreditar na capacidade que os bebês e crianças têm de resolver problemas. Você já pensou em como é que as crianças fazem para resolver suas situações-problema? Isso implica em permitir que ela lide com os problemas até o ponto em que tenha condições para isso. Muitas vezes o professor age em função da ansiedade em resolver a situação rapidamente, sem respeitar a capacidade e o tempo da criança na busca de seus próprios caminhos. Cabe ao professor dar o tempo que for preciso e liberdade para que ela possa analisar e buscar soluções, trabalhando em seus problemas. 
O nono princípio é levar a criança a construir uma relação de confiança com os adultos. Para isso, ela precisa confiar que suas necessidades serão satisfeitas e, quando se expressar, serão atendidas. O professor precisa ser confiável, de tal modo que a criança saiba que se precisar de alimento, de descanso, de ajuda, terá um professor atento que lhe proporcionará isso. A confiança também deve estar pautada na demonstração de apoio, quando, por exemplo, os pais precisam deixar a criança. A melhor alternativa é que ela seja informada e não enganada, pois tem o direito de se sentir triste e, também, de aprender que os acontecimentos se modificam, para poder lidar com a situação de que se os pais saíram por um tempo, mas logo estarão de volta. Com certeza você já deve ter presenciado situações nas quais as crianças choram desesperadamente quando separadas de seus pais. 
Finalmente, o décimo princípio que deve orientar o currículo com base no respeito à criança é o conhecimento das etapas de desenvolvimento do ser humano e o que caracteriza cada uma delas, evitando pressionar a criança para que apresente resultados para os quais ainda não está preparada. É evidente que as crianças apresentam diferenças entre si ocasionadas pelo ambiente no qual vivem, características individuais, influências culturais, porém, apressar as respostas das crianças não é recomendável, uma vez que elas precisam estar prontas para o aprendizado, e isso não é o adulto quem decide. Facilitar o aprendizado significa apressar o processo de desenvolvimento da criança, impedindo que ela o viva na sua plenitude. 
Quando uma instituição de Educação Infantil assume um currículo fundamentado na filosofia do respeito à criança, precisa ter claro que isso implica conhecimento sobre as características das crianças e adoção de práticas de constante reflexão sobre o que está sendo proposto e desenvolvido. Não existem receitas prontas, uma vez que a criança participa da construção do currículo, como um sujeito que age frente ao que lhe é proposto e oferece respostas sobre o que lhe acontece. Você já presenciou situações nas quais as crianças realizam atividades que não se sentem envolvidas? Já se deparou com rotinas que são planejadas a partir do que o adulto pensa ser melhor, sem considerar o que a criança deseja? Esses são exemplos de como se pode construir um currículo sem a participação da criança. 
As práticas mais adequadas devem estar assentadas nas pesquisas sobre as etapas do desenvolvimento infantil, o conhecimento das diferenças individuais e, também, das influências culturais. Esses aspectos precisam ser equacionados na definição do que é mais adequado para o desenvolvimento do currículo, uma vez que não se pode considerar adequada uma prática, mesmo que decorrente, de estudos e pesquisas, sem considerar o contexto cultural como elemento importante. 
As experiências vivenciadas na Educação Infantil devem favorecer à criança a compreensão de quem ela é, como se sente frente às coisas que ocorrem e como buscar formas de solucionar os problemas que enfrenta. Oliveira (2010, p.5) explica que essas experiências devem: 
[...] possibilitar o encontro de explicações pela criança sobre o que ocorre à sua volta e consigo mesma enquanto desenvolvem formas de sentir, pensar e solucionar problemas. Nesse processo, é preciso considerar que as crianças necessitam envolver-se com diferentes linguagens e valorizar o lúdico, as brincadeiras, as culturas infantis. Não se trata assim de transmitir à criança uma cultura considerada pronta, mas de oferecer condições para ela se apropriar de determinadas aprendizagens que lhe promovem o desenvolvimento de formas de agir, sentir e pensar que são marcantes em um momento histórico.Quanto melhor for o início da vivência dos bebês e crianças na escola, melhor será o seu desenvolvimento e isso precisa ver visto como um investimento com grande impacto, uma vez que se constitui nas bases para o sucesso da criança na escola.
TEMA 2: O Currículo para a Educação de Crianças: o Cuidado como Aspecto Central e o Papel da Brincadeira.
Definir o que é o currículo não é tarefa simples, uma vez que isso varia conforme a concepção de educação predominante e as influências epistemológicas que orientam as diferentes teorias sobre o tema. Alguns teóricos concebem o currículo como a relação de conteúdos a serem desenvolvidos durante um período letivo, também como as experiências de aprendizagem vivenciadas pelos alunos ou, também, como os objetivos propostos para serem alcançados no processo de ensino e aprendizagem.
Forquin (1993 apud LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2010, p. 362) define currículo como: 
[...] o conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, valores) transmitidos (de modo explícito ou implícito) nas práticas pedagógicas e nas situações de escolarização, isto é, tudo aquilo a que poderíamos chamar de dimensão cognitiva e cultural da educação escolar. 
Quando se trata da educação infantil, é preciso considerar que, na etapa inicial da vida do ser humano, não é possível separar as necessidades intelectuais das demais necessidades, daí ser fundamental a concepção de currículo centrado em atividades. Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, o currículo é compreendido como: 
Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, 2010, p. 5). 
Para que o pleno desenvolvimento da criança ocorra, o planejamento curricular deve totalizar elementos que estejam relacionados, sem rupturas ou fragmentação. Por isso não é possível pensá-lo como algo estático, mas sim como algo dinâmico, relacionado a toda e qualquer ação que envolve a criança no seu cotidiano na escola, e isso não se limita a situações nas quais ela realiza atividades direcionadas pelo professor. A relação entre educar e cuidar é um dos aspectos centrais na organização do trabalho com a criança e por meio do qual se expressam as práticas pedagógicas. Cuidado e educação são inerentes ao trabalho da educação infantil, uma vez que o cuidar encontra-se implícito no ato de educar, ressaltando que isso não se aplica somente à educação infantil. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que o currículo se concretiza nas atividades e o componente central desse processo é o apego, uma vez que é desse sentimento que nascem a confiança e a segurança. As atividades rotineiras, realizadas pelos professores e crianças, oferecem várias experiências que servem de base para o desenvolvimento cognitivo. As autoras acrescentam que o apego contribui para que a criança compreenda que, além de cuidada, ela é considerada como um ser humano, um indivíduo. Nesse sentido, os professores desempenham papel fundamental, uma vez que deles depende a consistência do trabalho desenvolvido com as crianças, a qualidade do cuidado e a continuidade do processo. 
O apego se caracteriza como o comportamento por meio do qual a criança busca o adulto que a protege. O relacionamento que ela estabelece com a figura de apego desenvolve uma representação sobre si mesma, percebendo-se digna ou não de afeto e a disponibilidade, ou não, do outro. O apego está relacionado ao desenvolvimento socioafetivo e, também, ao desenvolvimento cognitivo. Vale dizer que a autoestima e a autoconfiança têm sido consideradas como aspectos 
fundamentais para o bom desempenho acadêmico, uma vez que decorrem de uma relação de confiança, que leva o indivíduo a explorar e aprender de uma forma livre e independente. Conforme Silveira e Ferreira explicam (2005, p.11): 
As condições que contribuem para o desenvolvimento ou não do apego a uma figura incluem: primeiro, a sensibilidade dessa figura para responder aos sinais do bebê, e, segundo, a quantidade e natureza da interação entre os componentes do par. 
As autoras ainda acrescentam que não é pela quantidade de tempo que se define a intensidade da interação estabelecida com a criança, atendendo suas necessidades, mas a interação recíproca que ocorre entre criança e professor. 
O papel que aqueles que cuidam da criança desempenham é de fundamental importância para um desenvolvimento equilibrado e estável. A formação inicial e continuada desses profissionais deve garantir as condições para que seja possível desenvolver uma visão integrada, superando ações mecanizadas. O trabalho não pode ser individual, uma vez que é no conjunto que a equipe poderá refletir sobre suas ações, visando proposições mais adequadas. Esses profissionais, em constante relacionamento com a criança, estabelecerão relações de apego por meio das rotinas que são as formas pelas quais as práticas curriculares são desenvolvidas. 
Com relação a essas rotinas de cuidados com bebês e crianças, aquelas consideradas como essenciais são: alimentação, troca de fraldas, banho, vestir-se e descanso. Vejamos cada uma delas detalhadamente. 
A alimentação é um momento muito rico na relação entre o professor e a criança, momento em que o apego se desenvolve, devendo, por isso mesmo, ser um tempo de qualidade. Gonzales-Mena e Eyer (2014) sugerem que o mesmo professor alimente os mesmos bebês e crianças para, assim, construir a relação de apego. Quando a criança passa a ter condições de se alimentar sozinha, deve ser incentivada a tal ato, mesmo com a bagunça e sujeira que isso possa acarretar. As autoras explicam a importância de se observar atentamente a criança: 
Entender os sinais de cada criança, dar a elas algumas escolhas, definir limites claramente, reagir honestamente e interagir com responsabilidade são todos pontos-chave para experiências de alimentação agradáveis (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p. 54). 
Outro momento que favorece o desenvolvimento do apego é o da troca de fraldas. Muitas vezes o desafio do professor/ cuidador é manter a criança calma para que possa realizar o procedimento. O que geralmente ocorre é realizar essa troca de maneira mecânica, sem estar atento ao que se realiza, e, quando a criança está um pouco maior, o professor costuma oferecer um objeto ou brinquedo para que ela se distraia. Observe que esse é um momento excelente para aprofundar a relação e desenvolver o apego, contudo, quando torna-se mecânica, ela deixa de ser elemento do planejamento curricular. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 56) explicam que “[...] quando a troca de fraldas se processa sem a total consciência e participação do bebê, ela deixa de ser uma experiência humana íntima que dá prosseguimento às relações”. 
Ida ao banheiro é um assunto que provoca discussões e representa um desafio para os professores. Atualmente, a abordagem utilizada é de aprendizado da ida ao banheiro e não treinamento, como até há alguns anos era tratado, uma vez que a criança precisa estar pronta para isso. Na convivência entre as crianças em instituições de Educação Infantil, a imitação é muito utilizada e, dessa forma, é bastante comum verificar que muitas crianças passam a utilizar o banheiro naturalmente, imitando aquelas que não usam mais as fraldas. Aprender a controlar os esfíncteres é um processo que pode favorecer a criança a estabelecer uma boa relação com seu corpo, desenvolver sua autonomia e ter consciência de suas necessidades físicas. Cada criança terá um desenvolvimento próprio, sendo difícil definir, a priori, quando esse start para a autonomia ocorrerá. Para isso a família é parte fundamental, uma vez que as suas decisões precisam ser respeitadas pela escola. 
Estudos comprovam que quanto maior for a pressão para a criança deixar a fralda, mais resistência ela desenvolve, uma vez queé uma forma de lidar com o controle externo. Dias, Correia e Marcelino (1982) explicam que, em relação ao início do controle dos esfíncteres, não há um consenso por parte dos estudiosos, uma vez que, se para alguns isso pode ocorrer por volta dos 16 e 18 meses, para outros, isso ocorre mais eficazmente por volta dos 18 e 24 meses. Contudo, há concordância de que isso depende da maturidade do sistema nervoso e que há uma predisposição de antecipação nas meninas. Dentre outras, vale destacar três orientações feitas por Gonzales-Mena e Eyer (2014). A primeira é auxiliar as crianças a se sentirem seguras, providenciando penicos e vasos sanitários bem baixos para que elas os alcancem com independência; a segunda é ser gentil e compreensível com os acidentes, uma vez que eles acontecerão. A terceira é solicitar aos pais que providenciem roupas confortáveis para que as crianças possam retirá-las sozinhas. 
O banho e a limpeza são práticas de cuidado que compõem o planejamento curricular e se configuram em momentos ricos para o desenvolvimento do apego. Lavar as mãos, ajudar a criança na escovação dos dentes, a pentear o cabelo, entre outras práticas são oportunidades para levá-la a experimentar outras texturas, outras sensações, como, por exemplo, a da mão ensaboada e isso pode favorecer o autoconhecimento da criança. Sobre os cuidados que a escola precisa adotar, recomenda-se utilizar sabão líquido e que tenha próximo algum papel descartável para a secagem das mãos. 
Em geral, as famílias preferem que a tarefa do banho não seja realizada na escola e, em relação à limpeza da criança, é importante que haja um consenso entre as opiniões. Muitos pais reclamam que a criança não volta para casa tão limpa e arrumada quanto gostariam, alguns até criticam a escola se a roupa da criança está muito suja e se os cabelos estão despenteados. Essas situações precisam ser previstas no projeto pedagógico da escola e os pais devem ser ouvidos 
e respeitados em suas opiniões, sem, porém, interferir nas situações consideradas como essenciais para a criança, que eventualmente poderá terminar o dia com a roupa suja e o cabelo despenteado, como resultado das atividades realizadas. 
A tarefa de vestir-se é uma oportunidade de incentivar o desenvolvimento da autonomia da criança. As crianças, em geral, gostam de ajudar e até os bebês têm prazer em fazer isso. Mas como esse tipo de atividade pode ajudar a desenvolver o apego? 
Por ser um momento em que o professor ensina a criança que ela pode realizar algumas coisas sozinha, conforme for se sentindo mais segura, ele poderá deixar que ela realize de maneira independente. Os laços se estreitam, a confiança se estabelece e, com isso, o apego é construído. Quanto mais a criança perceber que pode contar com o professor, caso não consiga realizar uma tarefa, melhor ela se sentirá em tentar desenvolvê-la com autonomia. Vestir-se pode ser um problema que ela precisa resolver e isso se tornará uma oportunidade para permitir que busque formas de solução, sendo uma prática constituinte do planejamento curricular. 
O descanso é uma parte da rotina bastante importante no planejamento curricular. No caso dos bebês, alguns cuidados são muito importantes em função de situações como a Síndrome da Morte Súbita Infantil, que requer conhecimento por parte dos professores. Os padrões de sono da criança devem ser fornecidos pelos pais, pois não há uma orientação única que atenda a todas as crianças. Essas informações ajudarão a oportunizar que a criança descanse de forma que lhe seja mais confortável e familiar. Para conhecer melhor os seus hábitos, é preciso persistência e atenção, sendo recomendável que cada bebê tenha o berço que utilizará todos os dias posicionado no mesmo local. Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 63) indicam algumas orientações para ajudar esse momento: 
1. Ofereça privacidade visual para as crianças que precisam. [...] 
2. Ofereça uma atmosfera pacífica e silenciosa. [...] Comece a reduzir a atividade antes da hora do cochilo. 
3. Certifique-se de que todas as crianças disponham de ar puro e possam fazer exercícios. O cansaço é o maior estímulo para o cochilo. 
4. Não deixe que as crianças fiquem excessivamente cansadas. Algumas crianças têm dificuldades de se acalmar para dormir quando estão exaustas. 
A paciência e a atenção dos professores são fundamentais para determinar a qualidade das interações que são feitas com as crianças e quanto melhor for o proveito dos momentos em que são personalizadas e individualizadas, menos elas precisarão de atenção em outros períodos do dia, uma vez que desenvolverão habilidades de autoajuda. 
A constituição de um planejamento curricular para a Educação Infantil não pode prescindir da brincadeira, uma vez que se constitui num processo psicológico de grande importância, envolvendo articulações muito particulares de relação com o mundo. Conforme Rodrigues (2009, p.19) explica: 
A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil, na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. O brincar não só requer muitas aprendizagens como também constitui um espaço de aprendizagem. 
No que se refere a bebês e crianças pequenas, a brincadeira envolve a movimentação. Assim, se elas não puderem se movimentar com liberdade, não poderão estar completamente envolvidas. Isso se explica por que nessa fase o desenvolvimento físico tem relação com o desenvolvimento cerebral. Disso decorre que quanto mais movimentação e exploração a criança puder realizar, melhor será seu desenvolvimento como totalidade. Nesse sentido, a proposta curricular deve prever as brincadeiras livres e a exploração com a monitoria do adulto, porém, sem seu controle. 
No planejamento curricular, é necessário que as práticas prevejam a liberdade aos bebês e crianças, apoio na consecução dos seus objetivos dentro da brincadeira e disponibilização de recursos para que ela possa brincar de forma autônoma. Isso retira o foco do professor e passa para a criança, que, a rigor, deve ser o sujeito desse processo. Ao fazer isso, o professor não terá mais o comando, mas estará mediando e observando caso haja necessidade da sua intervenção em conformidade com as demandas da criança. Nessa perspectiva de currículo, as situações vivenciadas pela criança serão desafios que ela terá de enfrentar e as situações-problema que encontrarem serão oportunidades de desenvolvimento. 
Contudo, é preciso que o professor desenvolva a habilidade de saber o momento apropriado de fazer as interferências. Em geral, os professores – ou mesmo os pais ou outros cuidadores – pensam que auxiliar é interferir e fazer pela criança, sem dar a ela a oportunidade de testar suas hipóteses ou descobrir sua abordagem própria. Daí a importância de observar de uma forma sensível e perspicaz, identificando os momentos em que a criança demonstre que efetivamente não está mais conseguindo lidar com a situação, para que faça a interferência e de uma forma adequada. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 73) destacam os principais fatores para que os professores possam apoiar positivamente as crianças no seu processo de brincadeiras e exploração: 
1. Participação ativa na rotina das crianças. 
2. Observação sensível e entendimento das necessidades da criança. 
3. Consistência, o que inclui limites claramente definidos. 
4. Confiança básica no bebê como alguém que inicia atividades, explora e aprende por si mesmo. 
5. Ambientes seguros, cognitivamente desafiadores e emocionalmente nutritivos. 
6. Não interromper a brincadeira quando os bebês estão brincando sozinhos. 
7. Liberdade para explorar e interagir com objetos e outros bebês. 
O ambiente para favorecer a brincadeira deve ter como aspecto central a segurança e, também, a previsão de objetos que atendam todas as crianças, inclusive aquelas com alguma necessidade educativa especial. É claro que não basta colocar os pequenos numa sala sem ter organizado o tamanho do local, os objetos que ali estarão dispostos, os materiaise brinquedos, entre outros itens. Muitos programas não permitem que bebês e crianças um pouco maiores brinquem juntos, temendo que os maiores possam machucar os menores. É importante que as crianças de diferentes idades se relacionem; a depender da atividade, será necessário um número maior de adultos mediando, porém, mesclar diversas formas de organização dos grupos são oportunidades para que as crianças possam desenvolver suas potencialidades. O quadro a seguir destaca alguns fatores ambientais que podem influenciar as brincadeiras.
Com relação ao problema da combinação, existe um importante desafio para o professor, no sentido de perceber se a brincadeira está interessante o suficiente para continuar despertando a atenção da criança. Você já deve ter tido a oportunidade de observar crianças brincando e como conseguem modificar o rumo de uma brincadeira caso não estejam mais gostando dela, ou mesmo mudando para outra brincadeira quando começam a se desinteressar por aquela que estão desenvolvendo. É uma combinação de elementos que são novos o suficiente para servir de estímulo, mas que são, também, familiares, para que a criança possa utilizar os recursos mentais já adquiridos. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014, p. 84) explicam que o aprendizado acontece “[...] quando existe uma incongruência ideal entre o que se conhece e o que é novo em determinada situação”. Uma situação extremamente nova provoca o recuo da criança e uma situação muito conhecida causa o desinteresse. Portanto, equilibrar a incongruência é o desafio do professor. A escolha das situações que prevejam uma combinação ideal de incongruência dentro de um ambiente depende de dois fatores. O primeiro se refere ao conhecimento sobre os estágios de desenvolvimento infantil e o segundo se refere aos dados obtidos por meio da observação das crianças. 
É importante ter sempre em mente que não se deve pressionar a criança, mas incentivar para que ela realize o que estiver fazendo com dedicação. A brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil, uma vez que a criança pode transformar o que apreende das situações e produzir novos significados. Além disso, elas podem representar as coisas de maneira diferente do que realmente são, ressignificando o convencionalmente estabelecido. 
Somente por meio da observação é que o professor poderá conhecer melhor as opções da criança, compreender como brinca e seus motivos e, assim, determinar melhores formas de interagir com ela. 
O planejamento curricular acarreta a necessidade de que a instituição de Educação Infantil programe as atividades com vistas à participação de todas as crianças, inclusive aquelas com necessidades educativas especiais. A legislaçao vigente prevê que as crianças com deficiência deverão ser matriculadas em escolas de ensino regular que, por sua vez, deverão organizar as ações a serem desenvolvidas com elas, visando seu desenvolvimento. A cada ano aumenta o número de crianças com algum tipo de deficiência na rede regular de ensino e isso exige uma formação específica para os professores, além de adaptações no currículo. Quando se trata de crianças pequenas a preocupação aumenta, uma vez que há necessidade de adequar os processos de educação e cuidados que precisam considerar as características da necessidade apresentada. 
Com certeza são novos desafios a serem enfrentados pelas instituições, contudo, estudos apontam que a inclusão de crianças com necessidades especiais transforma muitas práticas estabelecidas na escola. O planejamento curricular visando uma educação inclusiva favorece a todas as crianças e não apenas aquelas que possuem alguma deficiência. As práticas flexíeveis e criativas atendem as necessidades individuais e oportunizam diferentes formas de aprendizagem a todos os alunos, levando a um ambiente democrático. 
É preciso adaptar as rotinas às necessidades apresentadas e, ao professor, cabe buscar as melhores formas para criar uma relação de apego com as crianças. O tempo e a disponibilidade são condições para que as interações ocorram, favorecendo construir na criança uma autoimagem positiva. Todas as crianças merecem o respeito e precisam ser aceitas com suas características, cabendo ao adulto criar um ambiente no qual elas possam se sentir segursa, protegidas, e, assim, explorem o mundo a seu redor e se desenvolvam.
Tema 3: Compreendendo as Características da Criança: o Apego, a Percepção e as Habilidades Motoras
A organização do trabalho com bebês e crianças a partir da relação integrada entre educar e cuidar exige que a organização curricular se dê pautada numa filosofia do respeito pela criança, o que requer o conhecimento sobre suas características e sobre o desenvolvimento infantil nos seus diferentes aspectos – cognitivo, físico, psicológico, social. Isso decorre do entendimento de que a criança se desenvolve numa totalidade, na qual os aspectos se relacionam e se influenciam, de forma que as ações propostas e previstas no planejamento das instituições de Educação Infantil não podem ser aleatórias, mas conduzidas pelo entendimento integral da criança. 
Como você viu nas aulas anteriores discutiu-se a importância de um currículo no qual os cuidados são compreendidos como meios excelentes para se proporcionar um processo educativo. Nesse sentido, foram feitas análises das práticas que se constituem em situações corriqueiras no trabalho com as crianças nas quais se deve aliar o educar e cuidar. Você também pôde compreender o papel da brincadeira como processo central no desenvolvimento da criança, constituindo-se em campo fértil para as situações-problema, que por meio da mediação adequada do professor e da constituição de um ambiente propício podem potencializar o desenvolvimento da criança. 
O entendimento sobre as características da criança são fatores essenciais para uma melhor coordenação das ações que serão desenvolvidas com elas e a propositura de um currículo mais adequado em conformidade com os pressupostos e a filosofia aqui presentes. Nesse sentido alguns elementos são centrais e trataremos deles nesta aula: o apego, a percepção e as habilidades motoras. 
As situações de cuidados vivenciadas pelo indivíduo na infância estimulam de forma profunda o cérebro. Estudos demonstram que experiências positivamente reativas atuam sobre o seu funcionamento sendo extremamente importantes para o desenvolvimento das crianças. Nos primeiros anos de vida, o cérebro humano produz o dobro de sinapses necessárias e, ao chegar à adolescência, o cérebro passa a eliminar aquelas consideradas desnecessárias de tal forma que os estudos apontam que em torno da metade delas são descartadas. No que se refere ao desenvolvimento neural do cérebro humano, uma de suas características é a de manter aquelas conexões decorrentes de experiências realizadas repetidas vezes. Assim, as experiências repetidas formam padrões neurais estáveis e esse conhecimento é de extrema importância para o professor e todos aqueles que lidam com as crianças, pois quanto melhor for a qualidade das experiências iniciais, melhores as condições de o cérebro manter as conexões delas originárias. A perda das sinapses decorre de um processo por meio do qual somente se mantêm aquelas que são estimuladas. 
O cérebro – estudos da neurociência já o demonstram – é altamente plástico e sua modificação é profundamente influenciada pelo ambiente. Por plasticidade neural se compreende: “[...] a capacidade do organismo em adaptar-se às mudanças ambientais externas e internas, mediadas pela ação sinérgica de diferentes órgãos, coordenados pelo SNC”. (DUARTE; BARBOSA, 2010, p. 49) 
Assim um ambiente rico, que oferece condições para o pleno desenvolvimento do indivíduo e oportunidades de convívio social, é capaz de modificar a progressão do desenvolvimento neurológico. Com isso você observa o valor das experiências vivenciadas nos primeiros anos de vida da criança, o que reforça o papel das instituições de educação infantil. As experiências dos primeiros anos de vida têm efeito organizador, pois nessafase o sistema nervoso está mais receptivo aos processos de aprendizagem que irão produzir transformações em algumas estruturas neurais. Gonzales- Mena e Eyer (2014, p. 95) explicam que: “Se os padrões neurais forem sólidos, os sinais viajarão rápido e a criança conseguirá resolver os problemas com facilidade”. 
Disso decorre que o apego se constitui numa experiência que favorece a formação cerebral saudável, principalmente por se constituir em meios para reações positivamente reativas. Estudiosos da Teoria do Apego afirmam que o apego começa a adquirir força com os meses após o nascimento da criança, o que leva a concluir que o apego está ausente no nascimento. “O comportamento de apego manifesta-se pelos três meses, tornando-se nitidamente presente por volta dos seis meses de idade da criança e, em regra, prossegue até a puberdade” (BRUM; SCHERMANN, 2004, p. 459). 
A construção da confiança é um aspecto essencial nas relações de apego. A partir dos cuidados que são dispensados à criança, vão se formando padrões cerebrais que reforçam a confiança, uma vez que a criança, sendo extremamente dependente do retorno do adulto, precisa construir a certeza de que terá suas necessidades satisfeitas. Quando o bebê chora por se separar da mãe, tem uma reação de medo de perdê-la, pois não consegue compreender que é uma separação temporária. Com o tempo, com o desenvolvimento de suas capacidades mentais e as vivências experimentadas, ele passa a confiar que a mãe retornará, sendo essa uma experiência que caracteriza o desenvolvimento da confiança a partir do apego. A ansiedade da separação atinge seu pico ao final do primeiro ano de vida, sendo recomendável que a criança seja matriculada na creche antes desse período. Mesmo que a criança esteja vivendo a ansiedade da separação, é importante que os pais se despeçam ao deixá-la na escola; o professor, por sua vez, deverá ajudar a criança a expressar seus sentimentos, aceitando-os e não fugindo ou distraindo a criança. 
Você já deve ter vivenciado situações nas quais as crianças são separadas temporariamente de seus pais e nem sempre o adulto tem uma resposta adequada para a situação. Com as atitudes certas, pode-se desenvolver uma base segura do ponto de vista emocional. Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que os pais precisam assumir atitudes mais assertivas nesse momento como, por exemplo, partir tão logo se despeçam da criança, pois é muito comum observar os pais mais inseguros com a separação do que a criança. Nessas situações cabe à escola criar ambientes estimulantes visando demonstrar à criança que ela pode se envolver em algumas atividades, caso esteja pronta. 
No que se refere ao desenvolvimento do cérebro, estudos demonstram que nas crianças que têm a oportunidade de experimentar o apego e situações de conforto e segurança, são produzidos neurotransmissores que levam a sensações de bem-estar. Entretanto essas interações precisam ter continuidade e consistência uma vez que a criança precisa confiar na relação, que depende principalmente da condução do adulto. 
O desenvolvimento da criança também está muito relacionado com a integração sensorial, que pode ser compreendida como um processo neurológico que objetiva interpretar e organizar as informações obtidas por meio dos sentidos. Na medida em que os bebês e crianças vivenciam experiências reiteradas vezes, passam a estabelecer relações significativas diferenciando as pessoas ao seu redor e assim estabelecendo o apego. As informações obtidas por meio dos sentidos 
fazem uma ligação importante com outras áreas do desenvolvimento. A experiência sensorial tem profunda relação com a experiência motora e, por sua vez, propicia o desenvolvimento cognitivo. As crianças pequenas precisam vivenciar repetidas vezes experiências sensoriais para criar redes de aprendizagem no cérebro conforme exposto anteriormente. Elas não nascem com conhecimentos prontos para perceberem os estímulos do ambiente, assim a percepção depende do aprendizado uma vez que possuir os sentidos não significa que a criança compreenda os estímulos deles decorrentes, somente com o tempo e as vivências é que os bebês aprendem a conferir significado às sensações obtidas. 
Existem diferentes tipos de modalidades sensoriais, que se referem aos sentidos os quais operam por meio dos órgãos que captam os estímulos sensoriais externos e os transmitem ao cérebro para que sejam processados e organizados. O quadro a seguir apresenta um resumo das modalidades sensoriais. 
	MODALIDADE SENSORIAL 
	ESTÍMULO (ENERGIA DO AMBIENTE) 
	SUBMODALIDADE SENSORIAL 
	VISÃO 
	Luz (espectro visível) 
	Visão de cores, percepção de formas, percepção de movimentos etc. 
	AUDIÇÃO 
	Som (espectro audível) 
	Tons, timbres, localização espacial dos sons etc. 
	GUSTAÇÃO 
	Químicos 
	Doce, amargo, salgado, azedo, "umami" (glutamato) 
	OLFAÇÃO 
	Químicos 
	Não há submodalidades básicas, podemos perceber milhares de cheiros diferentes 
	SOMESTESIA 
	Mecânicos, térmicos, químicos 
	Tato, sensação térmica, dor, propriocepção (orientação espacial) 
Vejamos mais especificamente cada uma das modalidades. A audição permite reconhecer os sons do ambiente sendo este um aspecto importante, porém ela também é fundamental para o processo de comunicação entre as pessoas, de tal forma que a perda auditiva interfere profundamente no aprendizado da língua falada. Caso a criança não tenha problemas auditivos, ao nascer já consegue identificar o local de onde o som vem, reconhece a voz da mãe com um pouco mais de tempo, já reconhece a diferença entre o som de alguém cantando e alguém falando, e até o que distingue uma língua da outra. As crianças pequenas possuem capacidade para tolerar o barulho, porém cabe observar o comportamento delas uma vez que o excesso de som pode tirar o seu foco. 
Quanto ao olfato e o paladar estão presentes desde o nascimento; estudos demonstram que os bebês conseguem distinguir o cheiro de sua mãe dentre o de outras pessoas. 
O olfato e o paladar são sentidos químicos. Os sistemas neurais que intermedeiam estas sensações, os sistemas gustatório e olfatório, estão entre aqueles filogeneticamente mais antigos do encéfalo e ao perceberem substâncias químicas na cavidade oral e nasal trabalham conjuntamente. (PALHETA NETO et al., 2009, p. 351). 
Ao se trabalhar com bebês e crianças, é importante que atividades que envolvam o cheiro sejam introduzidas sistematicamente, como o uso de itens que tenham cheiro e que as crianças possam experienciar. Por exemplo, se na instituição existe uma horta de temperos, as crianças podem sentir o cheiro e o gosto de alguns deles. Deve ser evitado, principalmente com os menores, o uso de massinhas com cheiro, pois a criança pode querer comer. Mesmo em se tratando de comidas, é necessário ter o cuidado com aquelas que podem levar ao engasgamento. 
A percepção tátil está profundamente relacionada às habilidades motoras, uma vez que com o aumento da capacidade de movimento e de exploração, as crianças vão obtendo maiores informações sobre o que está ao seu redor. Por isso os ambientes destinados a elas devem possibilitar que possam tocar, colocar na boca, mexer de forma a identificarem diferenças e similaridades. O ideal é proporcionar experiências nas quais a criança possa perceber os toques com o corpo todo. Por exemplo, tecidos com diferentes texturas, sedosos, peludos, ásperos; experiências com areia, com bolas de plástico, com água – morna, fria – com objetos mais duros ou moles. Existem atividades que envolvem predominantemente as mãos, como utilizar o sabão, tintas para desenhar, massinhas de modelar, o preparo de comidas. Vale destacar que a realização das atividades não é fazer algo para mostrar aos pais, mas para que a criança possa experimentar e vivenciar com liberdade, tendo o professor como mediador, cuidando para que ela não se machuque, mas favorecendo que possa explorar as possibilidades dos objetos e do ambiente. Você pode pensar em outras atividades que serão muito prazerosaspara as crianças. 
A visão é um dos sentidos mais importantes, porém enxergar não é uma habilidade inata de forma que os bebês a aprendem. Desde que a criança não tenha alguma deficiência visual, ao nascer consegue distinguir o claro do escuro e com o tempo passa a distinguir mais coisas e com mais clareza de forma, até que, aos quatro meses, já possui a habilidade da visão bastante diferenciada. Quando se trabalha com bebês, é interessante dosar a quantidade de estímulos visuais, pois algo que lhes interessa ao olhar é também algo para ser alcançado, o que em geral leva o bebê a buscar esse objeto. 
Gonzales-Mena e Eyer (2014) afirmam que quando o bebê é colocado dentro de um ambiente com excesso de estímulos – com TV ligada, muito barulho no ambiente, movimento de pessoas, profusão de brinquedos – tende a observar e pouco participar. Você com certeza já viu algum brinquedo que torna a criança um mero expectador, pois além de ser multicolorido, tem sons variados, luzes que se agitam de tal forma que parece ter vida própria. Assim é que as crianças se tornam observadoras e, ao manter esse comportamento, tendem a necessitar de mais estímulos, pois tornam-se dependentes de um fluxo constante e contínuo de novas estimulações visuais. As autoras acrescentam que: “Esse hábito de observar e não se envolver é fatal para o desenvolvimento de um grande número de habilidades” (GONZALES-MENA; EYER, 2014, p. 121). 
As próprias crianças podem oferecer indicadores sobre a quantidade e os estímulos mais apropriados. O choro é um dado importante, uma vez que quando a criança se sente incomodada geralmente utiliza esse recurso. O bom senso do professor também precisa ser considerado, visto que os ambientes carregados de informação acarretam desconforto inclusive nos adultos. Recomenda-se a utilização de barreiras para bloquear áreas do ambiente para evitar que a criança seja submetida a estímulos desnecessários, utilizar de figuras que serão modificadas periodicamente e optar também por ambientes externos, que sejam oportunidades de vivências aprazíveis. 
Com relação aos ambientes externos, vale tecer algumas considerações. Cada vez mais as crianças têm menos oportunidades de viver em espaços ao ar livre, fora do ambiente de sala de aula. As experiências ao ar livre em ambientes externos podem potencializar as experiências vivenciadas em ambientes fechados. O ideal é que a criança possa crescer em ambientes arejados, iluminados, confortáveis, mas que também tenham contato com outros tipos de situação, tais como o encantamento com um dia bonito, brincar na chuva, o sabor da fruta recém-colhida, observar o movimento das nuvens no céu, o vento quando movimenta as folhas, as cores diferentes que as plantas possuem, dentre outras coisas. Isso também é aprendizado e também envolve os sentidos e o desenvolvimento da percepção. 
Todos os aspectos relacionados ao desenvolvimento do afeto e da percepção estão relacionados ao movimento e à capacidade motora das crianças. Dentro de um processo considerado normal do desenvolvimento motor, também 9 
acompanham a maturação e a aquisição da competência e reorganização psicológica. É importante destacar que o desenvolvimento motor é um processo que ocorre durante toda a vida do indivíduo, sendo resultado de um conjunto de fatores que se inter-relacionam – cultura, ambiente, aspectos biológicos e psicológicos. 
Num ambiente adequado e com os cuidados necessários, um bebê crescerá de maneira saudável e em geral existem parâmetros mais ou menos comuns ao crescimento conforme idade e sexo. No que se refere ao desenvolvimento motor, dois são os princípios reguladores: o céfalo-caudal e o próximo-distal. Isso quer dizer que o crescimento irá seguir um padrão que tem início na cabeça e segue para o restante do corpo e também que o desenvolvimento ocorrerá do centro do corpo para a periferia. Com o desenvolvimento de suas capacidades motoras, é que a criança começa a ter condições de compreender e deixar clara suas necessidades. 
A atividade motora do recém-nascido é bem ativa, mas desordenada e sem finalidade objetiva, movimentando de modo assimétrico tanto os membros superiores como os inferiores (pedalagem). Alguns reflexos são próprios desta idade e ocorrem em praticamente todos os bebês, sendo inibidos nos meses subsequentes devido principalmente ao amadurecimento do cerebelo e do córtex frontal, iniciando-se assim o surgimento de movimentos voluntários e melhor organizados (RÉ, 2010, p. 56). 
O desenvolvimento das habilidades motoras ocorre de forma diferenciada entre as crianças e estas são decorrentes da maturação neurológica, do ambiente e dos estímulos que a criança recebe. 
Os primeiros movimentos que a criança realiza são os reflexos e se manifestam desde o nascimento, sendo que alguns desaparecem enquanto outros novos aparecem. Comumente os reflexos são organizados em reflexos primitivos, reflexos posturais e os reflexos locomotores. Os reflexos primitivos são involuntários, os reflexos posturais são considerados como os precursores dos movimentos voluntários e estão ligados à postura ereta e os reflexos locomotores estão ligados aos movimentos de locomoção, seja o rastejar ou a marcha. 
O movimento é um aspecto fundamental para a aquisição de estruturas cognitivas, uma vez que é em função disso que a criança desenvolve a consciência de si própria, do mundo que a cerca. Os movimentos envolvem um elemento de estabilidade, pois o desenvolvimento de padrões locomotores é essencial para que a criança possa explorar os espaços com liberdade. Com o passar do tempo os músculos dos bebês tornam-se mais fortes e equilibrados e com o amadurecimento do cérebro são dadas as condições para o movimento equilibrado. 
É importante compreender que a cada habilidade construída, os bebês reorganizam as existentes em novas e cada vez mais complexas. Uma orientação presente em alguns livros é a de que o bebê seja colocado na posição de barriga para baixo quando estiver acordada para fortalecer os músculos do pescoço e do peito, contudo outros estudos demonstram 10 
que aqueles que mostram esta musculatura muito fraca em geral passaram horas apertados em cadeirinhas ou carrinhos. Por tudo isso é preciso discernimento e atenção no cuidado com os bebes, além de um atendimento individualizado. 
O desenvolvimento das habilidades motoras finas é um processo altamente complexo e, principalmente quando se refere à manipulação, as crianças seguem um padrão de desenvolvimento que passa por diversos estágios até que elas consigam adquirir o movimento de rabiscar. 
Para melhor auxiliar a criança a desenvolver suas habilidades motoras, o professor precisa ter um olhar atento para identificar o processo de cada criança que esteja sob seus cuidados. O ideal é que faça os registros constantemente para ter condições de delinear um perfil de cada criança. Isso favorece também identificar alguma situação de anormalidade que porventura aconteça, possibilitando aos pais ações imediatas. Orienta-se, em se tratando das crianças menores, que sejam deixadas mais livres quando estiverem acordadas, pois os estudos demonstram que elas mudam de posição de forma constante e ao estarem presas em cadeirinhas ou congêneres, terão sua movimentação limitada. 
Aquilo que o professor observa já ser de domínio da criança deve ser estimulado, porém não adiante tentar ensinar a criança a andar se ela ainda não estiver pronta. Quando o bebê busca posicionar-se para fazer alguma coisa, deve ser incentivado, uma vez que o processo é mais importante que o resultado. 
As crianças precisam de liberdade para experimentar as habilidades que já possuem. Assim o professor deve procurar organizar o ambiente com travesseiros, colchões, almofadas, espumas para que a criança possa cair, rolar, pular subir, descer, deslizar, dançar, sem se machucar. Podem ser utilizados objetos que favoreçam a criança a entrar e sair, dar a volta, carregar, empurrar tanto em ambientes fechados quanto em ambientes externos. Nesse caso vale programaratividades ao ar livre que podem ser na escola, em um parque ou outro local com árvores, troncos, grama, areia. 
Uma questão que merece atenção é em relação às crianças com necessidades especiais, uma vez que a instituição deve ter uma concepção expressa no seu Projeto Político Pedagógico em relação à inclusão e que preveja as ações a serem desenvolvidas com o objetivo de efetivar essas práticas no contexto da sala de aula. Evidentemente que a organização da proposta de trabalho estará adequada ao tipo de necessidade que a criança apresente; contudo, mais do que o planejamento do trabalho em si, importa a clareza em relação ao que se compreende como inclusão e como isso será expresso nas atitudes assumidas por todos os que estão atuando com a criança e isso não se limita ao professor. 
A organização dos espaços e dos ambientes, como recursos apropriados para que a criança possa agir da maneira mais autônoma possível, é um indicador que revela a preocupação da instituição em efetivar práticas inclusivas. O trabalho geralmente é articulado com outros especialistas tais como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, 
psicólogos que, de maneira articulada, estarão prevendo as melhores formas de favorecer o desenvolvimento da criança. O intercâmbio de informações e a comunicação constante com os pais potencializam as condições de avanços por parte da criança em face da intervenção precoce. 
Para o professor é importante conhecer como o desenvolvimento motor se processa em crianças sem deficiências a fim de que possa, com maior propriedade, estabelecer parâmetros em relação ao que observa sobre o desenvolvimento da criança com deficiência. Como já explicado, a habilidade motora está relacionada a movimento e postura que estão profundamente relacionados. Piaget explica isso em termos de desenvolvimento sensório-motor, pois compreende que o aprendizado ocorre pela sequência de variadas posturas e movimentos, que são um processo contínuo de aperfeiçoamento do que foi adquirido. Quando o desenvolvimento psicomotor é prejudicado por algum motivo, atividades de movimentação corporal espontânea como alimentação, sono, marcha e também as intencionais, que se referem às atividades físicas levadas a efeito pela criança conforme seu desejo, são comprometidas. 
Piaget (apud CAVICCHIA, 2000) explica que é por meio da ação do indivíduo sobre os objetos que se originam as estruturas mentais e a construção de novas estruturas leva à construção de esquemas. Essas estruturas são condições para que o pensamento chegue ao nível das operações formais. Por isso é fundamental oferecer à criança um ambiente rico em desafios, o qual elas possam explorar livremente com vistas a aplicar seus esquemas, criando estruturas que levem a um conhecimento cada vez maior. 
Outro aspecto que você deve considerar é que as crianças com necessidades educativas especiais podem ter o benefício das atividades lúdicas para desenvolverem suas habilidades. O fato de apresentarem algum tipo de necessidade não significa que devam ser subtraídas do seu direito de brincar e de se beneficiar desses tipos de atividades. As brincadeiras se constituem em atividades que produzem grandes benefícios do ponto de vista físico, intelectual e social, além de propiciar aprendizagens específicas. Todas essas considerações reforçam a importância das atividades e experiências para o desenvolvimento motor e sua relação com a evolução dos indivíduos de uma maneira global, reforçando a relação entre os aspectos biopsicossociais.
Tema 4: Compreendendo as Características da Criança: Cognição e Linguagem
O período da infância, como se viu nas aulas anteriores, constitui-se num período muito distinto, com um significado especial para o estabelecimento das bases da idade adulta. Com relação ao desenvolvimento das crianças, é importante compreender que isso ocorre de diferentes maneiras, uma vez que existem aspectos que são comuns a todas as crianças e aspectos que são muito específicos de cada uma. Isso você pode constatar mesmo em se tratando de irmãos gêmeos. 
Esse é um processo altamente complexo, uma vez que envolve muitos fatores: biológico, cognitivo e socioemocional. 
O desenvolvimento pode ser definido como “[...] o padrão de mudanças socioemocionais, cognitivas e biológicas que começam na concepção e continuam durante toda a vida de uma pessoa. A maior parte do desenvolvimento envolve o crescimento, embora também envolva a decadência (morte)” (SANTROCK, 2010, p. 67). 
Os aspectos que envolvem o desenvolvimento, embora possam ser compreendidos individualmente, ocorrem de maneira integrada e relacionada, sendo possível afirmar, com base nos estudos desenvolvidos no âmbito da neurociência, que é a partir das ações e dos processos de exploração do mundo que o desenvolvimento acontece. Os aspectos biológicos têm relação com as mudanças físicas da criança, que influenciam na altura, peso, tamanho do cérebro e habilidades motoras. Os aspectos cognitivos dizem respeito às mudanças que ocorrem no pensamento, inteligência e linguagem. Os aspectos socioemocionais envolvem as relações, emoções e personalidade. 
Uma discussão presente entre os teóricos sobre o desenvolvimento é em relação às experiências iniciais e posteriores. Você acredita que as experiências negativas no início da vida do indivíduo podem ser superadas? Não há um consenso entre os estudiosos sobre isso; alguns afirmam que a criança dificilmente terá um bom desenvolvimento se suas primeiras experiências forem num ambiente hostil e sem proteção. Por outro lado, existem teóricos que afirmam que a qualidade das experiências posteriores ao período inicial de vida é tão importante quanto. Isso é relevante no sentido de romper com visões preconcebidas de que as crianças maltratadas no início da vida estão destinadas a um desenvolvimento comprometido, principalmente o cognitivo, mesmo que sua condição de vida se modifique, além disso a qualidade do aprendizado também tem relação com as expectativas do adulto sobre a criança. Em que pesem essas considerações, efetivamente todos os envolvidos nos cuidados com a criança devem buscar as melhores condições para que elas possam desenvolver-se plenamente, e existem estudos que demonstram que crianças submetidas a situações de risco tais como fome e desnutrição têm seu desenvolvimento cerebral comprometido. 
Entender como o desenvolvimento cognitivo ocorre é condição necessária para organizar o currículo da educação infantil. Para isso é necessário buscar as teorias que expliquem como esses processos ocorrem. Há diferentes maneiras de se agrupar as teorias. Alguns estudiosos as agrupam em: teorias behavioristas, teorias de transição entre o behaviorismo clássico e o cognitivismo, teorias cognitivas, teorias humanistas e teorias socioculturais (OSTERMANN; CAVALCANTI, 2010). Outros teóricos adotam uma divisão mais simplificada: comportamentalista, cognitivista e humanista. Independentemente da forma como as teorias estão organizadas, é importante destacar que elas representam maneiras de compreender o modo como a criança se desenvolve e respondem às condições objetivas existentes nos momentos históricos em que foram construídas. 
Dois teóricos bastante conhecidos e citados nas referências sobre o desenvolvimento cognitivo e da linguagem são Piaget e Vygotsky. Ambos enfatizam uma visão de desenvolvimento no qual a ação do sujeito sobre o objeto é determinante para a construção do conhecimento. Embora existam aspectos bem diferentes entre as teorias, o fato é que representam formas inovadoras de compreender o desenvolvimento cujos resultados foram impactantes nas propostas educacionais. Vejamos cada uma das abordagens de maneira mais detalhada. 
Piaget foi um teórico que tinha como preocupação central estudar como o indivíduo aprende. Na sua teoria os processos cognitivos são necessários para compreender como a criança se desenvolve e destaca os seguintes como fundamentais: esquemas, assimilação, acomodação, organização e equilibração.Os esquemas são interpretados como a forma pela qual o indivíduo organiza o conhecimento do mundo. Matos (2008, p. 11) define como “uma estrutura cognitiva, com padrões organizados de comportamento”. Na teoria de Piaget, o esquema se faz presente em todas as fases do desenvolvimento da criança e uma forma de compreender como funcionam é a partir do comportamento. A sequência de comportamentos faz parte de uma totalidade organizada porém, é modificada pelo funcionamento intelectual. 
Um exemplo de como os esquemas são construídos você pode observar quando uma criança começa a pegar os objetos que estão ao seu alcance. A criança já nasce com o reflexo de preensão de maneira que qualquer objeto colocado na palma de sua mão é agarrado. Com a maturação biológica e os estímulos oferecidos pelo ambiente, a criança terá uma infinidade de objetos que poderão ser pegos e assim ela desenvolve o esquema de preensão. Observe que o esquema não é apenas um ato reflexo, uma vez que exige a vontade da criança e sua movimentação para alcançar seu objetivo. Aqui você verifica o esquema constituído, de forma que ele será utilizado sempre que ela desejar pegar um objeto. Porém os objetos ao redor da criança são diferentes, requerendo a modificação do esquema em função das particularidades do objeto. 
Um aspecto importante e que você já deve ter compreendido em relação aos esquemas é que são muito maleáveis e estão em contínuo desenvolvimento para que o indivíduo possa melhor se adaptar à realidade. Essa adaptação decorre de dois processos complementares: a assimilação e a acomodação. 
Piaget (1975 apud FERREIRA; LAUTERT, 2003, p. 548) explica que: 
A assimilação [...] diz respeito à integração de novos elementos à estrutura já existente ou construída, seja ela inata, como no caso dos reflexos no recém-nascido, ou adquirida a partir das modificações do conteúdo da estrutura inata inicial. No entanto, a assimilação não é um mecanismo suficiente para garantir o desenvolvimento de novas estruturas, já que não lida com a assimilação de conteúdos completamente novos ou não reconhecidos pelas estruturas existentes. Para possibilitar a integração de novos conteúdos, existe o processo complementar da assimilação: a acomodação, que se caracteriza pela modificação de um esquema ou estrutura de assimilação pelos elementos assimilados[...]. Ou seja, quando os elementos não se integram às estruturas existentes, as mesmas são modificadas para acomodá-las. 6 
Você pode verificar como isso acontece quando, por exemplo, observa uma criança brincando com uma bola e que, portanto, ela já possui o esquema de manusear a bola. Quando recebe a bola mesmo que tenha diferenças daquelas já conhecidas, irá manuseá-la da mesma maneira, aqui verifica-se a assimilação. Porém se a bola tem características diferentes – o tamanho, por exemplo –, irá modificar sua maneira de apreendê-la, verificando-se aqui a acomodação. 
A organização corresponde ao processo de regulação das informações por meio da constituição dos esquemas. Santrock (2010, p. 77) explica que “[...] é o agrupamento de comportamentos e pensamentos isolados dentro de um sistema de ordem superior. O refinamento contínuo dessa organização é parte inerente do desenvolvimento”. 
A equilibração pode ser considerada como um mecanismo autorregulador para que o indivíduo tenha uma interação eficiente com o meio. Piaget explica que o processo de equilibração ocorre por meio da passagem de um estado de menor equilíbrio para outro superior, transitando por múltiplos desequilíbrios e reequilíbrios. Pádua (2009, p. 26) explica que: 
É um processo dialético que envolve equilíbrio – desequilíbrio – reequilíbrio, e é por esse motivo que ele preferiu o termo equilibração, e não equilíbrio, que daria a impressão de algo estável, justamente para sugerir a ideia de algo móvel e dinâmico. 
Uma preocupação de Piaget foi explicar de que forma e em que ordem as capacidades cognitivas são construídas e nesse sentido identifica que a formação das estruturas não acontece de maneira linear estabelecendo os estágios de desenvolvimento. Nesses estágios a inteligência muda de qualidade, e o desenvolvimento da inteligência passa necessariamente por esses estágios, os quais subdividem-se em quatro: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. 
O primeiro estágio – sensório-motor – dura do nascimento até aproximadamente 2 anos de idade. Nessa fase o bebê constrói uma compreensão do mundo a partir da coordenação entre as experiências sensoriais e motoras. Isso fica evidenciado quando se observa um bebê bem pequeno e a maneira como se utiliza de padrões reflexos para adaptar-se ao mundo, porém aos 2 anos aproximadamente já se utiliza de outros padrões bem mais complexos e elaborados. Ao nascer as crianças são dotadas de alguns reflexos tais como chupar, agarrar e com isso vão estabelecendo relações com a realidade externa. Nessa fase, por exemplo, a criança chora por ter fome e com isso atrai a atenção da mãe, mas não tem condições de identificar que seu incômodo é devido à falta de alimentação. Aos 2 anos, já dispondo de recursos cognitivos mais elaborados não só irá pedir para comer quando sentir fome, como irá escolher o que mais a agrada. 7 
O estágio seguinte, pré-operacional, dura dos 2 anos até os 7 e corresponde à fase na qual a criança utiliza muito de representação simbólica e isso significa um grande desenvolvimento das estruturas mentais. Essa fase é razoavelmente extensa e nela a criança passa por duas etapas, uma que corresponde à função simbólica e outra que corresponde ao pensamento intuitivo. A função simbólica é a etapa, dentro do estágio pré-operacional, na qual a criança passa a representar mentalmente um objeto que não está presente. Um exemplo disso é observado nas brincadeiras de faz de conta e nos desenhos que tentam representar objetos e pessoas. Nessa etapa o pensamento da criança apresenta duas limitações: o egocentrismo e o animismo. 
Na fase que corresponde ao pensamento intuitivo a criança começa a utilizar raciocínios primitivos e a buscar as respostas para as coisas, é a etapa dos “porquês”. Nessa fase também, a criança começa a vivenciar as regras, valores, noção de certo e de errado, embora ainda não compreenda o sentido dessas regras. 
No estágio operatório-concreto que vai dos 7 até os 11 anos aproximadamente, o raciocínio lógico substitui o pensamento intuitivo, porém os problemas abstratos ainda não são resolvidos pela criança. Nessa etapa se efetiva a reversibilidade, que significa a capacidade de a criança poder antecipar ações e projetá-las, distinguindo nesse processo o que pode ser modificado. Um exemplo clássico desse processo é a massa de modelar que, inicialmente em forma de bola, é transformada pela criança em forma de salsicha. A criança nessa fase já compreende que a quantidade de massa se mantém mesmo com a modificação do formato, o que não acontece quando está no pré-operatório. Outro exemplo é quando a criança coloca água em um copo que possui um determinado formato, ao transferi-la para outro copo com formato diferente terá a compreensão de que se trata da mesma quantidade de líquido, ainda que em vasilha diferente. 
O estágio operatório-formal corresponde à etapa posterior aos 11 anos, podendo ter início um pouco mais tarde até os 15 anos em conformidade com as características individuais e experiências vivenciadas pelo adolescente. Nessa fase o indivíduo passa a poder realizar as operações a partir de hipóteses e não somente a partir dos objetos concretos. É, portanto, a partir dessa fase que os indivíduos começam a pensar de forma mais abstrata. 
No que tange a abstrações, Piaget dividiu-as em dois tipos: Abstração Empírica e Abstração Reflexiva. As informações retiradas do objeto de conhecimento pelo sujeito são abstrações empíricas; ao passo que, as informações retiradas das ações do sujeito sobre o objeto são abstrações reflexivas (PÁDUA, 2009, p. 33). 
Uma observação interessante feita por Piaget é a de que, ao final

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