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2 Praticar e arrebentar... Prezado leitor, a prova de redação do Enem é um dos maiores desafios que você enfrentará no exame. Para alcançar a nota 1.000, o candidato precisa dar conta de cinco competências, subdivididas por graus de desempenho. Não é fácil! Na medida em que o exame cresce, a avaliação da prova de redação parece estar se tornando mais rigorosa e os temas mais complexos. Exemplo disso é que o número de candidatos que alcança a nota 1.000 despencou nas últimas provas: 250 em 2014. 104 em 2015. 77 em 2016, e apenas 53 em 2017. Portanto, é melhor se preparar bem. Milhões de estudantes estão nessa mesma situação, e, caso o curso seja muito concorrido no ensino público de nível superior, e seja caríssimo no ensino privado, o recomendável é estudar e praticar redação mais ainda. Pensando nisso, abordarei nesse e-book os pontos ideais e indispensáveis para atingir uma ótima nota na redação do exame. Considero, aqui, todos os critérios de avaliação utilizados, elementos de qualidade do texto, tópicos gramaticais importantíssimos, melhores dicas, e tudo o que o corretor esperará de você. Bons estudos, Equipe Português. 3 Dissertativa-argumentativa? A prova do ENEM pede um texto dissertativo-argumentativo como redação. Portanto, é preciso conhecer bem essa estrutura. Ele possui natureza opinativa, ou seja, você deve defender uma opinião sobre o tema proposto. Confira abaixo as características principais dessa tipologia textual: É temático: ao contrário do texto narrativo e do descritivo, que tratam de assuntos concretos, o texto dissertativo-argumentativo defende um ponto de vista a partir de um assunto determinado, isto é, o tema. É lógico: o texto dissertativo-argumentativo é organizado a partir de relações lógicas. Sua ordenação e desenvolvimento ocorrem por meio de uma sequência em que as ideias são expostas de forma encadeada É atemporal: o texto dissertativo-argumentativo é atemporal. Ou seja, é escrito no presente e não necessita de marcação temporal. É abstrato: o texto dissertativo-argumentativo pode recorrer a termos abstratos para designar a realidade, usando conceitos e definições, citações, ideias externas. É impessoal: a redação deve ser impessoal, uma vez que o emissor da mensagem precisa se posicionar diante da problemática apresentada com o objetivo de convencer o leitor de sua opinião. Para tanto, recomenda-se a utilização da terceira pessoa. Usar o termo "sabe-se" para afirmar um argumento, por exemplo, evita frases como "eu penso que", "na minha opinião", que não devem fazer parte da redação. Em vez destes, o participante pode usar "É imprescindível que " ou "Faz-se necessária a criação de políticas públicas" para apresentar uma proposta de intervenção frente ao problema descrito no tema. Portanto, jamais usar "EU" na redação. 4 Como é feita a avaliação? Devido à possibilidade de conseguir a pontuação de 1000 pontos, a redação do ENEM é, sem dúvidas, uma das partes mais discutidas e relevantes da prova. Segundo o INEP, o texto produzido por você será avaliado por, pelo menos, dois professores, de forma independente, sem que um conheça a nota atribuída pelo outro. Os dois professores avaliarão seu desempenho de acordo com cada critério. Cada corretor deverá analisar a redação seguindo 5 competências, atribuindo uma pontuação de 0 - 200 em cada e verificando se: ◦ Se o candidato demonstra domínio da norma-padrão da língua escrita. ◦ Se compreende a proposta de redação e aplica conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. ◦ Se consegue selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. ◦ Se demonstra conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para construir a argumentação. ◦ Se consegue elaborar proposta de intervenção para o problema social abordado, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. Analisaremos cada competência por vez! 5 Competência 1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa Na primeira competência que o candidato deve possuir, será avaliado o conhecimento das convenções da escrita, ou seja: as regras de ortografa e de acentuação gráfica. Por isso, é indispensável conhecer as principais normas. Mas é bom lembrar que não errar na ortografia e acentuação não garantirá a pontuação total nesse critério. Isso porque também será observado a adequação do seu texto à fluidez da leitura, que pode ser prejudicada ou beneficiada dependendo da escolha de palavras e a ordem das orações. Portanto, você deve escolher bem as palavras e estruturar as orações e os períodos de seu texto sempre buscando garantir que eles estejam completos e contribuam para a fluidez da leitura. Para gabaritar essa competência, estude: • Convenções da escrita: acentuação, ortografa, separação silábica, uso do hífen e uso de letras maiúsculas e minúsculas. • Gramaticais: concordância verbal e nominal, flexão de nomes e verbos, pontuação, regência verbal e nominal, colocação pronominal. • Escolha de registro: A escolha de registro analisa se o aluno adequou se texto à modalidade escrita formal, isto é, ausência de uso de registro informal e/ou de marcas de oralidade. Por isso, para pontuar nesse quesito, expressões como "é nois na fita", "mano" e "demorou" devem ser evitadas. • Escolha vocabular: Nessa parte, será observado o emprego de vocabulário preciso, o que significa que as palavras selecionadas devem ser usadas em seu sentido correto e ser apropriadas para o texto. 6 uuyyuuu p Perceba que, apesar de estar gramaticalmente correta, a escolha de vocabulário empobrece a dissertação, prejudicando o critério de adequação ao registro formal. Portanto, recomenda-se escolher bem as palavras, optando por uma linguagem formalizada, característica de uma dissertação-argumentativa. Atenção: Deve-se evitar expressões “difíceis” que você não conheça tão bem para impressionar os corretores (elas podem não indicar o que você pensa). Na segunda parte da apostila, há uma lista de termos formais para adequar seu texto ao formato requisitado. Lembre-se que a boa utilização de sentenças pontuará, também, em outras competências. Fica esperto. Dicas para atender plenamente às expectativas em relação à Competência 1: Alguns pontos indispensáveis que devem ser vistos com cuidado, uma vez que em muitas redações são encontrados esses desvios. Paralelismo: É o fenômeno de "organização" do texto. Ocorre quando há uma coordenação de termos com valores sintáticos idênticos. Ou seja, tudo deve estar bem relacionado, em paralelo. Texto inadequado: Pra começar, é bom falar que, mesmo que o pessoal tenha liberdade de ir e vir na internet, não há informação sobre o lugar pra onde vai os dados, nem dos algoritmos. Texto adequado: Em primeiro lugar, é necessário ressaltar que, por mais que os indivíduos tenham autonomia de ir e vir no ambiente virtual, não há pleno conhecimento do caminho de seus dados disponibilizados, tampouco da relação algorítmica que lhes é traçado. 7 Logo, diz-se "gosto de arroz e de feijão, e não "gosto de arroz e feijão". Perceba que o de é responsável pelo paralelo. Nas redações do Enem, são muito comuns os erros de paralelismo. Veja: [•••] "que age como se os deficientes auditivos fossem incapazes de estudar e, posteriormente, exercer uma profissão”. A ausência da preposição "de" causa um problema de paralelismo. O correto seria: [•••] "que age como se os deficientes auditivos fossem incapazes de estudar e, posteriormente, de exerceruma profissão”. Termos inapropriados: É necessário cuidado na utilização de alguns termos na hora da redação. Note o caso da expressão “junto a” por exemplo. Pode até parecer mais culto dizer que um problema deve ser discutido “junto à” prefeitura, mas isso não faz sentido: a expressão “junto a” significa “perto de”. Escreva simplesmente que tem de ser discutido com a ou em parceria com a prefeitura e similares. "Posto que" é outra expressão elaborada que muita gente emprega equivocadamente. O sentido correto é adversativo (como “embora”), e não causal (como “já que”). A norma culta prevê que você diga algo como “Posto que (embora) estivesse chovendo, fui à praia”, e não “Posto que (uma vez que) fizesse sol, fui à praia”. "Acarretar" é um verbo muito utilizado nas redações e também ocasiona muitos erros. Ele significa ocasionar, causar e é transitivo direto. Portanto, não requer preposição. Não se deve, pois, dizer acarretar em alguma coisa, mas simplesmente acarretar alguma coisa. Ex: o bullying acarreta violência extrema. 8 Competência 2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo- argumentativo em prosa O segundo aspecto a ser avaliado no seu texto é a compreensão da proposta de redação que estará na prova. Por meio da argumentação, você deverá defender uma tese, isto é, você deverá assumir claramente um ponto de vista. Além disso, é preciso que a tese que você irá defender esteja relacionada ao tema defnido na proposta. Ler e circular cada palavra do tema é ideal para atender à competência. É preciso atender ao recorte temático definido para evitar tangenciá-lo ou, ainda pior, desenvolver um tema distinto do determinado pela proposta. Siga os passos: ◦ Leia bem a proposta da redação e os textos motivadores, para compreender bem o que está sendo solicitado. Faça isso sublinhando as partes mais importantes. ◦ Não copie trechos dos textos motvadores. Copiar fará com que seu texto tenha uma pontuação mais baixa. Lembre-se de que eles foram apresentados apenas para despertar seus conhecimentos sobre o tema. Você pode parafrasear as informações, mas nunca as representar identicamente. ◦ Reflita sobre o tema proposto para definir qual será o foco da discussão, isto é, para decidir como abordá-lo, qual será o ponto de vista adotado e como defendê-lo. Você terá que se posicionar e manter sua posição em todo o texto. 9 ◦ Utilize informações de várias áreas do conhecimento, demonstrando que você está atualizado em relação ao que acontece no mundo. Aqui se encaixam as citações, analogias filosóficas, filmes, livros, e outras produtividades. Dicas para atender plenamente às expectativas em relação à Competência 2: Palavras-chave: Uma forma de evidenciar que você entendeu o tema é a utilização de palavras-chave. Basicamente, os termos que estão no tema da redação podem ser utilizados para mostrar ao corretor que você compreendeu a temática abordada. Veja um exemplo: Digamos que o tema solicitado seja: "Manipulação dos usuários pelo controle de dados da internet". Sendo assim, já na introdução o candidato poderá utilizar palavras presentes na apresentação do tema como elementos-chave. Veja: Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante." Analogicamente, a frase do escritor José Saramago evidencia bem uma faceta incoerente entre o desenvolvimento e os direitos individuais da humanidade, a qual pode ser notada na postura imparcial dos interesses por trás da tecnologia digital frente à sociedade, que desconsidera a liberdade de escolha, manipulando comportamentos, por meio do controle de dados, de acordo com fitos comerciais. 10 Recorte: No Enem, o tema nunca será uma palavra ou um termo genérico, como por exemplo, “saúde”. Haverá um direcionamento, um recorte sobre uma temática ampla. Isto é o comando do tema. No comando: Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil (2017) O tema de 2017 exigia que o aluno dissertasse sobre a formação educacional dos surdos demonstrando quais são as dificuldades, os impasses, ou seja, os desafios para que seja efetivada de forma plena em nosso país. Quem simplesmente falou sobre a educação dos surdos, explicando, por exemplo, como funciona, tangenciou o tema e perdeu pontos. Portanto, recortar cada palavra é ideal. Quando receber a proposta, reserve alguns minutinhos para ler e reler o que está sendo pedido. A instrução é clara, seu texto terá um propósito bem estabelecido. 11 Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista: Essa competência avalia se o aluno segue 4 habilidades: seleção, relação, organização e interpretação de informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Seleção: Selecionar ideias significa escolher, separar informações dentre as inúmeras que pensamos ao nos depararmos com o tema. Isso é a capacidade de filtrar, das coisas que vieram à mente após a leitura do tema e dos textos, o mais importante. Portanto, é importante não se ater aos textos motivadores e demonstrar autoria. Nessa perspectiva, a busca pelo repertório sociocultural durante o treinamento é essencial. Para acumular repertório, ler muito é obrigatório. A leitura expande a capacidade de o indivíduo expressar-se em discussões, ter argumentos e linkar fatos e dados relevantes para sustentar posicionamentos. Portanto, procure ler bastante, sobre conteúdos diferentes. Jornais, revistas, blogs, até mesmo o Facebook é uma ferramenta de aprendizagem. A prática é sempre filtrar o que você absorve. No dia da prova, rascunhe tudo aquilo que você sabe sobre o tema. Pensando no objetivo de persuasão do leitor, é preciso selecionar as ideias mais fortes, as que você, de fato, saberá fundamentar e contextualizar de forma eficiente no texto. Filtre. Relação: Relacionar ideias e informações é essencial para a boa defesa da opinião. Trata-se da coerência estabelecida por você em relação ao que está sendo dito e o que foi proposto como tema. 12 Um argumento deve complementar o outro e estar bem direcionado à resposta ao comando. Um parágrafo deve complementar o outro, sem parecer que um está dissociado do outro. Procure utilizar conjunções e preposições de ligação sempre no início dos parágrafos ou para retomar/adicionar ideias. Exemplos: além disso, portanto, contudo, todavia, ademais... Na segunda parte da apostila há uma lista de conectores. Organização: Organizar é hierarquizar ideias. Posicionar as mais relevantes e as menos expressivas. É preciso pensar na disposição desses argumentos no texto. Utilizar um livro, um personagem, um filósofo como análogo ao tema na introdução para persuadir o corretor e harmonizar o texto é um exemplo de organização. Interpretação: Interpretar ideias é importante para que você direcione a argumentação para a resposta ao tema de forma eficiente. É imprescindível que se compreenda a melhor estratégia para contextualizar os argumentos, para que indiquem, claramente, que você compreendeu o que foi solicitado na discussão. O ponto de vista do autor a respeito do tema deve estar relacionado à tese apresentada ainda na introdução. Na introdução, o autor do texto apresenta uma tese geral, o que ele considera como relação de causa e consequência sobre o tema. No desenvolvimento, o autor apresenta fatos, dados, notícias, vozes e argumentos que possam comprovar a tese inicial. A partir de cada argumento, o autor faz sua crítica: concorda ou não, felizmente ou não, que é preciso tomar atitude, etc. 13 Dicas para atenderplenamente às expectativas em relação à Competência 3: Uma argumentação consistente envolve a seleção, organização e interpretação de dados, fatos e informações que possam ser comprovados a partir de pesquisas, números e notícias, bem como a mobilização de outras vozes de autoridade para concordar ou refutar. Em suma, os argumentos consistentes são aqueles que não partem do “achismo” do autor. Competência 4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação Nessa parte, será avaliada a estruturação lógica e formal entre as partes da redação. A organização textual exige que as frases e os parágrafos estabeleçam entre si uma relação que garanta a sequenciação coerente do texto e a interdependência entre as ideias. Aqui será analisado os recursos coesivos que são responsáveis pelas relações semânticas construídas ao longo do texto, por exemplo, relações de igualdade, de adversidade, de causa- consequência, de conclusão etc. Preposições, conjunções, advérbios e locuções adverbiais são responsáveis pela coesão do texto, porque estabelecem uma inter-relação entre orações, frases e parágrafos. - Cuide para que palavras e períodos tenham uma boa articulação: leia e releia-os refletindo se ficará claro para o leitor o que está sendo dito. 14 - Garanta a progressão textual, ou seja, a resposta de um período em relação ao outro. Ideias desconectadas são penalizadas nesta e na competência III. - Não se esqueça de construir parágrafos, observe o recuo para que não fique muito pequeno e nem exageradamente espaçado. - Estude e empregue corretamente os conectores: errá-los pode comprometer e muito a ideia que se quer passar. Por exemplo, há uma diferença entre, “mas” e “mais”. O primeiro tem sentido de oposição a algo que foi dito anteriormente, quando se quer negá- lo, por exemplo. Já o segundo tem sentido de adição de ideias. Imagine confundir os dois? Por isso, preste atenção! - Busque ler bastante para aumentar seu repertório vocabular: variar termos ao longo da redação torna a leitura mais agradável e rebuscada. Quando os problemas de norma culta, referentes à competência I, comprometem muito a compreensão das ideias, o corretor poderá penalizá-lo, também, na competência IV. Na segunda parte da apostila, há uma lista completa de mecanismos linguísticos (conectores), detalhando onde você poderá utilizá-los. Competência 5: Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos O último fator a ser analisado no seu texto é a apresentação de uma proposta de intervenção para o problema abordado. Sua proposta deve ser coerente em relação à tese desenvolvida no texto e aos argumentos utilizados, já que expressa sua visão, como autor, das possíveis soluções para a questão discutida. Por isso, deve-se adequar sua proposta ao que já foi dito antes. 15 Além disso, é necessário respeitar os direitos humanos, ou seja, não romper com os valores de cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural. Diante de qualquer problemática, é muito fácil dizer que o governo precisa agir com maiores investimentos e que a população precisa se unir. É uma ideia óbvia que, por mais verdadeira que seja, não demonstra habilidade alguma por parte do aluno. As propostas podem estar relacionadas a investimentos do governo e, até mesmo, à união da população. No entanto, devem ser pontuais: investimentos em quê? Como? Quando? União para quê? De que forma? ➧ Há 5 partes importantes da proposta. Anota aí: ● ação interventiva ● agente ● modo/meio ● efeito ● detalhamento Passos: - A ação interventiva responde à pergunta: “O que é preciso fazer para resolver o problema?” - O agente responde à pergunta: “Quem pode fazer isso?” - O modo/meio responde à pergunta: “De que forma será feito, ou seja, por quais meios?” - O efeito responde à pergunta: “Qual é o propósito dessa intervenção, quais serão os efeitos dela?” 16 Por fim, há o detalhamento. Ele responde à pergunta: “Qual informação adicional foi acrescentada sobre um dos elementos anteriores?” “Considerando os aspectos mencionados, fica evidente a necessidade de medidas para reverter a situação. O Estado {agente} deve investir na formação dos futuros docentes, {ação interventiva} criando novas disciplinas curriculares que discutam a inclusão de surdos nas escolas e preparem de forma apropriada os estudantes dos cursos de licenciatura. {modo/meio} Dessa forma, será possível garantir uma educação que, de fato, integra indivíduos e promove a plena construção de conhecimentos. {efeito} Só então seremos uma sociedade que promove a igualdade de direitos. {detalhamento do efeito}” Na segunda parte da apostila, há funções e outros conteúdos interessantes para utilizar na proposta de intervenção. 17 J ESTRUTURANDO A REDAÇÃO Alguns candidatos não possuem o hábito de estruturar o texto antes de escrevê-la. A maioria simplesmente o começa pautando as ideias conforme elas aparecem em sua cabeça. Isso é um problema, pois é a falta de planejamento que faz com que surjam as famosas dúvidas, como "que mais eu escrevo?". Fuja delas! Boas ideias apenas não garantem sucesso de uma redação, é preciso saber estruturá- las de modo coerente, para persuadir o leitor. Dessa forma, um texto bem- estruturado valoriza os argumentos e facilita a leitura e a assimilação das ideias. Vamos observar como o ENEM deseja que seu texto seja organizado: Uma dissertação é formada por introdução, desenvolvimento e conclusão. Cada uma dessas partes tem uma função no conjunto e traz elementos diferentes. Aprender a desenvolver assim a sua redação é o que ajuda a dar coesão e progressão textual. 18 INTRODUÇÃO: 4 a 6 linhas Aqui, o candidato deverá apresentar a sua TESE, ou seja, aquilo que será defendido com “unhas e dentes”, que será justificado, provado. A introdução é a porta de entrada do texto e o primeiro contato que o corretor tem com suas ideias. Pensando nisso, é notável sua importância e a necessidade de empenhar-se para que chame a atenção de forma positiva. Ela é parte fundamental do processo de credibilidade para o texto e deve estar completa e organizada. Muitos alunos têm dúvidas e frequentemente afirmam não saber como começar, mas, apesar da ideia de que dar o ponto de partida é algo complicado, na verdade é justamente o contrário. É preciso, porém, atenção e organização, para que ela direcione o leitor quanto ao seu raciocínio, além de não se esquecer dos aspectos essenciais para a sua construção, afinal, você quer passar uma boa impressão. A INTRODUÇÃO DEVE CONTER, OBRIGATORIAMENTE, UMA TESE: A tese representa o seu ponto de vista sobre o assunto a ser discutido. Ela deve indicar a problematização que você fará a respeito do tema. Esquecer da tese é considerado um erro grave e compromete significativamente a sua nota. SEJA OBJETIVO: É importante ressaltar que você não deve, ainda, desenvolver suas ideias, pois essa parte virá depois. Pense na introdução como um roteiro para os próximos parágrafos. SELECIONE O QUE COLOCAR NA INTRODUÇÃO: Lembre-se de que todas as informações devem ser retomadas, mesmo que de forma breve, em algum momento do texto, já que fazem parte da composição geral e não podem ficar como “pontas soltas” na redação. Além disso, pondere bem se a informação é apropriada 19 para a introdução ou se poderia ser encaixada em algum outro momento do texto, como argumento, por exemplo.Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos deficientes auditivos brasileiros, os quais buscam ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito à educação. Nesse contexto, não há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também ao preconceito da sociedade. PROCURE ADICIONAR CONHECIMENTOS EXTERNOS PARA CHAMAR A ATENÇÃO DO CORRETOR, COMO O MITO. TESE 20 DESENVOLVIMENTO Os parágrafos de desenvolvimento são uma parte essencial da composição do gênero dissertativo-argumentativo, já que a partir deles você irá fundamentar a tese apresentada em sua introdução. É preciso organização para que tudo seja bem justificado e nenhuma informação falte nesses parágrafos “do meio” do texto. Atente-se às dicas a seguir, coloque-as em prática e aperfeiçoe ainda mais sua redação. • Uma das formas de elaborar um bom parágrafo de desenvolvimento é seguindo estes 3 passos básicos: Apresentação de um tópico frasal: tópico frasal é a ideia central do seu argumento, aquilo que você acredita ser a situação-problema relacionada ao tema e que será o foco de discussão do parágrafo. Geralmente é apresentado por uma frase breve que sintetiza o seu pensamento sobre a situação. Pode ser elaborado como uma afirmação, uma comparação ou uma referência histórica, por exemplo. Fundamentação da ideia: depois de apresentar a situação- problema, você deve, então, comprovar a ideia. Procure responder às seguintes questões: por que tal problema acontece? Como acontece? Há exemplos, dados ou reflexões teóricas a respeito? Essas informações devem aparecer e denotam credibilidade ao que você afirma. trata-se de retomar, reafirmar o tópico frasal, com o propósito de indicar que o seu ponto de vista foi válido e, portanto, claramente fundamentado por meio das respostas do passo 2 É praticamente DOIS PARÁGRAFOS, DE 4 A 6 LINHAS EM CADA. Fechamento da ideia: 21 você dizendo “Viu, leitor? Eu falei que o assunto era sério! Comprovei, exemplifiquei e tudo mais!” 😉 Veja um exemplo de um parágrafo de desenvolvimento de uma redação nota mil: Para o filósofo francês Voltaire, a lei essencial para a prática da igualdade é a tolerância. Porém, nas escolas, onde as diferenças aparecem, essa característica não se concretiza. Nesse ambiente, a surdez se torna motivo para. discriminação e para o bullying, contrariando o objetivo da educação de elevar e emancipar o indivíduo, como defende o sociólogo Paulo Freire, idealizador da educação brasileira. Dessa forma, os surdos, segregados, encontram um alicerce frágil, para alcançar o desenvolvimento de seus talentos e habilidades. Apresentaç ão de um tópico frasal. Fundament ação da ideia. Fechamento da ideia. 22 CONCLUSÃO 5 a 8 linhas. Aqui, retoma-se a temática do texto com uma proposta de encerramento (sugestão para o problema enfrentado). A competência 5 do ENEM diz respeito à proposta de intervenção para os problemas discutidos no texto. É uma parte importante e compreende 20% da nota total da redação. Se você souber elaborar a conclusão adequadamente, poderá garantir facilmente os 200 pontos. No início, retome a tese. É inadequado já começar o parágrafo com a proposta de intervenção. Contextualize que você está concluindo a ideia geral do texto por meio de uma retomada de tese. Não se trata de repeti-la, mas sim reafirmá-la. A retomada é importante para demonstrar que você sabe fazer o bom encadeamento das ideias em toda a redação. Mas, atenção: seja breve. Detalhe. Você deve levar em conta que há um espaço limitado e que tudo o que for apresentado como problema na sua argumentação deve ser resolvido no final. Organize-se para conseguir ser completo: apresentar QUEM irá resolver o problema, DE QUE FORMA isso será feito e PARA QUAL PROPÓSITO. É realmente possível colocar em prática sua proposta? Se sim, ela é viável. Não dê soluções fantasiosas, lembre-se de que o Enem não espera uma solução inovadora desde 2013. Além disso, observe se o agente escolhido é, de fato, capaz de intervir na situação. Você pode, inclusive, aprimorar uma proposta já existente, como o governo ampliar leis já em vigor ou a mídia divulgar assiduamente campanhas já veiculadas sobre determinado assunto, por exemplo. Desrespeitar os Direitos Humanos é um erro comum e que pode levar o candidato à nota zero. Todo cidadão tem direito à igualdade, 23 à livre manifestação religiosa, entre outros. Portanto, não dê propostas que vão contra esses direitos e cuidado com as expressões tendenciosas que incitam à violência. A redação não deve acabar “do nada”. Elabore um período breve e objetivo que dê fechamento às ideias. Não use frases de efeito e evite linguagem que remeta ao sentimentalismo, por exemplo: “Com tais medidas será possível, por fim, salvar as crianças de situações lamentáveis como essas.” A ideia de que a sua proposta irá salvar as crianças é um tanto utópica e você não pode garantir isso. Portanto, evite. 24 UM ROTEIRO PARA DIFERENCIAR O SEU TEXTO UMA SELEÇÃO DE MELHORES DICAS E ESTRATÉGIAS PARA GABARITAR AS COMPETÊNCIAS E ATINGIR A PONTUAÇÃO MÁXIMA. 25 TESE FORTE Tese "forte" é a frase que apresenta uma opinião contundente! Quando a tese é forte, o avaliador não tem dúvida de que o texto é argumentativo. Compare o nível de argumentação: FRACA: Parcela dos brasileiros vota de forma pouco responsável. FORTE: Parcela dos brasileiros é incapaz de votar de forma responsável. ✓ Repare que a tese forte apresenta maior JUIZO DE VALOR. Veja que uma palavra [incapaz] é responsável por esse juízo de valor! Na apostila de material complementar, há uma lista com palavras críticas, isto é, com juízo de valor. PARÁGRAFOS Quantos PARÁGRAFOS seu texto deve ter? Pelo menos 4. Introdução = 1. Desenvolvimento = Mínimo 2. Conclusão = 1. Lembrando que o espaço disponível é de 30 linhas. Se dividir por 4, coloque mais ou menos 6 linhas para introdução e conclusão e mais ou menos 7 para os dois parágrafos de desenvolvimento. Pronto! Fechou a conta. Qual é o tamanho ideal de RECUO DO PARÁGRAFO? Não pode ser muito pequeno, nem muito grande! Coloca aí a marca de um dedo, tem que dar mais ou menos 1 centímetro de recuo. 26 CONECTIVOS Os conectivos são responsáveis pela chamada coesão textual, fundamental para que o leitor compreenda a relação de sentido entre as partes do seu texto. Na redação do Enem, isso é tão essencial que há uma competência específica para a avaliação desse aspecto, a competência IV! Os conectivos têm sentidos diversos. Por exemplo: Conectivos que expressam ideia de soma: e, nem, também, não SÓ, mas também, assim como, como também, ademais, outrossim, além disso, etc. Conectivos que expressam ideia de conclusão: logo, portanto, então, assim, enfim, por isso, por conseguinte, de modo que, etc.Conectivos que expressam ideia de contraposição: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, senão, embora, ainda que, mesmo que, mesmo quando, apesar de que, se bem que, não obstante, etc. Os conectivos têm que aparecer no meio dos parágrafos, ou seja, conectando orações e períodos. Além disso, deve vir, também, entre os parágrafos, ou seja, logo no início conectando-o ao anterior. Quantos colocar? Como o texto é extenso, 30 linhas, espera-se que você distribua um número razoável de conectivos ao longo do texto e diversifique-os. O Enem irá avaliar se você tem um repertório amplo de opções, e não fica repetindo sempre os mesmos ao longo do texto. Mas é 27 importante ressaltar que se trata muito mais de qualidade do que de quantidade, ok? Veja um exemplo de parágrafo com uso correto dos conectivos: “Além disso, já há o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer violência física ou psicológica de seu progenitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mulher reportados às autoridades é baixíssimo, inclusive os de reincidência.” Percebam que há um conectivo no início do parágrafo (o “além disso”) que acrescenta uma ideia, dando continuidade em relação à que foi apresentada no parágrafo anterior. No meio do parágrafo há mais 3 conectivos que interligam as ideias dos períodos o “nesse viés”, o “dessa maneira” e o, “por conseguinte. 28 RASURAR Será que pode RASURAR? Sim! Afinal de contas, errar é humano. Mas olha, tem que fazer da forma correta, que é, inclusive, muito fácil! Basta um traço simples sobre a(s) palavra(s). Nada de colocar entre parênteses, se não perde ponto! NÍVEL DE ARGUMENTO É o nível de "força" que seu argumento deve possuir para garantir uma boa pontuação. A água é um recurso muito importante para a vida. O poder público é ineficiente na questão de garantir, proteger e distribuir os recursos hídricos. ✓ Veja que voltamos a bater na tecla do juízo de valor, portanto critique bem na sua argumentação. 29 BOAS REFLEXÕES Os corretores do Enem querem ver a qualidade das suas reflexões. Veja como fazer ótimas reflexões no desenvolvimento. • Compare teoria e prática: É muito comum que alguns problemas sociais sejam combatidos por uma lei (na teoria), mas na prática isso não acontece. Faça essa reflexão! A constituição garante a qualidade de ensino, contudo o governo não efetiva esse direito na prática. • Perceba causas: Faça uma reflexão sobre as consequências que a problemática pode trazer: Os excessos de liberdade de expressão e os discursos de ódio representam grave problema social e são motivados pela cultura do preconceito, enraizada culturalmente na sociedade brasileira. • Preveja consequências: Aborde os impactos negativos de determinados problemas. Caso não haja limites à liberdade de expressão, a sociedade brasileira conviverá diariamente com discursos de ódio e com notícias falsas. 30 • Identifique incoerências: Mostre quando um problema não faz sentido. É incoerente que o Brasil busque se tornar uma nação desenvolvida, mas seja indiferente aos excessos de liberdade de expressão. • Proponha soluções: Para finalizar um parágrafo de desenvolvimento, busque sempre evidenciar que o problema precisa ser resolvido. É urgente que a liberdade de expressão respeite limites, sob pena de prejuízos à sociedade. 31 CUIDADO COM A CONCLUSÃO Veja 3 moles que você não deve cometer na conclusão: × O ECA DEVE REALIZAR VISITAS AOS LOCAIS DE internação DE JOVENS INFRATORES. × O GOVERNO DEVE CONSCIENTIZAR OS INDIVÍDUOS ACERCA DA REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL. × O PODER EXECUTIVO DEVE FAZER LEIS MAIS RÍGIDAS PARA PUNIR MENORES INFRATORES. 1. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é uma lei. Trata-se de um pedaço de papel incapaz de agir por si mesmo. Ora, as leis precisam de alguém para efetivá-las. 2. A palavra conscientizar é considerada ação nula. Portanto, se você colocar isso na redação, os avaliadores são treinados para ignorá-la. A palavra GOVERNO também é genérica demais, mas não é um desvio. 3. O Executivo não faz leis. Quem é responsável por essa tarefa é o PODER LEGISLATIVO. Aliás, o Poder Executivo até pode editar Medidas Provisórias com força de lei (só que provisória, como diz o nome), mas a tarefa global mesmo é do Legislativo. 32 ✓ Primeiramente leia a proposta com bastante atenção. ✓ Em seguida, gaste um tempo pensando “qual o problema desse tema?” e faça uma pequena lista com o que aquele tema te lembra: filmes, livros, frases filosóficas etc. Veja bem, o modelo de redação exige não apenas que você problematize o tema, mas que resolva o problema com as propostas de intervenção que virão no fim do texto. Logo a pergunta mais importante que você deve fazer para responder com a sua redação é “qual o problema aqui?”. ✓ Só para garantir, escreva o tema e o problema no alto do papel que você estiver usando. Parece bobo, mas estar sempre passando os olhos por isso vai te ajudar a não fugir do tema. ESCREVENDO A REDAÇÃO PASSO PASSO 33 ✓ Em seguida escreva pelo menos dois motivos que expliquem “porque a situação é um problema?” e dois responsáveis por impedir que o problema seja resolvido. Vou exemplificar usando um tema que eu achei particularmente difícil: o de 2014, “Publicidade Infantil no Brasil”. • Primeiramente, porque a publicidade infantil é um problema? Bom, podemos pensar em várias coisas: ela pode influenciar as crianças negativamente, tirar a autoridade dos pais na hora de educar os filhos, fazer com que as crianças passem muito tempo vendo televisão e acabem prejudicadas, podem tirar a liberdade de escolha delas ao torná-las suscetíveis a essa influência etc. Mas vamos escolher apenas dois, sempre pensando que teremos que desenvolver esses dois tópicos. Eu escolheria os dois primeiros, que se tornarão os dois primeiros tópicos do nosso esquema. ✓ Certo, mas o que impede esse problema de ser resolvido? Também podemos pensar em várias coisas: muitas crianças passam muito tempo sozinhas em casa sem a supervisão de adultos, o governo ou órgãos de publicidade não regulam o tipo de conteúdo que é transmitido para as crianças, muitas vezes os pais nem sabem o que os filhos estão assistindo etc. 34 ✓ O segredo é: quando for escolher os tópicos que você vai falar, escolha pelo menos dois que você saiba como resolver, porque logo depois disso você escreverá sua proposta de intervenção, e vai sugerir mudanças que acabem de vez com o problema. ✓ Você começa a redação problematizando, convencendo o leitor que a situação que está abordando é um problema, mostra quais desafios temos para vencê-los e traz estratégias para os resolver. ✓ Essa conexão que vai acontecer entre os parágrafos é uma forma de coesão textual, pois seu texto segue uma linha de raciocínio e flui facilmente para o leitor. Isso vai te garantir não apenas uma boa argumentação, um bom uso de outras áreas do conhecimento e uma boa proposta de intervenção, mas uma boa coesão textual. ✓ Somandoisso ao uso adequado da língua portuguesa você suprirá todas as cinco competências e tem chances enormes de se sair espetacularmente bem na redação. ✓ A última parte do seu esquema vai ter as suas duas propostas de intervenção, que você provavelmente já escolheu quando estava pensando no que impede o problema de ser resolvido. ✓ E, por fim, já que sua argumentação está basicamente pronta, é hora de pegar todas aquelas referências que você escreveu no início e escolher quais vai usar. Pense nos livros, filmes, videogames, pesquisas, etc. que te lembram o 35 assunto e selecione os que se encaixam com os argumentos. Nessa hora também vale pegar um ou dois dados dos textos motivadores para ajudar a fortalecer seus motivos que fazem do problema um problema e convencer o leitor do que o impede de ser resolvido. A SÍNDROME DA PÁGINA EM BRANCO Fenômeno que acomete a quase todos que têm con- tato com a escrita, a síndrome da página em branco é o fantasma que assola desde escritores profissionais até can- didatos em vestibulares. O problema é tão real e palpável que o célebre escritor inglês Edgar Allan Poe o chamou de “a doença da meia noite”. “Gestar” um texto, seja qual for o objetivo, não é tarefa fá- cil. Mas vamos falar especificamente de você, vestibulando, e a temível hora da redação. Você já leu todos os textos moti- vadores que tinha para ler, elaborou frases de efeito para a introdução em sua mente, e agora só precisa passar tudo para o papel. Mas a folha continua a intimidar. E você, em conversa íntima com sua razão, sabe que está acima disso. Basta ir transpondo para aquele antagonista, que se manifesta ali, à sua frente, tudo o que está na sua mente. É só achar a palavrinha inicial, apenas isso. Então, respira, começa a passar a mão pelo cabelo e a en- xugar o suor da testa. Pensa alguns minutos, arma-se com caneta ou lápis e nada. Resoluto, decide dar um tempo e partir para as outras tarefas. Na hora em que está respon- dendo a uma complicada questão gramatical, a ideia lhe vem à cabeça. Corre para a folha abandonada e começa a escrever. Parece que sua mão tem vida própria, trabalhando letra após letra, palavra após palavra. Faz uma pausa de um minuto e relê o que foi escrito até agora, dando-se conta que toda a encenação não foi além de cinco linhas. E você precisa de, no mínimo, 15. Trinta, se quiser pensar no ensino superior. A irritação surge, seguida de raiva. O que fazer? Padecer desta condição é verdadeira- mente frustrante. Assim, há várias causas possíveis para a síndrome da página em branco: falta de autoconfiança, ansiedade, estres- se ou medo do resultado. Mas não é preciso autoflagelar-se. Com algumas técni- cas e muito treino, chega-se lá. A intenção deste volume é fornecer essas ferramentas para, mesmo aqueles que nunca tentaram ir além das tímidas redações escolares, enfrenta- rem esse fantasma! 1. A REDAÇÃO NO ENEM Quem quiser se dar bem na prova de redação precisa, antes de tudo, estar ciente das competências cobradas pelo exame. Esse conhecimento é essencial melhorar o desempe- nho e até alcançar o nível máximo em excelência, ou seja, os mil pontos ansiados. O candidato terá, necessariamente, que desenvolver um texto em prosa. O que significa: nada de poesia. Mas também não é qualquer texto – você não poderá fazer narração ou crô- nica. No Enem, exige-se um texto dissertativo-argumentativo. O grande "bicho-papão", apontado pela maioria dos es- tudantes, reside aí: a dissertação argumentativa exige a de- fesa de uma tese. Mas nada de calafrios: tese nada mais é do que expor ideias a favor de uma posição sobre determinado assunto. É necessário apresentar o texto de forma estrutu- rada e com coerência. E, no final, indicar uma proposta de intervenção social. Exemplo O Guia da Redação do Enem 2017, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), traz um modelo utilizando o tema da prova do ano anterior (“Caminhos para combater a intolerância religio- sa no Brasil”). Tese: Combater a intolerância de religião no contexto nacional. Exemplos de argumento: “É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. Conforme Aristóteles, a poética deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é perceptível que, no Brasil, a perseguição religiosa rompe essa harmo- nia; haja vista que, embora esteja previsto na Constituição o princípio da isonomia, no qual todos devem ser tratados igualmente, muitos cidadãos se utilizam da inferioridade religiosa para externar ofensas e excluir socialmente pes- soas de religiões diferentes”. Proposta de intervenção social: “...cabe ao Governo Fe- deral construir delegacias especializadas em crimes de ódio contra religião, a fim de atenuar a prática do preconceito na sociedade, além de aumentar a pena para quem o praticar. Ainda cabe à escola criar palestras a respeito das religiões e suas histórias, visando a informar crianças e jovens sobre as diferenças religiosas no país, diminuindo, assim, o precon- ceito religioso”. O Manual de Redação Enem, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC), explica quais as competências exigidas, listadas abaixo. Vale lembrar que cada item pode atingir, na avaliação, no máximo 200 pontos. Competências Competência I – Evidenciar o domínio da norma culta da língua escrita. O aluno deve mostrar que domina a Gramática e que tem estilo textual. A norma padrão da Língua Portuguesa deve ser aplicada rigorosamente. Tudo referente à norma culta será levado em consideração, como pontuação, acentuação, ortografia, concordância, semântica e regência. O que irão avaliar? 1. Se você sabe diferenciar a linguagem oral da escrita; 2. Se conhece as regras gramaticais e ortográficas; 3. Qual a forma proposta ao texto (estética); 4. Se respeita o número mínimo e máximo de linhas pe- didas; 5. Se não usa o discurso oral; 6. O conhecimento vocabular; 7. Se tem entendimento sobre o uso de letras maiúsculas e minúsculas; 8. O emprego da divisão silábica, quando muda de linha, chamada de translineação. Veja a escala de pontuação, conforme Manuel do Inep: 200 pontos Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos somente como excepcionalidade e quando não caracterizarem reincidência. 160 pontos Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções da escrita. 120 pontos Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da língua portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções da escrita. 80 pontos Demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da língua portuguesa, com muitos desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita. 40 pontos Demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da língua portuguesa, de forma sistemática, com diversificados e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita. 0 ponto Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Competência II – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto disser- tativo-argumentativo. Nesse ponto, você precisa interpretar o texto para com- preender a proposta apresentada. Trata-se do momento de organizar as ideias. É importante que se leia o conteúdo atentamente e procure, dentro dos conhecimentos, relacio- nar com outros saberes. Isso mostrará que o aluno sabe redi- gir uma redação dissertativa. O que irão avaliar? 1. A primeira coisa que irão procurar saber é se você en- tendeu a proposta. Uma dica é não desprezar,mas também não ficar preso aos textos motivadores. Isto é, não copie tre- chos desse material de apoio; 2. Dominar outros saberes significa ter conhecimentos advindos de outras áreas, como Biologia, Geografia, História e Literatura, que podem contribuir para sua argumentação; 3. E, por último, se você domina as ferramentas para construir um texto dissertativo-argumentativo. Veja a escala de pontuação: 200 pontos Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo, e apresenta excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo. 160 pontos Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente e apresenta bom domínio do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e conclusão. 120 pontos Desenvolve o tema por meio de argumentação previsível e apresenta domínio mediano do texto dissertativo-argumentativo, com proposição, argumentação e conclusão. 80 pontos Desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos motivadores ou apresenta domínio insuficiente do texto dissertativo- argumentativo, não atendendo à estrutura com proposição, argumentação e conclusão. 40 pontos Apresenta o assunto, tangenciando o tema, ou demonstra domínio precário do texto dissertativo-argumentativo, com traços constantes de outros tipos textuais. 0 ponto Fuga ao tema/não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa. Nestes casos, a redação recebe nota zero e é anulada. Competência III – Selecionar, relacionar, orga- nizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Na terceira competência, você será cobrado sobre a argu- mentação. Será avaliado se sua argumentação tem como base fatos concretos, ou seja, que possam ser comprovados. É o mo- mento de prestar atenção para defender o ponto de vista. Po- de-se utilizar dados estatísticos, comparações com outras situ- ações e citações. É importante que exista coesão e consistência. O que irão avaliar? 1. Se há progressão qualitativa, isto é, sentido nos pará- grafos do texto; 2. Se existe coerência e uma ordem lógica quando as ideias são apresentadas; 3. Coerência: adaptação do conteúdo do texto e o mun- do real; 4. Ideias concatenadas: um parágrafo deve permitir um link para o outro. Deve haver coerência no que foi dito e o que vem na sequência. Mas cuidado: repetições de ideias ou mudanças drásticas de argumento não devem acontecer. Veja a escala de pontuação: 200 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma consistente e organizada, configurando autoria, em defesa de um ponto de vista. 160 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma organizada, com indícios de autoria, em defesa de um ponto de vista. 120 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos argumentos dos textos motivadores e pouco organizados, em defesa de um ponto de vista. 80 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas desorganizados ou contraditórios e limitados aos argumentos dos textos motivadores, em defesa de um ponto de vista. 40 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem defesa de um ponto de vista. 0 ponto Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem defesa de um ponto de vista. Competência IV – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Essa é uma parte técnica a ser avaliada. Como já dito an- teriormente, o texto tem que apresentar coesão. Portanto, é necessário que as ideias estejam embasadas corretamente – se estiverem "soltas" não proporcionarão unidade ao texto. Essa articulação se dá por meio de conectivos, que ajudam a ligar argumentos e parágrafos. O que vão avaliar? 1. A estrutura dos parágrafos é o ponto principal nessa competência. Deve-se lembrar que o parágrafo tem um nú- cleo, que é a ideia principal, ligado às ideias secundárias. 2. A estrutura dos períodos também é considerada, e deve levar em conta alguns preceitos, como: ideias que es- clareçam a causa-consequência, comparação, efeitos con- traditórios, temporalidade das argumentações e conclusão. 3. Também será avaliado o uso de referências: fontes (que podem ser livros, veículos informativos, pessoas), da- dos estatísticos e conhecimentos prévios. Essas referências devem ser utilizadas na medida que o texto progredir. Veja a escala de pontuação: 200 pontos Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos. 160 pontos Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório diver- sificado de recursos coesivos. 120 pontos Articula as partes do texto de forma mediana, com inadequações, e apresenta repertório pouco diversificado de recursos coesivos. 80 pontos Articula as partes do texto de forma insuficiente, com muitas inadequações, e apre- senta repertório limitado de recursos coesivos. 40 pontos Articula as partes do texto de forma precária. 0 ponto Não articula as informações. Competência V – Elaborar proposta de solução para o problema abordado, mostrando respei- to aos valores humanos e considerando a di- versidade sociocultural. Esse é um dos pré-requisitos mais importante no con- texto do Enem, porque é a etapa em que precisa mostrar a compreensão da proposta e elaborar uma intervenção para o problema mediante as argumentações já exibidas no tex- to. É a hora do detalhamento, da clareza, coesão e consistên- cia, momento no qual o candidato deve expor uma proposta adequada, crível e passível de ser aplicada na prática. O que irão avaliar? 1. Se há realmente a apresentação de uma verdadeira proposta; 2. Se há a explicação detalhada de como aplicá-la; 3. Se é possível executá-la, ou seja, se é viável; 4. Se ela respeita, por exemplo, os direitos humanos, já que não pode, em hipótese alguma, ferir valores como liber- dade e diversidade. Veja a escala de pontuação: 200 pontos Elabora muito bem a proposta de intervenção, detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 160 pontos Elabora bem a proposta de intervenção, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 120 pontos Elabora de forma mediana a proposta de intervenção, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 80 pontos Elabora de forma insuficiente a proposta de intervenção, relacionada ao tema ou não articulada à discussão desenvolvida no texto. 40 pontos Apresenta proposta de intervenção vaga, precária ou relacionada apenas ao assunto. 0 ponto Não apresenta proposta de intervenção ou apresenta proposta não relacionada ao tema ou ao assunto. 2. TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO A avaliação do Enem, bem como dos principais processos de seleção para as universidades brasileiras, leva em conta a capacidade de analisar, clara e coerentemente, as questões relacionadas à realidade. Isso se traduz, mais especificamen- te, na produção de texto. A prova opta exclusivamente pelo texto dissertativo-argumentativo, aliando exposição, argu- mentação e proposta de intervenção. Outras universidades, por vezes, escolhem tipos diversificados de texto, o que será abordado mais à frente. Mas como aliar exposição, argumentação e a interven- ção adequadamente, dentro do curto espaço de tempo que é destinado à redação nesses tipos de exames? Vejamos um exemplo abaixo, da candidata Anna Beatriz Alvares Simões Wreden. A redação alcançou a nota 1000 do Enem 2015, cujo tema foi a violência contra a mulher no Brasil. “A violência contra a mulher no Brasil tem apresentado aumentos significativos nas últimas décadas. De acordo com o Mapa da Violência de 2012, o número de mortes por essa causa aumentou em 230% no período de 1980 a 2010. Além da física, o balanço de 2014 relatou cercade 48% de outros tipos de violência contra a mulher, dentre esses a psicológica. Nesse âmbito, pode-se analisar que essa problemática persiste por ter raízes históricas e ideológicas. O Brasil ainda não conseguiu se despren- der das amarras da sociedade patriarcal. Isso se dá porque, ainda no século XXI, existe uma espécie de determinismo bioló- gico em relação às mulheres. Contrariando a célebre frase de Simone de Beavouir “Não se nasce mulher, torna-se mulher”, a cul- tura brasileira, em grande parte, prega que o sexo feminino tem a função social de se submeter ao masculino, independentemente de seu convívio social, capaz de construir um ser como mulher livre. Dessa forma, os comportamentos violentos contra as mulhe- res são naturalizados, pois estavam dentro da construção social advinda da ditadura do patriarcado. Consequentemente, a puni- ção para este tipo de agressão é dificul- tada pelos traços culturais existentes, e, assim, a liberdade para o ato é aumentada. Além disso, há o estigma do machismo na sociedade brasileira. Isso ocorre porque a ideologia da superioridade do gênero masculino em detrimento do feminino reflete no cotidiano dos brasileiros. Nesse viés, as mulheres são objetificadas e vistas apenas como fonte de prazer para o homem, e são ensinadas desde cedo a se submeterem aos mesmos e a serem recatadas. Dessa maneira, constrói-se uma cultura do medo, na qual o sexo feminino tem medo de se expressar por estar sob a constante ameaça de sofrer vio- lência física ou psicológica de seu proge- nitor ou companheiro. Por conseguinte, o número de casos de violência contra a mu- lher reportados às autoridades é baixíssi- mo, inclusive os de reincidência. Pode-se perceber, portanto, que as raízes históricas e ideológicas brasileiras difi- cultam a erradicação da violência contra a mulher no país. Para que essa erradica- ção seja possível, é necessário que as mí- dias deixem de utilizar sua capacidade de propagação de informação para promover a objetificação da mulher e passe a usá-la para difundir campanhas governamentais para a denúncia de agressão contra o sexo femi- nino. Ademais, é preciso que o Poder Legis- lativo crie um projeto de lei para aumentar a punição de agressores, para que seja pos- sível diminuir a reincidência. Quem sabe, assim, o fim da violência contra a mulher deixe de ser uma utopia para o Brasil”. Onde “habitam” os textos dissertativos-argumentativos? Quer dizer, onde circulam, quem os lê, qual o objetivo de existirem? A dissertação é considerada um gênero escolar porque é nesse contexto que aparece dessa forma, princi- palmente nas aulas de produção de texto do ensino médio e, posteriormente, no ambiente universitário, moldados em trabalhos de conclusão de curso (TCC), dissertações e teses. Vestibulares e provas como o Enem pedem dissertação. Isso também é exigido dos alunos de graduação e pós-gra- duação, que devem fazer uma dissertação e defendê-la fren- te a uma banca examinadora. É bom lembrar que uma dissertação não tem seu campo de atuação em veículos jornalísticos, embora guarde semelhanças com o editorial e o artigo de opinião. Há dois espaços de circulação muito próprios para essa modalidade de texto. Os escolares, realizados pelos alunos, têm intuito de avaliar as capacidade de exposição e argu- mentação, além de sugerir/provar alguma nova metodolo- gia, caso das teses de doutorado. Os sociólogos, filósofos e estudiosos da língua também recorrem à dissertação para exporem suas ideias, podendo, inclusive, ver o texto trans- formar-se em livro e até virar obra de referência. Dissertação: definição e usos Dissertar, em outras palavras, é explanar ideias dentro de um contexto que envolva questionamento, ponto de vista expresso claramente, e que, no próprio texto, haja espaço para o debate. Nada mais é do que o desenvolvimento do raciocínio acerca de um tema. Para tanto, é preciso que se ar- gumente adequadamente e que as visões sejam fundamen- tadas. Assim, dissertar devidamente é a ciência de organizar as ideias para que se possa conquistar o interlocutor. Há técnicas para alcançar esse objetivo: nunca usar a pri- meira pessoa ("eu" ou "nós"), isto é, o discurso a ser utilizado é o indireto, em terceira pessoa. O tema deve ser contagian- te e, quase sempre, tem a ver com questões da humanidade, como pobreza, liberdade, justiça social, ética, guerras, futu- ro, descobertas científicas e paz mundial. Considerando que argumentar significa apresentar pro- vas, fatos, ideias ou razões lógicas que comprovem uma afir- mação ou uma tese, e que analisar é sinônimo de examinar minuciosamente ou investigar, seria possível haver argu- mentação sem análise? E análise é reflexão. Segundo Bernard Meyer, “refletir” também significa “de- volver uma imagem”. Tentemos então imaginar a reflexão em ação como um jogo de espelhos que enviassem ideias uns aos outros, sendo esses aspectos vistos a cada vez de um ângulo diferente, portanto enriquecidos: é assim que o raciocínio progride. Observe os seguintes exemplos de textos dissertativos- -argumentativos, retirados de provas do ENEM de 2013, 2014 e 2015, que foram avaliados com nota máxima: Exemplo 1: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil (2013) – Paulo Henrique Matta “Historicamente causadores de inúmeras vítimas, os acidentes de trânsito vêm ocor- rendo com frequência cada vez menor, no Brasil. Essa redução se deve, principal- mente, à implantação da Lei Seca ao longo de todo o território nacional, diminuindo a quantidade de motoristas que dirigem após terem ingerido bebida alcoólica. A maior fiscalização, aliada à imposição de rígidos limites e à conscientização da população, permitiu que tal alteração fosse possível. As estatísticas explicitam a queda brus- ca na ocorrência de óbitos decorrentes de acidentes de trânsito depois da entrada da Lei Seca em vigor. A proibição absoluta do consumo de álcool antes de se dirigir e a existência de diversos pontos de fiscali- zação espalhados pelo país tornaram menores as tentativas de burlar o sistema. Dessa forma, em vez de fugirem dos bafômetros e dos policiais, os motoristas deixam de be- ber e, com isso, mantêm-se aptos a dirigir sem que transgridam a lei. Outro aspecto de suma relevância para essa mudança foi a definição de limites ex- tremamente baixos para o nível de álcool no sangue, próximos de zero. Isso fez com que acabasse a crença de que um copo não causa qualquer diferença nos reflexos e nas rea- ções do indivíduo e que, portanto, não ha- veria problema em consumir doses pequenas. A capacidade de julgamento de cada pes- soa, outrora usada como teste, passou a não mais sê-lo e, logo, todos têm que respeitar os mesmos índices independentemente do que consideram certo para si. Entretanto, nenhuma melhoria seria pos- sível sem a realização de um amplo programa de conscientização. A veiculação de diver- sas propagandas do governo que alertavam sobre os perigos da direção sob qualquer estado de embriaguez foi importantíssima na percepção individual das mudanças necessá- rias. Isso fez com que cada pessoa passas- se a saber os riscos que infligia a si e a todos à sua volta quando bebia e dirigia, amenizando a obrigatoriedade de haver um controle severo das forças policiais. É inegável a eficiência da Lei Seca em to- das as suas propostas, formando uma geração mais consciente e protegendo os cidadãos bra- sileiros. Para torná-la ainda mais eficaz, uma ação válida seria o incremento da frota de transportes coletivos em todo o país, es- pecialmente à noite, para que cada um consuma o que deseja e volte para casa em segurança. Além disso, durante um breve período, a fis- calização poderia ser fortalecida, buscando convencer motoristas que ainda tentam burlar o Estado. O panorama atual já é extremamente animador e as projeções, ainda melhores, po- rém apenas com a ação conjunta de povo e go- verno será alcançada a perfeição.” Exemplo 2: Publicidadeinfantil em questão no Brasil (2014) – Gabriela Costa “Desde o início da expansão da rede dos meios de comunicação no Brasil, em especial o rádio e a televisão, a mídia publicitá- ria tem veiculado propagandas destinadas ao público infantil, mesmo que os produtos ou serviços anunciados não sejam destinados a este. Na década de 1970, por exemplo, era transmitida no rádio a propaganda de um ban- co utilizando personagens folclóricos, cha- mando a atenção das crianças que, assim, persuadiam os pais a consumir. É sabido que, no período da infância, o ser humano ainda não desenvolveu claramente seu senso crítico, e assim é facilmente influenciado por personagens de desenhos animados, filmes, gibis, ou simplesmente pela combinação de sons e cores de que a publicidade dispõe. Os adolescentes também são alvo, numa fase em que o consumo pode ser sinônimo de autoafirmação. Ciente deste fato, a mídia cria os mais diversos produtos fazendo uso desses atributos, como brindes em lanches, produtos de higiene com imagens de personagens e até mesmo utilizando atores e modelos mirins nos comerciais. Muitos pais têm então se queixado do comportamento consumista de seus filhos, apelando para organizações de defesa dos di- reitos da criança e do adolescente. Em abril de 2014, foi aprovada uma resolução que jul- ga abusiva essa publicidade infantil, geran- do conflitos entre as empresas, organizações publicitárias e os defensores dos direitos deste público-alvo. Entretanto, tal resolu- ção configura um importante passo dado pe- lo Brasil com relação ao marketing infantil. Alguns países cujo índice de escolaridade é maior que o brasileiro já possuem legislação que limita os conteúdos e horários de exibi- ção dos comerciais destinados às crianças. Outros, como a Noruega, proíbem completamen- te qualquer publicidade infantil. A legislação brasileira necessita, portan- to, continuar a romper com as barreiras im- postas pela indústria publicitária, a fim de garantir que o público supracitado não seja alvo de interesses comerciais por sua inocên- cia e fácil persuasão. No âmbito educacional, as escolas devem auxiliar na formação de cida- dãos com discernimento e capacidade crítica. Desta forma, é importante que sejam ensinados e discutidos nas salas de aula os conceitos de cidadania, consumismo, publicidade e etc., adequando-os a cada faixa etária”. Exemplo 3: A persistência da violência con- tra a mulher na sociedade brasileira (2015) - Julia Pereira “Permeada pela desigualdade de gênero, a história brasileira deixa clara a posição inferior imposta a todas as mulheres. Es- sas, mesmo após a conquista do acesso ao vo- to, ensino e trabalho – negado por séculos – permanecem vítimas da violência, uma rea- lidade que ceifa vidas e as priva do direi- to a terem sua integridade física e moral protegida. O machismo e a misoginia são promovidos pela própria sociedade. Meninas são ensina- das a aceitar a submissão ao posicionamento masculino, ainda que estejam inclusas agres- sões e violência , do abuso psicológico ao sexual. Os meninos, por sua vez, têm seu ca- ráter construído à medida que absorvem va- lores patriarcais e abusivos, os quais serão repetidos em suas condutas ulteriores. Um dos conceitos filosóficos de Francis Bacon, que declara o comportamento humano como contagioso, se aplica perfeitamente à situação. A violência de gênero, conforme permanece a ser reproduzida, torna-se enrai- zada e frequente. Concomitantemente, a voz das mulheres é silenciada e suas manifesta- ções são reprimidas, o que favorece o manti- mento das atitudes misóginas. O ensino veta todo e qualquer tipo de ins- trução a respeito do feminismo e da igualda- de de gênero e contribui com a perpetuação da ignorância e do consequente preconceito. Ademais, os veículos de comunicação pouco abordam a temática, enquanto o Estado co- labora com a Lei Maria da Penha, nem sempre eficaz, e com unidades da Delegacia da Mu- lher, em número insuficiente. Entende-se, diante do exposto, a real ne- cessidade de ações governamentais que ga- rantam que a lei puna todos os tipos de violência, além da instalação de delegacias específicas em áreas necessitadas. Cabe à sociedade, em parceria com a mídia e com as escolas, instruções sobre igualdade de gê- nero e campanhas de oposição à violência contra as mulheres. Essas, por fim, devem permanecer unidas, através do feminismo, em busca da garantia de seus direitos básicos e seu bem-estar social. Quem lê uma dissertação? Nas provas do Enem e vestibulares, os primeiros leitores serão os corretores que irão avaliar as redações. Em casos de mestrado ou doutorado, o primeiro a pôr os olhos sobre o texto será o orientador do projeto. E, na hora da defesa, a banca examinadora, normalmente composta de mestres e doutores especialistas sobre o tema apresentado. É preciso lembrar, porém, que o perfil de leitor com o qual se deve trabalhar, no momento de produção de uma dissertação, não é o da pessoa real. É preciso ter cuidado na hora de produzir uma dissertação: o público a ser considera- do deve apresentar um perfil universal, que possa entender o que está escrito sem ser, necessariamente, um especialista no assunto. Portanto, lembre-se: o discurso da dissertação deve ser generalizante e dirigido a um público de igual perfil genérico, podendo ser um ou vários interlocutores. Confira o esquema: Observe como se formam os elementos do esquema argumentativo: PONTO DE VISTA ARGUMENTO ARGUMENTAÇÃOTEMA TESE Estrutura da dissertação Popularmente falando, uma dissertação deve apresentar começo, meio e fim, que são justamente a introdução, o de- senvolvimento e a conclusão. Se a exigência é uma disser- tação-argumentativa, o escritor deve ter em mente que os corretores irão avaliar sua capacidade de persuasão e con- vencimento do leitor. Estrutura Padrão PONTO DE VISTA + ARGUMENTO + CONCLUSÃO Portanto, na dissertação, deverá constar: • Introdução: para dar início ao texto, deve-se apresentar o tema, sua importância e o ponto de vista a ser explorado. Lembre-se de nunca utilizar a primeira pessoa do discurso. • Desenvolvimento: é a hora de se argumentar, expor e explicar os porquês. Os argumentos têm que ser sólidos e concretos e bem apresentados. • Conclusão: é a síntese do que foi dito, finalizando com a afirmação da perspectiva de quem escreve e, no caso do Enem, deve conter uma proposta de intervenção para o problema in- dicado. I. Introdução Toda e qualquer introdução de um texto, seja ele dis- sertativo, descritivo ou narrativo, tem a missão de con- quistar o leitor. Por isso, é importante destacar a rele- vância do tema, fazendo com que a contextualização do mesmo seja percebida claramente. É nessa etapa que a tese será exposta, isto é, se você é a favor ou contra a ideia fundamentada. Estratégias de Introdução: • Citação de argumentos; • Contexto histórico; • Exemplo concreto; • Flashes ou frases nominais; • Dados estatísticos; • Alusão cultural; • Conceituação; II. Desenvolvimento O desenvolvimento é o cerne do texto. É onde o conceito proposto na introdução será detalhado por meio dos argu- mentos. Lembre-se que é preciso fundamentar suas justificações com ideias e dados que conheça, desde que confirmados. Não se deve expor opiniões pessoais, uma vez que é neces- sário exemplificar, justificar e comprovar o que será dito. Assim, outro elemento fundamental é a clareza para que se possa compreender o raciocínio empregado. A conexão entre a introdução, o desenvolvimento e a conclusão precisa ser nítida. Se, no início da redação, foi mostrado o que será discutido, não há mais necessidade de retomar a ideia pela segunda vez. Exemplo Se o assunto for a questão do desarmamento e tal fato estiver explícito na introdução: “O estatuto do desarmamen- to vem provocando discussões acaloradas no....” Apresenta-se o espaço onde acontecem essas discussões (onde?), quais são as pessoas/organizações que promo-vem as discussões (quem?), a ideia defendida inicialmente nas discussões (o que?) e em que momento isso acontece (quando?). Essas quatro perguntas são esclarecidas no pa- rágrafo inicial e determinam a introdução. A seguir, a partir do segundo parágrafo, tem início o de- senvolvimento, que irá responder: qual o motivo disso estar acontecendo (por que?) e de que forma (como?). Esses dois questionamentos serão a base para os argumentos. É nessa parte, que pode ser dividida em dois, três ou mais parágra- fos, que há o cuidado em não apresentar novamente dados da introdução. Aqui há técnicas para não “patinar”, que serão expostas adiante. III. Conclusão É o grand finale, o encerramento. Nesse momento, o lei- tor é definitivamente conquistado ou todo o esforço dos pa- rágrafos anteriores, perdido. Deve-se fazer uma síntese das ideias defendidas e, caso seja pedido, apresentar a proposta de intervenção. Uma das maiores dificuldades reside nessa tarefa, pois a proposta dos candidatos revela-se, muitas vezes, vaga e inconsistente. Ela precisa ser real e possível de ser im- plementada. Há meios que podem ser úteis para o último parágrafo: o uso das conjunções conclusivas. Termos como “portan- to”, “logo”, “dessa forma”, “assim”, “sendo assim”, “por isso”, “desse modo” e “por conseguinte” servem, na verdade, para assinalar que o texto está em sua etapa final. Veja um exemplo de uma conclusão bem desenvolvida em uma redação acima da média do vestibular da Unicamp, cujo tema geral foi “progresso e retrocesso”: Exemplo de conclusão: “Não é difícil, pois, perceber que nosso modelo de progresso é extremamente ques- tionável, uma vez que, ao mesmo tempo em que damos grandes passos cientificamente, retrocedemos quase tudo aquilo que andamos social e ambientalmente. Mostramo- -nos totalmente incapazes de promover, efetivamente, um desenvolvimento sustentável, deixando de lado nossa oni- potência de ‘espécie superior’ para vivermos em harmonia com a Terra e entre nós mesmos. Não conseguir desvenci- lhar progresso e degradação é como atear fogo à própria casa, com um detalhe significativo: estaremos dentro dela”. Essa conclusão deixa clara a ideia defendida pelo autor, questionando o modelo de progresso que temos adotado. Cria um antagonismo entre ciência e sociedade e, ao final, o uso de uma metáfora forte causa impacto em quem lê. 3. A PRODUÇÃO DO TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO As provas de redação dos principais exames vestibulares têm em comum duas características: solicitam a produção de um texto dissertativo e oferecem aos candidatos uma co- letânea de informações que podem ajudar a desenvolver o tema proposto. O primeiro desafio a ser enfrentado, portan- to, é a leitura e a interpretação dessas informações. Leitura e interpretação dos textos motivadores Para começar a tratar dessa questão, reproduzimos, a se- guir, um tema do vestibular da Fuvest. Texto I Vigilância epistêmica é a preocupação que todos nós deveríamos ter com relação a tudo o que lemos, ouvimos e aprendemos de outros seres humanos, para não sermos en- ganados, para não acreditarmos em tudo o que é escrito e dito por aí. É preciso vigiar o futuro para sabermos separar o joio do trigo**. Hoje boa parte dos sites de busca indexam tudo o que encontram pela frente à internet, mesmo que se trate de uma grande bobagem ou de evidente inverdade. Qualquer opinião emitida, vista como um direito de todos, é divulgada aos quatro cantos do mundo. De fato, alguns desses sites de busca deveriam colocar, nos primeiros lugares, páginas de re- nomadas Universidades, preocupadas com a verdade. Todos precisamos estar muito atentos a dois aspectos com relação a tudo o que ouvimos e lemos: • se quem nos fala ou escreve conhece a fundo o assunto, se é um especialista comprovado, se sabe do que está falando; • se quem nos fala ou escreve, na verdade, é um idiota que ouviu falar algo e simplesmente repassa, aos outros, o que leu e ouviu, sem acrescentar absolutamente nada de útil. Aumentar nossa vigilância e preocupação com a verdade é necessidade cada vez mais premente num tempo que to- dos os gurus chamam de Era da Informação. Discordo, profundamente, desses gurus. Estamos, na re- alidade, na Era da Desinformação, de tanto lixo e ruído sem significado que, na maior parte das vezes, nos são transmi- tidos, todos os dias, eletronicamente, sem que exista o me- nor cuidado com a precisão e seriedade do que se emite, por parte das fontes que colocam matérias na rede. É mais uma consequência dessa ideia que a maioria das pessoas tem so- bre a liberdade de expressar o que bem quiser, de expressar qualquer opinião que seja, como se opiniões não precisas- sem se basear no rigor científico, antes de serem emitidas. Stephen Kanitz, Revista Veja, 3/10/2007. (Adaptado.) Texto II O acesso à informação (em sua maioria, eletrônica) se tor- nou o direito humano mais zelosamente defendido. E aquilo sobre o que a informação mais informa é a fluidez do mundo habita- do e a flexibilidade dos habitantes. O noticiário – essa parte da informação eletrônica que tem maior chance de ser confundida com a verdadeira representação do mundo lá fora – é dos mais perecíveis bens da eletrônica. Mas a perecibili- dade dos noticiários, como informação sobre o mundo real, é em si mesma uma importante informação: a transmissão das notícias é a celebração constante e diariamente repetida da enorme velocidade da mudança, do acelerado envelheci- mento e da perpetuidade dos novos começos. Zygmunt Bauman. Modernidade Líquida. (Adaptado.) Texto III Lançada durante a 37a Conferência Geral da Unesco em outubro de 2007, a Biblioteca Digital Mundial (www.worlddigi- tallibrary. org) tem por principal objetivo promover o conheci- mento e a conscientização inter- nacional e intercultural, além de expandir o volume e a variedade de conteúdos na inter- net de forma a prover recursos a professores, pesquisadores e ao público em geral, num esforço para reduzir a exclusão digital. O projeto traz a digitalização de documentos, cartas, fo- tos e mapas apresentados nas seis línguas oficiais da ONU (inglês, francês, espanhol, árabe, chinês e russo), além do português. Instrução: Os textos apresentados trazem reflexões e notícias sobre o mundo digital. Com base nesses textos e em outras informações e ideias que julgar pertinentes, re- dija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, argumentando de modo claro e coerente. Análise dos textos motivadores I. Podemos afirmar que o primeiro texto, assinado pelo colunista Stephen Kanitz, tem função explicativa no conjun- to de dados apresentados? Por quê? Sim. Porque Stephen Kanitz discute, em seu texto, o risco de qualquer usuário da internet de se deparar com informa- ções falsas e os cuidados que deve ter ao pesquisar, o que é chamado pelo autor de “vigilância epistêmica”. As informa- ções apresentadas permitem ao leitor da prova da Fuvest a compreensão da natureza da reflexão que deverá fazer para desenvolver o tema proposto. II. Qual função o segundo texto desempenha com rela- ção ao tema? A notícia possui papel informativo no conjunto de dados oferecidos aos candidatos pela Fuvest. O texto contextualiza o lançamento do portal da Biblioteca Digital Mundial para que os candidatos possam entender o que está por trás do acesso a informações digitais que sejam idôneas e se mani- festem sobre isso. III. O terceiro texto traz novas informações sobre a ques- tão tematizada? Além de reforçar o que é dito no primeiro texto, o ter- ceiro apresenta novas afirmações que podem auxiliar o can- didato a compreender melhor qual deve ser o foco de sua reflexão. “O acesso à informação (em sua maioria, eletrônica) se tornou o direito humano mais zelosamente defendido”; “a transmissão das notícias é a celebração constante e dia- riamente repetida da enorme velocidade da mudança, do acelerado envelhecimento e da perpetuidade dos novos começos”. Essas afirmações despertam questões
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