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– ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Introdução: História do Implante: Substituir dentes perdidos por um artefato protético foi uma preocupação do homem desde os primórdios da história. Numerosas descobertas arqueológicas atestam esse fato ao longo de toda a história da humanidade e em todos os lugares. Os artefatos eram de origens variadas: mineral, animal e humana (Bremner, 1964; Ouvrard, 1987; McKiney, 1991). Seis períodos distintos caracterizam a evolução da implantodontia (McKinney, 1991): 1. (a. C. a 1000 d. C.): → As primeiras tentativas de implantação dentária foram realizadas na época das dinastias do Egito antigo e das culturas pré-colombianas. → Eram utilizados dentes de animais ou dentes esculpidos em Marfim. 2. (de 1000 a 1800): → Não havia dentistas, apenas os Barbeiros-cirurgiões; → Surgiram os transplantes de dentes de uma pessoa para outra. O transplante era realizado de um paciente para outro por barbeiros-cirurgiões. Os dentes eram retirados de indivíduos pertencentes às camadas sociais mais desfavorecidas. Entretanto, a partir do início do século XVIII, riscos de infecção e de contaminação bacteriana foram relatados. 3. (de 1800 a 1910): → Início da implantodontia endo- óssea; → Começaram a ser utilizados alguns materias: ouro, porcelana, madeira e metais (platina, prata, estanho); → O dente era retirado e voltava para a boca com esses materiais. 4. (de 1910 a 1930): → Percebeu-se que era possível realizar um alargamento do alvéolo com a ajuda de uma broca; → Usavam implantes em forma de “cestos” de ouro e porcelana; → Aguardava-se um período, chamado de osseointegração, e depois era feito a reabilitação (6 a 8 semanas); → Payne e Greenfield foram os precursores da implantodontia (início do século XX). Implantodontia História da implantodontia + Osseointegração – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Payne descreveu o implante de um cesto cilíndrico em ouro. Esse implante foi colocado no local após o alargamento do diâmetro do alvéolo com a ajuda de uma broca. Os espaços vazios foram preenchidos com uma goma. Uma coroa com um núcleo de porcelana foi fixada imediatamente na parte interna e côncava do implante 5. (de 1930 a 1978): → Surgiu o implante em vitálio (um material específico); → E o implante endodôntico. Três tipos de implantes foram aperfeiçoados: implantes endo-ósseos 1, implantes subperiosteais e implantes endo-ósseos 2. Implante endo-ósseo 1 ❖ 1946: Implantes espirais. Implante endo-ósseo 2 ❖ 1951: Implantes subperiosteais ou endo-ósseos. → O dentista precisava abrir um retalho na mucosa do paciente, rebatia e moldava. Esse molde ia para o laboratório e era feito o implante para ser colocado diretamente em cima do osso. Assim, era necessário abrir o paciente novamente para fazer a fixação do implante. Depois de um tempo, realizava- se a reabilitação com as coroas; → O problema desse tipo de implante era que com o tempo, ele provocava consideráveis desgastes ósseos (ocorria desgaste de osso com os movimentos mastigatórios). Implante subperiosteal Implante endodôntico ❖ 1962: implantes agulhados. – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Implante de Scialom Scialom foi o criador de um implante em tripé (modelo agulhado). As três partes do tripé se unem para suportar a prótese. ❖ 1967: Linkow – implantes de titânio. Em 1967, Linkow lançou o implante laminado, composto de titânio e, posteriormente, de liga de titânio. Esse implante foi muito utilizado até o fim dos anos 1980 Implante de Linkow – Laminado. OBS: Até então, ainda havia um grande problema de perda ósseoa ao redor dos implantes. A perda óssea é a principal causa de perda de implantes. Por conta dessa questão, havia insucesso a curto e médio prazo com todos esses tipos de implante. 6. (fim da década de 60): → Um médico chamado Branemark estudava a microcirculação sanguínea em tíbias de coelho, com câmeras de titânio; OBS: costumava utilizar antes as câmeras de aço, mas nesse período de guerra, o aço estava em falta. Então Brânemark começou a utilizar as câmeras de titânio. Ele colocava a câmera e depois a retirava para estudar como ocorria essa microcirculação sanguínea. → Ele percebeu, que ao utilizar o titânio, esse material se unia ao osso de uma forma que não era possível retirá-lo (com o aço era possível retirar, mas o titânio se integrava ao osso); → Diante dessa observação, Brânemark iniciou uma série de estudos; O metal e o osso se integravam perfeitamente, sem haver rejeição. – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto Com isso, Branemark trouxe o conceito de osseointegração. → = união anatômica e funcional direta entre o osso vivo remodelado e a superfície do implante. Brânemark et al., (1985) Anteriormente, com todos os materias citados acima não havia essa osseointegração. Havia muitas vezes uma , ao colocar o implante no osso, ao invés de haver osso nas roscas do implante havia um tecido conjuntivo fibroso. Por isso, esse implante não ficava tão fixo, tendia a ter mobilidade com o passar dos anos. Então, a descoberta da osseointegração foi muito importante, pois permitiu uma fixação maior do implante no osso. Esse tipo de interface permitiu uma alta taxa de sucesso a longo prazo (há implantes que ficam mais de 10 anos em boca). Corte histológico que mostra a diferença entre fibrointegração e osseointegração. Na primeira imagem, é possível observar um espaço entre o osso normal (tecido conjuntivo fibroso) e o implante, não há um íntimo contato. Nesse espaço vai entrar bactérias e saliva, fazendo com que o implante se perca. Na segunda imagem, realmente há a formação de tecido ósseo ao redor do implante (é o que se busca ao realizar a reabilitação com implantes). → Essa diferenciação só pode ser feita através de uma avaliação histopatológica. OBS: o implante se integra ao osso de forma que não é possível desrosqueá-lo. É necessário retirar o bloco ósseo. Nos casos em que ocorre fibrointegração, se for feita uma força o implante pode ser retirado. A imagem mostra uma osseointegração – o osso aderido às roscas do implante (uma neoformação óssea). → No período de Branemark, ele preconizava que no primeiro momento deveria ser colocado o implante dentro do osso, ocorrendo assim a osseointegração desse implante. E em um segundo momento seria feita a instalação da prótese (a reabilitação). 7. (1999): Estudos clínicos e em animais publicados no início dos anos 1990 demonstraram que a utilização imediata dos implantes também resultava em uma elevada taxa de osseointegração. • Brânemark publicou um artigo clínico com um novo sistema de implantes destinados à utilização imediata; • Um dente era retirado, colocava-se um implante e no mesmo momento colocava-se a coroa dentária – chama-se Fibrointegração Osseointegração – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto implantes com carga imediata (a depender de cada caso). Muitos fatores irão influenciar para a realização de um implante com carga imediata. Respostas ósseas que conduzem à osseointegração: Há várias formas de chegar à osseointegração: 1. Osteogênese: se tem a colocação de células vivas (como os osteoblastos) ao redor dos implantes – ocorre quando se coloca o implante no osso. Ao colocar o implante no osso, chegarãocélulas que o corpo já possui (osteoblastos), que são as células responsáveis pela neoformação óssea ao redor do implante. De forma geral, células vivas já prontas irão fazer a formação óssea. 2. Osteoindução: se tem células mesenquimais indiferenciadas, que a depender do estímulo, elas podem se diferenciar em algo que o corpo esteja precisando no momento. Ao causar o trauma dentro do osso colocando o implante, as células tronco do local são estimuladas a formar osteoblastos. E esses osteoblastos irão realizar a neoformação óssea. 3. Osteocondução: deseja-se fazer a manutenção de um arcabouço físico das partículas que facilitam a angiogênese e penetração das células (interconectividade). Isso ocorre nos casos de enxerto ósseo, que é um ósseocondutor. Resumindo se tem a formação de novos vasos, e com esses vasos há a chegada das células que serão responsáveis pela neoformação óssea. OBS: a reparação do tecido ósseo, é diferente da reparação do tecido mole. Feridas na pele, por exemplo, não reparam 100%, há uma diferença entre a pele que não foi lesionada e a pele lesionada. Diferentemente dos tecidos moles, a reparação óssea não produz tecido cicatricial quando ocorre em boas condições. Ao fim da sua cicatrização, o osso recém-formado não se distingue do osso preexistente. As células que participam da neoformação óssea são os osteoblastos e os osteoclastos. Elas são recrutadas a partir da medula óssea ou de células mesenquimatosas indiferenciadas da circulação sanguínea. Quatro condições necessárias à osseointegração: 1. Estabilidade primária: o implante, ao ser colodado dentro do osso, ele deve ficar estável e fixo (o implante não deve ficar folgado). Se ele não ficar bem aderido ao osso, haverá micro-movimentações ao redor desse implante e a osseointegração não ocorrerá de forma correta. 2. Presença de células adequadas: um implante recém colocado no osso (com estabilidade primária), terá ao seu redor a formação de um coágulo (sangue circulando) no primeiro dia. Haverá uma sinalização com citocinas/quimiocinas, que irão atrair novas células para esse local. Com 7 dias, observa-se a presença de construção de fibras de colágeno, – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto deposição de osteoblastos. Com 14 dias, há uma quantidade diminuída de hemácias e o início da formação do osso (processo de remodelação óssea). Com 30 dias, há uma estrutura óssea. São construídos também novos vasos ao redor do implante. Esse processo microscópico acontece sempre que um implante é colocado. Alguns fatores irão depender do material do implante. Essa deposição óssea ocorre de forma centrífuga – de dentro para fora (a primeira camada de osso formado é a que está totalmente em contato com o implante). O osso neoformado é mais maduro que o tecido osteoide. Isso acontece porque a parte mais próxima do titânio foi colocada primeiro, por isso amadurece primeiro. 3. Nutrição adequada dessas células: por isso, é importante a liberação de mediadores químicos que vão promover a angiogênese. Pois, a partir do momento que se provoca um trauma no osso, há o rompimento de vasos. Então é necessário que esses vasos se reconstruam e novos vasos possam ser construídos também (além dos que foram rompidos). É necessário que ocorra essa neoangiogênese, para que chegue cada vez mais células e essas células possam ser nutridas. 4. Ambiente biomecânico apropriado: é importante que haja o mínimo de trauma possível. Quando se tem uma micro-movimentação ao redor do implante, isso atrapalha a deposição óssea e a angiogênese. OBS: a resposta óssea ao redor de um implante varia conforme seu lugar de inserção (osso cortical x osso esponjoso). • Há uma classificação feita por Lekholm e Zarb (1985); ✓ Osso tipo 1 – osso mais compacto/denso; ✓ Osso tipo 2 e tipo 3 - osso normal/intermediário; ✓ Osso tipo 4 – osso de baixa densidade/esponjoso. 1 2 3 4 D4 D3 D2/D3 D1 – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto • Na região anterior da mandíbula – osso tipo 1; • Na região posterior da mandíbula – osso tipo 2/3; • Na região anterior da maxila – osso tipo 3; • Na região posterior da maxila – osso tipo 4. Fatores que influenciam a cicatrização óssea: 1. o osso intermediário (tipo 2/3) é melhor para a colocação de implante, pois favorece a formação de tecido ósseo. Isso acontece por conta do espaço maior nas trabéculas ósseas. Nessa região passam os vasos sanguíneos, e são eles que trazem as células responsáveis por reconstruir osso. Então, se há mais trabéculas ósseas, haverá mais vasos sanguíneos e consequentemente mais células responsáveis pela neoformação óssea estarão presentes. 2. é necessário uma irrigação adequada para não super aquecer o osso, pois temperaturas acima de 47º C favorecem a necrose celular (o que é desfavorável para a neoformação óssea). Essa necrose induz à formação de um tecido fibroso peri-implantar ao invés de uma osseointegração. 3. o material do implante deve ser biocompatível, os mais biocompatíveis conhecidos são: titâneo puro (graus 1-4), ligas de titânio (Ti grau 5), nóbio (Nb), tantálio (Ta) e Zircônio (Zr). OBS: é importante que os implantes possuam uma resistência elevada à corrosão. Tabela com os diferentes graus de titânio. OBS: quanto maior o grau, maior é a resistência à ruptura de implante. Então, hoje em dia, os implantes não são 100% de titânio (titânio puro), possuem maior facilidade de quebrar. O material mais adequado são as ligas de titânio de grau 5 (mistura de titânio e outros elementos). 4. um implante liso não é o ideal, pois ele não fica fixo e pode sair com facilidade. Um implante deve conter as roscas, pois são responsáveis por deixar o implante mais fixo ao osso. Elemento máximo (%) 1 2 3 4 5 N 0,030 0,030 0,050 0,050 0,050 C 0,100 0,100 0,100 0,100 0,080 H 0,015 0,015 0,015 0,015 0,015 Fe 0,200 0,300 0,300 0,500 0,500 O 0,180 0,250 0,350 0,500 0,200 Al - - - - 6,000 V - - - - 4,000 Resistência à ruptura (Mpa) 240 345 450 550 1000 Grau – ODONTOLOGIA UNINASSAU RN - @respirando_odonto A forma mais usual continua sendo o parafuso, sobre o qual dispomos do maior tempo de experiência. Sua funcionalidade e ausência de complicações clínicas durante três décadas está abundantemente demonstrada (Esposito et al., 1998). A presença da parte espiralada do parafuso, a rosca, Os implantes cilíndricos (sem espiral) apresentam um longo histórico de resultados positivos (Haas et al., 1996; Willer et al., 2003). Entretanto, uma reabsorção circunférica sob forma de craterização é com frequência relatada, particularmente quanto aos setores posteriores (Mersicske- Stern et al., 2001), onde as forças oclusais são mais elevadas. Ela se deve à sua incapacidade de distribuir adequadamente as forças no tecido ósseo. Diferenças anatômicas entre dente e implante: → Um implante, na verdade, não substitui o dente, pois ao ser colocado ocorre uma anquilose fisiológica. → Com a colocação de um implante, há: 1. Ausência do ligamento periodontal; 2. Ausência da inervação/ vascularização; 3. Ausência de propiocepção (ao morder um alimento, não da pra sentir se é algo mais duro ou mole como ocorre quando há a presença do ligamento). Por isso, se o implante for colocado em uma angulação errada, ele irá absorver cargas mastigatórias muito fortes; 4. A relação com o tecido mole é diferente (o tecido mole não se conecta ao implante). No dente, por exemplo, a gengiva de conectaatravés de fibras de colágeno. No implante, o tecido mole é colocado de uma forma que não há presença das fibras de colágeno, apenas epitélio. OBS: pelo fato do implante ficar anquilosado ao osso, não é possível desrosqueá-lo. Referências: Aula teórica de Implantodontia. Professora Clarisse Pereira de Brito. Faculdade Maurício de Nassau, Odontologia, 2022. DAVARPANAH, Mirthridate et al. Manual de Implantodontia Clínica: conceitos, protocolos e inovações. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora Ltda, 2013. 517 p.
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