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Dermatologia 1 � Dermatologia Manu Lamas (155 - UFMG) LESÕES ELEMENTARES Alterações básicas da pele que são usadas para descreverem o quadro dermatológico presente. Assim, permitem definir mais facilmente um diagnóstico ou pelo menos enquadrá-lo em um grupo de dermatoses. A descrição deve ser completa e conter informações importantes, tais como: - Localização, Tamanho, Número, Inserção ou base - Limites, Contorno, Margens, Forma - Cor - Consistência, Superfície, Textura São organizadas em cinco grupos: Apenas alterações de cor - máculas ou manchas Formações sólidas Formações líquidas Alterações de espessura Perdas teciduais ⇒ ALTERAÇÃO DE COR SEM RELEVO Máculas ou manchas: alteração da cor da pele sem nenhuma alteração do relevo Mácula < 1cm Mancha > 1cm Deve-se definir se limites bem ou mal definidos. Se bem, se as bordas são regulares ou não. Dermatologia 2 VASCULOSSANGUÍNEAS Eritema: cor vermelho róseo, ocorre por vasodilatação. Desaparece com digito ou vitrotopressão Cianose: eritema arroxeado, pela congestão venosa, associado à redução da temperatura local Enantema: eritema de mucosas Eritrodermia: eritema generalizado, geralmente em mais de 90% da superfície cutânea Lividez: cor pálida, pela diminuição do fluxo sanguíneo local, associada à redução de temperatura ⇒ Fenômeno de Raynaud: 1a fase - lividez, 2a fase - cianose, 3a fase - eritema. Anêmica: diminuição permanente da cor da pele, por defeitos da neuromodulação vascular Ao se fazer vitrotopressão da pele adjacente (a que tem sangue pra comprimir), sua cor iguala-se à da pele normal → alteração de pigmento não iguala Angiomatosa: alteração de cor vermelho vinhosa que ocorre pelo aumento do número de vasos ou vasodilatação permanente. Pode ou não desaparecer à digitopressão. Telangiectasias: dilatações lineares permanentes dos capilares, que tendem a desaparecer com digito ou vitropressão Aranha vascular: quando há um ponto central com ramificações Púrpura: lesão vermelha que ocorre pelo extravasamento de hemácias e não desaparece com digito/vitropressão. Muda de cor com o tempo (dias): vinhosa → arroxeada → azulada → enegrecida → verde-amarelada → amarronzada Dividida pelo tamanho em: Petéquias: puntiformes, menores do que 1cm de diâmetro Equimose: maiores do que 1cm PIGMENTARES Leucodermias: diminuição da cor. Mancha branca causada por ausência ou redução de melanina, subdividida em: Hipocromia: diminuição da cor (leite com pouquinho de café). Lesão mais clara do que a pele normal pela diminuição da quantidade de melanina Acromia: lesão branca causada por ausência completa da melanina no local Hipercromia: aumento da quantidade de pigmento (melanina, na maioria das vezes). Pode ocorrer por outros pigmentos, como hemossiderina Tonalidade depende da posição do pigmento Dermatologia 3 FORMAÇÕES SÓLIDAS Pápula: lesão sólida, circunscrita, elevada e menor do que 1cm de diâmetro Nódulo: lesão sólida, circunscrita, saliente ou não, de 1 a 3cm de diâmetro Tumor ou nodosidade: lesão sólida, circunscrita, maior do que 3cm de diâmetro Placa: lesão sólida, bem delimitada, em que a altura não é tão proeminente, geralmente menor que 1cm (de elevação!). A definição é mais pela altura que pelo diâmetro Vegetação: lesão sólida (por aumento das papilas dérmicas), com superfície sangrante e aspecto de couve-flor. Sangrante = não há hiperceratose na superfície Verrucosidade: lesão sólida de superfície dura, inelástica e branco amarelada. Também com aspecto de couve-flor, mas sem superfície sangrante (há hiperceratose na superfície) Urtica: formação sólida, eritematosa, edematosa (cor vermelho róseo) e crescimento centrífugo. Apresenta caráter efêmero, com cada lesão durando menos que 24h FORMAÇÕES LIQUÍDAS Vesículas: elevação circunscrita de 0,5 a 1cm de diâmetro com conteúdo líquido. Esse conteúdo pode ser: Claro = seroso Turvo = purulento Rubro = hemorrágico Pústula: vesícula (elevação circunscrita de 0,5 a 1cm de diâmetro) de pus. Associadas à infecção na maioria das vezes, mas podem ser estéreis (ex: psoríase) Bolha: elevação circunscrita de conteúdo líquido, maior do que 1cm. Divididas em: Superficiais (flácidas): ocorrem por clivagem intraepidérmica e se rompem facilmente Tensas: clivagem subepidérmica, mais difícil de romperem Abcesso: formação circunscrita formada por líquido purulento na pele ou tecidos subjacentes, com presença de sinais flogísticos Hematoma: lesão circunscrita formada por coleção de sangue na pele e/ou tecidos subjacentes. A superfície cutânea pode ser normal quando o hematoma for mais profundo. ALTERAÇÕES DE ESPESSURA Dermatologia 4 Ceratose: espessamento da pele por hiperceratose (aumento da camada córnea), tornando-a dura, inelástica, amarelada e áspera Liquenificação: espessamento da pele com acentuação de cor e de sulcos, proporcionando aspecto quadriculado e/ou aumento do brilho da lesão Edema: aumento da espessura da pele por extravasamento de plasma na derme e/ou hipoderme Infiltração: aumento da consistência e espessura da pele, por aumento das células inflamatórias ou neoplásicas. Pode haver proeminência das aberturas foliculares (aspecto de casca de laranja) Esclerose: aumento da consistência da pele, que se torna endurecida (aspecto de couro). Ocorre por fibrose do colágeno, dificultando o pregueamento da pele Atrofia: redução da espessura da pele, que se torna adelgaçada e apergaminhada (enrugada). Os vasos podem ser visualizados através da pele atrófica Cicatriz: tecido de reparação após trauma Atrófica cicatriz fina, pregueada Hipertrófica: cicatriz elevada com excessiva proliferação fibrosa, não ultrapassando os limites da lesão Queloide: cicatriz além do trauma que a originou, sem tendências de regressão espontânea PERDAS TECIDUAIS Escama: Lâminas epidérmicas que se desprendem da superfície cutânea. A escama é SECA, a crosta é úmida. Tipos: Furfurácea: fina, em pó Farinácea: um pouco maior, semelhante à farinha de milho Lamelar ou foliácea: em lâminas ou folhas Micáceas: brancas, solta-se em folha semelhante ao minério de mica, típica da psoríase (parece raspar vela) Colarete: escamas em volta da lesão, semelhante a colar Ictiosiforme: semelhante à escama de peixe Crosta: ÚMIDA. Resultante do ressecamento da serosidade (melicérica), pus (purulenta) ou sengue (hemática), misturada com restos epiteliais Erosão/exulceração: perda superficial da pele, atingindo apenas a epiderme, por isso, geralmente não deixa cicatriz, mas pode evoluir com alteração de cor. Fístula: pertuito ligando uma cavidade à superfície cutânea, pelo qual escoa substância líquida ⇒ ARRANJOS, FORMAS, CONTORNO E DIMENSÕES As lesões individuais podem apresentar uma forma especial e, quando múltiplas, confluir ou coalescer. Dessa forma, assumem um significado importante para o diagnóstico LESÃO EM ALVO TÍPICA: lesões com três círculos concênctricos, característica do eritema polimorfo Centro: eritematoso, purpúrico ou bolhoso Segundo halo: edematoso Halo externo: eritematoso Dermatologia 5 ATÍPICA: apenas dois halos. Centro purpúrico ou tender a resolução central Presente na síndrome de Stevens-Johnson, necrólise epidérmica tóxica e urticárias LESÃO ANULAR Lesão em forma de anel, centro de pele normal. Tende a ter resolução central, de crescimento centrípeto (começa com pápula e se expande) LESÕES ARCIFORMES Em forma de arco LESÕES FIGURADAS No mesmo paciente e mesma localização, formam desenhos diferentes. Estão presentes nos eritemas figurados CIRCINADA/POLICÍCLICA Lesões em círculos, sendo que as bordas podem ser formadas por semicírculos ou círculos que se unem LESÕES CIRCULARES Podem ter nomes diferentes, mas, segundo a videoaula, não tem grande importância entre eles Dermatologia 6 DISCOIDE: Forma de disco NUMULAR: Forma de moeda CIRCULAR FOLICULAR A distribuição das lesões coincide com as aberturas foliculares, que estão proeminentes GEOGRÁFICA Contorno irregular, como mapa geográfico Dermatologia 7 GOTADA/LENTICULARLesões em forma de gotas ou lentilhas PEROLADA Possuem um brilho fosco, que é o que confere o nome HERPETIFORME Lesões agrupadas em pequenos buquês, como ocorre no herpes simples Dermatologia 8 SERPENGINOSA Lesões em linha ou contorno sinuoso, como uma serpente Comum nas lesões da larva migrans IRIDIFORME Lesões em círculos concêntricos, como a íris dos olhos LINEAR Lesões em linhas Fenômeno de Köebner da psoríase e do líquen plano: surgimento de lesões lineares e geralmente secundárias ao trauma )apresentam-se similares às pré-existentes no local do trauma) Esporotricose: acompanhando o curso dos vasos linfáticos Linhas de Blaschko: nos mosaicismos cutâneos Dermatologia 9 RETICULAR OU RENDILHADA Lesões em rede ou em renda Ocorrem no livedo reticular, nas discromatoses reticuladas, eritema infeccioso, entre outras UMBILICADA Lesões com pequena depressão central Típicas do molusco contagioso e das dermatoses perfurantes LESÃO PUNTIFORME Dermatologia 10 ⇒ DISTRIBUIÇÃO DAS LESÕES ZOSTERIFORME Acompanham o trajeto de um dermátomo, em faixa Típico do herpes zoster, mas o hemangioma ou outros também podem aparecer assim Dermatologia 11 Dermatologia 12 LINHAS DE BLASCHKO Acompanham os somitos (distribuição embriológica). Geralmente lineares e algumas áreas lembram letras (tórax = U, perna = Y) LESÕES EM ÁREAS FOTOEXPOSTAS Padrão de distribuição com acometimento das regiões cutâneas expostas ao sol LESÃO SIMÉTRICA Padrão de distribuição no qual o acometimento dos dois lados do corpo ocorre de forma simétrica Dermatologia 13 LESÃO EM ÁRVORE DE NATAL As lesões acompanham as linhas da pele, especialmente no tronco, com arranjo que lembra árvore de natal. O maior eixo da lesão é “”triangular”” Comum na pitiríase rósea DISSEMINADA Lesões espalhadas em uma determinada área com pele normal entre as lesões DIFUSA Envolve grandes áreas cutâneas, sem áreas de pele normal NÚMERO DE LESÕES E EXTENSÃO DA DISTRIBUIÇÃO Localizada: lesão única ou lesões em pequeno número isoladas em uma determinada região Regional: acomete determinada região do corpo, como face, membros superiores ou inferiores, tronco Generalizada: atinge várias regiões cutâneas Dermatologia 14 Universal: comprometimento total da pele, incluindo couro cabeludo e anexos SÍNDROMES ECZEMATOSAS Eczema ⇒ na teoria, não é sinônimo de dermatite, mas, para nossa dermato, é sim (todo eczema é uma dermatite, mas o contrário não é válido). Eczema é um termo que engloba conceito morfológico, Agudo: eritema, vesículas (exsudação), pápulas, escamas e prurido (1a imagem) Subagudo: intermediário entre bolhas e liquenificação (2a imagem) Crônico: descamação, crostas, liquenificação (placas) e prurido (3a imagem) TIPOS DE DERMATITE Atópica Seborreica De contato DERMATITE ATÓPICA ETIOLOGIA Fatores genéticos + ambientais Prurido é o sinal cardinal Defeito na filagrina → defeito do manto lipídico que protege a pele, de modo que a pele se torna mais sensível e hiperreativa (essa é a base fisiopatológica para o tratamento) Deficiência da união celular, permitindo entrada de reagentes na pele FASES DA DERMATITE ATÓPICA ⇒ Fase do lactente (< 2 anos): Face, couro cabeludo e superfícies extensoras das extremidades Lesões preferencialmente agudas (podem ser subagudas ou crônicas) Área nasal poupada (na seborreica, é o acometido) Dermatologia 15 ⇒ Fase infantil (> 2 anos): Mãos, superfícies flexoras, regiões de dobra Lesões predominantemente crônicas ⇒ Fase adulta: Superfícies flexoras, periocular e mãos. Acomete grandes extensões da pele Comum na aréola mamária em mulheres bilateralmente (diagnóstico diferencial com câncer de Paget, caracterizado por eczema unilateral) Predominantemente crônico, com raros surtos de agudização. Geralmente melhora nessa idade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dermatologia 16 Alterações clínicas associadas: Pitiríase alba/Ceratose folicular: frequentemente confundida com micose, manifestação de atopia na pele, caracterizada por folículos mais proeminentes Ictiose vulgar Polpite (descascar ponta dos dedos), queilite (acometimento de lábios), coiloníquia (inversão da unha) Língua geográfica Dupla prega de Morgan na pálpebra inferior Poupa o triângulo central da face (importante no diagnóstico diferencial com dermatite seborreica) Dermatite perioral e periauricular A dermatite atópica é uma doença de elevada morbidade, afeta significativamente a qualidade de vida da criança e da família (criança coça muito, não dorme e não deixa ninguém dormir) TRATAMENTO Evitar ressecamento da pele → é uma das principais causas de prurido Hidratação constante (é medicamento!!): Preferência por hidratantes sem odor, perfume ou cor Aplicar depois do banho (regra dos três minutos com a pele ainda meio úmida) → evita que a água evapore Banho com água morna para fria, restringir banho, não usar sabão (apenas em axila e genitália), não usar buchas Controle do prurido: Anti-histamínico Dermatologia 17 Desloratadina (polaramine) → não tem efeito sedativo central Hidroxizime → bom para o controle da pele e é mais sedativo, o que é bom para acalmar a criança Evitar corticoide oral: orientar muito o paciente quanto aos riscos do corticoide (efeito rebote do croticóide) Controle da inflamação: Corticoide tópico Imunomoduladores (tacrolimos) Controle do S. aureus: Uma superpopulação de Staphylococcus piora o quadro de dermatite → recomendado uso de antibiótico por uma semana para controle dessa população, mesmo em uma criança não infectada É um recurso a mais de tratamento, feito em pacientes em crise Medidas educativas: Orientação quanto à cronicidade e não resolutividade da doença Surtos podem surgir de uma hora para a outra Preferência por roupas de algodão Evitar uso de amaciante Evitar pêlo de animal, grama Acolher a família, orientar e explicar Evitar proibições não fundamentadas, sem limitar a criança Outras alternativas Imunossupressores (ciclosporina): uso para pacientes em crise Fototerapia DERMATITE DE CONTATO TIPOS DE DERMATITE DE CONTATO Dermatite de contato por irritação primária: fenômeno químico, quantitativa (grau da alergia depende da quantidade de substância que a pessoa entrou em contato), esporádica, ocorre em qualquer faixa etária Dermatite de fraldas Dermatite de contato em mãos de pessoas que manuseiam muito produto químico Dermatologia 18 Dermatite de contato alérgica: fenômeno imunológico (hipersensibilidade tipo IV tardia ou celular - mediada por linfócitos T), qualitativa (o contato com a substância desencadeia a dermatite, independentemente da sua quantidade), permanente (uma vez alérgico, vai ser alérgico a vida inteira), rara em extremos etários ⇒ predominância de lesões eczematosas Níquel de orelha: dermatite de contato de alergia a brincos Dermatite de contato a esmalte (alergia a tolueno): caracterizada por eritema na pálpebra superior bilateral (a pessoa tende a colocar a mão nos olhos, onde a pele é sensível). Ou seja, áreas onde leva a mão Unha em gel (alergia a metametilacrilato) Por henna (parafenileno diamina) DIAGNÓSTICO História de dermatite após contato com alguma substância. Analisar profissão, hábitos e hobbies. A topografia, na maioria dos casos, revela a suspeita, assim como o formato Dermatologia 19 Teste de contato (patch teste): bateria padrão com 30 elementos Leitura com 48h e 96h - padrão ouro Resultado: negativo, IP (irritação primária), +? (reação duvidosa), + (eritema discreto, poucas pápulas), ++ (eritema intenso, pápulas e vesículas), +++ (eritema, edema e vesículas confluentes/bolhas) Interpretação do resultado: + Reação fraca, a positividade provavelmente desaparece nos próximos testes ++ e +++ Paciente sensibilizado ao alérgeno = dermatite de contato alérgico quando em contato COMPLICAÇÃO DE ERUPÇÃO VARICELIFORME DE KAPOSI: disseminação do herpesvirus em áreas de pele lesada (facilitado em pacientes com dermatite atópica). Exige cuidado imediato e até internação TRATAMENTOAfastar a causa, alérgeno ou irritante Uso de corticoides tópicos ou imunomoduladores (em pacientes com alergia no corpo inteiro) Uso de equipamentos de proteção, “luvas químicas” (cremes de silicone usados para formar uma barreira de proteção na pele que ajuda a evitar a dermatite de contato) Orientação do paciente Programa de Prevenção a Alérgenos de Contato (PPAC): site que separa os produtos que um paciente com dermatite de contato pode ou não usar. https://www.ppac.com.br/como_ppac_funciona Orientar sobre reações cruzadas DERMATITE SEBORREICA EPIDEMIOLOGIA Dermatose crônica e recorrente Picos em duas faixas etárias Forma infantil: no lactente (1° e 2° mês de vida, autorresolutiva, passagem de andrógenos maternos) Forma adulta: adolescente e adulto (crônica e recorrente) https://www.ppac.com.br/como_ppac_funciona Dermatologia 20 Muito comum, acomete 1 a 3% da população geral e até 80% dos HIV+ Associação com a levedura Malassezia ssp (da nossa colonização normal) Preferência por áreas ricas em glândulas sebáceas (couro cabeludo, face, porção superior do tronco, região retroauricular e dobras) Distribuição não homogênea nas diferentes áreas do corpo Palmas e plantas não possuem glândula sebácea MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: oligo ou assintomática (prurido pouco extenso) Áreas bem delimitadas, cor variando do rosa ao amarelado ao vermelho opaco ou brilhante (brilhante é raro) Escamas floculadas, graxentas nos adultos. Nos adultos, reconhecemos muito como a caspa Escamas espessas, aderentes, graxentas nos lactentes Preferência pelo triângulo central da face Tipos de lesões: micropápulas ou pústulas (não é muito comum, mas pode acontecer) Dermatologia 21 TRATAMENTO Orientar quanto à cronicidade da doença: medicação controla mas não cura, pois apresenta períodos de oscilação Redução da oleosidade: Cremes e shampoos de cetoconazol, ciclopirox, olamina, piritionato de zinco Fórmulas ceratolíticas Controle da inflamação: Corticoide tópico de baixa ou média potência Antifúngicos (pela participação da Malazezia furfur) Controle de medicamentos que podem piorar o quadro (como corticoides orais, vit B, suplementos alimentares, whey protein) Dermatologia 22 INFECÇÕES BACTERIANAS DA PELE IMPETIGO CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS Piodermite causada por cocos gram positivos em separados ou em associação: Streptococcus pyogenes (beta-hemolítico do grupo A) e Staphylococcus aureus (coagulase positivo) Acomete principalmente crianças (66% em < 8 anos), com resolução espontânea em 2~3 semanas Sintomas constitucionais raros, Infecção localizada Febre 12%, Linfadenomegalia reacional 60% → linfonodo maior, doloroso, móvel, consistência fibroelástica, Leucocitose 50% ⇒ INFECÇÃO POR STREPTOCOCCUS PYOGENES: incomum antes dos 2 anos Laboratório: cultura (padrão ouro), aglutinação pelo látex (rápido, mas não serve para pele), antiestreptolisina O (não serve para infecções cutâneas), Anti-DNA-ase B (sensibilidade alta, especificidade baixa) Disseminação: Pele normal → pele lesada → orofaringe Afastar a criança até 48h de início de tratamento Complicações → mais comuns após faringite e menos comum após infecção de pele Da infecção cutânea: glomerulonefrite Latência 18 a 21 dias Tratamento não evita a ocorrência (cepa nefritogênica - tratamento só evita disseminação) 1 a 5% dos casos de impetigo evoluem para glomerulonefrite Faringite ou tonsilite: febre reumática e glomerulonefrite ⇒ INFECÇÃO POR STAPHYLOCOCCUS AUREUS Encontrado em todas as idades Não é habitualmente natural da pele, mas o estado de portador pode ocorrer Narinas 35%, Períneo 20%, Axilas e entre os dedos dos pés 5-10% Pacientes com dermatite atópica 90% Disseminação: Narinas → pele lesada → lesão cutânea Contaminação pelas mãos, fômites, contato com outras crianças Toxinas esfoliativas (epidermolíticas) - A, B, C, D Proteases séricas com alta especificadade para desmogleína 1 humana (presente nos desmossomos) Toxina A (impetigo bolhoso) e B (síndrome pele escaldada) Provocam separação epidérmica, causando fenda na camada granular Sd pele escaldada: febre, mal estar, letargia, falta de apetite + erupção cutânea (eritema com bolhas grandes, flácidas, descamativas) + não acomete mucosas Neonatos principalmente - crianças maiores e possível associação com anticorpos Dermatologia 23 Toxina C - não associada a infecções em humanos Toxina D - associada principalmente com furúnculos e abcessos → IMPETIGO BOLHOSO: Staphylococcus aureus (agente quase universal) - toxina A Vesículas e bolhas, líquido claro ou turvo, pouco eritema ao redor, arranjo policíclico Rompimento com exulceração (base brilhante, eritematosa e úmida) → forma um colarete Palmas, plantas e mucosa oral podem estar envolvidas Linfadenomegalia menos comum Duração de 2-3 dias Importante no período neonatal Complicações: em geral, ausência de sintomas sistêmicos. Mas pode levar raramente à febre, fraqueza e diarreia e, incomum, mas severo, meningite e pneumonia. Diagnóstico diferencial: síndrome da pele escaldada (estafilococcemia) → IMPETIGO CROSTOSO: a partir de 1980, predominância de S. aureus Pele normal ou sobre dermatose prévia Dermatologia 24 Staphylococcus aureus sozinho ou em associação com o Streptococcus pyogenes (80% dos casos) Não é comum em < 2 anos Linfonodomegalia regional Crosta mericérica TRATAMENTO CUIDADOS GERAIS Limpeza das lesões, com sabões (antissépticos? Sem estudo mostrando superioridade) Uso de compressas se lesões exsudativas Antibióticos tópicos: padrão ouro tópico impetigo = Ác. Fusídico + Mupirocina Mupirocina: ≥ eficácia do que cefalexina, bacitracina e eritromicina 2 a 3x por dia, 5~14 dias Seguro em crianças > 2 meses, e B na gestação Ác. Fusídico, creme a 2% Não é eficaz contra gram- Neomicina + Bacitracina: não deve ser escolhida Neomicina: Risco de dermatite de contato, pouco eficaz contra estreptococos e não erradica S. aureus Bacitracina: eficaz contra estafilo e estrepto TRATAMENTO SISTÊMICO Indicações Acometimento de estruturas mais profundas Febre Linfadenomegalia Faringite associada Infecções próximas da boca Infecções do couro cabeludo: a cicatriz deixada pelo impetigo pode deixar área de alopécia cicatricial Lesões numerosas (> 5 lesões) e quadro extenso Opções de antibióticos: Penicilinas resistentes à penicilinase (oxacilina, cloxacilina, dicloxacilina) → não disponíveis no nosso meio na apresentação oral Dermatologia 25 Penicilina Benzatina não é indicada (não resistente) Cefalosporinas de 1ª geração → cefalexina e cefadroxil Amoxicilina + clavulanato Intoxicação importante com teofilina, carbamazepina, terfenadina ou astemizol, Roxitromicina, azitromicina e claritromicina Impetiginização ou impetigo secundário: complicação comum de doenças cutâneas que rompem a barreira cutânea ou de doenças sistêmicas que provocam imunossupressão ECTIMA Lesão mais profunda que o impetigo, invadindo a derme média e profunda Processo iniciado por estreptococos, mas os estafilococos também podem ser isolados. Desencadeado por traumas, picadas de inseto, baixas condições higiênicas Mais frequente nas pernas Evolui para cura, deixando cicatrizes (quanto mais produnda a lesão, maior a cicatriz que vai ficar) Complicações e tratamento semelhantes ao impetigo CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS Infecção do aparelho pilossebáceo Agente: S. aureus Áreas de maior atrito ou com maior transpiração (face, pescoço, axilas, nádegas, parte inferior do abdome) Mais comum em adolescentes e adultos jovens Reação inflamatória intensa com material necrótico (carnegão) Antraz: dois ou mais furúnculos . TRATAMENTO Calor local úmido Dermatologia 26 Antibioticoterapia tópica: mupirocina na lesão e embaixo das unhas Indicações de antibioticoterapia sistêmica: celulite, febre, lesões múltiplas ou recorrentes Indicações de drenagem cirúrgica: lesões extensas, flutuantes, com grandes áreas de necrose Tem que esperar a lesão flutuar para poder drenar FOLICULITE,CARBÚNCULO E ABCESSO FOLICULITE SUPERFICIAL X FOLICULITE PROFUNDA Infecção bacteriana dos folículos pilosos Agente mais comum: S. aureus Tipos: Nível de camada córnea e epiderme = foliculite superficial Hódeolo: quando ocorre nas pálpebras (glândulas que produzem a camada lipídica do filme lacrimal) Vestibulite nasal: ocorre na parte interna do nariz Pseudofoliculite: inflamação folicular e perifolicular secundária à reação de corpo estranho pela entrada das pontas dos pelos dentro da pele, após qualquer processo de depilação Complicações: cicatriz hipertrófica, queloide, pigmentação pós-inflamatória Acomete também bulbo piloso, derme profunda = foliculite profunda (furúnculo) ⇒ infecção do aparelho pilossebáceo → reação inflamatória intensa leva à formação de abcesso com acúmulo de pus e material necrótico Agente: S. aureus Mais comum em adolescentes e adultos jovens Áreas de maior atrito ou com maior transpiração DD: com miíase furunculóide (secreção líquida no centro, pela presença da larva) CARBÚNCULO Dermatologia 27 Coleção de folículos pilosos adjacentes, infectados, coalescentes, formando um nódulo (antraz é um nome errado de tradução) FURUNCULOSE DE REPETIÇÃO FURUNCULOSE DE REPETIÇÃO: 3 ou + surtos por ano Pacientes de risco - colonização pelo S. aureus (geralmente MSSA ou MRSA) Uso de imunossupressores, drogas, AIDS, neoplasias, hemodiálise Diabéticos (glicemia de jejum, hemoglobina glicada) HF + para furúnculos, obesidade Deficiência da função de neutrófilos ou imunoglobulinas, Neutropenia cíclica (hemograma) Deficiência de ferro (ferritina, ferro sérico) Higiene precária, hiperhidrose Conduta Cultura com antibiograma para orientação terapêutica Penicilinas resistentes à penicilinase (não disponíveis orais no BR) Cefalosporinas de 1a geração Amoxicilina + clavulanato Para MRSA: Clindamicina, bacrtrim, fluorquinolonas (cipro), vancomicina, linezolida Uso de sabonetes antissépticos Antibióticos com cobertura para S. aureus (meticilino resistentes ou sensíveis, importante avaliar) Prevenção de colonização (pacientes e familiares): mupirocina tópica nas narinas, embaixo das unhas, nas axilas, região perineal (que são mais frequentemente colonizadas pelo Staphylococcus) Mupirocina tóxica: 2x/dia por 5~10 dias, nas narinas Banho de clorex 4% 5~10 dias Clorex oral em bochechada 3x ao dia Dermatologia 28 ABCESSO Coleção de pus. TRATAMENTO Drenagem indicada (impede chegada de antibiótico) Terapia antb aumenta chance de cura e diminui recorrência (oral em não complicados, venoso nos graves) HANSENÍASE CARACTERÍSTICAS Infecção crônica causada por M. leprae e M. lepromatosis Acomete pele e nervos periféricos Grande potencial de incapacitação → sobretudo por lesões neurais que geram deformidades Gera características de doenças sistêmicas nas formas multibacilares Pode cursas com doença imunológica associada Doença de notificação compulsória semanal EPIDEMIOLOGIA Locais endêmicos no Brasil: aglomerados aumentam incidência Índia, Indonésia, Brasil maior parte do mundo Norte e CO com os clusters DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA HANSENÍASE: Definição de caso (notificação e tto): Lesão de pele com alteração de sensibilidade OU Acometimento de nervo periférico, com espessamento e alteração funcional OU Baciloscopia positiva de esfregaço dérmico Clínico e epidemiológico: anamnese, exame físico e dermatoneurológico Dermatologia 29 Classificação operacional pelo número de lesões Paucibacilar (PB): até cinco lesões de pele Multibacilar (MB): acima de cinco lesões de pele Baciloscopia Positiva: classifica o caso como multibacilar Negativa: não exclui o diagnóstico de hanseníase e não modifica a classificação Outros exames: biópsia de pele Forma multibacilar: FAN, VDRL falso positivo Reação tipo II: leucocitose com neutrófilos, trombocitose, aumento do PCR, IgG e IgM AGENTE ETIOLÓGICO Mycobacterium leprae Parasita intracelular obrigatório Alta infectividade e baixa patogenicidade → muitas pessoas entram em contato com o bacilo, mas poucas desenvolvem a doença Tropismo pelos macrófagos e células de Schwann TRANSMISSÃO Reservatório → homem Transmissão via respiratória - gotículas de saliva Pacientes multbacilares e sem tratamento são os principais transmissores Rifampicina (600mg dose única) elimina 99,99% dos bacilos na via respiratória → ou seja, diminui a transmissão PATOGÊNESE Padrão Th1 (IL-2, IF-gama) → forma tuberculoide = maior imunidade celular Poucas lesões, delimitadas Poucos BAAR Granuloma tuberculoide Dermatologia 30 Padrão Th2 (IL-4, IL-10) → forma virchowiana = imunidade humoral (baixa imunidade celular) Muitas lesões, mal delimitadas Baciloscopia com maior chance de positivação AVALIAÇÃO DA PERDA DE SENSIBILIDADE Sensibilidade Térmica → tubo de ensaio com água quente e água fria Sensibilidade dolorosa → testar com a ponta do alfinete Sensibilidade tátil → ponta de algodão AVALIAÇÃO DE NERVOS Cervical: auricular e facial MMSS: ulnar, mediano, radial MMII: fibular, tibial CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DA HANSENÍASE SEMIÓTICA COMPLEMENTAR: pcts com dificuldade de informar sobre sensibilidade Provas de histamina → feito na pele normal e na pele com lesão suspeita - Tríplice reação de Lewis - Hanseníase → tem pápula eritematosa mas não tem halo eritematoso pois não tem inervação reflexa para vasodilatação Prova de pilocarpina → maizena na lesão e área normal - Hanseníase → não fica roxo pois não tem inervação para estimular glândulas sudoríparas (roxo = negativo) Dermatologia 31 FORMA INDETERMINADA Forma inicial da doença, podendo evoluir para outras formas (virchowiana, dimorfa, tuberculóide) Poucas lesões, bem delimitadas Manchas hipocrômicas levemente eritematosas, com áreas hipoestésicas Decorrente da lesão de ramúsculos cutâneos Exames: Baciloscopia negativa (BAAR -) → paucibacilar Reação ID Mitsuda + ou - (semelhante ao PPD) Evolui para outras formas da doença, para cura ou para estabilidade DD: manchas hipocrômicas de longa duração (Pitiríase alba, micose fungoide hipocromiante) FORMA TUBERCULOIDE: PB com lesão única ou 2-5 lesões Associada a alta imunidade celular 2-4 vezes maior o risco de transmissão 5-10 anos de evolução para desenvolvimento da forma clínica Predomínio de Th1 Placas, pápulas, cor da pele, eritematosas, escuras, bem delimitadas, com alteração de sensibilidade. Poucas lesões. Lesão do nervo pode ser a única manifestação (Hanseníase neural primária) Laboratório: BAAR - ; Mitsuda + Pode evoluir para cura, estabilidade DD: dermatoses circinadas ou eritematosas (sarcoidose, sífilis secundária, granuloma anular) Dermatologia 32 FORMA BORDERLINE OU DIMORFA Placas, pápulas, cor da pele, eritematosas, violáceas, ferruginosas, lesões foveolares (borda interna bem delimitada e borda externa mal delimitada), áreas de infiltração. Muitas lesões, bem delimitadas ou não Dano neural precoce e intenso (pode ser única manifestação) Exames: basicamente, o que Deus quiser que seja (tende à positividade, por ser multibacilar) Mitsuda + ou - BAAR + ou - Evolui conforma instabilidade imunológica DD: micose fungoide, urticária, sequelas de HZV (sequela neural) FORMA VIRCHOWIANA: MB acima de 5 lesões Associada a alta imunidade humoral 8-10 vezes maior o risco de transmissão 2-5 anos de evolução para desenvolvimento da forma clínica Dermatologia 33 Manchas eritematosas, pápulas, nódulos, tubérculos, infiltração, madarose (perda de cabelo e cílio). Muitas lesões, mal delimitadas, multibacilar Dano neural: progressivo, simétrico, tardio Comprometimento de órgãos internos (medula, fígado); comprometimento de olhos, testículos, VAS, mucosa oral Face leonina → diagnostico diferencial com micose fungoide (ou linfoma cutâneo de células T) Laboratório mais específico: BAAR + Mitsuda - Evolui com cronicidade DD: lobomicose, queloide, NF REAÇÕES DA HANSENÍASE Complicações inflamatórias agudas que frequentemente se apresentam como emergência médica (riscode dano neural) no cursa da haseníase tratada ou não) REAÇÃO DO TIPO I OU REVERSA = imunidade humoral Inflamação aguda da pele, nervos periféricos ou ambos. Característica do grupo dimórfico. Doença crônica Clínica Piora de lesões pré-existentes ou novas (maior eritema, infiltração, edema) Máculas → placas, passam a ulcerar e descamar Neurite → piora da lesão do nervo, maior calibre nervoso Silenciosas → altera função Sistêmico: edema extremidades, face, febre, adinamia DD: Erisipella, farmacodermia REAÇÃO TIPO II OU ERITEMA NODOSO HANSENICO = hanseníase virchow Inflamação aguda sistêmica e ou de pele - eritema nodoso Pápulas e nódulos eritematosos, disseminação simétrica, surtos em intervalos curtos → caráter bolhoso ou ulcerado Recorrência, doença crônica Não modifica lesões pré-existentes Dermatologia 34 Espectro hanseníase, com patogênese pouco conhecida → Síndrome de imunocomplexos Ativação de imunidade celular: Participação de TNF-alfa Clínica Comprometimento sistêmico generalizado Nódulos eritematosos dolorosos Neurites, orquiepididimites, uveítes, espisclerite, ite em tudo que é canto, até importante DD: Eritema nodoso clássico (tamanho, localização, ciclo e duração) - tuberculose e sarcoidose TRATAMENTO E PROFILAXIA ESQUEMA TERAPÊUTICO PARA PAUCIBACILARES → 6 doses em até 9 meses Adulto Mensal: Rifampicina: dose mensal de 600mg + Dapsona: dose mensal de 100mg + Clofazamina com administração supervisionada Diária: Dapsona dose 100mg autoadministrada e Clofazamina ESQUEMA TERAPÊUTICO PARA MULTIBACILARES → 12 doses em até 18 meses Adulto Mensal: Dapsona + Rifampicina + Clofazimina Diária: Dapsona + Clofazamina ESQUEMA TERAPÊUTICO PARA REAÇÕES Reação tipo I → prednisona 1-2mg/kg/dia Reação tipo II Talidomida 100-400 mg/dia (eritema nodoso leve a moderado) Predinisona 1-2 mg/kg/dia (neurites, manifestações graves, quando há contraindicação de talidomida) PROFILAXIA → exame dos contatos 1x ao ano por até 5 anos do diagnóstico Exame de pele e nervos → palpação, função sensitiva, motora e autonômica Vacina de BCG Sem cicatriz ou 1 cicatriz = 1 dose 2 cicatrizes = não recebe doses Quimioprofilaxia: dose única de rifa (a ser implementado)
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