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P L A N E J A M E N T O IN S T IT U C IO N A L A N A M A R IA S O E K Código Logístico 59771 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-65-5821-003-0 9 7 8 6 5 5 8 2 1 0 0 3 0 Planejamento Institucional Ana Maria Soek IESDE BRASIL 2021 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: graphixmania/a Sk/Rashad Ashur/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S664p Soek, Ana Maria Planejamento institucional / Ana Maria Soek. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2021. 82 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-003-0 1. Planejamento educacional. 2. Escolas - Organização e administra- ção. 3. Gestão da qualidade total na educação. I. Título. 21-68625 CDD: 371.2 CDU: 37.091 Ana Maria Soek Doutoranda e mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico pela UFPR, em Neuropsicologia pelo Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão (IBPEX) e em Educação a Distância pela Faculdade Internacional (Facinter). Graduada em Pedagogia pela UFPR. Atua na orientação de carreiras e em cursos de pós-graduação em Educação com temáticas da área de Educação de Jovens e Adultos, educação de adultos ao longo da vida, coaching e desenvolvimento pessoal e profissional. Autora e editora de livros didáticos e paradidáticos e de materiais para ensino a distância (EaD). Autora organizadora da coletânea Mediação Pedagógica na Educação de Jovens e Adultos. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 9 1.1 Planejamento institucional: conceitos básicos 10 1.2 Dimensões do trabalho coletivo 19 1.3 Conceitos de gestão escolar e gestão democrática 22 2 Planejamento estratégico institucional 27 2.1 Sujeitos da escola 28 2.2 Planejamento participativo 34 2.3 Cultura escolar, currículo e qualidade no ensino 37 3 Integração entre planejamento e avaliação institucional 45 3.1 Avaliação institucional 46 3.2 Sistemas de avaliação 49 3.3 Diagnóstico, marco referencial e programação 54 4 Autonomia e identidade institucional 60 4.1 Conceito e concepção de projeto político-pedagógico 61 4.2 Escola, comunidade e diversidade 69 4.3 Construindo a identidade da escola 72 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Você já parou para pensar que, para tudo que vamos fazer, precisamos de planejamento? Seja uma lista de compras ou uma organização mais detalhada de uma viagem ou de uma festa, por exemplo. Os mais céticos dirão “eu não planejo, deixo a vida me levar!”, mas até nisso há um plano, que é “deixe a vida me levar!”. E quando planejamos, sentimos a necessidade eventualmente de avaliar, reavaliar ou replanejar, conforme necessidade. Em uma das passagens mais emblemáticas do clássico literário Alice no País das Maravilhas, Alice pergunta ao gato qual caminho ela deve seguir. Ele responde que isso depende do lugar para onde ela quer ir. “Mas eu não sei para onde quero ir”, responde Alice. “Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve!”, completa o gato. Esse diálogo traduz bem o que deve ser a essência para se falar de planejamento. Se você não sabe o que planejar e qual caminho seguir, qualquer um vai servir! Esta obra versa sobre o planejamento institucional, desde o planejamento estratégico e participativo, os princípios de gestão democrática, os valores, a missão e os objetivos das instituições, além da avaliação de forças e de fraquezas, até o replanejamento, quando necessário. Por voltada à gestão escolar, esta obra perpassa pelo setor de educação no Brasil: os princípios de autonomia e de identidade escolar, a gestão democrática e o projeto político-pedagógico. Perpassa também a inter-relação entre políticas educacionais e planejamento institucional, imagem, planejamento e visão de futuro da instituição. Além disso, é igualmente necessário falar de avaliação institucional, de plano de desenvolvimento da instituição escolar diante dos indicadores e de sistemas de monitoramento de avaliações externas e internas, de modo a monitorar, a reavaliar, a planejar e a replanejar continuamente. APRESENTAÇÃOVídeo 8 Planejamento Institucional Para planejar é preciso saber aonde se quer chegar e, no caso do planejamento institucional, saber o que se propõe e aonde se quer chegar é o marco referencial para iniciar qualquer projeto, atividade e missão. É preciso ter os objetivos bem claros! É disso que trata esta obra. Desejamos que este conhecimento seja importante para sua formação. Bom estudo! Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 9 1 Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento Neste capítulo trataremos de uma forma exclusiva do pla- nejamento institucional, o qual envolve uma instituição ou os objetivos de um coletivo. Planejar é uma ação inerente aos seres humanos. Estamos sempre planejando algo. Planejamos aonde vamos, o que vamos fazer e o que vamos comer. Também viagens, compras, casa, carreira, família etc. Seja qual for o âmbito, pessoal ou institucio- nal, uma coisa é certa: quando falamos de planejamento, preci- samos ter clareza de onde queremos chegar. O objetivo deste capítulo é fazer com que você entenda as concepções e os conceitos básicos de planejamento e de plano de ensino, seus princípios epistemológicos e pedagógicos, suas funções e seus níveis de utilização no contexto educacional, bem como os limites e as possibilidades do trabalho coletivo dentro da ideia de gestão democrática. Para tanto, vamos abor- dar o que é planejamento, a articulação entre planejamento e a avaliação institucional, o planejamento escolar na legislação educacional e seus subsídios para a prática pedagógica nas dimensões do trabalho coletivo, e os conceitos e os princípios relacionados à gestão escolar e à gestão democrática. Ph ot o_ DD D/ Sh ut te rst oc k 1.1 Planejamento institucional: conceitos básicos Vídeo Planejar ou fazer planos faz parte da vida de qualquer pessoa. Mas e quando o planejamento deve ser macro? Quando envolve a vida de mais de uma pessoa ou de muitas pessoas? Quando passa a ser instituciona- lizado? De que forma de planejamento estamos falando quando se trata de instituições com finalidades educacionais? E para você, o que é planejar? Como você definiria planejamento? No âmbito específico da área educativa, vamos tratar do que é um planejamento maior dentro da ideia de planejamento institucional: o pla- nejamento pedagógico. O que caracteriza essa forma de planejamento, que traz em seu cerne ser intencional, sistematizada, com vias à forma- ção de algo ou alguém? Quais variáveis perpassam pelo planejamento das instituições educacionais no Brasil da atualidade? A legislação que rege e regulamenta as instituições educacionais no Brasil, em seus níveise suas modalidades de ensino, é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/1996. Nela são apresenta- dos os conceitos básicos da educação nacional bem como as concepções e os princípios educacionais desde a educação básica (que abrange a educação infantil, o ensino fundamental, o ensino médio e suas diferen- tes modalidades) ao ensino superior. Para melhor entender esses conceitos basilares, exploraremos a ideia de planejamento institucional com base na legislação educacional, no contexto de redemocratização, ao trabalharmos os ideais de gestão democrática, apresentando inicialmente o conceito de planejamento, suas funções, seus níveis de utilização na educação e seus subsídios para a prática pedagógica. Vasconcellos (2010, p. 35) afirma que planejar é “an- tecipar mentalmente uma ação a ser realizada, é agir de acordo com o previsto, é buscar algo incrível, essencial- mente humano: o real comandado pelo ideal”. Já na concepção de Souza et al. (2005, p. 4): em virtude da complexidade cada vez maior atribuída à tarefa de educar, a necessidade do Para mais informações, você pode ler na íntegra a Lei n. 9.394/1996 no link a seguir. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ l9394.htm. Acesso em: 8 dez. 2020. Leitura 10 Planejamento Institucional http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 11 planejamento impõe-se como ação imprescindível. Planejar im- plica em pelo menos três movimentos: que se tenha clareza de onde se quer chegar; que se consiga dimensionar a que distância se está desse ponto de chegada; e que se defina o que se deve fazer para diminuir essa distância. A ação de planejar envolve: aS ha til ov / S hu tte rs to ck Organizar Sistematizar Prever Decidir No contexto educacional, consiste em: Ato pedagógico Ato político Sam arets/Shutterstock A forma como planejamos está atrelada à nossa visão de mun- do, com seus limites e suas possibilidades. Do mesmo modo, nas instituições escolares, ao concebermos um planejamento, es- tão implícitos determinados posicionamentos epistemológicos e pedagógicos. Existem várias correntes e tendências pedagógicas. No Qua- dro 1 as apresentamos junto de algumas definições e abordagens com base no estudo de Mizukami (1986) sobre as abordagens do processo de ensino, no qual o autor investiga como os professores veem as tendências pedagógicas. Cada abordagem vai defender uma concepção de educação e uma visão de mundo e de forma- ção. Ao definir as estratégias educativas em um ato de planeja- mento pedagógico, notamos como as visões que perpassam por essas escolhas e tomadas de decisão vão envolver igualmente um posicionamento político, uma visão de mundo e um ideal do que se quer formar. Para compreender o que significa planejar e para diferenciar uma ação intencional planejada de uma não planejada, assista ao curta-metragem Ormie, the pig, publicado pelo canal movie anima- tion. Nele são detalhadas as peripécias de um porquinho para atingir sua meta. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=BjGR1rk_ C0U. Acesso em: 8 dez. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=BjGR1rk_C0U https://www.youtube.com/watch?v=BjGR1rk_C0U https://www.youtube.com/watch?v=BjGR1rk_C0U 12 Planejamento Institucional Qu ad ro 1 Co m pa ra tiv o da s te nd ên ci as p ed ag óg ic as n o pr oc es so d e en sin o- ap re nd iza ge m Ab or da ge ns Tr ad ici on al Co m po rta m en ta l Hu m an ist a Co gn iti vi st a So cio cu ltu ra l En si no -a pr en di za ge m Co ns id er ad o um m od el o a se r s eg ui do , n o qu al a ap re nd iz ag em é p ad ro - ni za da . En si no e nt en di do c om o ve rd ad ei ro , c en tr ad o no pr of es so r. Pr in ci pa l r ep re se nt an te : G eo rg es S ny de rs . En si no p ro gr am ad o. A ap re nd iz ag em é ig ua l à m ud an ça d e co m po rt a- m en to . Ta m bé m d en om in ad o be ha vi or ist a. O c om po rt am en to h um a- no p od e se r m od el ad o e re fo rç ad o po r m ei o de re co m pe ns as e c on tr ol e. Pr in ci pa l r ep re se nt an te : Fr ed er ic S ki nn er . En si no fo ca do n o al un o. Ê nf as e na s re la çõ es in te rp es so ai s, na v id a ps ic ol óg ic a e em oc io na l. O p ro fe ss or é um fa ci lit ad or . A ap re nd iz ag em a d- vé m d as e xp er iê nc ia s do a lu no . Pr in ci pa is re pr es en - ta nt es : C ar l R og er s, Al ex an de r N ei ll e Er ic h Fr om m . Ên fa se n os p ro ce ss os co gn iti vo s e na ca pa ci da de d o al un o de in te gr ar in fo rm aç õe s e pr oc es sá -la s. E ns in o co m b as e no e ns ai o e no er ro . A pr en de r s ig ni fic a as si m ila r o o bj et o a es qu em as m en ta is . Ab or da ge m es tr ut ur al is ta e in te ra ci on is ta . Pr in ci pa is re pr es en ta n- te s: Je an P ia ge t, Je ro m e Br un er e H en ri W al lo n. En fa tiz a as pe ct os só ci o- po lít ic o- cu ltu ra is , pr eo cu pa nd o- se c om a cu ltu ra p op ul ar . Ed uc aç ão p ro bl em at iz a- do ra . O d iá lo go e o s gr up os d e di sc us sã o sã o es se nc ia is pa ra a a pr en di za ge m . Pr in ci pa is re pr es en ta n- te s: L ev V ig ot sk y e Pa ul o Fr ei re . Re la çã o pr of es so r/ al un o Re la çã o ve rt ic al , n a qu al o pr of es so r d et ém o po de r d ec is ór io s ob re a m et od ol og ia , o c on te úd o e a av al ia çã o. O p ro fe ss or é o a ge nt e, e o al un o é o ou vi nt e, re ce pt or p as si vo . Tr an sm is sã o do p at rim ô- ni o cu ltu ra l. O p ro fe ss or te m a re s- po ns ab ili da de d e pl an ej ar e de se nv ol ve r o s is te m a de e ns in o- ap re nd iz ag em : co nt ro la r o s pa ss os , os p er cu rs os . C ab e ao al un o a ca pa ci da de d e ap re nd er . A ên fa se é d ad a à pr og ra m aç ão e à in st ru çã o pr og ra m ad a. O p ro fe ss or é u m a pe rs on al id ad e ún ic a, qu e as su m e a fu nç ão de fa ci lit ad or d a ap re n- di za ge m . O re la ci on am en to en tr e do ce nt e e al un o é se m pr e pe ss oa l e ún ic o. O a lu no d ev e re s- po ns ab ili za r- se p el os ob je tiv os d a ap re nd i- za ge m . Ca be a o pr of es so r c ria r si tu aç õe s de a pr en di za - ge m . O a lu no é o s uj ei to a tiv o, in de pe nd en te . A re la çã o pr of es so r- al un o ca ra ct er iz a um a re la çã o ho riz on ta l, na q ua l a m bo s sã o su je ito s do a to d o co nh ec im en to . O e du ca nd o é um a pe ss oa c on cr et a, o bj e- tiv a, q ue d et er m in a e é de te rm in ad a pe lo s oc ia l, po lít ic o e ec on ôm ic o e pe la s ua h is tó ria . (C on tin ua ) Ab or da ge ns Tr ad ici on al Co m po rta m en ta l Hu m an ist a Co gn iti vi st a So cio cu ltu ra l Es co la A es co la n ão é c on si de - ra da a v id a, m as p ar te de la . U til ita ris ta q ua nt o a re su lta do s e pr og ra m as pr ee st ab el ec id os . Ed uc aç ão c om o um pr od ut o, c om mod el os pr ed et er m in ad os . A ss um e po de r c on tr o- la do r, cu ja fi na lid ad e é pr om ov er m ud an ça s de se já ve is . Ag ên ci a ed uc ac io na l de c on tr ol e do s co m po rt am en to s. Ed uc aç ão d em oc rá tic a, qu e te m c om o fin al id a- de c ria r c on di çõ es q ue fa ci lit em a a pr en di za - ge m . Li be rd ad e pa ra a pr en - de r. D ev er ia c om eç ar e ns i- na nd o a cr ia nç a a ob se r- va r ( aç ão re al e m at er ia l, in ve st ig aç ão in di vi du al , te nt at iv as ), da nd o ao al un o a po ss ib ili da de d e ap re nd er p or s i p ró pr io . A ed uc aç ão a ss um e ca - rá te r a m pl o, n ão re st rit o à es co la e m s i n em a u m pr oc es so d e ed uc aç ão fo rm al . D ev e se r u m lo ca l o nd e se ja p os sí ve l o c re sc im en - to m út uo d o pr of es so r e do s al un os . Se r h um an o Co ns id er ad o tá bu la ra sa a se r p re en ch id a. É co ns eq uê nc ia d as fo r- ça s do m ei o, n ão li vr e, o u se ja , p od e se r c on tr ol ad o. Id ea l d e au to co nt ro le e au to ss ufi ci ên ci a. É ú ni co , e m p ro ce ss o co nt ín uo d e de sc ob er - ta , c om c ap ac id ad e de de se nv ol ve r- se e a ut o- di rig ir- se , i nt er ag in do co m o ut ra s pe ss oa s. Cr ia -s e po r s i p ró pr io . D es en vo lv im en to d o se r hu m an o po r f as es q ue in te ra ge m e s e su ce de m (e st ág io s) . P ro ce ss o pr og re ss iv o de a ss im ila - çã o/ a co m od aç ão . O in di ví du o é o su je ito d a ed uc aç ão , é o e la bo ra do r e cr ia do r d o co nh ec i- m en to . É um s er h is tó ric o, si tu ad o no e c om o m un do . Fo nt e: Ad ap tad o d e M izu ka m i, 1 98 6. Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 13 Notemos que em cada modelo de abordagem é evidenciada uma ideia de indivíduo e de formação, e para cada ideal de ser humano corresponderá um tipo de abordagem da educação e das relações de ensino-aprendizagem. O filósofo Álvaro Viera Pinto (2005, p. 35), ao abordar o que é edu- cação, deixa explícita essa “dependência do conceito de homem”. Para o autor, “a educação é considerada como o procedimento de transfor- mação do não homem em homem. [...] Daí que a educação seja uma forma particular de responsabilidade da ação entre os homens”. Por isso, ao optarmos por determinada forma de planejamento, estamos escolhendo o caminho que iremos trilhar e aonde queremos chegar. Isso implica fazer escolhas, portanto, temos que tomar por referência a função social da escola no ato educativo planejado, visando à melhoria da qualidade de ensino e optando por um ideal de formação e uma visão de mundo e de ser humano em formação. Porém, antes de entender esses princípios do planejamento pe- dagógico, precisamos ter clareza sobre a seguinte questão: o que é educação? Afinal, ela será o eixo norteador para qualquer forma de planejamento educacional. Com vistas a essa definição, em termos educacionais, é que vamos entender para que planejar. Pinto (2005) traz uma definição bastante completa do que é educação: É um processo: é o decorrer de um fenômeno (a formação do indivíduo) no tempo, ou seja, um processo histórico. É um fato existencial: refere-se ao modo como (por si mesmo e pelas ações exteriores que sofre) o ser humano se faz humano. Podemos dizer, em outra versão da definição, que é o processo pelo qual os indivíduos adquirem sua essência (real, social, não metafísica). É um fato social: refere-se à sociedade como um todo. É determinada pelo interesse que move a comunidade a integrar todos os seus membros à forma social vigente (relações econômicas, instituições, usos, ciências, atividades etc.). É o procedimento pelo qual a sociedade se reproduz ao longo de sua duração temporal. (Continua) YAKOBCHUK VIACHESLAV/Shutterstock 14 Planejamento Institucional Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 15 É um fenômeno cultural: não somente os conhecimentos, as experiências, os usos, as crenças, os valores etc. a serem transmitidos ao indivíduo, mas também os métodos utilizados pela totalidade social para exercer sua ação educativa são parte do fundo cultural da comunidade e dependem do grau de seu desenvolvimento. É uma relação de saber e de poder: a educação não pode se conectar à formação uniforme de todos os seus membros, pois, por um lado, é excessivo o número de dados a transmitir; por outro, não há interesse nem possibilidade de formar indivíduos iguais, já que se busca manter a desigualdade social presente. É uma atividade teleológica: a formação do indivíduo sempre visa a um fim. Está sempre “dirigida para”. Desenvolve-se sobre o fundamento do processo econômico da sociedade: dita os fins gerais da educação, que determinam se em uma dada comunidade serão formados indivíduos de níveis culturais distintos, de acordo com sua posição no trabalho comum (na sociedade fechada, dividida) ou se todos devem ter as mesmas oportunidades e possibilidades de aprender (sociedades democráticas). Ok si Ok si /S hu tte rs to ck É uma modalidade de trabalho social: para compreendê-la é necessário utilizar as categorias histórico-antropológicas dialéticas, que definem o conceito de trabalho. É por essência concreta: pode ser concebida a priori, mas o que a define é sua realização objetiva, concreta. A realização depende das situações históricas objetivas, das forças sociais presentes, de seu conflito, dos interesses em causa, da extensão das massas privadas de conhecimento etc. É por natureza contraditória: implica simultaneamente conservação (dos dados do saber adquirido) e criação, ou seja, crítica, negação e substituição do saber existente. É um processo exponencial: isto é, multiplica-se por si mesma com sua própria realização. Quanto mais educado, mais o sujeito necessita se educar e, portanto, exige mais educação. Como esta jamais está acabada, uma vez adquirido o conhecimento existente (educação transmissiva), ingressa-se na fase criadora do saber (educação inventiva). 16 Planejamento Institucional Existem correntes que ao defender a ideia de que a ação do pla- nejamento institucional será sempre político-pedagógica, sustentam que se explicitem tais fundamentos político-pedagógicos. Outras cor- rentes já defendem que a ação é inerente a outras ações que o ato de planejar exigirá. A questão é que tratar de planejamento é falar de tomada de decisões, escolhas e visões de mundo, e nesse sentido não há como ser neutro. Exige-se um posicionar-se. Portanto, toda ação pedagógica será sempre política. Se a escola prepara para alguma coisa, deve ser para a própria vida, mas esta entendida como o viver bem, no desfrute de todos os bens criados socialmente pela humanidade. A materialidade desses ideais de formação culminará nas ações do planejamento e dos planos de ensino das instituições. Vamos inicialmente entender essa diferença entre planejamento e plano para então conferir como podem ocorrer na realidade. Enquanto o planejamento consiste em uma atividade processual, contínua e dinâmica para intervir em uma realidade. O plano representa a materialidade, o documento de registro do planeja- mento. Este precisa ser entendido como instrumento orientador do trabalho pedagógico, a sistematização das propostas do trabalho educativo. No âmbito do ensino podemos falar ainda de planejamento do- cente, que envolverá conteúdos, objetivos, metodologias, estraté- gias e recursos didáticos, e de critérios de avaliação, que passam a materializar os chamados planosde aula, por exemplo. Já no âmbito do currículo, o planejamento curricular irá contem- plar a seleção e a reflexão dos conteúdos essenciais à formação, representando o ponto de encontro entre o nível do macrocontex- to e do microcontexto, constituindo os conteúdos escolares a se- rem ensinados. Na dependência do conceito de planejamento, além dessa ques- tão curricular, temos as questões ligadas às práticas de avaliação tanto do macrocontexto quanto do microcontexto. Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 17 Quadro 2 Níveis de planejamento Planejamento Onde acontece Exemplo Macrocontexto Refere-se a um contexto mais amplo, das políticas educacio- nais para os sistemas de ensino. Materializam-se planos de ensi- no em forma de um documen- to como a BNCC. Microcontexto É o planejamento realizado nas instituições escolares com base na sua gestão e organiza- ção, respeitando as dinâmicas, os tempos e os espaços. Projeto político-pedagógico (PPP) da escola, que irá se transformar em ações educativas. Fonte: Elaborado pela autora. A avaliação no macrocontexto, em larga escala, auxilia na formulação de políticas curriculares e na avaliação institucional de escolas e universi- dades, por exemplo, que também fazem parte das discussões curriculares e sinalizam a relevância da atuação dos conselhos de educação, como o Conselho Nacional de Educação (CNE), os Conselhos Estaduais de Educação (CEE) e os Conselhos Municipais de Educação (CME). Já no caso da avaliação no microcontexto, farão parte as avaliações em sala de aula feitas por cada professor, como testes e provas e os chamados conselhos de classe. Como vimos, o planejamento é uma atividade inerente ao ser hu- mano e crucial para a prática pedagógica. Muito mais do que um ins- trumento da burocracia escolar, é o processo de reflexão crítica do professor sobre a sua prática e a sua intencionalidade, tendo como seu produto o plano de aula ou os projetos escolares. Segundo Fusari (1990), para a elaboração de um plano, seja ele de en- sino, de disciplina, de projeto didático ou de projeto político-pedagógico, há algumas perguntas-chave feitas pelo professor na sua reflexão críti- ca e coletiva do que pretende atingir (por que e para que), a fim de po- der estruturar os objetivos, os conteúdos, a metodologia e a avaliação. O autor sintetiza essas questões e afirma que a escola pode e deve encontrar outras formas de lidar com o planejamento do ensino e com seus desdobramentos em planos e projetos. É importante desencadear um processo de repensar todo o en- sino, buscando um significado transformador para os elementos curriculares básicos: • objetivos da educação escolar (para que ensinar e aprender?); • conteúdos (o que ensinar e aprender?); • métodos (como e com o que ensinar e aprender?); • tempo e espaço da educação escolar (quando e onde ensinar e aprender?); • avaliação (como e o que foi efetivamente ensinado e aprendi- do?). (FUSARI, 1990, p. 46) Dessa forma, para se definir quais são os objetivos de ensino, é funda- mental refletirmos sobre para que ensinar e aprender, o que se preten- de e se espera do ensino. Com relação aos conteúdos de aprendizagem, devemos indagar o que ensinar e aprender; tão importante também é o como ensinar e aprender, pois envolve os métodos enquanto se pensa nos tempos e nos espaços em que a aprendizagem pode acontecer. No que tange à avaliação, o questionamento segue na direção de compreen- der como e o que foi ensinado e aprendido. Em síntese, para a devida sistematização do plano de ensino, deve- mos ir além de modelos e formulários padronizados para preenchimento. Cabe a cada escola definir os seus caminhos para pensar e repensar o ensino, e como guia há alguns elementos básicos, como objetivos, conteú- dos de aprendizagem, metodologia, tempos e espaços e avaliação. Assim, quando falamos de planejamento nos reportamos a um processo contínuo e dinâmico, portanto permanente. Uma importante característica do planejamento é o seu caráter processual. O ato de planejar não se reduz ao momento da ela- boração dos planos de trabalho. É uma atividade permanente de reflexão e ação. O planejamento é um processo contínuo de co- nhecimento e análise da realidade escolar em suas condições con- cretas, de busca de alternativas para a solução de problemas e de tomada de decisões, possibilitando a revisão dos planos e projetos, a correção no rumo das ações. O caráter de processo indica, tam- bém, que um plano prévio é um roteiro para a prática, ele antecipa mentalmente a prática, prevê os passos a seguir, mas não pode de- terminar rigidamente os resultados, pois estes vão se delineando no desenvolvimento do trabalho, implicando permanente ação, reflexão e deliberação dos educadores sobre a prática em curso. (LIBÂNEO, 2004, p. 150) Nesse sentido planejar significa a ativida- de, a ação que se quer realizar para mudar algo, pois se for para manter tudo como está, qual é o sentido de se planejar? YA KO BC HU K VI AC HE SL AV /S hu tte rs to ck 18 Planejamento Institucional Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 19 Planejar representa algo que se pretende fazer, modificar ou manter. Essa ação se relaciona a uma concepção de planejamento, a uma refle- xão feita com base no olhar para determinada realidade. Para tanto, outro fundamento do planejar implica avaliar (o que se tem e aonde se quer chegar). Aqui podemos ainda incluir o constante (re)planejar e (re)avaliar. Tanto o planejamento quanto a avaliação têm caráter diagnósti- co, processual e contínuo, com vistas a contribuir com o processo de ensino-aprendizagem. O planejamento vai materializar os planos de ensino e os projetos da escola. Estes serão uma sistematização das ideias e ações intencionais que orientarão o trabalho pedagógico. No âmbito da escola, o plano de ensino contemplará as atividades de ensino-aprendizagem com base nos obje- tivos, nos valores, nas atitudes, nos conteúdos e nos modos de agir por parte dos professores e demais profissionais da educação. Assim, o plane- jamento não é uma ação individual, mas sim uma elaboração coletiva. En- quanto planejamos, é importante buscarmos a mediação entre o ideal e o real, objetivando consolidar uma gestão democrática e participativa. Para saber mais sobre planejamento, sugerimos o estudo do artigo O planeja- mento do trabalho pedagó- gico: algumas indagações e tentativas de respostas, de José Cerchi Fusari. Disponível em: http://www. crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ ideias_08_p044-053_c.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020. Leitura Quais são os itens a serem considerados ao fazermos um planejamento de ensino e quais os seus desdobramentos em planos e projetos educacionais? Exemplifique com questões do cotidiano escolar. Atividade 1 1.2 Dimensões do trabalho coletivo Vídeo Sobre os princípios epistemológicos e pedagógicos do planeja- mento, poderíamos dizer que o planejamento e a gestão são a alma da escola, porém seria um grande engano. Quem conhece o cotidia- no escolar e as relações que se estabelecem em seu espaço sabe das relações pedagógicas que ocorrem entre professores e alunos, professores e outros professores, professores e gestores escolares e gestores e comunidade. Ou seja, a essência do trabalho coletivo e as relações que ali se estabelecem e se ressignificam são de fato a alma da escola. As relações pedagógicas ditarão o que ocorrerá no interior da es- cola. Em muitas obras encontramos a gestão como um fim, ou objeti- vo, a razão de ser da educação, porém gestor nenhum, nem o melhor professor do mundo, nem aquele aluno genial conseguirão êxito so- zinhos em uma empreitada que por essência é de natureza coletiva. Um bom gestor nunca vai conseguir atingir seus resultados institucio- nais sozinho, pois a essência de uma boa gestão é o trabalho coletivo, participativo e colaborativo. http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdfhttp://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf 20 Planejamento Institucional De acordo com Cury (2007, p. 494), o trabalho de uma equipe ges- tora implica: transparência e impessoalidade, autonomia e participação, li- derança e trabalho coletivo, representatividade e competência. Voltada para o processo de decisão baseado na participação e na deliberação pública, a gestão democrática expressa um anseio de crescimento dos indivíduos como cidadãos e do crescimento da sociedade democrática. Por isso a gestão democrática é a ad- ministração de uma gestão concreta. Nesse sentido, a gestão seria um instrumento a mais a serviço do desenvolvimento e da qualidade de ensino, assim como é a avaliação. Esse entendimento é de supra importância, pois vamos encontrar não só nas teorizações, mas no ideário da cultura escolar, a ideia do papel do gestor ou da equipe de gestão administrativa como se tivesse um domínio sobre as outras instâncias da escola, inclusive a pedagógica. Essa ideia precisa ser esclarecida, pois, em uma relação de fato demo- crática, horizontal, não faz sentido falarmos de qualquer espécie de subor- dinação, ainda mais no âmbito da educação pública, que carrega a essência da democratização em todas as instâncias. De acordo com a Constituição Federal (BRASIL, 1988), todo serviço público tem consigo a marca dos prin- cípios democráticos de igualdade, universalidade e laicidade. Por isso, em se tratando de planejamento institucional educacional, não faz sentido falarmos de ações individuais, já que sempre envolve- rá um coletivo, suas relações e o retorno social igualmente coletivo. De acordo com Souza et al. (2005, p. 19), “o trabalho pedagógico possui uma natureza sempre coletiva, ainda que todas as ações da escola convergem para um mesmo alvo: a formação do aluno”. Pensar em estratégias coletivas de participação não significa que haverá sempre um consenso, mas que deve ser esse o objetivo a ser perseguido. Afinal, é marca das discussões democráticas o diálogo, a diferença de opinião, a diversidade. A partir delas é que criamos uma identidade do ideal de formação, pois, em se tratando de planejamento participativo, como afirma Vasconcellos (2010, p. 23), “todos têm opor- tunidade de se expressar, inclusive aqueles que geralmente não falam, mas que estão acreditando, estão querendo participar”. Nesse sentido, é fundamental que levemos em consideração a função social da escola, a fim de garantir o envolvimento e a par- Para saber mais sobre as dimensões do trabalho coletivo na escola e do direito à educação, sugerimos a leitura do artigo A gestão democrática na escola e o direito à educação, de Carlos Roberto Jamil Cury, um dos redatores da LDB. Disponível em: https:// seer.ufrgs.br/rbpae/article/ viewFile/19144/11145. Acesso em: 8 dez. 2020. Leitura https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19144/11145 https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19144/11145 https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19144/11145 Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 21 ticipação coletiva como forma de consolidar a democratização na gestão escolar. Souza et al. (2005) expõem como sendo fundamental a organiza- ção de meios de garantir a participação e as dimensões do trabalho coletivo na escola, como promover uma conferência de educação no intuito de reunir toda a população e/ou seus representantes interessados na educação daquele sistema para debater, estudar, planejar, decidir e avaliar as ações principais. Outro exemplo é o que ocorre no orçamento participativo da escola, quando a comu- nidade é chamada para discutir no que se deve aplicar os recur- sos de investimentos. A escolha de diretores em forma de eleições também é uma maneira de democratização da educação, exemplo de envolvimento e participação coletiva na escola. Ainda segundo Souza et al. (2005), no âmbito da escola, a participa- ção em associações de pais e mestres (APMs), grêmios estudantis en- tre outras formas de conselhos e assembleias da comunidade escolar vai decidir de modo conjunto os principais interesses desse coletivo. Outra forma de se garantir a participação coletiva nas decisões da escola é a chamada consulta pública, em que a comunidade es- colar é convidada a decidir os modelos educacionais. Como exem- plo, temos o que ocorreu no Paraná, que convocou a comunidade escolar para decidir sobre a migração de escolas do sistema tradi- cional para o modelo cívico-militar, conforme proposto pelo gover- no do estado, por intermédio da Secretaria de Estado da Educação e do Esporte, em 2020. A participação é o elemento crucial nas dimensões do trabalho coletivo, por isso é importante que a escola constitua instâncias e instrumentos capazes de organizar os trabalhos desses coletivos diversos e de seus segmentos. A gestão deve procurar informar e envolver esses segmentos para que integrem outros conselhos do sistema educacional, tanto os locais quanto os mais amplos, em esferas municipais, estaduais e até federais, em seus sistemas re- presentativos. O objetivo é garantir que essa participação expresse a construção e a gestão de um projeto político-pedagógico que es- timule o envolvimento e a participação de todos os segmentos na resolução de problemas e conflitos do cotidiano escolar, bem como nas suas escolhas e definições do futuro da educação. Investigue como é realizada a seleção, ou eleição, de diretor escolar em seu município ou nas escolas que você conhece ou que porventura tenha estudado. Pesquise quais princípios regem essa seleção e por quê. De acor- do com o que estudamos aqui, analise se é um bom método de seleção para direção, se tem rotatividade e se isso é bom ou ruim. Também indique como essa forma pode ser melhorada com base nos princípios de participação do coletivo escolar e de gestão democrática na escola. Atividade 2 22 Planejamento Institucional 1.3 Conceitos de gestão escolar e gestão democrática Vídeo Muito em voga atualmente está a discussão entre o que é e o que não é democrático, ou então o que são ações antidemocráticas. Por isso precisamos entender o que é democracia. Para Chaui (1997, p. 141), “na tradição do pensamento democrático, democracia significa igualdade, soberania popular, preenchimento das exigências constitucionais, reconhecimento da maioria e dos direitos da minoria, liberdade”. Precisamos ter claro o que é democracia para então entender- mos as relações entre escola e democracia, os conceitos de gestão escolar democrática, bem como as relações que perpassam por esses conceitos, como: relações de poder, autonomia, descentrali- zação, trabalho coletivo, relações entre gestão e avaliação, tomada de decisões, enfrentamentos dos desafios educacionais entre outros dilemas do universo educacional. No meio escolar não é difícil encontrarmos muitas discussões de cunho ideológico relacionadas à gestão democrática, mas quando observamos mais atentamente e de perto é fácil percebermos a velha máxima que na teoria é uma coisa e na prática é outra. Como exem- plos, podemos citar ações de diretores autoritários, professores que ainda acham que quando se fecha a porta da sala de aula é somente eles que comandam e tomam as decisões sobre o que e como ensinar em seus tempos e espaços escolares. A ideia de gestão democrática na educação está presente desde a Constituição Federal de 1988, em seus artigos 205 e 206: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da famí- lia, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensa- mento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e Princípiosepistemológicos e pedagógicos do planejamento 23 coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; V - valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democrática do ensino público, na forma da lei; VII - garantia de padrão de qualidade; VIII - piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal. Parágrafo único. A lei disporá sobre as categorias de trabalhado- res considerados profissionais da educação básica e sobre a fixa- ção de prazo para a elaboração ou adequação de seus planos de carreira, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 1988, grifos do original) A mesma ideia é realçada pela LDB n. 9.394/96, em seus artigos 14 e 15, ao apresentar as seguintes determinações no tocante à ges- tão democrática: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão de- mocrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. Participação das comunidades escolar e local em conselhos es- colares ou equivalentes. Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas de direito financeiro público. (BRASIL, 1996) Mas e na prática cotidiana das escolas, como podemos perceber se ocorre gestão democrática? A gestão democrática é um grande desafio porque no dia a dia das escolas sempre há novas situações com alunos, funcionários e professores, cada qual com suas especificidades e demandas, desen- volvendo novas dinâmicas e relações de poder. A gestão democrática se legitimará [...] onde autonomia e poder possam lhes ser conferidos para poderem exercer a verdadeira participação e assim consolidar a gestão democrática na esco- la. A educação a ser empregada neste sentido é algo muito espe- cial, porque requer envolvimento de várias partes. É como se fosse uma rede, onde o marco inicial seria a conscientização, para tanto, A animação Gestão em foco: gestão democrática explica rapidamente e de maneira clara e dinâmica o que é gestão demo- crática, com exemplo do que acontece nas escolas públicas estaduais do estado do Paraná. Vale a pena conferir! Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=hFS0HEagFP4. Acesso em: 8 dez. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=hFS0HEagFP4 https://www.youtube.com/watch?v=hFS0HEagFP4 https://www.youtube.com/watch?v=hFS0HEagFP4 24 Planejamento Institucional necessitamos formar o ser socialmente mais justo, e por meio do conhecimento torná-lo competente para enfrentar os desafios da sociedade contemporânea. (AMORIM, 2015, p. 20.483) Para que os princípios de gestão democrática se efetivem é fundamental que o reconhecimento do que é público decorra da necessidade de entendermos que existe uma esfera coletiva na vida humana, resultante da interface e do convívio entre as pessoas, e que essa dimensão coletiva deve prevalecer sobre qualquer vontade ou desígnio individual. O termo gestão escolar substitui a antiga ideia de administração es- colar e passa a ter uma alteração conceitual importante, uma vez que envolve não só melhorar os processos que visam aumentar a qualidade da educação, mas também a participação da comunidade nas decisões da escola, incluindo a ideia de gestão democrática. Portanto, na escola não basta apenas garantir esses subsídios de participação coletiva, o que já é um bom começo, devemos criar uma cultura efetiva de participação democrática, ou seja, uma cultura democrática que se espalhará por todos os âmbitos. Essa diferenciação é bem importante para que não se sobreponha a vontade de coletivos diversos mais bem organizados ao que de fato deve ser a vontade da maioria ou que expresse de fato os prin- cípios democráticos. Basta assistir à televisão ou ler um jornal qualquer que logo é possível percebermos os ataques à democracia e a dificuldade de se manter e efetivar os princípios democráticos até mesmo na nossa forma de fazer política, pois o que vemos é um verdadei- ro festival de defesa de objetivos individuais, os quais raramente expressam os ideais democráticos. Certamente construir uma cultura democrática no interior da escola implica enfrentar uma tradição de cultura autoritária, cen- tralizadora; igualmente implica discutir as relações de poder que se manifestam na escola e na sociedade. Não se trata, pois, de qual- quer conceito ou ideia de política, e sim de relações de poder no campo escolar, de política no sentido amplo, das relações ocorridas que visam a um ideal de formação humana e a um posicionar-se diante desses desafios, para que possamos alcançar esse ideal de cultura democrática. O filme Escritores da liberdade retrata os desafios vividos por uma professora ao perceber a realidade local e as alter- nativas e possibilidades pedagógicas diante daquele contexto. Aos poucos, é possível perce- bermos como os ideais de formação humana vão se manifestando por meio do trabalho da docente. A história do filme é baseada nos fatos retra- tados no livro Diário dos Escritores da Liberdade, publicado em 1999. Direção: Richard LaGravenese. EUA; Alemanha: Paramount Pictures, 2007. Filme Cite exemplos que você conhece ou até mesmo que tenha partici- pado de gestão democrática. Atividade 3 Princípios epistemológicos e pedagógicos do planejamento 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS É fundamental para este capítulo que tenhamos esclarecido que planejar faz parte da vida. A diferença é que quando precisamos reali- zar um planejamento sistematizado ele deve seguir alguns princípios, como vimos no decorrer das seções, e essas diferenciações e inten- ções junto com as formas de sistematização é que vão caracterizar um planejamento institucional. Outra questão que deve ficar clara é a diferenciação entre plano, pro- jeto e planejamento e as dimensões do que são os planejamentos indi- vidual e coletivo. Daí a necessidade de compreender os trabalhos em conjunto e os princípios de gestão democrática quando envolvem esses coletivos, no caso, a escola. Além disso, trabalhamos alguns conceitos básicos do que é planeja- mento e o planejamento escolar na legislação educacional, bem como seus subsídios para a prática pedagógica, explorando o planejamento no microcontexto e no macrocontexto, as dimensões do trabalho co- letivo, os conceitos e os princípios relacionados à gestão democrática e a necessidade de implantação de uma gestão democrática não só de palavras, mas que se transforme em uma cultura democrática no interior das escolas. REFERÊNCIAS AMORIM, R. R. da S. A avaliação institucional como forma de democratização na administração escolar. In: 12º EDUCERE – CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Anais [...] Curitiba: PUCPR, out. 2015. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/ pdf2015/20555_9115.pdf. Acesso em: 8 dez. 2020. BRASIL. Constituição Federal (1988). Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao. htm. Acesso em: 8 dez. 2020.. Acesso em: 8 dez. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Bases e Diretrizes da Educação Nacional. Brasília, DF: MEC/SEB, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 8 dez. 2020. CHAUI, M. Convite à filosofia. 6. ed. São Paulo: Ática, 1997. CURY, C. R. J. A gestão democrática na escola e o direito à educação. RBPAE, Brasília, v. 23, n. 3, p. 483-495, set./dez. 2007. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/ viewFile/19144/11145.Acesso em: 8 dez. 2020. FUSARI, J. C. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e tentativas de respostas. Série Ideias, São Paulo, n. 8, p. 44-53, 1990. Disponível em: http://www. crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf. Acesso em: 11 dez. 2020. LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004. MIZUKAMI, M. da G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: E.P.U, 1986. PINTO, Á. V. Sete lições sobre educação de adultos. São Paulo: Cortez, 2005. https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/20555_9115.pdf https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2015/20555_9115.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19144/11145 https://seer.ufrgs.br/rbpae/article/viewFile/19144/11145 http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf 26 Planejamento Institucional SOUZA, Â. R. de. et al. Gestão democrática da escola pública. Curitiba: Editora da UFPR, 2005. VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-pedagógico – elementos metodológicos para elaboração e realização. 21. ed. São Paulo: Libertad, 2010. GABARITO 1. São elementos do planejamento e dos planos de ensino: • objetivos da educação escolar (para que ensinar e aprender?); • conteúdos (o que ensinar e aprender?); • métodos (como e com o que ensinar e aprender?); • tempo e espaço da educação escolar (quando e onde ensinar e aprender?); • avaliação (como e o que foi efetivamente ensinado e aprendido?). Os exemplos podem girar em torno de projetos e planos de aula de cada escola ou professor. Você pode encontrar um banco com mais de 6 mil planos de aula, com os elementos aqui aprensentados no site da Revista Nova Escola. Disponível em: https:// novaescola.org.br/plano-de-aula. Acesso em: 25 jan. 2021. 2. O objetivo é identificar na realidade local como são realizadas ou não as eleições para diretores de escola e a participação da comunidade escolar nesse processo. Ao fazer isso, esperamos que você compreenda como podem ocorrer os processos de parti- cipação do coletivo na escola, por exemplo, em geral se realiza a eleição e esse é um processo democrático. Porém, se o cargo é por indicação ou outra forma, espera- mos que você consiga analisar se é um processo democrático ou outro que abrevia a participação coletiva nas decisões escolares. Sendo assim, na maioria das vezes fica comprometida a gestão democrática. 3. Mecanismos de participação em gestão democrática podem ser reconhecidos em sis- temas de conselhos de escola ou conselho escolar (pais, funcionários, professores, gestores, alunos e comunidade), grêmios estudantis, associação de pais e mestres, eleições de representantes e diretores, consultas públicas, assembleias, entre outros. Planejamento estratégico institucional 27 2 Planejamento estratégico institucional Se procurarmos em qualquer dicionário o que significa planejar, veremos que tem relação com ter propósitos, intenções, finalida- des para executar algo ou algum projeto. Sabemos também que a arte de planejar é carregada de complexidade e incertezas, por isso pensar sobre as questões do planejamento educacional é sempre um grande desafio. Neste capítulo o objetivo é entender a inter-relação entre os desígnios das políticas educacionais e os propósitos do planeja- mento estratégico institucional, os sujeitos envolvidos no plano de desenvolvimento da instituição, além das estratégias de moni- toramento desse plano. Além disso, buscaremos compreender o que é e como se faz um planejamento estratégico institucional e participativo e debater as questões sobre cultura escolar visando ao aperfeiçoamento e a melhorias na educação. Discutiremos neste capítulo a natureza coletiva do trabalho pedagógico escolar, quem são os sujeitos da escola, quais são as características das equipes gestoras, as funções de equipes dirigen- tes, de coordenadores, além de funções administrativas, financeiras e de direção escolar, bem como suas implicações no planejamento institucional. Diferenciaremos os papéis e as funções pedagógicas de gestão escolar e debateremos o que se passa no cotidiano e no ideário da cultura escolar, além de verificar a mudança de para- digma dentre as concepções tradicionais de planejamento, como se fizéssemos um planejamento reverso com foco em resultados, questão essa pouco debatida nos meios educacionais. 28 Planejamento Institucional 2.1 Sujeitos da escola Vídeo O que é escola? Quem faz a escola acontecer tal como a conhecemos? Leia a seguir um trecho do poema A Escola é, no qual Paulo Freire nos leva a pensar para além dos muros da escola: Escola é ... o lugar que se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, Programas, horários, conceitos... Escola é sobretudo, gente Gente que trabalha, que estuda Que alegra, se conhece, se estima. [...] (FREIRE, 1992, p. 25) Quem são os sujeitos da escola? Como se constitui uma comunidade escolar? Conhecer essa comunidade escolar é condição indispensável para qualquer etapa de planejamento institucional educacional. Po- rém, ter claros os papéis dos sujeitos da escola e uma concepção de ato educativo de todos os integrantes da escola também é fundamental. O inciso III do artigo 10 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394 de 1996, diz que as competências dos mu- nicípios versam sobre “organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins- tituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados” (BRASIL, 1996). Para enten- der essa estrutura administrativa da educação, vamos, inicialmente, com- preender esse funcionamento dos níveis de administração educacional. Figura 1 Níveis de administração educacional Nível de administração federal Legislações de nível nacional Nível de administração estadual Legislações de nível do estado Nível de administração municipal Leis orgânicas municipais Nível de administração escolar Organização e gestão escolar Du an pr yA S/ Sh utt ers to ck Fonte: Elaborada pela autora. O poema A Escola é pode ser lido na íntegra no link a seguir. Disponível em: http:// www.cascavel.pr.gov.br/ arquivos/07082015_poema__a_ escola.pdf. Acesso em: 21 dez. 2020. Leitura http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/07082015_poema__a_escola.pdf http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/07082015_poema__a_escola.pdf http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/07082015_poema__a_escola.pdf http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/07082015_poema__a_escola.pdf Planejamento estratégico institucional 29 Note que no topo da pirâmide está a unicidade das legislações a se- rem cumpridas pelos demais, e na base encontra-se toda a organização escolar que deve seguir as legislações e diretrizes municipais, estaduais e federais. Veiga (2010, p. 15) aponta quatro dimensões consideradas funda- mentais para a organização do trabalho educativo na escola. São elas: • Administrativa: relaciona-se com as questões administrativas, como administração de pessoal e material, controle dos indica- dores de desempenho e avaliação do trabalho. • Financeira: elaboração de planos e execução dos recursos finan- ceiros de modo adequado, observando os fins educativos. • Pedagógica: trata especificamente das questões pedagógicas – função social da escola, organização curricular e avaliação –, que partem de um amplo processo coletivo. • Jurídica: refere-se às normas, às orientações elaboradas pela es- cola, aos estatutos, ao regimento, aos avisos e às portarias. Essa dimensão possibilita que as ações sejam discutidas e elaboradas coletivamente. A figura a seguir ilustra a inter-relação entre esses elementos: Figura 2 Dimensões da organização do trabalho educativo Fonte: Veiga, 2010, p. 16.Pedagógica Financeira JurídicaAdministrativa Escola 30 Planejamento Institucional Na base de organização da administração escolar encontram-se os sujeitos da escola que, assim como apresentado por Veiga (2010), subdividem-se e inter-relacionam-se nas práticas de gestão escolar e de acordo com a natureza do trabalho a ser executado. Podem ser subdivididos basicamente em: técnico-administrativo, composto por técnicos educacionais e de natureza pedagógico-curricular, que pode ser subdividida em equipe gestora e pedagógica. Assim, tanto para a elaboração de um planejamento estratégico quanto para a organização da escola, o gestor escolar deve estar pre- parado e conhecer essas funções, entendendo claramente cada uma dentro da estrutura da escola para o seu funcionamento. Vamos compreender melhor esses sujeitos da escola e papéis de- sempenhados. Até o processo de redemocratização, a partir da década 1980, em que a base legal da gestão democrática vai ser implementada com a Constituição Federal de 1988, apresentando-se como princípio constitucional no artigo 206, que enuncia: “o ensino será ministrado com base nos princípios de gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988), tínhamos um modelo de gestão escolar bastante tecnocrata e burocratizado. As funções pedagógicas tinham sido instituídas pelo Parecer 252 de 1969, que regulamentava, no curso de Pedagogia, as habilitações em supervisão escolar, orientação edu- cacional e administração escolar, com base nos modelos técnicos ame- ricanos durante a execução dos acordos do MEC com a United States Agency for International Development (USAID). Com a aprovação da LDB em 1996, além do debate em torno da for- mação dos profissionais da educação, a função do coordenador peda- gógico, ou simplesmente pedagogo, é reorganizada tendo como base o trabalho mútuo com o professor, substituindo aos poucos a figura do orientador e do supervisor educacional, integrando essas funções no trabalho do pedagogo escolar. Dentre as funções primordiais do peda- gogo escolar, são integradas a supervisão, orientação, coordenação e administração escolar e suas interdependências. Tradicionalmente, existia essa separação entre o trabalho das equipes pedagógicas (professores e pedagogos) e a equipe gestora, composta por técnicos administrativos e direção escolar. Entretanto, com o advento da redemocratização, passa-se a entender todas as funções com papel edu- Planejamento estratégico institucional 31 cativo, preserva-se as especificidades dos papéis desempenhados, mas todos começam a entender que são partícipes do ato educativo. Saviani (1996, p. 208) diz que “cabe ao diretor escolar o papel de garantir o cumprimento da função educativa que é a razão de ser da escola. Nesse sentido, é preciso deixar claro que o diretor da escola é antes de tudo, um educador, antes de ser um administrador ele é um educador”. Essa ideia vem reforçar o conceito de gestão democrática e participativa, rompendo com o pensamento tradicional de diretores escolares como donos ou chefes de escola. Aqui nos é apresentada a ideia de direção como educador, no sentido de que sua condução e sua gestão também educam e servem de exemplo a toda comunidade escolar, pois, como afirma Lück (2013, p. 28), “a maior responsabilidade do diretor reside na liderança [...] e essa atuação deman- da o domínio de competências muito mais complexas do que as docentes, e a atenção sobre muito mais situações do que as restritas à sala de aula”. É por isso que em grande parte das escolas solicita-se que para se candidatar a cargos de direção ou gestão escolar sejam apresentadas, além dos requisitos de liderança, competências técnicas com formação em gestão. Porém, ao assumir os processos de gestão democrática, não é mais adequado falar de hierarquias entre as funções e os sujeitos da escola, mas de definição estratégica de papéis e responsabilidades visando um fim comum. Segundo Paro (2000), a atividade fim da escola é a realização do processo de ensino-aprendizagem, e nessa atividade a coordenação pedagógica (independentemente dos nomes que se dê: supervisores, orientadores, pedagogos, coordenadores pedagógicos ou professores) será responsável por articular um conjunto de medidas a fim de garantir essa atividade fim da escola no planejamento de ações que levam à realização da função da escola. Essa é a razão de, em uma perspectiva de gestão democrática, não falarmos mais somente em gestor escolar, por mais que se tenha um diretor, mas falar, sim, em equipe gestora ou equipe dirigente, num sentido de ampliar a participação de todos nas tomadas de decisões e responsabilidades no ato educativo. Outra questão quanto à organização escolar diz respeito aos pro- cessos de participação no planejamento participativo e nas escolhas dos dirigentes escolares. Uma das formas são as eleições para cargo de O texto do professor Erasto Mendonça apre- senta o relatório de pes- quisa sobre gestão demo- crática do ensino público após o contexto de 1988. O texto apresenta uma análise com base em cinco categorias: a) processos de escolha de diretores; b) constituição e funcionamento de co- legiados; c) participação; d) descentralização; e e) autonomia. São temas essenciais para entender processos participativos, gestão democrática e o papel dos sujeitos na educação. MENDONÇA, E. A gestão democrática nos sistemas de ensino brasileiros: a intenção e o gesto. In: 23 REUNIÃO ANUAL ANPED. Anais [...] Caxambu: Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Caxambu, set. 2000. Disponível em: http://23reuniao. anped.org.br/textos/0521t.PDF. Acesso em: 21 dez. 2020. Leitura http://23reuniao.anped.org.br/textos/0521t.PDF http://23reuniao.anped.org.br/textos/0521t.PDF 32 Planejamento Institucional diretor, porém não é a única. Associada à ideia de eleições deve estar uma análise das competências técnicas para assumir tal cargo. Além disso, existem casos que os dirigentes são escolhidos via concurso in- terno, exames de seleção, indicação da comunidade escolar, indicação política, entre outras. Podemos chamar a atenção ainda para a necessidade de rotativi- dade no quadro de dirigentes da escola, evitando que um mesmo di- rigente fique muito tempo nessa função. Esse processo de renovação e rotatividade é fundamental para um bom funcionamento da escola, ou seja, essa rotatividade é saudável não só em relação a cargos, mas também para novas ideias. Libâneo (2004, p. 217) descreve as principais atribuições da equipe de gestão pedagógica escolar como um trabalho conjunto de: 1. Supervisionar e responder por todas as atividades administra- tivas e pedagógicas da escola bem como as atividades com os pais e a comunidade e com outras instâncias da sociedade civil. 2. Assegurar as condições e meios de manutenção de um ambien- te de trabalho favorável e de condições materiais necessárias à consecução dos objetivos da escola, incluindo a responsabilida- de pelo patrimônio e sua adequada utilização. 3. Promover a integração e a articulação entre a escola e a comu- nidade próxima, com o apoio e iniciativa do Conselho de Escola, mediante atividades de cunho pedagógico, científico, social, es- portivo, cultural. 4. Organizar e coordenar as atividades de planejamento e do projeto pedagógico-curricular, juntamente com a coordenação pedagógica, bem como fazer o acompanhamento, avaliação e controle de sua execução. 5. Conhecer a legislação educacional e do ensino, as normas emi- tidas pelos órgãos competentes e o Regimento Escolar, assegu- rando o seu cumprimento. 6. Garantir a aplicação das diretrizes de funcionamento da insti- tuição e das normas disciplinares, apurando ou fazendo apurar irregularidade de qualquer natureza, de forma transparente e explícita, mantendo a comunidade escolar sistematicamente in- formada das medidas. 7. Conferir e assinar documentos escolares, encaminhar processos ou correspondências e expedientesda escola, de comum acordo com a secretaria escolar. 8. Supervisionar a avaliação da produtividade da escola em seu conjunto, incluindo a avaliação do projeto pedagógico, da orga- nização escolar, do currículo e dos professores. Planejamento estratégico institucional 33 9. Buscar todos os meios e condições que favoreçam a atividade profissional dos pedagogos especialistas, dos professores, dos funcionários, visando à boa qualidade do ensino. 10. Supervisionar e responsabilizar-se pela organização finan- ceira e controle das despesas da escola, em comum acordo com o Conselho de Escola, pedagogos especialistas e professores. Nos modelos tradicionais essas funções dividiam-se entre a direção, coordenação e supervisão escolar. Com o processo de redemocratização das escolas, essas atribuições centram-se como equipes pedagógicas, assumindo novas frentes de atuação e organização da gestão da escola, conforme salienta Libâneo (2004, p. 355), essas frentes se subdividem em: 1 3 5 2 4 6 O planejamento e o projeto pedagógico-curricular A organização e o desenvolvimento do currículo A organização e o desenvolvimento do ensino As práticas de gestão técnico-administrativas e pedagógico-curriculares O desenvolvimento profissional A avaliação institucional e da aprendizagem Cabe à equipe gestora a articulação dessas frentes com vis- tas a garantir a atividade-fim da escola: a realização do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, cabe a essa equipe articular os diferen- tes atores, professores e funcionários, de modo a garantir que a apren- dizagem ocorra nas melhores condições. Para garantir que ocorra a interpelação entre essas frentes é imprescindível a qualificação da equipe gestora e pedagógica. Com base na organização da administração escolar, sintetize as principais funções e respon- sabilidades dos membros da escola, analisando as condições para a atuação expressa nessas funções. Atividade 1 34 Planejamento Institucional 2.2 Planejamento participativo Vídeo A LDB, Lei n. 9.394, de 1996, é um importante instrumento para a constituição e consolidação de um planejamento participativo. O artigo 1º define a educação como processo formativo que envolve a vida em família, a convivência humana, o trabalho, as instituições de ensino e pesquisa, os movimentos sociais, as manifestações culturais e as organizações da sociedade civil. No artigo 3º, são apresentados os princípios que regem a educação e a ênfase recai sobre o planejamento e as políticas públicas, além de focar a gestão democrática do ensino público. Ao tratar da gestão democrática da educação pública, considera também a democratização do planejamento, isto é, um planejamento participativo para chegar à democratização da gestão escolar. A LDB indica a necessidade e a responsabilidade das escolas sob o planejamento no art. 12: Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docen- te; [...]. (BRASIL, 1996) Esse artigo da LDB é importante para a organização do trabalho pe- dagógico como parte da tarefa dos profissionais de educação, e traz em sua essência a importância do planejamento participativo. A maior inovação da LDB, quanto ao planejamento participativo, é expressa no art. 12 ao indicar como princípio “instituir para os estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagó- gica” (BRASIL, 1996), conferindo-lhes autonomia. O projeto pedagógico configura-se na legislação como um canal de participação e instrumento de viabilização da gestão demo- crática, requerendo a participação dos profissionais da educa- ção em diálogo com a comunidade escolar e extraescolar. No espírito legislativo da atual LDB 9.394/96 almeja-se que a pro- posta pedagógica e/ou projeto pedagógico constitua-se em instrumento de interação da comunidade e de intervenção na Planejamento estratégico institucional 35 realidade escolar. Cabe destacar que o projeto político-pedagó- gico adquire legitimidade no seio da comunidade escolar ao ser elaborado e implementado no bojo de um planejamento partici- pativo. (SILVA; FILHO, 2016, p. 1.326) O objetivo, por meio da elaboração da proposta pedagógica da escola, é ter um instrumento de diagnóstico, intervenção e transfor- mação da e na realidade escolar, permitindo a integração e participa- ção de todos no diálogo dos diferentes segmentos da escola, como funcionários, famílias, professores, comunidade escolar, alunos e a equipe gestora, à luz de um planejamento participativo, como previs- to na legislação. Para Vasconcellos (2010), num planejamento participativo todos têm o direito de se expressar. Segundo esse autor, um planejamento participativo precisa propiciar a interação e o diálogo, já que tem por finalidade a orientação na tomada de decisão e na execução dos obje- tivos e das metas estabelecidos pela comunidade ao: a. fazer a retroalimentação do sistema de informação oferecendo subsídios para o redirecionamento/re-planejamento das ações; b. otimizar os diferentes usos e realocações de recursos materiais, financeiros, humanos; c. viabilizar alternativas/estratégias para o estabelecimento do fazer pedagógico-organizacional a curto, médio ou longo prazo; d. visualizar a instituição escolar em sua totalidade considerando o enfoque holístico e os fatores interdependentes e suas relações; e. viabilizar as estratégias de inovação e de mudança cultural nos espaços organizacionais. (VASCONCELLOS, 2010, p. 36) Entretanto, é necessário entendermos como transformar em práti- ca essa teoria. Um exemplo dessa viabilidade na prática é a implanta- ção de conselhos de classe com a participação de alunos na definição de regimentos e estratégias para superação das dificuldades apresen- tadas. Em geral, os conselhos de classe tradicionalmente são realiza- dos somente ao fim do semestre quando se decide se vai reprovar ou aprovar determinados alunos, e, portanto, sem a presença dos alunos, quando já não há mais o que se fazer. Assim, com base nesse princípio de planejamento participativo, ao serem envolvidos, os alunos tornam- -se corresponsáveis com as ações e decisões, de fato, participando do processo. O planejamento participativo mostra-se como um avanço no sentido da superação da organização burocrática do trabalho 36 Planejamento Institucional pedagógico escolar assentado na separação entre teoria e prática. É, portanto, mais coerente com a complexidade do trabalho educativo, que como vimos, não se resume a uma atividade meramente técnica, mas, ao contrário, define-se enquanto portadora de racionalidade política e ideológica. (SOUZA et al., 2005, p. 28) Nesse sentido, para se garantir essa participação coletiva, é necessário adotar metodologias de trabalho com esse coletivo, para que essa opção não se torne somente um nome democrático nas práticas escolares. Gandin (1994), em A prática do planejamento participativo, aponta alguns itens para que essa metodologia de trabalho se desenvolva na escola, mesmo que em momentos distintos, porém integrados: A indicação de um referencial A construção de um diagnóstico de realidade Programação de ações concretas Dessa forma, ao pensar o projeto político-pedagógico, deve-se de- finir o objetivo delineado, com base na realização tanto de um preciso diagnóstico da distância que a escola está do ideal construído coletiva- mente quanto da programação que levará à redução dessa distância. O diagnóstico não deve ser confundido com um simples levantamento de problemas, uma vez que em um diagnóstico se julga, à luz da teoria, a origem dos problemas que enfrentamos na escola, além de se levan- tar as necessidades do dia a dia escolar. Outraquestão que geralmente vemos acontecer nas escolas é a di- visão entre a equipe que planeja e equipe que executa. Na construção com a ideia de planejamento participativo, é necessário que planeja- mento e execução caminhem juntos. Surge, então, ao expressar um conjunto de opiniões e ações de um coletivo, e de maneira participativa, a ideia de que, mais do que uma proposta ou projeto pedagógico, as propostas escolares contenham o derivativo político-pedagógico, pois alguns autores da linha mais críti- ca, entre eles, Paulo Freire, vão defender que, em termos educacionais, Planejamento estratégico institucional 37 não há neutralidade, logo, todos os posicionamentos e processos de escolhas são relacionados à forma de ser e estar no mundo. Ocorre, portanto, um posicionamento político-pedagógico, assim toda propos- ta deveria ser um projeto político-pedagógico. Outros autores defendem que exatamente pelo imperativo de que não há neutralidade na educação, uma proposta pedagógica já con- templa um posicionar-se no mundo, ou seja, seria redundante o deri- vativo “político”, levando a outras interpretações. Independentemente do nome que se dê, o mais importante é ter a clareza dos processos de participação e da expressão dos ideais da instituição em sua proposta, que pretende ser pedagógica, portanto, educativa. Com base nos princípios de planejamento participativo aqui debatidos, procure refletir e sin- tetizar de que maneira a escola pode melhorar o envolvimento dos sujeitos da escola de modo participativo nos conselhos de classe, por exemplo. Atividade 2 2.3 Cultura escolar, currículo e qualidade no ensinoVídeo Se pedíssemos para você expressar resumidamente o que é a educa- ção, muito provavelmente seu entendimento seria de que a educação é um processo de transmissão dos saberes acumulados pela humanidade às gerações mais novas. Bourdieu e Passeron (1992), na obra A reprodu- ção: elementos para uma teoria do sistema de ensino, tratam exatamente desse papel da escola na produção e reprodução das condições institu- cionais para a reprodução cultural e social. Contudo, esse é um longo debate e tema das mais diversas pesquisas mundo afora. O importante para nossa discussão neste momento é entender o que Forquin (1993) denominou de cultura da escola e cultura escolar. O que acontece no interior da escola, em seu cotidiano, vai definir a cul- tura da escola, ou seja, o que caracteriza aquela instituição em particu- lar, o modo de ser daquela escola. Mas existe ainda uma tradição sobre o que são práticas escolares, ou aquele conjunto de saberes didatiza- dos, selecionados e organizados, que só encontramos em instituições escolares, esses sim vão caracterizar uma cultura escolar. Por exemplo, falar em livros de chamada, saberes disciplinarizados (conhecimentos organizados por disciplinas), enfim, esse mundo que só se faz presente em ambientes educacionais, ou seja, no universo escolar e o modo de gerir esses conhecimentos, é o que formou e continua a formar uma cultura escolar. 38 Planejamento Institucional Definidos os papéis dos atores pedagógicos no processo educati- vo, outras questões da cultura escolar giram em torno dos objetivos e conteúdos a ensinar, perpassando pela discussão de currículo, os mé- todos de se ensinar, além das discussões de metodologias de ensino e a averiguação sobre se o que foi ensinado deu certo, passando pelas questões da avaliação de aprendizagem, claro que tudo isso no tempo e espaço onde ocorre a educação escolar. O planejamento é um dos elementos-chave dessa cultura escolar, pois envolve a razão de ser da instituição escolar, ao pensar um planeja- mento institucional e os objetivos que se têm de modo amplo; engloba, também, um planejamento anual ou semestral de ações ou projetos pe- dagógicos geralmente debatidos no início dos semestres ou ano letivos; envolve, ainda, o planejamento de conteúdos curriculares a serem en- sinados em cada etapa; e, por fim, o planejamento diário do professor, como o plano de aula a ser ministrado a cada dia. Assim, para uma melhor qualidade na educação, devemos ter em mente as questões sobre planejamento em cada etapa desse processo que compõe o conjunto do trabalho pedagógico escolar. Em geral, o planejamento se dá com base nas questões curriculares, ou seja, baseando-se naquilo que foi definido que deverá ser ensinado. Porém, autores como Wiggins e McTighe (2019) apresentam uma lógica baseada em resultados desejados e em experiências de aprendizagem e de ensino no chamado planejamento reverso. No meio educacional, muito se tem falado sobre a ação de planejar, mas o quê? E para quê? Precisamos adentrar na discussão sobre o que é, então, o currículo escolar, para aprofundar melhor essa discussão e em outro momento tratar das questões sobre a avaliação desse processo. O currículo escolar, de acordo com Moreira e Candau (2006, p. 25), já foi definido como: • Listagem de disciplinas a serem ensinadas e, dentro de cada disciplina, os conteúdos. • Currículo - enquanto conhecimento escolar, conteúdo, grade etc. • Conjunto de experiências que o aluno vive na escola sob a orientação do professor. • Currículo - como um plano. • Currículo - associado à listagem de objetivo. O livro Planejamento para a compreensão: alinhando currículo, avaliação e ensino por meio do plane- jamento reverso apresenta formas de abordagem di- ferenciada na maneira de se fazer um planejamento alternativo. Nesse caso, os autores apresentam em profundidade todos os princípios de planeja- mento reverso. WIGGGINS, G.; McTIGHE, J. Porto Alegre: Penso, 2019. Livro Planejamento estratégico institucional 39 Em cada definição dessas de currículo, podemos imaginar uma forma de se planejar, pois a ação curricular não é algo que acontece de qualquer jeito, precisa ser planejada, pensada, organizada, haja visto os debates em torno da implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e como planejar o ensino com base nas definições desse documento. Essas definições e esses caminhos percorridos pelo currículo, ou nesse caso podemos pensar como exemplo a própria BNCC, perpassam anteriormente por todo debate sobre sua concepção – o que leva anos –; depois passam pela elaboração feita pelo Ministério da Educação e suas consultas tanto a consultores quanto a representantes da sociedade; encaminhando-se, então, aos sistemas de ensino estaduais e municipais que irão propor debates e discutir a implantação até chegar às unidades escolares, com as discussões de como incluí-los no projeto político- -pedagógico e nos planos de aulas elaborados pelos professores. Nesse sentido, pode-se afirmar que essas questões curriculares são repercutidas em: Currículo prescrito: no âmbito das políticas públicas, como o Ministério da Educação, é o que está determinado, estruturado, prescrito. Um exemplo de currículo prescrito é a BNCC. Currículo planejado: no âmbito dos sistemas de ensino, como as Secretarias Estaduais e/ou Municipais de Educação, que deverão plane- jar como implantar tal proposição. Currículo organizado: produzido no interior das unidades escola- res, como os projetos pedagógicos ou as grades curriculares, que irão organizar o conhecimento a ser trabalhado. Currículo em ação: produzido pelos professores do dia a dia de sala de aula, como planos de ensino, atividades e tarefas escolares. Currículo avaliado: conjunto das formas de avaliação da aprendi- zagem, avaliações internas, realizadas pelos professores, e avaliações externas, como vestibulares e sistemas de avaliação nacional, e até mesmo os internacionais que servem de parâmetro e norte sobre o que deve ser ensinado. Esses diversos enfoques de currículo escolar expressam ideias e valores também distintos, como quando se associa o currículo à experiência, o foco sai do conteúdo que se ensina, do conhecimento escolar que se aprende para a experiência vivenciada pelos sujeitos. Dessa maneira, para Moreira e Candau (2006),
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