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CURRÍCULO ESCOLAR EM UMA MARISTELA C . METZ SASS PERSPECTIVA INCLUSIVA CURRÍCULO escolar em uma perspectiva inclusiva MARISTELA C. METZ SASS A inclusão requer mudanças de paradig- mas educacionais. O cenário exige repen- sar as estratégias de ensino e entender que as salas de aula não são homogêneas, é pre- ciso compreender cada aluno na sua indivi- dualidade e ter a certeza de que todos são capazes de aprender. Quando o assunto é o currículo escolar em uma perspecti- va inclusiva, dois procedimentos precisam estar articulados para que a aprendizagem de todos os estudantes se efetive com qualidade: o conhecimento teórico e a atuação prática das pessoas envolvidas no processo de ensino. Nesse sentido, esta obra tem o objetivo de contribuir com a inclusão educacional, possibilitando o conhecimento das deficiências e dos transtornos de aprendizagem, bem como sugerindo possíveis adaptações curriculares que facilitem a dinâmica de ensinar e de aprender na diversidade. Código Logístico 59517 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6666-7 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 6 6 7 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva Maristela C. Metz Sass IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: sukmaraga/ENVATO ELEMENTS CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ S264c Sass, Maristela C. Metz Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva / Maristela C. Metz Sass. - 1. ed. - Curitiba[PR] : IESDE, 2020. 134 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6666-7 1. Educação - Currículos. 2. Educação inclusiva. 3. Ensino - Meios auxiliares. I. Título. 20-65547 CDD: 371.9044 CDU: 376 Maristela C. Metz Sass Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Instituto de Educação da América Latina (ISAL). Especialista em Metodologia da Educação a Distância e graduada em Pedagogia pela Faculdade Educacional da Lapa (FAEL). Professora do ensino superior, ministra as disciplinas de Prática Pedagógica, Estágio Supervisionado em Pedagogia e Inclusão Educacional. Psicopedagoga no ensino superior, com foco em adequações curriculares para pessoas com deficiência. Trabalha como professora nos anos iniciais do ensino fundamental e com educação especial e inclusiva. Atua na orientação de escolas para adequação curricular e na formação de professores com práticas inclusivas. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 Currículo escolar inclusivo 9 1.1 Estrutura do currículo escolar e seus aspectos inclusivos 9 1.2 A BNCC, o currículo e a educação inclusiva 15 1.3 Dimensões da acessibilidade educacional 20 1.4 Segregação, integração e inclusão 24 1.5 Ações colaborativas na escola inclusiva 28 2 Ensino e aprendizagem na educação inclusiva 33 2.1 Tríade da educação: currículo, planejamento e avaliação 33 2.2 Preparação e atuação do professor 39 2.3 Sala de aula e atendimentos especializados 43 2.4 Flexibilização e adaptação curricular 47 2.5 Relação professor/família 52 3 Adaptações curriculares para estudantes com deficiência 59 3.1 Quem são os estudantes com deficiência? 59 3.2 Adaptações curriculares para estudantes com deficiência visual 62 3.3 Adaptações curriculares para estudantes com deficiência auditiva 68 3.4 Adaptações curriculares para estudantes com deficiência intelectual 74 3.5 Adaptações curriculares para estudantes com deficiência física 79 4 Adaptações curriculares para estudantes com transtornos específicos de aprendizagem 86 4.1 Estudantes com transtornos específicos de aprendizagem 86 4.2 Adaptações curriculares para estudantes com dislexia 88 4.3 Adaptações curriculares para estudantes com discalculia 93 4.4 Adaptações curriculares para estudantes com disgrafia e disortografia 98 4.5 Adaptações curriculares para estudantes com TDAH 101 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 6 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva 5 Adaptações curriculares para estudantes com transtorno espectro autista 109 5.1 Transtorno espectro autista 109 5.2 Autista na escola comum 113 5.3 Como adaptar o currículo para o TEA 117 6 Inclusão educacional: desafios e superações 121 6.1 Medos, incertezas e superações 121 6.2 Experiências de professores 125 6.3 Experiências de famílias 130 Quando o assunto é o currículo escolar em uma perspectiva inclusiva, dois procedimentos precisam estar articulados para que a aprendizagem de todos os estudantes se efetive com qualidade: o conhecimento teórico e a atuação prática das pessoas envolvidas no processo de ensino. Esta obra tem o objetivo de contribuir com a inclusão educacional, possibilitando o conhecimento das deficiências e dos transtornos de aprendizagem, bem como sugerindo possíveis adaptações curriculares que facilitem a dinâmica de ensinar e de aprender na diversidade. A inclusão requer mudanças de paradigmas educacionais. O cenário exige repensar as estratégias de ensino e entender que as salas de aula não são homogêneas, é preciso compreender cada aluno na sua individualidade e ter a certeza de que todos são capazes de aprender. No primeiro capítulo, trazemos o conceito de currículo escolar, os aspectos que o tornam inclusivo, as reflexões sobre inclusão na Base Comum Curricular (BNCC) e a aplicabilidade de um currículo inclusivo em todas as etapas de ensino. Abordamos também as dimensões da acessibilidade, tendo em vista que somente é possível incluir se a garantirmos. No segundo capítulo, comentamos sobre a articulação harmoniosa que se faz necessária entre currículo, planejamento e avaliação para a garantia da aprendizagem, e o quanto são fundamentais as formações teórica e prática do professor para que isso se concretize. Ressaltamos também a importância do trabalho colaborativo entre a sala de aula comum, o atendimento especializado e a família no processo educativo. No terceiro capítulo, apresentamos conceitos relacionados às deficiências física, visual e intelectual e sugerimos algumas reflexões e práticas adaptativas para o estudante com deficiência em sala de aula, reforçando a necessidade de conhecer cada uma dessas deficiências e de buscar estratégias de ensino que atendam às especificidades dos estudantes. No quarto capítulo, elencamos os transtornos específicos – dislexia, discalculia, disgrafia e disortografia – e mostramos que os estudantes com dificuldades de leitura, escrita e cálculos também precisam de adaptações curriculares para aprender. Para tanto, trazemos algumas orientações de trabalho em sala de aula com estudantes com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). APRESENTAÇÃO 8 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva Informações sobre o transtorno espectro autista (TEA) se fazem presentes no quinto capítulo, com o intuito de auxiliar na identificação dos sintomas, preparar o ambiente educacional e promover práticasacessíveis para estudantes autistas. Embora a inclusão educacional gere medos e incertezas nas pessoas envolvidas, a superação faz com que trabalhar com a diversidade seja gratificante. O sexto capítulo traz relatos de professores que aprenderam na prática estratégias diferenciadas de ensino que deram certo, famílias que superaram seus medos e estudantes com histórias de sucesso escolar. Essas histórias nos permitem aprender a olhar diferente, identificando as potencialidades, e não apenas as dificuldades das pessoas. Este livro busca, além de oferecer informação teórica e sugestões práticas, inspirar você para que sejamos todos atores no processo de inclusão, sendo observadores, pesquisadores e realizadores de práticas de ensino que garantam a aprendizagem de todos os estudantes, independentemente de suas características. Currículo escolar inclusivo 9 1 Currículo escolar inclusivo Tratar de currículo escolar inclusivo não é tão difícil, não é mes- mo? Mas para torná-lo realidade, muitas questões são merecedo- ras de atenção e precisam ser compreendidas por aqueles que desejam uma escola que atenda a todos os alunos, respeitando as suas potencialidades e limitações. Não temos dúvida de que você é uma dessas pessoas. Ao estudar os conteúdos apresentados neste capítulo, teremos a oportunidade de ampliar o conhecimento teórico e prático de questões relacionadas com o currículo escolar e veremos quais são os aspectos que devem ser considerados para que ele atenda à diversidade. Também conheceremos assuntos relevantes para a construção de uma educação inclusiva, como: a acessibilidade em todas as suas dimensões; a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), alicer- ce da construção curricular e fortalecedora de aspectos inclusivos; a diferenciação entre segregação, integração e inclusão; e a valori- zação do trabalho cooperativo em uma escola inclusiva. 1.1 Estrutura do currículo escolar e seus aspectos inclusivosVídeo No universo escolar, o currículo é comumente mencionado pelos profissionais da educação, e muitas são as respostas do conhecimen- to teórico e prático sobre o assunto. Para iniciar nosso estudo, com- partilharemos algumas definições sobre currículo que presenciamos ao longo da trajetória profissional. Você também poderá acrescentar a essa reflexão o que já teve a oportunidade de escutar ou ler sobre o assunto. Em síntese, currículo é: 10 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva • O caminho que devemos seguir para ensinar. • Uma ferramenta de ensino indispensável. • A chave da escola, não há como ensinar sem o currículo. • O documento mais importante de uma instituição de ensino. Mas você sabe exatamente o que é o currículo escolar? Que tal ampliar o conhecimento sobre o assunto por meio dos conceitos teóri- cos que serão apresentados? Assim, entenderemos como é possível a construção de um currículo escolar inclusivo. “Etimologicamente falando, o termo currículo deriva do verbo latino ‘currere’, que significa ‘correr’, tendo por substantivos, ‘cursus’ (carreira, corrida)” (GOODSON, 1995, p. 7, grifo nosso). Ao interpretarmos essa definição, podemos entender que o currículo é uma corrida do professor e dos estudantes. O docente pre- cisa vencer os conteúdos programados que lhe foram apresentados no início do período escolar, percorrer um trajeto predeterminado e conseguir ultrapassar uma linha de chegada, ao término do ano letivo ou ao término de um curso. Já os discentes devem aprender o que foi proposto, todos no mesmo tempo, espaço e ritmo, considerando essa concepção de currículo. No entanto, como ficarão os estudantes que não acompanharem esse ritmo? Aí está a resposta inicial do porquê se faz necessário um currículo inclusivo. Aqueles alunos que não conseguirem seguir o ca- minho apresentado e aprender a sequência de conteúdos da maneira como foi ensinada no tempo determinado perdem a corrida, metafo- ricamente falando. Em termos pedagógicos, são reprovados. Você já vivenciou esse modo de pensar o currículo? Já ouviu de um amigo, parente ou professor que a pessoa reprovou porque não deu conta de aprender todos os conteúdos previstos? Infelizmente, ainda há espaço para esse pensamento no contexto educacional. Muitos educadores se sentem aflitos porque não conseguiram cum- prir o currículo escolar e desmotivados porque não tiveram tempo de ensinar aquele estudante que precisava de algo diferenciado, Defina currículo escolar de acordo com o seu conhecimento prévio. Não se preocupe se está correto, aprenderemos juntos. Anote a sua definição para não esquecer. Ao final deste capítulo, você poderá comparar o seu conhecimento inicial com o conhecimento adquirido por meio desta obra. Desafio Currículo escolar inclusivo 11 pois faltou tempo, como dizem. Também é comum encontrarmos alunos com vínculos negativos com a aprendizagem e a escola, pelo fato de não terem aprendido todos os conteúdos previstos para o ano/série no qual estavam matriculados. Essa realidade tem razão de existir, pois se trata de uma cultu- ra enraizada no sistema escolar, considerando que, por muitas dé- cadas, o currículo foi compreendido como uma ferramenta utilizada para controlar o professor: apresentava uma sequência de ensino pré-elaborada e que deveria ser aprendida por todos os alunos. Se- gundo Goodson (1995), a história do currículo tem relações com os momentos que a sociedade vive, estando ligada a fatores políticos e à realidade educacional. Assim, pode ser que essa maneira de com- preender o currículo como rol de disciplinas tenha sido necessária e alcançado os seus objetivos, à época. No entanto, com essa prática curricular, pensar em uma escola inclusiva é praticamente impossível, pois não se considera a diversidade, as habilidades e as potencialida- des; ensina-se de modo homogêneo. Vamos analisar outra definição cuja contribuição para a construção de um currículo escolar inclusivo é muito maior, pois tem uma dimen- são mais ampla e não se limita apenas a um quadro de conteúdos a serem cumpridos. A concepção de currículo inclui [...] desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e tec- nológico que a concretizam na sala de aula. Relaciona princí- pios e operacionalização, teoria e prática, planejamento e ação. (BRASIL, 2003, p. 59) Essa concepção de currículo já o torna mais amplo e dinâmico, não tão engessado, como na primeira definição apresentada, não é mes- mo? Ela faz referência a um conjunto de elementos que compõe o currículo, como a teoria, a legislação, o planejamento, a prática, a ação e o uso da tecnologia. A articulação dos componentes teóricos e práticos é de fundamen- tal importância na construção de um currículo inclusivo, pois é preciso compreender as ações de maneira integrada. Ao montar um quebra- -cabeça, por exemplo, a ideia é que tenhamos o todo, pois somente com todas as partes encaixadas conseguiremos entender a imagem, Ensinar na homogeneidade é acreditar que os estudantes são todos iguais e que aprendem com as mesmas estratégias de ensino, no mesmo tempo e espaço, por meio de um planejamento único. Ensinar na heterogeneidade é considerar a diversidade, que os estudantes não são iguais, que apresentam habilidades específicas inerentes à pessoa e que também têm dificuldades específicas, por isso, aprendem em ritmos diferenciados. Saiba mais 12 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva sem perder nenhum detalhe. Mas o que acontece se faltar uma peça? Ou se as peças estiverem soltas e não se encaixarem? Quando as peças não se encaixam, não é possível visualizar o todo, compreender o sentido da mensagem, a intenção da proposta. le m on o/ Sh ut te rs to ck Quando as peças se encaixam, o resultado aparece, sendo possível visualizar o todo e entender a função de cada peça, bem como os seus objetivos comuns. al ph a pa pera rt/ Sh ut te rs to ck Assim é o currículo, uma espécie de quebra-cabeça que precisa ser pensado, construído e compreendido na sua globalidade. Se cada par- te for entendida isoladamente, o resultado da sua aplicação não terá a mesma resposta. Para pensar em um em currículo inclusivo, é necessá- rio pensar no conjunto de procedimentos e nos princípios da educação inclusiva. Em relação a esses princípios, há uma frase que escutamos muito por aí, em vários documentos institucionais, e que, por essa razão, merece destaque: “toda pessoa deve ter direito à educação”. Pensando nisso, por que temos que falar em educação inclusiva? Isso já não deveria estar consolidado? Deveria, porém, não está. Há a necessidade de respaldo legal para garantir a inclusão educacional e, ainda assim, na prática, há distorção das ações; o sistema educacional diz ser inclusivo, porém há muito a ser feito. A Constituição Federal, no artigo 205, por si só, garante a educação inclusiva quando em seu texto há a seguinte afirmação: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e in- centivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desen- volvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL, 1988). Se educação é direito de todos, entendemos que não se permite a exclusão de qualquer que seja o estudante, em qualquer etapa de ensino, e que devem ser oferecidas todas as condições necessárias Currículo escolar inclusivo 13 para o desenvolvimento da pessoa para o exercício da cidadania. No mesmo documento, artigo 208, anuncia-se: “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988). A maior legislação do país determina incluir os estudantes com defi- ciência na rede regular de ensino, ou seja, da educação infantil ao ensi- no médio, englobando a educação de jovens e adultos, a qual também está inserida nesse contexto. É preciso ter claro que não basta apenas introduzir o estudante com deficiência na rede regular de ensino ou apenas adequar a estrutura física para atender a esse público específi- co. É necessário repensar a escola como um todo, quebrar paradigmas no ato de ensinar, ser capaz de compreender os limites e as possibili- dades de cada estudante e, principalmente, garantir a aprendizagem. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fortalece o que pre- coniza a Constituição, no capítulo IV, art. 54: “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular” (BRASIL, 1990). Já a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional (LDB), dentre as suas determinações, estabelece, no capítulo V, art. 58, que a educação especial, como modalidade de educação esco- lar, “deve ser oferecida preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1996, p. 27). Somente nessas três legislações apresentadas, o direito da pessoa com deficiência de estudar preferencialmente na rede regular de en- sino está garantido legalmente. Isso significa que nenhuma institui- ção poderá recusar a matrícula de nenhum estudante, quer tenha ou não deficiência, e que, caso persista na recusa, poderá responder judicialmente, sendo aplicada reclusão de dois a cinco anos e multa por descumprimento da lei, conforme previsto no artigo 98 da Lei n. 13.146/2015, do Estatuto da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015). Outro princípio que devemos considerar é que toda pessoa tem a capacidade de aprender. De acordo com Mantoan (2003, p. 36): os alunos aprendem nos seus limites e se o ensino for, de fato, de boa qualidade, o professor levará em conta esses limites e explorará convenientemente as possibilidades de cada um. Não se trata de uma aceitação passiva do desempenho escolar, e sim de agirmos com realismo e coerência e admitirmos que as esco- las existem para formar as novas gerações, e não apenas alguns de seus futuros membros, os mais capacitados e privilegiados. Na metade da década de 1990, a expressão portadores de deficiência foi substituída por pessoas com deficiência, a qual permanece até os dias atuais. Importante 14 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva É claro que nem todos aprendem com as mesmas estratégias e no mesmo ritmo, é preciso conhecer cada estudante individualmente, descobrir qual a sua habilidade mais aflorada e, por meio dela, ensinar conceitos que ainda não adquiriu. Devemos ter consciência de que um único estilo de aula não servirá para todos os alunos, pois há uma di- versidade presente na sala de aula. Você já observou como você aprende? Qual é a sua facilidade? Será que aprende lendo, ouvindo, escrevendo ou visualizando imagens? Você já pensou nisso? Procure observar o seu estilo de aprendizado. Um documento de importante leitura para ampliar a teoria e a prá- tica sobre a inclusão, principalmente sobre as possibilidades de traba- lhar com a diversidade, é a Declaração de Salamanca. A maior participação de governos, de grupos de apoio, de gru- pos comunitários e de pais e, especialmente, de organizações de pessoas com deficiências nos esforços para melhorar o acesso, ao ensino, da maioria das pessoas com necessidades especiais que continuam marginalizadas. (BRASIL, 2005, p. 15) Esse documento evidencia o direito de toda criança estar na es- cola e ser acolhida, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais e linguísticas. Outra questão importante é entender que cada estudante é úni- co, logo, o processo de aprendizagem de cada um também é único. Esse é mais um princípio da educação inclusiva. Quando entramos em uma sala de aula, precisamos pensar que ali há muitas famílias dife- rentes, experiências de vida diferenciadas, genes biológicos e culturas distintos, por isso o olhar do professor também precisa ser diferente. O convívio com a diversidade beneficia a todos; podemos dizer que é um princípio compensador. Quando experimentamos as diferenças, nos damos conta do quanto aprendemos, e é nesse cenário que está a riqueza de saber conviver com o próximo, quando a dificuldade que antes parecia existir se transforma em oportunidade. Muitos são os marcos regulatórios para tornar a inclusão realida- de. Além dos já mencionados, em 2008 o governo federal brasilei- ro criou a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva de Educação Inclusiva, garantindo a matrícula das pessoas com deficiên- cia na escola regular e estabelecendo um novo modelo de educação especial. Esse documento visa constituir políticas públicas promoto- O livro Estilos e estratégias de aprendizagem explana a aprendizagem como padrão pessoal desen- volvido pelo indivíduo. Os autores afirmam que há diferentes formas de aprender, e essas precisam ser compreen- didas por quem ensina e por quem aprende. Vale a leitura! VIDAL, L.; LOMÔNACO, J. F. B. Joinville: Clube de Autores, 2007. Livro Currículo escolar inclusivo 15 ras de uma educação de qualidade para todos os alunos. Em 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei n. 13.146/2015) instituiu a Lei Brasileira de Inclusão. Vale a pena conhecer o documento na íntegra, especialmente o capí- tulo IV, no qual se encontra explícito o direito de a pessoa com deficiência ter acesso e permanência nas escolas em todos os níveis de ensino. A lei assegura condições de acesso, participação e aprendizagem, ressaltando a importância da formação dos professores e das medidas necessárias para a consolidação de um currículo inclusivo. Após a reflexão sobre o que é currículo, responda: qual é a diferença entre uma proposta de currículo inclusivo e de currículo que se limita a um documento escrito, apresentando um rol de conteúdos a ser trabalhado? Atividade 1 1.2 A BNCC, o currículo e a educação inclusiva Vídeo Você já ouviu falar na BNCC, não é mesmo? Sabe o que significa essa sigla? Trata-se da Base Nacional Comum Curricular. Para en- tender o que issosignifica, vamos nos basear em um exemplo bem corriqueiro. Imagine que você resolveu construir uma casa. Qual é a primeira coisa a ser feita para que ela tenha uma boa estrutura e não desabe com a chuva, com o vento ou com o passar dos dias? Será que é possível construir a casa iniciando pelo teto? Com certeza, você já sabe a resposta: é necessário conceber, primeiramente, a base, o alicerce, correto? A BNCC é como um alicerce para a educação, no qual estão determi- nadas as aprendizagens essenciais comuns a todos os alunos, em todo o território nacional, que poderá ser incrementada de acordo com cada realidade por meio do currículo e da proposta pedagógica. Referência nacional para a formulação dos currículos dos sis- temas e das redes escolares dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e das propostas pedagógicas das institui- ções escolares, a BNCC integra a política nacional da Educação Básica e vai contribuir para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de con- teúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraes- trutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação. (BRASIL, 2018, p. 6) Observe que, na definição apresentada, objetiva-se o pleno de- senvolvimento da educação. Isso significa uma educação que con- tribua para uma sociedade mais justa e igualitária. Outro fator 16 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva importante é que, com a BNCC, todas as escolas passam a ter uma referência de aprendizagem obrigatória a ser utilizada na constru- ção de seus currículos e nas suas propostas pedagógicas. É fato que essa organização já havia sido feita no documento das Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN (BRASIL, 1996), porém, com a BNCC, passa a enfatizar a obrigatoriedade de ensino dos conteúdos míni- mos para cada etapa escolar. Nesse sentido, a Base apresenta 10 competências que deverão ser desenvolvidas da educação infantil até o ensino médio. Elas se- rão trabalhadas com as crianças pequenas, na primeira etapa da educação básica – educação infantil –, e aprimoradas ao longo do ensi- no (fundamental e médio), à medida que a pessoa vai se desenvolven- do, amadurecendo e progredindo física, intelectual e socialmente. Figura 1 As dez competências da BNCC 1 Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital. 2 Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade. 3 Reconhecer e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, locais e mundiais, e participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. 4 Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica. 5 Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de maneira crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares). 6 Prestigiar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências. 7 Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis. 8 Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo as suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9 Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação. 10 Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Fonte: Elaborada pela autora com base em Brasil, 2018, p. 7-8. Currículo escolar inclusivo 17 Você pode se perguntar: mas de que maneira a BNCC vai contribuir com a educação inclusiva? A inclusão está presente em todo o docu- mento, porém é necessário compreender o contexto. Ela não aborda de maneira fragmentada a educação especial e a inclusão, afinal, en- tende-se que, se há o desejo de incluir, é preciso incluir, de fato, não é mesmo? Na própria definição da BNCC já se faz presente a inclusão, quando o texto enfatiza se tratar de um documento aplicado a todos, sem discriminação. Vamos observar exemplos pontuais para deixar mais nítida essa explicação. Leia com atenção a oitava competência: “Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diver- sidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas” (BRASIL, 2018, p. 8). Essa é uma habilidade que será trabalhada com todos os alunos, significando que deverão aprender, desde muito pequenos, sobre a diversidade hu- mana, a respeitar os outros, independentemente de suas limitações, a ser capaz de entender o outro. Isso se aplica à inclusão da pessoa com deficiência. Explorar isso com as crianças da educação infantil e com os estudantes dos ensinos fundamental e médio é um grande passo para promover a inclusão educacional naturalmente. Ainda em diálogo com a BNCC, vamos entender a competência nove: Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, iden- tidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qual- quer natureza. (BRASIL, 2018, p. 8) Há palavras muito específicas nessa competência e necessárias para garantir a inclusão educacional. Imagine se todas as crianças aprenderem a cooperar, a respeitar, a compreender os direitos do ou- tro e, ainda, perceberem que há pessoas com saberes, potencialidades e culturas diferentes? Melhor do que entender isso é praticar, sem pre- conceito, a riqueza da diversidade. Se isso se concretizar, talvez, nem seja mais preciso tratar de inclusão educacional. Em todas as competências da BNCC, que não são trabalhadas iso- ladamente, e sim em conjunto, os profissionais da educação terão oportunidades de abordar a inclusão, de desenvolver em si e nos seus alunos atitudes inclusivas. Isso não acontece somente com as com- 18 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva petências gerais, mas, também, com as competências específicas do documento. A BNCC apresenta a oportunidade aos gestores e à equipe de cada escola de organizar os currículos de modo a dar conta de ensinar a todos os estudantes, considerando as suas especificidades. Antes do documento, o professor escolhia a sua disciplina, os conteúdos, e orga- nizava a sua aula. Agora, primeiro o docente verifica os componentes curriculares (ensinos fundamental e médio) e os campos de experiên- cia (educação infantil) e, com base neles, pensa no seu planejamento, no que vai ensinar, em quais serão as estratégias e as adaptações que terá de fazer. E a relação com o currículo? Então, a BNCC é currículo? O que você pensa sobre isso? Precisamos esclarecer que a Base e o currículo não são a mesma coisa. Imagine a BNCC como o centro e que, segundo tudo o que está nesse centro, o qual é a base, serão desenvolvidas outras ações, inclusive a construção do currículo. Tudo o que está no centro servirá de embasamento e direcionamento para novas ações – currículo, projeto pedagógico e adaptações –, tecendo uma teia mui- to bem consolidada para garantir a qualidade do ensino a todos os estudantes. A BNCC estabelece o mínimo que a criança/estudante deve apren- der em determinado ano escolar, mas isso não significa que não possa ser ensinado mais, desde que se garanta, primeiro, o mínimo. “Além disso, BNCC e currículos têm papéis complementares para as- segurar as aprendizagens essenciais definidas paracada etapa da Educação Básica, uma vez que tais aprendizagens só se materializam mediante o conjunto de decisões que caracterizam o currículo em ação” (BRASIL, 2018, p. 14). Agora que você já sabe que a Base não é o currículo – ambos são documentos complementares –, vamos pensar sobre quais elemen- tos favorecem um currículo inclusivo, para que este não seja apenas compreendido como um mero documento escrito. • Documento escrito: isoladamente, esse documento não passa de um fragmento do currículo, que se resume aos conteúdos a serem abordados. Porém, se construído em conjunto com pro- fessores, gestores, alunos e sociedade, ganha vida e direciona o que a escola quer ensinar e como será na prática. Sugerimos a leitura das seguintes competências específicas da BNCC: competência seis, do componente curricular Geografia; competência um, de Arte; competência cinco, de Linguagem; e competência cinco, de Matemática. Observan- do, também, os demais componentes específi- cos, notará a inclusão presente. Disponível em: http:// basenacionalcomum.mec.gov.br/ images/BNCC_EI_EF_110518_ versaofinal_site.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. Leitura A BNCC traz algumas alterações nas terminologias. A educação infantil, que antes era uma área de conhecimento, passa a ser chamada de campo de experiência, porque o intuito não é apenas que a criança tenha o conhecimento, mas sim que ela experimente esse conhecimento sabendo agir, utilizando-se dele. Nos ensinos fundamental e médio, passa-se a tratar de componentes curriculares, e não mais de conteúdos, porque componentes indicam uma composição, algo maior, não isolado. Atenção http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf Currículo escolar inclusivo 19 • Escola: precisa ter clareza de sua função, olhar além dos mu- ros da instituição e pensar: afinal, que alunos queremos for- mar? A escola necessita de padrões avaliativos para saber o que mudar no currículo, o que acrescentar, o que não está atendendo ao público específico. É por meio de um currículo bem elaborado que a instituição é reconhecida positivamente na sociedade. • Professor: ensinará o que está proposto no currículo, com es- tratégias de ensino, planejando, analisando as necessidades apresentadas pelos alunos, por meio da compreensão do con- texto social, da realidade do público, colocando em prática o que foi proposto no documento escrito e sendo capaz de se espelhar nos estudantes para rever o currículo, considerando a diversidade. • Estudante: cerne do ensino, é para ele que o currículo deve ser pensado e praticado. • Sociedade: o estudante deve ser preparado para enfrentar situa- ções sociais, e essa participação precisa acontecer de maneira crí- tica, consciente e responsável. Entender as necessidades sociais e culturais é indispensável na formação do indivíduo. • Legislação: o conhecimento das legislações que norteiam o siste- ma de ensino é importante para a construção do currículo, pois é necessário o respaldo legal para tornar realidade o que se almeja de uma educação de qualidade para todos. Ressaltamos que os elementos mencionados precisam estar sempre conectados, quando fazemos elos, estabelecemos vínculos, unimo-nos para alcançar um objetivo comum – nesse caso, uma educação de qualidade a todos. Além disso, não devem ser consi- derados únicos, pois muitas outras necessidades surgem durante a construção de um currículo, tendo em vista que ele é dinâmico e que sofre mudanças e progressões para atender à realidade. De acordo com Guilherme (2019, p. 118), “o currículo deva propor adaptações às necessidades culturais da comunidade e do indivíduo, levando em consideração os diferentes lugares e a trajetória percorrida por seus grupos, integrando a escola a outras ações educativas culturais”. É preciso elaborar estratégias de adaptações possíveis para atender às necessidades da realidade da escola, garantindo a to- dos os alunos, com ou sem deficiência, a entrada e permanência, 20 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva a aprendizagem e o sucesso escolar. A BNCC elenca os componen- tes curriculares essenciais, isto é, o que não pode faltar nas etapas de ensino, mas a inclusão educacional dependerá do conjunto de elementos envolvidos, em sinergia, para a garantia dos direitos da aprendizagem. 1.3 Dimensões da acessibilidade educacional Vídeo Antes de iniciarmos o assunto, convidamos você a observar as fi- guras a seguir e a refletir sobre quais dos meios ilustrados utilizaria para garantir a acessibilidade. Você poderá escolher quantas figuras desejar. Posteriormente, compreenderemos o que significa cada uma delas. Figura 2a Julgamento Go od St ud io /S hu tte rs to ck M ac ro ve ct or /S hu tte rs to ck Figura 2c Comunicação Figura 2d Leis e decretos Sk yP ic s St ud io /S hu tte rs to ck Figura 2b Rampa de acesso Cl as si cV ec to r/ Sh ut te rs to ck Quais das figuras apresentadas você achou mais relevantes para garantir a acessibilidade? Imaginamos que não deixou de escolher a sinergia: ação simultânea; esforço coletivo; cooperação. Glossário Currículo escolar inclusivo 21 imagem da pessoa com deficiência física utilizando a rampa de acesso, certo? Você acertou na escolha, mas, na verdade, todas as ilustrações re- presentam acessibilidade. Geralmente, acabamos a associando so- mente com as barreiras arquitetônicas, isto é, as rampas, os banheiros adaptados, as barras de acesso, as edificações e os mobiliários. O fato é que não basta apenas tornar o ambiente acessível. As quatro figuras representam a acessibilidade em suas dimensões. A Figura 2a representa a acessibilidade atitudinal; a Figura 2b, a aces- sibilidade arquitetônica; a Figura 2c, a acessibilidade comunicacional; e a Figura 2d, a acessibilidade programática. Essas são apenas quatro dimensões da acessibilidade, mas há outras. Veremos cada uma delas mais adiante, mas, antes, vamos pensar um pouco sobre o conceito de acessibilidade. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT (2004, p. 20), entende-se por acessibilidade a “possibilidade e condi- ção de alcance, percepção e entendimento para a utilização com se- gurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”. Nesse conceito apresentado pela ABNT NBR 9050, é enfatizada mais a dimensão da acessibilidade arquitetônica, porém, se desejamos um ambiente educacional verdadeiramente in- clusivo, é necessário pensarmos de maneira mais ampla. Para expan- dir esse entendimento, em primeiro lugar, precisamos compreender que acessibilidade e inclusão não se separam; não há como garantir a inclusão sem assegurar a acessibilidade em todas as suas dimensões. Trata-se de um processo muito mais complexo do que apenas ade- quar a estrutura física do ambiente. De acordo com Sassaki (2009, p. 2), “a acessibilidade é uma quali- dade, uma facilidade que desejamos ver e terem todos os contextos e aspectos da atividade humana”. Devemos admitir que, de fato, a acessibilidade é uma qualidade, porque tornar acessível não é apenas realizar mudanças físicas, mas sim alterar comportamentos, e qualida- de é a essência positiva de uma pessoa, a capacidade de compreender o outro, de respeitar e de colaborar. Tendo isso em vista, o autor apresenta as seis dimensões de acessibilidade. São elas: 22 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva arquitetônica (sem barreiras físicas), comunicacional (sem barrei- ras na comunicação entre pessoas), metodológica (sem barreiras nos métodos e técnicas de lazer, trabalho, educação etc.), instru- mental (sem barreiras instrumentos, ferramentas, utensílios etc.), programática (sembarreiras embutidas em políticas públicas, legislações, normas etc.) e atitudinal (sem preconceitos, estereó- tipos, estigmas e discriminações nos comportamentos da socieda- de para pessoas que têm deficiência). (SASSAKI, 2009, p. 2) A acessibilidade na dimensão arquitetônica está relacionada com o espaço físico e à organização dele, para que não haja barreiras dificultando o acesso de pessoas com deficiência física e mobilida- de reduzida. Para essa garantia da acessibilidade arquitetônica, não basta apenas pensar no interior da escola, mas também no acesso a ela: a rua em frente à escola é acessível? Ela possibilita que uma pessoa em cadeira de rodas circule sem dificuldades? A calçada está rebaixada? Há sinalização? No interior da escola, é preciso observar se há rampas de acesso devidamente sinalizadas, banheiros adap- tados, corrimãos contínuos, bebedouros rebaixados, sinalização no piso etc. A acessibilidade em uma dimensão atitudinal, como o próprio nome sugere, depende apenas da atitude de cada pessoa. Se essa dimensão não acontecer, as demais estarão todas comprometidas. Estamos nos referindo à capacidade de conviver com o outro sem preconceito e discriminação. Essa dimensão ocorre, primeiramente, de modo individual, é o compromisso de cada um com o outro. Isso está previsto nas competências da BNCC, conforme estudamos neste capítulo. Na escola, é muito importante o fortalecimento dessa dimen- são atitudinal, isto é, trabalhar, com o corpo docente e discente, a família e a aceitação do diferente; ter atitudes simples do dia a dia que promovam a inclusão, como o acolhimento e a valorização das potencialidades. Se todo mundo fosse igualzinho, o mundo não teria graça! Mas só reconhecer que as pessoas são diferentes não basta. É preciso respeitar as diferenças. E os versos de diversidade nos ensinam isso, que não há um jeito único de ser: “assim ou assado, todos são gente, tudo é humano”. (BELINKY, 1999, p. 20) Sugerimos a leitura da NBR 9050 (ABNT, 2004), documento que estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados na construção, instalação e adaptação de edificações, mobiliários, espaços e equipamentos urbanos, quanto às condições de acessibilidade. ABNT. Rio de Janeiro, 2004. Leitura Currículo escolar inclusivo 23 Oferecer de maneira lúdica aos alunos a oportunidade de pensa- rem sobre a diversidade e terem atitude diante dela é uma boa dica para que essa dimensão se consolide nas salas de aula. Atividades com leituras também são muito viáveis. A dimensão comunicacional diz respeito à eliminação de barreiras na comunicação. Significa oferecer recursos que favoreçam a autono- mia da pessoa que necessita. Um sujeito cego, por exemplo, precisa de textos em braille, de audiodescrição, de recursos táteis e de softwares específicos (NVDA, Dosvox, Janz, Dolphin), que permitam a sua comu- nicação. Indivíduos surdos, por sua vez, dependem de um intérpre- te de Libras e de legendas. A Lei Federal n. 13.146 (Lei Brasileira de Inclusão – LBI), no inciso V, do artigo 3º, considera comunicação como: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visuali- zação de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunica- ção tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumen- tativos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações. (BRASIL, 2015, p. 20) Cabe salientar que as comunicações escrita e oral são consideradas, também, acessibilidade comunicacional. Assim, podemos dizer que significa não existir barreiras na comunicação, de maneira geral, tanto escrita quanto verbal ou digital. A acessibilidade metodológica é a dimensão que exige muita aten- ção no ato de ensinar. Podemos dizer que é uma acessibilidade pe- dagógica, referente às estratégias de ensino e aos materiais utilizados pelos professores para atender à diversidade de estudantes em sala de aula. Sassaki (2007), ao explicar a acessibilidade metodológica, enfatiza a importância de aprender sobre e aplicar as inteligências múltiplas, de respeitar os estilos de aprendizagem e de conhecer teorias e técnicas de ensino. Quando o autor menciona inteligências múltiplas, quer dizer que os estudantes aprendem de maneira diferenciada, bem como suas habilidades são diferenciadas. O professor precisa ter a capacidade de perceber a maior habilidade do estudante e, com base nela, facilitar o ensino e a aprendizagem. Quando o assunto é acessibilidade instrumental, precisamos re- fletir sobre as ferramentas de estudo utilizadas pelo estudante com de- O livro Diversidade pode ser utilizado, em qualquer etapa do ensino, para desencadear reflexões sobre essa temática. Depois de realizada a lei- tura, pode-se sugerir que os alunos escrevam ou desenhem seus pontos fortes e suas diferenças. BELINKY, T. São Paulo: Quinteto Editorial, 1999. Livro braille: sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. Libras: Língua Brasileira de Sinais. Glossário O currículo inclusivo se efetiva na sala de aula quando o professor articula teoria e prática e consegue ministrar aulas diferentes, que permitam ao estudante aprender por vários caminhos, quer seja pela oralidade e escrita ou pelas ativida- des sensoriais, musicais, cognitivas, motoras, espa- ciais. É o que aborda o li- vro Inteligências múltiplas: a teoria na prática. GARDNER, H. Porto Alegre: Artmed, 1995. Livro 24 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva ficiência, na escola ou fora dela. É preciso pensar no livro didático, nos objetos de escrita e nos materiais disponibilizados para ele aprender. Por exemplo, um aluno cego precisa de um instrumento cha- mado soroban para aprender matemática. A última, mas não menos importante, dimensão de acessibilidade é a dimensão programática, a qual diz res- peito a leis, decretos e documentos. Ela está presente em toda a legislação que norteia o processo de acessibilidade e inclusão. Muitas vezes, não é percebida pelas pessoas, porém, é de fundamental importância. De acordo com Guilherme (2019, p. 7): melhorias nas condições de acessibilidade, incentivos a partici- pação e efetivação dos processos de ensino e aprendizagem são fatores decisivos para atingirmos a essência presente nas dis- cussões fundamentais acerca dos grandes obstáculos e desafios da educação dos nossos tempos. Condições estas que trazem em sua esteira os fundamentos e concepções que permeiam a educação especial sob a perspectiva inclusiva. As dimensões apresentadas não acontecem isoladamente, elas se completam, quando o assunto é inclusão educacional. A acessibilidade atitudinal pode ser compreendida, dentre todas, como a mais essen- cial, pois, somente quando o ser humano for capaz de compreender a diversidade, a inclusão acontecerá. Na elaboração e execução de um currículo inclusivo, é preciso ter esse olhar mais amplo para não se limitar à acessibilidade na dimensão arquitetônica, mas em todas as suas dimensões. 1.4 Segregação, integração e inclusão Vídeo Segregar, integrar e incluir. Afinal, o que é isso? Para compreender o processo de inclusão educacional, é importante saber o que cada um desses termos significa e entender a aplicabilidade de seus conceitos, na prática, bem como o momento para tal. Diferentes atitudes foram tomadas ao longo dos tempos em bus- ca da inclusão das pessoas com deficiência no ensino regular. Observe um exemplo real, que ajudará a compreender o porquê da abordagem da sequência desses conceitos quando se trata de educação especial e inclusiva. A acessibilidade vai muito além do espaço físico, há outras dimensões que precisam ser observadas e aplicadas quando se deseja a construção de uma escola inclusiva. A dimensão daacessibilidade atitudinal deve ser a primeira a ser considerada. Explique-a e cite um exemplo prático de como ela pode ser estimulada nas instituições de ensino. Atividade 2 O soroban é um ábaco adaptado para pessoas cegas, com a finalidade de realizar cálculos. Ta tia na P an ko va /S hu tte rst oc k Figura 3 Soroban Currículo escolar inclusivo 25 Imagine uma corrida de obstáculos, na qual barreiras devem ser ultrapassadas para se chegar à vitória. Assim é o processo de inclusão educacional: muitas barreiras precisaram ser atravessadas para se che- gar ao cenário que temos hoje. Isso não significa que a corrida acabou, novos desafios estão sendo apresentados para garantir uma educação de qualidade a todos, e alguns paradigmas ainda precisam ser rompidos. Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Especial (BRASIL, 2001), a educação nem sempre foi oferecida a todas as pessoas; ape- nas os grupos mais favorecidos tinham acesso, os grupos compostos por pessoas ditas “normais”. Sendo o acesso um privilégio de poucos, os sujeitos em maior desvantagem eram os com deficiência, por serem considerados doentes e incapazes de aprender. Até mesmo a própria família tinha a compreensão de que ter um filho com deficiência era uma maldição, um castigo. Esse período foi caracterizado pela exclusão. Posteriormente foram elaboradas ações de assistencialismo e cari- dade para esse grupo de “excluídos”, entendido como marginalizado, desfavorecido e que carecia de uma educação diferenciada. Essa ma- neira de compreender a inserção da pessoa com deficiência no sistema de ensino e o ser humano como um todo: reforçava não só a segregação do indivíduo, mas também os pre- conceitos as pessoas que fugiam do padrão da “normalidade”, agravando-se pela irresponsabilidade dos sistemas de ensino para com essa parcela da população, assim como pelas omissões ou/e insuficiência de informações desse alunado nos cursos de formação de professores. (BRASIL, 2001, p. 20) Nessa ocasião, as pessoas com deficiência passaram por um processo de segregação: não podiam frequentar o ensino comum, eram separadas e atendidas em outras instituições, próprias para atendimento a deficientes. Surgiram, desse modo, as escolas espe- ciais, associações de atendimento a pessoas com deficiência, com uma política mais assistencialista do que pedagógica. Enfatizou-se a questão do preconceito com os que não se enquadravam nos pa- drões de normalidade e não havia preocupação do sistema de ensino em aperfeiçoar professores para trabalharem com esse público es- pecífico. Historicamente, isso aconteceu até a metade do século XX, e o discurso era que os estudantes com deficiência seriam melhor atendidos nas escolas especiais do que nas regulares, pois teriam um “currículo próprio”. 26 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva Beyer (2006, p. 21) enfatiza que as escolas especiais eram espaços segregadores, porque tinham que acolher os rejeitados, fracassados e deficientes que não conseguiam acompanhar o currículo regular de ensino, tornando-se, praticamente, um depósito cuja função era “trabalhar com as crianças que o sistema regular não sabe ou não quer lidar”. Às pessoas com deficiência não era oferecido o direito de frequentar as escolas comuns, sendo o acesso limitado às instituições especiais, já que se acreditava que não tinham capacidade para acompanhar o en- sino regular. Depois da exclusão e da segregação no sistema de ensi- no, veio o período de integração. Conforme formos entendendo como ocorre a integração da pessoa com deficiência na rede regular de ensi- no, procure relacionar com a realidade atual. De acordo com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001), o procedimento de integração iniciou de modo parcial: aqueles estudantes que estavam nas escolas espe- ciais, nas classes especiais, eram preparados para serem integrados à classe comum de ensino, como uma educação paralela entre a edu- cação especial e o ensino regular. Para que o estudante fosse incluído totalmente, precisava dar conta de acompanhar o currículo que era proposto para a escola comum. Com esse tipo de procedimento, os níveis mais avançados de ensino não eram alcançados e a segregação acabava por excluir a pessoa com deficiência. Posteriormente, a partir da década de 1980, ocorreu o procedi- mento de integração total do estudante com deficiência na rede regular de ensino, em virtude das novas políticas educacionais que enfatizavam o direito a uma educação para todos e, preferencialmen- te, na rede regular de ensino. Com a inserção desses estudantes nas escolas regulares, o cená- rio era de alunos com deficiência nas salas de aula. Todavia, apenas inseridos, e não incluídos, porque as estratégias dos professores para ensinar permaneceram as mesmas, e quem precisava se adaptar era o estudante. Nesse contexto, “a escola não muda sua rotina nem sua prá- tica pedagógica e, sim, os alunos é quem tem de mudar para se adaptar a sua realidade e as suas exigências” (REIS, 2013, p. 80). Atualmente, essa proposta de integração é visível nas escolas. É comum ouvirmos de professores a seguinte frase, quando visitamos Currículo escolar inclusivo 27 instituições que se dizem inclusivas: “aquele aluno é de inclusão, tem muitas dificuldades para aprender”; ou “meus estudantes não apren- dem porque há muitos alunos de inclusão juntos na sala de aula”; ou, ainda, “esse aluno não é meu, é da sala de recurso”. Mantoan (2006, p. 42) afirma que “quando há uma classe de inclusão, quando há uma esco- la de inclusão, quando há uma professora de inclusão, quando há as crianças de inclusão, não há inclusão”. Surge, assim, uma pergunta que não deve se calar e que todos os profissionais envolvidos com a educação precisam saber a resposta: qual é a diferença entre uma escola que integra e uma escola que inclui o estudante com deficiência? A primeira apenas coloca o estudante com deficiência na sala de aula, enquanto a segunda trabalha com o estudante os mesmos componen- tes curriculares sugeridos para os demais, porém, utilizando estratégias diferenciadas de ensino e avaliação. Isso significa que incluir não é deixar a pessoa com necessidades na sala de aula fazendo atividades diferen- ciadas, incluir é possibilitar que ela tenha direito aos mesmos conteúdos, apresentados de outra forma. A inclusão requer “uma nova visão das pessoas, uma mudança de mentalidade, de forma que todos sejam respeitados, indepen- dentemente de suas diferenças” (REIS, 2013, p. 80). Quando se trata de inclusão e se afirma que uma escola é inclusiva, é preciso respei- tar as diferenças e ensinar de maneira diferenciada aqueles que necessitam – isso serve para todos os alunos. De acordo com o exposto na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p. 11-12): o princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as ne- cessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respec- tivas comunidades. É preciso, portanto, um conjunto de apoios e de serviços para satisfazer o conjunto de necessidades espe- ciais dentro da escola. Como vimos, integrar é diferente de incluir o estudante com deficiência no ensino regular. A situação hipotética descrita a seguir retrata a integração de um aluno com déficit intelectual, na sala de aula. Leia o texto e, em seguida, apresente uma proposta para a inclusão desse estudante. A professora estava ministrando uma aula de Matemática cujo assunto era a composição da dezena. Explicou o conteúdo oral- mente, fez os alunos contaremde 1 a 10 e não utilizou nenhum outro recurso para ensinar. Paulo, que é estudante com deficiência intelectual, ficou perdido na aula, e a professora entregou a ele um desenho de uma árvore para pintar, enquanto os outros iriam registrar o que ela ensinou. Se você estivesse presenciando essa integração, que sugestões daria para a professora incluir o estudante Paulo? Atividade 3 28 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva Considerar o ritmo dos estudantes e os estilos de aprendizagem, flexibilizar e adaptar o currículo, valorizar as potencialidades, bem como compreender as limitações e entender que a escola é direito de todos significa a consolidação da inclusão educacional. 1.5 Ações colaborativas na escola inclusiva Vídeo Muito já foi conquistado, mas é fato que ainda temos desafios para chegar à qualidade desejável na educação inclusiva, e eles se- rão superados se ampliarmos, cada vez mais, as ações colaborati- vas. Devemos entender que, quando o atendimento educacional é oferecido para pessoas com deficiência, o professor precisa da co- laboração de todos os envolvidos com o estudante: Estado, família, equipe escolar, professores especialistas, profissionais da área de saúde. Todos trabalhando de maneira afinada. Você já observou uma orquestra? Por que a melodia é tão per- feita? A resposta é simples, mas o esforço é grande: é preciso trabalhar em sinergia. Assim como em um concerto, para garan- tir uma escola inclusiva, é preciso que haja essa sinergia entre os envolvidos. Vamos entender, do macro para o micro, quais são os atores no trabalho colaborativo para garantir a educação inclusiva. Se consultarmos a Constituição Federal, art. 205, encontraremos a se- guinte afirmação: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade” (BRASIL, 1988). Portanto, nesse artigo já se evidencia a responsabilidade do Estado no sentido de promover políticas de educação inclusiva, isto é, a garantia de acesso à educação públi- ca, sem qualquer tipo de discriminação, e a garantia de qualidade, além da disponibilização de recursos para a formação de professo- res e para atender à educação na sua diversidade. Podemos dizer que essas são as primeiras ações colaborativas, e elas partem de um sistema maior, o Estado. No que diz respeito à família, o parágrafo 6° da Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994) enfatiza que: “o sucesso delas [das es- colas inclusivas] requer um esforço claro, não somente por parte Currículo escolar inclusivo 29 dos professores e dos profissionais na escola, mas também por parte dos colegas, pais, famílias e voluntários”. Portanto, sinaliza que os pais dos estudantes com deficiência, bem como os estu- dantes que não têm deficiência, precisam participar, fomentando a cultura de respeito ao diferente, contribuindo com ações que for- taleçam a educação para todos, afinal, a família é a primeira insti- tuição da qual a criança faz parte, por isso, precisa ser integrada no processo pela escola. Mantoan (2006) explica a necessidade de a escola ter como par- ceira a família e a comunidade para elaborar e tornar real o seu projeto escolar, pois, com essa aproximação, será possível oferecer um ensino de qualidade. Fica claro, portanto, que cada um deve fazer a sua parte: a família cumprir com os seus deveres e a esco- la, como instituição parceira, aproximar as famílias, fortalecendo o processo de inclusão. Ações colaborativas entre os funcionários da escola, trabalhan- do todos com a mesma filosofia, compreendendo a diversidade, na teoria e na prática, excluindo o pensamento e a atitude de que pessoas com deficiência não são capazes de aprender são muito importantes para a garantia da inclusão. O trabalho colaborativo entre os professores é de fundamental importância, porque, jun- tos, poderão repensar práticas, desenvolver estratégias de ensino, sugerir implementações na proposta pedagógica, entender as po- tencialidade e dificuldades dos estudantes com deficiência ou com outras dificuldades, adaptar e flexibilizar o currículo. Para Peterossi (2005, p. 31): “essa possibilidade de trabalho colaborativo se dá por meio do diálogo entre os professores. É fundamental estarmos abertos ao diálogo, a construir diálogos, reconhecendo nossas limitações para podermos aprender com o outro, com os outros, nossos alunos, nossos companheiros, nos- sos pares”. Outra questão importante é o trabalho colaborativo entre o professor de sala de aula e o professor da sala de recursos, de apoio permanente ou de outros atendimentos especializados. Es- ses profissionais precisam “falar a mesma língua”, pois de nada adianta o professor especialista considerar as limitações do estu- 30 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva dante e incentivá-lo, reforçando as suas habilidades, se o professor da sala de aula não colaborar, não utilizar a mesma metodologia. Os professores de atendimentos especializados devem colaborar com o professor da sala de aula, ajudando no planejamento, adap- tando materiais que servirão para todos os alunos, não somente para os que têm deficiência, por meio do ensino colaborativo, o qual: visa apoiar as qualidades e necessidades de cada um e de todos os alunos da escola. Enfatizando a necessidade de se pensar na heterogeneidade do alunado como uma questão normal do grupo/classe e por em macha um delineamento educativo que permita aos docentes utilizar os diferentes ní- veis instrumentais e atitudinais como recursos intrapessoais e interpessoais que beneficiem todos os alunos. (SÁNCHEZ, 2005, p. 12) Devemos salientar que ensinar de maneira colaborativa é ambos terem a clareza dos objetivos a serem alcançados. Essa ação deixa de ser cooperativa quando cada professor tem o seu planejamento individualizado. Por isso, é preciso a interação das metas a serem alcançadas. É necessário também considerar os profissionais de saúde como colaboradores da educação inclusiva. Assim como o professor, a escola, de modo geral, deve receber orientações da psicóloga, da fonoaudióloga, do neurologista, da psicopedagoga, do oftalmologista, enfim, de todos os profissionais que atendem o estudante com deficiência. Esse compartilhamento de informações contribui para a maior segurança da escola nas suas ações diante da diversidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esperamos que os estudos deste capítulo tenham ampliado o seu co- nhecimento prévio sobre o currículo e que você tenha percebido a exis- tência de muitos elementos contribuintes para um currículo inclusivo. Não é possível considerar uma definição isolada ou uma única prática. Traba- lhar com a diversidade, construindo uma escola de qualidade, que ofereça aprendizagem para todos os alunos, requer a formulação de pensamen- tos e ações articulados, bem como a quebra de paradigmas educacionais e de conhecimentos e atitudes por parte de todos os envolvidos no pro- cesso. O assunto não se esgota aqui, há ainda muito o que aprender para nos tornarmos agentes no processo de inclusão educacional. Currículo escolar inclusivo 31 REFERÊNCIAS ABNT. NBR 9050: acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004. BELINKY, T. Diversidade. São Paulo: Quinteto Editorial, 1999. BEYER, O. H. Da integração escolar à educação inclusiva: implicações pedagógicas. In: BAPTISTA, C. R. et al. (org.). Inclusão e escolarização: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Mediação, 2006. BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: Ministério da Educação, 2018. 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Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 20 jul. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, DF: MEC, SEESP, 2001. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem – autismo. 2. ed. rev. Brasília: MEC, SEESP, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Saberes e práticas da inclusão: recomendações para a construção de escolas inclusivas. Brasília, DF: MEC, SEESO, 2005. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/const_escolasinclusivas. pdf. Acesso em: 22 jul. 2020. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. 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A construção de um currículo é muito mais do que listar disciplinas, pois envolve a participação de muitos elementos: família, professores, legislação, sociedade etc. O currículo deve conter estratégias de ensino, adaptações e planejamento para ensinar a todos os alunos. 2. Acessibilidade atitudinal é a capacidade de conviver com o outro, sem preconcei- to e discriminação. Ela pode ser estimulada por meio de ações com os alunos, os professores e a família, de palestras, de leituras e de dinâmicas de sensibilização. Um exemplo seria, nas reuniões de pais, apresentar evidências de atitudes, em sala de aula, que demonstram o trabalho colaborativo dos docentes e discentes, independen- temente de suas dificuldades e diferenças. A convivência de todos os estudantes de modo natural, sem discriminação no momento do ensino, é uma ótima maneira de promover a acessibilidade atitudinal. 3. Para a integração do estudante, é preciso envolver outras estratégias de ensino, como a utilização de material concreto, o desenho dos dez elementos e o uso de recursos didáticos, por exemplo, o ábaco e o material dourado. Ensino e aprendizagem na educação inclusiva 33 2 Ensino e aprendizagem na educação inclusiva Para que seja possível um ensino de qualidade e a aprendi- zagem de todos os estudantes na perspectiva de uma educação inclusiva, a harmonia é fundamental. Este capítulo possibilitará compreender, tanto na teoria quanto na prática, a importância da harmonia entre currículo, planejamento e avaliação; entre a sala de aula comum, os atendimentos especializados e a família; e prin- cipalmente entre os profissionais. Veremos que, para atender à diversidade, a escola precisa mudar, considerar as especificidades dos estudantes e propor soluções adequadas. 2.1 Tríade da educação: currículo, planejamento e avaliaçãoVídeo Quando pensamos sobre o que significa uma tríade, de imediato a relacionamos à junção de três elementos que, quando articulados, apresentam um conjunto maior. Por exemplo, na música, a represen- tação de três sons forma um acorde; na área de gestão existe a tríade dos Ps: pessoas, processos e produtos; na religião há a trindade: pai, filho, espírito santo; ao estudar meio ambiente, deparamo-nos com a tríade indivíduo, sociedade e espécie. E na escola? Com o objetivo de promover o ensino e a aprendizagem de estudantes com deficiência ou dificuldade de aprendizagem, será que existem tríades importantes que precisam ser compreendidas e fortalecidas? Com certeza, muitas tríades são relevantes no processo de ensino, como: aluno, escola e família; ou ensinar, cuidar e educar; e muitas outras que você certamente já encontrou em suas leituras. No entan- to, destacamos uma tríade fundamental quando se deseja uma escola inclusiva, a tríade: currículo, planejamento e avaliação. 34 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva A compreensão desses elementos articulados na teoria e na prática – sem considerar um como mais relevante que o outro, pois ambos têm seu grau de importância no processo – ajuda a responder a algumas perguntas que chamam a atenção dos indivíduos envolvidos no ensino escolar e preocupados com a aprendizagem dos alunos. São elas: o que fazer quando o aluno não aprende? de que forma ensinar a turma toda, tendo em vista tantas diferenças? Para responder a essas perguntas, ou pelo menos tentar, porque não há receitas prontas na educação, vamos compreender passo a passo a tríade aqui apresentada, voltando nosso olhar para a apren- dizagem de todos, pois é assim que devemos entender uma educa- ção inclusiva. O currículo deve ter como alicerce as competências elencadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), considerando a realidade. Ou seja, o currículo que parece ideal para uma região, para uma instituição escolar, ou para um público, não necessariamente será o ideal para todos. Vamos tomar como exemplo o currículo para as escolas indígenas. De acordo com Rezende (2007, p. 174): o currículo da escola precisa ser um instrumento de valoriza- ção dos saberes e processos próprios de produção e recriação de cultura, tradições e línguas. Além disso, os educandos tam- bém precisam ter contato com o conhecimento historicamente acumulado, para que tenham condições de acesso à sociedade comum na qual estão inseridos, pois o fato de estarem na comu- nidade indígena, não os impede de terem acesso a tudo aquilo que lhes é de direito. Não se trata de pensar em um currículo apenas para atender à rea- lidade, é preciso pensar sobre ela também. O conhecimento deve ser oferecido para todos, mas é preciso programar a sua dosagem, valori- zar os saberes, a cultura, as tradições e a língua e considerar o que está determinadopara cada ano de escolaridade. O material intitulado Os princípios e as particula- ridades das escolas indí- genas brasileiras é uma leitura muito enriquece- dora para a compreensão e a valorização da cultura indígena e, também, para o trabalho com a diversidade. Disponível em: https://labedu.org. br/principios-particularidades- escolas-indigenas-brasileiras/. Acesso em: 22 jul. 2020. Saiba mais https://labedu.org.br/principios-particularidades-escolas-indigenas-brasileiras/ https://labedu.org.br/principios-particularidades-escolas-indigenas-brasileiras/ https://labedu.org.br/principios-particularidades-escolas-indigenas-brasileiras/ Ensino e aprendizagem na educação inclusiva 35 Imagine uma escola que acolhe muitos estudantes com dificulda- des cognitivas. No momento da construção do currículo, essa rea- lidade precisa ser considerada. Isso não significa não oferecer os conteúdos de direito de todos, mas sim pensar nas estratégias para ensiná-los. Assim, o currículo deixa de se prender apenas ao dis- curso e passa a valorizar as fases do desenvolvimento dos sujeitos, sendo organizado de acordo com as estruturas cognitivas de seus estudantes (SAVIANI, 2006). Você deve estar se perguntando: qual é a função do planejamento nessa tríade? Vamos partir do pressuposto de que planejar faz parte do dia a dia de todos nós. Planejamos uma construção, uma compra, uma refeição diferenciada, uma festa, um encontro com os amigos, enfim, planejamos, planejamos e planejamos e podemos afirmar que, enquanto fazemos isso, estudamos, porque realizamos pesquisas, comparamos preços, definimos datas etc. Para planejar o ensino, é necessário estudar os conteúdos, a realidade e a forma de ensinar e planejar o processo de avaliação. O planejamento norteia todo o processo educacional; ele ocorre no desenvolvimento do currículo e das aulas, na distribuição do tempo escolar e na elaboração da avaliação. Para Mittler (2003, p. 43), “ao planejar os professores devem estabelecer expectativas al- tas e criar oportunidades para todos os alunos aprenderem com sucesso”. Portanto, em relação às perguntas iniciais do capítulo – o que fazer quando o aluno não aprende? Como faço para ensinar a turma toda com tantas dificuldades? – a resposta é: planejar o ensino. Além disso, devemos acreditar que todos são capazes de aprender e criar oportu- nidades para que a aprendizagem se efetive. Isso significa pensar nos espaços, na sensibilização, nas estratégias de ensino, nos materiais necessários, na temporalidade, enfim, pensar nas dimensões da aces- sibilidade. O professor deve ter muito claro o que, para quem e como vai ensinar. Precisa, também, saber que o mesmo conteúdo pode ser ensinado por meio de diversas estratégias, visto que os alunos são di- ferentes e aprendem de maneiras distintas. A obra Saber escolar, currí- culo e didática: problemas da unidade conteúdo/ método no processo peda- gógico trata basicamente de questões relativas à conversão do conheci- mento em saber escolar e sua manifestação na elaboração de currículos e na constituição tanto das disciplinas esco- lares quanto dos seus respectivos programas, em relação a aspectos do desenvolvimento do processo pedagógico. SAVIANI, N. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2006. Livro 36 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva Na sala de aula A seguir são apresentadas práticas realizadas em uma turma do 5º ano do ensino fundamental, em uma aula sobre verbos, advérbios e a aplicabilidade desses conceitos no texto. Considere que nessa sala de aula há três alunos com déficit intelectual e um aluno com deficiência visual (cego), todos com laudo. 1. Utilizando atividade motora para ensinar O professor seleciona frases compostas por verbos e advérbios que têm como sujeito o nome dos alunos. Após a leitura de cada frase, um aluno é escolhido para realizar a ação, por meio de uma dramatização. • João anda vagarosamente pela sala. • Ana bate o lápis rapidamente na mesa de trabalho. • Jéssica caminha até a porta lentamente. Posteriormente, o professor solicita que cada aluno realize a ação novamente; porém, ao ditar a frase, não menciona os advérbios. Ao invés de falar “João anda vagarosamente pela sala”, diz somente: • João anda pela sala. Na sequência, pergunta se houve mudança na ação: andar na sala e andar vagarosamente na sala têm diferença? 2. Utilizando a leitura para ensinar O professor convida os estudantes a realizar a leitura e interpretar as frases sugeridas anteriormente – para o aluno cego, elas são dis- ponibilizadas em braille. Em seguida, sugere-se a leitura da frase com o advérbio e, depois, sem o advérbio. Ao final, é proposta a leitura de tabelas com os tipos de advérbios. 3. Utilizando a escrita para ensinar O professor convida os estudantes a escrever as mesmas frases, agora destacando os advérbios. • João anda vagarosamente pela sala. Depois, o docente sugere que as reescrevam retirando o advérbio e percebendo se houve modificação na interpretação da frase após a alteração. O aluno cego realiza a atividade oralmente. Ensino e aprendizagem na educação inclusiva 37 4. Utilizando objetos para ensinar O professor sugere a brincadeira objeto/palavras/ação que funciona da seguinte maneira: em uma caixa são colocados alguns objetos (por exemplo, garfo, blusa, bolsa); em outra caixa, os advérbios de modo; e, em uma terceira caixa, os verbos. Um dos estudantes é convidado a tirar um objeto, um advérbio e um verbo e formar a frase oralmente. As palavras também devem estar em braille para o estudante cego. Objeto Advérbio Verbo bolsa rapidamente comprar Essa é uma aula que permite a participação de todos os estudantes, independentemente de suas diferenças, pois aborda o mesmo conteú- do, ensinado de várias maneiras. O material para o estudante com de- ficiência visual deverá ser preparado pelo professor da sala de recursos multifuncional. Ensinar na diversidade exige pensar e executar o planejamento de modo dinâmico, com foco na realidade. Conforme Mantoan (2003, p. 41): ensinar a turma toda reafirma a necessidade de se promover situações de aprendizagem que formem um tecido colorido de conhecimento, cujos fios expressam diferentes possibilidades de interpretação e de entendimento de um grupo de pessoas que atua cooperativamente, em uma sala de aula. Isso significa que o diálogo é fundamental na sala de aula, pois é preciso procurar entender de que forma cada aluno, com sua experiên- cia de vida e seus conhecimentos prévios, pode contribuir para ampliar o conhecimento de todos no grupo, inclusive do professor, que deve ensinar e aprender simultaneamente. Na tríade currículo, planejamento e avaliação, com o objetivo de ensinar todos os alunos e garantir a aprendizagem, podemos afirmar que a avaliação ocupa um lugar de importante destaque – e não o úl- timo, ou seja, o fim do processo. Ela precisa ser compreendida como um princípio de aprendizagem para o estudante e professor, não se limitando a testes utilizados de maneira igualitária para medir o co- nhecimento da turma ou sendo usada como “instrumento fechado, um 38 Currículo escolar em uma perspectiva inclusiva ritual que acontece nas escolas com a finalidade de compor a nota dos alunos” (METZ; PIENTA, 2011, p. 156). Na educação inclusiva, a avaliação escolar deve ter a finalidade de detectar avanços específicos, considerando limitações e habilidades in- dividuais, como um instrumento para reorganizar o planejamento do professor, com o objetivo de “ensinar melhor”. A avaliação deverá ser assumida como um instrumento de com- preensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possam avançar no seu processo de ensino aprendiza- gem. Se é importante aprender aquilo que se ensina na escola, a função da avaliação será possibilitar ao educador condições de compreensão do estágio em que o aluno se encontra,
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