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PENAL 2ª FASE 35º EXAME Crimes em Espécie Aulas ao vivo e aulas complementares Olá, alunos! Sejam bem-vindos ao E-book de Crimes em Espécie! O presente E-book será destinado exclusivamente ao estudo dos Crimes em Espécie. Nele conterão os conteúdos das aulas ao vivo e aulas complementares referentes ao assunto. Os conteúdos das aulas ao vivo são os primeiros do E-book, com a indicação do dia previsto. Após, segue a ordem de conteúdo das aulas complementares, ou seja, aulas gravadas, na sequência em que dispostas no nosso Portal. Qualquer dúvida a respeito da distribuição de conteúdos, estaremos à disposição para lhe auxiliá-los através da ferramenta “Pergunte ao professor”! Bons estudos, Abraços, Equipe Ceisc. 2ª FASE OAB | PENAL | 35º EXAME Direito Penal Prof. Arnaldo Quaresma SUMÁRIO Crimes em Espécie contra a vida 1.1 Homicídio simples ............................................................................................... 6 1.2 Homicídio privilegiado ......................................................................................... 9 1.3 Homicídio qualificado ........................................................................................ 11 1.4 Homicídio culposo ............................................................................................. 17 1.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio .................................................... 20 1.6 Infanticídio ......................................................................................................... 24 1.7 Aborto ................................................................................................................ 26 Crimes em Espécie contra o patrimônio 2.1 Furto .................................................................................................................. 30 2.2 Roubo ................................................................................................................ 38 2.3 Extorsão ............................................................................................................ 46 2.4 Extorsão mediante sequestro ............................................................................ 48 2.5 Dano .................................................................................................................. 51 2.6 Apropriação indébita ......................................................................................... 53 2.7 Estelionato......................................................................................................... 55 2.8 Receptação ....................................................................................................... 59 2.9 Escusas absolutórias ........................................................................................ 61 Lesão Corporal ........................................................................................................ 65 3.1 Lesão corporal leve ou simples ......................................................................... 65 3.2 Lesões corporais graves ................................................................................... 65 3.3 Lesão corporal gravíssima ................................................................................ 66 3.4 Lesão corporal seguida de morte ...................................................................... 67 3.5 Lesão corporal contra a mulher por razões da condição do sexo feminino ...... 68 Crimes em Espécie contra a honra 4.1. Calúnia ............................................................................................................. 69 4.2. Difamação ........................................................................................................ 69 4.3. Injúria ............................................................................................................... 70 4.4. Aspectos pontuais dos crimes contra a honra .................................................. 71 Crimes contra Dignidade Sexual ............................................................................. 75 5.1 Principais crimes contra a dignidade sexual...................................................... 75 5.1.1 Estupro ........................................................................................................... 75 5.1.2 Importunação sexual ...................................................................................... 77 5.1.3 Violação sexual mediante fraude ................................................................... 78 5.1.4 Registro não autorizado da intimidade sexual ................................................ 80 5.1.5 Estupro de vulnerável ..................................................................................... 81 5.1.6 Divulgação de cena de estupro e de estupro de vulnerável ........................... 83 Crimes funcionais contra a Administração Pública.................................................. 87 6.1 Introdução ......................................................................................................... 87 6.2 Peculato ............................................................................................................ 93 6.3 Concussão ....................................................................................................... 98 6.4 Excesso de exação ......................................................................................... 100 6.5 Corrupção passiva .......................................................................................... 101 6.6 Prevaricação ................................................................................................... 104 Crimes praticados por particular contra a Administração Pública 7.1 Resistência ...................................................................................................... 106 7.2 Desobediência ................................................................................................. 109 7.3 Desacato ......................................................................................................... 114 7.4 Corrupção ativa ............................................................................................... 120 7.5 Descaminho .................................................................................................... 124 7.6 Contrabando .................................................................................................... 132 Crimes contra a Administração da Justiça 8.1 Denúncia caluniosa ......................................................................................... 136 8.2 Comunicação falsa de crime ou de contravenção ........................................... 137 8.3 Falso testemunho ou falsa perícia ................................................................... 139 8.4 Coação no curso do processo ......................................................................... 145 8.5 Exercício arbitrário das próprias razões .......................................................... 147 8.6 Fraude processual ........................................................................................... 150 8.7 Favorecimento pessoal ................................................................................... 152 8.8 Favorecimento real .......................................................................................... 154 Crimes contra a Fé Pública 9.1 Introdução ....................................................................................................... 157 9.2 Moeda falsa ..................................................................................................... 158 9.3 Falsidade Documental ..................................................................................... 164 9.4 Falsidade Material ...........................................................................................165 9.5 Falsidade ideológica ........................................................................................ 170 9.6 Uso de documento falso .................................................................................. 176 9.7 Falsa identidade .............................................................................................. 180 9.8 Fraudes em certames de interesse público ..................................................... 182 PADRÃO DE RESPOSTAS .................................................................................. 184 Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para a 2ª Fase do 35º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. Bons estudos, Equipe Ceisc. Atualizado em junho de 2022. Crimes em Espécie contra a vida Aula prevista para ocorrer no dia 29/07/2022. Prof. Arnaldo Quaresma @profarnaldoquaresma 1.1 Homicídio simples – Art. 121, caput, CP 1.1.1 Conceito de homicídio É a morte de um homem provocada por outro homem. E a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. Trata-se de preservar o bem jurídico “vida extrauterina”. Antes do início do parto, com a dilatação do colo do útero, há vida intrauterina, constituindo-se, nesse caso, a eliminação da vida crime de aborto. 1.1.2 Meios de execução O crime de homicídio admite qualquer meio de execução, por disparo de arma de fogo, facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia, veneno, etc... Determinados meios empregados para a execução do delito podem qualificar o delito de homicídio, como, por exemplo, o fogo, veneno, explosivo. Normalmente o crime de homicídio é praticado por meio de uma ação do sujeito ativo; é possível, todavia, que o crime seja praticado por omissão, como, por exemplo, a mãe, pretendendo a morte do filho pequeno, deixa de alimentá-lo. Nesse caso, a mãe teria o dever de agir e de impedir o resultado, nos termos do artigo 13, § 2º, alínea “a”, do Código Penal. Existe, ainda, a participação por omissão. Suponha-se que um policial, ao dobrar uma esquina, veja um homem desconhecido estrangulando uma mulher. Ele está armado e pode evitar o resultado, tendo, inclusive, o dever jurídico de fazê-lo. Contudo, ao perceber que a vítima é uma pessoa de quem ele não gosta, resolve se omitir, permitindo que o homicídio se consume. O desconhecido é autor do homicídio e o policial, partícipe por omissão (porque tinha o dever jurídico de evitar o crime e não o fez) (GONÇALVES, 2013, p. 77). Para caracterizar ao menos tentativa de homicídio, o meio empregado para causar a morte deve, no mínimo, ser relativamente eficaz a produzir o resultado. Se a consumação do homicídio se mostrar impossível no caso concreto, por absoluta ineficácia do meio, tem-se a hipótese do crime impossível, não sendo punível nem sequer a tentativa, conforme dispõe o artigo 17 do Código Penal. Em síntese, o fato será atípico. Assim, arma com balas velhas, que não deflagram; arma com defeito mecânico, sem potencialidade lesiva; arma de brinquedo = meios absolutamente ineficazes = crime impossível. Arma com balas velhas, mas que podem ou não disparar = meio relativamente ineficaz = pode configurar tentativa punível. 1.1.3 Sujeitos do delito a) Sujeito ativo Sujeito ativo: qualquer pessoa. O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como também o partícipe, que é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum modo para a produção do resultado. b) Sujeito passivo Sujeito passivo: qualquer pessoa, com qualquer condição de vida, de saúde, de posição social, de raça, etc. É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. É a vida extrauterina o objeto de proteção do homicídio, enquanto a vida intrauterina fica no campo do aborto. Se doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos ou maior de 60 anos (Art. 121, § 4º, do CP). Se o agente investir, com a intenção de matá-la, contra pessoa já falecida, incidirá a hipótese de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto (Art. 17 do CP). 1.1.4 Elemento subjetivo O elemento subjetivo que compõe a estrutura do tipo penal do crime de homicídio é o dolo, que pode ser direto ou eventual. O tipo penal do homicídio simples não exige qualquer finalidade específica para sua configuração. Ao contrário, o motivo do crime pode fazer com que passe a ser considerado privilegiado (motivo de relevante valor moral ou social) ou qualificado (motivo torpe ou fútil). Se, entretanto, a motivação do homicida não se enquadrar em nenhuma das hipóteses que tornam o crime qualificado ou privilegiado, automaticamente será ele considerado simples (GONÇALVES, 2013, p. 87). 1.1.5 Consumação Consuma-se o crime de homicídio quando da ação humana resulta a morte da vítima. Ocorre com a cessação da atividade encefálica, conforme se extrai do artigo 3º da Lei nº 94.34/97 (que disciplina o transplante de órgãos). A materialidade, ou seja, a existência do crime de homicídio e a causa da morte, é atestada pelo exame necroscópico, em que o médico legista aponta a ocorrência da morte e suas causas. 1.1.6 Tentativa Tratando-se de crime material, o homicídio admite a tentativa, que ocorrerá quando, iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente. Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico. Para o reconhecimento da tentativa devem estar presentes três fatores: a) prova inequívoca que a intenção do agente era matar a vítima; b) tenha havido início de execução do homicídio; c) que o resultado morte não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do agente. 1.2 Homicídio privilegiado – Art. 121, § 1º, CP O artigo 121, § 1º, do Código Penal, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o sujeito cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 1.2.1 Motivo de relevante valor social Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, então, é ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. EXEMPLO Pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para contê-lo. 1.2.2 Motivo de relevante valor moral Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal. Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável sofrimento da vítima. Exemplo: Eutanásia. 1.2.3 Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido. Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da própria vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita. EXEMPLO Conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do que fora provocado e mesmo agredido momentos antes pela vítima. O texto legal exige que o impulso emocional e o ato dele resultantesigam-se imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação injusta e a conduta do sujeito. Convém ressaltar que tal circunstância não se confunde com a atenuante contida no artigo 65, inciso III, alínea “c”, parte final. Trata-se de cometer um delito sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima. A diferença reside no fato de que o privilégio requer imediatidade entre provocação e reação (requisito desnecessário na atenuante) e que a violenta emoção domine o agente (na atenuante, basta que o influencie). 1.3 Homicídio qualificado – Art. 121, § 2º, CP 1.3.1 Conceito É o homicídio praticado com circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador, alterando para mais a faixa de fixação da pena. Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de execução, reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. Portanto, da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa- se ao mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada. Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072/90. 1.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe Trata-se de qualificadora subjetiva, pois diz respeito aos motivos que levaram o agente à prática de crime. Torpe é o motivo moralmente reprovável, abjeto, desprezível, vil, que demonstra a depravação espiritual do sujeito e suscita aversão e repugnância geral em relação ao crime praticado. a) Mediante paga ou promessa de recompensa Na paga o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que não ocorre na promessa de recompensa, em que há somente a expectativa de paga, há um compromisso futuro de pagamento, cuja efetivação está condicionada à prática do crime de homicídio. b) Motivo torpe TORPE: é o motivo repugnante, abjeto, vil, que causa repulsa excessiva à sociedade. Exemplo: matar alguém para adquirir-lhe a herança, por ódio de classe, vaidade e prazer de ver sofrer. 1.3.3 Motivo fútil É o motivo insignificante, apresentando desproporção entre o crime e sua causa moral. Fútil é o motivo insignificante, banal, desproporcional à reação criminosa. Exemplos de motivo fútil: simples incidente de trânsito; rompimento de namoro; pequenas discussões entre familiares; o fato de a vítima ter rido do homicida; porque a vítima estava olhando feio. 1.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum Trata-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito aos modos de execução do crime de homicídio, os quais demonstram certa perversidade. a) Emprego de veneno Meio insidioso existe no homicídio cometido por intermédio de estratagema, perfídia. O veneno é um meio insidioso. É necessário, para a incidência da qualificadora, que o veneno seja propinado insidiosamente. Assim, se há emprego de violência no sentido de que a vítima ingira a substância, não ocorre a qualificadora, podendo incidir o meio cruel. b) Emprego de fogo ou explosivo Meio cruel é aquele que causa sofrimentos à vítima, não incidindo se empregado após a morte. O fogo pode ser meio cruel ou de que pode resultar perigo comum, conforme as circunstâncias. Explosivo é qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente em uma explosão. O emprego de explosivo pode ocorrer pelo manuseio de dinamite ou qualquer outro material explosivo, v.g, bomba caseira, coquetel molotov etc. c) Emprego de asfixia Asfixia é o impedimento da função respiratória e consequente ausência de oxigênio no sangue. A asfixia pode ser tóxica ou mecânica. Asfixia tóxica pode se dar pelo ar confinado, pelo óxido de carbono e pelas viciações do ambiente. As asfixias mecânicas são: enforcamento, imprensamento, estrangulamento, afogamento e esganadura. d) Emprego de tortura É o suplício, ou tormento, que faz a vítima sofrer desnecessariamente antes da morte. É o meio cruel por excelência. O agente, na execução do delito, utiliza-se de requintes de crueldade como forma de exacerbar o sofrimento da vítima, de fazê-la sentir mais intensa e demoradamente as dores. A Lei nº 9.455/97, ao definir a tortura, comina pena de 08 a 16 anos de reclusão na hipótese de resultar morte (Art. 1º, § 3º, 2ª parte). Trata-se de crime qualificado pelo resultado e preterdoloso, em que a tortura é punida a título de dolo e o evento qualificador (morte), a título de culpa. Aplica-se no caso de haver nexo de causalidade entre a tortura, seja física ou moral, e o resultado agravador. Ocorrendo dolo quanto à morte, seja direto ou eventual, o sujeito só responde por homicídio qualificado pela tortura (Art. 121, § 2º, inciso III, 5ª fig), afastada a incidência da lei especial. e) Meio cruel São cruéis aqueles meios que aumentam inútil e desnecessariamente o sofrimento da vítima ou revelam brutalidade ou sadismo fora do comum, contrastando com os sentimentos de dignidade, de humanidade ou piedade. f) Meio de que possa resultar perigo comum É aquele que pode expor a perigo um número indeterminado de pessoas, fazendo periclitar a incolumidade social. O Código Penal também qualifica o homicídio praticado por intermédio de meio que pode resultar perigo comum, exemplificando-o com o fogo e o explosivo. Trata-se, conforme visto, de fórmula genérica, sendo certo que os meios mencionados genericamente devem seguir a mesma linha do que consta na parte exemplificativa. 1.3.5 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido Nas hipóteses do inciso IV, do § 2º, do artigo 121, o que qualifica o homicídio não é o meio escolhido ou empregado para a prática do crime, mas o modo insidioso com que o agente executa, utilizando, para isso, recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima. Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime. Neste inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou parcialmente o seu potencial defensivo. a) À traição A traição pode ser física, como matar pelas costas, ou moral, exemplo de o sujeito atrair a vítima a local onde existe um poço. b) Emboscada Emboscada é a tocaia. Significa ocultar-se para poder atacar, o que, na prática, é a tocaia. O agente fica à espreita do ofendido para agredi-lo. É a ação premeditada de aguardar oculto a presença da vítima para surpreendê-la com o ataque indefensável. É a espera dissimulada da vítima em lugar por onde esta terá de passar. Na emboscada, o criminoso aguarda escondido a passagem da vítima desprevenida, que é surpreendida. c) Mediante dissimulação Dissimular é ocultar a verdadeira intenção, agindo com hipocrisia. Nesse caso, o agressor, fingindo amizade ou carinho, aproxima-se da vítima com a meta de matá-la. É a ocultação da intenção hostil, do projeto criminoso, para surpreender a vítima. O sujeito ativo dissimula, isto é, mostra o que não é, faz-se passar por amigo, ilude a vítima, que, assim, não tem razões para desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa. d) Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa Por fim, o Código Penal se refere a recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima. É necessário que tais meios se assemelhem à traição, emboscada ou dissimulação. A surpresa cabe na fórmula genérica em estudo. Para tanto é necessário que a conduta criminosa seja igualmente inesperada, impedindo ou dificultando a defesa do ofendido. 1.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivosdeterminantes do crime. Conexão é o liame objetivo ou subjetivo que liga dois ou mais crimes. a) Conexão teleológica: Existe conexão teleológica quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a execução de outro delito. O que qualifica o homicídio não é a prática efetiva de outro crime, mas o fim de assegurar a execução desse outro crime, que pode até não vir a ocorrer. Exemplo: quem, para sequestrar alguém, mata o guarda-costas que pretendia evitar o sequestro responderá pelo crime de homicídio qualificado, mesmo que, a seguir, desista de efetuar o sequestro. b) Conexão consequencial Há conexão consequencial quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem em relação a outro delito. Na ocultação, o sujeito visa a impedir a descoberta do crime. Ex. o incendiário mata a testemunha do crime. Na impunidade, o crime é conhecido, enquanto a autoria é desconhecida. Ex. o sujeito mata a testemunha de um desastre ferroviário criminoso. Pode ocorrer que o sujeito execute o homicídio a fim de assegurar vantagem no tocante a outro delito. Ex. o sujeito mata o parceiro do roubo com a finalidade de ficar com todo o produto do crime. Não é necessário que a vantagem seja patrimonial, podendo ser moral. 1.3.7 Feminicídio A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser qualificado também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I - violência doméstica e familiar; II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Nos termos do artigo 121, § 7º, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 13.771/2018, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. 1.3.8 Praticado contra agentes de segurança Qualifica o crime de homicídio quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos artigos 142 e 144, ambos da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22i http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22ii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22iii http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144 1.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido Com a derrubada do veto pelo Congresso foi incluída a qualificadora do artigo 121, parágrafo 2°, VIII, a qual diz respeito sobre o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Trata-se de uma qualificadora objetiva que diz respeito sobre a execução do crime de homicídio. 1.3.10 Homicídio privilegiado-qualificado Tem sido posição predominante na doutrina e na jurisprudência a admissão da forma privilegiada-qualificada, desde que exista compatibilidade lógica entre as circunstâncias. Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM SUBJETIVA (motivo de relevante valor e domínio de violenta emoção). 1.4 Homicídio culposo – Art. 121, § 3º, CP 1.4.1 Conceito É um tipo aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A culpa, conforme o artigo 18, inciso II, do Código Penal, é constituída de “imprudência, negligência ou imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo penal incriminador do homicídio culposo. 1.4.2 Modalidades de culpa a) Imprudência A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de conduta ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há sempre um comportamento positivo. Exemplo: manejar arma carregada. b) Negligência A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. É a culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria. Exemplo: deixar arma de fogo ao alcance de uma criança. c) Imperícia Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia pressupõe que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão. Exemplo: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo este a desabar e a provocar a morte dos moradores. 1.4.3 Concorrência e compensação de culpas Não há no Direito Penal compensação de culpas. Assim a culpa do pedestre que atravessa a rua fora da faixa a ele destinada não elide a culpa do motorista que trafega na contramão. A culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente, pois se ela foi exclusiva de um é porque não houve culpa alguma do outro; logo, se não há culpa do agente, não se pode falar em compensação. 1.4.4 Perdão judicial – Art. 121, § 5º, CP É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos, em hipóteses expressamente previstas em lei. Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne desnecessária. Exemplo: o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua imprudência, já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do que qualquer pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime existiu, mas a punibilidade é afastada. 1) (QUESTÃO 4 - XXIII EXAME) Manoel conduzia sua bicicleta, levando em seu colo, sem qualquer observância às regras de segurança, seu filho de 02 anos de idade. Para tornar o passeio do filho mais divertido, Manoel pedalava em alta velocidade, quando, em determinado momento, perdeu o controle da bicicleta e caiu, vindo seu filho a bater a cabeça e falecer de imediato. Após ser instaurado procedimento para investigar os fatos, a perícia constata que, de fato, Manoel estava em alta velocidade e não havia qualquer segurança para o filho em seu colo. O Ministério Público oferece denúncia em face de Manoel, imputando-lhe a prática do crime previsto no Art. 121, §§ 3º e 4º, do Código Penal, já que a vítima era menor de 14 anos. Durante a instrução, todos os fatos são confirmados por diversos meios de prova. Considerando apenas as informações narradas, responda, na qualidade de advogado(a) de Manoel, aos itens a seguir. A) A capitulação delitiva realizada pelo Ministério Público está integralmente correta? Justifique. (Valor: 0,60) B) Qual argumento a ser apresentado para evitar a punição de Manoel pelo crime de homicídio culposo? Justifique. (Valor: 0,65) https://ceisc.com.br/ead/aula/808/171866/2378 1.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – Art. 122, CP 1.5.1 Conceito de suicídio É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado. O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida. SE O ATO DE DESTRUIÇÃO É PRATICADO PELO PRÓPRIOAGENTE, RESPONDE PELO DELITO DE HOMICÍDIO. 1.5.2 Automutilação A autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de induzir, instigar ou auxiliar a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria. 1.5.3 Sujeito ativo e passivo Qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo eficaz e consciente, a suicidar-se ou a se automutilar. No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de discernimento ou resistência, pois, do contrário, trata-se de homicídio, se resultar morte; ou lesão corporal grave ou gravíssima, no caso automutilação. Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez que a vitima, tendo resistência nula, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável; por exemplo, fornecer uma arma a um louco e determinar que este atire contra si próprio. EXEMPLO O agente que, valendo-se da insanidade da vítima, convence-a a se matar, incide no artigo 121. 1.5.4 Elementos objetivos do tipo a) Ação nuclear Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). O agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. A participação em suicídio ou automutilação pode ser moral e material. Participação moral é a praticada por intermédio de induzimento ou instigação. Participação material é a realizada por meio de auxílio. Induzir Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile. Instigar Instigar é fomentar uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia que alguém anda manifestando. Prestar auxílio Auxílio: Trata-se de forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material ao ato suicida. Exemplo. o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua vida ou se automutilar. 1.5.5 Elemento subjetivo É o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de induzir, instigar ou auxiliar a vítima a suicidar-se ou se automutilar. Não se admite a modalidade culposa. 1.5.6 Consumação e tentativa O crime de participação de suicídio ou automutilação atinge a consumação com a morte da vítima ou lesões corporais provocadas em si mesmo. A maior novidade introduzida pela Lei nº 13.968/2019 foi no sentido de que o crime previsto no artigo 122 do Código Penal deixou de ser condicionado, já que não mais constitui condição para a incidência do delito que ocorra o resultado morte ou lesão grave. Assim, se dos atos para eliminar a sua própria vida ou causar lesões em si mesma, resultar lesão corporal leve à vítima, ou não resultar qualquer lesão, o agente responderá pelo crime de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação na modalidade simples (Art. 122, caput, do CP). 1.5.7 Figuras típicas qualificadas § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos §2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 1.5.8 Formas majoradas a) Se o crime é praticado por motivo egoístico Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior punição. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2 EXEMPLO É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com a herança. b) Se a vítima é menor Em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é menor. Qual a idade para efeito da majorante? Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o caput do artigo 122. Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO. A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14 e 18 anos. c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência A terceira majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. Ex.: induzir ao suicídio vítima embriagada. Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. 1.5.9 Pacto de morte É possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, deliberando morrer ao mesmo tempo. Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra. Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por homicídio. Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da vítima. 1.6 Infanticídio – Art. 123, CP 1.6.1 Conceito Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido, sob a influência do estado puerperal. O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. Antes de iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio. Não incidem as agravantes previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e” e “h”, do Código Penal (crime cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do delito de infanticídio. Caso incidissem, haverá bis in idem. 1.6.2 Elementos do tipo objetivo A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa destruir a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe. A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a superveniência da morte em período posterior. Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e vigilância em relação ao filho. EXEMPLO Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo sufocado com o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o disposto no artigo 13, § 2º, do CP. Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofridas pela mulher em face do fenômeno do parto. É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal, seja ela considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar conforme esse entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo ser inimputável ou semi-imputável, conforme o caso. O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo após”. Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina, a melhor solução é deixar a conceituação daelementar “logo após” para a análise do caso concreto, entendendo-se que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal. 1.6.3 Sujeitos do delito a) Sujeito ativo A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma vez que não pode ser cometido por qualquer autor. O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes. b) Sujeito passivo Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato: durante o parto ou logo após. Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de aborto. c) A participação de terceiros no ato Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal, responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do fato, uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime. Logo, comunica-se aos coautores ou partícipes, nos termos do artigo 30 do Código Penal. 1.6.4 Consumação e tentativa O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato. Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte não ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora. EXEMPLO A genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta impedida por terceiros. 1.7 Aborto – Art. 124, CP 1.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – Art. 24 do CP O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto. Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo isso não afasta a possibilidade de participação no crime em questão. 1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto): É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria emprega os meios ou manobras abortivas em si mesma. Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do artigo 124 do Código Penal, mas sim autor do fato descrito no artigo 126 (provocação do aborto com consentimento da gestante). 2ª figura – Aborto consentido A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é realizada por terceira pessoa. Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do artigo 124. Contudo, o Código Penal prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o consentimento da gestante (Art. 126 do CP). Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na prática abortiva (Art. 124 do CP); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação provocadora do aborto (Art. 126 do CP). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota pelo Código Penal em seu artigo 29. 1.7.2 Aborto provocado por terceiro – Art. 125, CP Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto. Ao contrário da figura típica do artigo 126, não há o consentimento da gestante no emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento constitui elementar do tipo penal. As formas de dissentimento estão retratadas no artigo 126, parágrafo único: a) Dissentimento presumido É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de capacidade civil. Para o Código Penal, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não possui consentimento válido, levando à consideração de que o aborto deu-se contra a sua vontade. b) Dissentimento real Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor que extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na figura do artigo 125. 1.7.3 Aborto consensual – Art. 126, CP Para que se caracterize a figura do aborto consentido (Art. 126 do CP), é necessário que o consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. Ausente essa capacidade, o delito poderá ser outro (Art. 125 do CP). Trata-se de uma exceção à teoria monista (todos os coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a figura do artigo 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria naquele tipo penal. Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou o artigo 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas. 1.7.4 Aborto legal – Art. 128, CP a) Aborto necessário ou terapêutico É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo. A excludente da ilicitude em estudo do crime de aborto somente abrange a conduta do médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira, não responderá pelo delito em questão se praticar o aborto por força do artigo 24 do Código Penal (estado de necessidade, no caso, de terceiro). b) Aborto humanitário, sentimental ou piedoso O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização. Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos: a) gravidez resultante de estupro; b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal. A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério do médico. Basta prova idônea do atentado sexual. Crimes em Espécie contra o patrimônio Aula prevista para ocorrer nos dias 04, 09 e 10/08/2022. Prof. Arnaldo Quaresma @profarnaldoquaresma 2.1 Furto – Art. 155, CP 2.1.1 Conceito O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica sempre a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário. Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel. É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel, submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime, pela ausência do ânimo de assenhoramento definitivo do bem. Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa de diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se condenado, poderá ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3. Não existe na modalidade culposa. 2.1.2 Consumação e tentativa Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre disponibilidade do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no exato instante em que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la porque já não está mais consigo. A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância da vítima, submetendo-a à sua própria disponibilidade. 2) (QUESTÃO 1 - XXIX EXAME) Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em seu quarto, verifica quea janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e subtrai um telefone celular avaliado em R$ 500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber da conduta de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também ficou aberta. Tendo conhecimento que os proprietários eram um casal de empresários muito rico, ingressa no local e subtrai uma bolsa, avaliada em R$ 450,00. Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno e Caio são denunciados pelo crime de furto qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), sendo acostadas as Folhas de Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra anotação pela suposta prática de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com trânsito em julgado em ambas. Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada procedente, sendo aplicada pena mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa, em regime inicial aberto, devidamente substituída por restritiva de direitos. Com base nas informações expostas, intimado(a) para apresentação de recurso, responda, na condição de advogado(a) de Caio e Bruno, aos itens a seguir. A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação jurídica apresentada pelo Ministério Público e acolhida na sentença? (Valor: 0,60) B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65) 3) (QUESTÃO 2 - XIII EXAME) Antônio, auxiliar de serviços gerais de uma multinacional, nos dias de limpeza, passa a observar uma escultura colocada na mesa de seu chefe. Com o tempo, o desejo de ter aquele objeto fica incontrolável, razão pela qual ele decide subtraí-lo. Como Antônio não tem acesso livre à sala onde a escultura fica exposta, utiliza-se de uma chave adaptável a qualquer fechadura, adquirida por meio de um amigo chaveiro, que nada sabia sobre suas intenções. Com ela, Antônio ingressa na sala do chefe, após o expediente de trabalho, e subtrai a escultura pretendida, colocando-a em sua bolsa. Após subtrair o objeto e sair do edifício onde fica localizada a empresa, Antônio caminha tranquilamente cerca de 400 metros. Apenas nesse momento é que os seguranças da portaria suspeitam do ocorrido. Eles acham estranha a saída de Antônio do local após o expediente (já que não era comum a realização de horas extras), razão pela qual acionam policiais militares que estavam próximos do local, apontando Antônio como suspeito. Os policiais conseguem alcançá-lo e decidem revistá-lo, encontrando a escultura da sala do chefe na sua bolsa. Preso em flagrante, Antônio é conduzido até a Delegacia de Polícia. Antônio, então, é denunciado e regularmente processado. Ocorre que, durante a instrução processual, verifica-se que a escultura subtraída, apesar de bela, foi construída com material barato, avaliada em R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), sendo, portanto, de pequeno valor. A FAC (folha de antecedentes criminais) aponta que Antônio é réu primário. https://ceisc.com.br/ead/aula/808/176451/7019 Ao final da instrução, em que foram respeitadas todas as exigências legais, o juiz, em decisão fundamentada, condena Antônio a 2 (dois) anos de reclusão pela prática do crime de furto qualificado pela utilização de chave falsa, consumado, com base no artigo 155, § 4º, III, do CP. Nesse sentido, levando em conta apenas os dados contidos no enunciado, responda aos itens a seguir. A) É correto afirmar que o crime de furto praticado por Antônio atingiu a consumação? Justifique. (Valor: 0,40) B) Considerando que Antônio não preenche os requisitos elencados pelo STF e STJ para aplicação do princípio da insignificância, qual seria a principal tese defensiva a ser utilizada em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,85) 2.1.3 Furto privilegiado – Art. 155, § 2º, CP Pequeno valor A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia equivalente a um salário-mínimo vigente à época do fato. 2.1.4 Furto qualificado – Art. 155, § 4º, CP a) Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto material. A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto. Rompimento Objeto entre agente e objeto que pretende subtrair Não é o que integra próprio obejto b) Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza Abuso de confiança É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente, dessa forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor vigilância do proprietário sobre os seus bens. Mediante fraude É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a vigilância da vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado de empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto de realizar compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos. Mediante escalada Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto por meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica, necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou mesmo subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos. Mediante destreza Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apossamento do bem sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar, etc., que são retirados sem que ela note. Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza, considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do agente (exemplo: a vítima sente a mão do agente em seu bolso). c) Com emprego de chave falsa Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo ou não formato de chave. EXEMPLO Grampo, alfinete, prego, fenda, gazua, etc. d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas. e) Furto de veículo automotor – Art. 155, § 5º, do CP Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, Jet-skies. Para caracterizar essa qualificadora, afigura-se necessário que o veículo seja efetivamente transportado para outro Estado ou exterior. Se não ultrapassar a fronteira do Estado ou do País, essa qualificadora não incide, sendo o crime de furto simples, salvo se presente outra qualificadora. f) Emprego de explosivo que cause perigo comum A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A do artigo 155 do Código Penal prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto: § 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. A partir da edição do Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), o crime de furto com emprego de explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum passou a ser considerado hediondo (Art. 1º, inciso IX, da Lei 8072/90). g) Utilização de substâncias explosivas A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º do artigo 155 do Código Penal prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto: § 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.2.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 Cumpre ressaltar que a lei 14.155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021 acrescentou os parágrafos 4°-b e 4°-c: § 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) § 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) 4) (QUESTÃO 2 - VIII EXAME) Abel e Felipe observavam diariamente um restaurante com a finalidade de cometer um crime. Sabendo que poderiam obter alguma vantagem sobre os clientes que o frequentavam, Abel e Felipe, sem qualquer combinação prévia, conseguiram, cada um, uniformes semelhantes aos utilizados pelos manobristas de tal restaurante. No início da tarde, aproveitando a oportunidade em que não havia nenhum funcionário no local, a dupla, vestindo os uniformes de manobristas, permaneceu à espera de suas vítimas, mas, agindo de modo separado. Tércio, o primeiro cliente, ao chegar ao restaurante, iludido por Abel, entrega de forma voluntária a chave de seu carro. Abel, ao invés de conduzir o veículo para o estacionamento, evade-se do local. Narcísio, o segundo cliente, chega ao restaurante e não entrega a chave de seu carro, mas Felipe a subtrai sem que ele o percebesse. Felipe também se evade do local. Empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso, responda às questões a seguir. A) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Abel ao praticar tal conduta? (responda motivando sua imputação) (Valor: 0,65) B) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Felipe ao praticar tal conduta? (responda motivando sua imputação) (Valor: 0,60) 5) (QUESTÃO 1 - XVII EXAME) Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o cadeado da porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi notada por qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material subtraído, veio a ser abordado por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a forma como ingressou no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais), sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local para confirmar o rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas sanções penais do Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação foram os policiais militares, que confirmaram que apenas foram responsáveis pela abordagem do réu, que confessou a subtração. Disseram não ter comparecido, porém, ao estabelecimento lesado. Em seu interrogatório, Rodrigo confirmou apenas que subtraiu os cigarros do estabelecimento, recusando-se a responder qualquer outra pergunta. A defesa técnica de Rodrigo é intimada para apresentar alegações finais por memoriais. Com base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese defensiva em relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor: 0,65) B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato, condenado nos termos da manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60) 2.2 Roubo - Art. 157, CP 2.2.1. Ação nuclear A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o emprego de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza a capacidade de resistência da vítima. São os seguintes os meios executórios do crime de roubo: a) Violência física (vis corporalis) Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. Para caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve ou simples vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime. b) Grave ameaça Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na vítima o fundado receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas que lhes são caras. É irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que, utilizada para a prática de crime, torna-se antijurídica. c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência; Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência física ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, soníferos ou hipnotizá-la. 2.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio a) Roubo próprio No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de defesa) são praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados antes ou durante a execução da subtração. b) Roubo impróprio ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º). EXEMPLO São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do portão com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, então, já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, retornando para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando (garantindo a impunidade). Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo entre a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do roubo se for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila da res, sem a vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e, consequentemente, não pode sofrer qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado. 2.2.3 Consumação e tentativa Nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada." 2.2.4 Causas especiais de aumento de pena - roubo majorado (circunstanciado) (Art. 157, § 2º) A) Se há o concurso de duas ou mais pessoas Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens jurídicos são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha ou bando guarnece a paz pública. B) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante, empresa de segurança especialmentecontratada para o transporte de valores), realiza serviço de transporte de valores (dinheiro, joia, etc). C) Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro estado ou para o exterior Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, Jet-skies. D) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou valendo-se de forma anormal para garantir a subtração planejada. EXEMPLO Subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que entre no porta-malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro seja abandonado. Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “a”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 13.964/2019). E) Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca Essa qualificadora foi introduzida pela Lei 13.964/2019, e só terá incidência para fatos praticados a partir da sua vigência, ou seja, fatos praticados a partir do dia 23 de janeiro de 2020. Arma branca é aquela em que o instrumento ou objeto é dotado de ponta ou gume, apto a matar ou ferir uma pessoa. Pode ser arma branca própria, quando fabricada para defesa e ataque, como, por exemplo, punhal e espada, como pode ser imprópria, não fabricada para defesa e ataque, mas que reúne potencial para ferir ou matar, como, por exemplo, faca de cozinha e machado). Não será apto a majorar a pena do crime de roubo qualquer outro objeto ou instrumento utilizado no ato do roubo que não se enquadrar no conceito de arma branca, como, por exemplo, barra de ferro, pedaço de madeira, pedaço de vidro, garrafa quebrada com extremidade pontiaguda. Nesses casos, será roubo simples, se não incidir outra majorante. F) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. 2.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo (Art. 157, § 2-A, do CP) ATENÇÃO! Importante alteração trazida pela Lei nº 13.654/2018, na qual o roubo “com emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º. Já o roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º-A, inciso I, do Código Penal. Ou seja, o emprego de arma branca majora o crime de roubo de ⅓ até a metade, ao passo que o emprego de arma de fogo majora o crime de roubo em ⅔. A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima maior potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir para configurar o tipo penal do roubo, na figura simples. Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº13.964/2019). 2.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum Para caracterizar essa qualificadora, deve restar demonstrada a capacidade de o artefato causar perigo comum, apto a causar risco a um número indeterminado de pessoas. Cuidado: curiosamente o legislador considerou hediondo o crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo, mas não considera hediondo o crime de roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Como, à evidência, não existe analogia in malam partem no Direito Penal, essa omissão do legislador significa que não será possível considerar esse tipo de roubo como sendo hediondo. 2.2.7 Roubo qualificado pelo resultado - Art. 157, § 3º, CP Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do Código Penal – “se da violência resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica legislativa empregada, pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo resultado, para alguns, crimes preterdolosos. Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual. A) Crime qualificado pelo resultado lesões graves É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença de dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões corporais graves). HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE: Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado lesão grave. Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado lesão grave, dando-se a mesma solução para o latrocínio. Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 13.964/2019). B) Crime qualificado pelo resultado morte: LATROCÍNIO O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa com o fim de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a morte da vítima. Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto pode resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente desfere um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo). Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 13.964/2019). Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”. Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do Tribunal do Júri.” 6) (QUESTÃO 4 - XXVIII EXAME) Na manhã do dia 09 de outubro de 2018, Talles, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana, praticou 03 crimes de furto simples em continuidade delitiva, subtraindo, do primeiro estabelecimento, dinheiro e uma arma de brinquedo; do segundo estabelecimento, uma touca ninja e um celular; e, do terceiro estabelecimento, uma motocicleta. De posse dos bens subtraídos, Talles foi até a cidade de Cardoso Moreira, abordou Joana, que passava pela rua segurando seu celular, e, utilizando-se do simulacro da arma para emprego de grave ameaça e da touca, segurou-a pelos braços e subtraiu o celular de suas mãos. De imediato, Talles empreendeu fuga, mas Joana compareceu em sede policial, narrou o ocorrido e Talles foi localizado e preso em flagrante na cidade de São Fidélis, ainda na posse dos bens da vítima e da motocicleta utilizada. Assegurado o direito ao silêncio e o acompanhamento da defesa técnica, Talles prestou declarações na delegacia e confessou integralmente os fatos, sendo ele indiciado pela prática dos crimes previstos no Art. 155, caput, por três vezes, n/f do Art. 71 do CP e do Art. 157, § 2º, inciso V, também do CP. Considerando as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de Talles, aos itens a seguir. A) Considerando que os delitos são conexos, de qual cidade será o juízo criminal competente para o julgamento de Talles? Justifique. (Valor: 0,65) B) Qual o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva realizada pela autoridade policial? Justifique. (Valor: 0,60) https://ceisc.com.br/ead/aula/808/176447/2383 7) (QUESTÃO 2 - XXVI EXAME) Arthur, Adriano e Junior, insatisfeitos com a derrota do seu time de futebol, saíram à rua, após a partida, fazendo algazarra na companhia de Roberto, que não gostava de futebol. Durante o ato, depararam com Pedro, que vestia a camisa do time rival; simplesmente por isso, Arthur, Adrianoe Junior passaram a agredi-lo, tendo ficado Roberto à distância por não concordar com o ato e não ter intenção de conferir cobertura aos colegas. Em razão dos atos de agressão, o celular de Pedro veio a cair no chão, momento em que Roberto, aproveitando-se da situação, subtraiu o bem e empreendeu fuga. Com a chegada de policiais, Arthur, Adriano e Junior empreenderam fuga, mas Roberto veio a ser localizado pouco tempo depois na posse do bem subtraído e de seu próprio celular. Diante das lesões causadas na vítima, Roberto foi denunciado pela prática do crime de roubo majorado pelo concurso de agentes e teve sua prisão em flagrante convertida em preventiva. Na instrução, as testemunhas confirmaram integralmente os fatos, assim como Roberto reiterou o acima narrado. A família de Roberto, então, procura você para, na condição de advogado(a), adotar as medidas cabíveis, antes da sentença, apresentando nota fiscal da compra do celular de Roberto. Considerando apenas as informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Roberto, aos itens a seguir. A) Existe requerimento a ser formulado pela defesa para reaver, de imediato, o celular de Roberto? Justifique. (Valor: 0,60) B) Confessados por Roberto os fatos acima narrados, existe argumento de direito material a ser apresentado em busca da não condenação pelo crime imputado? Justifique. (Valor: 0,65) https://ceisc.com.br/ead/aula/808/173220/2382 8) (QUESTÃO 3 - XVII EXAME) Ruth voltava para sua casa falando ao celular, na cidade de Santos, quando foi abordada por Antônio, que afirmou: “Isso é um assalto! Passa o celular ou verá as consequências!”. Diante da grave ameaça, Ruth entregou o telefone e o agente fugiu em sua motocicleta em direção à cidade de Mogi das Cruzes, consumando o crime. Nervosa, Ruth narrou o ocorrido para o genro Thiago, que saiu em seu carro, junto com um policial militar, à procura de Antônio. Com base na placa da motocicleta anotada por Ruth, Thiago localizou Antônio, já em Mogi das Cruzes, ainda na posse do celular da vítima e também com uma faca em sua cintura, tendo o policial efetuado a prisão em flagrante. Em razão dos fatos, Antônio foi denunciado pela prática do crime previsto no Art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, perante uma Vara Criminal da comarca de Mogi das Cruzes, ficando os familiares do réu preocupados, porque todos da região sabem que o magistrado, em atuação naquela Vara, é extremamente severo. A defesa foi intimada a apresentar resposta à acusação. Considerando que o flagrante foi regular e que os fatos são verdadeiros, responda, na qualidade de advogado(a) de Antônio, aos itens a seguir. A) Que medida processual poderia ser adotada para evitar o julgamento perante a Vara Criminal de Mogi das Cruzes? Justifique. (Valor: 0,65) B) No mérito, caso Antônio confesse os fatos durante a instrução, qual argumento de direito material poderia ser formulado para garantir uma punição mais branda do que a pleiteada na denúncia? Justifique. (Valor: 0,60) 2.3 Extorsão – Art. 158, CP 2.3.1 Ação nuclear Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude da ameaça ou da violência sofrida. A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir, compelir, forçar, obrigar alguém a fazer (por exemplo: quitar uma dívida não paga), tolerar que se faça (exemplo: permitir que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (exemplo: obrigar a vítima a não propor ação judicial contra o agente). O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave ameaça, os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe, etc.). 2.3.2 Consumação e tentativa A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à produção do resultado visado pelo sujeito. Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer algo. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96 do STJ: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo autor por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa pretendida, por circunstâncias alheias à sua vontade. 2.3.3 Extorsão qualificada – Art. 158, § 2º, CP As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo, caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do resultado. Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o crime de extorsão qualificada pelo resultado morte, ao dar nova redação ao artigo 1º, inciso III, da Lei nº 8.072/90, que passou a prever como hediondo somente a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (Art. 158, § 3º); 2.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade – Art. 158, § 3º, CP Trata-se da hipótese em que a privação da liberdade da vítima é condição indispensável para obtenção da vantagem indevida. É o chamado sequestro-relâmpago. Exemplo: ladrão constrange a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de bancos para sacar dinheiro, ocorre o crime de extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito passivo do ataque patrimonial para a obtenção da vantagem indevida por parte do autor. Difere do roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima, porque, neste caso, a restrição da liberdade é irrelevante para obtenção da vantagem indevida. Imaginemos o agente subtrair objetos da vítima, prendendo-a no banheiro. Trata-se de roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima, pois trancá-la no banheiro não é condição indispensável para a subtração. 2.4 Extorsão mediante sequestro – Art. 159, CP 2.4.1 Conceito e objetividade jurídica O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem como condição ou preço de resgate”. É crime hediondo. Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. 2.4.2 Consumação A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-se tempo juridicamente relevante. Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto a vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime estará em fase de consumação. Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o delito está consumado quando a liberdade da vítima é cerceada. 2.4.3 Formas qualificadas – Art. 159, § 1º, CP a) Sequestro por mais de 24 horas b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa (Art. 288 do CP) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in idem, uma vez que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são totalmente diversos, além do que a figura prevista no artigo 288 do Código Penal existe independentemente de algum crime vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.
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