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_E-book_ Crimes em Espécie

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PENAL 2ª FASE 35º EXAME 
Crimes em Espécie 
Aulas ao vivo e aulas complementares 
 
Olá, alunos! 
Sejam bem-vindos ao E-book de Crimes em Espécie! 
 
O presente E-book será destinado exclusivamente ao estudo 
dos Crimes em Espécie. Nele conterão os conteúdos das 
aulas ao vivo e aulas complementares referentes ao assunto. 
Os conteúdos das aulas ao vivo são os primeiros do E-book, 
com a indicação do dia previsto. 
Após, segue a ordem de conteúdo das aulas complementares, 
ou seja, aulas gravadas, na sequência em que dispostas no 
nosso Portal. 
Qualquer dúvida a respeito da distribuição de conteúdos, 
estaremos à disposição para lhe auxiliá-los através da 
ferramenta “Pergunte ao professor”! 
Bons estudos, 
Abraços, Equipe Ceisc. 
 
 
 
2ª FASE OAB | PENAL | 35º EXAME 
Direito Penal 
Prof. Arnaldo Quaresma 
SUMÁRIO 
 
Crimes em Espécie contra a vida 
1.1 Homicídio simples ............................................................................................... 6 
1.2 Homicídio privilegiado ......................................................................................... 9 
1.3 Homicídio qualificado ........................................................................................ 11 
1.4 Homicídio culposo ............................................................................................. 17 
1.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio .................................................... 20 
1.6 Infanticídio ......................................................................................................... 24 
1.7 Aborto ................................................................................................................ 26 
 
Crimes em Espécie contra o patrimônio 
2.1 Furto .................................................................................................................. 30 
2.2 Roubo ................................................................................................................ 38 
2.3 Extorsão ............................................................................................................ 46 
2.4 Extorsão mediante sequestro ............................................................................ 48 
2.5 Dano .................................................................................................................. 51 
2.6 Apropriação indébita ......................................................................................... 53 
2.7 Estelionato......................................................................................................... 55 
2.8 Receptação ....................................................................................................... 59 
2.9 Escusas absolutórias ........................................................................................ 61 
 
Lesão Corporal ........................................................................................................ 65 
3.1 Lesão corporal leve ou simples ......................................................................... 65 
3.2 Lesões corporais graves ................................................................................... 65 
3.3 Lesão corporal gravíssima ................................................................................ 66 
3.4 Lesão corporal seguida de morte ...................................................................... 67 
3.5 Lesão corporal contra a mulher por razões da condição do sexo feminino ...... 68 
 
Crimes em Espécie contra a honra 
4.1. Calúnia ............................................................................................................. 69 
4.2. Difamação ........................................................................................................ 69 
4.3. Injúria ............................................................................................................... 70 
4.4. Aspectos pontuais dos crimes contra a honra .................................................. 71 
 
Crimes contra Dignidade Sexual ............................................................................. 75 
5.1 Principais crimes contra a dignidade sexual...................................................... 75 
5.1.1 Estupro ........................................................................................................... 75 
5.1.2 Importunação sexual ...................................................................................... 77 
5.1.3 Violação sexual mediante fraude ................................................................... 78 
5.1.4 Registro não autorizado da intimidade sexual ................................................ 80 
5.1.5 Estupro de vulnerável ..................................................................................... 81 
5.1.6 Divulgação de cena de estupro e de estupro de vulnerável ........................... 83 
 
Crimes funcionais contra a Administração Pública.................................................. 87 
6.1 Introdução ......................................................................................................... 87 
6.2 Peculato ............................................................................................................ 93 
6.3 Concussão ....................................................................................................... 98 
6.4 Excesso de exação ......................................................................................... 100 
6.5 Corrupção passiva .......................................................................................... 101 
6.6 Prevaricação ................................................................................................... 104 
 
Crimes praticados por particular contra a Administração Pública 
7.1 Resistência ...................................................................................................... 106 
7.2 Desobediência ................................................................................................. 109 
7.3 Desacato ......................................................................................................... 114 
7.4 Corrupção ativa ............................................................................................... 120 
7.5 Descaminho .................................................................................................... 124 
7.6 Contrabando .................................................................................................... 132 
 
Crimes contra a Administração da Justiça 
8.1 Denúncia caluniosa ......................................................................................... 136 
8.2 Comunicação falsa de crime ou de contravenção ........................................... 137 
8.3 Falso testemunho ou falsa perícia ................................................................... 139 
8.4 Coação no curso do processo ......................................................................... 145 
8.5 Exercício arbitrário das próprias razões .......................................................... 147 
8.6 Fraude processual ........................................................................................... 150 
8.7 Favorecimento pessoal ................................................................................... 152 
8.8 Favorecimento real .......................................................................................... 154 
 
Crimes contra a Fé Pública 
9.1 Introdução ....................................................................................................... 157 
9.2 Moeda falsa ..................................................................................................... 158 
9.3 Falsidade Documental ..................................................................................... 164 
9.4 Falsidade Material ...........................................................................................165 
9.5 Falsidade ideológica ........................................................................................ 170 
9.6 Uso de documento falso .................................................................................. 176 
9.7 Falsa identidade .............................................................................................. 180 
9.8 Fraudes em certames de interesse público ..................................................... 182 
 
PADRÃO DE RESPOSTAS .................................................................................. 184 
 
 
 
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para 
a 2ª Fase do 35º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. 
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente. 
 
Bons estudos, Equipe Ceisc. 
Atualizado em junho de 2022. 
 
 
 
 
 
 
 
Crimes em Espécie contra a vida 
 
Aula prevista para ocorrer no dia 29/07/2022. 
 
Prof. Arnaldo Quaresma 
@profarnaldoquaresma 
1.1 Homicídio simples – Art. 121, caput, CP 
1.1.1 Conceito de homicídio 
É a morte de um homem provocada por outro homem. E a eliminação da vida de uma 
pessoa praticada por outra. 
Trata-se de preservar o bem jurídico “vida extrauterina”. Antes do início do parto, com a 
dilatação do colo do útero, há vida intrauterina, constituindo-se, nesse caso, a eliminação da vida 
crime de aborto. 
 
1.1.2 Meios de execução 
O crime de homicídio admite qualquer meio de execução, por disparo de arma de fogo, 
facadas, atropelamento, emprego de fogo, asfixia, veneno, etc... Determinados meios 
empregados para a execução do delito podem qualificar o delito de homicídio, como, por 
exemplo, o fogo, veneno, explosivo. 
Normalmente o crime de homicídio é praticado por meio de uma ação do sujeito ativo; é 
possível, todavia, que o crime seja praticado por omissão, como, por exemplo, a mãe, 
pretendendo a morte do filho pequeno, deixa de alimentá-lo. Nesse caso, a mãe teria o dever de 
agir e de impedir o resultado, nos termos do artigo 13, § 2º, alínea “a”, do Código Penal. 
Existe, ainda, a participação por omissão. Suponha-se que um policial, ao dobrar uma 
esquina, veja um homem desconhecido estrangulando uma mulher. Ele está armado e pode 
evitar o resultado, tendo, inclusive, o dever jurídico de fazê-lo. Contudo, ao perceber que a vítima 
é uma pessoa de quem ele não gosta, resolve se omitir, permitindo que o homicídio se consume. 
O desconhecido é autor do homicídio e o policial, partícipe por omissão (porque tinha o dever 
jurídico de evitar o crime e não o fez) (GONÇALVES, 2013, p. 77). 
Para caracterizar ao menos tentativa de homicídio, o meio empregado para causar a morte 
deve, no mínimo, ser relativamente eficaz a produzir o resultado. Se a consumação do homicídio 
se mostrar impossível no caso concreto, por absoluta ineficácia do meio, tem-se a hipótese do 
crime impossível, não sendo punível nem sequer a tentativa, conforme dispõe o artigo 17 do 
Código Penal. Em síntese, o fato será atípico. 
Assim, arma com balas velhas, que não deflagram; arma com defeito mecânico, sem 
potencialidade lesiva; arma de brinquedo = meios absolutamente ineficazes = crime impossível. 
Arma com balas velhas, mas que podem ou não disparar = meio relativamente ineficaz = 
pode configurar tentativa punível. 
 
1.1.3 Sujeitos do delito 
a) Sujeito ativo 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
O conceito abrange não só aquele que pratica o núcleo da figura típica (quem mata), como 
também o partícipe, que é aquele que, sem praticar o verbo (núcleo) do tipo, concorre de algum 
modo para a produção do resultado. 
b) Sujeito passivo 
Sujeito passivo: qualquer pessoa, com qualquer condição de vida, de saúde, de posição 
social, de raça, etc. 
É o titular do bem jurídico lesado ou ameaçado. 
É a vida extrauterina o objeto de proteção do homicídio, enquanto a vida intrauterina fica 
no campo do aborto. 
Se doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa 
menor de 14 anos ou maior de 60 anos (Art. 121, § 4º, do CP). 
Se o agente investir, com a intenção de matá-la, contra pessoa já falecida, incidirá a 
hipótese de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto (Art. 17 do CP). 
 
1.1.4 Elemento subjetivo 
O elemento subjetivo que compõe a estrutura do tipo penal do crime de homicídio é o dolo, 
que pode ser direto ou eventual. 
O tipo penal do homicídio simples não exige qualquer finalidade específica para sua 
configuração. Ao contrário, o motivo do crime pode fazer com que passe a ser considerado 
privilegiado (motivo de relevante valor moral ou social) ou qualificado (motivo torpe ou fútil). Se, 
entretanto, a motivação do homicida não se enquadrar em nenhuma das hipóteses que tornam 
o crime qualificado ou privilegiado, automaticamente será ele considerado simples 
(GONÇALVES, 2013, p. 87). 
 
1.1.5 Consumação 
Consuma-se o crime de homicídio quando da ação humana resulta a morte da vítima. 
Ocorre com a cessação da atividade encefálica, conforme se extrai do artigo 3º da Lei nº 94.34/97 
(que disciplina o transplante de órgãos). 
A materialidade, ou seja, a existência do crime de homicídio e a causa da morte, é 
atestada pelo exame necroscópico, em que o médico legista aponta a ocorrência da morte e 
suas causas. 
 
1.1.6 Tentativa 
Tratando-se de crime material, o homicídio admite a tentativa, que ocorrerá quando, 
iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do 
agente. 
Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser 
executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico. 
Para o reconhecimento da tentativa devem estar presentes três fatores: a) prova 
inequívoca que a intenção do agente era matar a vítima; b) tenha havido início de execução do 
homicídio; c) que o resultado morte não tenha ocorrido por circunstâncias alheias à vontade do 
agente. 
 
1.2 Homicídio privilegiado – Art. 121, § 1º, CP 
O artigo 121, § 1º, do Código Penal, descreve o homicídio privilegiado como o fato de o 
sujeito cometer o delito impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio 
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Neste caso, o juiz pode 
reduzir a pena de 1/6 a 1/3. 
 
1.2.1 Motivo de relevante valor social 
Ocorre quando a causa do delito diz respeito a um interesse coletivo. A conduta, então, é 
ditada em face de um interesse que diz respeito a todos os cidadãos de uma coletividade. 
 
 EXEMPLO 
 
Pai desesperado pelo vício que impregna seu filho e vários outros alunos, mata um 
traficante que distribui drogas num colégio, sem qualquer ação eficaz da polícia para 
contê-lo. 
 
1.2.2 Motivo de relevante valor moral 
Diz respeito a um interesse particular, interesse de ordem pessoal. 
Será motivo de relevante valor moral aquele que, em si mesmo, é aprovado pela ordem 
moral, pela moral prática, como, por exemplo, a compaixão ou piedade ante o irremediável 
sofrimento da vítima. 
Exemplo: Eutanásia. 
 
1.2.3 Domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da 
vítima 
A última figura típica privilegiada descreve o homicídio cometido pelo sujeito sob o domínio 
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação do ofendido. 
Além da violência emocional, é fundamental que a provocação tenha partido da própria 
vítima e seja injusta, o que não significa, necessariamente, antijurídica, mas quer dizer não 
justificada, não permitida, não autorizada por lei, ou, em outros termos, ilícita. 
EXEMPLO 
 
Conduta de réu cuja filha menor fora seduzida e corrompida por seu ex-empregador; do 
que fora provocado e mesmo agredido momentos antes pela vítima. 
 
O texto legal exige que o impulso emocional e o ato dele resultantesigam-se 
imediatamente à provocação da vítima, ou seja, tem de haver a imediatidade entre a provocação 
injusta e a conduta do sujeito. 
Convém ressaltar que tal circunstância não se confunde com a atenuante contida no artigo 
65, inciso III, alínea “c”, parte final. Trata-se de cometer um delito sob a influência de violenta 
emoção, provocada por ato injusto da vítima. 
A diferença reside no fato de que o privilégio requer imediatidade entre provocação e 
reação (requisito desnecessário na atenuante) e que a violenta emoção domine o agente (na 
atenuante, basta que o influencie). 
 
1.3 Homicídio qualificado – Art. 121, § 2º, CP 
1.3.1 Conceito 
É o homicídio praticado com circunstâncias legais que integram o tipo penal incriminador, 
alterando para mais a faixa de fixação da pena. 
Dizem respeito aos motivos determinantes do crime e aos meios e modos de execução, 
reveladores de maior periculosidade ou extraordinário grau de perversidade do agente. 
Portanto, da pena de reclusão de 06 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-
se ao mínimo de 12 e ao máximo de 30 para a figura qualificada. 
Tentado ou consumado, o homicídio doloso qualificado é crime hediondo, nos termos do 
artigo 1º, inciso I, da Lei nº 8.072/90. 
 
1.3.2 Mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe 
Trata-se de qualificadora subjetiva, pois diz respeito aos motivos que levaram o agente à 
prática de crime. 
Torpe é o motivo moralmente reprovável, abjeto, desprezível, vil, que demonstra a 
depravação espiritual do sujeito e suscita aversão e repugnância geral em relação ao crime 
praticado. 
a) Mediante paga ou promessa de recompensa 
Na paga o agente recebe previamente a recompensa pelo crime, o que não ocorre na 
promessa de recompensa, em que há somente a expectativa de paga, há um compromisso futuro 
de pagamento, cuja efetivação está condicionada à prática do crime de homicídio. 
b) Motivo torpe 
TORPE: é o motivo repugnante, abjeto, vil, que causa repulsa excessiva à sociedade. 
Exemplo: matar alguém para adquirir-lhe a herança, por ódio de classe, vaidade e prazer 
de ver sofrer. 
 
1.3.3 Motivo fútil 
É o motivo insignificante, apresentando desproporção entre o crime e sua causa moral. 
Fútil é o motivo insignificante, banal, desproporcional à reação criminosa. 
Exemplos de motivo fútil: simples incidente de trânsito; rompimento de namoro; pequenas 
discussões entre familiares; o fato de a vítima ter rido do homicida; porque a vítima estava 
olhando feio. 
 
1.3.4 Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio 
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum 
Trata-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito aos modos de execução do crime de 
homicídio, os quais demonstram certa perversidade. 
a) Emprego de veneno 
Meio insidioso existe no homicídio cometido por intermédio de estratagema, perfídia. O 
veneno é um meio insidioso. 
É necessário, para a incidência da qualificadora, que o veneno seja propinado 
insidiosamente. Assim, se há emprego de violência no sentido de que a vítima ingira a 
substância, não ocorre a qualificadora, podendo incidir o meio cruel. 
b) Emprego de fogo ou explosivo 
Meio cruel é aquele que causa sofrimentos à vítima, não incidindo se empregado após a 
morte. 
O fogo pode ser meio cruel ou de que pode resultar perigo comum, conforme as 
circunstâncias. 
Explosivo é qualquer objeto ou artefato capaz de provocar explosão ou qualquer corpo 
capaz de se transformar rapidamente em uma explosão. O emprego de explosivo pode ocorrer 
pelo manuseio de dinamite ou qualquer outro material explosivo, v.g, bomba caseira, coquetel 
molotov etc. 
c) Emprego de asfixia 
Asfixia é o impedimento da função respiratória e consequente ausência de oxigênio no 
sangue. A asfixia pode ser tóxica ou mecânica. Asfixia tóxica pode se dar pelo ar confinado, pelo 
óxido de carbono e pelas viciações do ambiente. As asfixias mecânicas são: enforcamento, 
imprensamento, estrangulamento, afogamento e esganadura. 
d) Emprego de tortura 
É o suplício, ou tormento, que faz a vítima sofrer desnecessariamente antes da morte. É 
o meio cruel por excelência. O agente, na execução do delito, utiliza-se de requintes de crueldade 
como forma de exacerbar o sofrimento da vítima, de fazê-la sentir mais intensa e demoradamente 
as dores. 
A Lei nº 9.455/97, ao definir a tortura, comina pena de 08 a 16 anos de reclusão na 
hipótese de resultar morte (Art. 1º, § 3º, 2ª parte). Trata-se de crime qualificado pelo resultado e 
preterdoloso, em que a tortura é punida a título de dolo e o evento qualificador (morte), a título 
de culpa. Aplica-se no caso de haver nexo de causalidade entre a tortura, seja física ou moral, e 
o resultado agravador. 
Ocorrendo dolo quanto à morte, seja direto ou eventual, o sujeito só responde por 
homicídio qualificado pela tortura (Art. 121, § 2º, inciso III, 5ª fig), afastada a incidência da lei 
especial. 
e) Meio cruel 
São cruéis aqueles meios que aumentam inútil e desnecessariamente o sofrimento da 
vítima ou revelam brutalidade ou sadismo fora do comum, contrastando com os sentimentos de 
dignidade, de humanidade ou piedade. 
f) Meio de que possa resultar perigo comum 
É aquele que pode expor a perigo um número indeterminado de pessoas, fazendo 
periclitar a incolumidade social. 
O Código Penal também qualifica o homicídio praticado por intermédio de meio que pode 
resultar perigo comum, exemplificando-o com o fogo e o explosivo. Trata-se, conforme visto, de 
fórmula genérica, sendo certo que os meios mencionados genericamente devem seguir a mesma 
linha do que consta na parte exemplificativa. 
 
1.3.5 À traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso 
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido 
Nas hipóteses do inciso IV, do § 2º, do artigo 121, o que qualifica o homicídio não é o meio 
escolhido ou empregado para a prática do crime, mas o modo insidioso com que o agente 
executa, utilizando, para isso, recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima. 
Cuida-se de qualificadora objetiva, pois diz respeito ao modo de execução do crime. Neste 
inciso temos recursos obstativos à defesa do sujeito passivo, que comprometem total ou 
parcialmente o seu potencial defensivo. 
a) À traição 
A traição pode ser física, como matar pelas costas, ou moral, exemplo de o sujeito atrair 
a vítima a local onde existe um poço. 
b) Emboscada 
Emboscada é a tocaia. Significa ocultar-se para poder atacar, o que, na prática, é a tocaia. 
O agente fica à espreita do ofendido para agredi-lo. 
É a ação premeditada de aguardar oculto a presença da vítima para surpreendê-la com o 
ataque indefensável. É a espera dissimulada da vítima em lugar por onde esta terá de passar. 
Na emboscada, o criminoso aguarda escondido a passagem da vítima desprevenida, que é 
surpreendida. 
c) Mediante dissimulação 
Dissimular é ocultar a verdadeira intenção, agindo com hipocrisia. Nesse caso, o agressor, 
fingindo amizade ou carinho, aproxima-se da vítima com a meta de matá-la. 
É a ocultação da intenção hostil, do projeto criminoso, para surpreender a vítima. O sujeito 
ativo dissimula, isto é, mostra o que não é, faz-se passar por amigo, ilude a vítima, que, assim, 
não tem razões para desconfiar do ataque e é apanhada desatenta e indefesa. 
d) Recurso que dificulta ou impossibilita a defesa 
Por fim, o Código Penal se refere a recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da 
vítima. É necessário que tais meios se assemelhem à traição, emboscada ou dissimulação. 
A surpresa cabe na fórmula genérica em estudo. Para tanto é necessário que a conduta 
criminosa seja igualmente inesperada, impedindo ou dificultando a defesa do ofendido. 
 
1.3.6 Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de 
outro crime 
Constituem qualificadoras subjetivas, na medida em que dizem respeito aos motivosdeterminantes do crime. 
Conexão é o liame objetivo ou subjetivo que liga dois ou mais crimes. 
a) Conexão teleológica: 
Existe conexão teleológica quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a execução 
de outro delito. 
O que qualifica o homicídio não é a prática efetiva de outro crime, mas o fim de assegurar 
a execução desse outro crime, que pode até não vir a ocorrer. 
Exemplo: quem, para sequestrar alguém, mata o guarda-costas que pretendia evitar o 
sequestro responderá pelo crime de homicídio qualificado, mesmo que, a seguir, desista de 
efetuar o sequestro. 
b) Conexão consequencial 
Há conexão consequencial quando o homicídio é cometido a fim de assegurar a ocultação, 
impunidade ou vantagem em relação a outro delito. 
Na ocultação, o sujeito visa a impedir a descoberta do crime. Ex. o incendiário mata a 
testemunha do crime. 
Na impunidade, o crime é conhecido, enquanto a autoria é desconhecida. Ex. o sujeito 
mata a testemunha de um desastre ferroviário criminoso. 
Pode ocorrer que o sujeito execute o homicídio a fim de assegurar vantagem no tocante 
a outro delito. Ex. o sujeito mata o parceiro do roubo com a finalidade de ficar com todo o produto 
do crime. Não é necessário que a vantagem seja patrimonial, podendo ser moral. 
 
1.3.7 Feminicídio 
A partir da edição da Lei nº 13.104/2015, o crime de homicídio passou a ser qualificado 
também se praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. 
Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: 
I - violência doméstica e familiar; 
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Nos termos do artigo 121, § 7º, do Código Penal, com redação dada pela Lei nº 
13.771/2018, a pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado: 
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto 
II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com 
deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de 
vulnerabilidade física ou mental; 
III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; 
IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e 
III do caput do art. 22 da Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. 
 
1.3.8 Praticado contra agentes de segurança 
Qualifica o crime de homicídio quando praticado contra autoridade ou agente descrito nos 
artigos 142 e 144, ambos da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força 
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu 
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22i
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22ii
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm#art22iii
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art142
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art144
 
1.3.9 Emprego de Arma de Fogo de uso restrito ou proibido 
Com a derrubada do veto pelo Congresso foi incluída a qualificadora do artigo 121, 
parágrafo 2°, VIII, a qual diz respeito sobre o emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido. 
Trata-se de uma qualificadora objetiva que diz respeito sobre a execução do crime de 
homicídio. 
 
1.3.10 Homicídio privilegiado-qualificado 
Tem sido posição predominante na doutrina e na jurisprudência a admissão da forma 
privilegiada-qualificada, desde que exista compatibilidade lógica entre as circunstâncias. 
Em regra, PODE-SE ACEITAR A EXISTÊNCIA CONCOMITANTE DE QUALIFICADORAS 
OBJETIVAS COM AS CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS DO PRIVILÉGIO, QUE SÃO DE ORDEM 
SUBJETIVA (motivo de relevante valor e domínio de violenta emoção). 
 
1.4 Homicídio culposo – Art. 121, § 3º, CP 
1.4.1 Conceito 
É um tipo aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para poder ser aplicado. A 
culpa, conforme o artigo 18, inciso II, do Código Penal, é constituída de “imprudência, negligência 
ou imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo 
penal incriminador do homicídio culposo. 
 
1.4.2 Modalidades de culpa 
a) Imprudência 
A imprudência é a prática de um fato perigoso. Consiste na violação das regras de conduta 
ensinadas pela experiência. É o atuar sem precaução, precipitado, imponderado. Há sempre um 
comportamento positivo. 
Exemplo: manejar arma carregada. 
b) Negligência 
A negligência é a ausência de precaução ou indiferença em relação ao ato realizado. É a 
culpa na sua forma omissiva. O negligente deixa de tomar, antes de agir, as cautelas que deveria. 
Exemplo: deixar arma de fogo ao alcance de uma criança. 
c) Imperícia 
Imperícia é a falta de aptidão para o exercício de arte ou profissão. A imperícia pressupõe 
que o fato tenha sido cometido no exercício da arte ou profissão. 
Exemplo: Engenheiro que constrói um prédio cujo material é de baixa qualidade, vindo 
este a desabar e a provocar a morte dos moradores. 
 
1.4.3 Concorrência e compensação de culpas 
Não há no Direito Penal compensação de culpas. Assim a culpa do pedestre que 
atravessa a rua fora da faixa a ele destinada não elide a culpa do motorista que trafega na 
contramão. 
A culpa exclusiva da vítima, contudo, exclui a do agente, pois se ela foi exclusiva de um é 
porque não houve culpa alguma do outro; logo, se não há culpa do agente, não se pode falar em 
compensação. 
 
1.4.4 Perdão judicial – Art. 121, § 5º, CP 
É a clemência do Estado, que deixa de aplicar a pena prevista para determinados delitos, 
em hipóteses expressamente previstas em lei. 
Somente ao autor do homicídio culposo pode-se aplicar a clemência, desde que ele tenha 
sofrido com o crime praticado uma consequência tão séria e grave que a sanção penal se torne 
desnecessária. 
Exemplo: o pai que provoca a morte do próprio filho, num acidente fruto de sua 
imprudência, já teve punição mais do que severa. A dor por ele experimentada é mais forte do 
que qualquer pena que se lhe pudesse aplicar. Por isso, surge a hipótese do perdão. O crime 
existiu, mas a punibilidade é afastada. 
 
1) (QUESTÃO 4 - XXIII EXAME) 
Manoel conduzia sua bicicleta, levando em seu colo, sem qualquer observância às regras de 
segurança, seu filho de 02 anos de idade. Para tornar o passeio do filho mais divertido, Manoel 
pedalava em alta velocidade, quando, em determinado momento, perdeu o controle da bicicleta 
e caiu, vindo seu filho a bater a cabeça e falecer de imediato. 
Após ser instaurado procedimento para investigar os fatos, a perícia constata que, de fato, 
Manoel estava em alta velocidade e não havia 
qualquer segurança para o filho em seu colo. O 
Ministério Público oferece denúncia em face de 
Manoel, imputando-lhe a prática do crime 
previsto no Art. 121, §§ 3º e 4º, do Código 
Penal, já que a vítima era menor de 14 anos. 
Durante a instrução, todos os fatos são 
confirmados por diversos meios de prova. 
Considerando apenas as informações 
narradas, responda, na qualidade de 
advogado(a) de Manoel, aos itens a seguir. 
A) A capitulação delitiva realizada pelo 
Ministério Público está integralmente 
correta? Justifique. (Valor: 0,60) 
B) Qual argumento a ser apresentado para evitar a punição de Manoel pelo crime de 
homicídio culposo? Justifique. (Valor: 0,65) 
 
https://ceisc.com.br/ead/aula/808/171866/2378
1.5 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio – Art. 122, CP 
1.5.1 Conceito de suicídio 
É a morte voluntária, que resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, 
realizado pela própria vítima, a qual sabia dever produzir este resultado. 
O Código Penal leva em conta o ato da vítima, que vem a destruir a própria vida. 
 
SE O ATO DE DESTRUIÇÃO É PRATICADO PELO PRÓPRIOAGENTE, RESPONDE 
PELO DELITO DE HOMICÍDIO. 
1.5.2 Automutilação 
A autolesão não é punida. O que constitui crime é a conduta de induzir, instigar ou auxiliar 
a vítima a se automutilar, ou seja, de causar lesões em si própria. 
 
1.5.3 Sujeito ativo e passivo 
Qualquer pessoa que tenha capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de modo 
eficaz e consciente, a suicidar-se ou a se automutilar. 
No caso do sujeito passivo, é preciso ter um mínimo de discernimento ou resistência, pois, 
do contrário, trata-se de homicídio, se resultar morte; ou lesão corporal grave ou gravíssima, no 
caso automutilação. 
Nos casos de ausência de capacidade de entendimento da vítima (louco, criança), o 
agente será considerado autor mediato do delito de homicídio, uma vez que a vitima, tendo 
resistência nula, serviu como mero instrumento para que o agente lograsse o seu propósito 
criminoso, qual seja, eliminar a vida do inimputável; por exemplo, fornecer uma arma a um louco 
e determinar que este atire contra si próprio. 
 
 
 EXEMPLO 
O agente que, valendo-se da insanidade da vítima, convence-a a se matar, incide no artigo 
121. 
 
1.5.4 Elementos objetivos do tipo 
a) Ação nuclear 
Trata-se de um tipo misto alternativo (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado). O 
agente, ainda que realize todas as condutas, responde por um só crime. 
A participação em suicídio ou automutilação pode ser moral e material. Participação moral 
é a praticada por intermédio de induzimento ou instigação. Participação material é a realizada 
por meio de auxílio. 
Induzir 
Induzir significa dar a ideia a quem não possui, inspirar, incutir. Portanto, nessa primeira 
conduta, o agente sugere à vítima que dê fim à sua vida ou se automutile. 
Instigar 
Instigar é fomentar uma ideia já existente. Trata-se, pois, do agente que estimula a ideia 
que alguém anda manifestando. 
Prestar auxílio 
Auxílio: Trata-se de forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material 
ao ato suicida. Exemplo. o agente fornece a arma utilizada para a vítima dar fim à sua vida ou se 
automutilar. 
 
1.5.5 Elemento subjetivo 
É o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade livre e consciente de induzir, instigar 
ou auxiliar a vítima a suicidar-se ou se automutilar. Não se admite a modalidade culposa. 
1.5.6 Consumação e tentativa 
O crime de participação de suicídio ou automutilação atinge a consumação com a morte 
da vítima ou lesões corporais provocadas em si mesmo. 
A maior novidade introduzida pela Lei nº 13.968/2019 foi no sentido de que o crime 
previsto no artigo 122 do Código Penal deixou de ser condicionado, já que não mais constitui 
condição para a incidência do delito que ocorra o resultado morte ou lesão grave. 
Assim, se dos atos para eliminar a sua própria vida ou causar lesões em si mesma, resultar 
lesão corporal leve à vítima, ou não resultar qualquer lesão, o agente responderá pelo crime de 
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou automutilação na modalidade simples (Art. 122, 
caput, do CP). 
 
1.5.7 Figuras típicas qualificadas 
§ 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza 
grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: (Incluído pela Lei 
nº 13.968, de 2019) 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos 
§2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: (Incluído pela Lei nº 
13.968, de 2019) 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Incluído pela Lei nº 13.968, de 2019) 
1.5.8 Formas majoradas
a) Se o crime é praticado por motivo egoístico 
Motivo egoístico é o excessivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida 
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente. Logicamente, merece maior 
punição. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13968.htm#art2
 
 EXEMPLO 
É o caso, por exemplo, de o sujeito induzir a vítima a suicidar-se para ficar com a herança. 
 
b) Se a vítima é menor 
Em segundo lugar, a pena é majorada quando a vítima é menor. Qual a idade para efeito 
da majorante? 
Se a vítima é maior de 18 anos, aplica-se o caput do artigo 122. 
Se a vítima é menor de 14 anos, há crime de HOMICÍDIO. 
 
A majorante só é aplicável quando a vítima tem idade entre 14 e 18 anos. 
 
c) Tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência 
A terceira majorante prevê a hipótese de a vítima ter diminuída, por qualquer causa, a 
capacidade de resistência, como enfermidade física ou mental, idade avançada. Ex.: induzir ao 
suicídio vítima embriagada. 
Por fim, é de ressaltar que o suicida com RESISTÊNCIA NULA, pelos abalos ou situações 
supramencionadas, incluindo-se a idade inferior a 14 anos, é vítima de HOMICÍDIO, e não de 
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio. 
 
1.5.9 Pacto de morte 
É possível que duas ou mais pessoas promovam um pacto de morte, deliberando morrer 
ao mesmo tempo. 
Se cada uma das pessoas ingerir veneno, de per si, por exemplo, aquela que sobreviver 
responderá por participação em suicídio, tendo por sujeito passivo a outra. 
Se uma delas ministrar diretamente o veneno na outra, a que sobreviver responderá por 
homicídio. 
Em síntese, os atos executórios contra a própria vida devem partir exclusivamente da 
vítima. 
 
1.6 Infanticídio – Art. 123, CP 
1.6.1 Conceito 
Trata-se de homicídio cometido pela mãe contra seu filho, nascente ou recém-nascido, 
sob a influência do estado puerperal. 
O infanticídio ocorre quando a ação é praticada durante o parto ou logo após. Antes de 
iniciado o parto existe o aborto e não infanticídio. 
Não incidem as agravantes previstas no artigo 61, inciso II, alíneas “e” e “h”, do Código 
Penal (crime cometido contra descendente e contra criança), vez que integram a descrição do 
delito de infanticídio. Caso incidissem, haverá bis in idem. 
 
1.6.2 Elementos do tipo objetivo 
A ação nuclear é o verbo matar, assim como no delito de homicídio, que significa destruir 
a vida alheia, no caso, a eliminação da vida do próprio filho pela mãe. 
A ação física, todavia, deve ocorrer durante ou logo após o parto, não obstante a 
superveniência da morte em período posterior. 
Admite-se a forma omissiva, visto que a mãe tem o dever legal de proteção, cuidado e 
vigilância em relação ao filho. 
 
EXEMPLO 
Mãe, sob influência do estado puerperal, percebe que o filho está morrendo sufocado com 
o leite materno e nada faz para impedir o resultado morte. Incide, no caso, o disposto no 
artigo 13, § 2º, do CP. 
Estado puerperal é o estado que envolve a mulher durante o parto. Há profundas 
alterações psíquicas e físicas, que chegam a transtornar a mãe, deixando-a sem plenas 
condições de entender o que está fazendo. 
Portanto, o estado puerperal é o conjunto das perturbações psicológicas e físicas sofridas 
pela mulher em face do fenômeno do parto. 
É possível que autora possua doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou 
retardado, como situação preexistente ao parto e que, dada a presença do estado puerperal, 
seja ela considerada incapaz de compreender o caráter ilícito da sua conduta ou de se determinar 
conforme esse entendimento. No caso, incido o disposto no artigo 26 do Código Penal, podendo 
ser inimputável ou semi-imputável, conforme o caso. 
O infanticídio pressupõe que a conduta seja praticada “durante o parto ou logo 
após”. 
Não há na literatura médica ou jurídica regra absoluta quanto à duração do estado 
puerperal. Há quem adote o parâmetro máximo de sete dias. Todavia, para maioria da doutrina, 
a melhor solução é deixar a conceituação daelementar “logo após” para a análise do caso 
concreto, entendendo-se que há delito enquanto perdurar a influência do estado puerperal. 
 
1.6.3 Sujeitos do delito 
a) Sujeito ativo 
A autora do infanticídio SÓ PODE SER A MÃE. Cuida-se de CRIME PRÓPRIO, uma vez 
que não pode ser cometido por qualquer autor. 
O tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo. Entretanto, isso não impede que 
terceiro responda por infanticídio diante do concurso de agentes. 
b) Sujeito passivo 
Sujeito passivo é o neonato ou nascente, de acordo com a ocasião da prática do fato: 
durante o parto ou logo após. 
Antes do parto, o sujeito passivo será o feto, caracterizando, portanto, o delito de aborto. 
c) A participação de terceiros no ato 
Segundo boa parte da doutrina, estando a mulher sob influência do estado puerperal, 
responde ela por infanticídio, delito que também será atribuído aos eventuais concorrentes do 
fato, uma vez que se trata de circunstância de caráter pessoal que constitui elementar do crime. 
Logo, comunica-se aos coautores ou partícipes, nos termos do artigo 30 do Código Penal. 
 
1.6.4 Consumação e tentativa 
O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato. 
Trata-se de crime material. Diante disso, admite-se a tentativa, desde que a morte não 
ocorra por circunstâncias alheias à vontade da autora. 
 
 EXEMPLO 
A genitora, ao tentar sufocar a criança com um travesseiro, tem a sua conduta impedida 
por terceiros. 
 
 
1.7 Aborto – Art. 124, CP 
1.7.1 Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento – Art. 24 do 
CP 
O sujeito ativo é a gestante, enquanto o passivo é o feto. 
Trata-se de crime de mão própria, pois somente a gestante pode realizá-lo, contudo isso 
não afasta a possibilidade de participação no crime em questão. 
1ª figura: Aborto provocado pela própria gestante (autoaborto): 
É a própria mulher quem executa a ação material do crime, ou seja, ela própria emprega 
os meios ou manobras abortivas em si mesma. 
Se um terceiro executar ato de provocação do aborto, não será partícipe do crime do artigo 
124 do Código Penal, mas sim autor do fato descrito no artigo 126 (provocação do aborto com 
consentimento da gestante). 
2ª figura – Aborto consentido 
A mulher apenas consente na prática abortiva, mas a execução material do crime é 
realizada por terceira pessoa. 
Em tese, a gestante e o terceiro deveriam responder pelo delito do artigo 124. Contudo, o 
Código Penal prevê uma modalidade especial de crime para aquele que provoca o aborto com o 
consentimento da gestante (Art. 126 do CP). 
Assim, há a previsão separada de dois crimes: um para a gestante que consente na prática 
abortiva (Art. 124 do CP); e outro para o terceiro que executou materialmente a ação provocadora 
do aborto (Art. 126 do CP). Há aqui, perceba-se, mais uma exceção à teoria monista adota pelo 
Código Penal em seu artigo 29. 
 
1.7.2 Aborto provocado por terceiro – Art. 125, CP 
Trata-se de forma mais gravosa do delito de aborto. 
Ao contrário da figura típica do artigo 126, não há o consentimento da gestante no 
emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiro. Aliás, a ausência de consentimento 
constitui elementar do tipo penal. 
As formas de dissentimento estão retratadas no artigo 126, parágrafo único: 
a) Dissentimento presumido 
É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de 
capacidade civil. 
Para o Código Penal, quando a vítima não é maior de 14 anos ou é alienada mental, não 
possui consentimento válido, levando à consideração de que o aborto deu-se contra a sua 
vontade. 
 
b) Dissentimento real 
Quando o agente emprega violência, grave ameaça ou mesmo fraude, é natural supor que 
extraiu o consentimento da vítima à força, de modo que o aborto necessita encaixar-se na figura 
do artigo 125. 
 
1.7.3 Aborto consensual – Art. 126, CP 
Para que se caracterize a figura do aborto consentido (Art. 126 do CP), é necessário que 
o consentimento da gestante seja válido, isto é, que ela tenha capacidade para consentir. 
Ausente essa capacidade, o delito poderá ser outro (Art. 125 do CP). 
Trata-se de uma exceção à teoria monista (todos os coautores e partícipes respondem 
pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a 
figura do artigo 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria 
naquele tipo penal. 
Entretanto, o legislador para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou 
o artigo 126, aplicando a teoria dualista (ou pluralista) do concurso de pessoas. 
 
1.7.4 Aborto legal – Art. 128, CP 
a) Aborto necessário ou terapêutico 
É a interrupção da gravidez realizada pelo médico quando a gestante estiver correndo 
perigo de vida e inexistir outro meio para salvá-lo. A excludente da ilicitude em estudo do crime 
de aborto somente abrange a conduta do médico. Não obstante isso, a enfermeira, ou parteira, 
não responderá pelo delito em questão se praticar o aborto por força do artigo 24 do Código 
Penal (estado de necessidade, no caso, de terceiro). 
b) Aborto humanitário, sentimental ou piedoso 
O aborto humanitário, também denominado ético ou sentimental, é autorizado quando a 
gravidez é consequência do crime de estupro e a gestante consente na sua realização. 
Para se autorizar o aborto humanitário são necessários os seguintes requisitos: 
a) gravidez resultante de estupro; 
b) prévio consentimento da gestante ou, sendo incapaz, de seu representante legal. 
A lei não exige autorização judicial, processo judicial ou sentença condenatória contra o 
autor do crime de estupro para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção a critério 
do médico. Basta prova idônea do atentado sexual. 
 
 
Crimes em Espécie contra o patrimônio 
 
Aula prevista para ocorrer nos dias 04, 09 e 10/08/2022. 
 
Prof. Arnaldo Quaresma 
@profarnaldoquaresma 
2.1 Furto – Art. 155, CP 
2.1.1 Conceito 
O crime de furto consubstancia-se no verbo subtrair, que significa tirar, retirar de outrem 
bem móvel, sem a sua permissão, com o fim de assenhoramento definitivo. A subtração implica 
sempre a retirada do bem sem o consentimento do possuidor ou proprietário. 
Exige-se o dolo, consistente na vontade do agente de subtrair coisa alheia móvel. 
É indispensável que o agente tenha a intenção de possuir a coisa alheia móvel, 
submetendo-a ao seu poder, isto é, de não devolver o bem, de forma alguma. Assim, se ele o 
subtrai apenas para uso transitório e depois o devolve no mesmo estado, não haverá a 
configuração do tipo penal. Cuida-se na hipótese de mero furto de uso, que não constitui crime, 
pela ausência do ânimo de assenhoramento definitivo do bem. 
Se o sujeito restituir o objeto subtraído até o recebimento da denúncia, pode incidir o 
instituto do arrependimento posterior, previsto no artigo 16 do Código Penal, que constitui causa 
de diminuição da pena. Em outras palavras, o agente será processado pelo delito, mas, se 
condenado, poderá ter a pena reduzida de 1/3 a 2/3. 
Não existe na modalidade culposa. 
 
2.1.2 Consumação e tentativa 
Para Damásio e Capez, o furto atinge a consumação no momento em que o objeto 
material é retirado da esfera de posse e disponibilidade do sujeito passivo, ingressando na livre 
disponibilidade do autor, ainda que este não obtenha a posse tranquila. A subtração se opera no 
exato instante em que o possuidor perde o poder e o controle sobre a coisa, tendo de retomá-la 
porque já não está mais consigo. 
A tentativa é admissível. Ocorre sempre que o sujeito ativo não consegue, por 
circunstâncias alheias à sua vontade, retirar o objeto material da esfera de proteção e vigilância 
da vítima, submetendo-a à sua própria disponibilidade. 
 
2) (QUESTÃO 1 - XXIX EXAME) 
Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em seu 
quarto, verifica quea janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e subtrai 
um telefone celular avaliado em R$ 500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber da conduta 
de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também ficou aberta. Tendo 
conhecimento que os proprietários eram um casal de empresários muito rico, ingressa no local 
e subtrai uma bolsa, avaliada em R$ 450,00. 
Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno e Caio são denunciados pelo crime de furto 
qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), sendo acostadas as Folhas de 
Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra anotação pela suposta prática 
de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com trânsito em julgado em ambas. 
Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada procedente, sendo aplicada pena 
mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa, em regime inicial aberto, devidamente 
substituída por restritiva de direitos. 
Com base nas informações expostas, intimado(a) para apresentação de recurso, 
responda, na condição de advogado(a) de Caio e Bruno, aos itens a seguir. 
A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação 
jurídica apresentada pelo Ministério Público e acolhida na sentença? (Valor: 0,60) 
B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), 
existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65) 
 
3) (QUESTÃO 2 - XIII EXAME) 
Antônio, auxiliar de serviços gerais de uma multinacional, nos dias de limpeza, passa a observar 
uma escultura colocada na mesa de seu chefe. Com o tempo, o desejo de ter aquele objeto fica 
incontrolável, razão pela qual ele decide subtraí-lo. Como Antônio não tem acesso livre à sala 
onde a escultura fica exposta, utiliza-se de uma chave adaptável a qualquer fechadura, adquirida 
por meio de um amigo chaveiro, que nada sabia sobre suas intenções. Com ela, Antônio ingressa 
na sala do chefe, após o expediente de trabalho, e subtrai a escultura pretendida, colocando-a 
em sua bolsa. 
Após subtrair o objeto e sair do edifício onde fica localizada a empresa, Antônio caminha 
tranquilamente cerca de 400 metros. Apenas nesse momento é que os seguranças da portaria 
suspeitam do ocorrido. Eles acham estranha a saída de Antônio do local após o expediente (já 
que não era comum a realização de horas extras), razão pela qual acionam policiais militares 
que estavam próximos do local, apontando Antônio como suspeito. Os policiais conseguem 
alcançá-lo e decidem revistá-lo, encontrando a escultura da sala do chefe na sua bolsa. Preso 
em flagrante, Antônio é conduzido até a Delegacia de Polícia. 
Antônio, então, é denunciado e regularmente processado. Ocorre que, durante a instrução 
processual, verifica-se que a escultura subtraída, apesar de bela, foi construída com material 
barato, avaliada em R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais), sendo, portanto, de pequeno valor. 
A FAC (folha de antecedentes criminais) aponta que Antônio é réu primário. 
https://ceisc.com.br/ead/aula/808/176451/7019
Ao final da instrução, em que foram respeitadas todas as exigências legais, o juiz, em decisão 
fundamentada, condena Antônio a 2 (dois) anos de reclusão pela prática do crime de furto 
qualificado pela utilização de chave falsa, consumado, com base no artigo 155, § 4º, III, do CP. 
Nesse sentido, levando em conta apenas os dados contidos no enunciado, responda aos 
itens a seguir. 
A) É correto afirmar que o crime de furto praticado por Antônio atingiu a consumação? 
Justifique. (Valor: 0,40) 
B) Considerando que Antônio não preenche os requisitos elencados pelo STF e STJ para 
aplicação do princípio da insignificância, qual seria a principal tese defensiva a ser 
utilizada em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,85) 
 
2.1.3 Furto privilegiado – Art. 155, § 2º, CP 
Pequeno valor 
A corrente majoritária sustenta ser de pequeno valor a coisa que não ultrapassa quantia 
equivalente a um salário-mínimo vigente à época do fato. 
 
2.1.4 Furto qualificado – Art. 155, § 4º, CP 
a) Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa 
É necessário que o sujeito pratique violência contra “obstáculo” à subtração do objeto 
material. A violência contra a coisa subtraída não qualifica o furto. 
 
Rompimento
Objeto entre 
agente e objeto 
que pretende 
subtrair
Não é o que integra 
próprio obejto
b) Com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza 
Abuso de confiança 
É a confiança que decorre de certas relações (que pode ser a empregatícia, a decorrente 
de amizade ou parentesco) estabelecidas entre o agente e o proprietário do objeto. O agente, 
dessa forma, aproveita-se da confiança nele depositada para praticar o furto, pois há menor 
vigilância do proprietário sobre os seus bens. 
Mediante fraude 
É o ardil, artifício, meio enganoso empregado pelo agente para diminuir, iludir a vigilância 
da vítima e realizar a subtração. São exemplos de fraude: agente que se disfarça de empregado 
de empresa telefônica e logra entrar em residência alheia para furtar, ou agente que, a pretexto 
de realizar compras em uma loja, distrai a vendedora, de modo a lograr apoderar-se dos objetos. 
Mediante escalada 
Escalada, que em direito penal tem sentido próprio, é a penetração no local do furto por 
meio anormal, artificial ou impróprio, que demanda esforço incomum. Escalada não implica, 
necessariamente, subida, pois tanto é escalada galgar alturas quanto saltar fossos, rampas ou 
mesmo subterrâneos, desde que o faça para vencer obstáculos. 
Mediante destreza 
Consiste na habilidade física ou manual do agente que lhe permite o apossamento do bem 
sem que a vítima perceba. É a chamada punga. Tal ocorre com a subtração de objetos que se 
encontrem junto à vítima, por exemplo, carteira, dinheiro no bolso ou na bolsa, colar, etc., que 
são retirados sem que ela note. 
Importa dizer que se a vítima perceber a subtração no momento em que ela se realiza, 
considera-se o furto tentado na forma simples, pois não há que se falar no caso em destreza do 
agente (exemplo: a vítima sente a mão do agente em seu bolso). 
 
 
c) Com emprego de chave falsa 
Chave falsa é qualquer instrumento de que se sirva o agente para abrir fechaduras, tendo 
ou não formato de chave. 
EXEMPLO 
Grampo, alfinete, prego, fenda, gazua, etc. 
 
 
d) Mediante concurso de duas ou mais pessoas. 
e) Furto de veículo automotor – Art. 155, § 5º, do CP 
Esta qualificadora diz respeito, especificamente, à subtração de veículo automotor. 
Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, 
Jet-skies. 
Para caracterizar essa qualificadora, afigura-se necessário que o veículo seja 
efetivamente transportado para outro Estado ou exterior. Se não ultrapassar a fronteira do Estado 
ou do País, essa qualificadora não incide, sendo o crime de furto simples, salvo se presente outra 
qualificadora. 
 
f) Emprego de explosivo que cause perigo comum 
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou o § 4º-A do artigo 155 do Código Penal prevendo outra 
QUALIFICADORA para o crime de furto: 
 
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de 
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. 
A partir da edição do Pacote Anticrime (Lei 13.964/2019), o crime de furto com emprego 
de explosivo ou de artefato análogo que causa perigo comum passou a ser considerado hediondo 
(Art. 1º, inciso IX, da Lei 8072/90). 
g) Utilização de substâncias explosivas 
A Lei nº 13.654/2018 acrescentou também o § 7º do artigo 155 do Código Penal 
prevendo outra QUALIFICADORA para o crime de furto: 
 
§ 7º A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se a subtração for de 
substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua 
fabricação, montagem ou emprego.2.1.5 Alterações promovidas pela lei 14.155/2021 
Cumpre ressaltar que a lei 14.155/2021, a qual entrou em vigor em 27 de maio de 2021 
acrescentou os parágrafos 4°-b e 4°-c: 
 
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante 
fraude é cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à 
rede de computadores, com ou sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização 
de programa malicioso, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo. (Incluído pela Lei 
nº 14.155, de 2021) 
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado 
gravoso: (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) 
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a 
utilização de servidor mantido fora do território nacional; (Incluído pela Lei nº 14.155, de 
2021) 
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou 
vulnerável. (Incluído pela Lei nº 14.155, de 2021) 
 
4) (QUESTÃO 2 - VIII EXAME) 
Abel e Felipe observavam diariamente um restaurante com a finalidade de cometer um crime. 
Sabendo que poderiam obter alguma vantagem sobre os clientes que o frequentavam, Abel e 
Felipe, sem qualquer combinação prévia, conseguiram, cada um, uniformes semelhantes aos 
utilizados pelos manobristas de tal restaurante. 
No início da tarde, aproveitando a oportunidade em que não havia nenhum funcionário no local, 
a dupla, vestindo os uniformes de manobristas, permaneceu à espera de suas vítimas, mas, 
agindo de modo separado. 
Tércio, o primeiro cliente, ao chegar ao restaurante, iludido por Abel, entrega de forma voluntária 
a chave de seu carro. Abel, ao invés de conduzir o veículo para o estacionamento, evade-se do 
local. Narcísio, o segundo cliente, chega ao restaurante e não entrega a chave de seu carro, mas 
Felipe a subtrai sem que ele o percebesse. Felipe também se evade do local. 
Empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao 
caso, responda às questões a seguir. 
A) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Abel ao praticar tal conduta? (responda 
motivando sua imputação) (Valor: 0,65) 
B) Qual a responsabilidade jurídico-penal de Felipe ao praticar tal conduta? (responda 
motivando sua imputação) (Valor: 0,60) 
 
5) (QUESTÃO 1 - XVII EXAME) 
Rodrigo, primário e de bons antecedentes, quando passava em frente a um estabelecimento 
comercial que estava fechado por ser domingo, resolveu nele ingressar. Após romper o cadeado 
da porta principal, subtraiu do seu interior algumas caixas de cigarro. A ação não foi notada por 
qualquer pessoa. Todavia, quando caminhava pela rua com o material subtraído, veio a ser 
abordado por policiais militares, ocasião em que admitiu a subtração e a forma como ingressou 
no comércio lesado. O material furtado foi avaliado em R$ 1.300,00 (um mil e trezentos reais), 
sendo integralmente recuperado. A perícia não compareceu ao local para confirmar o 
rompimento de obstáculo. O autor do fato foi denunciado como incurso nas sanções penais do 
Art. 155, § 4º, inciso I, do Código Penal. As únicas testemunhas de acusação foram os policiais 
militares, que confirmaram que apenas foram responsáveis pela abordagem do réu, que 
confessou a subtração. Disseram não ter comparecido, porém, ao estabelecimento lesado. Em 
seu interrogatório, Rodrigo confirmou apenas que subtraiu os cigarros do estabelecimento, 
recusando-se a responder qualquer outra pergunta. A defesa técnica de Rodrigo é intimada para 
apresentar alegações finais por memoriais. 
Com base na hipótese apresentada, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir. 
A) Diante da confissão da prática do crime de furto por Rodrigo, qual a principal tese 
defensiva em relação à tipificação da conduta a ser formulada pela defesa técnica? (Valor: 
0,65) 
B) Em caso de acolhimento da tese defensiva, poderá Rodrigo ser, de imediato, 
condenado nos termos da manifestação da defesa técnica? (Valor: 0,60) 
2.2 Roubo - Art. 157, CP 
2.2.1. Ação nuclear 
A ação nuclear do tipo, identicamente ao furto, consubstancia-se no verbo subtrair, que 
significa tirar, retirar, de outrem, no caso bem móvel. Agora, contudo, estamos diante de um 
crime mais grave que o furto, na medida em que a subtração é realizada mediante o emprego 
de grave ameaça ou violência contra a pessoa, ou por qualquer outro meio que reduza a 
capacidade de resistência da vítima. 
São os seguintes os meios executórios do crime de roubo: 
a) Violência física (vis corporalis) 
Violência física à pessoa consiste no emprego de força contra o corpo da vítima. Para 
caracterizar essa violência do tipo básico de roubo é suficiente que ocorra lesão corporal leve 
ou simples vias de fato, na medida em que a lesão grave ou morte qualifica o crime. 
b) Grave ameaça 
Ameaça grave (violência moral) é aquela capaz de atemorizar a vítima, viciando sua 
vontade e impossibilitando sua capacidade de resistência. A grave ameaça objetiva criar na 
vítima o fundado receio de iminente e grave mal, físico ou moral, tanto a si quanto as pessoas 
que lhes são caras. É irrelevante a justiça ou injustiça do mal ameaçado, na medida em que, 
utilizada para a prática de crime, torna-se antijurídica. 
c) Qualquer outro meio que reduza à impossibilidade de resistência; 
Cuida-se da violência imprópria, consistente em outro meio que não constitua violência 
física ou grave ameaça, como, por exemplo, fazer a vítima ingerir bebida alcoólica, narcóticos, 
soníferos ou hipnotizá-la. 
 
 
 
2.2.2. Espécies de roubo: próprio e impróprio 
a) Roubo próprio 
No roubo próprio a violência ou grave ameaça (ou a redução da impossibilidade de defesa) 
são praticados contra a pessoa para a subtração da coisa. Os meios violentos são empregados 
antes ou durante a execução da subtração. 
b) Roubo impróprio 
ROUBO IMPRÓPRIO ocorre quando o sujeito, logo depois de subtraída a coisa, emprega 
violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a 
detenção da coisa para ele ou para terceiro (§ 1º). 
EXEMPLO 
São exemplos típicos de roubo impróprio aquele em que o sujeito ativo, já se retirando do 
portão com a res furtiva, alcançando pela vítima, abate-a (assegurando a detenção), ou, 
então, já na rua, constata que deixou um documento no local, que o identificará, e, 
retornando para apanhá-lo, agride o morador que o estava apanhando (garantindo a 
impunidade). 
Em outros termos, “logo depois” de subtraída a coisa não admite decurso de tempo entre 
a subtração e o emprego da violência, ou seja, o modus violento somente é caracterizador do 
roubo se for utilizado até a consumação do furto que o agente pretendia praticar (posse tranquila 
da res, sem a vigilância). Superado esse momento, o crime está consumado e, 
consequentemente, não pode sofrer qualquer alteração; portanto, eventual violência empregada 
constituirá crime autônomo (lesão corporal, por exemplo), em concurso com furto consumado. 
 
2.2.3 Consumação e tentativa 
 Nos termos da Súmula 582 do STJ, “Consuma-se o crime de roubo com a inversão da 
posse do bem mediante emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e 
em seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada, sendo 
prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada." 
 
2.2.4 Causas especiais de aumento de pena - roubo majorado 
(circunstanciado) (Art. 157, § 2º) 
A) Se há o concurso de duas ou mais pessoas 
Pode haver concurso material entre roubo majorado e quadrilha armada, pois os bens 
jurídicos são diversos. Enquanto o tipo penal de roubo protege o patrimônio, o tipo da quadrilha 
ou bando guarnece a paz pública. 
B) Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal 
circunstância 
A pena é agravada se a vítima, regra geral por dever de ofício (caixeiro viajante, empresa 
de segurança especialmentecontratada para o transporte de valores), realiza serviço de 
transporte de valores (dinheiro, joia, etc). 
C) Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro 
estado ou para o exterior 
Assim como no furto, esta majorante diz respeito, especificamente, à subtração de veículo 
automotor. Consideram-se com tal os automóveis, ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, 
lanchas, Jet-skies. 
D) Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade 
Ocorre quando o agente segura a vítima por tempo superior ao necessário ou valendo-se 
de forma anormal para garantir a subtração planejada. 
EXEMPLO 
Subjugando a vítima, o agente, pretendendo levar-lhe o veículo, manda que entre no 
porta-malas, rodando algum tempo pela cidade, até permitir que seja libertada ou o carro 
seja abandonado. 
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “a”, da Lei nº 8.072/90, com a redação 
dada pela Lei nº 13.964/2019). 
 
E) Se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca 
Essa qualificadora foi introduzida pela Lei 13.964/2019, e só terá incidência para fatos 
praticados a partir da sua vigência, ou seja, fatos praticados a partir do dia 23 de janeiro de 2020. 
Arma branca é aquela em que o instrumento ou objeto é dotado de ponta ou gume, apto 
a matar ou ferir uma pessoa. Pode ser arma branca própria, quando fabricada para defesa e 
ataque, como, por exemplo, punhal e espada, como pode ser imprópria, não fabricada para 
defesa e ataque, mas que reúne potencial para ferir ou matar, como, por exemplo, faca de 
cozinha e machado). 
Não será apto a majorar a pena do crime de roubo qualquer outro objeto ou instrumento 
utilizado no ato do roubo que não se enquadrar no conceito de arma branca, como, por exemplo, 
barra de ferro, pedaço de madeira, pedaço de vidro, garrafa quebrada com extremidade 
pontiaguda. Nesses casos, será roubo simples, se não incidir outra majorante. 
F) Se a subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou 
isoladamente, possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego. 
 
2.2.5 Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo (Art. 
157, § 2-A, do CP) 
ATENÇÃO! Importante alteração trazida pela Lei nº 13.654/2018, na qual o roubo “com 
emprego de arma” deixou de ser uma hipótese de roubo circunstanciado no artigo 157, § 2º. Já 
o roubo com emprego de arma de fogo continua sendo punido como roubo circunstanciado no 
artigo 157, § 2º-A, inciso I, do Código Penal. 
Ou seja, o emprego de arma branca majora o crime de roubo de ⅓ até a metade, ao passo 
que o emprego de arma de fogo majora o crime de roubo em ⅔. 
A arma de brinquedo não serve para majorar a pena, uma vez que não causa à vítima 
maior potencialidade lesiva. Pode, no entanto, gerar grave ameaça e, justamente por isso, servir 
para configurar o tipo penal do roubo, na figura simples. 
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “b”, da Lei nº 8.072/90, com a redação 
dada pela Lei nº13.964/2019). 
 
2.2.6 Roubo com emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause 
perigo comum 
Para caracterizar essa qualificadora, deve restar demonstrada a capacidade de o artefato 
causar perigo comum, apto a causar risco a um número indeterminado de pessoas. 
Cuidado: curiosamente o legislador considerou hediondo o crime de furto qualificado pelo 
emprego de explosivo ou artefato análogo, mas não considera hediondo o crime de roubo com 
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum. Como, à evidência, não 
existe analogia in malam partem no Direito Penal, essa omissão do legislador significa que não 
será possível considerar esse tipo de roubo como sendo hediondo. 
 
2.2.7 Roubo qualificado pelo resultado - Art. 157, § 3º, CP 
Comparando o texto legal com outras previsões semelhantes do Código Penal – “se da 
violência resulta lesão corporal grave” ou “se resulta morte” -, constata-se que, pela técnica 
legislativa empregada, pretendeu o legislador criar duas figuras de crimes qualificados pelo 
resultado, para alguns, crimes preterdolosos. 
Contudo, na hipótese em apreço, a extrema gravidade das sanções cominadas uniu o 
entendimento doutrinário, que passou a admitir a possibilidade, indistintamente, de o resultado 
agravador poder decorrer tanto de culpa quanto de dolo, direto ou eventual. 
 
A) Crime qualificado pelo resultado lesões graves 
É uma das hipóteses de delito qualificado pelo resultado, que se configura pela presença 
de dolo na conduta antecedente (roubo) e dolo ou culpa na conduta subsequente (lesões 
corporais graves). 
HIPÓTESES QUANTO AO RESULTADO MAIS GRAVE: 
Lesão grave consumada + roubo consumado = roubo qualificado pelo resultado lesão 
grave. 
Lesão grave consumada + tentativa de roubo = roubo qualificado pelo resultado lesão 
grave, dando-se a mesma solução para o latrocínio. 
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação 
dada pela Lei nº 13.964/2019). 
B) Crime qualificado pelo resultado morte: LATROCÍNIO 
O crime de latrocínio ocorre quando, do emprego da violência física contra a pessoa com 
o fim de subtrair o bem, ou para assegurar a sua posse ou a impunidade do crime, decorre a 
morte da vítima. 
Tratando-se de crime qualificado pelo resultado, a morte da vítima ou de terceiro tanto 
pode resultar de dolo (o assaltante atira na cabeça da vítima e a mata) quanto de culpa (o agente 
desfere um golpe contra o rosto do ofendido para feri-lo, vindo, no entanto, a matá-lo). 
Trata-se de crime hediondo (Art. 1º, inciso II, alínea “c”, da Lei nº 8.072/90, com a redação 
dada pela Lei nº 13.964/2019). 
 
Súmula 610 do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que 
não realize o agente a subtração de bens da vítima”. 
Súmula 603 do STF: “A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz 
singular e não do Tribunal do Júri.” 
 
 
 
6) (QUESTÃO 4 - XXVIII EXAME) 
Na manhã do dia 09 de outubro de 2018, Talles, na cidade de Bom Jesus de Itabapoana, praticou 
03 crimes de furto simples em continuidade delitiva, subtraindo, do primeiro estabelecimento, 
dinheiro e uma arma de brinquedo; do segundo estabelecimento, uma touca ninja e um celular; 
e, do terceiro estabelecimento, uma motocicleta. De posse dos bens subtraídos, Talles foi até a 
cidade de Cardoso Moreira, abordou Joana, que passava pela rua segurando seu celular, e, 
utilizando-se do simulacro da arma para emprego de grave ameaça e da touca, segurou-a pelos 
braços e subtraiu o celular de suas mãos. De imediato, Talles empreendeu fuga, mas Joana 
compareceu em sede policial, narrou o ocorrido e Talles foi localizado e preso em flagrante na 
cidade de São Fidélis, ainda na posse dos bens da vítima e da motocicleta utilizada. Assegurado 
o direito ao silêncio e o acompanhamento da defesa técnica, Talles prestou declarações na 
delegacia e confessou integralmente os fatos, sendo ele indiciado pela prática dos crimes 
previstos no Art. 155, caput, por três vezes, n/f do Art. 71 do CP e do Art. 157, § 2º, inciso V, 
também do CP. 
Considerando as informações expostas, responda, na condição de advogado(a) de Talles, 
aos itens a seguir. 
A) Considerando que os delitos são conexos, de qual cidade será o juízo criminal 
competente para o julgamento de Talles? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) Qual o argumento de direito material para questionar a capitulação delitiva realizada 
pela autoridade policial? Justifique. (Valor: 0,60) 
 
 
 
 
 
https://ceisc.com.br/ead/aula/808/176447/2383
7) (QUESTÃO 2 - XXVI EXAME) 
Arthur, Adriano e Junior, insatisfeitos com a derrota do seu time de futebol, saíram à rua, após a 
partida, fazendo algazarra na companhia de Roberto, que não gostava de futebol. Durante o ato, 
depararam com Pedro, que vestia a camisa do time rival; simplesmente por isso, Arthur, Adrianoe Junior passaram a agredi-lo, tendo ficado Roberto à distância por não concordar com o ato e 
não ter intenção de conferir cobertura aos colegas. Em razão dos atos de agressão, o celular de 
Pedro veio a cair no chão, momento em que Roberto, aproveitando-se da situação, subtraiu o 
bem e empreendeu fuga. Com a chegada de policiais, Arthur, Adriano e Junior empreenderam 
fuga, mas Roberto veio a ser localizado pouco tempo depois na posse do bem subtraído e de 
seu próprio celular. Diante das lesões causadas na vítima, Roberto foi denunciado pela prática 
do crime de roubo majorado pelo concurso de agentes e teve sua prisão em flagrante convertida 
em preventiva. Na instrução, as testemunhas confirmaram integralmente os fatos, assim como 
Roberto reiterou o acima narrado. A família de Roberto, então, procura você para, na condição 
de advogado(a), adotar as medidas cabíveis, antes da sentença, apresentando nota fiscal da 
compra do celular de Roberto. Considerando apenas as informações narradas, responda, 
na condição de advogado(a) de Roberto, aos itens a seguir. 
A) Existe requerimento a ser formulado pela defesa para reaver, de imediato, o celular de 
Roberto? Justifique. (Valor: 0,60) 
B) Confessados por Roberto os fatos acima narrados, existe argumento de direito material 
a ser apresentado em busca da não condenação pelo crime imputado? Justifique. (Valor: 
0,65) 
 
 
 
https://ceisc.com.br/ead/aula/808/173220/2382
8) (QUESTÃO 3 - XVII EXAME) 
Ruth voltava para sua casa falando ao celular, na cidade de Santos, quando foi abordada por 
Antônio, que afirmou: “Isso é um assalto! Passa o celular ou verá as consequências!”. Diante da 
grave ameaça, Ruth entregou o telefone e o agente fugiu em sua motocicleta em direção à cidade 
de Mogi das Cruzes, consumando o crime. Nervosa, Ruth narrou o ocorrido para o genro Thiago, 
que saiu em seu carro, junto com um policial militar, à procura de Antônio. Com base na placa 
da motocicleta anotada por Ruth, Thiago localizou Antônio, já em Mogi das Cruzes, ainda na 
posse do celular da vítima e também com uma faca em sua cintura, tendo o policial efetuado a 
prisão em flagrante. Em razão dos fatos, Antônio foi denunciado pela prática do crime previsto 
no Art. 157, § 2º, inciso I, do Código Penal, perante uma Vara Criminal da comarca de Mogi das 
Cruzes, ficando os familiares do réu preocupados, porque todos da região sabem que o 
magistrado, em atuação naquela Vara, é extremamente severo. A defesa foi intimada a 
apresentar resposta à acusação. 
Considerando que o flagrante foi regular e que os fatos são verdadeiros, responda, na 
qualidade de advogado(a) de Antônio, aos itens a seguir. 
A) Que medida processual poderia ser adotada para evitar o julgamento perante a Vara 
Criminal de Mogi das Cruzes? Justifique. (Valor: 0,65) 
B) No mérito, caso Antônio confesse os fatos durante a instrução, qual argumento de 
direito material poderia ser formulado para garantir uma punição mais branda do que a 
pleiteada na denúncia? Justifique. (Valor: 0,60) 
 
2.3 Extorsão – Art. 158, CP 
2.3.1 Ação nuclear 
Extorsão é o fato de o sujeito constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, 
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar 
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. 
A diferença em relação ao roubo concentra-se no fato de a extorsão exigir a participação 
ativa da vítima fazendo alguma coisa, tolerando que se faça ou deixando de fazer algo em virtude 
da ameaça ou da violência sofrida. 
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo constranger, que significa coagir, 
compelir, forçar, obrigar alguém a fazer (por exemplo: quitar uma dívida não paga), tolerar que 
se faça (exemplo: permitir que o rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (exemplo: 
obrigar a vítima a não propor ação judicial contra o agente). 
O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência ou grave ameaça, 
os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa ligada a ele (filhos, pai, mãe, 
etc.). 
2.3.2 Consumação e tentativa 
A extorsão atinge a consumação com a conduta típica imediatamente anterior à produção 
do resultado visado pelo sujeito. 
Para a consumação, portanto, o agente deve atingir o segundo estágio, isto é, a 
consumação ocorre quando a vítima cede ao constrangimento imposto e faz ou deixa de fazer 
algo. Esse é o entendimento que prevalece na doutrina. Nesse sentido a Súmula 96 do STJ: “O 
crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. 
A tentativa é admissível. Ocorre quando o sujeito passivo, não obstante constrangido pelo 
autor por intermédio da violência física ou moral, não realiza a conduta positiva ou negativa 
pretendida, por circunstâncias alheias à sua vontade. 
 
2.3.3 Extorsão qualificada – Art. 158, § 2º, CP 
As duas hipóteses (lesão corporal grave ou morte) elencadas, como no roubo, 
caracterizam condições de exasperação da punibilidade em razão da maior gravidade do 
resultado. 
Inusitadamente, o legislador deixou de considerar hediondo o crime de extorsão 
qualificada pelo resultado morte, ao dar nova redação ao artigo 1º, inciso III, da Lei nº 8.072/90, 
que passou a prever como hediondo somente a extorsão qualificada pela restrição da liberdade 
da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (Art. 158, § 3º); 
 
2.3.4. Extorsão qualificada pela privação da liberdade – Art. 158, § 3º, CP 
Trata-se da hipótese em que a privação da liberdade da vítima é condição indispensável 
para obtenção da vantagem indevida. É o chamado sequestro-relâmpago. 
Exemplo: ladrão constrange a vítima a entregar-lhe o cartão magnético e a fornecer-lhe a 
senha, acompanhando-a até caixas eletrônicos de bancos para sacar dinheiro, ocorre o crime 
de extorsão qualificada, uma vez que é imprescindível a atuação do sujeito passivo do ataque 
patrimonial para a obtenção da vantagem indevida por parte do autor. 
Difere do roubo majorado pela restrição da liberdade da vítima, porque, neste caso, a 
restrição da liberdade é irrelevante para obtenção da vantagem indevida. Imaginemos o agente 
subtrair objetos da vítima, prendendo-a no banheiro. Trata-se de roubo majorado pela restrição 
da liberdade da vítima, pois trancá-la no banheiro não é condição indispensável para a subtração. 
 
2.4 Extorsão mediante sequestro – Art. 159, CP 
2.4.1 Conceito e objetividade jurídica 
O fato é definido como “sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, 
qualquer vantagem como condição ou preço de resgate”. 
É crime hediondo. 
Consubstancia-se no verbo sequestrar, que significa privar a vítima de sua liberdade de 
locomoção, ainda que por breve espaço de tempo. 
 
2.4.2 Consumação 
A consumação ocorre com a privação de liberdade de locomoção da vítima, exigindo-se 
tempo juridicamente relevante. 
Trata-se de crime permanente, cuja consumação se prolonga no tempo. Assim, enquanto 
a vítima estiver submetida à privação de sua liberdade de locomoção o crime estará em fase de 
consumação. 
Tratando-se de crime formal, pune-se a mera atividade de sequestrar pessoa, tendo a 
finalidade de obter vantagem. Assim, embora o agente não consiga a vantagem almejada, o 
delito está consumado quando a liberdade da vítima é cerceada. 
 
2.4.3 Formas qualificadas – Art. 159, § 1º, CP 
a) Sequestro por mais de 24 horas 
b) Sequestro de menor de 18 ou maior de 60 anos 
c) Sequestro praticado por bando ou quadrilha 
É possível responsabilizar-se o agente pelo crime autônomo de associação criminosa (Art. 
288 do CP) em concurso material com a forma qualificada em estudo. Não há falar em bis in 
idem, uma vez que os momentos consumativos e a objetividade jurídica entre tais crimes são 
totalmente diversos, além do que a figura prevista no artigo 288 do Código Penal existe 
independentemente de algum crime vir a ser praticado pela quadrilha ou bando.

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