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PEDIATRIA: DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO RN São problemas muito frequentes no período neonatal. Isso ocorre pois, no período fetal o pulmão é um órgão preenchido por líquido e com pouco fluxo sanguíneo. Com o nascimento, o pulmão passa a ter a função de oxigenar o sangue através do ar inspirado. Esse processo de adaptação requere uma função cardiopulmonar adequada e intercorrências nesse processo podem ocasionar doenças pulmonares no neonato. Fisiopatologia Os principais mecanismos envolvidos na fisiopatogenia desses distúrbios são: ✓ Imaturidade pulmonar ✓ Infecção ✓ Retardo na absorção do líquido alveolar e intersticial ✓ Síndromes aspirativas ✓ Escape de ar ✓ Malformações Estudaremos nessa aula doenças que envolvem os 4 primeiros mecanismos supracitados. Quando pensar em distúrbio respiratório neonatal? Eles se manifestam nas primeiras horas de vida e podemos observar gemidos, batimento de asa de nariz, tiragem intercostal, retração esternal e movimentação de tórax e abdome. Esses 5 sinais compõe o boletim de Silverman Andersen, descrito abaixo. O recém-nascido também pode apresentar taquipnénia, que é definida por FR > 60 irpm. Para chegar a um diagnóstico etiológico do desconforto respiratório no RN devemos considerar a história materna, as condições de parto, a evolução do desconforto e os exames complementares. Síndrome do desconforto respiratório do RN (SDR) A SDR também é conhecida como Doença Pulmonar das Membranas Hialinas. A membrana hialina consiste no deposito de material hialino nas paredes do alvéolo, correspondendo a uma reação inespecífica do pulmão a várias agressões. Essa denominação está em desuso. A SDR é uma doença típica do prematuro e tanto a sua incidência quanto a sua gravidade estão relacionadas ao grau de prematuridade. Ela ocorre em decorrência da imaturidade pulmonar, com deficiência de surfactante, desenvolvimento incompleto da estrutura pulmonar e complacência exagerada da caixa torácica. O surfactante pulmonar é uma substância lipoproteica responsável pela diminuição da tensão superficial dos alvéolos, impedindo que os mesmos colabem no final da expiração. O componente tensoativo do surfactante é a fosfatidilcolina, ele é produzido nos pneumócitos II a partir da 20ª semana de gestação e só atinge a maturidade funcional a partir da 34ª semana de idade gestacional. Então a sequência é basicamente: Prematuridade ⇨ ↓ Surfactante Alveolar ⇨ ↑ Tensão Superficial Alveolar ⇨ Atelectasias Favorecendo o surgimento de microatelectasias difusas, que provocam aumento do trabalho respiratório e diminuição da relação ventilação/perfusão dos espaços aéreos. Tudo isso propicia hipoxemia, hipercapnia e acidose respiratória. Com a persistência e agravamento do quadro, os eventos culminam em vasoconstricção pulmonar e isquemia da parede alveolar. O quadro clínico da SDR se dá por desconforto respiratório de início precoce que progridem com piora caso não seja implementado nenhum tratamento. Acomete nascidos com IG ≤ 34 semanas, com exceção dos filhos de mãe diabética. Isso ocorre pois o hiperinsulinismo inibe a produção do surfactante. O aspecto radiológico esperado é de infiltrado reticulo-granular difuso, chamado de aspecto de vidro moído. Essa imagem representa as múltiplas áreas de atelectasias e broncograma aéreo. Em casos mais avançados da doença podemos observar apagamento do contorno cardíaco às custas de edema pulmonar. O tratamento consiste em oxigenação e ventilação adequadas, sendo necessário um suporte ventilatório por meio de CPAP ou ventilação mecânica. O mais efetivo no tratamento desse acometimento é a terapia de reposição de surfactante exógeno, que é administrado por via endotraqueal através da cânula orotraqueal, essa conduta induz a diminuição da tensão superficial dos alvéolos, que impede a formação de atelectasias. A prevenção é feita através da administração de glicocorticoide pré-natal, pois ele estimula a produção de surfactante endógeno pelos pneumócitos 2 do feto. O glicocorticoide deve ser oferecido à gestante com risco de interrupção da gravidez com IG entre 23 semanas a 33 semanas e 6 dias. Os esquemas utilizados podem ser: 2 doses de Betametasona 12mg uma vez ao dia ou 4 doses de Dexametasona 6mg duas vezes ao dia. Pneumonia Neonatal Acomete certa de 1% dos nascidos a termo e 10% de nascimento prematuro. O RN pode se infectar antes do nascimento ou durante o nascimento: ❖ Antes do nascimento: via transplacentária ou aspiração de líquido amniótico infectado. ❖ Durante o nascimento: contaminação do canal de parto. Essa contaminação se dá por microorganismos presentes na microbiota genitourinária materna, são eles: Streptococos do grupo B, Gram negativos, Listeria moncytogenes e Clamydia tracomathis. Os fatores de risco são rotura de membranas ≥ 18h, febre materna, infecção urinária materna, corioamnionite e parto prolongado. Uma infecção da mãe no período pré-natal, por si só, tem chances de induzir um trabalho de parto antecipado. O quadro clínico se apresenta com sinais de desconforto respiratório e alguns sinais inespecíficos como letargia, choro fraco, distensão abdominal, hipotermia, má perfusão capilar e sucção deficiente. Os exames complementares que irão nos auxiliar nesse diagnóstico são hemograma, hemocultura, gasometria e radiografia de tórax. A radiografia de tórax no prematuro com pneumonia vai apresentar o mesmo padrão que a SDR, enquanto no nascido a termo pode apresentar qualquer padrão de condensação ou broncopneumonia. O tratamento se baseia em antibiótico terapia associada ao suporte ventilatório e suporte vasoativo, quando necessário. Como no início do tratamento não sabemos ao certo a etiologia da infecção fazemos uma cobertura mais ampla com penicilina ou ampicilina + aminiglicosídeo. Taquipnéia Transitória do RN Resulta da dificuldade na reabsorção do líquido alvéolo-intersticial do pulmão após o nascimento, ela acomete cerca de 5% dos RN a termo e 16% dos RN de baixo peso. Também chamada de Síndrome do Pulmão Úmido, o seu desconforto respiratório é leve em comparação com a SDR. Na fase fetal, os alvéolos são preenchidos por líquido em função da passagem de água e eletrólitos do interstício para os alvéolos. Próximo ao parto essa passagem cessa com diminuição lenta e gradual do liquido alveolar. Com o nascimento, a entrada de ar nos alvéolos propicia a saída do líquido pelas vias aéreas superiores, ao mesmo tempo que empurra o liquido para o interstício pulmonar e o restante de líquido é absolvido nas próximas horas pelos capilares pulmonares e linfáticos. Fatores que retardem esse mecanismo irão induzir o desconforto respiratório desse RN. Os fatores de risco associados são prematuridade tardia (34 semanas a 35 semanas e 6 dias), ausência de trabalho de parto (comprometimento dessa fase pré-parto), cesárea (pressão exercida na caixa torácica no parto normal auxilia a saída de líquido), anoxia perinatal (lesa barreira capilar pulmonar), diabetes materno, asma materna e sexo masculino. O quadro clínico esperado é uma taquipnéia moderada de início precoce e com melhora de 24 a 48 horas de vida. O quadro radiológico é de imagens radiopacas lineares da periferia para o hilo e o espessamento de cisuras interlobares. O tratamento comumente exige apenas oxigenioterapia inalatória por halo de O2, afim de manter a saturação acima de 90%. Raramente é necessário o CPAP nasal. Síndrome de Aspiração de Mecônio (SAM) Ter o líquido amniótico meconial (LAM) não significa ter a SAM. O LAM está presente em maior proporção nos partos com IG a partir de 42 semanas. Nos países em desenvolvimento, até 29% nos RN com líquido amniótico meconial apresentam SAM. Essa síndrome acomete preferencialmente os nascidos termo ou pós-termo, raramente acomete prematuro tardio. O mecônio é um líquido viscoso e esverdeado, composto por secreções gastrointestinais,água, restos celulares, muco, sangue, lanugo e vérnix. Ele aparece no 2º trimestre da gestação no íleo fetal e só é liberado no RN quando chega ao termo, através da ação da motilina. A eliminação de mecônio intra-útero ocorre devido a uma condição de asfixia. Fatores relacionados ao sofrimento fetal agudo (patologias maternas, patologias placentárias, compressão de cordão no trabalho de parto e trabalho de parto prolongado) levam ao quadro de hipoxemia fetal, que provoca o relaxamento esfincteriano do feto com eliminação do mecônio e possível entrada de líquido meconial nas VAS. Após o nascimento, com início dos movimentos respiratórios mais efetivos, o RN pode eliminar o mecônio através da tosse, por exemplo, ou pode aspirá-lo para o trato respiratório inferior. Quando esse sofrimento se prolonga, provoca uma hipoxemia mais intensa que estimula movimentos de gaspings (inspiração com pausa prolongada), caracterizando inspiração intraútero. A presença de líquido meconial nas VA pode ocasionar obstrução parcial ou total das VA hiperinsulflação por aprisionamento de ar ou atelectasia por obstrução total. No alvéolo, causa pneumonite química inicalmente e pode progredir para pneumonia, pelo mecônio ser um possível meio de cultura para crescimento bacteriano. O quadro clínico pode ser leve, com sinais de desconforto respiratório leve que melhora em 24h a 72h e absorção de mecônio em 5 a 7 dias. Mas também pode ser grave, evoluindo com desconforto respiratório grave e hipertensão pulmonar. A hipoxemia grave nesses recém- nascidos pode levar a um comprometimento neurológico com sequelas importantes. A radiologia pode demosntrar infiltrado grosseiro difuso, pneumotórax, pneumomediastino ou atelectasias. O tratamento começa com a abordagem na sala de parto, lembrando que não é mais recomentada a aspiração imediata de hipofaringe e traquéia. A recomendação atual (SBP – 2022) é de que se o RN for a termo, respira ou chora e apresenta tônus em flexão, então não deve ser aspirado e deve seguir os cuidados junto da parturiente. Se o RN não respira ou chora ou o tônus muscular está flácido, deve seguir os cuidados na mesa de reanimação com ênfase e normotermia e perviedade das vias aéreas, caso a secreção esteja causando obstrução de VAS é realizada a aspiração de boca e narinas. As ocasiões em que a aspiração traqueal pode ser recomendada são raras. Devido ao risco de infecção e a dificuldade de diferenciar pneumonite química e oneumonia bacteriana, fazemos antibioticoterapia com penicilina + aminoglicosídeo. Damos também suporte ventilatório e dilatadores do leito vascular pulmonar.
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