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Indaial – 2020 Físico-Química ii Prof. Thiago Augusto de Lima Burgo 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Thiago Augusto de Lima Burgo Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: B957f Burgo, Thiago Augusto de Lima Físico-química II. / Thiago Augusto de Lima Burgo. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 235 p.; il. ISBN 978-85-515-0441-3 1. Físico-química. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 541.3 III apresentação Caro acadêmico, este é o seu Livro Didático de Físico-Química II. Muitos dos conceitos abstratos introduzidos anteriormente, serão aqui usados para compreendermos melhor as reações e os processos que estamos acostumados no cotidiano. No decorrer dos seus estudos, você se familiarizará com várias equações e usaremos essas equações para construir vários gráficos. Gráficos são importantes porque ajudam a resumir muitas informações em um espaço bem pequeno. Além disso, a físico-química invoca muitos conceitos e pensamentos abstratos dos estudantes, assim, várias ilustrações aparecerão em momento oportuno para ajudar a dar um significado mais tangível a essas equações e trabalhar a sua intuição química. Sempre que possível, o texto tenta extrapolar esses conceitos para sua realidade cotidiana. Ao final de cada tópico, há um resumo dos conceitos mais importantes que você deverá ter estudado ao longo do texto, seguido por autoatividades para que você se familiarize com os tipos de cálculos envolvidos em físico-química. Prof. Thiago Augusto de Lima Burgo IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO ...........................................1 TÓPICO 1 – CONCEITOS DE EQUILÍBRIO .......................................................................................3 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3 2 A ENERGIA DE GIBBS NO EQUILÍBRIO ........................................................................................4 3 AVANÇO DE REAÇÃO E GRAU DE DISSOCIAÇÃO...................................................................6 4 POTENCIAL QUÍMICO DE UM GÁS PERFEITO ........................................................................15 5 ENERGIA DE GIBBS DE MISTURA ................................................................................................21 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................28 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................29 TÓPICO 2 – EQUILÍBRIO QUÍMICO .................................................................................................31 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................31 2 ENERGIA DE GIBBS DE REAÇÃO ..................................................................................................31 3 CONSTANTES DE EQUILÍBRIO ......................................................................................................34 4 AVANÇO DE REAÇÃO E GRAU DE DISSOCIAÇÃO NO EQUILÍBRIO ...............................46 5 RESPOSTA DO EQUILÍBRIO ÀS CONDIÇÕES DO SISTEMA: TEMPERATURA E PRESSÃO ............................................................................................................55 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................66 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................67 TÓPICO 3 – EQUILÍBRIO FÍSICO.......................................................................................................69 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................69 2 CONCEITOS DE EQUILÍBRIO DE FASES .....................................................................................69 3 TRANSIÇÕES DE FASE ......................................................................................................................73 4 CURVAS DE EQUILÍBRIO .................................................................................................................76 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................82 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................83 UNIDADE 2 – CINÉTICA QUÍMICA .................................................................................................85 TÓPICO 1 – CONCEITOS GERAIS SOBRE CINÉTICA .................................................................87 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................87 2 GENERALIDADES ..............................................................................................................................87 3 VELOCIDADES DE REAÇÃO ...........................................................................................................924 CONCENTRAÇÃO E VELOCIDADE ..............................................................................................99 5 VELOCIDADE INSTANTÂNEA .....................................................................................................103 6 MEDIDA DE VELOCIDADE ...........................................................................................................105 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................111 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................112 sumário VIII TÓPICO 2 – ORDEM DE REAÇÃO E LEIS DE VELOCIDADE INTEGRADAS .....................113 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................113 2 ORDEM DE REAÇÃO .......................................................................................................................113 3 LEIS DE VELOCIDADE INTEGRADAS .......................................................................................119 3.1 REAÇÕES DE PRIMEIRA ORDEM ............................................................................................123 3.2 REAÇÕES DE SEGUNDA ORDEM ............................................................................................124 3.3 REAÇÕES DE ORDEM ZERO .....................................................................................................126 3.4 COMPARAÇÃO: ORDEM ZERO, PRIMEIRA ORDEM E SEGUNDA ORDEM .................127 4 REAÇÕES REVERSÍVEIS DE PRIMEIRA ORDEM ...................................................................130 5 REAÇÕES CONSECUTIVAS DE PRIMEIRA ORDEM ..............................................................139 6 REAÇÕES PARALELAS DE PRIMEIRA ORDEM.......................................................................142 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................145 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................146 TÓPICO 3 – FATORES QUE AFETAM A VELOCIDADE DAS REAÇÕES ...............................149 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................149 2 O EFEITO DA TEMPERATURA ......................................................................................................149 3 O EFEITO DA PRESSÃO ..................................................................................................................154 4 CATALISADORES .............................................................................................................................155 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................159 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................160 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161 UNIDADE 3 – ELETROQUÍMICA .....................................................................................................163 TÓPICO 1 – SOLUÇÕES IÔNICAS ...................................................................................................165 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165 2 ATIVIDADE DE ÍONS EM SOLUÇÃO .........................................................................................165 3 REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO ......................................................................................................172 4 SEMIRREAÇÕES ................................................................................................................................174 5 BALANCEAMENTO DAS REAÇÕES REDOX ............................................................................175 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................183 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................184 TÓPICO 2 – CÉLULAS ELETROQUÍMICAS ..................................................................................185 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................185 2 CONCEITO DE ELETROQUÍMICA ...............................................................................................185 3 DIAGRAMAS DE CÉLULAS ELETROQUÍMICAS ....................................................................188 4 TERMODINÂMICA DE SISTEMAS ELETROQUÍMICOS ......................................................189 5 CÉLULAS GALVÂNICAS .................................................................................................................191 6 CÉLULAS ELETROLÍTICAS ............................................................................................................195 7 EQUAÇÃO DE NERNST ..................................................................................................................198 8 MEDIDA DE POTENCIAIS DE ELETRODOS ............................................................................206 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................215 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................216 TÓPICO 3 – PROCESSOS ELETROQUÍMICOS NO COTIDIANO ...........................................219 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................219 2 PILHAS COMERCIAIS .....................................................................................................................219 IX 2.1 PILHAS COMERCIAIS: PLANTÉ E LECLANCHÉ .................................................................220 2.2 PILHAS COMERCIAIS: NÍQUEL-CÁDMIO .............................................................................222 2.3 PILHAS COMERCIAIS: LÍTIO ....................................................................................................223 2.4 CÉLULAS SOLARES .....................................................................................................................226 2.5 CÉLULAS A COMBUSTÍVEL ......................................................................................................227 3 ELETRÓLISE: GALVANOPLASTIA ...............................................................................................227 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................229 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................233 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................234 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................235 X 1 UNIDADE 1 CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • definir a energia de Gibbs de reação; • prever e calcular o ponto de equilíbrio em um sistema físico ou químico; • saber o efeito da mistura sobre a energia de Gibbs; •calcular o equilíbrio usando conceitos e avanço de reação; • entender como a pressão e a temperatura afetam o equilíbrio; • entender por que uma fase da matéria é mais estável que outra; • calcular a variação da temperatura de ebulição com a pressão. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 − CONCEITO DE EQUILÍBRIO TÓPICO 2 − EQUILÍBRIO QUÍMICO TÓPICO 3 − EQUILÍBRIO FÍSICO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 1 INTRODUÇÃO Por vários motivos, incluindo aspectos históricos relacionados à ciência reducionista (que é a forma de tentar explicar um fenômeno complexo a partir de suas partes constituintes mais simples e reduzidas), a termodinâmica clássica dá ênfase ao equilíbrio e à estabilidade. Processos ou reações que estão no equilíbrio (ou perto dele) são mais fáceis de serem estudados porque isso simplifica muito, tanto as suposições que devem ser consideradas, quanto todo o formalismo matemático adotado para tratar tais situações. Além disso, a termodinâmica clássica é um assunto macroscópico, até porque foi toda fundamentada antes do entendimento de átomos e moléculas. Por outro lado, o estudo de equilíbrio é um dos momentos mais oportunos do curso de físico-química para utilizarmos conceitos microscópicos a fim de dar mais intuição as nossas ideias. Nesta unidade, você, acadêmico, não deve se assustar ou desanimar com várias deduções de equações. Não é necessário memorizá-las; estas são apresentadas apenas para melhor entendimento dos conceitos. Antes de avançarmos nos conceitos que norteiam o equilíbrio químico e todo seu formalismo matemático, consideraremos uma simples e genérica reação química: Para essa reação, a constante de equilíbrio é dada por: aA bB cC dD+ +� [ ] [ ] [ ] [ ] c d a b C D K A B = De fato, você já deve ter se deparado e aplicado essa equação de equilíbrio químico inúmeras vezes desde o Ensino Médio, não é mesmo? Você sabe de onde vem essa equação e por que um resultado tão importante, como prever o ponto de equilíbrio de reação, quanto há de cada reagente e de cada produto no meio reacional é encontrado a partir de uma relação tão simples? Tentaremos dar sentido a essa simples relação! UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 4 2 A ENERGIA DE GIBBS NO EQUILÍBRIO Começaremos por um breve resumo e descrição do que vimos anteriormente na Físico-Química I. A termodinâmica baseia-se em duas leis fundamentais: a primeira e segunda lei. De fato, tanto a lei zero quanto a terceira lei e mesmo a energia de Gibbs (ou energia de Helmholtz) são consequências e extensões dessas duas importantes leis universais. De maneira bem simples, a primeira lei nos diz que a energia do universo deve ser conservada. Além disso, essa lei é bem intuitiva para qualquer estudante: considerando um sistema isolado, a energia total do sistema simplesmente não deve (e não pode) mudar. Essa aparente familiaridade é suportada por nosso cotidiano. Tudo que fazemos ao longo do dia envolve transferência de energia: ao ligar uma lâmpada, você está transferindo energia de um lugar para o outro e, segundo a primeira lei, a energia total deste processo deve ser conservada. A segunda lei envolve um pouco mais de abstração, seja pela introdução de vocabulários de máquinas térmicas seja pelo uso de conceitos estatísticos (probabilidade). Por outro lado, o fato importante é que o estudo da eficiência das máquinas térmicas permitiu-nos chegar a um resultado exageradamente importante: é impossível converter todo calor em trabalho, ou seja, é impossível para uma máquina térmica qualquer atingir 100% de eficiência. Vários cientistas importantes se debruçaram sobre esse resultado e perceberam que havia uma propriedade, até então desconhecida, que direcionava o sentido natural de um processo físico ou químico e chamaram essa propriedade de entropia (símbolo S). Dessa forma, a segunda lei identifica quais mudanças são mais prováveis (espontâneas ou naturais) de acontecerem entre todas as mudanças permitidas para um determinado processo. Essas mudanças mais prováveis são as mudanças em que a entropia do universo (sistema mais vizinhanças) deverá aumentar até um máximo. Além disso, a segunda lei permite concluir que a entropia de um sistema isolado é máxima no equilíbrio. Extrapolando, diz que um processo que diminua a entropia do universo, SUniv, é impossível e um outro processo que aumente SUniv é possível e irreversível e que processos reversíveis têm ∆SUniv = 0. Finalmente, processos reversíveis são possíveis, mas extremamente difíceis e desafiadores de realizarmos no laboratório. Veja, mesmo com tudo isso em mãos, nem sempre é muito fácil detectar se uma mudança (ou reação) é espontânea ou não, simplesmente porque a definição de entropia diz que, para um processo ser espontâneo, a entropia do universo (ou de um sistema isolado) tem que necessariamente aumentar. Não é conveniente nem fácil medir propriedades ou qualquer coisa que extrapole o limite de um sistema. Veja o simples exemplo da combustão do gás hidrogênio em um sistema fechado com paredes diatérmicas: ( ) ( ) ( )22 22 2g g gH O H O+ → TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 5 Antes de calcularmos formalmente a variação de entropia, podemos fazer uma previsão qualitativa: no lado dos reagentes há dois mols de H2 e 1 mol de O2 que resultam numa entropia maior que os 2 mols de água dos produtos, ou seja, como a variação de entropia é calculada como sendo a entropia dos produtos menos a entropia dos reagentes ( ), a entropia de reação deveria ser negativa. De fato, quando calculada, a entropia padrão de reação é negativa com valor em torno de –88,9 J K–1. Cometeríamos um erro se tomássemos esse valor como critério de espontaneidade. Intuitivamente, uma reação de combustão é espontânea, muito deslocada para os produtos e fortemente exotérmica. Assim, algum fator extra deve estar ocorrendo para que o universo tenha uma entropia positiva. Quando analisamos mais minunciosamente esse exemplo, percebemos que o calor escoado a partir da combustão do hidrogênio aumenta sobremaneira a entropia das vizinhanças (muito mais do que 88,9 J K–1), de forma que a entropia do universo (sistema mais vizinhanças) é positiva. Entretanto, como dissemos anteriormente, não é exatamente fácil monitorar a entropia deste universo, nesse caso: sistema e vizinhanças. Além disso, também não dispomos de um “entropiômetro” no laboratório, de forma que medidas de entropia são sempre medidas indiretas, ou seja, mede-se uma outra propriedade ou variável do sistema (como calor) para então calcular a entropia. Há um meio muito mais conveniente para determinar critérios de espontaneidade em sistemas termodinâmicos, que é calcular a energia de Gibbs (símbolo G) ou a energia de Helmholtz (símbolo A). Ambos usam relações que combinam energia interna (1a Lei) e a entropia (2a Lei) para desenvolver expressões que descrevem os critérios de espontaneidade munidos apenas das variáveis do próprio sistema. Neste caso, em um sistema fechado, a condição de equilíbrio é a minimização da energia de Gibbs (para T, P constantes) ou a minimização da energia de Helmholtz (para T, V constantes). Veja no exemplo do Gráfico 1, a diminuição de G à medida que o sistema se direciona para o equilíbrio sob T e P constantes corresponde proporcionalmente a um aumento da entropia do universo (ou de um sistema isolado). Dessa forma, G é usado, de forma indireta, para calcular o ganho (ou a perda) de entropia global num processo. 0 0 0 .R Prod ReagS S S∆ = − UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 6 GRÁFICO 1 – ENTROPIA (SISTEMA ISOLADO) E ENERGIA DE GIBBS (SISTEMA FECHADOOU ISOLADO) AO LONGO DO TEMPO FONTE: O autor 3 AVANÇO DE REAÇÃO E GRAU DE DISSOCIAÇÃO Lá na Físico-Química I vimos que a variação na energia de Gibbs pela variação do número de mols para um componente numa mistura (ou num meio reacional) tinha um significado especial e por isso chamamos de potencial químico, definido por: , , i j i i p T n G n µ ≠ ∂ = ∂ Em físico-química, geralmente trabalhamos com pequenas quantidades afastadas do equilíbrio porque, como vimos anteriormente, isso facilita muito nossas suposições e todo formalismo matemático. Nesse sentido, qualquer propriedade que esteja sofrendo uma pequena variação, dizemos que essa propriedade está sofrendo uma variação infinitesimal e é precedida por um “d”, que vem das propriedades de derivadas (por exemplo, se fosse uma variação infinitesimal de volume, escreveríamos “dV”). No caso anterior, há uma letra “d” que está um pouco deformada: esse “∂” quer dizer que essa propriedade está também variando infinitesimalmente (bem pouco), mas enquanto ela está mudando, todas as outras variáveis estão sendo mantidas constantes! Isso é comum de fazer quando temos uma função composta de várias variáveis (como é o caso da energia de Gibbs) porque isso facilita muito os cálculos. Por outro lado, se quiséssemos variar todo mundo ao mesmo tempo e usar “d” ao invés de “∂”, nossas equações ficariam tão complexas a ponto de provavelmente não conseguirmos chegar a lugar algum. Voltando para a equação de potencial químico, uma outra forma de escrevê-la é usando a equação fundamental da termodinâmica: TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 7 i i i dG SdT VdP dnµ= − + +∑ Em que µi é o potencial químico e dni a variação no número de mols da espécie i. Veja, não há muito segredo em voltar para a equação de potencial químico a partir dessa nova equação. Se a temperatura for constante, dT é igual a zero e –SdT = 0. Se a pressão também for constante, dP é igual a zero e VdP = 0. Assim, a única coisa que sobra quando pressão e temperatura são constantes é: i i i dG dnµ=∑ Que rearranjando a equação anterior (passando o dni que está multiplicando µi, para o outro lado para dividir dG), voltamos exatamente para: , , i j i i p T n G n µ ≠ ∂ = ∂ Como nessa suposição, p e T (e qualquer outro componente na mistura) foram tomados como constantes, temos que colocar toda essa informação no canto interior direito da equação e é exatamente isso que essas variáveis estão fazendo ali no canto, nos mostrando que elas são constantes. Além disso, é preciso reforçar que os mesmos conceitos básicos exemplificados no Gráfico 1 também são aplicados quando consideramos uma reação química qualquer: um meio reacional procura sempre a minimização da energia de Gibbs, contrabalanceando a quantidade de reagentes e produtos na reação química. Para melhor contextualizar esses conceitos, podemos pegar um exemplo concreto de equilíbrio de dois compostos, que é o caso do dióxido de nitrogênio (NO2) e seu dímero, o tetróxido de dinitrogênio (N2O4), mas antes, explicaremos melhor porque geralmente iniciamos o estudo do equilíbrio com exemplos de gases. Os gases formam um estado da matéria mais fácil de descrever com equações porque, em vários momentos, podemos assumir que as moléculas num gás estão tão distantes umas das outras, que praticamente não sofrem interação. Com essa aproximação, podemos assumir para grande parte de casos reais, que um meio reacional gasoso pode ter suas propriedades (pressão, volume ou temperatura) calculadas facilmente a partir da equação de estado dos gases perfeitos (pV = nRT). Além disso, muitas reações importantes na química industrial são reações em fase gasosa. A síntese da amônia a partir de N2 e H2 ou mesmo a produção de UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 8 ácido nítrico (importante na produção de explosivos) a partir de NO2 são reações químicas extensivamente estudadas há muito tempo, ou seja, há um conhecimento muito detalhado dessas reações sob inúmeros aspectos (em várias condições de pressão, de temperatura, na presença de catalizadores etc.). Dito isso, escreveremos a equação balanceada para o equilíbrio entre NO2 e seu dímero: ( ) ( )22 42 g gNO N O� Poderíamos ainda simplificar essa equação escrevendo . Se então uma pequena quantidade, digamos, dξ de A é convertido em B, então temos que a variação no número de mols de reagentes ou produtos é dada por: 2d dA Bdn dnξ ξ= − =e 2A B� No caso anterior, há um “d” antes da letra grega ξ (“xi”), que significa que há uma variação muito pequena dessa propriedade no nosso sistema. Veja, no exemplo anterior foi dito que uma pequena quantidade dξ de A foi convertido em B, mas isso é o mesmo que dizer que a reação prosseguiu da esquerda para a direita ou que a reação avançou um pouquinho consumindo reagente e produzindo produtos. De fato, essa letra grega ξ é exatamente o avanço da reação (ou extensão da reação). Se quisermos calcular a quantidade restante de A em qualquer momento da reação, precisamos calcular uma variação finita ao invés de uma variação infinitésima. Isso implica transformar aquela variação bem pequenininha dnA em ∆nA (nA(qualquer momento) – nA(inicial)), e ficamos com: ( ) ( ) ( ) ( ) 2 2 A A qualquer momento A inicial A qualquer momento A inicial n n n n n ξ ξ ∆ = − = − = − ( ) ( ) B qualquer momento B inicialn n ξ= + ou De forma semelhante, para calcularmos B temos que: TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 9 Veja que há algumas coisas importantes na relação entre o número de mols e o avanço da reação. Quando escrevemos uma reação química, como no caso , o avanço da reação no sentido em que a equação está escrita, é o mesmo que dizer que A está sendo consumido e B está sendo produzido. Então, como A está diminuindo no meio reacional, para calcular A em algum momento da reação, pegamos A no início e subtraímos o que foi consumido, ou seja, –2ξ. Daí o sinal negativo para os reagentes. Veja que, como B está sendo produzido, ele está aumentando ao longo do tempo e então somamos o valor do avanço +ξ. Outra coisa importante são os coeficientes estequiométricos. Como a relação da reação química é de 2 mols de A para 1 mol de B, esses coeficientes têm que multiplicar ξ para que a lei de ação das massas seja respeitada (a quantidade de matéria que tem de um lado tem que ter do outro!). Além disso, o avanço de reação ξ tem a mesma unidade de n (mols). Vejamos um exemplo de como esses conceitos podem ser aplicados na prática. • Exemplo: imagine que você esteja no laboratório acompanhando a reação de dimerização do NO2 e, inicialmente, você mediu 2 mols de NO2 e 0,5 mol de N2O4. Se depois de alguns minutos você voltou e mediu um avanço de reação de 0,40 mol, qual é agora a nova quantidade de A e qual a nova quantidade de B? • Resposta: como a equação química balanceada tem 2 mols de NO2 para 1 mol de N2O4 temos que , assim: 2A B� ( ) ( )22 42 g gNO N O� ( ) ( ) ( ) 2 2 2 4 2 4 2 2 2 0,40 1,20 0,50 0,40 0,90 NO NO inicial N O N O inicial n n mol x mol mol n n mol mol mol ξ ξ = − = − = = + = + = Veja, o avanço de reação é uma propriedade bastante importante para encontrarmos as quantidades de matéria (número de mols) de reagentes e de produtos. No entanto, como vimos anteriormente, essa quantidade de matéria influencia a energia de Gibbs do nosso sistema, certo? Vejamos novamente: i i i dG dnµ=∑ Bom, se a quantidade de matéria que é dni é o mesmo que o avanço de reação dξ (negativo para os reagentes e positivo para os produtos), podemos escrever a equação anterior substituindo o número de mols pelo avanço de reação. Para uma reação bem simples do tipo temos que a energia de Gibbs é calculada como: i i A A B B i dG dn dn dnµ µ µ= = +∑ A B� UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 10 Como dnA = – dξ e dnB = dξ, podemossubstituir esse resultado na equação anterior e assim obter: ( )A B B AdG d d dµ ξ µ ξ µ µ ξ= − + = − Finalmente, podemos isolar a subtração de potenciais químicos que está dentro dos parênteses. Como quando a pressão e a temperatura são constantes (temos que colocar essas informações no canto inferior direito) temos que: i i i dG dnµ=∑ , B A T P G µ µ ξ ∂ = − ∂ A relação anterior é bastante importante por dois motivos. Primeiro porque diz que os potenciais químicos dos produtos e dos reagentes dependem da energia de Gibbs e do avanço de reação. Além disso, ainda mais importante é o fato de que, quando escrevemos uma reação química do tipo , o potencial químico dos produtos menos o potencial químico dos reagentes (µB – µA) é exatamente igual à energia de Gibbs de reação (∆GR). Assim, a relação da energia de Gibbs de reação com a energia de Gibbs do sistema é dada por: A B� , R T P GG ξ ∂ ∆ = ∂ Neste momento, é importante tentar compreender como a energia de Gibbs varia com o avanço de reação. Vimos lá no Gráfico 1 que para processos espontâneos, a energia de Gibbs diminuía até um mínimo e esse mínimo correspondia exatamente ao equilíbrio, mas que após isso a energia de Gibbs não variava mais. Quando temos uma reação química, a energia de Gibbs também tende para um mínimo, mas o gráfico fica um pouquinho diferente daquele do Gráfico 1. Veja o exemplo mostrado no Gráfico 2. TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 11 GRÁFICO 2 – ENERGIA DE GIBBS (G) VERSUS AVANÇO DE REAÇÃO (ξ) PARA DOIS CASOS: NA ESQUERDA O EQUILÍBRIO ESTÁ DESLOCADO PARA OS PRODUTOS E NA DIREITA DESLOCADO PARA OS REAGENTES FONTE: O autor Percebeu que o mínimo da energia de Gibbs não está nas extremidades dos gráficos? Há dois motivos fundamentais (entre outros) para que o mínimo da energia de Gibbs e, consequentemente, o equilíbrio químico, estejam num ponto intermediário. Vamos começar a responder essa pergunta com outra pergunta: quantas reações químicas você conhece que tenham 100% de rendimento, ou seja, todos os reagentes são transformados em produtos? Se você respondeu poucas, realmente não são tantas assim. De fato, dentre os poucos tipos de reações comumente realizados no laboratório ou em processos industriais, somente reações de combustão são fortemente deslocadas para os produtos, ou seja, quase que todos os reagentes são consumidos e transformados em produtos. Assim, quando escrevemos uma reação química, sempre temos o cuidado de, ao invés de colocarmos uma seta num único sentido, colocarmos setas nos dois sentidos ( ). É também bastante comum fazermos o seguinte:� Quando o equilíbrio está deslocado para os produtos, e: UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 12 Quando o equilíbrio está descolado para os reagentes. Veja, se não há 100% de produtos (e também não há 100% de reagentes) em uma reação química, isso significa que o mínimo de energia de Gibbs deve estar localizado em algum lugar entre os reagentes e os produtos e é exatamente isso que está exposto no Gráfico 2. Para o caso da esquerda, temos que o ponto de equilíbrio está mais perto dos produtos, consequentemente, há mais produtos do que reagentes e a constante de equilíbrio, que é a razão entre a concentração dos produtos pela concentração dos reagentes ( ), é maior do que 1. Por outro lado, no Gráfico 2b, o equilíbrio está mais próximo dos reagentes, de modo que há mais reagentes do que produtos e a constante de equilíbrio é menor do que 1. Note que nas extremidades dos eixos de “Avanço de reação (ξ)” de cada um dos dois gráficos temos 100% de reagente ou 100% de produto, mas em qualquer lugar ao longo desse eixo temos mais ou menos de um ou de outro. Se o gráfico estivesse com o mínimo bem ao centro, teríamos 50% de reagente e 50% de produto no equilíbrio! Neste momento, você aprendeu se uma reação é favorável aos produtos ou não apenas pelo valor de K. Uma outra coisa importante é o motivo pelo qual há uma ‘barriguinha’ apontada para baixo nos Gráficos 2 a e b, em que no primeiro caso o equilíbrio está deslocado para os produtos e no outro deslocado para os reagentes, tem a ver com a energia de Gibbs padrão de reação e com a energia de Gibbs de mistura, mas que veremos mais adiante. Por ora, é bastante importante entendermos que, quando escrevemos uma reação química, isso não quer dizer que temos reagentes isolados dos produtos, mas sim uma mistura de todos componentes. Além disso, uma outra coisa que vale a pena ressaltar é que estar no estado de equilíbrio químico não é o mesmo que dizer que a reação química está parada. Ao contrário, quando uma reação química chega no ponto de equilíbrio as reações continuam acontecendo, mas com uma peculiaridade: a velocidade de formação dos produtos é igual à velocidade de formação dos reagentes. Pegaremos o caso : • Se num determinado tempo 10 moléculas de A são consumidas formando B, mas no mesmo período 10 moléculas de B são consumidas para formar A, não há ganho nem de A e nem de B e a velocidade de formação do produto é igual à velocidade de formação do reagente! Antes de entrarmos na dedução de equilíbrio químico, há um último conceito importante para trabalharmos, que é o sentido espontâneo de uma reação química. Como vimos anteriormente, um sistema fechado (ou isolado) tende a minimizar sua energia de Gibbs até um mínimo, que é o ponto de equilíbrio, ou seja, se por acaso estivermos fora do equilíbrio e uma reação estiver avançando espontaneamente, com o passar do tempo a energia de Gibbs será cada vez menor, certo? Vejamos um exemplo simples com números: [ ] [ ] ProdutosK Reagentes= A B� TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 13 • Imagine que a energia de Gibbs no início da reação era G1 = 10 Joules. Se a reação estiver prosseguindo espontaneamente, daqui a 10 minutos a energia de Gibbs deve ser menor do que esses 10 Joules iniciais e digamos que seja G2 = 6 Joules. Se a variação da energia de Gibbs é ∆G = G2 – G1, então o ∆G = 6 J – 10 J = – 4J. Essa simples informação é importantíssima porque se o ∆G é negativo e o avanço de reação é sempre um número positivo por definição, nesse caso a energia de Gibbs de reação dada por é um valor negativo (a divisão de um número negativo por um número positivo resulta em um número negativo!). Se ∆GR é negativo, isso significa que a reação está prosseguindo espontaneamente. Se por acaso o ∆GR for positivo, a reação não é espontânea no sentido em que está escrita (Reagentes Produtos) mas é espontânea no sentido oposto. Finalmente, se ∆GR = 0 temos que a reação está no equilíbrio. Para melhor visualizar estes conceitos, veja o exemplo do Gráfico 3. Quando olhamos para um gráfico como o Gráfico 3, sempre tentamos extrair o máximo de informações. Veja, um gráfico nada mais é do que a visualização de um punhado de informações. Como não é muito conveniente mostrar muitos valores em tabelas, usamos gráficos para ter uma visualização geral do que está acontecendo com esses dados. Primeiramente, é sempre importante nos familiarizarmos com os eixos dos gráficos para então tentar entender qual o tipo de informação o gráfico está tentando nos passar. Neste caso, temos a energia de Gibbs (G) no lugar do eixo “y” e o avanço de reação (ξ) no lugar do eixo “x”. Podemos perceber que a energia de Gibbs diminui à medida que o eixo atinge um mínimo, e finalmente aumenta um pouco, e que a energia de Gibbs dos produtos (puros) é menor que a energia de Gibbs dos reagentes (puros). Você verá que essa informação é importantíssima para saber se há mais reagentes ou produtos no equilíbrio! Veja, tudo que descrevemos anteriormente veio apenas de uma percepção visual e não exige nada mais do que atenção aos eixos do gráfico, não exige nem mesmo conhecimento dos conceitos de energia de Gibbs. , R T P GG ξ ∂ ∆ = ∂ � UNIDADE 1 | CONDIÇÕESDE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 14 GRÁFICO 3 – ENERGIA DE GIBBS (G) VS AVANÇO DE REAÇÃO (ξ) MOSTRANDO AS SITUAÇÕES COM VÁRIAS ENERGIAS DE GIBBS DE REAÇÃO FONTE: O autor Agora, aplicaremos o que já sabemos. Uma das coisas mais importantes em gráficos (sejam retas ou funções mais complexas) é o valor da tangente do gráfico em um certo ponto. O valor de uma tangente é dado pela razão do cateto oposto pelo cateto adjacente: No caso de um plano cartesiano (eixo y vs eixo x), temos que a tangente é dada por: Veja, como no caso do Gráfico 3, o eixo “y” é a energia de Gibbs e o eixo “x” é o avanço de reação, o valor da tangente é na verdade: Ou para uma variação finita, temos simplesmente que: y x θ ∆= ∆ , R T P y GG x θ ξ ∆ ∂ = = ∆ = ∆ ∂ R GGθ ξ ∆ = ∆ = ∆ TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 15 No Gráfico 3, o início do gráfico tem uma tangente negativa e, consequentemente, o ∆GR é negativo (destaque vermelho do gráfico), o que indica que a reação está prosseguindo espontaneamente da esquerda para a direita, ou seja, dos reagentes para os produtos. Quando a curva atinge um mínimo, a tangente é igual a zero e também o ∆GR é igual a zero (destaque em verde no gráfico), que é a condição de equilíbrio para essa reação. Além disso, esse é um ponto importante que chamamos de ponto de inflexão, porque a curva muda de comportamento e a tangente que era negativa passa a ser positiva. A partir desse ponto, o ∆GR passa a ser positivo (destaque em azul no gráfico) e a reação não é mais espontânea no sentido em que está escrita: só será espontânea no sentido oposto, ou seja, consumindo produtos e formando reagentes. 4 POTENCIAL QUÍMICO DE UM GÁS PERFEITO Chegamos ao ponto em que temos quase todos os conceitos básicos para avançarmos no desenvolvimento das equações que nos permitirão encontrar e calcular o equilíbrio químico de uma reação qualquer, mas falta ainda um último conceito bastante importante. Foi dito anteriormente, que um dos fatores importantes pelo qual o Gráfico 2 tinha uma ‘barriguinha’ apontada para baixo era por conta da energia de Gibbs de mistura e é este o último conceito que precisamos entender antes de chegar no cálculo de equilíbrio químico. Aliás, você sabe por que algumas coisas tendem a se misturar espontaneamente e outras não? Sempre invocar a polaridade de solventes ou mesmo aquela velha frase “semelhante dissolve semelhante” não lhe parece cômodo demais ou mesmo com pouco significado científico? Aliás, o que o NaCl tem de semelhante com a água para tão bem se dissolver? Por que gases são sempre completamente miscíveis, ou seja, se misturam em qualquer proporção? É isso que tentaremos responder a partir de agora. Como sempre, com qual estado da matéria você acha que é mais fácil iniciarmos nossas ideias, suposições e argumentações? Sim, GASES! Imagino que a essa altura você está vendo que está ficando rotineiro iniciarmos qualquer assunto com gases, não é mesmo? Entretanto, você perceberá que, mesmo iniciando e desenvolvendo todas suposições a partir de gases, praticamente todos os argumentos acabam sendo aplicados para líquidos ou sólidos. Curiosidade: você deve ter encontrado a constante dos gases perfeitos R em muitas situações, envolvendo não somente gases, mas também em sistemas líquidos ou sólidos, não é mesmo? Mesmo sendo uma constante dos gases, R está ligado diretamente à definição de massa molecular, de forma que R aparece naturalmente em várias equações que descrevem propriedades de líquidos e sólidos. NOTA UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 16 Usaremos então a equação fundamental da termodinâmica, que para variações de T e P, a energia de Gibbs para um dado sistema é: Sendo que quando dividimos essa equação pelo número de mols n, temos: Veja, a energia de Gibbs por mol tem um nome especial, que chamamos de potencial químico. A entropia dividida pelo número de mols é a entropia molar Sm e o volume dividido pelo número de mols é o volume molar Vm. Então, temos que o potencial químico de um gás perfeito é dado por: Se esse sistema estiver sob temperatura constante não há variação de temperatura, o que significa que dT = 0 e assim – SmdT também é igual a zero. Então, nossa equação fica: dG SdT VdP= − + dG SdT VdP n n n − = + m m dGd S dT V dP n µ = = − + md V dPµ = Agora, entraremos com nossa primeira suposição: e se nosso sistema for composto apenas por um gás perfeito? Se for esse o caso, nós sabemos calcular qual é o volume de um gás perfeito, não é mesmo? Usamos PV = nRT, e como o volume molar é V/n, podemos escrever a equação dos gases perfeitos como: m RTV P = Podemos substituir esse volume molar na equação de potencial químico, assim obtemos: ( ) para um gás perfeitom RTd V dP dP P µ = = TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 17 Que, convenhamos, não é uma equação das mais complicadas, certo? Veja, antes de saber como trabalhar com as derivadas, sempre que possível é importante analisar uma equação como um todo. De uma forma bem simples, a equação está dizendo que a variação de potencial químico dµ é inversamente proporcional à pressão P do gás, o que quer dizer que se um gás tiver que escolher (espontaneamente) entre ficar sob alta pressão ou ficar sob baixa pressão na mesma condição de temperatura, ele escolheria ficar sob mais baixa pressão porque isso diminuiria o potencial químico (diminuir o potencial químico é o mesmo que diminuir a energia de Gibbs). Segundo nossas experiências rotineiras, isso parece ser verdade, não é mesmo? Veja, quando enchemos uma bola de futebol bombeamos um gás para dentro da bola. Quando a bola estiver cheia, a pressão do gás será maior do que a pressão fora da bola (pressão atmosférica). Quando essa bola fura, não há nenhum motivo para o gás ficar preso lá dentro e, de fato, ele sai espontaneamente e a bola rapidamente murcha. Termodinamicamente falando, a bola murcha porque o gás que estava sob alta pressão prefere abaixar a pressão para então diminuir o seu potencial químico e, consequentemente, sua energia de Gibbs. O que vimos no parágrafo anterior é um exemplo de como analisar uma equação qualitativamente, ou seja, mesmo sem usar números ou cálculos podemos fazer previsões importantes sobre a nossa função apenas prestando atenção nos termos que compõem a equação. Por outro lado, quando é preciso calcular como essa função se comporta entre dois estados, deixar escrito em termos da derivada isso acaba não ajudando muito porque se a função não for uma reta, essa tangente (derivada) está mudando a todo momento (veja o Gráfico 3). Entretanto, há um meio bastante simples para superarmos essa dificuldade, que é integrando essa função. A integração permite saber como essa função se comporta durante uma mudança de estado. Assim, para saber como a função se comporta ao longo de dois estados, inicial chamado de 1 e final chamado de 2, é preciso integrar essa função de 1 até 2. Integrando a equação de potencial químico de um gás perfeito que está sob temperatura constante, obtemos: ( ) ( )2 1 2 2 2 11 1 , , ln P P RT Pd dP T P T P RT P P µ µ µ = → − = ∫ ∫ UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 18 Em físico-química há muita integral e derivada, com algumas que exigem dedicação. Por outro lado, muitas integrais são bastante simples e na maior parte dos casos é possível resolver problemas com: ; ; ; ; . Se tiver alguma dúvida, consulte uma lista com tabelas de derivadas e integrais. NOTA 2 3 2 2 2 3 1 1 1 dx x xxdx xx dx dx lnx x dx x x ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = − 2 3 2 2 2 3 1 1 1 dx x xxdx xx dx dx lnx x dx x x ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = − 2 3 2 2 2 3 1 1 1 dx x xxdx xx dx dx lnx x dx x x ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = − 2 3 2 2 2 3 1 1 1 dx x xxdx xx dx dx lnx x dx x x ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = − 2 3 2 2 2 3 1 1 1dx x xxdx xx dx dx lnx x dx x x ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = ∫ = − Analisaremos primeiro a informação de potencial químico que está do lado esquerdo da equação. Perceba que de um lado temos somente dµ e a integração resulta em µ. Como estamos integrando entre um estado inicial 1 e um estado final 2, na verdade o resultado é um ∆µ = µ2 – µ1. Nesse caso, o estado inicial 1 é igual a P1 e o estado final é igual a P2. Por isso colocamos entre parênteses os dados de temperatura e pressão e, por exemplo, no caso do estado final temos (T, P2). Como podemos ler esses dados? O resultado da integração resultou numa equação que tem µ(T, P2) e µ(T, P1). Veja que tanto o estado final quanto o estado inicial têm o mesmo “T”. Se a temperatura é a mesma no início e no final do experimento, concluímos que a temperatura não se alterou e é constante durante essa mudança de estado. De fato, essa foi a primeira suposição que fizemos na equação fundamental da termodinâmica (dG = – SdT + VdP). Do outro lado da equação, temos . Quando resolvemos uma integral, estamos preocupados com o que está variando ao longo da mudança. Assim, tudo que não está variando (que são constantes) pode sair da integral. Bom, R é a constante dos gases e acabamos de verificar que T também é uma constante. Dessa forma, tudo isso pode sair dessa integral e na verdade o que queremos integrar é a pressão “P”: 2 1 P P RT dP P ∫ ( )2 1 2 2 1 1 1P P PRT dP RT lnP lnP RTln P P = − = ∫ Você percebeu que uma subtração de “ln” resultou numa divisão? Essa é uma propriedade importante dos logaritmos e aqui há mais algumas que poderão ser úteis: ; ; . NOTA (ln ln ) (ln ln ln . ) ( ln ) − = + = =aln a aa b ln b a b a b b b (ln ln ) (ln ln ln . ) ( ln ) − = + = =aln a aa b ln b a b a b b b (ln ln ) (ln ln ln . ) ( ln ) − = + = =aln a aa b ln b a b a b b b TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 19 Voltando para nossa equação com todos os termos, se P1 for a pressão no estado padrão (P°=1 bar), então a equação de potencial químico de um gás perfeito sob temperatura constante fica: Que é o potencial químico de um gás perfeito puro, ou seja, a equação anterior permite calcular como o potencial químico vai variar ao longo de todo intervalo de pressões. Trabalharemos juntos para ver como essa equação se comporta em vários intervalos de pressão. Você precisará de uma planilha do Excel (ou um outro programa de acesso livre como o LibreOffice) e colocaremos valores nessa equação anterior. Assim, nosso eixo “y” será o ∆µ e nosso eixo “x” será . Como R = 8,314 J/ K mol é uma constante assim como para esse caso a temperatura, podemos construir um gráfico em termos de RT no eixo “y”. Vamos resolver uma primeira hipótese: • Se o valor do eixo “y” (∆µ) for 2 RT, qual será o valor do eixo “x” ( )? Como e ∆µ é igual a 2 RT, podemos substituir e ficar com: ( ) ( )0 ln o PT T RT P µ µ = + ( ) ( )0 ln o PT T RT P µ µ µ ∆ = − = o P P o P P ln o PRT P µ ∆ = 22 ln ;2 ln ; ; 7,3890o o o o P P P PRT RT e P P P P = = = = Perceba que o valor de é igual ao valor da exponencial do eixo “y” dividido por RT. Assim, podemos construir nossa Tabela 1 com vários números de RT (DICA: varie o eixo “y” do jeito que quiser, ex.: 10, 4, -4, -10 e ache o para cada caso): o P P o P P UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 20 TABELA 1 – VALORES DE POTENCIAL QUÍMICO E PRESSÃO PARA UM GÁS PERFEITO SOB TEMPERATURA CONSTANTE FONTE: O autor eixo “y” ∆µ eixo “y”/ RT 2 RT 2 7,3890 RT 1 2,7183 0 0 1 -RT -1 0,3679 -2RT -2 0,1353 " "eixo y RT o P e P = Se plotarmos ∆µ em função de , obteremos o Gráfico 4. Você lembra quando fizemos aquela avaliação qualitativa do potencial químico em função da pressão e concluímos que o potencial químico deveria ser baixo quando a pressão fosse baixa e deveria aumentar quando a pressão aumentasse? Veja que realmente o potencial químico tende para um mínimo à medida que a pressão diminui, mas de forma exponencial. Além disso, o gráfico permite ainda concluir por que um gás escoa de regiões de altas pressões para regiões de mais baixas pressões espontaneamente (caso da bola furada): porque quando está em uma pressão mais baixa, o potencial químico (e a energia de Gibbs) do gás diminuirá. Também podemos analisar esse resultado para um único recipiente (bola sem furo): se existirem desigualdades de pressões num recipiente com gás, o gás se deslocará das regiões de pressões mais altas (potencial químico alto) para aquelas com pressões mais baixas (potencial químico baixo), até que a pressão se iguale em todos os pontos do sistema. o P P GRÁFICO 4 – DIFERENÇA DE POTENCIAL QUÍMICO (∆µ) EM FUNÇÃO DA PRESSÃO ( ) PARA UM GÁS PERFEITO SOB TEMPERATURA CONSTANTEo P P FONTE: O autor TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 21 Tente fazer o Gráfico 4 com os dados da Tabela 1 num software tipo Excel ou LibreOffice. Você perceberá que é muitíssimo simples e pode te ajudar a perceber muitas coisas que as vezes parecem ficar “escondidas” dentro das equações. Além disso, é muito gostoso ver a materialização de uma função em um gráfico feito por nós mesmos! É importante lembrar que, como µ = Gm = Hm – TSm e num gás perfeito não há interações intermoleculares, a entalpia (e também a energia interna U) Hm é independente da pressão! Isso faz com que, nesse caso, a dependência de µ com a pressão seja apenas função da entropia: se um processo aumenta a entropia, isso diminui o potencial químico e vice-versa (µ = Gm = – TSm). Isso ajuda bastante a dar sentido para o potencial químico porque quando analisarmos um sistema em diferentes momentos (antes do equilíbrio ou exatamente no equilíbrio), basta saber qual estado tem maior entropia para então sabermos qual é o menor potencial químico e, consequentemente, sabermos a condição de equilíbrio. 5 ENERGIA DE GIBBS DE MISTURA Neste momento, já sabemos como se comporta o potencial químico de um gás perfeito puro em função da pressão, certo? Como deveria mudar o potencial químico de um gás na presença de outro gás, ou seja, uma mistura de gases? Lembre-se de que aprender a calcular a variação do potencial químico em uma mistura é muitíssimo importante porque, numa reação química, quase nunca temos somente produtos ou reagentes, mas uma mistura de ambos. É exatamente isso que abordaremos agora. Há vários livros de físico-química que trazem (de diversas formas) a abordagem que usaremos para calcular o potencial químico de uma mistura. Um fato histórico e curioso é que essa abordagem foi comprovada experimentalmente por Max Planck em 1883, quando ainda era um humilde professor de termodinâmica da Universidade de Munique (muito antes de ficar famoso por descobrir que a energia era quantizada, o que lhe rendeu o prêmio Nobel de Física de 1918). Planck idealizou o seguinte experimento: • Imagine um recipiente com dois compartimentos separados por uma membrana bem fina de paládio, esquematizado na Figura 1. Em um desses compartimentos colocamos gás hidrogênio e no outro uma mistura de gás hidrogênio e gás nitrogênio. Como o H2 é bastante pequeno, ele pode passar de um compartimento para o outro, diferentemente do N2, que é grande demais e não passa pela membrana de paládio. Se em determinado momento o sistema estiver em equilíbrio, qual será o potencial do H2 puro e do H2 na mistura? UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 22 Bom, se considerarmos ambos os gases como boas aproximações de gases perfeitos, podemos usar as equações que deduzimos até agora. Além disso, se a linha vertical tracejada que representa o “filtro” deixar passar apenas o gás hidrogênio, no equilíbrio qual deveria ser a pressão do gás hidrogênio? Dando uma olhada com bastante atenção no nosso experimento,podemos elaborar as seguintes afirmações: • O gás hidrogênio pode estar presente em ambos os recipientes. • Como são gases perfeitos, na mistura, o gás H2 não percebe a presença de N2, ou seja, é como se ele estivesse sozinho no recipiente da direita. • Podemos dizer então que, para o H2, é como se não existisse a barreira central. FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO EXPERIMENTO PROPOSTO POR PLANCK FONTE: O autor O H2, que é uma molécula pequena, consegue passar pela membrana (que é como um filtro, deixa passar um e não deixa passar outro) de paládio e pode estar do lado esquerdo ou do lado direito. O N2 tem um tamanho que não lhe permite passar para a esquerda e fica confinado no compartimento da direita. Lembra da nossa bola (sem furo)? Uma das conclusões era que em um recipiente com gás, o gás se deslocará das regiões de pressões mais altas (potencial químico alto) para aquelas com pressões mais baixas (potencial químico baixo), até que a pressão se iguale em todos os pontos do sistema. Isso é bastante intuitivo para todos nós, não é mesmo? Quando olhamos para uma bola cheia, fica claro que a pressão deve ser a mesma em todos os lugares da bola, caso contrário, se estivesse mais cheia em um determinado local, estaria ao mesmo tempo deformada ou murcha em outro. Então, se considerarmos que o H2 pode estar em todo o sistema da Figura 1, a condição de equilíbrio é que a pressão dele seja a mesma em todo o sistema. Assim, podemos escrever que, no equilíbrio: ( ) ( )2 2 ' H puro H MisturaP P= TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 23 Além disso, no equilíbrio, o potencial químico do hidrogênio em qualquer um dos lados tem que ser o mesmo. Assim, temos que: Como podemos ler a equação anterior? Vamos lá: o potencial químico de hidrogênio puro sob uma temperatura T e pressão PH2 é igual ao potencial químico do hidrogênio na mistura sob a mesma temperatura T mais pressão total PT (lembrando que a pressão total de um sistema é dada pela soma das pressões parciais, neste caso ). Pela Lei de Dalton, a pressão parcial de um componente numa mistura de gases é dada pela sua fração molar multiplicada pela pressão total. Assim, a pressão de H2 na mistura, que é igual a pressão de H2 puro, pode ser trocada por: ( ) ( )2 2 2puro, , mistura, ,H H H TT P T Pµ µ= 2 2 ' ' T H NP P P= + ( ) ( ) 22 2 ' . Puro MisturaH H H T P P X P= = Fração molar é a razão do número de mols de um componente dividido pelo número de mols total. Por exemplo, se tivermos dois componentes A e B com número de mols n A e n B , respectivamente, a fração molar de A será dada como , ou seja, a fração molar é sempre um número menor que 1. NOTA A A A B nX n n = + Com essa pressão que é dada por XH2 . PT, podemos usar esse resultado na equação de potencial químico que desenvolvemos para gases perfeitos anteriormente. Assim: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 0 0 mistura, , puro, , mistura, , puro, , . mistura, , ln . mistura, , ln ln H T H H H T H H T H T H H T H T H T H T P T P T P T X P T P T RT X P T P T RT P RT X µ µ µ µ µ µ µ µ = = = + = + + Como é exatamente o potencial químico de hidrogênio puro, podemos finalmente calcular o potencial químico do hidrogênio na mistura como: ( ) ( ) 2 0 lnH TT RT Pµ + UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 24 ( ) ( ) ( )2 2 2mistura, , , , lnH T H T HT P puro T P RT Xµ µ= + Tentaremos interpretar o que essa equação está querendo nos dizer. Bom, a equação mostra que o potencial químico do H2 na mistura é igual ao potencial químico do H2 no estado puro somado a um termo RT ln(XH2). O único termo que precisamos saber como se comporta é esse RT ln(XH2). Como R e T são constantes, apenas o outro termo varia na mistura. Assim, XH2 como o próprio nome diz, é a fração molar de hidrogênio, ou seja, um número que só pode estar entre 0 e 1. Pegue sua calculadora e vamos testar o seguinte: calcule o ln(0,999) depois ln(0,6) e então ln(0,1) e por último ln(0,00001). Você encontrou apenas números negativos? Sim, qualquer número entre 0 e 1, que são os únicos valores que a fração molar pode assumir, resulta em um termo negativo. Oras, se ln(XH2) é sempre um número negativo, então RT ln(XH2) também é negativo e o µH2(mistura, T, PT) vai ser sempre menor que µH2(puro, T, PT)! A descrição anterior é um dos resultados mais simples e elegantes de toda a termodinâmica. Dessa simples relação, é possível concluir que o potencial químico de qualquer gás na mistura é menor que o potencial químico da substância pura, porque ln(X) é sempre menor que zero. Esse é o motivo pelo qual a mistura de dois gases é sempre espontânea. Uma mistura abaixa o potencial químico porque na mistura a entropia aumenta (µ = Gm = – TSm). Veja, qual sistema tem maior entropia (nas mesmas condições de temperatura e pressão), um gás puro ou uma mistura? Sim, em uma mistura o sistema está muito mais desordenado (difícil de descrever) e a entropia sendo maior resulta numa diminuição do potencial químico! Veremos mais adiante que a energia de Gibbs de reação tem uma contribuição importantíssima da energia de Gibbs de mistura. Assim, podemos generalizar que para um gás ideal: ( ) ( )mistura, , puro, ,A AT P T Pµ µ< Agora que sabemos como obtemos o potencial químico de um gás perfeito em uma mistura, podemos ver como a função µH2 (mistura, T, PT) = µH2 (puro, T, PT) + RT ln(XH2) se comporta quando muda a fração molar. Para uma mistura de dois componentes, A e B, os potenciais químicos podem ser escritos como: ( ) ( ) ( )mistura, , , , lnA T A T AT P puro T P RT Xµ µ= + Para simplificar, vamos suprimir os vários termos nos parênteses para ficarmos com: TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 25 ( ) ( ) ( ) ( ) ln ln A AA puro B BB puro RT X RT X µ µ µ µ = + = + Bom, se quisermos calcular então qual é a energia de Gibbs de mistura, isso é o mesmo que dizer que: • Se tivermos um composto A num béquer e colocarmos B no mesmo béquer, a energia de Gibbs dessa mistura é igual à energia de Gibbs final (quando A e B estão misturados) menos a energia de Gibbs de A e B antes da mistura, ou seja, puros. Podemos escrever o que foi dito anteriormente como: Puro MisturaG G G∆ = − Como µ = G/n, temos que G = nµ, então para A e B temos que: ( ) ( ) ( )( )PuroMistura A A B B A BA puro B puroG G G n n n nµ µ µ µ∆ = − = + − + Se substituirmos µA por µA(puro) + RT ln(XA) e µB por µB =B(puro) + RT ln(XB), ficamos com: ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( )ln lnMistura A A A B B B A BA puro B puro A puro B puroG n n RT X n n RT X n nµ µ µ µ∆ = + + + − + É possível perceber que os termos que contêm os potenciais químicos puros se cancelam e assim obtemos: ( ) ( )ln lnMistura A A B BG n RT X n RT X∆ = + Sabendo que e nA = XAnT e nB = XBnT, assim podemos simplificar a equação para: A A T nX n = ( ) ( )ln lnMistura A T A B T BG X n RT X X n RT X∆ = + ( ) ( )( )ln lnMistura T A A B BG n RT X X X X∆ = + Como há termos semelhantes, podemos deixá-los em evidência: UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 26 Veja, nTRT são todos números positivos (não existe número de mols negativo, R é uma constante positiva e também não há temperatura em Kelvin negativa). Por outro lado, tudo que está lá dentro dos parênteses só pode resultar em números negativos (lembre-se de que ln(X) é sempre negativo). Assim, qualquer que seja o valor das frações molares, esse número será negativo e que multiplicado pelos números positivos fora dos parênteses resulta em um número negativo (positivo x negativo = negativo). Portanto, podemos prever que o processo de mistura deve contribuir para abaixar a energia de Gibbs do sistema. Veremos na prática como varia a energia de Gibbs de mistura quando despejamos B sobre A. Para um caso específico quando a fração molar é 0,50 (perceba que seentão XA + XB = 1), podemos calcular da seguinte forma: A A A B nX n n = + ( ) ( )( )0,5ln 0,5 0,50ln 0,5 0,69 Mistura T Mistura T G n RT G n RT ∆ = + ∆ = − Perceba que não precisamos saber qual é a temperatura nem o número de mols dessa mistura. Podemos deixar o eixo “y” como mas se você preferir, tente numa planilha de dados (Excel ou LibreOffice) colocar valores fixos para o número de mols total para a temperatura, digamos nT = 10 e T = 298 K. Você perceberá que seu gráfico se parecerá muito com o Gráfico 5, feito a partir dos dados da Tabela 2. Mistura T G n RT ∆ TABELA 2 – VALORES DE PELA FRAÇÃO MOLAR PARA UMA MISTURA DE A E B Mistura T G n RT ∆ FONTE: O autor eixo “y” Fração Molar de A Fração Molar de B (eixo “x”) 0 1,00 0,00 -0,50 0,80 0,20 -0,67 0,60 0,40 -0,69 0,50 0,50 -0,67 0,40 0,60 -0,50 0,20 0,80 0 0,00 1,00 Mistura T G n RT ∆ TÓPICO 1 | CONCEITOS DE EQUILÍBRIO 27 Lembra-se da nossa previsão de que a mistura deveria contribuir para abaixar a energia de Gibbs do sistema? É exatamente esse o resultado que obtivemos a partir da Tabela 2 e que estão no Gráfico 5. Um ponto importante é que como estamos descrevendo o comportamento de gases perfeitos, ou seja, na ausência de interações intermoleculares, o mínimo de energia acaba ocorrendo bem ao centro do gráfico, em que há 50% de A e 50% de B. Se interações intermoleculares estivessem presentes, talvez o mínimo não estivesse bem ao centro, mas o fato é que qualquer processo de mistura serve para abaixar a energia de Gibbs do sistema, assim, acaba sendo muitíssimo importante para a energia de Gibbs de reação. De fato, esse resultado será bastante importante no próximo tópico, quando trataremos da energia de Gibbs de reação e das constantes de equilíbrio. GRÁFICO 5 – ENERGIA DE GIBBS DE MISTURA EM FUNÇÃO DA FRAÇÃO MOLAR DO COMPONENTE B PARA UMA MISTURA BINÁRIA (A+B) IDEAL FONTE: O autor 28 Neste tópico, você aprendeu que: • A energia de Gibbs é mínima no equilíbrio. • O número de mols no equilíbrio pode ser encontrado a partir do avanço de reação. • A energia de Gibbs de uma reação é a energia de Gibbs do sistema dividido pelo avanço da reação. • O ponto de equilíbrio geralmente está numa posição entre os reagentes e os produtos, mas dificilmente há 100% de reagente ou produto no equilíbrio. • Se a variação energia de Gibbs ∆GR de reação é negativa, a reação está avançando espontaneamente. • Se a variação energia de Gibbs ∆GR for positiva, a reação avança espontaneamente no sentido oposto. • Se a variação energia de Gibbs ∆GR for igual a zero, o sistema chegou no equilíbrio. • O potencial químico de um gás perfeito aumenta com a pressão. • O processo de mistura sempre contribui para abaixar a energia de Gibbs do sistema. RESUMO DO TÓPICO 1 29 1 Por que é mais fácil utilizar a energia de Gibbs do que a entropia para prever se uma determinada reação ou processo é espontâneo? 2 Como a energia de Gibbs está relacionada com a entropia? 3 O que é potencial químico? Explique por que um gás tende a se espalhar ou se misturar espontaneamente com outro gás. 4 Mostre por que o potencial químico de um gás perfeito deve aumentar com a pressão. 5 Calcule a energia de Gibbs ao misturar 3 mols de H2 com 2 mols de N2 a 25 oC. (Lembrete: ). 6 Por que o potencial químico de um gás perfeito numa mistura é sempre menor que o potencial químico do mesmo gás se estivesse nas mesmas condições de temperatura e pressão, mas no estado puro? Explique usando conceitos de entropia. 7 Calcule a variação de potencial químico de um gás perfeito quando a pressão aumenta (isotermicamente) de 1 até 200 atm. (Lembrete: ). AUTOATIVIDADE ( ) ( )( )ln lnMistura T A A B BG n RT X X X X∆ = + ( ) ( )0 ln o PT T RT P µ µ µ ∆ = − = 30 31 TÓPICO 2 EQUILÍBRIO QUÍMICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O ponto de equilíbrio de uma reação química ou de um processo físico tem importância central em físico-química. Percebemos no tópico anterior que raramente uma reação qualquer tem 100% de produtos e isso tem relação com a entropia do sistema. Nesse sentido, estamos prontos para desenvolver a energia de Gibbs de reação e a partir dela calcular a posição de equilíbrio de qualquer reação química. Lembramos que: mesmo que nosso desenvolvimento comece com uma mistura de gases perfeitos, toda interpretação é válida para soluções, reações e assim por diante. De fato, reiteramos que começar com gases perfeitos torna o desenvolvimento mais intuitivo, mas as ideias se aplicam a qualquer sistema. 2 ENERGIA DE GIBBS DE REAÇÃO Consideraremos então a seguinte reação genérica de gases perfeitos: Neste momento, sabemos calcular o ∆GR, não é mesmo? Sabemos que: aA bB cC dD+ +� G ouG n n µ µ= = Assim, quando calculamos o “delta” de qualquer coisa, queremos calcular na verdade a diferença entre o estado final e o estado inicial, então para calcular o ∆GR precisamos calcular o Gprodutos – Greagentes. Como G = nµ, podemos escrever o ∆GR para a reação anterior como: R D C B AG d c b aµ µ µ µ∆ = + − − UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 32 Veja que n (número de mols) é o coeficiente estequiométrico dos compostos na reação química balanceada. Agora, podemos substituir os potenciais químicos de cada um dos componentes pelo potencial químico de um gás perfeito sob temperatura constante ( ). Por ora, ignoraremos P0 simplesmente por ser igual a 1 bar, nesse caso, obtemos: ( ) ( )0 ln o PT T RT P µ µ = + 0 0 0 0( ln ) ( ln ) ( ln ) ( ln )R D D C C B B A AG d RT P c RT P b RT P a RT Pµ µ µ µ ∆ = + + + − + + + Veja, não há nada de complicado na equação anterior. Ela está mostrando que a energia de Gibbs de reação é dada pelo potencial químico dos produtos multiplicado pelos respectivos coeficientes estequiométricos menos o potencial químico dos reagentes multiplicado também pelos respectivos coeficientes estequiométricos. Se procedermos com a multiplicação, obtemos a seguinte expressão: 0 0 0 0ln ln ln lnR D D C C B B A AG d dRT P c cRT P b bRT P a aRT Pµ µ µ µ ∆ = + + + − + + + No entanto, se olharmos atentamente, os potenciais químicos padrão (aqueles com um “zero” em cima), podem ser chamados de energia de Gibbs padrão de reação: ( )0 0 0 0 0 R D C B AG d d b aµ µ µ µ∆ = + − + De forma que a variação na energia livre se torna: [ ] [ ]0 ln ln ln lnR R D C B AG G dRT P cRT P bRT P aRT P∆ = ∆ + + − + Por fim, veja que RT está multiplicando vários termos, certo? Entretanto, os coeficientes estequiométricos estão atrapalhando para colocarmos RT em evidência. Assim, podemos invocar três propriedades de logaritmos que vimos anteriormente: 1- (a ln b = ln ba). Assim, para o caso do composto D, temos que dRTlnPD = RTln(PD)d, e assim por diante. 2- (ln a + ln b = ln a.b). Podemos pegar os termos que estão somando e transformá- los numa multiplicação. Por exemplo: RT ln (PD)d + RT ln (PC)C = RT ln (PD)d(PC)C. 3- . De forma semelhante, os termos que estão sendo subtraídos, podem ser transformados numa divisão. .( ) ( )ln( ) ( ) ln( ) ( ) ln ( ) ( ) d c d c b a D C D C B A b a B A P PRT P P RT P P RT P P − = (ln ln )aa b ln b − = TÓPICO 2 | EQUILÍBRIO QUÍMICO 33 Dessa forma, finalizamos nossas considerações ao chegarmos numa expressão bem simples que mostra como a energia de Gibbs varia com a concentração dos reagentes e dos produtos: 0 ( ) ( )ln ( ) ( ) d c D C R R b a B A P PG G RT P P ∆ = ∆ + A equação mostrada anteriormente pode ser aplicada para qualquer que seja a concentração de reagentes e produtos, ou seja, no começo da reação ou no equilíbrio ou para qualquer que tenha sido o avanço da reação. Dê uma olhada lá no Gráfico3 para compararmos com a equação anterior. Se esse ∆GR for negativo, a reação está caminhando espontaneamente no sentido de consumir A e B, produzindo C e D. Se o ∆GR for positivo, a reação espontaneamente consumirá C e D para produzir A e B. Se finalmente ∆GR = 0, estaremos no equilíbrio químico e a velocidade de produção dos produtos é exatamente igual ao seu consumo, não havendo mais ganho líquido de reagente ou de produtos. Se estivermos fora da condição de equilíbrio, chamamos os termos da divisão de quociente reacional: 0( ) ( ) ln ( ) ( ) d c D C P R R Pb a B A P PQ e G G RT Q P P = ∆ = ∆ + Por outro lado, se estivermos no equilíbrio químico, ∆GR = 0 e o quociente reacional se torna exatamente a constante de equilíbrio! Então, se QP = KP, segue que: 0 00 ln lnR P R PG RT K G RT K= ∆ + → ∆ = − Ou seja, essa constante KP é exatamente igual a: ( ) ( ) ( ) ( ) d c D C P b a B A P PK P P = Como estamos com uma reação em fase gasosa, a pressão de cada componente é proporcional a sua concentração. De forma que, se estivéssemos numa fase líquida, poderíamos escrever a equação anterior como: [ ] [ ] [ ] [ ] d c b a D C K B A = UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 34 Que é a constante de equilíbrio que você usa há bastante tempo, mas agora sabe exatamente de onde veio. Usamos conceitos simples de potencial químico e chegamos em uma relação muitíssimo útil para o dia a dia do químico. Quando queremos obter resultados com extrema precisão, essas concentrações que estão tanto no quociente reacional quanto no equilíbrio químico devem ser substituídas pela atividade dos compostos que fazem parte da reação. Como veremos na Unidade 2 (Tópico 2), a constante de equilíbrio pode ser obtida a partir da razão entre as constantes de velocidade das reações diretas e inversas e, quando as velocidades dessas reações de “ida” e de “volta” são iguais, estamos na condição de equilíbrio. Esse fato é uma consequência, e não a definição de equilíbrio químico. Equilíbrio químico é uma propriedade puramente termodinâmica. Atividade é um tipo de concentração molar efetiva. Para a maior parte dos casos, a concentração é uma boa aproximação. Há casos específicos em que o químico precisa da atividade. Por exemplo, o pH de uma solução é calculado como: pH = -log [H+]. Se quisermos um resultado mais preciso precisamos usar a atividade de H+ (pH = -log (aH+)). NOTA 3 CONSTANTES DE EQUILÍBRIO Bom, analisaremos com mais cuidado a energia de Gibbs de reação, quando a reação está no equilíbrio químico: 0 lnR PG RT K∆ = − Como é uma relação direta (não há termos somando ou subtraindo), podemos concluir duas coisas extremamente importantes: 1- Se então KP deve ser maior que 1, certo? Veja, se for negativo, quando dividirmos por –RT isso resultará num número positivo. Se lnKp é igual a um número positivo, então KP tem que necessariamente ser maior que 1. Vamos testar alguns números na calculadora? • lnKP = 0,001; KP = e0,001 = 1,001 • lnKP = 0,100; KP = e0,100 = 1,105 • lnKP = 1,000; KP = e1,000 = 2,718 • lnKP = 10,00; KP = e10,00 = 22026 0 0∆ <RG 0 RG∆ TÓPICO 2 | EQUILÍBRIO QUÍMICO 35 Por outro lado, se , pelo mesmo motivo anterior, KP deve ser menor que 1. • lnKP = –0,001; KP = e–0,001 = 0,999 • lnKP = –0,100; KP = e–0,100 = 0,905 • lnKP = –1,000; KP = e–1,100 = 0,368 • lnKP = –10,00; KP = e–10,00 = 0,000045 Observe como essas duas conclusões são extremamente importantes. O , que na verdade é a energia de Gibbs padrão dos produtos menos a energia de Gibbs padrão dos reagentes, determina se teremos mais produtos ou mais reagentes no equilíbrio químico! Pegaremos dois exemplos que calculamos antes e aplicaremos numa reação do tipo: 0 0∆ >RG 0 RG∆ A B� Para o caso de , ou seja, negativo, podemos pegar o exemplo no qual lnKP = 1,000 e: 0 0∆ <RG 1,000 2,718PK e= = Se , então no equilíbrio:BP A PK P = ( )2,718 B AP P= Ou seja, há mais que o dobro de produto (B) do que de reagente (A). Para um caso parecido, mas que , podemos pegar lnKP = – 1,000, em que: 0 0∆ >RG 1,000 0,368PK e −= = Da mesma forma, podemos escrever a relação entre produtos e reagentes como: ( )0,368 B AP P= Nesse caso, há muito mais reagente do que produto! UNIDADE 1 | CONDIÇÕES DE EQUILÍBRIO QUÍMICO E FÍSICO 36 Você lembra do Gráfico 2 a e b? No qual em um dos casos o mínimo estava mais próximo dos produtos (K > 1) e no outro o mínimo estava mais próximo dos reagentes (K < 1)? Pareceu meio aleatório uma hora o mínimo estar mais próximo dos produtos e noutrora estar mais próximo dos reagentes? Não tem bagunça nem acaso não, esse mínimo e, consequentemente, a posição de equilíbrio de uma reação é calculada a partir do . Isso quer dizer que quanto mais negativo o , mais próximo K estará dos produtos, mas quando o for positivo, K estará mais próximo dos reagentes. Quando o , qual é a posição de equilíbrio? Se a energia de Gibbs padrão de reação for igual a zero, então lnKP = 0. Para sabermos o valor de KP, precisamos calcular: 0 RG∆ 0 RG∆ 0 RG∆ 0 0RG∆ = 0ln 0; 1P PK K e= = = Perceba o quanto esse resultado é importantíssimo. Isso quer dizer que, se a energia de Gibbs dos produtos for igual à energia de Gibbs dos reagentes ( ), a posição de equilíbrio será bem ao centro, ou seja, 50% de produtos e 50% de reagentes. Esse resultado é um bom indício para tentarmos entender por que no Gráfico 2 o mínimo da energia de Gibbs está mais próximo dos produtos ou dos reagentes e o porquê daquela “barriguinha” para baixo e também, por que não há somente produtos quando é negativo ou apenas reagentes quando é positivo? Bom, imaginaremos uma reação química do tipo e que para este caso, a energia de Gibbs padrão seja: 0 0R Produtos ReagentesG G G∆ = − = 0 0R Produtos ReagentesG G G∆ = − = 0 0R Produtos ReagentesG G G∆ = − = A B� 0 010 10A B kJ kJG eG mol mol = + = − Então, a energia de Gibbs padrão de reação pode ser calculada como: 0 0 0 10 10 20R Produtos Reagentes B A kJ kJ kJG G G G G mol mol mol ∆ = − = − = − − + = − Assim, se formos construir um gráfico da energia de Gibbs em função do avanço ξ, já sabemos as posições quando tivermos somente reagentes ou produtos, certo? Bom, se apenas esse valor da energia de Gibbs dos produtos e dos reagentes fosse importante, então só existiria B no fim da reação e a posição de equilíbrio seria na verdade 100% de B porque a energia de Gibbs dele é menor que de A. Assim, um gráfico de energia de Gibbs em função do avanço de reação, seria uma reta ligando A até B. Para construir esse gráfico, usaremos os dados que estão na Tabela 3. TÓPICO 2 | EQUILÍBRIO QUÍMICO 37 TABELA 3 – DADOS PARA A ENERGIA DE GIBBS (EIXO Y) E O AVANÇO DE REAÇÃO ξ (EIXO X) PARA UMA CONVERSÃO LINEAR E COMPLETA DE A EM B FONTE: O autor Energia de Gibbs kJ/mol (eixo y) Avanço de reação ξ (eixo x) 10 0,0 100% de A 6 0,2 2 0,4 -2 0,6 -6 0,8 -10 1,0 100% de B Para o avanço de reação, saímos de 0 (100% de A) e para não ficar exaustivo, o avanço foi feito de 0,2 em 0,2, totalizando seis números que irão compor nosso eixo x. Bom, se sabemos que em ξ = 0, a energia de Gibbs (eixo y) é igual à energia de Gibbs padrão de A puro (+ 10 kJ/mol) e em ξ = 1,0 a energia de Gibbs é igual à a energia de Gibbs padrão de B puro (– 10 kJ/mol), precisamos preencher somente os valores intermediários e para isso precisamos apenas fazer subtrações de 4 em 4. Com isso, podemos colocar esses dados na Tabela 3 e o resultado está no Gráfico 6. Propositalmente, a equação da reta foi colocada junto do gráfico e ela tem um significado importante, o coeficiente angular (a tangente) é exatamente igual à energia de Gibbs padrão de reação. GRÁFICO 6 – ENERGIA DE GIBBS VERSUS AVANÇO
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