Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Indaial – 2021 CLÍNICA Prof.ª Mayra Fernanda Ricci 1a Edição BIOQUÍMICA Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Prof.ª Mayra Fernanda Ricci Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Impresso por: R491b Ricci, Mayra Fernanda Bioquímica clínica. / Mayra Fernanda Ricci. – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 184 p.; il. ISBN 978-65-5663-480-7 ISBN Digital 978-65-5663-479-1 1. Bioquímica médica. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 612.015 Olá, acadêmico, convidamos você a ingressar na disciplina de Bioquímica Clínica. Segue uma breve introdução sobre o conteúdo que iremos estudar nesta disciplina. Seja bem-vindo! A Bioquímica Clínica, também amplamente conhecida na área da saúde como Química Clínica, é uma ciência que estuda, através de parâmetros bioquímicos, as alterações metabólicas dos fluidos corporais, como, por exemplo, o sangue e a urina. As análises dessas alterações podem fornecer informações relevantes sobre o estado clínico do indivíduo. Os parâmetros bioquímicos analisados servem como prevenção, diagnóstico, monitoramento, podendo inclusive, em alguns casos, determinar o tipo de tratamento que será utilizado nas doenças. Assim, nosso livro está divido em três unidades, a fim de facilitar a compreensão acerca do assunto. Na Unidade 1 será apresentada uma introdução ao laboratório de bioquímica clínica. A unidade está dividida em quatro tópicos. O Tópico 1 mostrará a estrutura física dos laboratórios clínicos, bem como trará informações sobre o fluxo processual de assistência laboratorial, as principais fontes de variação laboratoriais e também os exames mais comumente solicitados na clínica. O tópico 2 abordará os processos que envolvem a gestão laboratorial, em destaque mostrará os erros laboratoriais e os processos envolvidos no controle de variáveis e os princípios gerais de controle de qualidade. O Tópico 3 irá abordar os princípios da fotometria, no qual a maioria dos processos utilizados em bioquímica clínica envolvem a análise da absorção da luz pela matéria para determinar a concentração de compostos presentes em solução. E por fim, o Tópico 4, a enzimologia clínica como papel central nas reações metabólicas, utilizada no diagnóstico e tratamento de doenças. Na Unidade 2 será apresentada de maneira geral as funções bioquímicas dos sistemas fisiológicos, as técnicas da prática laboratorial, bem como a interpretação do resultado dos exames realizados. A unidade está dividida em cinco tópicos. O Tópico 1 mostrará os principais biomarcadores utilizados na clínica, a avaliação bioquímica da urina e sua interpretação através da correlação com o sedimento urinário. O Tópico 2 abordará os mecanismos básicos que causam lesões e as principais doenças hepáticas que dependem de diagnóstico laboratorial. O Tópico 3 abordará a avaliação laboratorial da diabetes melito, juntamente com as causas de quadros hipoglicêmicos. O Tópico 4 indicará os procedimentos envolvidos no diagnóstico laboratorial das dislipidemias. E por fim, o Tópico 5 irá abordar as doenças cardíacas mais comuns que normalmente necessitam de um diagnóstico bioquímico como o infarto agudo do miocárdio (IAM) e a insuficiência cardíaca congestiva (ICC). E a última unidade deste livro, a Unidade 3, trará tópicos especiais da Bioquímica Clínica. O Tópico 1 mostrará a implicação clínica das alterações no equilíbrio eletrolítico dos íons nos sistemas corporais, bem como sobre a utilização e os processos envolvidos na solicitação do exame de gasometria arterial e venosa. No Tópico 2 serão abordadas as substâncias que estão alteradas no metabolismo ósseo e os tipos de exames realizados na prática clínica. E, por fim, o Tópico 3 trará conhecimento sobre os biomarcadores tumorais e sua utilização no diagnóstico, prognóstico, acompanhamento e monitorização de pacientes com câncer. APRESENTAÇÃO Acadêmico! É importante que você também busque suporte através da leitura de outras literaturas disponíveis. As leituras complementares disponíveis no corpo do livro também são bons recursos e têm como objetivo ampliar seu aprendizado sobre o assunto. Desejamos que tenha uma ótima leitura. Bons estudos! Profª Mayra Fernanda Ricci Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos. GIO QR CODE Você lembra dos UNIs? Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. ENADE LEMBRETE Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conheci- mento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa- res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! SUMÁRIO UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA CLÍNICA ........................................................... 1 TÓPICO 1 - LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA ..........................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................3 2 A INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS...............................................................................4 2.1 EXAMES BÁSICOS E ESPECIALIZADOS ...........................................................................................4 2.2 IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS ...............................................................................7 3 TESTES NO LOCAL DO ATENDIMENTO .............................................................................8 3.1 NOÇÕES DE COLETA, SEPARAÇÃO E ARMAZENAMENTO DO MATERIAL ...............................8 3.1.1 Coleta de amostra de sangue .................................................................................................. 9 3.1.2 Coleta de amostra de urina...................................................................................................... 11 3.1.3 Outros tipos de amostras ......................................................................................................... 11 3.1.4 Análise da amostra .................................................................................................................... 11 3.2 Análise de resultados variáveis ........................................................................................................ 11 3.2.1 Precisão e exatidão ....................................................................................................................12 3.2.2 Sensibilidade analítica e especificidade ..............................................................................12 3.2.3 Sensibilidade e especificidade (testes) ................................................................................12 4 INTERVALOS DE REFERÊNCIAS ...................................................................................... 13 RESUMO DO TÓPICO 1 ......................................................................................................... 16 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................. 17 TÓPICO 2 - GESTÃO DA QUALIDADE EM BIOQUÍMICA CLÍNICA ....................................... 19 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 19 2 FUNDAMENTOS DA GESTÃO EM QUALIDADE TOTAL ..................................................... 19 2.1 OS PROCESSOS DE TESTAGEM GERAL .........................................................................................22 3 CONTROLE DE VARIÁVEIS .............................................................................................. 23 3.1 VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICAS ...........................................................................................................23 3.2 VARIÁVEIS ANALÍTICAS ....................................................................................................................24 3.2.1 DOCUMENTAÇÃO DE PROTOCOLOS ANALÍTICOS .............................................................24 4 PRINCÍPOS GERAIS DE GRÁFICOS CONTROLE ............................................................ 25 4.1 SISTEMA DE LEVEY-JENNINGS .......................................................................................................25 4.2 GRÁFICO MULTIRREGRAS DE WESTGARD ................................................................................... 27 5 CONTROLE EXTERNO DE QUALIDADE ........................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 2 ......................................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 32 TÓPICO 3 - FUNDAMENTOS DE FOTOMETRIA .................................................................. 33 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 33 2 CONCEITOS BÁSICOS ...................................................................................................... 33 2.1 TRANSMITÂNCIA E ABSORBÂNCIA .................................................................................................34 2.1.1 Absorção de luz pela matéria e escolha do melhor comprimento de onda ................35 2.2 LEI DE LAMBERT-BEER ...................................................................................................................36 2.2.1 Desvios da Lei de Lambert-Beer ........................................................................................... 37 2.3 ESPECTROFOTÔMETRO ...................................................................................................................38 2.3.1 Componentes do espectrofotômetro ..................................................................................38 3 CURVA-PADRÃO, CURVA DE CALIBRAÇÃO OU CURVA DE REFERÊNCIA .................... 39 RESUMO DO TÓPICO 3 ........................................................................................................ 42 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 43 TÓPICO 4 - ENZIMOLOGIA CLÍNICA ................................................................................... 45 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 45 2 CINÉTICA ENZIMÁTICA ................................................................................................... 45 2.1 TEMPERATURA .....................................................................................................................................46 2.2 pH ........................................................................................................................................................... 47 3 ENZIMOLOGIA ANALÍTICA .............................................................................................. 48 3.1 ENZIMAS COMO REAGENTES ANALÍTICOS ...................................................................................49 3.1.1 Medição de metabólitos ...........................................................................................................49 3.1.2 Imunoensaio ...............................................................................................................................49 3.1.3 Medição de isoenzimas e isoformas .....................................................................................50 4 ENZIMAS SÉRICAS .......................................................................................................... 50 4.1 ENZIMAS MUSCULARES – CREATINOQUINASE (CK) E ALDOLASE (ALD) ..............................51 4.2 ENZIMAS HEPÁTICAS – AMINOTRANSFERASES, Γ-GLUTAMILTRANSFERASE E FOSFATASE ALCALINA ...................................................................................................................52 4.3 ENZIMAS PANCREÁTICAS – AMILASE E LIPASE ........................................................................54 4.4 LACTATO DESIDROGENASE .............................................................................................................54 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 56 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................................ 58 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................59 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60 UNIDADE 2 — FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DOS SISTEMAS FISIOLÓGICOS ......................... 63 TÓPICO 1 — AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO RENAL ........................................ 65 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................65 2 FUNÇÃO RENAL ............................................................................................................... 65 2.1 UREIA .....................................................................................................................................................66 2.2 CREATININA .........................................................................................................................................68 2.3 ÁCIDO ÚRICO .......................................................................................................................................70 3 ANÁLISES BIOQUÍMICAS .................................................................................................70 3.1 SEDIMENTO URINÁRIO .......................................................................................................................71 RESUMO DO TÓPICO 1 .........................................................................................................73 AUTOATIVIDADE ..................................................................................................................74 TÓPICO 2 - AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA FUNÇÃO HEPÁTICA ....................................75 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................75 2 DOENÇA HEPÁTICA ..........................................................................................................75 2.1 MECANISMOS E PADRÕES DE LESÃO ........................................................................................... 76 3 DOENÇA HEPÁTICA AGUDA .............................................................................................78 4 DOENÇA HEPÁTICA CRÔNICA .........................................................................................79 4.1 HEPATITE CRÔNICA – SIGNIFICADO ............................................................................................... 79 RESUMO DO TÓPICO 2 .........................................................................................................81 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................. 82 TÓPICO 3 - AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA DIABETES MELLITUS E HIPOGLICEMIA .......... 85 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 85 2 METABOLISMO DA GLICOSE ........................................................................................... 85 3 DIABETES MELLITUS ....................................................................................................... 88 3.1 DIABETES MELLITUS TIPO 1 e 2 ...................................................................................................... 88 3.1.1 DM Tipo 1 .................................................................................................................................... 88 3.1.2 DM Tipo 2 .................................................................................................................................... 88 3.2 GLICEMIA EM JEJUM ........................................................................................................................89 3.3 TESTE DE HEMOGLOBINA GLICADA E DIABETES ......................................................................90 4 TESTE DE TOLERÂNCIA À GLICOSE (TTG/TTOG/CURVA GLICÊMICA) ......................... 91 5 HIPOGLICEMIA ................................................................................................................. 92 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................ 94 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................................99 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................100 TÓPICO 4 - AVALIAÇÃO LABORATORIAL DAS DISLIPIDEMIAS ...................................... 101 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 101 2 ASPECTOS GERAIS DO METABOLISMO LIPÍDICO ........................................................ 101 2.1 LIPOPROTEÍNAS – ESTRUTURA E FUNÇÃO ................................................................................102 2.2 FISIOPATOLOGIA DAS DISLIPIDEMIAS PRIMÁRIAS ..................................................................104 3 AVALIAÇÃO LABORATORIAL DOS PARÂMETROS LIPÍDICOS ......................................105 RESUMO DO TÓPICO 4 .......................................................................................................109 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 110 TÓPICO 5 - AVALIAÇÃO LABORATORIAL DAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES ..........111 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................111 2 DOENÇA CARDÍACA – SÍNDROMES CORONARIANAS AGUDAS ....................................111 3 BIOMARCADORES CARDÍACOS NO IAM ........................................................................ 112 3.1 TROPONINAS .......................................................................................................................................112 3.2 CREATINA QUINASE TOTAL E ISOENZIMAS ................................................................................113 3.3 MIOGLOBINA .......................................................................................................................................114 4 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA (ICC) ........................................................... 115 4.1 BIOMARCADOR CARDÍACO NA ICC ................................................................................................115 RESUMO DO TÓPICO 5 ........................................................................................................117 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................ 118 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 119 UNIDADE 3 — TÓPICOS ESPECIAIS EM BIOQUÍMICA CLÍNICA .......................................125 TÓPICO 1 — ELETRÓLITOS E OS GASES SANGUÍNEOS.................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 127 2 ELETRÓLITOS ................................................................................................................. 127 2.1 SÓDIO ................................................................................................................................................... 127 2.2 POTÁSSIO............................................................................................................................................128 2.3 CLORETO ........................................................................................................................................... 129 3 MÉTODOS LABORATORIAIS PARA DOSAGEM DOS ELETRÓLITOS ............................. 131 3.1 FOTOMETRIA DE CHAMA ..................................................................................................................131 3.2 ELETRODOS ÍONS SELETIVOS (ISE) ..............................................................................................131 3.3 ENZIMÁTICO ....................................................................................................................................... 132 4 TESTE DE CLORETO NO SUOR ......................................................................................132 4.1 EXAMES QUALITATIVOS ...................................................................................................................134 4.2 EXAMES QUANTITATIVOS ............................................................................................................... 134 5 BICARBONATO (DIÓXIDO DE CARBONO TOTAL) .......................................................... 137 6 GASOMETRIA .................................................................................................................. 137 RESUMO DO TÓPICO 1 ...................................................................................................... 140 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................142 TÓPICO 2 - METABOLISMO ÓSSEO ...................................................................................145 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................145 2 TECIDO ÓSSEO – METABOLISMO ...................................................................................145 2.1 METABOLISMO DO CÁLCIO .............................................................................................................146 2.2 HIPERCALCEMIA .............................................................................................................................. 149 2.3 HIPOCALCEMIA .................................................................................................................................150 2.4 CÁLCIO URINÁRIO .............................................................................................................................151 3 METABOLISMO DO FÓSFORO ......................................................................................... 151 3.1 HIPERFOSFATEMIA ........................................................................................................................... 152 3.2 HIPOFOSFATEMIA ............................................................................................................................. 152 3.3 FOSFATO URINÁRIO ......................................................................................................................... 153 4 ENFERMIDADES ÓSSEAS ..............................................................................................154 4.1 OSTEOPOROSE ...................................................................................................................................154 4.2 OSTEOMALACIA E RAQUITISMO ..................................................................................................154 4.3 OSTEÍTE DEFORMANTE OU DOENÇA ÓSSEA DE PAGET ........................................................ 155 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................................158 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................160 TÓPICO 3 - MARCADORES TUMORAIS ............................................................................. 161 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 161 2 CÂNCER ........................................................................................................................... 161 2.1 DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO CLÍNICA ..................................................................................... 166 2.2 APLICAÇÕES PRÁTICAS NA UTILIZAÇÃO DE MARCADORES TUMORAIS ............................167 3 MÉTODOS ANALÍTICOS ..................................................................................................168 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................................171 RESUMO DO TÓPICO 3 .......................................................................................................178 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................180 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 181 1 UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO À BIOQUÍMICA CLÍNICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender a bioquímica clínica como um ramo da medicina laboratorial no qual métodos químicos e bioquímicos são aplicados para o estudo de doenças; • elencar quais são os processos envolvidos na gestão de qualidade interna e externa de um laboratório clínico; • identificar os fundamentos básicos de fotometria para o laboratório clínico; • conhecer as enzimas responsáveis por alterações patológicas nos tecidos do corpo e suas funções; • conhecer os processos envolvidos na medição da atividade ou massa no soro ou plasma das enzimas em laboratório clínico. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA TÓPICO 2 – GESTÃO DA QUALIDADE EM BIOQUÍMICA CLÍNICA TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DE FOTOMETRIA TÓPICO 4 – ENZIMOLOGIA CLÍNICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 LABORATÓRIO DE BIOQUÍMICA CLÍNICA 1 INTRODUÇÃO A bioquímica originou-se como um ramo da fisiologia humana, que através da observação da urina, do sangue e de outros fluidos naturais poderiam auxiliar no diagnóstico desta ou daquela doença. Nos seus primórdios, a bioquímica foi consequentemente conhecida como Química Fisiológica. Nos dias atuais, a Fisiologia, de acordo com o Concise Oxford Dictionary, é a “ciência das funções normais e dos fenômenos que se passam nos seres vivos”. Se ocupa particularmente dos aspectos químicos destas funções e destes fenômenos, sendo um dos meios pelos quais pode ser estudada a fisiologia (BALDWIN, 1972). Já a bioquímica clínica, também chamada de química clínica, é o ramo da medicina laboratorial que utiliza métodos químicos e bioquímicos para o estudo das doenças. O ramo na bioquímica clínica de forma geral, mas não exclusivamente, abrange os estudos não morfológicos, como a pesquisa de alterações no sangue e na urina. Além desses fluidos, ainda podem ser feitas análises de outros fluidos corporais, como do líquor, das secreções da cavidade nasal e oral, das secreções gástricas, entre outras. Os exames relacionados à bioquímica abrangem cerca de um terço dos testes de um laboratório clínico, o que será o tema abordado neste nosso primeiro tópico. Os laboratórios clínicos têm o papel de produzir e fornecer informações diagnósticas no suporte às decisões clínicas. A realização de exames laboratoriais ocorre em um ambiente extremamente complexo, onde coexistem procedimentos, equipamentos, tecnologia e conhecimento humano (SHCOLNIK, 2012), e que estão em constante modificações por questões tecnológicas, científicas ou de mercado. A qualidade dos laboratórios clínicos é de extrema importância, e tem sido impulsionada por requisitos legais e de reconhecimento da qualidade via programas de acreditação. Em primeiro lugar estão indicados requisitos da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como a RDC 302/2005, regulamento técnico amplo que define as normas para o funcionamento dos laboratórios clínicos. Por se tratar de legislação sanitária, é de cumprimento obrigatório. O laboratório que não atender às exigências da legislação pode sofrer sanções e até suspensão de suas atividades. Em segundo lugar, estão os requisitos dos programas de acreditação de laboratórios, um exemplo são as diretrizes e normativas da PALC – Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica – SBPC/ML, utilizada por laboratórios que apresentam bons conceitosde controle de qualidade. Abordaremos esse assunto mais especificamente no Tópico 2 desta unidade. Caro acadêmico, a seguir, ao longo do Tópico 1, serão apresentadas as principais características de laboratório clínico, bem como sua aplicabilidade na rotina laboratorial. TÓPICO 1 - UNIDADE 1 4 2 A INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS Os resultados dos exames bioquímicos são utilizados para diagnóstico e para o acompanhamento de um tratamento, e podem ser úteis na triagem de doenças e no prognóstico, caso o diagnóstico já tenha sido realizado. Há também uma outra vertente dos testes bioquímicos, a utilização dos testes em pesquisa científica sobre a base das doenças e para o desenvolvimento de novos fármacos (Figura 1) (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). FIGURA 1 – A BIOQUÍMICA CLÍNICA NA ÁREA DA MEDICINA FONTE: A autora 2.1 EXAMES BÁSICOS E ESPECIALIZADOS Os laboratórios clínicos e hospitalares oferecem serviços bioquímicos básicos, entretanto, não necessariamente no mesmo nível, ambos podem disponibilizar “análises básicas”, sendo testes requeridos rotineiramente para vários pacientes e com frequência (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). Os exames especializados referem-se a uma variedade de especialidades dentro da bioquímica clínica. O laboratório clínico pode não ser totalmente equipado para a realização dos exames bioquímicos solicitados pelo médico, portanto, para o diagnóstico, por exemplo, de alguma doença rara que requer a utilização de exame bioquímico, pode-se encaminhar a amostra do paciente para centros de referências que realizarão os testes específicos (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). O Quadro 1 indica os principais exames básicos e especializados realizados na bioquímica clínica: 5 QUADRO 1 – CONJUNTO DE EXAMES DA BIOQUÍMICA CLÍNICA Exames básicos Sódio, potássio e bicarbonato Ureia e creatinina Cálcio e fosfato Proteínas totais e albumina Bilirrubina e fosfatase alcalina Alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) Tiroxina livre (FT4) e hormônio estimulante da tireoide (TSH) γ-glutamil transferase (γGT) Creatina cinase (CK) H+, PCO2 e PO2 (gases no sangue) Glicose Amilase Exames especializados Hormônios Proteínas específicas Elementos traço Vitaminas Drogas Lipídeos e lipoproteínas Metabólitos intermediários Análise de DNA FONTE: A autora Como vimos, caro acadêmico, diversos exames podem ser efetuados em um labo- ratório de análises clínicas (este número pode chegar a centenas), apresentando um amplo espectro quanto a sua complexidade, desde uma dosagem de glicose sanguínea até mesmo a análise do material genético (CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE, 2011). Existem duas formas básicas para realizar a análise do material coletado para o exa- me: análises automatizadas e análises manuais. A última pode ser realizada através de kits co- merciais ou reagentes preparados no laboratório. A forma com que um exame será realizado varia de acordo com a demanda, o tipo de laboratório, entre outras circunstâncias. Um critério para a adoção de determinados procedimentos de análise é a frequência com que um exame é solicitado. Exames que são realizados em grande quantidade e diariamente por um labora- tório (por ex., perfil lipídico e glicêmico sanguíneo, bilirrubinas e catecolaminas urinárias) são, muitas vezes, automatizados. Já exames cuja demanda não é tão alta, comumente são feitos de forma não automatizada, tanto através de kits comerciais previamente prontos como a partir de reagentes preparados dentro do próprio laboratório (Figura 2). 6 FIGURA 2 – ANÁLISES DAS AMOSTRAS: (A) ANÁLISE MANUAL; (B) ANÁLISE PELO KIT; (C) ANÁLISE AUTOMATIZADA FONTES: <https://bit.ly/3sCXocJ>. <https://bit.ly/3gsfAn4>. <https://bit.ly/3sxKGvL>. Acesso em: 23 nov. 2020. Didaticamente, os processos que envolvem desde o pedido de exame, até entrega do resultado ao paciente podem ser divididos em três fases: pré-analítica, analítica e pós- analítica. A fase pré-analítica consiste na preparação do paciente, coleta, manipulação e armazenamento do espécime diagnóstico, antes da determinação analítica. A fase pré- analítica, portanto, engloba todas as atividades que precedem o ensaio laboratorial, dentro ou fora do laboratório de análises clínicas (MOTTA, 2009). A fase analítica inicia-se com a validação do sistema analítico, através do controle da qualidade interno na amplitude normal e patológica, e se encerra quando a determinação analítica gera um resultado. Já a fase pós-analítica inicia-se após a geração do resultado analítico, quantitativo e/ou qualitativo, sendo finalizada após a entrega do laudo conforme legislação vigente (MOTTA, 2009). Cada fase é de suma importância em um laboratório clínico. Erros que ocorram na fase inicial, média ou final vão consequentemente alterar o resultado final da análise. Os detalhes das etapas seguidas em cada fase estão indicados na Figura 3. FIGURA 3 – FLUXO PROCESSUAL DA ASSISTÊNCIA LABORATORIAL FONTE: A autora Acadêmico, precisamos levar em consideração as variações nos ensaios laboratoriais, dentre elas a variação biológica. As variações dos componentes biológicos presentes nos fluídos orgânicos apresentam oscilações constantes de seus níveis. Por exemplo, temos um ritmo circadiano, que influencia as diversas secreções fisiológicas. Assim, para a maior parte dos exames é necessária a padronização de horários, para que 7 O papel de avaliação e tratamento de um paciente é desempenhado pelo laboratório de bioquímica. Muitos testes bioquímicos podem ser necessários antes que um diagnóstico possa ser feito e análises repetidas podem ser necessárias para monitorar o tratamento por um longo período, por exemplo. DICAS os valores obtidos possam ser comparados aos valores de referência. A interpretação dos analitos de uso diagnóstico pode ser alterada através dessas oscilações presentes no componente biológico (GIRELLI et al., 2004). Podemos então classificar essas variáveis em pré-analíticas, analíticas e biológicas, as quais podem ser descritas na Figura 4. FIGURA 4 – PRINCIPAIS FONTES DE VARIAÇÃO NOS ENSAIOS LABORATORIAIS FONTE: <https://bit.ly/3xjdZWr>. Acesso em: 24 nov. 2020. 2.2 IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS Os exames laboratoriais estão assumindo uma posição importante e crescente no pro- cesso de diagnóstico e monitoramento na medicina moderna. Os serviços laboratoriais vêm ob- tendo um crescimento substancial nos últimos anos. Em uma pesquisa realizada no Reino Uni- do observa-se um crescimento das requisições na assistência primária de 83% entre os anos de 2000 e 2004, e tendência semelhante é verificada internacionalmente (PLEBANI, 2007). O laboratório clínico integra a cadeia de assistência à saúde, desempenhando um papel vital e contribui para mais de 70% das decisões médicas, como admissão de pacien- tes em unidades de saúde, diagnóstico e prognóstico de doenças, seleção da terapia mais 8 adequada, avaliação da resposta aos tratamentos e avaliação de critério de cura ou de altas hospitalares. O laboratório clínico contribui ainda para a determinação de fatores de risco e de estados biológicos, como a avaliação da eficácia de imunização e iniciativas de preven- ção de doenças e promoção da saúde (ANDRIOLO, 2007; FORSMAN, 1996). De acordo com CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION (2008, s.p.) a medicina laboratorial na assistência à saúde é: É crucial para muitas tomadas de decisão clínicas e fornece informa- ções importantes a médicos, enfermeiras e outros profissionais de saúde sobre prevenção, diagnóstico, tratamento e gerenciamento de doenças, representando um elemento essencial para o sistema de as- sistência à saúde. De acordo com esse relatório, os exames citológi- cos, por exemplo, ainda são o padrão ouro (gold standard) para detec- ção de muitos tipos de doenças, incluindo formas comuns de câncer, como o uterino e cervical, leucemias e linfomas. O laboratório clínico dá suporte à prática da medicina baseada em evidênciase ao desen- volvimento de diretrizes clínicas que auxiliam médicos e pacientes na tomada de decisões sobre saúde em circunstâncias específicas. Os serviços laboratoriais também são críticos para a saúde pública, em nível indi- vidual e coletivo, atuando através da identificação de infecções associadas à assistência, resistência antimicrobiana, exposição a substâncias tóxicas e ameaças químicas e bioló- gicas. Em casos de desastres naturais, os exames laboratoriais remotos (point of care tes- ting) podem ser usados para triagem de casos emergenciais, bem como para confirmação de doenças de comunicação compulsória, que podem representar ameaças à população. 3 TESTES NO LOCAL DO ATENDIMENTO Caro acadêmico, para uma análise bioquímica responder à questão solicitada pelo médico sobre o paciente, alguns cuidados precisam ser considerados acerca do manejo do material, da coleta, dos processos de identificação, de separação e do armazenamento adequado. Essas questões serão discutidas nos subtópicos a seguir. 3.1 NOÇÕES DE COLETA, SEPARAÇÃO E ARMAZENAMENTO DO MATERIAL Para realizar os exames gerais e bioquímicos é essencial que o laboratório receba a amostra correta para o teste requisitado, juntamente com informações para assegurar que o teste ideal seja realizado, fazendo com que o resultado retorne ao médico requisitante no prazo. É importante a inclusão do máximo de detalhes no formulário de requerimento a fim de auxiliar tanto a equipe do laboratório quanto o médico na interpretação dos resultados. Essa informação pode ser muito importante ao se avaliar o progresso de um paciente ao longo de um período, ou ao se reavaliar um diagnóstico. Inúmeras amostras são utilizadas nas análises bioquímicas, tais como 9 sangue arterial e capilar; sangue em papel filtro (Cartão Guthrie); tecido e células; urina; fezes; LCR; expectoração e saliva; aspirados (fluido pleural, ascite) e cálculos (pedras) (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). 3.1.1 Coleta de amostra de sangue A forma da coleta de uma amostra de sangue é fundamental para a viabilização das análises. As amostras de sangue podem ser coletadas em tubos comuns ou em tubos com anticoagulantes. Quando coletado em tubos comuns, o sangue coagula; assim, após a centrifugação do material (sangue coagulado) obtém-se uma amostra de soro – o que, para muitas análises bioquímicas, é a amostra recomendada. Já quando o sangue é coletado em tubos com anticoagulantes, como a heparina, o sobrenadante obtido é o plasma, sendo quase idêntico à fração livre das células na corrente sanguínea, mas que contém o antico- agulante – essa forma de coleta é recomendada quando o que será analisado for instável e for necessário obter e congelar rapidamente a amostra. A coleta com anticoagulante tam- bém é utilizada quando é necessário a realização de testes de coagulação, neste teste, após a centrifugação, o sobrenadante será composto de proteínas e por todos os fatores de co- agulação, ao utilizar um anticoagulante como a heparina ou o citrato de sódio a coagulação não irá acontecer, pois houve um bloqueio na cascata de coagulação e consequentemente a inibição da formação do coágulo (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). A seguir destacam-se os tipos de tubos de coleta a vácuo mais comumente utilizados na rotina laboratorial (Figura 5). 10 FI GU RA 5 – TU BO S D E CO LE TA S O B VÁ CU O U TI LI ZA D O S EM L A BO RA TÓ RI O C LÍ N IC O E E M H O SP IT A IS FO N TE : A da pt ad o de < ht tp s: //b it. ly /3 2F U A RD >. A ce ss o em : 3 0 no v. 2 02 0. 11 3.1.2 Coleta de amostra de urina Frascos de amostra de urina, para análises de rotina não possuem conservantes e devem ser refrigerados, entretanto, alguns frascos podem conter conservante para inibir o crescimento bacteriano, ou ácido para estabilizar certos metabólitos. Eles devem ser gran- des o suficiente, normalmente frascos de um litro, para coletar uma amostra completa de 24 horas. Amostras de urina aleatórias são coletadas em frascos “universais” (MOTTA, 2009). 3.1.3 Outros tipos de amostras Para alguns testes, fluidos ou tecidos específicos podem ser necessários. Há protocolos específicos para a manipulação e transporte dessas amostras para o laboratório. Cada laboratório local apresenta um protocolo de coleta de amostras específicas (MOTTA, 2009). 3.1.4 Análise da amostra Inicialmente, as amostras devem estar devidamente etiquetadas e identificadas. Todos os procedimentos de análise devem passar pelo controle de qualidade, buscando sempre a confiabilidade da análise laboratorial. Assim que os resultados estão disponíveis eles são organizados e um relatório é emitido. Relatórios cumulativos permitem que o médico rapidamente compare os resultados mais recentes com os dos testes realizados anteriormente, realizando assim o monitoramento do seu paciente (MOTTA, 2009). 3.2 Análise de resultados variáveis As medidas bioquímicas podem variar pelo analito ou por condições biológicas. A analítica está relacionada a uma variação da performance do exame, já as biológicas estão relacionadas a alterações reais que ocorrem nos líquidos corporais dos seres humanos ao longo do tempo. Vários termos podem definir a performance dos resultados bioquímicos, dentre eles temos, precisão e exatidão; sensibilidade e especificidade; garantia de qualidade e intervalos de referência. Acadêmico, agora vamos explicar individualmente cada uma das variáveis descritas (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). 12 3.2.1 Precisão e exatidão A precisão é um indicador da reprodutibilidade de um analito. A exatidão nos mostra qual a proximidade do valor mensurado está para o real, garantindo assim a confiabilidade do método analítico utilizado. Acadêmico, podemos fazer uma analogia ao jogo de dardos (Figura 6) a dispersão de resultados que podem ser obtidos por um indivíduo com pouca técnica, em comparação aos resultados de alguém com boa precisão, em que os resultados estão agrupados. Mesmo quando os resultados estão todos próximos, eles podem não estar no centro do alvo. Nesse caso, não há exatidão, como se a mira estivesse desalinhada. O objetivo de todo método bioquímico é prover precisão e exatidão. A automação das análises melhorou a precisão na maioria dos casos (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). FIGURA 6 – CARACTERÍSTICAS REPRODUTIBILIDADE E CONFIABILIDADE NOS EXAMES CLÍNICOS FONTE: A autora 3.2.2 Sensibilidade analítica e especificidade A sensibilidade analítica está relacionada à capacidade de detecção a partir de uma quantidade mínima de substância analisada. A especificidade analítica está relacionada à capacidade do teste de discriminar substâncias que são as reais substâncias que possam interferir na análise. Importante destacar que as definições utilizadas neste contexto são para indicar as propriedades analíticas. A especificidade e sensibilidade relacionadas aos testes propriamente ditos serão descritas a seguir (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). 3.2.3 Sensibilidade e especificidade (testes) A sensibilidade e a especificidade são caracterizadas como as propriedades de um teste. A sensibilidade nos indica a capacidade de um teste em identificar, dentre as pessoas com suspeita da doença, aquelas realmente doentes. Já a especificidade é a capacidade do mesmo teste ser negativo nos indivíduos que não apresentam a doença que está sendo investigada. Acadêmico! Quando pensamos no melhor cenário para um teste no laboratório clínico, o ideal seria que aquele teste apresentasse 100% de sensibilidade e de especificidade. Assim, teríamos apenas dois resultados: negativo (a pessoa não estaria doente) ou positivo (o indivíduo 13 estaria doente), e assim, não teríamos o falso-negativo ou o falso-positivo. Mas infelizmente, isso raramente ocorre na prática. Fazendo uma analogia com uma balança, onde um dos pratos é a sensibilidade e o outro, a especificidade: se ocorre melhora na sensibilidade de um teste (o prato da balançasobe), frequentemente ocorre diminuição na especificidade (o prato da balança desce). Em algumas situações, ter uma sensibilidade de 100% é muito importante, como nas triagens sorológicas em bancos de sangue, onde os testes são realizados para a prevenção de transmissão de infecções (FLEURY MEDICINA E SAÚDE, 2020). Existem alguns fatores biológicos que podem afetar os resultados e devem ser levados em consideração. Alguns desses fatores estão descritos a seguir: • Idade; • Dieta; • Estresse e ansiedade; • Postura; • Exercício físico; • Histórico clínico; • Gravidez; • Ciclo menstrual; • Uso de medicamentos. 4 INTERVALOS DE REFERÊNCIAS A Organização Mundial de Saúde (OMS), a Federação Internacional de Química Clínica (IFCC) e o Instituto de Padronização Clínica e Laboratorial (CLSI) definem valor de referência como um valor (resultado) obtido pela observação ou mensuração quantitativa de um analito em um indivíduo selecionado, com base em critérios bem definidos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Para a determinação dos intervalos de referência de um laboratório clínico é primeiramente necessário definir de quem é a responsabilidade dessa determinação. A Joint Comission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) (JOINT COMMISSION ON ACCREDITATION OF HEALTHCARE ORGANIZATIONS, 1998) e o College of American Pathologists (CAP) (COLLEGE OF AMERICAN PATHOLOGISTS, 1998) indicam que é de responsabilidade do diretor do laboratório o estabelecimento dos intervalos referenciais. No Brasil, a legislação (RDC 302) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005) e o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC) da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) definem apenas que o laboratório deve possuir esses valores e fornecê-los no laudo dos exames. Os intervalos de referência podem ser obtidos de duas formas, a primeira é através da criação de intervalos próprios utilizando uma amostragem de indivíduos. Esses indivíduos devem ser avaliados de forma global a fim de excluir as variáveis 14 biológicas, tais como, idade, sexo, hormônios, gravidez, entre outras. Na literatura, o número amostral para realizar uma análise pode variar de 30 a 700 indivíduos. De acordo com o IFCC e o CLSI o mínimo para uma análise fidedigna é de 119 para a utilização de testes não paramétricos. Para a utilização de testes paramétricos, a distribuição deve ser normal e a amostra deve conter no mínimo 30 indivíduos. Os critérios pré-analíticos, como tempo de jejum e horário de obtenção da amostra, e os procedimentos analíticos, devem estar bem estabelecidos e padronizados. Outra forma de aquisição de intervalos de referências é a validação dos intervalos fornecidos pelas bulas dos reagentes em conjunto com a avaliação criteriosa da literatura (FERREIRA; ANDRIOLO, 2008). Acadêmico! Vamos agora observar, no quadro a seguir, uma lista de intervalos de referência. A lista não foi desenvolvida para ser abrangente; é simplesmente fornecida como uma série de testes realizados em laboratórios bioquímicos. Note que intervalos de referência específicos para idade e/ou sexo estão disponíveis para uma gama de substâncias incluindo fosfatase alcalina, creatinina e urato. QUADRO 2 – LISTA EM ORDEM ALFABÉTICA DE INTERVALOS DE REFERÊNCIA – GERAL Todos os intervalos de referência listados são para medidas no soro de adultos a menos que indicado Albumina 35 – 50 g/L Fosfatase alcalina (ALP) 30 – 130 U/L Aspartato aminotransferase 12 – 48 U/L Amilase 70 – 300 U/L Bicarbonato 22 – 29 mmol/L Bilirrubina (total) <21 μmol/L Cálcio (ajustado) 2,2 – 2,6 mmol/L Cloreto 95 – 108 mmol/L Colesterol (plasma total) <5 mmol/L (dividir por 0,02586 para converter para mg/dL) Proteína C-reativa (PCR) 0–10 mg/L Creatina cinase (CK) 40 – 320 U/L (homens) 25 – 200 U/L (mulheres) Creatinina 40 – 130 μmol/L Glicose (sangue) 4,0–5,5 mmol/L (dividir por 0,05551 para converter para mg/dL) Hemoglobina glicosilada (HbA1c) 6–7% (42 – 53 mmol/mol Hb) usada para indicar controle eficaz da diabetes Íon hidrogênio (H+) (sangue arterial) 35 – 45 nmol/L Ferro 10 – 40 μmol/L γ-glutamil transpeptidase (γGT) <36 U/L Magnésio 0,7 – 1,0 mmol/L 15 Percentual de saturação da transferrina <50% (mulheres) <55% (homens) Lactato 0,7 – 1,8 mmol/L Lactato desidrogenase (LDH) 230 – 525 U/L Osmolalidade 275 – 295 mmol/kg (soro) 50 – 1.400 mmol/kg (urina) PCO2 (sangue arterial) 4,6 – 6,0 kPa pH (sangue arterial) 7,35 – 7,45 Fosfato 0,8 – 1,5 mmol/L PO2 (sangue arterial) 10,5 – 13,5 kPa Potássio 3,5 – 5,3 mmol/L Proteína total 60 – 80 g/L Sódio 133 – 146 mmol/L Triglicerídeo <2,5 mmol/L Urato 200 – 430 μmol/L (homens) 140 – 360 μmol/L (mulheres) Ureia 2,5 – 7,8 mmol/L FONTE: Adaptado de GAW et al. (2015) 16 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • Bioquímica clínica, patologia clínica e química clínica são nomes aplicados ao assunto deste livro didático, sendo o ramo da medicina laboratorial no qual métodos químicos e bioquímicos são aplicados para o estudo de doenças. • Os resultados dos testes bioquímicos podem ser utilizados no diagnóstico e no monitoramento do tratamento. • Os exames bioquímicos podem ser úteis na triagem de doenças ou até mesmo na avaliação do prognóstico caso ele ainda não tenha sido efetuado. • O laboratório de bioquímica também está envolvido na área da pesquisa, com testes científicos e farmacológicos. • Formulários de requerimento e amostras devem ser etiquetados corretamente para assegurar que os resultados estejam correspondendo com a verdade não sendo um “falso positivo” ou “falso negativo”. • Muitos testes bioquímicos são realizados no soro, o sobrenadante obtido a partir da centrifugação do sangue coagulado coletado em um frasco comum. Outros preci- sam de plasma, o sobrenadante obtido quando se impede que o sangue coagule com um anticoagulante. • Erros na coleta das amostras invalidam os resultados. • O intervalo de referência fornecido junto com o resultado do teste é apenas um guia para a probabilidade de os resultados serem estatisticamente “normais” ou “anormais”. • Há diferentes intervalos de referência dependendo da idade ou sexo do paciente. RESUMO DO TÓPICO 1 17 1 A lesão hepatocelular é mais do que uma lesão do trato biliar, a obstrução pode ser efeito secundário, seguindo-se a lesão dos hepatócitos por infecções ou por toxinas. Nos adultos as causas mais comuns de icterícia aguda são a hepatite viral e o envenenamento por medicação. Nesses casos quais os exames bioquímicos estão alterados: a) ( ) Bilirrubinas, glicose, fosfatase alcalina e TGO. b) ( ) Fosfatase alcalina, glicose, triglicerídeos e TGP. c) ( ) Bilirrubinas, fosfatase alcalina, cálcio e colinesterase. d) ( ) Bilirrubinas, TGO e TGP. 2 Quais dos exames não sofrem interferência da ingestão alimentar: a) ( ) Coombs indireto e glicose. b) ( ) Hemograma completo e creatinina. c) ( ) Glicemia de jejum e doença de Chagas. d) ( ) VDLR e lipidograma. 3 O resultado de um exame indicando microalbuminúria é útil para monitorar pacientes com: a) ( ) Mieloma múltiplo. b) ( ) Diabetes mellitus. c) ( ) Glomerulonefrite. d) ( ) Doenças cardiovasculares. 4 Caso clínico – Uma amostra de sangue foi retirada de uma mulher de 65 anos para verificar sua concentração sérica de potássio, pois ela estava sendo tratada com diuréticos tiazídicos por algum tempo. O Clínico Geral deixou a amostra em seu carro e entregou ao laboratório a caminho de uma cirurgia na manhã seguinte. Imediatamente após analisar a amostra apresentando ureia sérica = 11,8 mg/L, sódio = 130 mmol/L e potássio = 6,7 mmol/L, o bioquímico ligou para o Clínico Geral. Por quê? 5 Defina o conceito de especificidade e sensibilidade de um teste laboratorial. AUTOATIVIDADE 18 19 GESTÃO DA QUALIDADE EM BIOQUÍMICA CLÍNICA 1 INTRODUÇÃO Acadêmico! No Tópico 2, nós abordaremos os princípios sobre os quaisos laboratórios clínicos são gerenciados e operados. Vamos discutir os fundamentos (i) da gestão da qualidade total através da descrição de gestão da qualidade total de laboratório clínico, (ii) do controle de variáveis pré-analíticas e de variáveis analíticas (com ênfase no controle de qualidade estatística e identificação das fontes de erros analíticos), e (iii) os princípios de garantia, a partir de programas de avaliação interna e externa da qualidade e a utilização combinada de líquido com as médias móveis dos valores de pacientes para monitoramento do controle de qualidade. Vamos ainda demonstrar as características de controles de qualidade de Levey-Jennings e de Múltiplas Regras de Westgard, utilizados na fase analítica da rotina laboratorial. Vamos lá? UNIDADE 1 TÓPICO 2 - 2 FUNDAMENTOS DA GESTÃO EM QUALIDADE TOTAL A gestão de qualidade em organizações da área de saúde se expande através das diversas fontes de informação disponíveis na internet. A melhoria da qualidade (QI, do inglês quality improvement) é acompanhada de pressões públicas e privadas a fim de garantir uma boa qualidade e que não causem aumento e até mesmo reduzam a geração de custos para as organizações de saúde. As pressões aparentemente contraditórias por redução de custo e QI exigem que as organizações de saúde adotem novos sistemas para gerenciar a qualidade. Enfrentando essa mesma pressão, as indústrias, por exemplo, im- plementaram um processo chamado de Gestão da Qualidade Total (TQM). Este processo é também chamado de Controle da Qualidade Total (QC), liderança da qualidade total, melhoria contínua da qualidade, ciência da gestão da qualidade ou, mais geralmente, ges- tão da qualidade industrial. Essa abordagem, caro acadêmico, fornece tanto uma filosofia gerencial para o desenvolvimento organizacional quanto um processo para a melhoria da qualidade em diversos aspectos do trabalho. Muitas organizações de saúde adotaram os conceitos e princípios da TQM (CHICAGO RUSH UNIVERSITY MEDICAL CENTER, 2012). Nesta unidade, a qualidade é definida como conformidade às exigências dos usuários ou consumidores e satisfação das suas necessidades e expectativas. A qualidade apresenta princípios universais de gestão que incluem quatro vertentes, são elas: foco no consumidor, comprometimento da gestão, treinamento, capacidade e controle do processo e medição através das ferramentas de melhoria da qualidade (CHICAGO RUSH UNIVERSITY MEDICAL CENTER, 2012). 20 Acadêmico, os custos gerados no contexto da qualidade também devem ser inseridos dentro do contexto de gestão laboratorial. Se a qualidade significa conformidade às exigências, então “custos de qualidade” devem ser entendidos em termos de “custos para conformidade” e “custos de não conformidade”. Para um laboratório de testagem do processo, a calibração é um bom exemplo de custos incorridos a fim de prevenir problemas. Um exemplo prático é quando a análise de um exame solicitado precisa ser repetida, essa nova análise vai se enquadrar no controle de qualidade envolvendo custos para avaliação do desempenho, esse custo se encaixa em falha interna por um baixo desempenho analítico. Outro exemplo é a repetição de testes por baixa qualidade analítica constituindo custos de falha externa (WESTGARD; JO; BARRY, 1997). Para deixar mais claro esse conceito, analise o organograma a seguir (Figura 7). FIGURA 7 – OS CUSTOS DE CONFORMIDADE E CUSTOS DE NÃO CONFORMIDADE PARA AS EXIGÊNCIAS DO CONSUMIDOR FONTE: Adaptado de Westgard e Barry (1997) Outra questão é que os problemas na qualidade são problemas primariamente gerenciados, pois apenas o gerenciamento possui o poder de modificar os processos de trabalho. Esta ênfase nos processos de trabalho leva a uma nova visão da organização como um sistema de processos. Por exemplo, diversas disciplinas terão diferentes visões dos processos de trabalho de uma organização para a saúde a partir das funções de cada profissional na organização, são eles: Médico/Profissional de Saúde • Exame do paciente • Testagem do paciente • Diagnóstico do paciente • Tratamento do paciente 21 Administrador da área de saúde • Processos para admissão de pacientes • Rastreamento dos serviços realizados no paciente • Alta do paciente • Cobrança de custos e serviços Diretor do Laboratório • Processos para obtenção de amostras • Processamento de amostras • Análise das amostras • Laudos dos resultados dos testes Laboratorista • Obtenção das amostras • Análise das amostras • Medidas de controle de qualidade Liberação dos resultados dos testes dos pacientes (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). Para a gestão de qualidade em um laboratório de saúde o esquema tradicional enfatiza o estabelecimento de métodos laboratoriais de qualidade (QLPs), controle de qualidade (QC), avaliação da qualidade (QA) e sistemas de qualidade (QSs). Os QLPs incluem métodos analíticos, assim como políticas gerais, práticas e procedimentos que definem como todos os aspectos do trabalho são realizados. QC enfatiza os métodos de controle estatísticos, o QA, está relacionado primeiramente com as medidas limítrofes e o monitoramento do desempenho do laboratório, tais como tempo de resposta, identificação de amostra, identificação do paciente e utilidade do teste (CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE, 2011). A avaliação da qualidade é o termo apropriado as atividades de gestão de qualidade, em oposição à garantia da qualidade, o qual vem sendo usado incorretamente para descrever tais atividades. É importante que não apenas a medição do desempenho, visto na garantia da qualidade, seja demonstrado, mas sim que as causas dos problemas identificadas através da avalição da qualidade, sejam eliminadas a fim de prevenir consequências e efeitos nocivos. NOTA 22 A metodologia aplicada em experimentos científicos deve servir como base para decisões na gestão. Objetivamente, no entanto, depende da existência de requisitos quan- titativos de qualidade para a avaliação do desempenho de métodos existentes e para o planejamento de desempenho de novos métodos. O documento do Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) descreve um sistema de gestão da qualidade (QMS) como um “conjunto de elementos-chave da qualidade que devem existir para as operações de traba- lho da organização a fim de funcionar de maneira a atingir os objetivos estabelecidos para a qualidade da organização” (CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTITUTE, 2011, s.p.). A infraestrutura exigida por um laboratório para fornecer serviços laboratoriais de qualidade está descrita a seguir: • Documentos e registros • Organização • Pessoal • Equipamento • Compra e inventário • Controle de processo • Gestão da informação • Gestão da ocorrência • Avaliação: externa e interna • Avaliação do processo Atendimento ao consumidor (CLINICAL AND LABORATORY STANDARDS INSTI- TUTE, 2004). 2.1 OS PROCESSOS DE TESTAGEM GERAL É de responsabilidade do laboratório os laudos e testes acurados entregues de maneira rápida. Entretanto, muitos problemas advêm antes e depois de as amostras coletadas serem analisadas. Portanto, o processo de testagem total deve ser gerenciado apropriadamente nas suas fases, pré-analítica, analítica e pós-analítica (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). As muitas etapas ou os subprocessos que tomam lugar a partir da solicitação inicial por um teste até o momento da interpretação final do resultado são determinadas através do desempenho de “sistemas de análises”. As etapas ou os subprocessos de um típico processo de testagem em laboratório clínico e os potenciais erros associados a ele estão descritos no Quadro 3. 23 QUADRO 3 – PROCESSOS DE TESTAGEM EM LABORATÓRIO E SEUS ERROS POTENCIAIS Processo Erros Potenciais Requisição do teste Teste inapropriado Manuscrito ilegível Identificação errada do paciente Requisição especial não especificada Ordem custosa ou atrasada Obtenção da amostra Tubo ou reservatório incorreto Identificação errada do pacienteVolume inadequado Amostra inválida (p. ex., hemolisada, muito diluída) Coletada em momentos ou horário do dia Condições impróprias de transporte Medição analítica Instrumento não calibrado corretamente Amostras misturadas Volume incorreto da amostra Substância interferente presente Problema de precisão do instrumento Procedimento de laboratório pouco detalhado Laudo do Teste Identificação errada do paciente Laudo não postado no quadro Laudo ilegível Laudo atrasado Transcrição do erro Interpretação do teste Substância interferente não reconhecida Especificidade do teste não entendida Limitações de precisão não reconhecidas Sensibilidade analítica não apropriada Valores prévios não disponíveis para comparação FONTE: Tietz, Burtis e Bruns (2016, s.p.) 3 CONTROLE DE VARIÁVEIS O controle das variáveis pré-analíticas e analíticas dentro de uma rotina laboratorial é de extrema importância para a gestão de qualidade. 3.1 VARIÁVEIS PRÉ-ANALÍTICAS Para as variáveis pré-analíticas a definição de métodos eficazes para seu monitoramento e controle torna-se complicada, devido a muitas destas variáveis estarem fora das áreas tradicionais de laboratório. Para o monitoramento dessa variável, os esforços precisam ser coordenados através de muitos indivíduos e departamentos do 24 local, cada um reconhecendo a importância destes esforços na manutenção do serviço de alta qualidade. Também é necessário para tal monitoramento um suporte vindo de fora do laboratório, de preferência do comitê de prática clínica ou de alguma autoridade similar (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). As variáveis desta fase são, (1) Utilização de teste e diretrizes práticas, (2) Identificação do paciente, (3) Tempo de resposta, (4) Cadernos de laboratório, (5) Erros de transcrição, (6) Preparação do paciente, (7) Coleção de amostras, (8) Transporte de amostras e (9) Separação de amostras e distribuição das alíquotas. 3.2 VARIÁVEIS ANALÍTICAS As variáveis analíticas na prática são cuidadosamente controladas a fim de garantir medições precisas pelos métodos analíticos. O processo criterioso que envolve métodos analíticos confiáveis são a seleção, avaliação, implementação, manutenção e controle. As variáveis analíticas deste processo podem ser, por exemplo: (1) qualidade da água, (2) calibração de balanças analíticas, (3) calibração de vidraria volumétrica e pipetas, (4) estabilidade da fonte de energia elétrica e (5) temperatura dos banhos-maria, refrigeradores, freezers, além do controle de centrífugas, que devem ser monitoradas em todo laboratório, pois elas podem afetar muitos métodos do laboratório. Ainda, certas variáveis especificamente afetam métodos analíticos individuais e estes exigem o desenvolvimento de procedimentos para lidar especificamente com as características dos métodos (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). 3.2.1 DOCUMENTAÇÃO DE PROTOCOLOS ANALÍTICOS A documentação de um processo analítico pode ser apresentada como um diagrama de fluxo ou até mesmo uma tabela na qual descreve as operações realizadas em laboratório. É importante a documentação deste processo, pois fornece instruções em detalhes para o indivíduo que necessita seguir a fim de completar aquela atividade. O CLSI descreve quais são as seções incluídas em uma política de laboratório, processo ou procedimento: • Proposta: descrever o que o documento se presta a arquivar. • Escopo ou aplicabilidade: descreve a extensão da atividade ou da área sobre a qual a atividade se estende. • Referências: nomes das fontes de documentos a partir das quais o conteúdo foi diretamente retirado. A utilização de referências on-line é aceitável. O link da rede para as referências e os dados acessados deve ser incluído. 25 • Documentos relacionados: esta é a lista de documentos referidos no corpo do documento ou conteúdo do qual o leitor vai precisar para completar a tarefa ou o processo. Se utilizada, esta seção fornece uma listagem de outros procedimentos que estão referidos na descrição do procedimento. • Anexos ou apêndices: estes podem incluir informações em tabelas, exemplos de formulários ou diagramas úteis, dando, assim, informações adicionais aos leitores (CSLI, 2013). 4 PRINCÍPOS GERAIS DE GRÁFICOS CONTROLE 4.1 SISTEMA DE LEVEY-JENNINGS Gráficos controle são dispositivos gráficos simples nos quais os valores observados são representados versus o tempo, quando as observações são realizadas. Os valores conhecidos são representados por um intervalo de valores aceitável, como indicado no gráfico por linhas para os limites de controle superior e inferior. Quando os pontos representados estão dentro dos limites de controle, essa ocorrência, geralmente, é interpretada pela média com que o método está sendo desempenhado apropriadamente; os pontos que estiverem fora dos limites do controle são problemáticos. Os limites do controle são usualmente calculados a partir da média (x) e dos desvios padrões (SD) obtidos de medições repetidas em espécimes conhecidas por um método específico de análise, que deve para ser controlado. A distribuição de erro para o método analítico é assumida por ser gaussiana (isto é, simétrica e em forma de sino). Os limites de controle são set para incluir a maioria dos valores controle, usualmente de 95% a 99,7%, que corresponde à média ± 2 ou 3 SDs (s) (BERLITZ, 2010). Gráficos do tipo Levey-Jennings são simplificações dos gráficos controle de Shewhart, criadas na primeira metade do século passado e modificadas para a utilização em laboratório por Levey e Jennings (1950) e, mais tarde, aprimoradas por Henry e Segalove (1952), formatando o aspecto atual dessa ferramenta. A carta de controle de Levey-Jennings consiste em um gráfico de controle com linha central de média e linhas adjacentes correspondendo a múltiplos de DP (BERLITZ, 2010). A ilustração de como as distribuições dos valores de controle podem ocorrer estão indicadas na Figura 8 em três situações diferentes: (1) desempenho estável em que apenas uma observação ocasional ultrapassa os limites de controle, (2) ocorrência de um erro sistemático que muda a média da distribuição e provoca uma maior expectativa ou probabilidade de que os valores controle podem ser observados fora de um dos limites de controle e (3) ocorrência de um aumento no erro aleatório ou imprecisão, que amplia a distribuição e provoca uma probabilidade muito mais elevada de que o valor controle pode ser observado fora de qualquer dos limites de controle (BERLITZ, 2010). 26 FIGURA 8 – GRÁFICOS DE CONTROLE. A, DISTRIBUIÇÕES DE FREQUÊNCIA DAS OBSERVAÇÕES DE CON- TROLE PARA DIFERENTES CONDIÇÕES DE ERRO. B, VALORES CONTROLE REPRESENTANDO AS DISTRIBUI- ÇÕES PARA CADA CONCENTRAÇÃO ESTÃO PLOTADOS EM FUNÇÃO DO TEMPO FONTE: Tietz, Burtis e Bruns (2016, s.p.) A figura acima é um exemplo de um gráfico de controle Levey-Jennings, em que os valores de controle representam as três situações. Se o método analítico está operando corretamente, os valores de controle caem predominantemente dentro dos limites de controle. Quando existe um problema de acurácia, os valores de controle se deslocam para um lado e vários valores em uma linha podem cair fora de um dos limites. Quando existe um problema de precisão, os valores-controle flutuam muito mais amplamente e podem ultrapassar os limites superior e inferior do controle. 27 4.2 GRÁFICO MULTIRREGRAS DE WESTGARD O procedimento de controle de qualidade de Regras Múltiplas de Westgard, utiliza cinco regras de controle diferentes para julgar a aceitabilidade de uma corrida analítica. Por comparação, um procedimento de regra única de controle utiliza um único critério ou um único par de limites de controle, assim como um gráfico de Levey- Jennings, com limites de controle calculados como x ± 2DP (média mais ou menos dois desvios-padrão) ou x ± 3DP (média mais ou menos 3 desvios-padrão). Nas “Regras de Westgard” utiliza-se 2 ou 4 medições de controle por corrida, o que significa que elas são apropriadas a diferentesníveis de controle. Algumas regras de controle alternativas são mais apropriadas quando três materiais de controle são analisados, o que é comum para aplicações em hematologia, coagulação e imunoensaios (WESTGARD, 2002). Acadêmico a Figura 9, a seguir, mostra as cinco regras de controle de qualidade em um fluxo de aprovação ou não de uma corrida analítica. Em seguida abordaremos cada uma das cinco regras e suas características básicas. FIGURA 9 – ORGANOGRAMA DAS REGRAS MÚLTIPLAS DE WESTGARD FONTE: Westgard (2002, s.p.) As regras individuais serão definidas a seguir. Na Figura 10 A, a regra 1:3s refere-se a uma regra de controle que é comumente utilizada com um gráfico de Levey-Jennings quando os limites de controle calculados são x ± 3DP. A corrida é rejeitada quando uma única medição de controle excede um dos limites. Sensível principalmente a erros aleatórios ou randômicos. 28 Na figura 10 B, a regra 1:2s refere-se a uma regra de controle que é comumente utilizada com um gráfico de Levey-Jennings quando os limites de controle calculados são x ± 2DP. No procedimento original de Regras Múltiplas de Westgard, esta regra é utilizada como uma regra de alerta para acionar uma inspeção cuidadosa dos dados de controle por meio das seguintes regras de rejeição: • 2:2s - Rejeita-se quando 2 medições de controle consecutivas excederem o mesmo limite de controle x + 2DP ou x - 2DP, sensível ao erro sistemático (Figura 10 C). • R:4s - Rejeita-se quando 1 medição de controle exceder o limite de controle x + 2DP e a outra x - 2DP, em uma mesma corrida, sensível a erro aleatório (Figura 10 D). • 4:1s - Rejeita-se quando 4 medições de controle consecutivas excederem o mesmo limite x ± 1DP, sensível ao erro sistemático (Figura 10 E). • 10x - Rejeita-se quando 10 medições de controle consecutivas estiverem no mesmo lado em relação à média, sensível a erros sistemáticos (Figura 10 F). FIGURA 11 – IDENTIFICAÇÃO DOS TIPOS DE REGRAS DE ACORDO COM WESTGARD FONTE: Westgard (2002, s. p.) Existem situações em que três materiais de controle diferentes podem ser analisados, neste caso algumas outras regras são mais apropriadas e de fácil aplicabilidade. São elas: • 2 de 3:2s - Rejeita-se quando 2 de 3 medições de controle excederem o mesmo limite x ± 2DP (Figura 11 A). • 3:1s - Rejeita-se quando 3 medições de controle consecutivas excederem o mesmo limite x ± 1DP (Figura 11 B). 29 • 6x - Rejeita-se quando 6 medições de controle consecutivas estiverem no mesmo lado em relação à média (Figura 11 C). Algumas vezes, caro acadêmico, poderá ocorrer modificações desta última regra (3:1s) para incluir um número maior de medições de controle que ainda comportem três níveis, sendo ela: • 9x - Rejeita-se quando 9 medições de controle consecutivas estiverem no mesmo lado em relação à média (Figura 11 D). FIGURA 10 – IDENTIFICAÇÃO DOS TIPOS DE REGRAS DE ACORDO COM WESTGARD FONTE: Westgard (2002, s.p.) Os procedimentos de regras múltiplas são claramente mais complicados do que procedimentos de regras únicas, o que é uma desvantagem. Entretanto, frequentemente oferecem melhores desempenhos do que os procedimentos de regras únicas 1:2s e 1:3s. Há um problema de “falso alarme” com a regra 1:2s, assim como o gráfico de Levey- Jennings com limites de controle 2DP. 30 Acadêmico, acesse a videoaula a seguir, que explica também as regras de Wesgard. Disponível em: https://bit.ly/3BlUwXM. DICAS As vantagens dos Procedimentos de Regras Múltiplas são que o número de falsas rejeições pode ser mantido baixo, enquanto ao mesmo tempo mantém-se uma alta identificação de erros. Isto é feito selecionando-se regras individuais que tenham níveis de falsas rejeições muito baixos, que utilizadas em conjunto aumenta a capacidade de identificação de erros. É como realizar dois testes funcionais do fígado e diagnosticar um problema se um deles der positivo. Um Procedimento de Regra Múltipla utiliza dois ou mais testes estatísticos (regras de controle) para avaliar os resultados do controle de qualidade e então rejeitar uma corrida se qualquer um destes testes estatísticos for positivo (WESTGARD, 2002). 5 CONTROLE EXTERNO DE QUALIDADE Todos os procedimentos de controle descritos anteriormente têm focado no acompanhamento por um único laboratório. Estes procedimentos constituem o que é muitas vezes chamado de QC interno, para distingui-los dos procedimentos usados para comparar o desempenho de diferentes laboratórios, este último conhecido como QA externa. Os dois procedimentos são complementares: QC interno é necessário para o acompanhamento diário da precisão e acurácia do método analítico, e QA externo é importante para a manutenção da precisão de longo prazo de métodos analíticos. Existem vários programas de controle de qualidade externos disponíveis para o laboratório clínico. O funcionamento básico destes programas envolve a participação de laboratórios, onde serão analisadas o mesmo lote de material de controle, geralmente diariamente como parte das atividades internas de QC. Em seguida, os resultados serão então organizados em tabelas e enviados para o grupo patrocinador para análise desses resultados. Os relatórios resumidos de síntese são preparados pelo patrocinador daquele programa e distribuídos a todos os laboratórios participantes. São mais comumente utilizados em controle externo de qualidade os seguintes programas: • Teste de proficiência • Processo Seis Sigma ISSO 9000 (TIETZ; BURTIS; BRUNS, 2016). 31 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como: • A avaliação da qualidade é um processo de qualidade no qual o laboratório está primariamente relacionado com medições mais amplas e monitoramentos de desempenho do laboratório, tais como tempo de resposta e utilidade do teste. • O controle de qualidade é um processo de qualidade de laboratório que envolve análi- se estatística de procedimentos de controle interno através da utilização de materiais controle para avaliação do desempenho do método e de procedimentos de checa- gem não estatísticos, tais como estudos de linearidade e checagem de reagentes. • O controle das variáveis pré-analíticas e analíticas dentro de uma rotina laboratorial é importante para a gestão de qualidade. • Gráfico de controle de Levey-Jennings mostra uma visualização gráfica dos valores controle observados plotados contra uma faixa aceitável de valores, indicados no gráfico por linhas para os limites de valores superiores e inferiores, comumente indicados como o valor controle médio mais ou menos três desvios padrão. • Regras múltiplas de Westgard são séries de regras de controle utilizadas para interpretar dados de controle de qualidade. • Quando os pontos de gráficos controle estão dentro dos limites de controle, essa ocorrência geralmente é interpretada pela média com que o método está sendo desempenhado apropriadamente. 32 1 O teste multirregras de Westgard para controle de qualidade foi designado para interpretar controle de resultados e para auxiliar na localização de erros em métodos analíticos. O multirregras como 1:2s indica que: a) ( ) Um valor de controle tem ultrapassado ±2 s da média. b) ( ) Dois valores de controle têm ultrapassado ±2 s da média. c) ( ) Dois valores de controle consecutivos têm ultrapassado ±1 s da média. d) ( ) A diferença numérica entre dois valores de controle ultrapassou 1 s. 2 As multirregras de Westgard R4s mostram que um valor de controle tem ultrapassado a média +2 s e outro tem ultrapassado a media −2 s. Esta norma controle é sensível a qual tipo de erro analítico? a) ( ) Erro sistemático. b) ( ) Erro analítico. c) ( ) Erro de imprecisão. d) ( ) Erro aleatório. 3 A escolha incorreta de uma rolha colorida para tubo de coleta de sangue, para a obtenção de um espécime de sangue, é referida como variável ____________. a) ( ) Estatística. b) ( ) Pré-analítica. c) ( ) Analítica. d) ( ) Controlada. 4 A conformidade a exigências
Compartilhar