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CURSO DE PLANEJAMENTO E MANEJO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS 08 a 22 de junho de 2008 Reserva Natural Salto Morato Guaraqueçaba - PR FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA Conservar a natureza é a nossa missão A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos, cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do empresário Miguel Krigsner, presidente do grupo O Boticário, a Fundação contribui para o equilíbrio ecológico do planeta e para a manutenção das condições de vida para esta e para as futuras gerações. A atuação da Fundação O Boticário é nacional, com estratégia focada na implantação de núcleos regionais em cada bioma brasileiro. Nos núcleos, as ações da Fundação são desenvolvidas de forma integrada, de modo a contribuir efetivamente para a conservação da natureza na região. Os pólos irradiadores dessas ações nos biomas são as Reservas Naturais e as Estações Natureza. ÁREAS PROTEGIDAS Reservas Naturais Por meio de suas Reservas Naturais, a Fundação O Boticário protege remanescentes de cada região brasileira, com suas características fundamentais para a manutenção da vida de todas as espécies. Nos núcleos biorregionais, elas cumprem o papel de proteção da natureza in situ, além de sensibilizar pessoas para a conservação e servir de campo para inúmeras pesquisas. Reserva Natural Salto Morato Em 1994, a Fundação adquiriu uma área no maior remanescente contínuo da Mata Atlântica do Brasil e transformou-a na Reserva Natural Salto Morato. Com 2.300 hectares, planejamento e manejo exemplares, Salto Morato é considerada referência em manejo de reserva natural e recebe anualmente cerca de 7 mil visitantes. Dezenas de pesquisas já foram realizadas tendo como campo a Reserva Natural Salto Morato, reconhecida pela Unesco como Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade em 1999. Reserva Natural Serra do Tombador Em abril de 2007, a Fundação O Boticário, adquiriu áreas para a implantação da Reserva Natural Serra do Tombador, que protege 8.700 hectares de Cerrado, na região de Cavalcante (GO). O bioma tem expressiva biodiversidade e é um dos mais ameaçados do país. A partir da implantação desta nova Reserva, a Fundação O Boticário consolida sua presença no Cerrado e inicia ações integradas para contribuir para a proteção do bioma. Pagamento por Serviços Ambientais: Projeto Oásis O Projeto Oásis é uma iniciativa pioneira no País que cria um sistema de pagamento por serviços ambientais a proprietários de terras que se comprometem a conservar integralmente áreas de remanescentes de Mata Atlântica na região dos mananciais na Grande São Paulo. O projeto implanta áreas de conservação em terras particulares na bacia de Guarapiranga e nas Áreas de Proteção Ambiental Capivari-Monos e Bororé-Colônia. A região é estratégica pela relevância ambiental e importância para a conservação dos recursos hídricos que garantem o abastecimento de água para quase 4 milhões de habitantes do município de São Paulo. Em sua primeira fase, o projeto pretende cobrir uma área de 2.500 hectares. APOIO A PROJETOS DE CONSERVAÇÃO Conhecer a biodiversidade brasileira e os processos ecológicos com os quais ela se relaciona é fundamental para o delineamento de estratégias efetivas para a conservação da natureza. Desde o início de suas atividades, a Fundação O Boticário apóia, em todo o Brasil, projetos de pesquisa em ecologia e conservação, de educação ambiental e ações efetivas de proteção da natureza. Mais de 1100 projetos foram apoiados pela Fundação O Boticário desde sua criação. Alguns desses projetos envolveram a realização de pesquisas, permitindo acumular valiosas informações sobre a biodiversidade brasileira: 19 novas espécies de animais e plantas foram descobertas, mais de 200 espécies brasileiras ameaçadas de extinção foram estudadas; quase 150 unidades de conservação receberam recursos da Fundação produzindo conhecimento científico e melhorias de manejo, e tudo isso serviu de base para cerca de 300 monografias, dissertações e teses publicadas, além de mais de 1300 comunicações em eventos científicos. Atualmente, a Fundação O Boticário prioriza a seleção de projetos realizados na área dos núcleos regionais, para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade nessas regiões e a efetividade de sua conservação. SENSIBILIZAÇÃO DA SOCIEDADE Além de realizar e apoiar ações efetivas de conservação da natureza, a Fundação O Boticário acredita em seu papel de disseminadora de conhecimentos, valores e atitudes conservacionistas. Por isso, oferece a variados públicos cursos, eventos, exposições e publicações. Estações Natureza As Estações Natureza são exposições permanentes, criadas e mantidas pela Fundação O Boticário, com o objetivo de sensibilizar a população para a conservação da natureza a partir da consciência de que somos, todos, co-responsáveis pela manutenção do planeta. As Estações Natureza mostram as belezas naturais do Brasil de forma lúdica e interativa, por meio de painéis fotográficos, elementos interativos, maquetes, sons e aromas, permitindo que o visitante faça uma verdadeira viagem pelos biomas brasileiros. Nos núcleos biorregionais, elas funcionam como um pólo de contato e sensibilização das pessoas que vivem em ambientes urbanos. Além disso, orientam professores de ensino fundamental e médio para a inserção da temática ambiental nas escolas, e proporcionam aos estudantes espaço de aprendizagem sobre questões ambientais. Estação Natureza Curitiba A primeira unidade da Estação Natureza, instalada em Curitiba (PR) em 2001, comemora hoje o sucesso do trabalho desenvolvido, estratégico para a atuação da Fundação no bioma Mata Atlântica. Em seis anos de funcionamento, recebeu mais de 130 mil visitantes, dos quais cerca de 60% eram alunos e professores de escolas das redes pública e privada da região metropolitana de Curitiba. Além de outros visitantes locais, também turistas vindos de todos os estados do Brasil e mais de 600 estrangeiros, procedentes de 44 países, estiveram por lá e se encantaram com a rica biodiversidade brasileira. Estação Natureza Pantanal A Estação Natureza Pantanal foi inaugurada em fevereiro de 2006, em Corumbá (MS). A exposição apresenta as belezas e processos ecológicos da planície pantaneira, sensibilizando a população local e turistas que visitam a região para a importância de proteger a região. Em seus quase dois anos de funcionamento, a exposição recebeu mais de 15 mil visitantes de diversos locais do Brasil, assim como turistas procedentes da Bolívia e de outros países. Capacitação, Educação e Mobilização Ações de formação técnica, educação ambiental e mobilização social para a conservação da natureza se somam a todos esses esforços, destacando-se a capacitação de profissionais para atuação no manejo de áreas protegidas. Mais de 1800 pessoas já foram capacitadas em diferentes cursos com foco em gestão e manejo de unidades de conservação, realizados pela Fundação O Boticário. Outros milhares participaram das edições do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) e, desde 2004, a cada ano, cerca de 20 jovens de diferentes instituições brasileiras participam do Programa Trainee em Meio Ambiente, cujo objetivo é formar profissionais comprometidos com a conservação da natureza, fortalecendo o setor conservacionista no Brasil. Publicações completam a estratégia, oferecendo material qualificado e atualizado sobre os temas relacionados à conservação. Além de livros, destacam-se os chamados cadernos de conservação – conteúdos práticos voltados para a gestão de áreas naturais protegidas, com distribuição dirigida a organizaçõesgovernamentais e não-governamentais atuantes em meio ambiente, especialmente as que se relacionam com unidades de conservação; e a revista bilíngüe (português-inglês) Natureza & Conservação, distribuída para mais de 600 instituições de 45 países. Contato Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Rua Gonçalves Dias, 225 - Batel – Curitiba - Paraná www.fundacaoboticario.org.br / contato@fundacaoboticario.org.br Tel.: (41) 3340-2636 Fax: (41) 3340-2635 ATENÇÃO TODOS OS TEXTOS QUE CONSTAM DESSA APOSTILA SÃO DE RESPONSABILIDADE DOS RESPECTIVOS AUTORES, QUE DETÊM OS DIREITOS AUTORAIS DO MATERIAL. A REPRODUÇÃO INTEGRAL OU PARCIAL DESSA APOSTILA É PROIBIDA, A NÃO SER COM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DA FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA CONCEITOS BÁSICOS E PRINCÍPIOS GERAIS DE MANEJO E ADMINISTRAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO VERÔNICA THEULEN CURSO DE PLANEJAMENTO E MANEJO DE ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS 08 a 22 de junho de 2008 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1 2. BREVE HISTÓRICO ........................................................................................... 4 3. ÁREAS SILVESTRES, ÁREAS PROTEGIDAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO.............. 8 3.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS ................................................................................. 8 3.2 OBJETIVOS DE CONSERVAÇÃO........................................................................11 3.3. CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ..............................13 4. CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL.................16 4.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO RECENTES ...............................................................16 4.2. OBJETIVOS NACIONAIS DE CONSERVAÇÃO E CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO..............................................................................24 4.2.1. Reserva Biológica e Estação Ecológica...........................................................27 4.2.2. Parque Nacional.........................................................................................29 4.2.3. Monumento Natural ...................................................................................30 4.2.4. Refúgio de Vida Silvestre ............................................................................31 4.2.5. Floresta Nacional .......................................................................................32 4.2.6. Reserva de Fauna ......................................................................................34 4.2.7. Reserva Extrativista e Reserva de Desenvolvimento Sustentável ......................35 4.2.8. Área de Proteção Ambiental ........................................................................36 4.2.9. Áreas de Relevante Interesse Ecológico.........................................................38 4.2.10. Reserva Particular do Patrimônio Natural .....................................................39 4.3. SÍNTESE DOS OBJETIVOS E CATEGORIAS DE MANEJO.......................................41 5. SISTEMA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO......................................................45 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 15 a 30 de setembro de 2007 7 5.1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS..........................................................................45 5.2. NÍVEIS DE PLANEJAMENTO ............................................................................46 5.3. A SITUAÇÃO BRASILEIRA ATUAL ....................................................................47 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 1 CONCEITOS BÁSICOS E PRINCÍPIOS GERAIS DE PLANEJAMENTO, MANEJO E ADMINISTRAÇÃO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Miguel Serediuk Milano Engenheiro Florestal, MSc., Dr. 1. INTRODUÇÃO As relações do homem com a natureza são tão antigas quanto a própria existência da humanidade. E não poderia ser diferente. Afinal como resultado do mesmo processo evolutivo que determinou a existência de todas as espécies conhecidas ou não e atuais ou já extintas no planeta, o homem existe como parte integrante da natureza e dela é totalmente dependente. As características das relações do homem com a natureza a que ele pertence mas subjuga, entretanto, se alteraram significativamente com o correr do tempo, condicionadas pelo processo de desenvolvimento e “civilizatório” a que o homem sempre esteve sujeito. Todavia, o homem nem sempre aceita tais situações, quer seja de que é parte da natureza e dela depende, quer seja de que diferentes situações ou condutas de relacionamento com a natureza são decorrências de diferentes estágios evolutivos em termos culturais, tecnológicos e socioeconômicos, gerando impactos negativos diferenciados. No princípio, a interferência do homem nos ecossistemas era mínima ou não existia, uma vez que suas ações de coleta ou caça se equivaliam àquelas de quaisquer outros animais predadores. Sem considerar o fato de que as populações humanas nas sociedades primitivas sempre são reduzidas. O processo civilizatório, entretanto, não apenas levou a descobertas de práticas produtivas que se tornaram importantes como, aos poucos, introduziu princípios de maior rendimento nas atividades humanas, dentre as quais as de agricultura e pastoreio ou pecuária, que determinaram alterações significativas no relacionamento dos homens com os recursos naturais. Concomitantemente, os processos de urbanização, transformando ainda mais drasticamente os ecossistemas, trouxeram novas e mais importantes externalidades que alteraram ainda mais profundamente o equilíbrio da biosfera. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 2 A idéia de crescimento econômico, diferindo do conceito amplo de desenvolvimento, também produziu efeitos de alienação dos habitantes urbanos e rurais quanto à realidade de seu habitat. Os habitantes das cidades, em geral, não têm real consciência de onde procedem a água, os alimentos e a energia que consomem. E as formas de uso da terra têm ultrapassado todos os limites ecológicos aceitáveis, erodindo os solos e diminuindo sua fertilidade, reduzindo os estoques dos recursos não renováveis e a capacidade de renovação daqueles renováveis, poluindo as águas e a atmosfera e alterando as próprias condições climáticas. Como conseqüência, a racionalização da ocupação territorial e em termos de interferência no espaço físico disponível tem exigido, cada vez mais, a adoção dos princípios modernos de planejamento territorial e de conservação ambiental. Por tais princípios, não apenas o "consumo dos recursos naturais deve ser, no máximo, equivalente à capacidade de renovação dos mesmos num contexto ecossistêmico", como os locais considerados impróprios ao uso, quer devido ao risco que podem acarretar quer pelos benefícios quepodem gerar pelo não uso, precisam ser preservados permanentemente. Além disso, por questões estratégicas de ordem científica e tecnológica, é considerada necessária a preservação de amostras significativas de todos os tipos de ambientes e ecossistemas. A adoção desses princípios subentende conhecer e respeitar as inter-relações entre os fatores bióticos e abióticos de todos os ecossistemas naturais, e tem feito com que a preocupação com a proteção de áreas naturais, tão somente de restritos círculos científicos tenha se transformado numa preocupação social e política que abrange parcelas cada vez maiores da população. É verdade, porém, que em muitos lugares tais processos acontecem de forma inadequada, algumas vezes deturpados por orientações ideológicas e partidárias, outras tantas manipulados grupos específicos, de diferentes índoles, para manter seus interesses em detrimento daqueles de toda a coletividade. Vemos isso no Brasil com enorme freqüência. Ora, numa ponta do espectro socioeconomico e cultural, estão grupos de pessoas menos favorecidas, ditas comunidades tradicionais, ora, na outra ponta do espectro, são grupos de pessoas poderosas, membros da parcela detentora da massa da renda nacional, proprietários de terras que são politicamente chamados produtores rurais ou empresários do agro-negócio, que emperram os processos de Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 3 proteção de áreas naturais. Uns não são piores que outros e ambos são igualmente ruins para a conservação quando agem desta maneira, o que regularmente acontece. É nesse contexto que as estratégias de guardar e proteger amostras significativas dos mais diversos ambientes e ecossistemas contra a ocupação humana irracional contemplam finalidades ecológicas, científicas, culturais, recreativas e, mesmo, econômicas; cada uma dessas finalidades intimamente vinculadas às características e potencialidades das respectivas áreas, que devem ter seu uso e administração planejados de maneira que sua conservação seja perpétua. Para tanto, conceitos e técnicas mundialmente estudadas, testadas e discutidas têm sido empregadas. A área de conhecimento técnico-científico da conservação da natureza voltada para o planejamento, manejo e administração de áreas naturais protegidas como unidades de conservação é comumente denominada manejo de áreas silvestres. Tal área de atuação humana depende de conhecimentos de variadas especializações para ser exercida devidamente e, normalmente, é desenvolvida por equipes multi e interdisciplinares que se baseiam em conceitos e princípios próprios fundamentais. Pode-se dizer que, como a ecologia, é tipicamente um campo de atividade de síntese, ou seja, é por natureza uma especialidade de generalistas por mais contraditório tais palavras soem. A idéia de áreas protegidas como unidades de conservação, conforme mencionado, indica antes de tudo que áreas protegidas e unidades de conservação são conceitos distintos que algumas vezes, por sobreposição, se confundem. Também, são vários os tipos de áreas protegidas e as categorias e unidades de conservação e, em certo sentido, múltiplas as associações possíveis entre tais termos e condições. Nesta publicação, de caráter técnico básico, é apresentado um breve histórico do estabelecimento das áreas protegidas e das unidades de conservação, são diferenciados os conceitos de ambos termos, bem como são detalhados os conceitos das diferentes categorias de manejo de unidades de conservação, sendo as diferenças e similaridades entre elas destacadas. Ainda, considerando-se a orientação desta publicação à capacitação técnica, abordagens e discussões filosóficas ou científicas mais profundas são evitadas e texto limitado às informações consideradas necessárias e adequados aos objetivos de instrução regulares a uma série técnica. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 4 2. BREVE HISTÓRICO São fartas as evidências pré-históricas – sítios arqueológicos diversos com fósseis, utensílios, artefatos, armas e pinturas – e conseqüentes deduções e conclusões dos estudiosos quanto as ações humanas destrutivas no correr da evolução da espécie. Todavia, não são registradas evidências de posturas de proteção e efetivo respeito para com a natureza, embora possivelmente elas tenham existido em algum nível, mesmo que por mera orientação mística ou religiosa. Dá algum sentido a esta hipótese o fato de, passada a pré-história e iniciada a história, se assim puder ser dito, haverem registros sistemáticos de fatos e acontecimentos de efetiva proteção da natureza nas mais diferentes épocas e culturas, a absoluta maioria destes lastreada na necessidade de se fazer frente aos processos destrutivos do próprio homem e buscar manter condições de sobrevivência. Em outras palavras, o homem, desde que reconhece a destruição que provoca e enxerga suas conseqüências para si próprio e sua sobrevivência, tende a tomar medidas para enfrentar a situação. É bem verdade, também, que são fartos os registros quanto aos insucessos de contenção dos próprios males: e eles ainda são evidentes no centro-oeste dos Estados Unidos com os pueblos e na América Central com civilizações pré- colombianas desaparecidas. Todos, possivelmente, lembram das menções dos livros de história aos deuses egípcios da antiguidade relacionados ao Nilo, o rio sagrado, mas talvez não saibam que tribos chinesas da antiguidade lutavam e guerreavam para obter o controle de territórios florestais, no caso não para explorar a madeira e colonizar os territórios mas para tê-los para caça e coleta de outros produtos. Na Grécia antiga, o filósofo Platão defendia o “reflorestamento” das colinas de Ática como forma de melhorar a vazão e a qualidade da água dos rios. Na Índia, o ex-guerreiro e mais tarde líder espiritual Ashoka abençoava territórios naturais declarando-os santificados e proibindo seu uso e destruição. Na Europa medieval os nobres estabeleceram suas reservas de caça e na Suíça, ainda antes de 1500, uma primeira área teve sua floresta declarada protegida pela comunidade e o acesso à coletividade franqueado. Posteriormente, no século dezoito, foram levadas a cabo na Polônia iniciativas consistentes de proteção do cavalo selvagem e do bisão Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 5 europeus que, possivelmente graças a tais iniciativas, sobreviveram em estado selvagem até fins do século dezenove, início do século vinte. Mas a noção moderna de área silvestre ou área protegida, bastante diferente do conceito atual, surgiu com a criação do primeiro parque nacional do mundo, nos Estados Unidos, no final do século dezenove. Exploradores da região do rio Yellowstone, no que é hoje o noroeste do estado de Wyoming (na confluência com Montana e Idaho), motivados pela beleza do local e considerando que inúmeras áreas com características semelhantes haviam sucumbido ao processo de colonização corrente à época, julgaram justo e necessário preservar aquela área para que as gerações futuras também pudessem desfrutar daquelas maravilhasem vez de destiná-la à colonização, que era o propósito daquela missão exploratória. A idéia iniciada em 1870 felizmente não parou em nenhuma gaveta e nem emperrou em nenhuma audiência pública; ao contrário, foi adiante e em 1º de março de 1872, o Congresso Americano aprovou e o presidente sancionou a ata de criação do Yellowstone National Park, proibindo lá qualquer exploração que alterasse as características naturais da área, então destinada à preservação, à recreação e ao benefício das gerações atuais e futuras. O fato, fabuloso por si só dada a idéia e época, ganhou rápida e expressiva divulgação tanto nos Estados Unidos como em outros países. No Brasil, por exemplo, inspirado nessa idéia, já em 1876 o engenheiro e político André Rebouças propôs a criação dos parques nacionais da Ilha do Bananal e de Sete Quedas, porém, não logrando sucesso. De qualquer forma, a idéia da proteção de áreas naturais como parques ou reservas se estendeu de forma relativamente rápida e, ainda no século dezenove, o Canadá (1885), a Nova Zelândia (1894), a Austrália, a África do Sul e o México (1898), estabeleceram seus primeiros parques e reservas. Depois, no início do século vinte, Suíça e Suécia foram os primeiros países europeus a aderir. Então, muitos outros países começaram a estabelecer áreas protegidas. Na América do Sul, a Argentina (1903), o Chile (1926), o Equador (1934) estabeleceram áreas protegidas antes que a Venezuela e o Brasil (1937) o fizessem. Como se pode notar, tomou mais de sessenta anos o tempo entre a proposição de André Rebouças e a efetiva criação do que é considerado oficialmente o primeiro parque nacional no Brasil, o Itatiaia, criado em 1937. Mas, a visão deste pioneiro acabou por Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 6 prevalecer e tanto Sete Quedas como Ilha do Bananal foram posteriormente protegidos como parques nacionais, o primeiro declarado em 1961 e o segundo, como o nome de Parque Nacional do Araguaia, em 1959. Sete Quedas, nunca implantado de fato a não ser na zona junto às cachoeiras, acabou por ser extinto em 1980 quando da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu e, depois, ressuscitado parcialmente em 1997 na sua porção insular no Rio Paraná como Parque Nacional da Ilha Grande, com 78.875 ha, ironicamente em decorrência de processo de discussão de compensação ambiental de outra obra com impacto na região: a ponte rodoviária de Porto Camargo, sobre o Rio Paraná. O Parque Nacional do Araguaia nasceu com cerca de 2.000.000 ha ocupando toda a Ilha do Bananal, passando por reduções em 1971, 1973 e 1980, quando ficou restrito aos atuais 557.726 ha da porção norte da ilha que, ainda recentemente, sofreu nova tentativa de amputação através de uma penada administrativa, judicialmente questionável, para ceder mais território aos índios da reserva ao sul, anexa. Cabe observar aqui que, curiosamente, como nos Estados Unidos o primeiro parque nacional brasileiro não é de fato o primeiro. Lá, o Yellowstone National Park, oficializado e reconhecido mundialmente como o primeiro parque, foi criado depois do Yosemite National Park que, estabelecido inicialmente pelo estado da Califórnia, foi depois federalizado e passou a ser o segundo parque nacional daquele País. No Brasil, o Parque Nacional do Itatiaia, criado em 1937 e indicado historicamente como o primeiro parque nacional do País, foi precedido pelo Parque Nacional do Iguaçu criado com esse mesmo nome em 1916 pelo governo do estado (província) do Paraná por influência de Santos Dumont e posteriormente doado ao governo federal e “re”-criado nesse nível de governo em 1939, ocasião em que passou a figurar como o segundo parque nacional brasileiro. Curiosidades históricas à parte, voltando ao processo de criação das primeiras áreas protegidas, faz-se necessário esclarecer que, não havendo inicialmente critérios padronizados para seleção de áreas, bem como para o manejo das mesmas, o desenvolvimento da idéia acabou tomando características distintas em cada país em que foi utilizada e convertendo-se em algo complexo. Em decorrência, em 1940 realizou-se em Washington (EUA) a Convenção sobre Proteção da Natureza e Preservação da Fauna e Flora, oportunidade em que primeiramente foram estabelecidas as definições de Parque Nacional, Reserva Nacional, Monumento Natural e Reserva Estritamente Silvestre. Na seqüência, em 1948, na França, cerca de 130 delegados de 18 países criaram a União Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 7 Internacional para a Proteção da Natureza (UIPN). Esta, em sua 7ª assembléia, realizada em 1956 na Escócia, passou a denominar-se União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), organização internacional que jogou importante papel nas definições conceituais em conservação da natureza a partir de então. Com o passar do tempo, entretanto, a preocupação com a conservação da natureza evoluiu, transcendendo o conceito original de áreas silvestres. Além de se preservar belezas cênicas para que gerações futuras possam delas desfrutar, as unidades de conservação têm hoje finalidades científicas, ecológicas e econômicas, além de estéticas, que podem ser exemplificadas por esta citação de 1970: "a busca de produtos químicos e medicinais entre milhares de espécies de fauna e flora selvagem permitirá importantes descobertas, entretanto, se ecossistemas representativos de todas as índoles não forem protegidos, quem sabe substâncias mais importantes que a penicilina ou o piretro não desapareçam da terra antes mesmo de suas descobertas"1. A União Mundial para a Conservação da Natureza, hoje União Mundial para a Natureza (mantida a sigla UICN), é instituição que, além ter desempenhado importante papel na conceituação e na orientação à criação de Unidades de Conservação (que nessa organização são chamadas áreas protegidas) em todo o mundo, acabou por também assistir vários países em desenvolvimento no planejamento e administração das mesmas. Hoje, por demais politizada, lamentavelmente a organização já não goza o mesmo prestígio que teve e muito menos tem a importância que já teve. O manejo de áreas silvestres, embora seja um campo de atuação técnico-científico bastante desenvolvido na América do Norte e na Europa, e mesmo em alguns países sul americanos e africanos, ainda que de forma bastante distinta nas diferentes regiões em função das distintas características territoriais, culturais, sócio-econômicas e políticas dos mesmos, só recentemente passou a receber tratamento minimamente significativo no Brasil, um país que, estima-se, seja detentor de um quinto da biodiversidade do planeta. Isto é devido aos confrontos históricos entre a ocupação territorial irracional e a necessidade lógica de conservação da natureza, onde os primeiros sempre triunfaram; além, obviamente, da pressão da opinião pública nacional e internacional. 1CAIN, A; SOKOLOV, V. & SMITH, F. La préservation des régions et des écosystémes naturels: la protection des espéces rares et menacées. In Utilisation et conservation de la biosphere. Paris, UNESCO, 1970. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná.Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 8 As diferentes categorias de áreas protegidas, assim como suas diferentes unidades criadas e estabelecidas no País, tiveram origem em várias leis e decretos, destacando-se o Código Florestal, a Lei de Proteção à Fauna e a Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, até que em 2000 foi aprovada e sancionada a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Esta lei, independentemente de algumas falhas e de inovações que tanto trazem prejuízos como benefícios às áreas, organizou em uma mesma estrutura lógica todas as questões relacionadas ao tema, o que é, sem dúvida, um avanço e uma vantagem. 3. ÁREAS SILVESTRES, ÁREAS PROTEGIDAS E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO 3.1. DEFINIÇÕES BÁSICAS No que se refere o termo áreas silvestres mais que um único entendimento é possível, entre eles a consideração simples e genérica de áreas naturais integrais ou primitivas. No caso brasileiro, tal entendimento implicaria simplesmente considerar os cerrados, os manguezais, a floresta atlântica, a caatinga ou o pantanal como áreas silvestres e, de fato, pelo menos em termos vernaculares tais ambientes o são. Outra interpretação é a de que as áreas silvestres constituem, de maneira geral, terrenos bem ou mal utilizados para fins urbanos, agropecuários ou industriais, constituídos por florestas, mangues, montanhas, campos, desertos ou pântanos, que podem render maiores benefícios ao homem se forem conservados no estado em que se encontram, sejam estes resultantes de processos naturais ou mesmo, em algum grau, do uso inadequado pelo homem (Müller, 1970). Entre um e outro, o primeiro e o segundo conceitos apresentados, destaca-se a destinação futura sobre o status presente, o que de fato interessa e orienta a conservação. Ou seja, tanto ou mais que o status presente é a destinação futura e as condições e restrições de uso de tais áreas que as condicionam como silvestres ao longo do tempo. Como Áreas silvestres, então, devem ser entendidas as áreas naturais, ou predominantemente naturais, em relação às quais sejam estabelecidas restrições de uso visando maiores benefícios à sociedade como um todo. A esta idéia genérica, internacionalmente adota-se a denominação área protegida e no Brasil a denominação Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 9 unidade de conservação, todavia sem haver sentido de verdadeira sinonímia. Embora na maioria dos países o termo área protegida signifique automaticamente o que aqui se entende por unidade de conservação, no Brasil estes termos apresentam distinções conceituais e legais importantes, fato que determina a necessidade de distingui-los com clareza. Aqui são consideradas áreas protegidas todas aquelas áreas assim identificadas por lei e pelo só efeito da lei, não sendo requerida maior especificação em ato legal particular, como é o caso das margens dos rios, dos topos dos morros, das encostas íngremes, das reservas legais das propriedades e também das próprias unidades de conservação nas suas diferentes categorias, bem como, de certa forma e segundo interpretação particular que requer análise cuidadosa, também das áreas indígenas. Como unidades de conservação, por sua vez, são legalmente consideradas “os espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regimes especiais de administração, aos quais se aplicam garantias adequadas de proteção”, conforme estabelece o SNUC2. Como se pode notar, área protegida é, no Brasil, um termo genérico, enquanto unidade de conservação uma condição específica. A primeira é uma condição genérica da lei, auto-aplicável, já a segunda requer ato próprio para seu estabelecimento, além de definição de limites e objetivos específicos. Dessa forma, ao passo que as unidades de conservação serão sempre, de um ponto de vista legal e técnico, áreas protegidas, estas não necessariamente constituem unidades de conservação. Um parque nacional ou uma reserva biológica são categorias de manejo de unidades de conservação e serão sempre áreas protegidas ao passo que uma área de preservação permanente qualquer (margem de rio, topo de morro, restinga, nascente, manguesal, etc) ou uma reserva legal de propriedade privada também serão áreas protegidas mas não constituirão unidades de conservação ou categorias específicas destas exceto se parte integrante de uma destas e apenas nessas condições, nunca isoladamente. 2 BRASIL. Lei No. 9.985 de18/07/2000. Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Brasília (DF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis / Diretoria de Ecossistemas. 2002. 35p. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 10 Resta assim, no contexto apresentado até aqui, mais um esclarecimento: a distinção clara entre unidades de conservação e áreas indígenas. Por que se pode dizer que ambas são áreas protegidas mas não unidades de conservação se ambas, para existir, requerem atos legais específicos de criação com identificação de objetivos e limites? Pela simples razão das unidades de conservação terem sido definidas em lei e serem criadas para, ainda que em diferentes graus, conservar a natureza, ao passo que as áreas indígenas foram definidas em lei e são criadas para garantir território de existência às populações indígenas, de forma que estas mantenham e reproduzam suas formas de vida por gerações. Assim, é absolutamente necessário ter claro que as unidades de conservação são para proteger a natureza (das ações humanas), ao passo que as áreas indígenas são para proteger as populações indígenas (que são humanas e mantém as imperfeições destes), não havendo relação direta de causa e efeito entre ambas, particularmente no longo prazo, exceto por casualidades. Em geral, é uma casualidade o próprio convívio harmônico entre populações indígenas (bem como aquelas ditas tradicionais) e a natureza, algo que não passa de mito decorrente do relativo baixo impacto que populações pequenas, esparsas, sem tecnologias agressivas e sem capital para adquiri- las impõem à natureza. E o “relativo baixo impacto”, neste caso, deve ser entendido na sua devida dimensão. Há centenas de artigos científicos, de autores respeitáveis, indicando severos impactos da caça tradicional sobre populações animais, sendo as extinções locais muito mais comuns do que se possa imaginar, o que não é nada ecológico ou conservacionista. Nesse contexto, deveria ser leitura obrigatória o famoso o artigo “A floresta vazia”3 relativo aos impactos da caça por populações indígenas e tradicionais na Amazônia. Assim, ainda que áreas indígenas, quando de grandes extensões territoriais, com baixas densidades populacionais e sem explorações clandestinas ilegais, possam contribuir para a conservação, é fundamental ter claro que elas não são criadas para esse fim e que, portanto, não se deve esperar tal resultado delas. Nessas condições, as áreas indígenas são também melhores para a conservação que extensas monoculturas de sojas, eucalipto ou cana-de-açúcar,ou ainda grandes extensões de pastagens, mas estão longe de 3 Redford, K. H. A floresta vazia. In: Valadares-Pádua, C. & Bodmer, R.E. Manejo e conservação de vida silvestre no Brasil. Brasília:MCT/CNPq, 1997, ps. 1-22 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 11 poderem ser consideradas efetivamente áreas de ou para conservação da natureza. Todavia, são legalmente áreas protegidas. A essência da distinção entre as unidades de conservação e as áreas protegidas, como até aqui visto, está na especificidade da criação em termos de ato legal, objetivos de conservação e definição de limites para as primeiras e na generalidade e mera decorrência da existência de uma lei para as segundas. Mas há mais! O termo unidade de conservação pressupõe um conjunto ou conjuntos delas, os sistemas, sendo cada uma delas elemento desses conjuntos, daí unidade de conservação. E este abordagem é um avanço conceitual brasileiro frente às demais realidades. Os sistemas de unidades de conservação, por sua vez, pressupõem mais que simples conjuntos de unidades de conservação. Tratam de conjuntos de unidades, como áreas territoriais, que, como um todo, devem ser capazes de viabilizar os objetivos nacionais (estaduais ou regionais) de conservação, que por sua vez demandam abordagens de manejo e proteção específicos. 3.2 OBJETIVOS DE CONSERVAÇÃO Os benefícios auferidos pelo homem, provenientes dessas áreas protegidas como unidades de conservação, de uma maneira geral, diferem daqueles diretamente ligados aos processos de produção econômica tradicional, principalmente pelo fato de serem, genericamente, auferidos de maneira indireta. Os recursos naturais (e eventualmente culturais), assim, devem contar com a necessária proteção, manejo e administração para assegurar sua contribuição ao desenvolvimento da sociedade. Considerando-se, ainda, a adoção de uma adequada política de meio ambiente e conservação da natureza, esta deve estar consubstanciada em objetivos de conservação claramente identificados e conceituados. Por exemplo: • manutenção da diversidade biológica natural – através da preservação de amostras significativas das diversas formações ecológicas, com a presença das espécies que lhe são inerentes em populações minimamente viáveis, objetivando manter os processos evolutivos naturais e a qualidade do ambiente; • conservação dos recursos genéticos – através da conservação da máxima variabilidade da flora e da fauna silvestres, bem como dos microorganismos, em termos Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 12 de proteção de populações e ocorrências geográficas naturais, e ainda através da preservação das espécies raras, endêmicas e em risco de extinção, com finalidades evolutivas, ecológicas e científicas; • promoção da pesquisa científica – através da disponibilização para estudos de espaços onde a natureza continue sua evolução e seus processos naturais, e pela facilitação de meios que viabilizem, além da pesquisa, o monitoramento ambiental; • promoção da educação ambiental – através da viabilização de condições e oportunidades educativas formais e informais, a estudantes e professores dos mais diversos níveis, preferencialmente em conexão com processos de investigação e monitoramento ambientais; • conservação dos recursos hídricos – através da manutenção das condições hidrográficas naturais em termos de fluxo e qualidade da água para abastecimento público, recreação, irrigação, movimentação de turbinas hidrelétricas e processos industriais, tomando-se a bacia hidrográfica como unidade de planejamento; • proteção de investimentos – através da manutenção da cobertura vegetal nativa para proteção dos solos contra a erosão e dos rios e represas contra o assoreamento, mantendo regular a vazão destes e evitando alagamentos e deslizamentos que põem em risco obras diversas; • proteção e produção de fauna silvestre – através da manutenção e manejo dos recursos pesqueiros e da fauna silvestre como base para atividades de subsistência, comerciais, industriais, turísticas e esportivas; • promoção de recreação ao ar livre e ecoturismo – através da viabilização de condições para recreação ao ar livre de forma saudável, tanto para visitantes como para residentes, promovendo dessa forma o turismo baseado na natureza e nas características culturais do país ou da região; • promoção do manejo sustentável dos recursos florestais – através da manutenção e manejo de áreas florestais com métodos flexíveis de utilização, de forma a assegurar os processos naturais de sucessão e a renovação destes ecossistemas; Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 13 • conservação de belezas cênicas – através da proteção e manejo de áreas naturais ou alteradas, de belezas cênicas significativas, mantidas a um nível sustentável de utilização visando condições para usos recreativos e turísticos; • proteção de sítios históricos e/ou culturais – através da preservação de sítios e estruturas culturais, históricas, arqueológicas e paleontológicas para investigação científica do patrimônio cultural e histórico do país, para conhecimento público e para o desenvolvimento cívico da nação; • manutenção da qualidade ambiental – através do planejamento do uso e ocupação da terra e da proteção e manejo das paisagens para assegurar a qualidade ambiental próximo a cidades, zonas recreativas e turísticas e/ou vias públicas; • flexibilização de tecnologia – através da proteção de recursos naturais contra processos atuais inadequados de utilização e guarda ou reserva dos mesmos para processos futuros mais adequados, a serem desenvolvidos pela ciência; • promoção do desenvolvimento socioeconômico regional – através da organização das ações de desenvolvimento socioeconomico, rurais e urbanas, e da dinamização das economias locais com a geração de oportunidades estáveis de trabalho e renda. 3.3. CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO Em geral, são vários os benefícios esperados da criação e estabelecimento de unidades de conservação, alguns deles incompatíveis entre si, o que traz a necessidade de unidades distintas para atingi-los como conjunto. Ou seja, dada à multiplicidade dos objetivos de conservação, há que se considerar tipos distintos de unidades de conservação, denominados categorias de manejo, cada uma das quais atendendo prioritariamente a determinados objetivos, que poderão ter maior ou menor significado para a preservação dos ecossistemas naturais. Assim, o enquadramento das áreas protegidas com base nos objetivos de sua própria existência define, portanto, as categorias das unidades de conservação. Estes objetivos que definem as categorias de manejo das unidades de conservação, podem ser definidos como primários e secundários. São considerados primários aqueles que prioritariamente definem as categorias e secundários aqueles que são subprodutos Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba,Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 14 da própria existência das unidades de conservação. Assim, por exemplo, o objetivo primário de “conservação de amostras representativas dos ecossistemas locais”, em geral, trás como objetivo secundário a “conservação dos recursos hídricos”; afinal, seria impossível proteger de fato ecossistemas sem que isso implicasse a conservação das bacias hidrográficas, ainda que este não fosse objetivo primário da unidade ou da categoria. As categorias de manejo de unidades de conservação (áreas protegidas, internacionalmente), em função dos objetivos que contemplam, têm adquirido as mais variadas conceituações, diferindo entre os países e entre os próprios autores que estudam áreas silvestres. É possível, entretanto, de acordo com a bibliografia disponível, identificar as categorias gerais de manejo de áreas silvestres, e suas conceituações, conforme se segue. Reserva Científica, Reserva Biológica ou Estação Ecológica - tem como objetivo de manejo a preservação de áreas naturais estáveis para sua prórpia evolução e para finalidades científicas, de monitoramento ambiental e, eventualmente, de educação ambiental; o tamanho da área varia segundo as características do ecossistema ou ente biológico que se quer preservar. Parque Nacional (Estadual ou Provincial) - tem como objetivos de manejo os usos científicos, recreativos, culturais e educativos, combinados com a preservação integral do ambiente natural; normalmente requerendo áreas extensas, ambientes primitivos e pelo menos uma característica cênica especial. Monumento Natural e Monumento Cultural - têm como objetivos de manejo a proteção e preservação de, respectivamente, características naturais e/ou culturais excepcionais, de significado nacional (ou estadual), proporcionando oportunidades para educação ambiental, recreação e pesquisas; o tamanho não constitui fator significativo, dependendo do recurso natural /cultural em foco. Santuário ou Refúgio de Vida Silvestre - tem como objetivo de manejo assegurar a sobrevivência de espécies silvestres e de seus habitats, proporcionando ainda, de maneira limitada, usos científicos, educativos e recreativos; o tamanho da área está condicionado às características das espécies e/ou do habitat a proteger, podendo, inclusive, ter caráter de efetividade sazonal. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 15 Floresta Nacional (Estadual ou Provincial) - tem por objetivos de manejo a produção de madeira, água e pastagem sob a vigência do conceito de uso múltiplo e rendimento sustentado, devendo assim proporcionar também oportunidades para recreação, educação ambiental, caça, pesca, investigação científica e monitoramento ambiental. Reserva de Fauna - tem por objetivo de manejo manter um rendimento ótimo de proteínas ou produtos da vida silvestre, proporcionando, ainda, oportunidades para contemplação da fauna, investigação e educação; alguns autores denominam-na de Área de Utilização da Fauna, podendo ser enquadrados nesta categoria os chamados Parques de Caça originalmente previstos na legislação brasileira (lei de proteção à fauna). Rio Cênico - tem por objetivo de manejo a manutenção de parte ou de todo um rio, suas margens e panoramas em estado natural ou seminatural, proporcionando usos recreativo e educativo; o tamanho da área está, acima de tudo, relacionado à topografia e características da rede hidrográfica objeto de proteção. Por vezes pode se confundir com as idéias de monumento natural/cultural ou área de uso limitado. Estrada Parque - tem por objetivo de manejo manter parte ou toda uma estrada ou rodovia a sua paisagem em estado natural ou seminatural, proporcionando usos recreativo e educativo; o tamanho da área, similarmente ao Rio Cênico, está relacionado à topografia e características da rede viária objeto de proteção e, também pode confundir-se com as idéias de monumento natural/cultural ou área de uso limitado. Áreas de Proteção e/ou Uso Limitado - têm por objetivos de manejo manter o equilíbrio ecológico regional, proteger e melhorar a qualidade de água através da manutenção dos regimes hídricos, proteger valores estéticos e paisagísticos, entre outros, pelo estabelecimento de normas de utilização das áreas de propriedade privada, com ou sem benefícios financeiros diretos a estes. Normalmente se aplicam a regiões relativamente extensas e são comuns os termos Área de Proteção Ambiental (Brasil) e Parque Natural (Alemanha, Espanha, Portugal). Reserva de Recursos - tem por objetivo de manejo proteger os valores dos recursos naturais para uso futuro e impedir ou reter atividades de desenvolvimento até que a área possa ser enquadrada em outra categoria ou utilizada para outros fins; basicamente, constituem grandes extensões territoriais não ocupadas às quais se aplicam moratórias temporárias para evitar a colonização e exploração. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 16 Reserva da Biosfera - tem por objetivos de manejo a preservação de amostras dos biomas naturais e exemplos de uso harmonioso da terra, sempre incluindo unidades de conservação de proteção integral como zonas núcleo, tais como parques nacionais ou reservas biológicas; como categoria de manejo constitui, na prática, um reconhecimento internacional sobre um hipotético uso racional do solo em uma dada região. Sítio do Patrimônio Natural ou Cultural Mundial - tem por objetivo de manejo preservar exemplos significativos da evolução da terra, fenômenos naturais, formações de grande beleza cênica, evolução biológica do homem, entre outros; assim como na situação anterior, como categoria de manejo constitui, na prática, reconhecimento internacional mas difere daquela por ter caráter mais pontual e menos regional. 4. CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NO BRASIL 4.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO RECENTES Considerada a conceituação internacional e, basicamente, aquela adotada pela UICN - União Internacional para a Conservação da Natureza, observa-se que até 2000 o país contava com uma situação relativamente confusa quanto ao conjunto de categorias de manejo conceitual e legalmente instituídas. Tanto existiam categorias que, por profunda semelhança de objetivos, se equivaliam, como categorias sem definição clara de objetivos de manejo. Também, categorias de manejo fundamentais ainda não haviam sido instituídas, ao passo que outras, já instituídas legalmente há vários anos, não contavam com uma única unidade criada. Esta situação, verificada ao nível do governo federal apresentava-se ainda mais diversificada e complexa, para não dizer simplesmente confusa, ao nível dos governos estaduais, onde unidades de conservação de várias "categorias", equivalentes ou não àquelas federais, foram criadas e estabelecidas, requerendo tratamento diferenciado, pelo menos em uma análise preliminar. Até 1981 existiam no país, basicamente, três categorias de manejo legalmente instituídas e com unidades criadas ou implantadas no território nacional: Parque Nacional (estadual e municipal), Reserva Biológica (federal, estadual e municipal) e Floresta Nacional (estadual e municipal). Paralelamente a estas categorias com unidades criadas eimplantadas, legalmente estava instituída a categoria Parque de Caça que, entretanto, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 17 nunca contou com sequer uma unidade criada. A partir de então foram instituídas as categorias de manejo Estação Ecológica, Área de Proteção Ambiental (APA) e Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), todas possíveis de estabelecimento nos três níveis de governo, que passaram a ter unidades criadas e implantadas. Dessas seis categorias instituídas e com unidades criadas em todo o país, duas delas, se não se equivaliam, tinham profunda semelhança em termos de objetivos de manejo: Reserva Biológica e Estação Ecológica. Por outro lado, categorias de manejo fundamentais, como Monumento Natural, Santuário ou Refúgio da Vida Silvestre e Reserva de Fauna, ainda não haviam sido legal e nem praticamente instituídas. Havia, ainda, categorias com denominações equivalentes, sem conceituações claras e sem objetivos de manejo bem definido, constituindo exemplos as Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIEs) e as Reservas Ecológicas, estas últimas totalmente equivalentes às áreas de preservação permanente previstas no Código Florestal (Lei 4.771, de 15/09/65) e basicamente uma nova denominação, equivocada por certo, para as áreas enquadráveis em tal condição. Ainda, uma outra categoria, a ARIE, ainda que mal conceituada e sem objetivos claramente definidos, podia assemelhar-se às Reservas Biológicas e Estações Ecológicas. Também alguns "instrumentos legais" que instituem restrições ao uso do solo e à ocupação territorial foram confundidos com unidades de conservação devido às suas semelhanças com as Áreas de Proteção Ambiental (APA). Entre estes estão: Área Especial de Interesse Turístico (AEIT), Local de Interesse Turístico (LIT) e Áreas Naturais Tombadas (Tombamento). A síntese destas observações é evidenciada no Quadro 1, a seguir, onde são apresentados os objetivos de manejo, características básicas e fundamentação legal de cada categoria ou "instrumento" legal citado. A situação conceitual e jurídica das categorias de unidades de conservação ao nível estadual, por sua vez, era ainda mais complexa antes da promulgação do SNUC. Além das categorias equivalentes àquelas federais, várias outras haviam sido instituídas, com ou sem base legal apropriada. Algumas pela inadequada interpretação da legislação vigente e outras pela aparente convicção de que pelo mesmo ato legal da criação de uma unidade de conservação poder-se-ia também criar sua denominação em termos de "categoria de manejo". Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 18 Alguns exemplos de tais inconsistências são: a) Reserva Biológica Estadual, Reserva Estadual e Estação Ecológica Estadual, por seus objetivos de manejo, poderiam constituir uma única categoria, mas coexistiam e, possivelmente, ainda coexistem como categorias diferenciadas; b) Reserva Florestal comumente seria uma categoria com objetivos semelhantes àqueles da Reserva Biológica, não sendo raro, porém, ser manejada segundo o conceito de Reserva de Recursos (que caráter temporário e é válida até se definir uma categoria apropriada; trata-se de uma forma de interdição ou moratória de uso aplicada a determinada zona) ou com objetivos mistos de Floresta Estadual e Reserva Biológica; c) Parque Florestal, normalmente, constitui uma denominação equivocada de Parque Estadual, mas também, às vezes, apresenta objetivos de manejo próximos às de Floresta Estadual, contendo reflorestamentos e viveiros e de produção de mudas, estações de piscicultura, etc; d) Parque Ecológico, sem definição de objetivos de manejo e conceituação definidos, tanto podia constituir um Parque Estadual como uma Estação Ecológica ou, por conseguinte, uma Reserva Biológica; Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 19 QUADRO 1: CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E INSTRUMENTOS LEGAIS DE PROTEÇÃO DE ÁREAS NATURAIS ATEGORIAS DE ANEJO SOS ENEFÍCIOS ROPRIEDADE OSSE DA TERRA REA EGISLAÇÃO ÁSICA N arque Nacional diretos oder blico Área Natural, pouco ou nada alterada ecologicamente representativa e relativamente extensa (>1.000) Lei 4.771 de 15/09/65 Decreto 84.017 de 21/09/79 RB Reserva Biológica Indiretos Poder Público Área Natural intocada cuja superfície varia em função do ecossistema ou ente biológico de valor científico a preservar Lei 4.771 de 15/09/65 Lei 5.197 de 28/02/67 E Estação Ecológica diretos oder Público Idem reserva biológica permitindo alteração antrópica em até 10% da área i 6.902 de 27/04/81 i 6.938 de 31/08/81 N onumento Natural u Nacional) diretos oder Público Áreas com valores naturais ou paisagísticos únicos e superfície variável com as características do ambiente a proteger ecreto 58.054 de 23/03/65 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 20 E eserva Ecológica diretos ivado e/ou oder Público Pode ter as mesmas características das reservas biológicas e estações ecológicas ou simplesmente constituírem áreas de preservação conforme artigo 2º da Lei 4.771 i 6.938 de 31/08/81- ol. Nac. Meio ambiente ecreto 89.336 de 31/01/84 ONA oresta Nacional retos e diretos oder Público Área Normalmente vasta e coberta principalmente por florestas manejáveis, produtivas onde se permitem ação humana direta com objetivos de usos múltiplos. i 4.771 de 15/09/65 C rque de Caça retos e diretos oder Público Área com habitats e populações de fauna silvestre manejáveis, com finalidades esportivas, recreativas e/ou econômicas cujo tamanho é variável em função do habitat e populações a manejar. i 5.197 de 28/02/67 CONTINUA Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 21 CONTINUAÇÃO DO QUADRO 1 CATEGORIAS DE ANEJO SOS ENEFÍCIOS ROPRIEDADE OSSE DA TERRA REA EGISLAÇÃO ÁSICA RIE ea de Relevante teresse Ecológico diretos Áreas de até 5.000 ha com pouca ou nenhuma ocupação humana que abrigue características naturais extraordinárias e/ou exemplares raros de biota regional. Pode integrar uma APA i 6.938 de 31/08/81 ecreto 89.336 de 31/01/84 EIT ea Especial de teresse Turístico retos e diretos ivado e/ou oder Público Áreas com bens históricos ou culturais artísticos ou naturais de importância a atividades turísticas recreativas, sobre as quais se estabelece diretrizes de uso e ocupação i 6.513 de 20/12/77 ecreto 86.176 de 06/06/81OMBAMENTO retos e diretos ivado e/ou oder Público Áreas com característica e tamanho variável em função do bem que se quer proteger. O tombamento pode incidir sobre áreas definidas como unidades de conservação ecreto 25 de 30/11/37 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 22 PPN eserva Particular o Patrimônio atural direto ivado Área Natural ou pouco alterada, de tamanho variável, cuja preservação, por iniciativa do proprietário, é reconhecido pelo IBAMA. Há isenção de ITR após o cadastro da área RPPN ecreto 98.914 de 30/01/90 ecreto 1922 de 05/06/1996 Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 23 e) Existiam também referências a APE - Área de Proteção Especial, ASPE - Área sob Proteção Especial e AEP - Área Especial de Proteção, que podiam apresentar os mesmos objetivos das APAs - Áreas de Proteção Ambiental (estadual) ou simplesmente constituir uma área protegida e não uma unidade de conservação. A falta de identificação clara de objetivos de manejo sempre resultou em denominações de categorias que expressam, com freqüência, objetivos que as unidades criadas não são capazes de cumprir, tanto pela superfície de área abrangida como pelas características dos ambientes protegidos. Mas além das categorias de unidades de conservação "oficiais" existiam outras, vinculadas a instituições de pesquisa e/ou ensino, assim como a empresas estatais ou privadas, em geral sem qualquer adequações a nomenclatura e conceitos vigentes. Muitas destas unidades, tanto pelas características dos recursos como pela superfície de área protegida, eram e continuam sendo de grande significado à conservação da natureza. Entretanto, a falta de ações e incentivos oficiais a essas iniciativas levava a um completo desconhecimento dessas áreas. Mesmo assim, alguns exemplos significativos já podiam ser considerados: a) Áreas protegidas mantidas por empresas estatais da área de eletricidade, como Tucuruí (Eletronorte/Pará), Guaricana (Copel/Paraná) e Itaipu (Itaipu Binacional/Paraná); b) Áreas de Pesquisa de instituições como a Reserva Ducke (INPA), Reserva do CPAC (EMBRAPA), Reserva Ecológica do IBGE no Distrito Federal (IBGE), Fazenda Água Limpa (UNB), Reserva da Boracéia (USP), Fazenda São João do Triunfo (UFPR), Fazenda Lageado (UNESP) e Estação Ecológica de Tapacurá (UFRPE); e d) Áreas de preservação ou reservas florestais de empresas de mineração, reflorestamento ou outras, como as Reservas Florestais de Linhares (ES) e Carajás (PA) da Companhia do Vale do Rio Doce, ou Parque Samuel Klabin (PR), da Indústria Klabin de Papel e Celulose do Paraná. Todos estes tipos de áreas precisavam, no conjunto ou em grupos especificamente estabelecidos segundo objetivos de manejo e conservação, de definição conceitual adequada e de garantias legais para sua existência e administração, de maneira que pudessem integrar, complementarmente, o sistema de unidades de conservação do País. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 24 A constatação de tal situação levou o IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e a SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente, até então instituições isoladas e concorrentes, a procurar uma solução conceitual conjunta, através de uma terceira instituição, independente, a organização não-governamental FUNATURA - Fundação Pró- Natureza, através da qual se iniciaram os estudos para unificação do sistema, independentemente de partilha da sua administração. Com o IBDF (Instituto de Desenvolvimento Florestal), a SEMA (Secretaria Especial do Meio Ambiente), a SUDEP (Superintendência do Desenvolvimento da Pesca) e a SUDHEVEA (Superintendência de Desenvolvimento da Borracha) incorporados em uma única instituição, o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), iniciou-se a adoção gradativa de uma política nacional única para a conservação da natureza. Assim, em 1992 a base da conceituação definida pela FUNATURA (1989), passou a tramitar no Congresso Nacional (Projeto de Lei nº 2892/92), como proposta oficial que, bastante alterada, levou à Lei nº 9985/00 que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Todavia, antes mesmo da aprovação desta lei no Congresso Nacional e sua sanção pelo Presidente da República, a simples instituição do IBAMA como única organização ambiental federal fez com que muitos problemas começassem a ter solução. Primeiramente reduziram-se as criações de unidades de conservação mal conceituadas como as Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico, e mesmo, algumas vezes foram evitas das as criações de Estações Ecológicas. Um outro grande ganho foi a instituição, através de decreto, também antes da promulgação do SNUC, do conceito de Reserva Particular do Patrimônio Natural, uma solução para o reconhecimento das áreas privadas protegidas hoje já bastante conhecida e utilizada. 4.2. OBJETIVOS NACIONAIS DE CONSERVAÇÃO E CATEGORIAS DE MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO A Lei nº 9985/2000 estabelece para o SNUC, Sistema Nacional de Unidades de Conservação, os seguintes objetivos: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 25 I – contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas águas jurisdicionais; II – proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional; III – contribuir para preservação e a restauração da diversidade dos ecossistemas naturais; IV – promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais; V – promover a utilização do princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento; VI – proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica; VII – proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural; VIII – proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos; IX – recuperar ou restaurar ecossistemas degradados; X – proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental; XI – valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; XII – favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; e XIII – proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente. As diferentes categorias de manejo de unidades de conservação definidas pelo SNUC para o alcance ordenado dos objetivos estabelecidos, em função do grau de proteção, dos objetivos específicos de manejo e das possibilidades de uso dos recursos naturais contidos nas áreas, foramagrupadas em dois grupos bastante distintos: áreas de proteção integral e áreas de manejo sustentável. Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 26 As categorias do primeiro grupo permitem apenas o uso indireto dos recursos naturais enquanto as do segundo grupo permitem a utilização direta, desde que sustentável, dos recursos naturais. Em termos de conservação da natureza, o grupo mais efetivo é aquele das áreas de proteção integral, mais restritiva em termos de uso, que visam preservar os processos naturais e a diversidade genética com a menor interferência antrópica possível. Nas categorias de manejo de unidades de conservação deste grupo, que compreende Reserva Biológica, Estação Ecológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre, é admitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, devendo o manejo limitar-se ao mínimo indispensável às suas próprias finalidades. O outro grupo, obedecendo a uma concepção distinta, engloba as Áreas de Manejo Sustentável, procura conciliar, na medida do possível, o uso direto dos recursos naturais com a preservação da diversidade genética e dos recursos naturais com, limitando-se a alteração antrópica dos ecossistemas a um nível considerado compatível com a sobrevivência das comunidades vegetais, animais e de microorganismos. Nas categorias de manejo de unidades de conservação desse grupo, que compreende oficialmente Floresta Nacional, Reserva de Fauna, Reserva Extrativista, Reserva de Desenvolvimento Sustentável, Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico e Reserva Particular do Patrimônio Natural, a inevitável alteração dos ecossistemas naturais e o impacto das ações humanas devem ser limitados e continuamente monitorados para que cumpram com seus objetivos de conservação além daqueles socioeconomicos. Para um claro entendimento do exposto, por uso direto deve ser entendido aquele uso que, de maneira geral, implica a posse, transporte, transformação e consumo dos recursos objeto de exploração. Como exemplo poder-se-ia considerar uma floresta cujo uso direto seria a extração madeireira ou a coleta de castanhas, ambos produtos que, apropriados, transportados, transformados (ou transformados e transportados) e comercializados por alguém (figura física ou jurídica, individual ou coletiva), na ponta do processo acaba sendo consumido e tendo encerrado seu ciclo de uso. Por sua vez, por uso indireto, deve ser entendido aquele uso que permite a obtenção de benefícios específicos sem a necessária posse, transporte e transformação do recurso, o que Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 27 incorpora uma outra lógica, na qual a idéia de benefício difere de e é mais que de produto físico consumível. Neste caso, usando-se como exemplo, novamente, uma floresta, os benefícios seriam água em quantidade e qualidade ou espaço de qualidade para recreação e turismo, que só podem ser obtidos através da manutenção da floresta e não da sua exploração madeireira ou da extração de castanhas. Em ambos casos, todavia, matéria prima decorrente do uso direto e benefícios de uso indireto têm valor econômico e são “produtos” comercializáveis. Com a Lei 9985/00 iniciou-se uma nova era para a criação, planejamento, manejo e reconhecimento público das unidades de conservação no Brasil. Em termos filosóficos, científicos e técnicos razoavelmente longe do ideal, ou mesmo do desejável, o SNUC foi o resultado possível da discussão entre uma minoria de especialistas não políticos e uma maioria leiga politicamente atuante. Algumas das inconsistências serão apresentadas junto com as definições conceituais a seguir. De qualquer forma, além de ser a lei que certamente vai regular o assunto por muito tempo, mesmo com as falhas que tem, é melhor que a legislação anterior, composta de diversas peças legais esparsas e algumas vezes conflitantes, pois ao incorporar em uma única peça legal toda a regulamentação do tema, evita esses problemas. Também por ser mais moderna em alguns outros aspectos. 4.2.1. Reserva Biológica e Estação Ecológica Compreendem áreas terrestres e/ou marinhas, essencialmente não alteradas pelas atividades humanas, contendo espécies ou ecossistemas de relevante valor científico, nas quais há proteção integral da biota e onde os processos ecológicos e geológicos naturais devem prosseguir sem interferência humana direta, excetuadas, em casos excepcionais, medidas transitórias de recuperação de seus ecossistemas alterados. Freqüentemente contêm espécies ou ecossistemas frágeis, incluem áreas importantes de diversidade biológica ou geológica, ou são particularmente significativas para a conservação de recursos genéticos. Seu tamanho é determinado, em cada caso, pelas finalidades específicas às quais a reserva se destina, de acordo com as características do(s) ecossistema(s) a proteger. Não comportam atividades turísticas ou recreativas. O acesso público é limitado a ações educativas controladas e casos excepcionais especificamente autorizados, que concorram Fundação O Boticário de Proteção à Natureza Centro de Capacitação em Conservação da Biodiversidade – Reserva Natural Salto Morato, Guaraqueçaba, Paraná. Curso de Planejamento e Manejo de Áreas Naturais Protegidas – 08 a 22 de junho de 2008 28 para as finalidades da reserva. De uma maneira geral, não são cabíveis providências para interpretação ambiental, embora seja admissível um centro de visitantes situado em área periférica, que não interfira nas atividades às quais a reserva é destinada. Os objetivos de manejo primários são: preservar a diversidade biológica e os ecossistemas em estado de evolução livre, com a menor interferência direta ou indireta do homem; propiciar a obtenção de conhecimentos, mediante pesquisas e estudos de caráter biológico ou ecológico; proteger espécies raras, endêmicas, vulneráveis ou em perigo de extinção, essencialmente sem manejo dos ecossistemas; preservar os recursos da biota; e contribuir para o monitoramento ambiental, fornecendo parâmetros relativos a áreas pouco ou nada afetadas por ações antrópicas. Como objetivos de manejo secundários devem ser consideradas a proteção de bacias e de recursos hídricos, desde que as características geográficas o permitam e quando compatíveis com os objetivos primários; e a educação ambiental, em grau limitado e adequado às finalidades da unidade de conservação. Os critérios básicos para seleção da área são a preservação da diversidade genética, em condições naturais, e o interesse para fins científicos. Se a área contiver belezas cênicas notáveis ou características excepcionais para propiciar turismo ecológico e educação ambiental em larga escala, deve ser examinada a conveniência de sua seleção como Parque Nacional, Estadual ou Natural Municipal. Esta categoria compreende áreas de domínio público sob administração governamental (federal, estadual ou municipal). Estes princípios, para efeitos práticos, encerram os conceitos de Reserva Biológica e Estação Ecológica que, embora semelhantes de um ponto de vista técnico-conceitual, apresentam uma importante diferença legal: na Estação Ecológica poderão ser autorizadas pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior que aquele
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