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Pretendemos agora realizar uma análise crítica do filme utilizando como base o Existencialismo Sartreano no que diz respeito à concepção de que o homem define a si mesmo, questionando a veracidade desta sentença a partir da obra cinematográfica escolhida. No texto O que é existencialismo, de João da Penha, Sartre afirma que “O homem, será antes de mais nada, o que tiver projetado ser. Se, no homem a existência precede a essência, ele será aquilo que fizer de sua vida, não havendo nada, além dele mesmo, de sua vontade, que determine seu destino” (1982). O filme trabalha com uma narrativa de superação, onde o protagonista, por esforço próprio e persistência, consegue mudar sua condição de vida. Inicialmente, poderíamos associar o conteúdo abordado pelo filme com a premissa de Sartre, Chris Gardner seria um exemplo de existencialista Sartreano por, através de suas escolhas, determinar aquilo que deseja ser, contrariando seu contexto de vida e determinando seu destino a partir do que almejava para si. Entretanto, um olhar mais atento é capaz de perceber o discurso meritocrático contido no filme, que distorce a realidade por vender uma ideia de que apenas o esforço próprio e dedicação são suficientes para se obter os ideais desejados. Tal discurso serve apenas para camuflar as relações de dominação e exploração sociais existentes, responsabilizando o sujeito como único encarregado por sua condição, isentando a influência do contexto histórico e social vivido por ele. O título do filme também é bastante emblemático, o que nos leva a entender que a felicidade não é inerente à existência de todos os sujeitos, mas que precisa ser conquistada. E quem são esses sujeitos? São como o protagonista, pobre, negro e margializado, submetidos a uma condição de opressão, tendo seus direitos negados por um discurso discriminatório camuflado de que tudo decorre de empenho suficiente. A forma de organização de mundo é desleal e extremamente hierarquizada, a mesma sociedade que exige que o sujeito faça por merecer, é a mesma que não oferece condições para isso, que impõe inúmeras adversidades e, assim, mantém as desigualdades existentes. São essas estruturas perversas que colocam o sujeito em uma posição de impotência, impedindo que ele possa se mobilizar. Essa visão de mundo, pautada na Necropolítica, transformam em normalidade as injustiças sociais, submetendo alguns grupos sociais - que destoam do sujeito norma - à uma política de morte. Porém, para que essa morte seja legítima e não cause remorso, a existência do Outro é transformada em não-humana, é dessa maneira que a meritocracia constrói sua narrativa, alegando uma suposta equidade entre as pessoas, onde todos teriam as mesmas oportunidades, sendo assim, quem quer é capaz de mudar sua condição de vida, enquanto quem não consegue seria por uma suposta falta de dedicação. Portanto, após tal análise, questionamos a veracidade da máxima proposta por Sartre, por entendermos que a concepção de mérito é um dos instrumentos de controle social, que mantém as relações de poder das classes dominantes, e por entendermos que a posição que o sujeito ocupa na sociedade não depende de fatores individuais, mas sim da sua origem social e pela forma como o mundo é organizado. PENHA, J. Sartre. In: PENHA, J. O que é existencialismo?. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. p. 37-78. Disponível em: https://www.academia.edu/21594332/O_que_%C3%A9_Existencialismo_jo%C3%A3o_da_p enha. Acesso em: 27 jul. 2022. https://www.academia.edu/21594332/O_que_%C3%A9_Existencialismo_jo%C3%A3o_da_penha https://www.academia.edu/21594332/O_que_%C3%A9_Existencialismo_jo%C3%A3o_da_penha
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