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Carla Bertelli – 4° Período 1 – Revisar a Morfofisiologia do Esôfago 2 – Compreender a Fisiopatologia, etiologia e epidemiologia da doença do Refluxo Gastroesofágico, suas manifestações clínicas e consequências no adulto e na criança. 3 – Entender como é feito o diagnóstico do Refluxo GE. 4 – Analisar o tratamento farmacodinâmico da Síndrome Dispéptica (mecanismo de ação, efeitos colaterais) É um tubo muscular colapsante que mede aproximadamente 25cm de comprimento, situado posteriormente à traqueia. Se inicia na extremidade inferior da parte laríngea da faringe e passa pelo mediastino, anteriormente à coluna vertebral. Atravessa o diafragma por uma abertura chamada de Hiato Esofágico e termina na parte superior do estômago, unindo-se ao óstio cárdico que se fecha a fim de evitar regurgitação dos sucos estomacais ácidos para o esôfago. A única evidência anatômica da presença de um esfíncter nessa região é um espessamento mínimo do músculo liso na parede. As margens do Hiato Esofágico também ajudam a evitar regurgitação. Histologicamente a parede do esôfago contém todas as quatro camadas do tubo digestório: mucosa, submucosa, muscular externa e adventícia. A túnica mucosa consiste em um epitélio pavimentoso estratificado não queratinizado, lâmina própria (tecido conjuntivo areolar) e lâmina muscular da mucosa (músculo liso). Próximo ao estômago, essa túnica passa a ter também glândulas mucosas. O Epitélio Pavimento Estratificado não queratinizado propicia uma proteção considerável quanto a abrasão e desgastes provenientes das partículas de alimentos e secreções deglutidas. A tela submucosa contém tecido conjuntivo areolar, vasos sanguíneos e glândulas mucosas (alveolares, que secretam muco lubrificante). A lâmina muscular da mucosa do terço superior do esôfago é músculo esquelético, a do terço intermediário é musculo esquelético e músculo liso, e a do terço inferior é músculo liso. Em cada extremidade do esôfago a lâmina muscular da mucosa é levemente mais proeminente e forma dois esfíncteres – o esfíncter superior do esôfago (que consiste em músculo esquelético) e o esfíncter inferior do esôfago, que consiste em músculo liso. A camada mais superficial é a túnica adventícia, onde o tecido areolar dessa camada não é recoberto por mesotélio. Fixa o esôfago a estruturas adjacentes. A fisiologia do esôfago consiste em produzir muco e transportar o alimento para o estômago. Ele não Carla Bertelli – 4° Período produz enzimas digestivas e não participa da absorção. TORTORA, Gerard J.. Principios de anatomia e fisiologia. 14 ed. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia E Fisiologia. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009 O refluxo gastroesofágico (RGE) é o deslocamento, sem esforço, do conteúdo gástrico do estômago para o esôfago. Ocorre em todas as pessoas e várias vezes durante o dia, desde que não haja sintomas ou sinais de lesão na mucosa, podendo, assim, ser considerado um processo fisiológico. Ou seja, o RGE é considerado uma condição na qual o refluxo do conteúdo gástrico causa sintomas que afetam o bem-estar do paciente e/ou complicações. O refluxo gastroesofágico normalmente surge devido a alterações anatômicas ou no funcionamento do esfíncter que está presente entre o esôfago e o estômago e que tem como função permitir a entrada do alimento no estômago e impedir o seu retorno A passagem do conteúdo gástrico para o esôfago (refluxo gastroesofágico [RGE]) é um processo fisiológico normal que ocorre em lactentes, crianças e adultos saudáveis. A maioria dos episódios é breve e não causa sintomas, lesão esofágica ou outras complicações. Em contraste, a doença do RGE (DRGE) ocorre quando os episódios de refluxo estão associados a sintomas ou complicações. O tipo de sintomas e complicações da DRGE em crianças variam com a idade da criança. Atualmente a Doença do Refluxo Gastroesofágico é considerada um problema de saúde devido a sua prevalência e evolução crônica. Dados epidemiológicos baseados na presença de pirose como indicador da DRGE revelam que 15 a 44% dos adultos norte-americanos têm este sintoma pelo menos uma vez por mês, e 14 a 17,8%, diariamente. No Brasil, foi realizado um estudo populacional que avaliou a frequência de pirose, entrevistando quase 14.000 pessoas em 22 cidades, que conclui que 12% da população urbana tem a DRGE. Ela afeta todos os grupos etários, mas os idosos procuram tratamento mais frequentemente. O impacto é ainda mais significativo em pessoas com diabetes mellitus e hipertensão. A frequência de refluxo, bem como a proporção de episódios de refluxo que resultam em regurgitação, diminui com o aumento da idade, de modo que a regurgitação fisiológica ou vômito diminui no final do primeiro ano de vida e é incomum em crianças com mais de 18 meses de idade A Etiologia da DRGE é multifatorial, tanto os sintomas quanto as lesões teciduais resultam do contato da mucosa com o conteúdo gástrico refluxado, decorrente de falhas em uma ou mais das seguintes barreiras do esôfago: barreira antirrefluxo, mecanismos de depuração intraluminal e resistência intrínseca do epitélio. Os episódios de refluxo fisiológico ocorrem tipicamente pós-prandial, são de curta duração, assintomáticos e raramente ocorrem durante o sono. Já o refluxo patológico está associado a sintomas ou lesões na mucosa e geralmente ocorrem a noite. É uma condição que se desenvolve quando o refluxo do conteúdo do estomago causa sintomas incômodos e complicações. A DRGE é classificada com base na aparência da mucosa esofágica e na endoscopia digestiva alta em: • Esofagite Erosiva – A esofagite erosiva é caracterizada por rupturas visíveis na mucosa Carla Bertelli – 4° Período esofágica distal com ou sem sintomas incômodos de DRGE. • Doença do Refluxo Não Erosiva – A doença do refluxo não erosiva ou doença do refluxo endoscópico negativo é caracterizado pela presença de sintomas incômodos de DRGE sem lesão visível na mucosa esofágica. As manifestações clínicas envolvem sintomas clássicos, que são azia (pirose) e regurgitação. A azia é descrita como uma sensação de queimação na região retroesternal, mais comumente no período pós-prandial, sendo considerada problemática se os sintomas ocorrerem dois ou mais dias na semana. A regurgitação é a percepção do fluxo do conteúdo gástrico refluído para a boca ou hipofaringe. Os pacientes geralmente regurgitam material ácido misturado com pequenas quantidades de alimentos não digeridos. Outros sintomas podem ser disfagia (dificuldade de engolir), dor torácica, água impetuosa (espumar pela boca), sensação de globo, odinofagia (dor ao deglutir) e sintomas extraesofágicos como tosse crônica, rouquidão e sibilos. A dor torácica relacionada à DRGE pode imitar a angina de peito e é tipicamente descrita como aperto ou queimação, localizada subesternalmente e irradiando para as costas, pescoço, mandíbula ou braços. A dor pode durar de minutos a horas e desaparecer espontaneamente ou com antiácidos. As complicações da DRGE podem surgir mesmo em pacientes que não apresentam sintomas esofágicos típicos. Essas complicações podem ser esofágicas, como esôfago de Barret (doença pré-cancerosa), estenose esofágica, adenocarcinoma de esôfago, ou complicações extra-esofágicas como por exemplo laringite crônica, exacerbação da asma. Como observamos, nos adultos as causas do refluxo gastroesofágico se dá devido ao problema no esfíncter esofágico inferior que possibilita que o conteúdo estomacal volte para o esôfago. No entanto, em lactentes e crianças o refluxo pode ocorrer devido à imaturidade do trato gastrointestinal superior ou quando o bebe tem alguma dificuldade de digestão, podendoresultar em sinais e sintomas como regurgitação do leite, vômitos, dificuldade para mamar. Isso acontece também porque os lactentes se alimentam principalmente de líquido e passam a maior parte do tempo deitados, sendo que é um momento em que esse esfíncter ainda não é tão eficaz. A RGE é extremamente comum em lactentes saudáveis, nos quais o conteúdo gástrico pode refluir para o esôfago 30 ou mais vezes ao dia. A avaliação de uma criança com regurgitação frequente concentra-se em determinar se o sintoma é causado por doença patológica subjacente e se o refluxo está causando complicações secundárias. Na maioria dos lactentes, uma história e exame físico focados confirmarão que o refluxo não é complicado e que pouca avaliação ou intervenção adicional é necessária. Terapia de posicionamento – Manter um bebê na posição vertical (por exemplo, no ombro de um cuidador) por 20 a 30 minutos após a alimentação parece reduzir a probabilidade de regurgitação e pode ser tentado quando possível. O posicionamento semi-supino (em assento infantil) não é útil, pois aumenta o refluxo Todos os bebês com menos de 12 meses de idade devem ser colocados em decúbito dorsal para dormir, mesmo que tenham refluxo. Embora a posição prona tenda a reduzir o refluxo, ela também está associada a um risco maior de síndrome da morte súbita infantil (SMSI), e esse risco supera o potencial efeito benéfico do sono de bruços no refluxo Em pacientes com sintomas clássicos o diagnóstico muitas vezes pode ser baseado apenas em sintomas clínicos em pacientes com sintomas clássicos, como pirose e regurgitação. No entanto, os pacientes podem precisar de avaliação adicional se tiverem Carla Bertelli – 4° Período características de alarme e fatores de risco, buscando realizar exames de imagem gastrointestinais anormais realizados para avaliação dos sintomas. Pacientes sem sintomas clássicos, é necessário excluir outros sintomas antes de atribuir os sintomas à DRGE. Como exemplo, a dor torácica inexplicável deve ser avaliada com um eletrocardiograma e teste de esforço antes de uma avaliação gastrointestinal. Avaliação adicional é necessária em pacientes selecionados com suspeita de doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) para descartar etiologias alternativas, confirmar o diagnóstico de DRGE e avaliar complicações. Endoscopia Digestiva Alta - A endoscopia digestiva alta é indicada em pacientes com suspeita de DRGE para avaliar características de alarme ou imagens anormais se não forem realizadas nos últimos três meses. A endoscopia digestiva alta não é necessária para fazer o diagnóstico de DRGE. No entanto, a endoscopia alta pode detectar manifestações esofágicas da DRGE (por exemplo, metaplasia de Barrett, esofagite erosiva) e pode descartar uma malignidade do trato gastrointestinal superior. A endoscopia digestiva alta pode ser normal em pacientes com DRGE, ou pode haver evidência de esofagite em graus variados. Entre os pacientes não tratados com DRGE, aproximadamente 30% terão esofagite endoscópica. Em contraste com a esofagite infecciosa e induzida por medicamentos, que tendem a estar no meio do esôfago, as ulcerações observadas na esofagite péptica são geralmente de forma irregular ou linear, múltiplas e estão no esôfago muito distal. Outros achados endoscópicos em pacientes com DRGE de longa data incluem estenose péptica, metaplasia de Barrett e adenocarcinoma esofágico. Sem achados endoscópicos visíveis = doença do refluxo não erosiva O achado histológico mais consistentemente observado da DRGE é a dilatação dos espaços intercelulares observados na microscopia eletrônica de transmissão. Outras características histológicas incluem a presença de neutrófilos e eosinófilos, canais vasculares dilatados nas papilas da lâmina própria, espessamento da camada de células basais com células escamosas pálidas e distendidas ("balão") e alongamento das papilas do epitélio Manometria Esofágica – Em pacientes com dor torácica ou disfagia e com endoscopia digestiva alta normal, uma namometria esofágica deve ser realizada para excluir um distúrbio de motilidade esofágica. pHmetria Esofágica Ambulatorial – É usada para confirmar o diagnóstico de DRGE em pacientes com sintomas persistentes (típicos ou atípicos) ou para monitorar a adequação ao tratamento naqueles com sintomas continuados. Imagem Anormal do Trato Gastrointestinal Superior – A imagem abdominal não é necessária para estabelecer o diagnóstico, mas pode ser realizada para avaliar sintomas concomitantes. Gastroesophageal reflux in infants - UpToDate. (n.d.). Retrieved August 1, 2022. Clinical manifestations and diagnosis of gastroesophageal reflux in adults - UpToDate. (n.d.). Retrieved August 1, 2022. Dispepsia é uma condição na qual o paciente apresenta problemas relacionados a má digestão e alterações na sensibilidade da mucosa do estomago. Geralmente está situação está relacionada com a presença da bactéria Helicobacter pylori, mas pode acontecer por diversos fatores como por exemplo distúrbios de motilidade, hipersensibilidade visceral e microbioma intestinal alterado. Pacientes com dispepsia funcional geralmente descrevem plenitude pós-prandial, saciedade precoce, distensão abdominal e/ou dor/queimação Carla Bertelli – 4° Período epigástrica. A plenitude pós-prandial é o sintoma mais intenso em pacientes com sintomas induzidos por refeições. Os sintomas podem ser graves o suficiente para limitar as atividades habituais. Alguns pacientes podem ter náuseas, vômitos ou azia, no entanto, esses sintomas geralmente são infrequentes. Não há um tratamento definitivo, são paliativos, indicados para uso a longo prazo. Algumas classes de medicamentos utilizados para dispepsia são: Inibidores da Bomba de Prótons e Antagonistas do Receptor de Histamina (H2). Eles são moduladores da acidez gástrica Já em uma abordagem subsequente utiliza-se antidepressivos e agentes procinéticos. Antes de tudo os pacientes devem ser testados e tratados para Helicobacter pylori. No lúmen estomacal a liberação do ácido clorídrico é feita através da enzima ATPase (bomba de prótons), que fica localizada nos canalículos das células parietais. Para que essa enzima seja ativada ela precisa de 3 estímulos principais: histamina, gastrina e acetilcolina. O mecanismo de ação dos inibidores da bomba de prótons ocorre por meio da inibição da enzima H+/K+ ATPase, fazendo com que ocorra o bloqueio da secreção ácida do estomago, impedindo a troca de H+ e K+, já que a produção ácida ocorre por meio dessa troca. Dessa maneira, aumenta o pH do suco gástrico, sendo assim se diferenciam no tratamento das doenças gástricas justamente por inibir o último passo da produção do ácido clorídrico. Em resumo, sabe-se que a bomba de prótons ligada à membrana é a etapa final da secreção de ácido gástrico. Os inibidores de bomba de prótons (IBP) se ligam à enzima H+/K+-ATPase e suprimem a secreção de íons hidrogênio para o lúmen gástrico. Fazem parte dessa classe: omeprazol, lansoprazol, dexlansoprazol, esomeprazol, rabeprazol e pantoprazol, todos disponíveis em formulações orais. Apresentações intravenosas são encontradas tanto para o esomeprazol, quanto para o pantoprazol. São utilizados como antiácidos. Eles inibem competitivamente a interação da histamina com os receptores H2, sendo altamente seletivos. Sua utilidade clínica principal é como inibidor da secreção de ácido gástrico no tratamento de úlceras e pirose. Os quatro bloqueadores do receptor H2, cimetidina, ranitidina, famotidina e nizatidina Os antagonistas de receptor H2 da histamina atuam seletivamente nos receptores H2 do estômago, mas não têm efeito nos receptores H1. Eles são antagonistas competitivos dahistamina e totalmente reversíveis. Bloqueando competitivamente a ligação da histamina aos receptores H2, esses fármacos reduzem a secreção do ácido gástrico. Efeitos Adversos - A incidência de efeitos colaterais com o uso dos antagonistas H2 da histamina é baixa devido à Iimitada função dos receptores H2 em outros órgãos além do estômago e também devido à má penetração desses fármacos na barreira hematoencefálica normal. Esses efeitos colaterais são muito mais freqüentes com uso da cimetidina do que com as drogas mais recentes, como a ranitidina e a famotidina. Carla Bertelli – 4° Período Reservamos o uso de procinéticos para pacientes nos quais as outras terapias falharam e limitamos sua duração a 4semanas antes de interromper o tratamento. Agentes procinéticos são fármacos que atuam de modo a aumentar a pressão do esfíncter esofágico inferior (EEI), diminuir a regurgitação e acelerar o esvaziamento gástrico. Como representantes dessa classe de fármacos, temos: bromoprida, cisaprida, domperidona, metoclopramida; apesar de todos pertencerem à mesma classe, possuem atuação e efeitos colaterais distintos. Os agentes procinéticos atuam de modo a facilitar a motilidade gastrintestinal, através do aumento do tônus da musculatura lisa do trato gastrointestinal (TGI), assim como do peristaltismo e da taxa de esvaziamento gástrico. Em resumo, favorecem a peristalse. Embora a Ach (quando liberada dos neurônios motores primários no plexo mioentérico) seja o principal mediador imediato da contratilidade muscular, a maioria dos procinéticos clinicamente úteis na verdade atua “acima” desse ponto. Functional dyspepsia in adults - UpToDate. (n.d.). Retrieved August 1, 2022. Farmacologia Ilustrada, Karen Whalen, 2016
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