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Victoria Chagas 1 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO AVC (acidente vascular cerebral), AVE ou derrame cerebral é definido por uma lesão encefálica secundária a um mecanismo vascular e não traumático, que pode ser isquêmico (AVEi - 80% dos casos) e hemorrágico (AVEh - 20%), sendo caracterizado pela: o Instalação súbita de um déficit neurológico o Geralmente focal o Rápida evolução o Duração maior que >24 horas O AIT (Ataque isquêmico transitório) é um evento também isquêmico, geralmente causado por fatores arterioembólicos, mas não é considerado um AVE visto que é: o Reversível o Transitório o Duração inferior a <24 horas (clinicamente é bem menos, cerca de 1 a 2 horas) - Possui clínica semelhante ao AVE isquêmico e é um fator de risco para o mesmo → 25% dos AVE isquêmicos são precedidos de AIT, muita das vezes não identificados EPIDEMIO DO AVE/AVC É a 2ª causa mais comum de óbito no mundo, atrás apenas da cardiopatia isquêmica É o distúrbio neurológico mais incapacitante – costuma deixar sequelas nos sobreviventes No Brasil, é a causa mais frequente de óbito da população adulta e corresponde a grandes gastos anuais nos setores de saúde pública, por isso sua prevenção é importante o Prevenção primária – controle dos fatores de risco (mudanças dos hábitos de vida) o Prevenção secundária – em quem já sofreu AVE ou AIT AVE – ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO (AVEi – 80%) O QUE É? - Lesão encefálica secundária a um mecanismo vascular e não traumático, caracterizado pela Instalação súbita de um déficit neurológico, geralmente focal, rápida evolução e duração maior que 24 horas - Decorrente de uma oclusão aguda de uma artéria que leva a isquemia seguida de infarto EPIDEMIO - Responsável por 80-85% dos AVE - A letalidade do AVE isquêmico é de 10-20% - Alta morbidade – deixa sequelas ➢ FATORES DE RISCO • HAS • Fibrilação atrial (FA) • DM • Tabagismo • Idade >60 anos • IAM e Cardiomiopatia dilatada • Mais em homens – após a menopausa as mulheres perdem o fator protetivo e igualam • Outros menos comuns: SAAF, ACHO + tabagismo + fator V de Leiden, overdose de cocaína, meningite bacteriana ou tuberculosa, Neurossífilis, endocardite infecciosa, LES, vasculites necrosantes, vasculite primária do SNC, fibrodisplasia, síndromes hematológicas (policitemia, anemia falciforme). Victoria Chagas 2 ETIOFISIO PATOLO GIA ➢ ETIOLOGIA o EMBÓLICO (trombo de circulação distante – mais comum 45%) - Cardioembólico → vem do coração → FA, IAM, cardiopatia dilatada - Arterioembólico → vem das artérias, geralmente na carótida comum ou bifurcação carotídea ou artéria vertebral → HAS é o principal fator de risco o TROMBÓTICO (trombo da própria artéria envolvida no AVE) - Lacunar (20%) → mais comum dentre os trombóticos → pequenos infartos causados pela oclusão de artérias cerebrais perfurantes (tálamo, cápsula interna e gânglios da base) em razão do espessamento hialino da camada média (lipo-hialinose) que tem como fator de risco a HAS - Trombose in situ de grandes e médios vasos (5%) → é mais raro, sendo a mais comum a trombose de artéria basilar - deve ser suspeitado quando déficit neurológico se instala de forma subaguda o CRIPTOGÊNICO (causa não definida – 30%) - Sem fonte evidente de êmbolo - Teorias: decorrente de embolia paradoxal através de forame oval patente (FOP) no coração OU devido êmbolos vindos de placas ateromatosas instáveis da aorta ascendente - Há ainda a classificação TOAST que divide os infartos em 5 grupos principais: o Aterosclerose de grandes artérias o Cardioembolismo o Oclusão de pequenas artérias (lacunas) o Infartos por outras etiologias → englobam todas as causas que diferem destas 3 primeiras, ex.: vasculopatias não ateroscleróticas, hematológicas (anemia falciforme), coagulopatias (deficiência fatores fibrinolíticos), vasculites (varicela, lúpus, meningite) o Infartos de origem indeterminada (criptogênica) ➢ FISIOPATOLOGIA - A interrupção do fluxo sanguíneo gera isquemia, privando neurônios e células da glia de oxigênio e glicose → disfunção neuronal (fluxo de O2 cai ↓ 20 ml/100mg/min) - Caso não haja reversão dessa situação, acontece o infarto do núcleo isquêmico, morte do tecido e lesão irreversível. • ZONA DE PENUMBRA - Ao redor da região infartada há a PENUMBRA onde mecanismo de extração aumentada de oxigênio (tentativa de compensar a isquemia por circulação colateral) apesar do ↓ fluxo permite que a lesão seja potencialmente reversível - Como o fluxo colateral para área de penumbra (reversível) se dá por circulação colateral, são altamente dependentes da pressão arterial → cuidado no controle da PA durante fase aguda - É mantido um fluxo de 25% a 50% normal na zona de penumbra e o tamanho relativo da penumbra é extremamente variável entre pacientes, dependendo da circulação contralateral. - >5 horas após início dos sintomas, apenas 25% dos pacientes apresentam penumbra, que pode permanecer por até 18 horas antes de se completar a área total do infarto. - Nas primeiras 24h do AVE isquêmico, métodos como o PET (Tomografia com Emissão de Pósitrons) permitem delinear as áreas que possuem lesão irreversível e as áreas isquêmicas recuperáveis • EDEMA - O pico do edema é entre 3 a 4 dias - Após o infarto neuronal, instala-se o EDEMA CITOTÓXICO (intracelular com aumento do volume dos neurônios) acompanhado de EDEMA VASOGÊNICO (mais raro e nos estágios mais tardios, sendo extracelular por extravasamento de líquido dos vasos para parênquima) - Após dez dias, com o edema resolvido, a transição entre a zona infartada e o tecido normal torna-se nítida → entre dez dias e três semanas, a fagocitose provoca uma necrose de liquefação, transformando o infarto numa área amolecida e depois cística e retraída Victoria Chagas 3 ETIOFISIO PATOLO GIA ➢ VASCULARIZAÇÃO - Temos duas circulações → mais posterior (vertebro-basilar) e anterior (carotídea) - As circulações se comunicam pelas artérias comunicantes posterior e anterior o Circulação posterior → vertebro-basilar - 2 artérias vertebrais que se juntam e foram a basilar - Basilar vai se dividir e formar 2 cerebrais posteriores o Circulação anterior → carotídea - Carótida comum → carótida interna e externa - A carótida interna dá 2 ramos em cada lado → cerebral média e cerebral anterior - A cerebral média emite ramos que irrigam cápsula interna (neurônios motores vão convergir) ➢ LOBOS CEREBRAIS E ALGUMAS DAS SUAS FUNÇÕES • Frontal – movimento (córtex motor/pré-central), emoções, fala/paladar, memória ... - Nele se encontra a área de Broca – parte motora da fala/articular – entende, mas não fala, geralmente temos essa área apenas no hemisfério dominante → geralmente lado esquerdo • Parietal – sensibilidade (córtex sensitivo) e interpretação • Temporal – Audição, linguagem e compreensão - Encontramos a Área de Wernicke – paciente não entende o que você fala e muitas vezes o que ele mesmo fala → também encontrado no hemisfério dominante • Occipital – Visão Victoria Chagas 4 CLÍNICA- Déficit neurológico focal SÚBITO com sintomas que dependem do local da lesão ANTERIOR – CAROTÍDEA, CEREBRAL MÉDIA E ANTERIOR A. Cerebral Média - Acometimento mais comum do AVE - Afeta lobo frontal, parietal e temporal • Déficit motor/sensitivo contralateral a lesão (pode poupar pé) • Desvio de olhar conjugado pro lado da lesão • Paralisia facial central • Se acometer área de Wernick e Broca no hemisfério dominante → afasia/disartria motora e/ou afasia sensitiva • Se atingir hemisfério não dominante - Heminegligência contralateral – só reconhece um lado → geralmente vai ocorrer do lado direito pois o dominante é o esquerdo em 90% - No córtex motor, a parte da perna que é mais medial no Homúnculo não é muito afetado → tende a poupar MMII e pés - Pega mais a parte do corpo, braço, mão e face A. Cerebral Anterior - No homúnculo, pega a parte da perna e pé – afeta lobo frontal • Déficit motor + sensitivo contralateral – afeta o pé • Pode pegar MMSS como braço, mas poupa face • AVE bilateral pode fazer síndrome abúlica do lobo frontal (paciente deprimido com incontinência urinária – incomum) A. oftálmica - Alteração monocular visual POSTERIOR – VERTEBRAL, BASILAR E CEREBRAL POSTERIOR A. cerebral posterior - Afeta mais área visual • Hemianopsia contralateral (perda completa/parcial da visão) • Alucinações visuais • Anomia para cores A. vertebral - Pode causar náuseas, vômitos e vertigem - Cerebelo: • Síndrome cerebelar – ataxia, tremor de intenção, movimentos descoordenados, disartria, dismetria, hipotonia, nistagmo ... • Fibras não cruzam – sintomas ipsilaterais - Tronco – pode ocorrer a síndrome cruzada • Alteração de par craniano de um lado e alteração sensitiva/motora contralateral ao do par craniano • Ex.: Sd. De Weber (pega nervo oculomotor no mesencéfalo – faz ptose e midríase de um lado com plegia/paresia contralateral) ou Sd. De Foville (lesão na ponte com lesão do nervo facial, tendo paralisia facial de um lado e plegia/paresia contralateral) A. Basilar • Rebaixamento do nível de consciência • Déficit motor e sensitivo geralmente bilateral - Instalação súbita com estupor, sonolência ou coma - Pode fazer Locked-in syndrome – só mexe o olho pra baixo, mas mantém a consciência (tetraplegia) RAMOS LENTÍCULO-ESTRIADO DERIVADOS DA CEREBRAL MÉDIA - Afeta área pequena (AVE lacunar) mas região nobre (ex.: cápsula interna que passa todos os neurônios motores) • Hemiparesia contralateral “pura” (se pegar cápsula interna) • Hemiparesia atáxica (se pega cerebelo) • Hemianestesia (tálamo ventrolateral) • Não faz sintomas corticais como afasia, negligências e visuais Victoria Chagas 5 DIAGNÓS TICO - O diagnóstico é clínico + exame de imagem - Todo paciente com déficit neurológico focal súbito que dura >15-20 minutos deve ser encarado como um AVE (isquêmico ou hemorrágico) → INTERNAR E AVALIAR - Tempo de início dos sintomas, chamado ICTUS, é essencial para direcionar o tratamento ➢ ESCALA FAST - Usada na triagem para reconhecimento rápido de sinais de AVE baseado no de Cincinnati o Face (paralisia facial) o Arms (fraqueza dos MMSS) o Speech (alterações de fala) o Time (tempo dos sintomas) ➢ ESCALA NIHSS (anexo abaixo) - Usada para quantificar o déficit neurológico, podendo ser executada de forma rápida - Pontuação de 15 parâmetros variado de 0 a 42 - Parâmetros: nível de consciência observado, orientação no tempo (em relação a mês e idade), resposta a comandos, olhar, campo visual, movimento facial, função motora de membros superiores e inferiores, ataxia de membros, sensibilidade, linguagem, articulação da fala, e extinção ou desatenção durante o exame. - Os pontos de corte do NIHSS ainda não são um consenso: • NIHSS <5 para AVE leve • 5 a 9 para AVE moderado • ≥ 10 para AVE grave ➢ TC de crânio sem contraste - Exame de escolha → mais acessível e com boa sensibilidade - Geralmente o as alterações na TC do AVEi demoram para aparecer (cerca de 24-72 horas) → A TC inicial serve, portanto, para afastar AVE hemorrágico, pois a hemorragia aparece de imediato, como uma área hiperdensa (“branca”). - Quando a lesão isquêmica aparece, se mostra como uma área hipodensa (“cinza”) acompanhado de edema - Um achado que pode estar presente é área hiperdensa dentro da cerebral média, devido a trombo dentro do vaso – em AVEh a área hiperdensa ocorre no parênquima (cuidado!!) o 1 ª TC é na chegada do paciente (excluir AVE hemorrágico e tumores, sangramentos meníngeos e intraparenquimatosos) o 2ª TC após 72 horas do início dos sintomas (de controle e reavaliação) ➢ RM - Exame que demora e não é muito acessível - Há a RM por difusão (DWI) → consegue ver o AVE desde o início → baixa disponibilidade Victoria Chagas 6 DIAGNÓS TICO ➢ OUTROS EXAMES COMPLEMENTARES – INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA • Ecocardiograma • Doppler – carótidas e transcraniano → ajuda a descobrir qual artéria foi obstruída • AngioTC e angioRM • Holter – eletrocardiograma de 24 horas • Coagulograma • Ureia, creatinina e eletrólitos • Hemograma e gasometria • Lipidograma e triglicerídeos • Glicemia em jejum • Marcadores de necrose miocárdica - troponina • Pode ser pedir sorologia se pertinente para sífilis, HIV e chagas • Pode pedir a eletroforese de proteínas para avaliar outras coisas • Raio-x de tórax • Angiotomografia helicoidal → análise de grandes vasos, obstruções e estenoses ESCALA DE NIHSS Victoria Chagas 7 TRATA MENTO - Objetiva preservar a vida, limitar dano cerebral, diminuir incapacidades e evitar repetição ➢ FASE AGUDA → 3 primeiros dias • Suspeita de AVC → GLICEMIA, DADOS VITAIS, ECG, CONVERSAR COM FAMILIARES SOBRE HORA DO ICTUS • Checar o ABC – estabilizar paciente • Solicita vaga no hospital • Exames recomendados na admissão do paciente ▪ Tomografia sem contraste ▪ AngioTC se possível ▪ ECG ▪ Laboratório → hemograma completo, glicemia plasmática, eletrólitos, prova renal e hepática, TSH, coagulograma, lipidograma, gasometria arterial e marcadores de necrose miocárdica. • Deixar paciente em jejum, monitorar, 2 acessos calibrosos e hidratação (não hidratar muito) - Assim que paciente estiver tratado pode começar a dieta para evitar a desnutrição - Evitar hiper-hidratação e soro glicosado a fim de prevenir hiponatremia e hiperglicemia • Deixar cabeceira em 10-15º nas primeiras 24 horas (se grande área isquêmica manter a 30º) • Monitorização fundamental: ▪ Monitorização cardíaca obrigatória nas primeiras 24 horas ▪ Glicemia (glicemia capilar a cada 6h) ▪ Monitorizar a natremia (diária) e Temperatura axilar (curva térmica a cada 4h) • Investigação etiológica após estabilização: ▪ Estudo dos vasos – angioTC ▪ Doppler – carótida, vertebral e trans craniano ▪ Ecocardiograma ▪ Raio-x de tórax ▪ Laboratório ▪ Sorologia para HIV, sífilis e chagas o PRESSÃO ARTERIAL - Não baixar no primeiro dia se hipertensão exceto se PA > 220 x 120 mmHg, ou se paciente apresentar emergência hipertensiva (IAM, EAP, encefalopatia...) - Isso se deve, pois, a penumbra depende da circulação colateral que depende da PA paramanter o fluxo da área → se diminuir a PA penumbra vai converter em infarto - A droga de escolha é o nitroprussiato de sódio (0,5 mcg/kg/ min) o TROMBOLÍSE (<4,5 horas) - Devemos considerar a possibilidade de terapia trombolítica endovenosa (TEV) com ativador de plasminogênio tecidual recombinante (rtPA) se os pacientes preencherem os critérios de inclusão e não tiverem contraindicações absolutas. - Indicação atual é de ictus <4,5 h - Alteplase 0,9mg/ kg EV (máximo 90 mg), sendo 10% em bolo e o restante em 1 hora de preferência em bomba de infusão. - Ela diminui as sequelas, mas não reduz a mortalidade, quando iniciada até 4,5 hrs - O trombolítico requer controle da PA <180x105 nas 24 horas após a infusão. - Paciente trombolisado não aplica heparina ou AAS em 24 horas (risco ↑ de sangramentos) - Evitar antes da trombólise: punção venosa central ou arterial (antes e até 24 horas após), sonda vesical (antes e até 30 minutos após), sondagem nasogástrica (antes e 24 horas após Victoria Chagas 8 TRATA MENTO o TROMBECTOMIA MECÂNICA (<6 horas) - Deve ser considerada em: ▪ Pacientes com oclusão de vaso proximal ▪ Ou que não apresentaram resposta à trombólise com rtpa, contanto que estejam dentro dos critérios de inclusão: ictus <6h; idade ≥ 18; oclusão de carótida interna ou ramo m1 da artéria cerebral média; NIHSS ≥ 6. o OUTRAS RECOMENDAÇÕES - Caso paciente não for trombolisado pode usar: • ASPIRINA → AAS (325 mg) nas primeiras 48h → reduz morbimortalidade • HEPARINA → Usada na dose profilática → Pode-se optar pela heparina não fracionada 5.000 UI a cada 8-12h, ou pela enoxaparina 40 mg SC 1x dia ➢ PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES AGUDA - A letalidade geral do AVE isquêmico é 10-20%. - As principais complicações são decorrentes da imobilização no leito: (1) contraturas musculares; (2) broncoaspiração; (3) pneumonia; (4) infecção urinária; (5) desnutrição; (6) úlcera de decúbito; (7) TVP e embolia pulmonar. o Edema cerebral o Transformação hemorrágica (costuma ocorrer entre 12-48h) → 6% o Convulsões o Broncoaspiração o Pneumonia o Úlcera ➢ TRATAMENTO FASE CRÔNICA (PREVENÇÃO SECUNDÁRIA) - O que determina a terapia pós-AVE é seu mecanismo ou patogenia • Estatina para todos os pacientes, assim como controle dos fatores de risco • Cardioembólico → anticoagulação plena permanente – Warfarina ou NOAC’s • Arterioembólico → deve tomar AAS 100-300 mg/dia para o resto da vida. • Hipertensão arterial deve ser controlada com anti-hipertensivo orais • Reabilitação (fisioterapia motora, fonoterapia, terapia ocupacional) deve ser iniciada o quanto antes, de preferência nas primeiras 24- 48h. Victoria Chagas 9 HEMORRÁGICO (AVEh – 20%) O QUE É? - Ocorre por ruptura de estruturas vasculares cerebrais, fazendo compressão das estruturas encefálicas e causando isquemia secundária e edema - É uma emergência neurológica EPIDEMIO - O AVE hemorrágico representa 15-20% de todos os AVE - 1/3 dos pacientes morrem em 30 dias – alta mortalidade - Apenas 20% vão ter independência funcional em 6 meses ➢ FATORES DE RISCO • HAS (principal) • Uso de drogas ilícitas – principalmente a cocaína nas primeiras 48 horas de uso • Tabagismo e etilismo • Idade – maior idade, maior chance • Fatores genéticos ETIOFISIO PATOLO GIA • AVCh 1ª → hipertensivo ou angiopatia amiloide • AVCh 2º → coagulopatia, malformações vasculares, trombose venosa cerebral, neoplasias o HIP – HEMORRAGIA INTRAPARENQUIMATOSA • AVE HEMORRÁGICO HIPERTENSIVO É O MAIS COMUM (60-70%) - Possui alta letalidade – cerca de 50% - Devido lesões crônicas de pequenas artérias perfurantes (mesmas do AVE lacunar), promovendo fragilidade da parede vascular e formação de pequenos aneurismas → aneurismas de Charcot-Bouchard - O rompimento desses aneurismas (em geral durante pico hipertensivo) provoca sangramentos profundos, sendo os principais: • Putâmen (30-50%) • Tálamo (15-20%) • Ponte (10-15%) • Cerebelo (10-30%) • ANGIOPATIA AMILOIDE - Deposição de proteína beta-amiloide na parede dos vasos → leva a fragilidade dos vasos, ficando propenso e sangramento - Vão ocorrer mais em idosos e acometer mais as áreas lobares o HSA – HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA - Sangramento ocorre entre as meninges aracnoide e pia-máter, principalmente pelos rompimentos de aneurismas em 75% – ou menos comumente pela rotura de uma malformação arteriovenosa (MAV) em 10% - Os aneurismas saculares geralmente se encontram nas artérias do polígono de Willis → rotura de um vaso nesse território inunda de sangue a cisterna da base, portanto o espaço subaracnoide. - O local mais comum da rotura do aneurisma é na A. comunicante anterior - Ao atingir o espaço subaracnoide, o sangue causa edema cerebral e meningite química. - A partir do 4º dia ocorre uma complicação denominada VASOESPASMO → devido contato do sangue com artérias → é o grande responsável pelas sequelas neurológicas e déficits focais - O hematoma aumenta de tamanho nas 12-36 horas seguintes ao AVE, pela inflamação do local, contribuindo para piora clínico e pior desfecho. - Ao comprimir as estruturas que contém os neurônios do sistema reticular ascendente (responsável pela vigília) como o tálamo e mesencéfalo, o sangramento provoca o rebaixamento de nível e até coma. Victoria Chagas 10 CLÍNICA - Déficit neurológico focal súbito relacionado à sua localização - A principal diferença clínica do AVEi é a presença de sinais de hipertensão intracraniana como cefaleia, náuseas e alterações do nível de consciencia! ➢ HEMORRAGIA NO PUTÂMEN: • Quadro de hemiplegia fasciobraquiaquicrural contralateral • Desvio do olhar conjugado contrário a hemiplegia também pode ocorrer ➢ HEMORRAGIA TALÂMICA: • Hemiplegia + hemianestesia para todas as sensibilidades • Desvio dos olhos em direção ao nariz ou para o lado da hemiplegia • Pupilas mióticas e Anisocoria com pupila menor ao lado da hemorragia (Síndrome de Horner) • Afasia talâmica ➢ HEMORRAGIA DO CEREBELO • Quadro igual ao AVE isquêmico cerebelar → náuseas, vômitos e ataxia cerebelar aguda • Pode comprimir o lV ventrículo e levar a hidrocefalia obstrutiva, piora da HIC e coma • Complicação mais perigosa → herniação através do forame magno e compressão de estruturas como amigdalas cerebelares e bulbo, levando a apneia súbita e morte. ➢ HEMORRAGIA DA PONTE • Quadriplegia súbita • Coma – letalidade em 90% dos casos • Pupilas mióticas e foto reagentes • Perda dos reflexos oculocefálicos • Decerebração, hiperpneia e hiperidrose são achados comuns ➢ HEMORRAGIA LOBAR • Lobos frontal, parietal, temporal e occipital • É um tipo de HIP que acomete principalmente os idosos devido angiopatia amiloide que ocorre nessa idade, a rotura de micro vasos subcorticais • Pacientes com Alzheimer são mais propensos a esse tipo de AVEh ➢ HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA (HSA) • Súbita cefaleia holocraniana de forte intensidade (a pior da vida) do tipo “tunderclap” (em trovoadas) que pode evoluir com síncope, vômitos, rigidez de nuca e sinais de meningismo • Associado ou não a déficit neurológico focal → principal é paralisia do nervo oculomotor gerando anisocoria, diplopia e estrabismo divergente. • Crises convulsivas são uma complicação frequente DIAGNÓS TICO - Clínico + imagem - Prognóstico é pior que o de AVC isquêmico - Se cefaleia extrema + síncope + rigidez de nuca → desconfiar de HSA - Casopaciente com grande suspeita de HSA e TC vim normal → pede punção lombar – ver presença de sangue em até 12 horas ou líquido xantocrômico • TC sem contraste → área hiperdensa - Defini localização, volume do sangramento e presença de acometimento ventricular - Desvio da linha média é achado comum → sinal indireto HIC - Se >3mm a chance de coma é grande Victoria Chagas 11 TRATA MENTO - Aproveitar a “Golden hour” → primeira hora após AVEh para promover cuidados intensivos e avaliar se precisa de cirurgia (avaliação de um neurocirurgião) - Fazer medidas gerais de suporte (MOV) - Exames gerais → hemograma, função renal e hepática, eletrólitos e coagulograma - Condutas → monitoramento multiparamétrico, cabeceiro do leito a 30-45º, analgesia, protetor gástrico (prevenir úlceras), emolientes fecais e antitussígenos (não fazer esforço, pois pode aumentar sangramento), evitar agentes hiposmolares ➢ MANEJO NA HIP • Correção de discrasias sanguíneas se presentes - Tratado o mais rápido possível, com transfusão de hemocomponentes (plasma, plaquetas) - Se o paciente estiver em uso de anticoagulante ou antiplaquetário, esses devem ser descontinuados e os efeitos revertidos com antídotos. • Controle da PA → deve ser tratado se >180x110 mmHg - Pode usar Labetalol ou nitroprussiato de sódio → manter <140 – 160 mmHg de PAS • Controle glicêmico igual ao AVEi • Tratamento cirúrgico → pacientes com: - Hematoma cerebelar >3 cm ou entre 1-3 cm com repercussão neurológica - Hematoma lobar ou no Putâmen volumoso, com repercussões clínicas - Presença de hidrocefalia → derivação ventricular externa • Tratar a causa base do sangramento ➢ MANEJO NA HSA • Internado na UTI e avaliado por neurocirurgião. • Se dentro das primeiras 72 horas após ictus tiver pontuação <3 na escala de Hunt-Hess o exame padrão ouro é arteriografia cerebral para localizar o aneurisma → constatado o aneurisma → clipagem ou terapia endovascular com embolização • PA mantida em 140-150 mmHg com nitroprussiato de sódio se aneurisma não clipado • O uso de nimodipino 60 mg via enteral a cada 4 horas é indicado para prevenção de sequela neurológica do vasoespamos, e seu uso deve ser mantido até o 14º dia • O vasoespasmo é a principal complicação do HSA → reconhecido com o surgimento de novo déficit a partir do 3º dia. Seu tratamento se baseia nos “3 H’s” → hemodiluição Hipervolêmica (3 litros de SF isotônico) e hipertensão (se o aneurisma já foi clipado pode deixar a PAS chegar até 200 mmHg) Victoria Chagas 12
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